Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL REVISÃO: TEORIA DO CRIME Como se analisa o crime? O que é considerado crime para o Direito Penal? ➢ NÃO EXISTE CRIME SE NÃO HOUVER DOLO (vontade e consciência). ➢ NÃO É PORQUE MATEI ALGUÉM, QUE EU COMETI HOMIDICIO. ➢ NEM TODA MORTE DE MULHER É CONSIDERADO FEMINICÍDIO. Devemos sempre analisar o caso concreto!!!! Crime, é FATO TIPICO, ILICITO e CULPÁVEL É preciso analisar se o acontecimento/ fato é um crime ou não, ou seja, se estão presentes ou não os três requisitos. FATO TÍPICO ILÍCITO/ ANTIJURÍDICO CULPÁVEL CONDUTA LEGITIMA DEFESA ININPUTABILIDADE RESULTADO ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL POTENCIAL CONSCIÊNCIA DE ILICITUDE NEXO DE CAUSALIDADE EXERCÍCIO REGULAR DO DIREITO EXIGÊNCIA DE CONDUTA DIVERSA TIPICIDADE ESTADO DE NECESSIDADE Os dois primeiros, analisam o fato e o terceiro é a imputabilidade da pena. FATO TÍPICO – Para que tenhamos um fato típico, é preciso uma CONDUTA HUMANA que se subdivide em conduta DOLOSA ou CULPOSA. Culpa: negligência, imprudência ou imperícia Dolo: vontade e consciência SE NÃO HÁ UMA CONDUTA DOLOSA NÃO HÁ CRIME!!! Ex. Eu e meu amigo fomos caçar urso na floresta e ele, para me assustar se vestiu de urso e acabou sendo baleado por mim, vindo a falecer. Eu cometi homicídio? Agi com dolo? Ora, vamos analisar a situação: Eu atirei para matar (estava caçando ursos) mas eu não tinha a consciência (dolo) de que era meu amigo fantasiado de urso. Logo, eu não cometi crime de homicídio, mas responder na modalidade culposa. Se temos um fato típico, presume-se que é ilícito, mas em alguns casos acaba se tornando “lícito” pelo excludente de ilicitude. INTRODUÇÃO A PARTE ESPECIAL DO CÓDIGO PENAL Na Parte Geral são estudadas normas gerais sobre o crime, como dolo e culpa, tentativa e consumação, nexo causal, concurso de agentes, fixação da pena, concurso de crimes etc. Na Parte Especial estão localizados os crimes em espécie, ou seja, as normas incriminadoras e suas respectivas penas. Também se encontram regras específicas para certos crimes, exceções às regras gerais e até mesmo normas explicativas. A Parte Especial é dividida em Títulos, que se dividem em Capítulos, nos quais estão contidos os crimes (o Capítulo VI, do Título I, está, ainda, subdividido em três seções). Tal divisão não é aleatória, por óbvio, obedecendo uma classificação sistemática, de modo a aglutinar crimes de acordo, principalmente, com os bens jurídicos afetados. Por exemplo, o primeiro Título contém os crimes contra as pessoas; este subdivide-se em capítulos, sendo o primeiro de crimes contra a vida, passando-se pelo de crimes contra a honra, até chegar ao de crimes contra a liberdade individual. A posição de determinado tipo, na divisão acima, é importante para a interpretação sistemática. Assim, quando se discute, por exemplo, se é crime a “difamação” contra a pessoa jurídica, não se pode deixar de observar que o crime de difamação se encontra no Capítulo V (Dos crimes contra a honra) do Título I (Dos crimes contra a pessoa). Ora, os crimes previstos no Título I sãos cometidos contra o ser humano (homicídio, aborto, lesões corporais, seqüestro e cárcere privado, ameaça etc), razão pela qual não parece ter sentido em se pensar na pessoa jurídica como sujeito passivo de qualquer dos crimes nele previstos. Qual é a função do direito penal? Proteger os bens jurídicos > A vida é considerada o maior bem jurídico. O Direito Penal é uma exceção à regra, ou seja, tudo o que não for resolvido por outro ramo do Direito, entra no Direito Penal. HOMICÍDIO Art. 121 – Matar Alguém O homicídio é a destruição da vida extrauterina, ou seja, fora do útero. Para o Direito Penal a vida extrauterina começa com o início do parto, que é marcado pelo rompimento do saco amniótico. ➢ O Direito Civil protege a vida intrauterina do nascituro desde a sua concepção. ➢ O Direito Penal protege a vida intrauterina nos casos de aborto. Qual é o marco que divide a vida extrauterina e a vida intrauterina? A vida extrauterina tem início com o rompimento do saco amniótico. Ex. Uma gestante de 8 meses é baleada por um ex-namorado, que atirou para matar. Nesse caso, ele cometeu o crime de homicídio da gestante e aborto provocado por terceiros. Porém, se naquele momento a bolsa da gestante havia se rompido, ele responderá por homicídio da mãe e do bebê. ➢ O marco do início da vida é o rompimento do saco amniótico. SUJEITOS DO CRIME O crime sempre tem um autor e um ofendido. O autor é uma pessoa física que comete a conduta descrita no tipo, já a vítima é a titular do bem jurídico violado ou colocado em perigo. Sujeito ativo: Desse modo, sujeito ativo é o que pode figurar como autor do delito, aquele que pratica o crime. Por exemplo, no estupro (art. 213), o sujeito ativo é o homem, pois apenas este pode constranger uma mulher à conjunção carnal. Quando o sujeito ativo é qualquer pessoa, tem-se o chamado crime comum. Neste, o tipo não exige nenhuma condição especial do autor, ou seja, qualquer pessoa pode cometer o crime. No entanto, alguns tipos descrevem uma condição especial do agente, de modo que nem todas as pessoas podem ser autor, como no já mencionado caso do estupro. É o crime próprio (ou crime especial). É o caso, por exemplo, do peculato (art. 312), no qual a lei descreve como sujeito ativo o funcionário público. Nos crimes próprios, nada impede que outras pessoas que não preenchem a condição exigida pela lei para o sujeito ativo, também respondam pelo delito, desde que sejam co-autores ou partícipes. O particular que agir com o funcionário público no peculato responderá por este crime e não por furto. Sujeito passivo: Como dito, sujeito passivo é aquele cujo bem jurídico foi lesado ou colocado em perigo. Em determinados crimes, a lei exige uma condição especial também do sujeito ativo, como no estupro, que só pode ser cometido contra mulher, ou o infanticídio que só pode ser cometido contra o recém-nascido. TIPO PENAL Para atender ao princípio da legalidade, a lei cria o tipo, que contém todos os elementos descritivos de um crime. É a descrição abstrata de um crime, “o conjunto dos elementos descritivos do crime contidos na lei penal”. É o tipo penal em si, o crime cometido. O ponto de partida do aplicador da lei penal é o tipo, pois é ele que descreve a conduta proibida, que nega valores jurídico-penais. O juiz não poderá criar tais valores, para não usurpar função que compete ao legislador, como representante da vontade geral. O legislador define as condutas lesivas a certos valores jurídico-penais e ao juiz compete a verificação da adequação (tipicidade) entre uma conduta concreta e aquela descrita pela lei (tipo). O tipo é a descrição abstrata: “Art. 121 – Matar alguém”. Matar quem? A conduta típica é o caso concreto: Após uma discussão, Fulano pegou uma faca de cima do balcão do bar e matou Beltrano. A tipicidade é a adequação entre o caso concreto e o tipo, ao dar uma facada em Beltrano, dolosamente, causando sua morte, a conduta de Fulano se adequou ao art. 121. O tipo divide-se em tipo em tipo objetivo e tipo subjetivo e a compreensão dessa divisão é fundamental para o aprendizado da parte especial. TIPO OBJETIVO O tipo objetivo é a descrição objetiva da conduta proibida, diz-se objetiva, para excluir a análise subjetiva (dolo e elemento subjetivo do tipo, e culpa). Conduta é o comportamento humano voluntário, dirigido a determinada finalidade. A conduta vem prevista pelo verbo núcleo do tipo. Em certos tipos, como no homicídio (art. 121), o próprio verbo (matar) já contém o resultado, pois quem realiza a conduta de matar é porque causou o resultado morte. Quanto à conduta, há crimes de forma livre, em que a lei não descreve um modo especial de agir (no homicídio, não importa como se mata, o crime existe desde que cause amorte) e crime de ação vinculada, no qual exige-se um meio específico, uma especial forma de agir (no crime do art. 130, a lei descreve um meio específico: “relações sexuais”). Objeto material: A pessoa ou coisa, sobre a qual recai a conduta típica é o objeto material. O objeto material é previsto no tipo, como se vê nos tipos abaixo: “Art. 121 – Matar alguém:” A conduta é “matar”, que recai sobre o objeto material, que é “alguém”. Neste crime, o objeto material é pessoal, pois é a pessoa física. “Art. 155 – Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:” A conduta é “subtrair”, que recai sobre o objeto material, que é “coisa”. Já neste crime, o objeto material é chamado de real. Elemento normativo: Recebe este nome, todo elemento do tipo que precisa ser valorado pelo juiz, como, por exemplo, o advérbio “indevidamente” presente na violação de correspondência (art. 151). Isso ocorre porque nem sempre é possível usar na descrição