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PROTOCOLO DE ULTRASSONOGRAFIA GINECOLÓGICA E OBSTÉTRICIA 1 1 Sumário NOSSA HISTÓRIA ................................................................................. 2 INTRODUÇÃO ....................................................................................... 3 ORIENTAÇÕES PARA O EXAME .......................................................... 7 AVALIAÇÃO DE ANOMALIA CROMOSSÔMICA ................................. 15 OUTRAS ESTRUTURAS INTRA E EXTRAUTERINAS ........................ 17 FUNDAMENTOS DA ULTRASSONOGRAFIA ...................................... 18 PRINCIPAIS INDICAÇÕES DA ULTRASSONOGRAFIA EM GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA ................................................................... 23 DATAÇÃO DA GESTAÇÃO E ESTIMATIVA DO PESO FETAL ........... 29 RASTREAMENTO DE CROMOSSOMOPATIAS .................................. 31 AVALIAÇÃO DA VITALIDADE FETAL .................................................. 32 AVALIAÇÃO DO LÍQUIDO AMNIÓTICO .............................................. 33 DIAGNÓSTICO E DESCRIÇÃO DE MIOMAS ...................................... 35 DIAGNÓSTICO, DESCRIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DAS MASSAS ANEXIAIS ....................................................................................................... 36 ULTRASSONOGRAFIA OBSTÉTRICA NO BRASIL: UM APELO À PADRONIZAÇÃO ........................................................................................... 38 PADRONIZAÇÃO DE EXAMES DE ULTRASSONOGRAFIA EM OBSTETRÍCIA ................................................................................................ 39 COMO CONTROLAR A QUALIDADE DE EXAMES ............................. 45 REFERÊNCIAS .................................................................................... 47 2 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 3 INTRODUÇÃO A ultrassonografia de rotina está estabelecida como parte da assistência pré-natal, em países onde há recursos disponíveis e acesso aos meios de saúde. A ultrassonografia de rotina é mais comumente realizada durante o segundo trimestre, entretanto está sendo cada vez mais oferecida rotineiramente ainda no primeiro trimestre, principalmente em locais com muitos recursos. Avanços tecnológicos, incluindo a ultrassonografia transvaginal de alta frequência, melhoraram a resolução da ultrassonografia no primeiro trimestre, de forma que é possível avaliar e monitorar em detalhes o desenvolvimento fetal precoce. O objetivo deste documento é fornecer orientações para os profissionais de saúde que gerenciam, indicam, ou executam o exame de ultrassonografia fetal no primeiro trimestre. Como “primeiro trimestre”, estamos nos referindo ao período gestacional que se inicia a partir do momento em que a viabilidade foi confirmada (ou seja, a presença de um saco gestacional na cavidade uterina com um embrião demonstrando atividade cardíaca) até 13 semanas + 6 dias de gestação. A ultrassonografia realizada após esse período gestacional não será considerada nestas diretrizes. Ao longo destas orientações, usamos o termo "embrião" antes de 10 semanas e 'feto', posteriormente, para refletir o fato de que, após 10 semanas de gestação a organogênese está essencialmente completa e que o desenvolvimento envolve predominantemente o crescimento e maturação dos órgãos fetais. Em geral, o objetivo principal da ultrassonografia fetal é fornecer informações precisas que irão facilitar a prestação de cuidados pré-natais otimizados com os melhores resultados possíveis para a mãe e seu feto. 4 4 No início da gravidez, é importante confirmar a viabilidade, estabelecer a idade gestacional com precisão, determinar o número de fetos e, na presença de uma gravidez múltipla, avaliar corionicidade e amnionicidade. No final do primeiro trimestre, a ultrassonografia também oferece uma oportunidade para detectar anomalias fetais graves e, nos sistemas de saúde que rastreiam aneuploidias, pode-se medir a espessura da translucência nucal (TN). Reconhece-se, no entanto, que muitas malformações graves podem se desenvolver mais tardiamente na gravidez ou podem não ser detectadas neste período, mesmo com equipamento adequado e com profissionais experientes. Quando se deve realizar a ultrassonografia de primeiro trimestre? Não há nenhuma razão para oferecer como exame de rotina, apenas para confirmar uma gravidez precoce, na ausência de quaisquer preocupações clínicas, sintomas patológicos ou indicações específicas. Aconselha-se a realizar a primeira ultrassonografia, com uma idade gestacional entre 11 semanas e 13 semanas + 6 dias, uma vez que oferece uma oportunidade para atingir os objetivos acima referidos, ou seja, confirmar a viabilidade, estabelecer com precisão a idade gestacional, determinar o número de fetos viáveis e, se solicitado, avaliar anatomia fetal e risco de aneuploidia 4- 20. Antes de iniciar o exame, um médico deve aconselhar a gestante e/ou casal com relação aos possíveis benefícios e limitações da ultrassonografia de primeiro trimestre. Quem deveria realizar a ultrassonografia de primeiro trimestre? Os profissionais que realizam estes exames devem ter formação especializada apropriada para a prática de ultrassonografia obstétrica diagnóstica. Para alcançar os melhores resultados dos exames de ultrassonografia de rotina, é sugerido que sejam realizados por profissionais que preencham os seguintes critérios: 5 5 1. Ter concluído uma formação em ultrassonografia diagnóstica e aspectos de segurança do método; 2. Participar de atividades de educação médica continuada; 3. Ter estabelecido um sistema de encaminhamento para outros centros nos casos de achados suspeitos ou anormais; 4. Participar de programas de controle de qualidade estabelecidos. Qual equipamento ultrassonográfico deve ser usado? Recomenda-se o uso de equipamentos com, pelo menos, os seguintes recursos: - Ultrassonografia bidimensional (2D) em tempo real e escala de cinzas; - Transdutores (sondas) de ultrassonografia transabdominal e transvaginal; - Controles ajustáveis de saída de potência acústica e exibição padrão do efeito biológico (TI e MI); - Capacidades de congelamento de quadro (“freeze”) e magnificação da imagem (“zoom”); - Cursores (“calipers”) eletrônicos; - Capacidade para imprimir/armazenar imagens; - Manutenção e reparação regular dos equipamentos. Como o exame deve ser documentado? Um relatório do exame deve ser produzido como um documento eletrônico e/ou impresso (ver apêndice, para um exemplo). Esse documento deveráser armazenado localmente e, de acordo com as práticas locais, postos à disposição da gestante e do prestador de serviço de saúde que referiu a paciente. A ultrassonografia de primeiro trimestre é segura? O tempo de exposição do feto deve ser minimizado, usando os menores tempos de varredura e as menores potências possíveis que permitam obter as informações para o diagnóstico usando o princípio ALARA (As Low As Reasonably Achievable). 