elementos puramente objetivos Como tipificar, por exemplo, a injúria (art. 140), sem usar elementos como “dignidade” ou “decoro”, ou seja, elementos que não são objetivos, que precisam ser valorados. A mesma coisa ocorre com o crime de ato obsceno (art. 233), descrito como “praticar ato obsceno”; não há como descrever esta conduta de forma mais objetiva. Caberá ao juiz valorar a conduta concreta, concluindo se o ato é ou não obsceno. Quando ocorre a morte? Para o Direito Penal, segundo o art. 3º da Lei de Transplantes de órgãos e Tecidos 9.434/97 a morte se dá com a cessação da atividade encefálica, a morte cerebral. Qual o prazo para declarar uma pessoa como morta? São necessários os sinais cadavéricos que somente são obtidos após 6 horas. É possível o crime de homicídio por omissão? Sim! O crime de homicídio admite qualquer meio de execução e pode ser praticado por ação e omissão. Omissão Imprópria > É aquele em que uma omissão inicial do agente dá causa a um resultado posterior, o qual o agente tinha o dever jurídico de evitá-lo. É o que acontece quando uma mãe deixa de alimentar o filho, provocando sua morte. Neste caso, a mãe responderá pelo crime de homicídio, já que tinha o dever jurídico de alimentar seu filho. Fundamentado no art. 13 do CP: Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. Omissão Própria > Crimes omissivos próprios (omissivos puros) são os que objetivamente são descritos com uma conduta negativa, de não fazer o que a lei determina, consistindo na omissão na transgressão da norma jurídica e não sendo necessário qualquer resultado naturalístico. Para a existência do crime basta que o autor se omita quando deve agir. Comete crimes omissivos puros os que não prestam assistência a pessoa ferida (omissão de socorro,art. 135), o médico que não comunica a ocorrência de moléstia cuja notificação é compulsória (art. 269), o funcionário que deixa de responsabilizar seu subordinado que cometeu infração no exercício do cargo (condescendência criminosa, art. 320) ou abandona cargo público (art. 323). TIPO SUBJETIVO - ELEMENTO SUBJETIVO Não existe crime, sem o elemento subjetivo: dolo (vontade e consciência). Dolo cujo nome técnico é “animus necandi” ou seja, intenção de matar. O crime sempre é doloso e, por ser a regra, o dolo não vem expresso no tipo. Quando se fala em dolo, obviamente, se abrange o dolo direto e o eventual. Alguns crimes, excepcionalmente, não admitem o dolo eventual, mas apenas o dolo direto, o que é constatado pela redação do tipo. Em resumo o dolo é comum a todos os crimes (por isso era chamado de “genérico”), já o elemento subjetivo do tipo só alguns tipos o descrevem (por isso, antes era nomeado “específico”). Para identificar se um tipo contém um elemento subjetivo do tipo, basta atentar-se à redação. Sempre que o tipo contiver “para”, “com o fim de”, “com o intuito de”, haverá um elemento subjetivo do tipo. Se é um elemento subjetivo do tipo trata-se de uma intenção, um objetivo, uma finalidade, que deve estar presente na cabeça do agente no momento da conduta, mas que não precisa se concretizar para que se consume o delito. Vejamos o seguinte tipo: Perigo de contágio de moléstia grave Art. 131 – Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio: Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa. Nesse delito está presente o dolo, como em todos os crimes, que é a vontade livre e consciente de praticar o ato capaz de transmissão, com a consciência de que está contaminado. Mas, além do dolo, há a exigência de que ele realize o ato “com o fim de transmitir”, ou seja, ao realizar o ato, o agente tem que ter o objetivo de contagiar a pessoa. Se ele realiza o ato, mesmo sabendo que está doente, mas não pretende transmitir a doença, apenas agindo por não acreditar que ela se transmita daquele modo, não há a tipicidade subjetiva, por não ter se configurado o elemento subjetivo do tipo. Por outro lado, se o agente praticou o ato, com o fim de transmitir, a consumação se dá com o ato e não com o contágio, porque o elemento subjetivo do tipo tem que estar presente apenas na consciência do agente. Diferente seria se o tipo fosse assim redigido: “Transmitir moléstia grave de que está contaminado.” Neste caso, o tipo subjetivo conteria apenas o dolo, e a consumação se daria com o contágio. Culpa: O crime culposo é exceção. Apenas alguns crimes contêm, além do dolo, a modalidade culposa. Por ser exceção, é necessário que o tipo expressamente contenha a culpa. Vejamos o seguinte tipo: Incêndio Art. 250 – Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem: Pena – reclusão, de três a seis anos, e multa. Aumento de pena 1º – As penas aumentam-se de um terço: (…) Incêndio culposo 2º – Se culposo o incêndio, é pena de detenção, de seis meses a dois anos. No § 2º, está a previsão de crime culposo. Note que não há a previsão de dolo, porque este, sendo a regra, não precisa vir escrito; já a culpa, por ser exceção, está expressamente previsto no § 2º. Por outro lado, quando se indaga se existe o crime de dano culposo, o aluno deve verificar no art. 165: Dano Art. 163 – Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia: Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa. Dano qualificado Parágrafo único – Se o crime é cometido: I – com violência à pessoa ou grave ameaça; II – com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave 5/9 III – contra o patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia mista; IV – por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima: Pena – detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à violência. Não há no tipo a expressa previsão de culpa, razão pela qual o crime é apenas doloso. O dano causado culposamente não é conduta típica, não é crime. O mesmo ocorre com os crimes de aborto (art. 124, 125, 126) Concluindo, se não houver expressa previsão no tipo, não há crime culposo. TIPICIDADE A tipicidade, para que exista, depende da presença de todos os elementos constitutivos do tipo estudado. Não raro, o aluno ante uma conduta socialmente lesiva, mas que não possui um elemento constitutivo de certo crime, pergunta: “Mas só pela falta de um elemento não há o crime?” Essa perplexidade não tem razão de ser. A tipicidade, como dito, só ocorrerá se houver uma perfeita adequação entre o a conduta concreta e o tipo. Ainda que a conduta seja parecida com o verbo núcleo do tipo, haverá uma conduta atípica. Quando se analisa a tipicidade, o aluno deve afastar seu julgamento moral, pois não é disso que se trata.A questão é de tipicidade! Portanto, mesmo que socialmente lesiva, ou moralmente reprovável, não existirá conduta típica se não existir a perfeita correlação com o tipo. Esta é uma exigência do princípio da legalidade, que não pode ser mitigado, pois é um direito fundamental previsto na Constituição (art. 5º, XXXIX). CONSUMAÇÃO E TENTATIVA Como se estudou na Parte Geral, o crime pode ser consumado ou tentado (art. 14). Contudo, obviamente, não há previsão, no tipo, da forma tentada, sendo que a pena deste será diminuída de um a dois terços, por força do parágrafo único do art. 14. Contudo como se pode falar que é típica a conduta de quem tenta matar alguém e não consegue por razões alheias a sua vontade, se o art. 121 diz “matar alguém”? No caso da tentativa há o que se chama de tipicidade por extensão; a conduta é típica pela conjunção do art. 14 com o art. 121, ou qualquer outro artigo da parte especial. Trata- se de uma questão de “economia”, evitando-se que em cada tipo fosse necessária a previsão da pena diminuída para a tentativa. Esclarecido, isso, a questão fundamental é identificar se o crime é consumado ou tentado. O homicídio se consuma com a morte, por exemplo; se o agente tentou matar, e não conseguiu alcançar seu intento, será punido por tentativa. Para identificar o momento consumativo, é necessário se analisar o verbo-núcleo do tipo. Por exemplo, no homicídio, o verbo é matar (art. 121), que só está completo se ocorrer a morte; no roubo, o verbo é subtrair (art. 157), razão pela qual se, embora tenha usado a violência, o agente não consegue subtrair, o roubo não é consumado, mas apenas tentado. Vejamos o seguinte tipo: Perigo de contágio de moléstia grave Art. 131 – Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio: Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa. Quando se consuma o crime, com a prática do ato ou com o contágio? O verbo indica a consumação, como já ficou dito. O verbo núcleo é “praticar” e o objeto material é “ato capaz de produzir o contágio”; consuma-se, pois, com ação de “praticar ato capaz de produzir o contágio”, sem necessidade de produção do contágio. A redação é fundamental, se o tipo viesse redigido de outro modo, a consumação seria em outro momento. Confira-se: Transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado. Nesse caso, o verbo núcleo seria outro: “transmitir”, de modo que apenas com a transmissão o crime se consumaria. Nem todos os crimes admitem a tentativa. Em muitos delitos a tentativa é possível, embora de difícil configuração prática. CRIMES MATERIAL, FORMAL E DE MERA CONDUTA Dentre as muitas classificações de crime, uma que tem relevância para a consumação, é a clássica divisão dos delitos em razão do resultado. O resultado, no sentido naturalístico, nada mais é que a modificação do mundo exterior. Se é certo que a maior parte dos crimes têm resultado, não é menos exato que delitos há em que não existe resultado e outros em que o resultado não é imprescindível para a consumação. Daí, a classificação: Crime material: o tipo descreve ação e resultado; a consumação se dá com a produção do resultado. (Ex: art. 121) O exemplo mais óbvio de crime material é o homicídio, no qual o próprio verbo já indica um resultado, na medida em que para que ele se concretize é preciso o resultado morte. Crime formal: o tipo também descreve ação e resultado, mas a consumação ocorre com a ação. (Ex: art. 159) Já exemplo de crime formal é a extorsão mediante seqüestro, no qual há uma conduta expressa pelo verbo “seqüestrar” e um resultado que é o recebimento do resgate. Ocorre que a consumação vem expressa com a conduta e o resultado vem apenas como finalidade do agente (“com o fim de obter”), configurando um elemento subjetivo do tipo. Art. 159 – Seqüestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate: Crime de mera conduta: o tipo só descreve uma conduta (ação ou omissão), sem qualquer menção ao resultado. (Ex: art. 150) Por fim, perfeito exemplo de crime de mera conduta é a violação de domicílio, no qual a lei descreve tão-somente a conduta (entrar ou permanecer), sem qualquer menção de resultado. Art. 150 – Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências É preciso saber identificar de que espécie de crime se trata, mediante a leitura do tipo. Novamente, fica evidenciada a importância da redação do tipo, especialmente o verbo núcleo do tipo. Se o verbo indicar o resultado, o crime será material; se o verbo indicar apenas a conduta e o resultado vierem como finalidade do agente (elemento subjetivo do tipo) ou como perigo, o crime será formal; se vier descrita apenas a conduta, sem qualquer menção ao resultado, o crime será de mera conduta. Tudo depende de como é redigido o tipo. Confira-se um exemplo fictício. Se o legislador pretende editar uma lei moralista, querendo punir crescentes atos de nudismo em público, haverá três possibilidades: a) punir o simples ato de ficar nu publicamente, sem qualquer necessidade de causar constrangimento a alguém; neste caso deve ser redigido um crime de mera conduta. b) punir apenas a nudez pública, desde que o agente tenha a finalidade de causar vergonha; será editado um crime formal no qual o resultado não precisa ocorrer, bastando que seja a finalidade do agente. c) punir apenas o sujeito que, de fato, causou vexame; o legislador tipificará um crime material, que não existe sem resultado. a) Ficar nu em local público. b) Ficar nu em local público com o fim de causar vexame. c) Causar vexame ficando nu em local público. Não se trata apenas de estilo, mas de criar mais ou menos elementos constitutivos para o crime. O fundamental é que o intérprete saiba identificar qual a espécie de crime, para assim analisar a tipicidade. HOMICÍDIO PRIVILEGIADO O homicídio é um dos crimes mais graves previstos no Código Penal brasileiro, podendo levar a uma pena de 6 a 20 anos de reclusão. No entanto, existem situações em que o homicídio pode ser considerado privilegiado, ou seja, cometido sob a influência de um motivo de relevante valor social ou moral, ou sob violenta emoção, logo após injusta provocação da vítima. Nesses casos, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço, conforme o artigo 121, parágrafo 1º, do Código Penal. Mas o que significa exatamente homicídio privilegiado? Quais são as circunstâncias especiais que podem caracterizá-lo? E quais são as implicações legais para quem comete esse tipo de crime? O QUE É HOMICÍDIO PRIVILEGIADO? HOMICÍDIO COM CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA Homicídio privilegiado é aquele que é cometido por uma pessoa que age sob a influência de um motivo de relevante valor social ou moral, ou sob violenta emoção, logo após injusta provocação da vítima. Esses motivos podem ser, por exemplo, a defesa da honra, da família, da pátria, da propriedade ou de um direito; ou a reação a uma ofensa grave, uma agressão física ou verbal, uma traição amorosa ou uma ameaça à vida. O homicídio privilegiado não é uma causa de exclusão da ilicitude ou da culpabilidade, mas sim uma circunstância atenuante que reconhece que o agente teve uma diminuição da sua capacidade de controle e discernimento no momento do crime. Como se diferencia o homicídio privilegiado do homicídio simples? O homicídio simples é aquele que não se enquadra em nenhuma das qualificadoras (como motivo torpe, meio cruel, recurso que dificulte a defesa da vítima etc.) nem nas causas de diminuição de pena (como o homicídio privilegiado). O homicídio simples é punido com pena de 6 a 20 anos de reclusão. Já o homicídio privilegiado tem a pena reduzida de um sexto a um terço, podendo variarde 5 a 13 anos e 4 meses de reclusão. A diferença entre os dois tipos de homicídio está na presença ou não das circunstâncias especiais que justificam o privilégio. Essas circunstâncias devem ser analisadas pelo juiz no caso concreto, levando em conta as provas e os depoimentos apresentados. Quais são os requisitos para se configurar o homicídio privilegiado? Para se configurar o homicídio privilegiado, é preciso que sejam preenchidos três requisitos: a existência de um motivo de relevante valor social ou moral; a atuação do agente sob violenta emoção; e a relação de causalidade entre essa emoção e a injusta provocação da vítima. O motivo de relevante valor social ou moral é aquele que é reconhecido pela sociedade como digno de respeito ou consideração, como a defesa da honra ou da família. A violenta emoção é aquela que abala profundamente o estado psicológico do agente, como a raiva, o medo ou o ciúme. A injusta provocação da vítima é aquela que desencadeia ou intensifica essa emoção no agente, como uma ofensa grave ou uma agressão física. Esses requisitos devem estar presentes no momento do crime e devem ter influenciado diretamente na conduta do agente. Como se prova o homicídio privilegiado? A prova do homicídio privilegiado é feita por meio de indícios, testemunhas, documentos, perícias ou outros meios lícitos. O ônus da prova cabe ao réu, que deve demonstrar que agiu sob as circunstâncias especiais que caracterizam o privilégio. Dessa forma, o juiz deve avaliar as provas com base no princípio da livre convicção motivada, ou seja, deve fundamentar a sua decisão de forma clara e coerente, levando em conta as peculiaridades de cada caso. Quais são as consequências jurídicas do homicídio privilegiado? A principal consequência jurídica do homicídio privilegiado é a redução da pena do réu, que pode variar de um sexto a um terço, conforme o grau de influência das circunstâncias especiais na conduta do agente. Além disso, o homicídio privilegiado pode afetar outras questões processuais, como a competência, a prisão preventiva, a progressão de regime, o indulto, a prescrição etc. Por exemplo, se o homicídio privilegiado for cometido no âmbito doméstico ou familiar contra a mulher, ele será julgado pelo Tribunal do Júri, conforme a Lei Maria da Penha. Se o homicídio privilegiado for cometido por um militar em serviço contra um civil, ele será julgado pela Justiça Militar. Se o homicídio privilegiado tiver a pena mínima reduzida para 5 anos ou menos, ele poderá ser suspenso condicionalmente ou substituído por penas restritivas de direitos. QUALIFICADORAS DO CRIME DE HOMICÍDIO Na dosimetria da pena, quando o crime é qualificado, começamos a dosimetria pelo crime qualificado, ou seja, a diferença entre uma qualificadora e a causa do aumento de pena é que a qualificadora tem uma pena própria. Pena do homicídio: 6 a 20 anos Pena do homicídio qualificado (qualificadora) 12 a 30 anos A qualificadora tem uma pena própria, já a causa de aumento de pena aumenta a pena do caput. Mas quais são as qualificadoras? Homicídio qualificado § 2° Se o homicídio é cometido: ➢ MOTIVOS QUALIFICADORES – Motivos que qualificam o crime: I - Mediante paga (pagamento prévio) ou promessa de recompensa, (pagamento posterior) ou por outro motivo torpe; são motivos que causam estranheza e contrariam a moralidade do homem médio. Ex. Matou