6 6 Muitas organizações profissionais internacionais, incluindo a ISUOG, chegaram a um consenso de que o uso do modo B e modo M na ultrassonografia pré-natal, devido à sua potencia acústica limitada, parece ser segura para todas as fases da gravidez. A ultrassonografia Doppler é, no entanto, associada com uma maior produção de energia e, por conseguinte, maior efeito biológico potencial, especialmente quando aplicadas a uma pequena região de interesse. Os exames Doppler devem ser usados no primeiro trimestre apenas se clinicamente indicado. Mais detalhes estão disponíveis no manual de segurança da ISUOG. E se não for possível realizar o exame de acordo com estas orientações? Essas diretrizes representam uma referência internacional para a ultrassonografia fetal de primeiro trimestre, mas as circunstâncias e práticas médicas locais devem ser consideradas. Se o exame não pode ser realizado de acordo com estas orientações, é aconselhável documentar as razões para isso. Na maioria dos casos, será apropriado repetir o exame, ou referir a paciente para outro profissional de saúde. Isto deve ser feito o mais cedo possível, para minimizar a ansiedade desnecessária da paciente e qualquer atraso na obtenção dos objetivos desejados pelo exame inicial. O que deve ser feito em caso de gravidez múltipla? A determinação da corionicidade e da amnionicidade é importante para a assistência de gestações multiplas. A corionicidade deve ser determinada no início da gravidez, quando a identificação é mais confiável. Uma vez que isso for feito, o seguimento pré-natal, incluindo o momento e a frequência de exames de ultrassonografia, deve ser planejado de acordo com os recursos de saúde disponíveis e as diretrizes locais. 7 7 ORIENTAÇÕES PARA O EXAME Avaliação da viabilidade da gravidez ou avaliação da gravidez inicial Nesta diretriz, a "idade" é expressa como idade gestacional menstrual, que é de 14 dias maior que a idade concepcional. O desenvolvimento embrionário visualizado por ultrassonografia concorda com o "cronograma de desenvolvimento" de embriões humanos descritos no sistema de estadiamento Carnegie. O embrião mede tipicamente cerca de 1-2 mm de comprimento quando se torna detectável pela ultrassonografia, aumentando cerca de 1 mm por dia. As extremidades cefálica e caudal são indistinguíveis até 53 dias de idade gestacional (em torno de 12 mm), quando a cavidade romboencefálica em forma de diamante torna-se visível (futuro quarto ventrículo). Definindo a viabilidade da gestação O termo 'viabilidade' implica a capacidade de viver de forma independente fora do útero e, a rigor, não pode ser aplicada à vida fetal e embrionária precoce. No entanto, este termo foi aceito no jargão de ultrassonografia para significar que o coração embrionário/fetal ativo foi visto, levando à conclusão de que o embrião/feto está “vivo”. A viabilidade fetal ultrassonográfica, é, por conseguinte, o termo usado para confirmar a presença de um embrião com atividade cardíaca no momento do exame. Atividade cardíaca embrionária tem sido documentada a partir de 37 dias de gestação, que é quando o tubo cardíaco embrionário começa a bater 30. A atividade cardíaca é frequentemente evidente quando o embrião mede 2 mm ou mais, mas pode não ser identificada em torno de 5 - 10% de embriões viáveis medindo entre 2 e 4 mm. Definindo uma gravidez intrauterina 8 8 A presença de um saco gestacional intrauterino significa claramente que a gravidez é intrauterina, mas o critério para se definir um saco gestacional não é claro. O uso de termos como um saco “aparentemente vazio”, ou "anel duplo- decidual" ou mesmo "pseudosaco” não confirmam ou refutam com precisão a presença de uma gravidez intrauterina. Em última análise, a decisão é subjetiva e é, portanto, influenciado pela experiência do profissional que realiza o exame. Em uma paciente assintomática, é aconselhável esperar até que o embrião se torne visível dentro do saco intrauterino, pois isso confirma que o 'saco' é realmente um saco gestacional. Medidas na gravidez inicial O diâmetro médio do saco gestacional (DMSG) foi descrito no primeiro trimestre desde 35 dias após o último período menstrual em diante. O DMSG é a média das três medidas ortogonais do espaço cheio de fluido no interior do saco gestacional. Nomogramas tanto para o comprimento cabeça-nádega (CCN) quanto para o DMSG estão disponíveis, mas, na presença do embrião, o CCN fornece uma estimativa mais precisa da idade gestacional, pois os valores do DMSG apresentam maior variabilidade. Medidas fetais no primeiro trimestre Quais medidas devem ser realizadas no primeiro trimestre? A medida do CCN pode ser realizada pela via transabdominal ou transvaginal. A seção sagital mediana de todo o embrião/feto deve ser obtida, de preferência, com o embrião/feto orientado horizontalmente na tela. A imagem deve ser suficientemente ampliada para preencher a maior parte da largura da tela do equipamento e, em uma posição na qual a linha de 9 9 medida entre a cabeça e a nádega esteja o mais próximo de 90 graus com o feixe de ultrassom. Os cursores eletrônicos devem ser usados para medir o feto em uma posição neutra (ou seja, nem muito fletida, nem muito estendida). Os pontos finais da cabeça e da nádega devem ser definidos de forma clara. Deve-se tomar cuidado para evitar a inclusão de outras estruturas, como o saco vitelino. A fim de assegurar que o feto não esteja fletido, deve-se observar o fluido amniótico entre o queixo e o tórax fetal (Figura 1). No entanto, isto pode ser difícil entre 6-9 semanas, quando o embrião está tipicamente muito fletido. Nesta situação, a medida real representa o comprimento pescoço-nádega, mas ainda é chamado de CCN. Em gestações muito iniciais, frequentemente não é possível distinguir entre o polo cefálico e a extremidade caudal; nestes casos deve se realizar a medida do maior comprimento como sendo o CCN. O diâmetro biparietal (DBP) e a circunferência cefálica (CC) devem ser medidos no plano axial simétrico da cabeça do feto, que não deve ser distorcida por estruturas adjacentes ou pela pressão exercida pelo transdutor. Na gestação de cerca de 10 semanas, estruturas como a linha média, terceiro ventrículo, fissura inter-hemisférica, e plexos coroides deveriam ser visíveis. Próximo de 13 semanas, o tálamo e o terceiro ventrículo são bons pontos de referencia. A orientação axial correta pode ser confirmada através da inclusão na imagem de ambos os cornos anteriores e dos lobos occipitais dos ventrículos cerebelares, se mantendo em um plano acima do cerebelo. A posição dos cursores para medir o DBP deve seguir a técnica utilizada para produzir o nomograma selecionado. Tanto o posicionamento nas duas bordas externas, ou da parte externa proximal até a interna distal estão em uso atualmente (Figura 2). 1 0 10 Outras medidas Nomogramas estão disponíveis para a circunferência abdominal (CA), para o comprimento do fêmur e outros órgãos fetais, mas não há nenhuma razão para medir essas estruturas como parte da rotina no primeiro trimestre. Avaliação da idadegestacional Devemos oferecer às gestantes uma ultrassonografia precoce entre 10 semanas e 13 semanas + 6 dias para estabelecer a idade gestacional com precisão (Evidência A). A avaliação ultrassonográfica da idade gestacional usa as seguintes premissas: - A idade gestacional representa a idade após a concepção + 14 dias (idade menstrual); - O tamanho embrionário/fetal corresponde à idade pós-concepção (após a fertilização); - As estruturas medidas estão normais; - A técnica de medição está em conformidade com o nomograma de referência; - As medições são confiáveis (intra- e inter-observadores); - O equipamento de ultrassonografia deve estar corretamente calibrado. Definir a data precisa é essencial para o adequado acompanhamento da gravidez e tem sido a principal indicação para a ultrassonografia de rotina no primeiro trimestre. Ela melhora a avaliação do crescimento fetal no final da gestação e os cuidados obstétricos em geral, particularmente a melhor condução nos casos de gravidez pré-termo ou pós-termo. Exceto em gestações resultantes de técnicas de reprodução assistida, o dia exato da concepção não pode ser determinado de forma confiável e, portanto, a ultrassonografia parece ser o melhor método para se atingir este objetivo. 1 1 11 Foi recomendado, portanto, oferecer a todas as mulheres um exame entre 10 semanas e 13 semanas + 6 dias para determinar a idade gestacional e detectar gestações múltiplas. No primeiro trimestre, muitos parâmetros são intimamente relacionados com a idade gestacional, mas o CCN parece ser o mais preciso, permitindo a determinação exata do dia de concepção, com erro de até 5 dias, para mais ou para menos, em 95% de casos. No início da gestação, quando o feto é relativamente pequeno, erros de medidas terão um efeito mais significativo na avaliação da idade gestacional; desta forma, o momento ideal para realização dessas medidas é entre 8 semanas e 13 semanas + 6 dias 48. Entre 11 semanas e 13 semanas + 6 dias, o CCN e o DBP são os dois parâmetros mais comumente usados para se datar a gestação. Muitos autores têm publicado nomogramas para essas variáveis. As medições podem ser feitas via transabdominal ou transvaginal. Os nomogramas de gestações únicas são aparentemente válidas para serem utilizadas também em gestações múltiplas. Detalhes de alguns nomogramas publicados são fornecidos na Tabela 1. Recomenda-se que a medição da CCN deva ser utilizada para determinar a idade gestacional, exceto quando maior que 84 mm; após este estágio, a circunferência craniana (CC) pode ser usada, pois ela é um pouco mais precisa que o DBP. Avaliação da anatomia fetal A avaliação do segundo trimestre (entre 18 e 22 semanas) continua sendo o padrão para a avaliação anatômica fetal, tanto em gestações de baixo quanto de alto risco. A avaliação da anatomia no primeiro trimestre e detecção de anomalias foi introduzido no final da década de 80 e início de 1990 com o advento da ultrassonografia transvaginal eficaz. 1 2 12 A introdução da triagem de aneuploidia pela TN entre 11 semanas e 13 semanas + 6 dias reacendeu o interesse na avaliação da anatomia precocemente (Tabela 2). Vantagens relatadas incluem a detecção precoce e a exclusão de muitas anomalias importantes, tranquilidade para mães em situação de risco, diagnóstico genético mais precoce, e maior facilidade na interrupção da gestação, se indicada. As limitações incluem a necessidade de pessoal treinado e experiente, a relação custo/benefício, ainda incerta, e o desenvolvimento tardio de algumas estruturas anatômicas e patologias (por exemplo, corpo caloso, hipoplasia do coração esquerdo), o que torna impossível a detecção precoce e pode levar a dificuldades no aconselhamento devido ao significado clínico incerto de alguns achados 54 - 56,60 - 62. Cabeça A ossificação do crânio deve ser identificável com 11 semanas completas (Figura 2A). É útil olhar especificamente para a ossificação nos planos axiais e coronais. Defeitos ósseos (distorção ou interrupção) devem ser documentados. A região cerebral entre 11 semanas e 13 semanas + 6 dias é dominada pelos ventrículos laterais que aparecem grandes e são preenchidos com os plexos coroides ecogênicos nos seus dois terços posteriores (Figura 2b). Os hemisférios devem parecer simétricos e separados por uma fissura inter-hemisférica e pela foice. O manto cerebral (meninge) é muito fino e melhor avaliado na região anterior, onde reveste os grandes ventrículos cheios de líquido, uma aparência que não deve ser confundida com hidrocefalia. Nessa idade, algumas estruturas cerebrais (por exemplo, corpo caloso, cerebelo) não estão suficientemente desenvolvidas para permitir uma avaliação precisa. 