a namorada porque era virgem. A interpretação deve ser feita de forma analógica, sempre “in malam parte” (beneficiando o réu). Quem executa o crime, responde pela qualificadora e o mandante do crime também. II - por motivo fútil; (motivo sem importância/ banal). Ex. Matei o garçom porque encontrei mosca na sopa. ➢ MEIOS QUALIFICADORES III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; Meio indicioso: quando o homicídio é cometido sem que a pessoa perceba. Perigo comum: quero matar uma determinada pessoa e para isso, explodo o prédio em que ela mora. ➢ FORMAS QUALIFICADORAS IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; ➢ FINS QUALIFICADORES V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: _______________________________________________________________________ VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art142 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art144 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art144 exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: VIII - com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido: IX - contra menor de 14 (quatorze) anos: Pena 12 a 30 anos. Seria o homicídio sem motivo, um homicídio qualificado por motivo fútil? Parte-se do princípio de que não podemos fazer uma analogia em “malan parte” e é preciso analisar o caso concreto. AULA 19/09/23 P2 LESÕES CORPORAIS – Art. 129 CP O tipo do crime de lesão corporal está previsto no art. 129 (são crimes contra a integridade física). O crime divide-se em duas condutas, ou ofende a integridade corporal ou ofende a saúde de outrem. Integridade corporal: dano anatômico, que se subdivide em lesão interna (perfuração de um órgão) e lesão externa (perfuração do olho) por exemplo. Saúde: pode ser física (quando tal lesão afeta o funcionamento de determinado órgão) ou mental (quando a pessoa lesionada sofre uma convulsão) por exemplo. Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. Lesão corporal de natureza grave § 1º Se resulta: grave I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; quando resulta em incapacidade para as ocupações habituais (qualquer uma, não somente laboral) por mais de trinta dias, trata-se de um crime a prazo sendo necessário dois laudos para comprovação da incapacidade. II - perigo de vida; é a probabilidade de morte, sendo necessário laudo que comprove que a vitima correu perigo de vida. O perigo deve ser presente, atual e real. Crime preterdoloso. III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; não ocorre a perda, apenas a diminuição da habilidade. IV - aceleração de parto: Pena - reclusão, de um a cinco anos. § 2° Se resulta: gravíssima I - Incapacidade permanente para o trabalho; II - enfermidade incurável; III perda ou inutilização do membro, sentido ou função; quando ocorre a perda de apenas um órgão trata-se de lesão corporal grave pois houve uma debilidade no sentido da função, mas quando a perda é de um membro, é gravíssima. IV - deformidade permanente; V - aborto: Pena - reclusão, de dois a oito anos. A lesão corporal é o dano ocasionado a normalidade funcional do corpo humano, quer do ponto de vista anatômico, quer do ponto de vista fisiológico ou mental sem contudo o animus necandi (dolo). Trata-se de um crime comum, onde qualquer pessoa pode vir a cometê-lo. No entanto, não existe lesão corporal própria, pois o crime de lesão traz no caput o termo “a outrem”, ou seja, em outra pessoa. Todo crime tem um bem jurídico protegido pelo Direito Penal e no caso do crime de lesão corporal, o bem protegido é a integridade física. Em casos de crimes que deixam vestígios, é necessário o exame de corpo delito, mas em se tratandode vestígio “dor” não há proteção pelo DP pois a dor é subjetiva. Há uma discussão acerca da disponibilidade ou não, do bem jurídico em questão (integridade física e saúde), pois segundo alguns juristas, violar a integridade física e a saúde, é violar a vida, cujo bem jurídico é indisponível. A doutrina que prevalece é de que o bem jurídico é indisponível, no entanto, como no direito tudo é relativo, existem algumas exceções: 1º Quando a lei autoriza a vítima a consentir: Cirurgias médicas, pois o fim é terapêutico. No entanto, existem algumas cirurgias cujo fim não é terapêutico, mas que ainda assim, são lícitos: laqueadura. Por esse motivo, é permitida a relativização da disponibilidade do bem jurídico. 2º Costumes: Trata-se de uma “permissão” de lesão corporal, segundo os costumes de determinada região ou crença: furo na orelha, tatuagens etc. Qualquer pessoa pode ser o sujeito passivo, porém existem algumas exceções: lesão corporal grave por aceleração de parto e lesão corporal gravíssima por aborto, onde somente uma gestante pode ser o sujeito passivo. O núcleo do tipo é “ofender” o elemento subjetivo é o dano “animus laedend”. O crime de lesão corporal é um crime qualificado pelo resultado. Quando se tratar de um crime de lesão corporal leve, não há necessidade de exame de corpo delito, pois se trata de um crime de menor potencial ofensivo, conforme Lei 9099/95 e deverá ser julgado pelo Juizado Especial Criminal – JECRIM. O conceito de lesão corporal leve é RESIDUAL, ou seja, se não for uma lesão grave ou gravíssima é a lesão leve. Em crimes de menor potencial ofensivo, como no caso de lesão corporal leve, é lavrado um TC (termo circunstanciado) cuja pena é de até 2 anos. Conatus: tentativa Itercrimes: Itinerário do crime Qual a diferença entre lesão corporal grave consumada e tentativa de homicídio? O dolo, “animus necandi”. Ele queria matar e não matou, ou seja, se eu der 3 tiros em alguém, eu quero matar ou somente lesionar? Você descobre os elementos objetivos, através dos elementos subjetivos: tipo de lesão, arma utilizada, intenção com o ato. A lesão corporal leve, pode ser privilegiada e ou substituída por multa, conforme paragrafo 4º e 5º do CP: Diminuição de pena § 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. Substituição da pena § 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis: I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior; II - se as lesões são recíprocas. A lesão corporal grave e gravíssima é uma nomenclatura dada pela doutrina, mas o CP utiliza apenas o termo GRAVE que se subdivide nos artigos 1º e 2º. Trata-se de um crime de resultado que pode ser doloso ou culposo, ou seja, ele tem dolo na intenção e culpa no resultado. Dolo na lesão e culpa no perigo de vida. Lesão corporal seguida de morte § 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quís o resultado, nem assumiu o risco de produzí-lo: Pena - reclusão, de quatro a doze anos. Lesão corporal simples e a lesão corporal culposa, são crimes de ação penal publica condicionada. Porém, em se tratando da Lei Maria da Penha, será um crime de ação penal publica incondicionada. ELEMENTOS OBJETIVOS DO TIPO Ofender significa lesar ou fazer mal a alguém. O objeto da conduta é a integridade corporal (inteireza do corpo humano) ou a saúde (normalidade das funções orgânicas, físicas e mentais do ser humano). Lembremos que se trata de uma ofensa física voltada à integridade ou à saúde do corpo humano, não se admitindo, neste tipo penal, qualquer ofensa moral. Para a sua configuração é preciso que a vítima sofra algum dano ao seu corpo, alterando-se interna ou externamente, podendo, ainda, abranger qualquer modificação prejudicial à sua saúde, transfigurando-se determinada função orgânica ou causando-lhe abalos psíquicos comprometedores. Não é necessária a emanação de sangue ou a existência de qualquer tipo de dor. Tratando-se de saúde, não se deve levar em consideração somente a pessoa saudável, vale dizer, tornar enfermo quem não estava, mas ainda o fato de o agente ter agravado o estado de saúde de quem já se encontrava doente. ➢ Elemento subjetivo do crime: Dolo ou culpa, conforme o caso. Classificação: Comum; material; de forma livre; comissivo (como regra); instantâneo; de dano; unissubjetivo; plurissubsistente (como regra). Tentativa: É admissível. Momento consumativo: Ocorre com a ocorrência da ofensa à integridade física ou à saúde. Como regra, exige-se laudo de exame de corpo de delito para demonstrá-la, pois é infração penal que deixa vestígio real (art. 158, CPP). Meios de execução: Por ser crime de forma livre, comporta mecanismos diretos (fortes o suficiente para, por si sós, provocarem a lesão, como, por exemplo, desferir um violento soco no rosto da vítima), indiretos (dependentes de outro instrumento, como instigar um louco a ferir a vítima), materiais (atingem a integridade física de forma mecânica, química ou patológica), morais (atuam através da produção de um trauma no ofendido, como a geração de um enfarte, decorrente de uma grave ofensa). CAUSAS DE DIMINUIÇÃO DE PENA (REDUÇÃO