1 3 13 Tem sido proposto que a translucência intracraniana pode ser avaliada na fossa posterior entre 11 semanas e 13 semanas + 6 dias como teste de triagem para defeito aberto do tubo neural, mas isto ainda não está padronizado para ser aplicado de rotina. Nesta mesma idade, pode ser feita uma tentativa de identificar os olhos e cristalinos, as distâncias interorbital, o perfil, incluindo o nariz, o osso nasal e a mandíbula, bem como a integridade da boca e lábios (Figura 3). No entanto, na ausência de anomalias evidentes, a falha em se examinar mais detalhadamente estas estruturas neste momento não deve levar a realização de outro exame antes do segundo trimestre. Pescoço A avaliação ultrassonográfica da TN faz parte do rastreamento de anomalias cromossômicas e é discutida abaixo. Atenção deve ser dada para o alinhamento adequado do pescoço com o tronco e identificação de outras coleções, como higromas e sacos linfáticos jugulares. Coluna A coluna deve ser avaliada tanto no plano longitudinal quanto no axial de forma a mostrar o alinhamento vertebral normal e sua integridade, e deve ser feita uma tentativa de se mostrar pele sobrejacente intacta (Figura 4). No entanto, a falha em se examinar mais detalhadamente estas estruturas neste momento não deve levar à realização de outro exame antes do segundo trimestre. Atenção particular deve ser dada à aparência normal da coluna vertebral quando DBP estiver abaixo do percentil. Tórax 1 4 14 O tórax normalmente mostra os pulmões com ecogenicidade homogênea, sem evidência de derrame pleural ou massas císticas/sólidas. A continuidade diafragmática deve ser avaliada, observando a posição intra-abdominal normal do estômago e fígado. Coração A posição normal do coração do lado esquerdo do tórax (levocardia) deve ser documentada (Figura 5). Avaliação ultrassonográfica mais detalhada da anatomia cardíaca pode ser viável entre 11 semanas e 13 semanas + 6 dias 67,68, mas isso não faz parte da avaliação de rotina. Por razões de segurança, o uso de Doppler não é indicado durante o exame de rotina. Conteúdo abdominal Em 11 semanas e 13 semanas + 6 dias, o estômago e bexiga são as únicas estruturas hipoecoicas do abdômen (Figura 6A e 6B). A posição do estômago, no lado esquerdo do abdômen, juntamente com coração ajudam a confirmar o situs visceral normal. Os rins fetais devem ser observados na sua localização para-espinhal normal como estruturas ligeiramente ecogênicas em forma de feijão com pelve tipicamente hipoecoica no centro (Figura 6B). Por volta de 12 semanas de gestação, a bexiga fetal deve ser visível como uma estrutura redonda hipoecoica mediana no abdome inferior. Parede abdominal A inserção normal do cordão umbilical deve ser documentada após 12 semanas (Figura 6c). A hérnia umbilical fisiológica se apresenta até 11 semanas, e deve ser diferenciadade onfalocele e gastrosquise. 1 5 15 Membros A presença de cada segmento ósseo dos membros superiores e inferiores e a presença e orientação normal das duas mãos e pés deve ser observada entre 11 semanas e 13 semanas + 6 dias. As falanges terminais das mãos podem ser visíveis em 11 semanas, especialmente utilizando a via transvaginal (Figura 7a). Genitália A avaliação dos órgãos genitais e do gênero fetal é baseada na orientação do tubérculo genital, no plano sagital mediano, mas não são suficientemente precisas para serem utilizadas com finalidade clinica. Cordão umbilical O número de vasos do cordão, inserção do cordão umbilical no umbigo e presença de cisto de cordão devem ser identificados. Uma breve avaliação da região paravesical com Doppler colorido pode ser útil para confirmar a presença de duas artérias umbilicais, mas isso não faz parte da rotina de avaliação. PAPEL DA ULTRASSONOGRAFIA 3D E 4D A ultrassonografia 3D e 4D não são usadas atualmente para a avaliação anatômica de rotina no primeiro trimestre, pois a sua resolução ainda não é tão boa quanto a ultrassonografia 2D. Em mãos experientes, esses métodos podem ser úteis na avaliação de anormalidades, especialmente aquelas de anatomia de superfície 70. AVALIAÇÃO DE ANOMALIA CROMOSSÔMICA A triagem de anomalias cromossômicas no primeiro trimestre por ultrassonografia pode ser oferecida, dependendo da política de saúde pública, mão de obra especializada e disponibilidade de recursos de saúde. A triagem no primeiro trimestre deve incluir a medida da TN. 1 6 16 O desempenho do rastreamento pode ser melhorado pela adição de outros marcadores bioquímicos, incluindo a medição da fração livre ou total da gonadotrofina coriônica humana (hCG) e da Pregnancy-Associated Plasma Protein-A (PAPP-A). Em circunstâncias apropriadas, marcadores de aneuploidia adicionais, incluindo osso nasal, regurgitação tricúspide, regurgitação ductal e outros, podem ser realizados por profissionais com formação adequada e certificação . A maioria dos especialistas recomenda que a TN deva ser medida entre 11 semanas e 13 semanas + 6 dias, o que corresponde a um CCN entre 45 e 84 mm. Esta janela de idade gestacional é recomendada porque é o melhor período para avaliação da TN e o tamanho fetal permite o diagnóstico de algumas malformações, proporcionando, assim, a opção de interromper precocemente a gestação (quando esta for uma opção regulamentada pois varia de acordo com as leis do país). A implementação da medida da TN requer vários elementos, incluindo o equipamento adequado, aconselhamento e conduta, bem como profissionais com formação especializada e certificação continuada. No entanto, mesmo na ausência de programas de rastreamento baseados na TN, a avaliação qualitativa da região da nuca do feto é recomendada e, se houver algum indício de espessamento, deve-se considerar encaminhar a um especialista. Como medir o NT A medida da TN deve ser realizada apenas por operadores treinados e certificados. A TN pode ser medida através da ultrassonografia transabdominal ou transvaginal. O feto deve estar em uma posição neutra, um corte sagital deve ser obtido e a imagem deve ser ampliada de modo a incluir apenas a cabeça e tórax superior do feto. Além disso, a membrana amniótica deve ser identificada separadamente do feto. 1 7 17 O plano sagital mediano da face fetal é definido pela presença da ponta ecogénica do nariz e pelo palato retangular anteriormente, diencéfalo translúcido no centro, e membrana nucal posteriormente. Se o plano não for o mediano verdadeiro, a ponta do nariz não será visualizada e a extensão óssea ortogonal na extremidade frontal da maxila irá aparecer. O aparelho deve permitir precisão de medida de 0,1 mm. Os cursores devem ser colocados corretamente para medir a TN como sendo a máxima distância entre a membrana da nuca e a borda de partes moles que se sobrepõe à coluna cervical (Figura 8). Se mais de uma medida preenchendo todos os critérios for obtida, deve- se considerar o maior valor