DE 1/6 A 1/3) a) relevante valor social ou moral: relevante valor é algo importante ou de elevada qualidade (patriotismo, lealdade, fidelidade, amor paterno ou materno etc.). Na ótica social, esses valores envolvem interesse de ordem geral ou coletiva (lesionar o traidor da pátria). Na visão moral, os valores concentram-se em interesse particular ou específico (ferir o traficante que viciou seu filho); b) domínio de violenta emoção logo em seguida a injusta provocação da vítima: emoção é a excitação de um sentimento (amor, ódio, rancor). Se o agente está dominado (fortemente envolvido) pela violenta (forte ou intensa) emoção (excitação sentimental), justamente porque foi, antes, provocado injustamente (sem razão plausível) pode significar, como decorrência lógica, a perda do autocontrole que todos temos ao sofrermos qualquer tipo de agressão sem causa legítima. Desencadeado o descontrole, surge a possibilidade de lesão corporal. Síntese: ambas as hipóteses levam à diminuição da pena, de um sexto a um terço, porque representam menor culpabilidade (reprovação ou censura), cabendo a mensuração à intensidade verificada, no caso concreto, acerca da relevância do valor social ou moral e à gravidade da provocação feita pela vítima a gerar violenta emoção no agente. LESÃO CORPORAL PRIVILEGIADA Esta é uma hipótese de privilégio (§ 5.º), conectada ao parágrafo anterior (como se vê no inciso I), acarretando a substituição da pena privativa de liberdade pela pecuniária. Aplica-se somente à hipótese de lesão corporal leve e desde que haja relevante valor social ou moral ou o domínio de violenta emoção, logo após injusta provocação da vítima. Além da hipótese anterior, considerou o legislador a possibilidade de aplicar o privilégio quando o agressor for também agredido pela vítima. É preciso ressaltar, no entanto, que não se trata de uma situação de legítima defesa, ou seja, se o ofendido agredir o agente apenas para se defender não deve este receber o privilégio. Ao referir- se a lesões recíprocas, dá a norma a entender que as duas partes entraram em luta injustamente. Não teria cabimento algum conceder o privilégio ao agressor cuja vítima, para dele se desvencilhar, tenha sido obrigada a agredi-lo e não conceder o benefício ao agente quando o ofendido tenha sofrido as lesões, conseguindo soltar-se do agressor sem fazer uso da força. Ora, se a vítima está em atitude lícita (agindo em legítimadefesa), não pode esta situação servir de motivação para o atacante conseguir um benefício legal considerável, que é a substituição da pena privativa de liberdade por multa. Entretanto, se ambos são igualmente culpados e agressores um do outro, pode o juiz levar tal hipótese em consideração para aplicar o privilégio. QUALIFICADORAS (GERAM QUATRO FAIXAS DIVERSAS DE FIXAÇÃO DE PENA) 1.ª faixa: lesão corporal grave, sujeitando o agente à pena de reclusão de um a cinco anos a) incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 dias (§ 1.º, I): deve-se compreender como tal, toda e qualquer atividade regularmente desempenhada pela vítima, e não apenas a sua ocupação laborativa. Assim, uma pessoa que não trabalha, vivendo de renda ou sustentada por outra, deixando de exercitar suas habituais ocupações, sejam elas quais forem – até mesmo de simples lazer –, pode ser enquadrada nesse inciso, desde que fique incapacitada por mais de trinta dias. A única e lógica exigência é que a atividade exercida pela vítima seja lícita, pois não teria cabimento considerar presente a qualificadora no caso de um delinquente que deixasse de cometer crimes por período superior ao trintídio porque foi ferido por um comparsa. Por derradeiro, deve-se destacar que o termo habitual tem a conotação de atividade frequente, não se podendo reconhecer a lesão corporal grave quando a vítima ficar incapacitada para ocupações que exercia raramente (ex.: o ofendido, por conta da lesão sofrida, foi obrigado a adiar por mais de 30 dias uma viagem de lazer, algo que costumava fazer esporadicamente). É indispensável a realização de laudo pericial para atestar o comprometimento da vítima para seu mister habitual por mais de 30 dias, devendo ser elaborado tão logo decorra o trintídio – embora possa subsistir a tolerância de alguns dias. O exame complementar pode ser suprido por prova testemunhal, como expressamente prevê o art. 168, § 3.º, do Código de Processo Penal; b) perigo de vida (§ 1.º, II): é a concreta possibilidade de a vítima morrer em face das lesões sofridas. Não bastam conjecturas ou hipóteses vagas e imprecisas, mas um fator real de risco inerente ao ferimento causado. Trata-se de um diagnóstico e não de um prognóstico, na palavra de Almeida Júnior, como oportunamente lembra Euclides Custódio da Silveira (Direito penal – crimes contra a pessoa, p. 142). Daí por que se torna praticamente indispensável o laudo pericial, sendo muito rara a sua substituição por prova testemunhal, salvo quando esta for qualificada, vale dizer, produzida pelo depoimento de especialistas, como o médico que cuidou da vítima durante a sua convalescença; c) debilidade permanente de membro, sentido ou função (§ 1.º, III): trata-se de uma frouxidão duradoura no corpo ou na saúde, que se instala na vítima após a lesão corporal provocada pelo agente. Não se exige que seja uma debilidade perpétua, bastando ter longa duração. Os membros do corpo humano são os braços, as mãos, as pernas e os pés. Os dedos são apenas partes dos membros, de modo que a perda de um dos dedos se constitui em debilidade permanente da mão ou do pé. O ser humano possui cinco sentidos: visão, olfato, audição, paladar e tato. Assim, exemplificando, perder a visão num dos olhos é debilidade permanente. Por derradeiro, função é a ação própria de um órgão do corpo humano. Exemplos: função respiratória, função excretória, função circulatória. Portanto, a perda de um dos rins é debilidade permanente e não perda de função, pois se trata de órgão duplo; d) aceleração de parto (§ 1.º, IV): significa antecipar o nascimento da criança antes do prazo normal previsto pela medicina. Nesse caso, é indispensável o conhecimento da gravidez pelo agente. Se, em virtude da lesão corporal praticada contra a mãe, a criança nascer morta, terá havido lesão corporal gravíssima (art. 129, § 2.º, V). Há possibilidade de haver o nascimento com vida, mas, em razão da lesão corporal sofrida pela mãe, que tenha atingido o feto, venha a morrer a criança. Opinam alguns penalistas, nos moldes apregoados por Hungria, que, nesse caso, responderia o agente por lesão corporal gravíssima, equiparando-se a situação à lesão corporal seguida de aborto (Comentários ao Código Penal, v. 5, p. 335). Outros, porém, sugerem que, havendo morte após o nascimento, caracteriza-se apenas a lesão corporal grave (Mirabete, Manual de direito penal, v. 2, p. 96). Cremos que as seguintes hipóteses podem ocorrer: a) se houve aceleração de parto e o feto nasceu com vida, morrendo, em face das lesões sofridas, dias, semanas ou meses depois, não há como falar em lesão corporal gravíssima, ou seja, cujo resultado mais grave é o aborto, pois este é um termo específico, que significa a morte do feto antes do nascimento. Trata-se, pois, de lesão corporal grave (aceleração de parto); b) se a lesão corporal atingiu a mãe e também o feto, mas não provocou a aceleração de parto nem o aborto, vindo a criança a morrer, depois do nascimento com vida, em virtude da lesão sofrida, não há como imputar-se ao agente lesão grave ou gravíssima, pois sua conduta, nesse prisma, não se amolda aos tipos penais do art. 129, §§ 1.º, IV, e 2.º, V. Neste último caso, quanto à lesão corporal, deverá ela ser tipificada como simples. Entretanto, ainda dentro do mesmo quadro (sem haver aceleração de parto nem aborto), caso o agente tenha visado ao feto (dolo direto ou indireto), quando agrediu a mãe, poderá responder, concomitantemente, por lesão corporal leve e tentativa de aborto sem o consentimento da gestante. Outra solução poderá aplicar ao autor da agressão tipo penal inadequado. 2.ª faixa: lesão corporal gravíssima, sujeitando o agente à pena de reclusão de dois a oito anos a) incapacidade permanente para o trabalho (§ 2.º, I): trata-se da inaptidão duradoura para exercer qualquer atividade laborativa lícita. Nesse contexto, diferentemente da incapacidade para as ocupações habituais, exige-se atividade remunerada, que implique sustento, portanto, acarrete prejuízo financeiro para o ofendido. Convém ressaltar o alerta feito por Álvaro Mayrink da Costa, com o qual concordamos: “A doutrina advoga que significa qualquer modalidade de trabalho e não especificamente o trabalho a que a vítima se dedicava. Contudo, há necessidade de serem estabelecidas certas restrições, visto que não se pode exigir de um intelectual ou de um artista que se inicie na atividade de pedreiro. Fixa-se no campo do factualmente possível e não no teoricamente imaginável. Portanto, incapacidade permanente é uma diminuição efetiva da capacidade física comparada à que possuía a vítima antes do fato punível” b) enfermidade incurável (§ 2.