para ser registrado e utilizado na avaliação de risco. A gravidez múltipla requer considerações especiais, tendo em conta a corionicidade. Como treinar e controlar a qualidade da medida da TN A medida confiável e reprodutível da TN requer formação adequada. Uma auditoria rigorosa do desempenho do operador e comentários construtivos de avaliadores foi estabelecida em muitos países e deve ser considerada essencial para todos os profissionais que participam de programas de rastreamento baseados na TN. OUTRAS ESTRUTURAS INTRA E EXTRAUTERINAS A ecotextura da placenta deve ser avaliada. Achados anormais evidentes, como massas, espaços císticos únicos/múltiplos ou grande coleções líquidas subcoriônicas (> 5 cm), devem ser registrados e seguidos. A posição da placenta em relação ao colo do útero tem pouca importância nesta fase da gravidez, uma vez que a maioria “migra” para longe do orifício interno do colo uterino. O diagnóstico de placenta prévia não deve ser realizado nesta fase. Deve ser dada atenção especial às pacientes com cesariana prévia, que podem estar 1 8 18 predispostas à cicatriz gestacional ou placenta acreta, com complicações significativas. Nessas situações, a área entre a bexiga e o istmo uterino no local da cicatriz cesariana deve ser examinada. Nos casos suspeitos, deve-se considerar encaminhamento a um especialista para avaliação e conduta mais apropriada. Embora a avaliação rotineira da cicatriz de cesariana prévia possa ser útil no futuro, não há atualmente evidências suficientes para apoiar a inclusão desta prática na rotina. Problemas ginecológicos, tanto benignos quanto malignos, podem ser detectados durante o exame de primeiro trimestre. Anormalidades da forma uterina, como o septo uterino e o útero bicorno, devem ser descritas. Deve-se avaliar a presença de massas e outras anomalias anexais. A relevância e conduta na presença de tais achados estão fora do escopo destas diretrizes. FUNDAMENTOS DA ULTRASSONOGRAFIA O exame de ultrassonografia utiliza ondas sonoras em altas frequências, inaudíveis ao ser humano (ultrassom), para formar imagens das estruturas avaliadas. Modo brilho (modo B) Na dependência principalmente da forma e da densidade das estruturas avaliadas as ondas de ultrassom podem, resumidamente, atravessar, refletir ou atenuar. Estruturas que refletem as ondas de ultrassom (ecogênicas) são representadas ao modo B através de uma escala de cinza, tanto mais clara quanto maior for a intensidade da onda refletida. Estruturas examinadas que não refletem as ondas de ultrassom (anecóicas) são representadas em preto no modo B. 1 9 19 O modo B é uma representação em escala de cinza da anatomia macroscópica da estrutura avaliada. O envoltório de um implante mamário é uma estrutura bastante ecogênica. As ondas de ultrassom são refletidas, gerando ecos de alta intensidade, representados ao modo B em cinza claro. Por outro lado, o conteúdo de silicone do implante mamário não reflete às ondas de ultrassom (anecóico) e por isso é representado em preto. 2 0 20 2 1 21 Ultrassonografia modo B através do transdutor endocavitário mostrando a anatomia uterina em escala de cinza. Modo Doppler Quando as ondas de ultrassom interagem com estruturas em movimento ocorre a mudança da frequência da onda. Quando a estrutura se movimenta no sentido oposto à propagação da onda de ultrassom, ocorre um aumentoda sua frequência. Nas situações em que a propagação da onda tem o mesmo sentido da estrutura em movimento ocorre a diminuição da frequência. Através da análise da variação da frequência entre as ondas emitidas e refletidas, da sua variação ao longo do ciclo cardíaco e do ângulo de insonação o equipamento de ultrassonografia pode calcular o sentido, a velocidade e a resistência ao fluxo sanguíneo. O modo Doppler fornece uma análise qualitativa e quantitativa da função ou fisiologia da estrutura ou órgão examinado. Ultrassonografia modo Doppler mostrou fisiologia normal do ducto venoso de um feto. 2 2 22 Modo Elastografia Recentemente foi incorparada à ultrassonografia a elastografia. Através dessa tecnologia é possível quantificar a densidade das estruturas avaliadas. Estruturas duras, intermediárias e moles costumam ser representadas pela elastografia em vermelho, verde e azul, respectivamente. Ultrassonografia de um nódulo mamário no modo B (figura A) mostra a anatomia macroscópica do nódulo. No modo elastografia (B) o nódulo é representado como predominantemente vermelho (duro). Modo 3D 2 3 23 No modo 3D são adquiridas múltiplas imagens no modo B, tornando possível além da avaliação volumétrica, a reconstrução das estruturas examinadas em diferentes planos. Aquisição 3D do útero, com reconstrução da imagem no plano coronal. PRINCIPAIS INDICAÇÕES DA ULTRASSONOGRAFIA EM GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA 1- Avaliação da gestação inicial 2 4 24 Através da ultrassonografia transvaginal o embrião costuma ser identificado por volta de 5 semanas de amenorreia ou 1 semana de atraso menstrual. Ultrassonografia transvaginal pela qual é possível diagnosticar um embrião medindo 4,2 mm, o que é compatível com uma gestação de 6 semanas e 1 dia de amenorreia. A vesícula anecóica adjacente ao embrião é a vesícula vitelínica, achado relevante na gestação inicial. 2 5 25 Ultrassonografia transvaginal pela qual é possível diagnosticar um embrião medindo 18 mm, o que é compatível com uma gestação de 8 semanas e 3 dias de amenorreia. A vesícula anecóica adjacente ao embrião é a vesícula vitelínica, achado relevante na gestação inicial. É fundamental na avaliação pré-natal o diagnóstico do número de embriões, placentas (corionicidade) e bolsas amnióticas (amniocidade). As gestações múlptiplas, principalmente as monocoriônicas e monoamnióticos apresentam uma frequência maior de complicações obstétricas. 2 6 26 Ultrassonografia obstétrica diagnosticando uma gestação gemelar monocoriônica e monoamniótica. A maior causa de mortalidade materna no primeiro trimestre é a gestação ectópica, que corresponde ao desenvolvimento da gestação fora do útero. Está condição quando não diagnosticada a tempo pode causar hemorragia fatal. A gestação ectópica ocorre mais frequentemente na tuba uterina. 2 7 27 Exame ultrassonográfico transvaginal diagnóstico do anel tubáreo relacionado à gestação ectópica tubárea íntegra. 2 8 28 Ultrassonografia transvaginal mostrando uma gestação ectópica tubárea rota. Notar a grande quantidade de sangue (anecóico) livre na cavidade abdominal. Outra gestação inviável que pode ser diagnosticada pela ultrassonografia é a doença trofoblástica gestacional nas suas formas mola hidatiforme completa ou incompleta. 2 9 29 A ultrassonografia obstétrica reduziu a idade média do diagnóstico da mola hidatiforme de 14 para cerca de 10 semanas. O diagnóstico precoce da doença trofoblástica gestacional diminui a chance de que a doença evolua para a neoplasia trofoblástica gestacional como a mola invasora e o coriocarcinoma. Ultrassonografia transvaginal modo B mostrando o útero com dimensões aumentadas, preenchido por conteúdo ecogênico, permeado por várias vesículas anecóicas. Ao lado, a macroscopia do material obtido após a aspiração do conteúdo. DATAÇÃO DA GESTAÇÃO E ESTIMATIVA DO PESO FETAL A datação correta da idade gestacional é fundamental para a avaliação pré-natal. Através dela é possível detectar alterações no desenvolvimento da gestação como a restrição do crescimento fetal. A datação e a estimativa de peso fetal são determinadas pela medida das seguintes estruturas fetais: comprimento crânio-nádega, polo cefálico, abdômen e fêmur. 3 0 30 Ultrassonografia modo B mostrando a medida crânio-caudal do feto e a estimativa da idade gestacional em 12 semanas e 6 dias. 3 1 31 Ultrassonografia modo B para a biometria fetal, nas quais foram medidas a cabeça (A), o abdômen (B) e o fêmur (C) fetais, com os quais são calculadas estimativas da idade gestacional e do peso fetal. RASTREAMENTO DE CROMOSSOMOPATIAS A ultrassonografia obstétrica realizada entre a 11ª a 14ª semanas de gestação, também conhecida como exame morfológico de primeiro trimestre, tem importância indiscutível no rastreamento de anormalidades cromossômicas (cromossomopatias ou aneuploidias), especialmente aquelas que são compatíveis com a evolução da gestação até o termo. 3 2 32 Dentre estas destacam-se, especificamente, as trissomias dos cromossomos 21 (Síndrome de Down), 18 (Síndrome de Edwards) e 13 (Síndrome de Patau). Os principais marcadores ultrassonográficos das cromossomopatias são a translucência nucal (A), o osso nasal (B) e o Doppler do ducto venoso (C). AVALIAÇÃO DA VITALIDADE FETAL O doppler obstétrico é um dos recursos disponíveis para a avaliação da vitalidade fetal em gestações com risco de insuficiência placentária. Os outros métodos são o controle da movimentação fetal (mobilograma), a cardiotocografia e o perfil biofísico fetal. 3 3 33 Os principais vasos avaliados pelo Doppler na avaliação da vitalidade fetal são a artéria umbilical (A), a artéria cerebral média (B) e o ducto venoso (C) Na avaliação do perfil biofísico fetal são avaliados pela ultrassonografia o tônus, a mobilidade fetal, o movimento fetal, a identificação de movimentos respiratórios fetais e a quantidade do líquido amniótico. AVALIAÇÃO DO LÍQUIDO AMNIÓTICO Alterações na quantidade do líquido amniótico podem indicar alterações diversas como a insuficiência uteroplacentária, rotura de membranas, malformações fetais e diabetes gestacional. A avaliação do líquido amniótico pela ultrassonografia pode ser qualitativa ou quantitativa. 3 4 34 Ultrassonografia obstétrica mostrando a avaliação subjetiva da diminuição do líquido amniótico. Avaliação quantitativa do líquido amniótica através do índice do líquido amniótico ILA), calculado pela soma das medidas longitudinais dos maiores bolsões nos quatro quadrantes. São considerados normais valores entre 5cm (p5%) e 20cm (p95%). 3 5 35 Técnica da medida longitudinal do maior bolsão. São considerados normais valores entre 2cm e 8cm. DIAGNÓSTICO E DESCRIÇÃO DE MIOMAS Os miomas podem acometer até 50% das mulheres na menacme. A ultrassonografia é o método de escolha para o diagnóstico e a descrição dos miomas. Essas informações são fundamentais para a indicação do tratamento mais adequado. 3 6 36 DIAGNÓSTICO, DESCRIÇÃO E CLASSIFICAÇÃODAS MASSAS ANEXIAIS A ultrassonografia é fundamental na discriminação entre os achados tipicamente benignos e as lesões suspeitas para as quais é indicado o tratamento cirúrgico. 3 7 37 Ultrassonografia transvaginal mostrando exemplos de lesões tipicamente benignas: cisto unilocular (A), hidrossalpinge (B) e teratoma (C). Ultrassonografia mostrando exemplos de lesões suspeitas: acentuada vascularização ao Doppler (A), tumor sólido irregular (B) e Ascite (C). 3 8 38 ULTRASSONOGRAFIA OBSTÉTRICA NO BRASIL: UM APELO À PADRONIZAÇÃO A sobrevivência humana depende, a milhares de anos, da padronização. Originalmente, não era necessário registrar os processos padronizados, pois as pessoas aprendiam observando e gravando na memória. Hoje, é impossível imaginar como se viveria num mundo onde o instrumental cirúrgico não fosse padronizado e, toda vez que fôssemos operar em um hospital diferente, o material fosse outro. Um processo padronizado é um método efetivo e organizado de produzir, mantendo a mais alta qualidade. A falta de padronização esconde falhas, além de impedir que um processo seja reproduzido da mesma forma por outras pessoas. Uma lacuna que precisa ser, urgentemente, preenchida é a falta de padronização em exames de ultrassonografia, em obstetrícia. Precisamos explicitar o que constitui (como é feito) cada exame, quais estruturas devem ser analisadas e como devem ser analisadas. A necessidade de padronização vai de encontro aos conceitos relacionados à forma como o ser humano erra e quais os mecanismos que podem ser utilizados para evitar esse erro. Um deles é a criação de padrões e situações supostamente "à prova de erro", por meio do uso de protocolos. Coisas muito simples, como checklists padronizados, podem salvar vidas, como visto inclusive em recente estudo publicado no New England Journal of Medicine, no qual um checklist em cirurgias diminuiu a mortalidade do grupo que recebeu a intervenção. Uma abordagem baseada em protocolos dentro de sistemas e processos de assistência tende a ser muito mais robusta em termos de resultado, pois remove uma série de barreiras, fornece suporte institucional para sua prática e ainda pode fornecer resultados a serem utilizados para promover melhorias de desempenho. 