º, II): é a doença irremediável, de acordo com os recursos da medicina na época do resultado, causada na vítima. Não configura a qualificadora a simples debilidade enfrentada pelo organismo da pessoa ofendida, necessitando existir uma séria alteração na saúde. Embora a vítima não seja obrigada a submeter-se a qualquer tipo de tratamento ou cirurgia de risco para curar-se, também não se deve admitir a recusa imotivada do ofendido para tratar-se. Se há recursos suficientes para controlar a enfermidade gerada pela agressão, impedindo-a de se tornar incurável, é preciso que o ofendido os utilize. Não o fazendo por razões injustificáveis, não deve o agente arcar com o crime na forma agravada. Por outro lado, uma vez condenado o autor da agressão por lesão gravíssima, consistente em ter gerado ao ofendido uma enfermidade incurável, não cabe revisão criminal caso a medicina evolua, permitindo a reversão da doença. Caberia a ação revisória apenas se tivesse havido erro quanto à impossibilidade de cura no momento da condenação, ou seja, a enfermidade era passível de controle e tratamento, mas tal situação não foi percebida a tempo. Atualmente, os tribunais têm encaixado nesteperfil a contaminação do vírus da AIDS (ver o ponto relevante para debate do art. 130); c) perda ou inutilização de membro, sentido ou função (§ 2.º, III): perda implica destruição ou privação de algum membro (ex.: corte de um braço), sentido (ex.: aniquilamento dos olhos) ou função (ex.: ablação da bolsa escrotal, impedindo a função reprodutora); inutilização quer dizer falta de utilidade, ainda que fisicamente esteja presente o membro ou o órgão humano. Assim, inutilizar um membro seria a perda de movimento da mão ou a impotência para o coito, embora sem remoção do órgão sexual; d) deformidade permanente (§ 2.º, IV): deformar significa alterar a forma original. Configura-se a lesão gravíssima quando ocorre a modificação duradoura de uma parte do corpo humano da vítima. Salienta a doutrina, no entanto, estar essa qualificadora ligada à estética. Por isso, é posição majoritária a exigência de ser a lesão visível, causadora de constrangimento ou vexame à vítima, e irreparável. Citam-se como exemplos as cicatrizes de larga extensão em regiões visíveis do corpo humano, que possam provocar reações de desagrado ou piedade (tais como as causadas pela vitriolagem, isto é, o lançamento de ácido no ofendido), ou a perda de orelhas, mutilação grave do nariz, entre outros. Somos levados a discordar dessa postura. O tipo penal não exige, em hipótese alguma, que a deformidade seja ligada à beleza física, nem tampouco seja visível. A restrição construída por parcela da doutrina e da jurisprudência é incompatível com a finalidade do artigo. Desde que o agente provoque na vítima uma alteração duradoura nas formas originais do seu corpo, é de se reputar configurada a qualificadora. Adotar-se posição contrária significaria exigir do juiz, ao analisar a lesão causada, um juízo de valor, a fim de saber se a vítima ficou ou não deformada conforme os critérios de estética que o magistrado possui, não se levando em conta o desagrado íntimo causado a quem efetivamente sofreu o ferimento e a alteração do corpo. Chega- se a levantar, como critério de verificação desta qualificadora, o sexo da vítima, sua condição social, sua profissão, seu modo de vida, entre outros fatores extremamente subjetivos, por vezes nitidamente discriminatórios e sem adequação típica. Uma cicatriz no rosto de uma atriz famosa seria mais relevante do que a mesma lesão produzida numa trabalhadora rural? Poderia ser, para o terceiro que não sofreu a deformidade – já que a análise desbancaria para o campo estético –, embora, para a vítima, possa ser algo muito desconfortável. Cremos, pois, pouco importar seja a deformidade visível ou não, ligada à estética ou não, passível de causar impressão vexatória ou não, exigindo-se somente seja ela duradoura, vale dizer, irreparável pelos recursos apresentados pela medicina à época do resultado. E acrescente-se possuir essa qualificadora um caráter residual, isto é, quando houver lesão passível de alterar a forma original do corpo humano, não se configurando as outras hipóteses de deformidade – debilidade ou perda de membro, sentido ou função – deve ela ser aplicada; e) aborto (§ 2.º, V): é a interrupção da gravidez causando a morte do feto. Neste caso, exigem a doutrina e a jurisprudência majoritárias que o resultado qualificador (aborto) ocorra na forma culposa. 3.ª faixa: lesão corporal resultante de violência doméstica, sujeitando o agente à pena de detenção de três meses a três anos Violência doméstica: Doméstico é termo que diz respeito à vida em família, usualmente na mesma casa, tanto assim que sempre se definiu a agravante prevista no art. 61, II, f, do Código Penal (crime cometido prevalecendo-se das relações domésticas), como sendo “as ligações estabelecidas entre participantes de uma mesma vida familiar, podendo haver laços de parentesco ou não”. Cuida-se de uma forma de lesão qualificada, cuja finalidade seria atingir os variados e, infelizmente, numerosos casos de lesões corporais praticadas no recanto do lar, dentre integrantes de uma mesma vida familiar, onde deveria imperar a paz e jamais a agressão. A ação é pública incondicionada porque o art. 88 da Lei 9.099/95 preceitua que dependerá de representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves (prevista no caput do art. 129) e lesões culposas (constante no § 6.º do mesmo artigo). Ora, a violência doméstica, embora seja uma espécie de lesão corporal, cuja descrição típica advém do caput, é forma qualificada da lesão, logo, não mais dependente de representação da vítima. Além disso, o art. 41 da Lei 11.340/2006 é claro ao estipular que, “aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995”. Na ótica que defendemos (ação pública incondicionada), encontra-se, hoje, a posição do STF, ao menos no tocante à mulher como vítima. Os elementos integrantes do tipo são ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro (certamente abrangendo companheira), que é o reconhecimento da união estável para o efeito de equiparação ao cônjuge no contexto da proteção penal. A expressão com quem conviva ou tenha convivido tem a finalidade de ampliar a abrangência dessa espécie de violência para envolver situações de familiares que, embora não mais residam juntos, podem se reencontrar e, nesta hipótese, haver agressão. Identicamente, busca abranger casais separados, porém ainda mantendo relacionamento; alcança, também, os ex-namorados, que mantêm animosidade ou uma relação mal-terminada. 4ª faixa: lesão praticada contra a mulher, por razões da condição do sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121 deste Código A Lei 14.188/2021 introduziu essa qualificadora em tempo oportuno, pois a agressão contra a mulher precisava de uma pena maior, afinal, permite-se a decretação de prisão cautelar, quando haja violência doméstica e familiar. Estipulou-se a lesão, por razões da condição do sexo feminino, conforme o § 2º-A do art. 121 do Código Penal. Neste dispositivo, encontra-se o seguinte: “considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: I – violência doméstica e familiar; II – menosprezo ou discriminação à condição de mulher”. Segundo nos parece, a figura qualificada deveria abranger todas as situações de violência doméstica e familiar, porém, apenas se concentrou na vítima mulher. Portanto, a lesão contra a mulher, nesse contexto, comporta a aplicação do § 13, em lugar do § 9º. Cuida-se de qualificadora objetiva, ligando-se ao gênero da vítima. Não se vincula à motivação do agente, que pode ter variadas causas. CAUSAS DE AUMENTO DE PENA Para a lesão dolosa, na forma simples ou qualificada, aplica-se a elevação da pena de um terço, demonstrativa da maior culpabilidade do agente, por ter agido com insensibilidade moral e covardemente, tendo por vítimas o maior de 60 anos e o menor de 14. Além disso, acrescido pela Lei 12.720/2012, incide esse aumento de um terço quando o crime for cometido por milícia privada (grupo paramilitar), sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio (§ 7.º). Por outro lado, há também o aumento de um terço previsto no § 10 (lesão praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, com quem conviva ou tenha convivido, bem como se o agente prevalecer-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade), no contexto das lesões graves (§ 1.