3 9 39 Além disso, a padronização visa tirar do médico todo o peso de ter tudo, o tempo todo, em mente. É irreal acharmos que todo médico consegue armazenar todo o volume de novas informações que são divulgadas diariamente. Como garantir, para o paciente, que o exame que ele está fazendo com um profissional é semelhante ao exame que faria com outro? Certamente isto é impossível, pois quando falamos de ultrassonografia, estamos falando de um exame que depende não somente do examinador, mas também do equipamento utilizado e das condições maternas e fetais. Entretanto, existe uma maneira de tentar minimizar essas diferenças, que é por meio da padronização do exame. Dessa forma, reduzimos o seu componente "artístico" e incrementamos o seu nível técnico. PADRONIZAÇÃO DE EXAMES DE ULTRASSONOGRAFIA EM OBSTETRÍCIA Com base nesses motivos, várias sociedades internacionais emitiram parecer técnico ou protocolos sobre como devem ser realizados os exames de ultrassonografia em Obstetrícia. No Brasil, recentemente, a Comissão de Ultrassonografia da Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) divulgou para seus associados, na parte restrita do site, uma recomendação sobre os cortes fundamentais que devem ser avaliados no exame morfológico. A publicação desse protocolo, apesar de sinalizar um direcionamento no sentido de padronizar o exame, ainda é uma atitude tímida. Não existe uma descrição pormenorizada de como as imagens devem ser obtidas, não existe divulgação ampla e não há coparticipação de outras sociedades interessadas, como o Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR). 4 0 40 Além disso, ainda carecemos de protocolos para outras situações como gestação inicial, exames entre a 11ª e a 14ª semanas, doplerfluxometria, dentre outros. Podemos observar a modificação que a ultrassonografia em obstetrícia sofreu nos últimos anos analisando-se as tabelas de procedimentos médicos elaboradas pela Associação Brasileira de Medicina (AMB), para uso na saúde suplementar (Quadro 1). Ao longo dos anos, podemos observar a inclusão do que seriam exames diferentes. O que originalmente era o exame obstétrico, realizado em qualquer fase da gestação, foi progressivamente sendo segmentado e, hoje, existem os exames de primeiro trimestre (endovaginal), obstétrica com translucência nucal, obstétrica morfológica e obstétrica. https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-72032012000500001&lng=pt&nrm=iso#q1 4 1 41 Entretanto, devido à ausência de instruções mais detalhadas nessas tabelas, não é possível saber o que constitui cada exame. Tomemos, por exemplo, o exame "Obstétrica com translucência nucal". Em que idade esse exame deve ser realizado? Quando a translucência nucal foi incorporada aos exames de ultrassonografia, ela era realizada quando o feto tinha entre 38 e 85 mm de comprimento cabeça-nádegas. Hoje, a recomendação é que esse exame seja realizado quando o feto tiver entre 45 e 84 mm de comprimento cabeça-nádegas. Quais marcadores devem ser verificados nesse exame? A descrição do exame menciona translucência nucal, mas já conhecemos outros marcadores importantes que podem ser analisados, no mesmo exame: osso nasal, ângulo frontomaxilar, translucência intracraniana, doplervelocimetria do duto venoso, fluxo tricúspide, presença de artéria subclávia direita aberrante. Esses outros marcadores devem ou não devem ser analisados? Outro problema é a diferença entre o exame obstétrico e obstétrico morfológico. Se analisarmos a questão do ponto de vista ético, todo exame deveria avaliar o feto da maneira mais completa possível. Se não o fizermos, estaremos deixando de utilizar todo e qualquer método em benefício do paciente, o que seria uma infração ética. Se existem dois tipos de exame, um mais completo e outro mais "simples", o exame que deveria ser realizado é sempre o mais completo. Além disso, precisamos saber se devemos ou não medir o comprimento do colo uterino. Com relação à doplervelocimetria, a situação é até mais complexa. Devemos usar índices de resistência ou índices de pulsatilidade? Quais vasos devem ser insonados durante o exame? O que acontece se quisermos um vaso adicional que não foi insonado (como o duto venoso)? 4 2 42 Nesse ponto, as sociedades médicas devem assumir o seu papel, desenvolvendo um protocolo e classificando os dados em níveis de evidência e no grau de recomendação (mesmo que ainda assim existam falhas de método). Entra, também, o papel de grupos de estudiosos voltados para a análise de evidências científicas, sem conflito de interesses. O que esperamos dos exames de ultrassonografia em obstetrícia? Fundamentalmente, como qualquer outro exame de rotina de pré-natal, o exame morfológico de segundo trimestre é um teste de rastreamento. Como tal, é caracterizado pela identificação de uma doença ou fator de risco não reconhecido. Os testes de rastreamento separam os indivíduos potencialmente doentes daqueles com baixo risco de doença. No caso da ultrassonografia morfológica, o objetivo é separar os indivíduos com alto risco para malformações congênitas daqueles com baixo risco. Entretanto, é importante ressaltar que a aplicação clínica de um teste de rastreamento deve sernorteada pela premissa de que o diagnóstico permita uma conduta que altere o desfecho daquele caso. Ou seja, para que o teste de rastreamento seja aplicado na população, é importante que o resultado dele permita ao médico alguma conduta em benefício do paciente. É importante definirmos o que deve ser visto em cada idade gestacional. Um exame na 9ª semana não é a mesma coisa que um exame na 12ª, 22ª ou na 36ª semana. Por isso, talvez, seja mais intuitivo e interessante segmentarmos o exame obstétrico por idade gestacional e não por tipo de exame (primeiro trimestre, translucência nucal, obstétrico e morfológico). Devemos dar especial atenção às situações nas quais é possível tomar alguma conduta para beneficiar o concepto e a mãe, caracterizando um verdadeiro exame de rastreamento. 