º do art. 129), gravíssimas (§ 2.º do mesmo artigo) e qualificadas pelo resultado (§ 3.º do mesmo artigo). Após a edição da Lei 11.340/2006, acrescentou-se o § 11 ao art. 129, nos seguintes termos: “na hipótese do § 9.º deste artigo, a pena será aumentada de 1/3 (um terço) se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência”. Aproveitando o ensejo, o legislador entendeu ser cabívelinserir na lei penal outra causa de aumento, embora não se ligue à Lei Maria da Penha. Configura-se a causa de aumento quando o deficiente-vítima (físico ou mental, homem ou mulher) for ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro(a) do agressor e, também, no caso de conviver ou ter convivido com o autor da lesão, bem como quando o agente do delito prevalecer-se das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade. A Lei 13.142/2015 acresceu o § 12 ao art. 129, nos seguintes termos: “se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição, a pena é aumentada de um a dois terços”. O objetivo é o mesmo da causa de aumento introduzida no cenário do homicídio, ou seja, conferir maior punição a quem agredir agentes de segurança do Estado, que colocam a própria vida a risco para defender a sociedade. CRIME PRETERDOLOSO Trata-se de forma autenticamente preterdolosa prevista no Código Penal (§ 3.º), pois o legislador deixou nítida a exigência de dolo no antecedente (lesão corporal) e somente a forma culposa no evento subsequente (morte da vítima). Ao mencionar que a morte não pode ter sido desejada pelo agente, nem tampouco pode ele ter assumido o risco de produzi-la, está-se fixando a culpa como único elemento subjetivo possível para o resultado qualificador. Justamente por isso, neste caso, havendo dolo eventual quanto à morte da vítima, deve o agente ser punido por homicídio doloso. Ressaltemos que a tentativa, nesta hipótese, é inadmissível, pois o crime preterdoloso envolve a forma culposa e esta é totalmente incompatível com a figura da tentativa. Se o agente não quer, de modo algum, a morte da vítima, é impossível obter a forma tentada da lesão seguida de morte. Ademais, ou a morte ocorre e o crime está consumado, ou não ocorre e trata- se apenas de uma lesão corporal. CAUSA DE AUMENTO NA FORMA CULPOSA Prevê-se a elevação da pena em um terço se houver a inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar a prisão em flagrante. a) inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício: pensamos ser inadequada – consequentemente inaplicável – essa modalidade de causa de aumento porque se confunde nitidamente com a própria conceituação de imperícia, que é a falta de conhecimento suficiente para exercer determinada profissão, arte ou ofício. Tem sido considerada por parte da doutrina como inaplicável, sob pena de se gerar o condenável bis in idem (dupla punição pelo mesmo fato). Aquele que não observa regra técnica obrigatória de sua profissão, arte ou ofício é, sem dúvida, um leviano, um imperito, o que serve para configurar a culpa, mas não para elevar a pena; b) omissão de socorro: por tratar-se de crime culposo, em que o agente não quer o resultado, é justo que seja mais severamente punido por ter demonstrado insensibilidade ao recusar-se a socorrer a vítima, a quem não desejou atingir. O mínimo que se espera é a prestação de solidariedade nesse momento. Pune-se a conduta leviana do agente que, provocando dano involuntário, deixa de prestar o socorro eticamente exigível; c) não procurar diminuir as consequências do seu ato: novamente, lembremos que a agressão, no contexto da lesão culposa, gerou resultado não desejado, motivo pelo qual o que se espera do agente é, ainda que não possa socorrer, por qualquer razão (ex.: está ameaçado de linchamento e deve deixar o local), precisa buscar alguma atitude solidária para amenizar o mal causado (ex.: procurando a vítima no hospital e prestando-lhe imediato auxílio financeiro ou amparo moral); d) fuga da prisão em flagrante: esse motivo, segundo nosso entendimento, é inconstitucional, não merecendo aplicação. Qualquer pessoa tem o direito de evitar a sua própria prisão, como tem o direito ao silêncio e a não produzir prova contra si mesmo. PERDÃO JUDICIAL Permite-se que o juiz afaste a punibilidade do crime de lesão culposa, não aplicando pena, se as consequências do crime atingirem o próprio agente de maneira tão grave que a sanção se torne desnecessária. O agente pode ser afetado física (sofrer lesões graves, por exemplo, de difícil cura ou tratamento, gerando dor e padecimento) ou moralmente (perda de ente querido – como filho – produzindo trauma de natureza psicológica). Ingressa, aí, a clemência do Estado. A pena, se aplicada, não poderia ser mais severa do que já foi a própria natureza. 03/10/2023 CRIMES CONTRA HONRA – Art. 138/139/140 Conforme o art. 5º inc. 10º da CF: “são invioláveis a intimidade, a integridade, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o dano moral decorrente da sua violação.” Os crimes contra a honra estão previstos no Código Penal, Código Eleitoral e Código Penal Militar. A antiga Lei de Imprensa punia as violações contra a honra, cometidas através da imprensa, mas em 2009 o STF se revogou essa lei essa lei, porque não havia sido anteriormente recepcionada pela CF de 88. Objetividade Jurídica dos crimes contra a honra: proteger a honra. Objeto jurídico: É a honra objetiva (reputação ou imagem da pessoa diante de terceiros). Objeto material: É a reputação da pessoa. MAS O QUE É HONRA? É o conjunto dos dotes, atributos intelectuais, morais e físicos que confere a pessoa estima própria e reputação social. A honra subdivide-se em: ➢ Honra subjetiva: é a estima própria (quando pensamos em nós mesmos). É violada quando se ofende a dignidade ou o decoro. É protegida em apenas um crime > INJÚRIA Dignidade: Atributos morais. Ex. chamar alguém de ladrão. Decoro: Desrespeito, aos atributos físicos e intelectuais. Ex. chamar alguém de perneta, por ter uma perna só; de burro ou analfabeto. ➢ Honra objetiva: Reputação social (o que os terceiros pensam a nosso respeito). É protegida pelos crimes de > DIFAMAÇÃO e CALÚNIA. NATUREZA DO BEM JURÍDICO A “honra”, é um bem jurídico disponível, trata-se de um crime comum, onde qualquer pessoa pode ser o sujeito ativo ou passivo. Geralmente, os crimes contra a honra são crimes de ação penal privada (a própria vítima propõe a ação). Comum; formal; de forma livre; comissivo; instantâneo. Momento consumativo: Ocorre quando a imputação falsa chega ao conhecimento de terceiros, independentemente de resultado naturalístico. CALÚNIA Art. 138 Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. § 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga. § 2º - É punível a calúnia contra os mortos. Sujeito ativo: qualquer pessoa. Sujeito passivo: Qualquer pessoa, inclusive a jurídica, desde que, neste caso, a imputação diga respeito à prática de crime ambiental, previsto na Lei 9.605/98. ELEMENTOS OBJETIVOS DO TIPO PENAL Caluniar é fazer uma acusação falsa, tirando a credibilidade de uma pessoa no seio social. Possui, pois, um significado particularmente ligado à difamação. Cremos que o conceito se tornou eminentemente jurídico, porque o Código Penal exige que a acusação falsa realizada diga respeito a um fato definido como crime. Vislumbra-se, pois, que a calúnia nada mais é do que uma difamação qualificada, ou seja, uma espécie de difamação. Atinge a honra objetiva da pessoa, atribuindo-lhe o agente um fato desairoso, no caso particular, um fato falso definido como crime. Não pode haver calúnia ao se atribuir a terceiro, falsamente, a prática de contravenção, pois o tipo penal menciona unicamente crime. Trata-se de tipo penal incriminador,de interpretação restritiva. Nesse caso, pode-se falar em difamação. A pena é de detenção, de seis meses a dois anos, e multa. ➢ O elemento subjetivo do crime: é o dolo. ➢ O elemento subjetivo do tipo específico: É a vontade específica de macular a imagem de alguém (animus diffamandi). Há entendimento predominante na doutrina e na jurisprudência pela não configuração do crime contra a honra, desde que o fato ofensivo ou o insulto seja proferido fora do contexto da específica vontade de conspurcar a reputação alheia ou o amor próprio da vítima. Estariam nesse âmbito as brincadeiras, embora de mau gosto, as narrativas reputadas como simples fofocas, os relatórios feitos em locais de trabalho, os depoimentos prestados em juízo emitindo opiniões, dentre outros. Porém, há posição em sentido contrário: “Por si só, ou seja, por não ser mais que uma expressão de gracejo, esse animus não pode nem deve prevalecer como elemento descaracterizador da ofensa. É evidente. Se a pilhéria alcança o indivíduo, digamos, com o qualificativo de velhaco, isto não quer significar simplesmente que ele esteja livre de sofrer um dano, ainda que não haja intenção afrontosa. Em poucas palavras, a ninguém é dado o direito de atingir a honra alheia, a pretexto de fazer pilhéria, narrar fato, corrigir ou aconselhar, e depois pretender que na sua conduta não havia o menor intuito de ofensa. No caso, o que deve ser considerado é o dano que a pessoa visada venha a sofrer”. Núcleo do tipo penal: Imputar, propalar, divulgar. A calúnia possui alguns elementos caracterizadores: o fato criminoso deve ser falso ou a autoria do fato deve ser falsa. Tudo deve ser FALSO. EXCEÇÃO DA VERDADE Trata-se de um incidente processual, que é uma questão secundária refletida sobre o processo principal, merecendo solução antes da decisão da causa ser proferida, prevista no § 3.