4 3 43 Além do exame de rastreamento, num segundo momento, deveria existir a possibilidade de um exame de diagnóstico, no qual o examinador deveria avaliar minúcias para se tentar chegar a um diagnóstico, da mesma forma como é feito o exame do coração. Num primeiro momento, o médico realiza o exame básico do coração e, na presença de um indício de alteração, o exame é complementado pelo especialista naquele órgão, ou seja, o cardiologista fetal. Apenas para ilustrar outro exemplo, numa displasia esquelética, durante o exame de rastreamento, o médico com menor experiência observaria o encurtamento dos ossos longos. Então, o médico com habilitação em Medicina Fetal observaria detalhes para identificar o tipo de displasia esquelética, por exemplo, hipoplasia de escápula (presente na displasia campomélica) ou o "dedão de caroneiro" (presente na displasia diastrófica). Por outro lado, a presença de hipoplasia de escápula ou o 5º quirodáctilo, na posição de "dedão de caroneiro", não são malformações comuns e não devem ser rastreadas rotineiramente na população de fetos sem evidências de alterações morfológicas. Há que se considerar, também, a prevalência das malformações, e o exame de rastreamento deve levar em conta a identificação das malformações mais prevalentes na população. Um estudo publicado recentemente7 analisou a prevalência das principais malformações presentes no nascimento e identificou, em ordem decrescente de incidência, as seguintes malformações: malformações cardíacas, fendas labiais, anencefalia, mielomeningocele, gastrosquise, onfalocele e hérnia diafragmática congênita. As malformações que tiveram menor prevalência foram as displasias esqueléticas e a agenesia renal. Existem poucos estudos nos quais se quantifica com clareza o efeito do diagnóstico pré-natal. 4 4 44 Teoricamente, o diagnóstico pré-natal pode alterar o desfecho para fetos com anomalias anatômicas de diferentes maneiras. Em primeiro lugar, o diagnóstico pré-natal permite uma oportunidade para o aconselhamento da família sobre a natureza da malformação e o que se esperar da evolução pré- e pós-natal. Em países nos quais a legislação permite, algumas famílias e obstetras podem optar pela interrupção da gestação, nos casos em que a malformação é mais grave, não sendo esse o caso no Brasil. Alternativamente, o diagnóstico pré-natal permite algumas alterações na condução da gestação e do parto (alteração do momento do parto, local e tipo de parto) que poderão alterar o prognóstico do caso. Em situações menos frequentes, o diagnóstico pré-natal permite a intervenção intrauterina, alterando a evolução do quadro. Crombleholme et al. avaliaram o impacto do diagnóstico pré-natal em 221 gestações com malformações e observaram uma alteração no manejo da gestação em 67% das vezes, sem dúvida um número expressivo. Em 37% dos casos, o local do parto foi alterado para facilitar o atendimento pediátrico e cirúrgico. A via de parto foi alterada em 6,8% e o momento do parto em 4,5% das vezes. A terapia intrauterina foi realizada em 5% dos casos e apenas 3,6% das pacientes optaram por interromper a gestação. As malformações cujo diagnóstico intrauterino altera o prognóstico neonatal são: hipoplasia do ventrículo esquerdo, transposição de grandes artérias, coarctação de aorta, tumores obstrutivos da traqueia fetal, hérnia diafragmática congênita, mielomeningocele, teratomas sacrococcígeos associados à hidropisia e tumores pulmonares associados à insuficiência cardíaca. Em virtude do exposto, nos parece prudente que o exame de ultrassonografia de rastreamento inclua a visibilização, sempre que possível, dos 4 5 45 planos listados no Quadro 2 para se detectar as anomalias citadas para cada um deles. Além desses planos, obviamente, deverá ser realizada a biometria fetal e, portanto, os planos transtalâmico, abdome fetal e fêmur deverão ser avaliados. Certamente a idade gestacional poderá limitar a aquisição desses planos, por exemplo, não será possível avaliar adequadamente as vias de saída do coração em um feto com 9 semanas. Outros detalhes, como a documentação do exame, também necessitam de padronização. Por exemplo, como deve ser descrito um exame normal, quantas imagens devem ser feitas e o que deve ser feito com as estruturas que não foram adequadamente analisadas, em virtude da imagem não ser adequada ou do feto estar em uma posição que impeça a sua visibilização. COMO CONTROLAR A QUALIDADE DE EXAMES O exame de ultrassonografia é examinador dependente. No estudo Routine Antenatal Diagnostic Imaging with Ultrasound (RADIUS), a detecção de anomalias foi quase três vezes maior quando o ultrassonografista tinha maior capacitação ou treinamento. Estudos europeus também relatam diferença significativa na sensibilidade de detecção de anomalias quando comparamos o exame feito em centros terciários e centros não terciários. Em virtude dessa característica do exame de ultrassonografia ser examinador dependente, podemos encontrar na literatura estudos mostrando uma grande variação na sensibilidade para detecção de anomalias, variando de 1319 a 96%. Apesar de ser um assunto extremamente importante, as anomalias congênitas estão presentes em menos de 2% das gestações. https://www.scielo.br/img/revistas/rbgo/v34n5/01q02.jpg 4 6 46 O processo de controle de qualidade baseado na sensibilidade de detecção de malformações não deve ser aplicado, devido ao evidente vício que pode ocorrer em virtude dessa baixa prevalência. Por outro lado, programas de treinamento e certificação demonstram uma melhora na qualidade do rastreamento de malformações e aumentam a reprodutibilidade do método e, portanto, são necessários. O escore de imagens de ultrassonografia foi introduzido como peça fundamental no controle de qualidade de imagens para medida da translucência nucal; também, foi proposto para imagens de biometria, anatomia de segundo trimestre e exame do coração fetal. Além disso, a realização de programas de auditoria, após o estabelecimento de critérios, permite demonstrar uma melhora na qualidade de imagens obtidas. Métodos para avaliar o feto antes do advento da ultrassonografia eram muito limitados e a ultrassonografia oferecia um potencial enorme para esse fim. Na década de 1990, a mortalidade perinatal nos países desenvolvidos chegou à casa de um dígito. As razões para isso são complexas, mas não há dúvida de que a ultrassonografia tem desempenhado o seu papel e tem sido de grande benefício para muitos pacientes. A padronização de exames, apesar de valiosa no aspecto de manter a qualidade do exame, é algo muito recente em Medicina. O contraste entre o rápido crescimento da ultrassonografia em obstetrícia e a falta de protocolos nacionais sobre a padronização do exame torna o método muitas vezes questionável. Acreditamosque a padronização dos exames de ultrassonografia em obstetrícia é algo inevitável, necessário e urgente. 4 7 47 REFERÊNCIAS Haynes AB, Weiser TG, Berry WR, Lipsitz SR, Breizat AH, Dellinger EP, et al. 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