º. É uma forma de defesa indireta, através da qual o acusado de ter praticado calúnia pretende provar a veracidade do que alegou, demonstrando ser a pretensa vítima realmente autora de fato definido como crime. Afinal, se falou a verdade, não está preenchido o tipo penal (“imputar falsamente fato definido como crime”). VEDAÇÕES À EXCEÇÃO DA VERDADE a) não pode o querelado ou réu ingressar com a exceção da verdade, pretendendo demonstrar a veracidade do que falou, quando o fato imputado à vítima constitua crime de ação privada e não houve condenação definitiva sobre o assunto (§ 3.º, I); b) não se admite a exceção da verdade quando a calúnia envolver o Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro (§ 3.º, II); c) é natural que não possa haver exceção da verdade quando o assunto já foi debatido e julgado, em definitivo, pelo Poder Judiciário, tendo havido absolvição do ofendido (§ 3.º, III). DIFAMAÇÃO - Art. 139 Sujeito ativo: Qualquer pessoa Sujeito passivo: Qualquer pessoa, inclusive a jurídica, que também tem imagem a preservar. Há quem entenda, no entanto, que somente a pessoa humana pode ser sujeito passivo, já que o Título I do Código Penal destina-se à proteção de pessoas físicas. Não concordamos, pois fala-se apenas em crimes contra a pessoa, valendo a adaptação para a pessoa jurídica quando for o caso. Objeto jurídico: É a honra objetiva (reputação ou imagem da pessoa diante de terceiros). Objeto material: É a reputação da pessoa. ELEMENTOS OBJETIVOS DO TIPO Difamar significa desacreditar publicamente uma pessoa, maculando-lhe a reputação. Nesse caso, mais uma vez, o tipo penal foi propositadamente repetitivo. Difamar já significa imputar algo desairoso a outrem, embora a descrição abstrata feita pelo legislador tenha deixado claro que, no contexto do crime do art. 139, não se trata de qualquer fato inconveniente ou negativo, mas sim de fato ofensivo à sua reputação. Com isso, excluiu os fatos definidos como crime – que ficaram para o tipo penal da calúnia – bem como afastou qualquer vinculação à falsidade ou veracidade dos mesmos. Assim, difamar uma pessoa implica divulgar fatos infamantes à sua honra objetiva, sejam eles verdadeiros ou falsos. A pena é de detenção, de três meses a um ano, e multa. Conferir o capítulo XIII, item 2.1, da Parte Geral. ➢ Elemento subjetivo do crime: É o dolo. ➢ Elemento subjetivo do tipo específico: É a vontade específica de macular a imagem de alguém. Há entendimento predominante na doutrina e na jurisprudência pela não configuração do crime contra a honra, desde que o fato ofensivo ou o insulto seja proferido fora do contexto da específica vontade de conspurcar a reputação alheia ou o amor próprio da vítima. Estariam nesse âmbito as brincadeiras, embora de mau gosto, as narrativas reputadas como simples fofocas, os relatórios feitos em locais de trabalho, os depoimentos prestados em juízo emitindo opiniões, dentre outros. Porém, há posição em sentido contrário: “Por si só, ou seja, por não ser mais que uma expressão de gracejo, esse animus não pode nem deve prevalecer como elemento descaracterizador da ofensa. É evidente. Se a pilhéria alcança o indivíduo, digamos, com o qualificativo de velhaco, isto não quer significar simplesmente que ele esteja livre de sofrer um dano, ainda que não haja intenção afrontosa. Em poucas palavras, a ninguém é dado o direito de atingir a honra alheia, a pretexto de fazer pilhéria, narrar fato, corrigir ou aconselhar, e depois pretender que na sua conduta não havia o menor intuito de ofensa. No caso, o que deve ser considerado é o dano que a pessoa visada venha a sofrer” Classificação: Comum; formal; de forma livre; comissivo; instantâneo; unissubjetivo; unissubsistente ou plurissubsistente, conforme o caso. Momento consumativo: Ocorre quando a imputação chega ao conhecimento de terceiros, independentemente de resultado naturalístico. EXCEÇÃO DA VERDADE Trata-se de um incidente processual, que é uma questão secundária refletida sobre o processo principal, merecendo solução antes da decisão da causa ser proferida, prevista no parágrafo único. É uma forma de defesa indireta, por meio da qual o acusado de ter praticado difamação pretende provar a veracidade do que alegou, demonstrando ser a pretensa vítima (funcionário público, no exercício da função) realmente autora do fato. Neste caso, no entanto, há uma particularidade: ao tratar do funcionário público, dizendo respeito às suas funções, é interesse do Estado apurar a veracidade do que está sendo alegado. Trata-se de finalidade maior da Administração punir funcionários de má conduta. Assim, caso alguém diga que determinado funcionário retardou seu serviço, em certa repartição, porque foi cuidar de interesses particulares, admite-se prova da verdade, embora não seja crime. É um fato de interesse do Estado apurar e, se for o caso, punir. É a imputação de um fato desonroso, porém não criminoso. Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. Quem propala ou divulga a difamação, pratica o crime de difamação? INJÚRIA - ART. 140 Trata-se de um crime de menor potencial ofensivo. Imputa-se uma qualidade negativa da pessoa, todavia existem duas imputações de fato, que configuram injúria: ➢ Fato vago, genérico: “Fulano pratica crimes.” Que crimes? Quando? Onde? É um fato genérico, sem especificidades. ➢ Fato determinado, dito diretamente a pessoa: “Você saiu do motel ontem com fulana.” Sujeito ativo: Qualquer pessoa. Não se trata de crimes próprios, praticados por determinadas classes de pessoas, no crime de peculato por exemplo. A auto injúria é crime? Depende. Caso a minha auto Injúria ofenda outras pessoas, sim. “Eu sou um corno.” Nesse caso, ofendo a minha mulher. O morto também não pode ser sujeito passivo do crime de injúria, visto que não se trata mais de pessoa e sim de coisa. Porém nos casos de injúria reflexa, é possível imputar o crime. Ex. “Seu pai, quando era vivo, era corno.” Nesse casoeu atinjo diretamente a honra da mãe. Sujeito passivo: Qualquer pessoa física (a pessoa jurídica não tem autoestima ou amor- próprio). No tocante aos inimputáveis (doentes mentais e menores), é preciso distinguir a possibilidade de serem sujeitos passivos apenas no caso concreto. Uma criança em tenra idade não tem a menor noção do que venha a ser dignidade ou decoro, de modo que não pode ser sujeito passivo do crime, embora um adolescente já tenha tal sentimento e pode ser, sem dúvida, vítima de injúria, em que pese ser inimputável penalmente. O doente mental também é um caso à parte. Conforme o grau e o estágio de sua doença, pode ou não ter noção de dignidade ou decoro. Se possuir, é sujeito passivo do crime de injúria. Objeto jurídico: É a honra subjetiva (autoimagem da pessoa, isto é, a avaliação que cada um tem de si mesmo). Objeto material: É a autoestima (dignidade – atributo físico ou decoro – atributo moral) da pessoa, um dos aspectos da honra. Animus injuriandi Espécies de injúria: direta, reflexa, irônica, explicita, equivoca (quando coloca em dúvida), simbólica (por símbolos). ELEMENTOS OBJETIVOS DO TIPO Injuriar significa ofender ou insultar (vulgarmente, xingar). No caso presente, isso não basta. É preciso que a ofensa atinja a dignidade (respeitabilidade ou amor-próprio) ou o decoro (correção moral ou compostura) de alguém. Portanto, é um insulto que macula a honra subjetiva, arranhando o conceito que a vítima faz de si mesma. A pena é de detenção, de um a seis meses, ou multa. Conferir o capítulo XIII, item 2.1, da Parte Geral. Embora, a maneira mais comum de se praticar a injúria seja por meio de xingamentos verbais, são admitidas várias outras formas, inclusive por gestos, comportamentos ou até mesmo por omissão. Conforme o cenário, a recusa a um cumprimento pode figurar uma injúria, conduta que se dá na forma omissiva. Por outro lado, utilizar vestimenta inadequada em lugar de respeito também é conduta apta a construir a injúria. Na verdade, todas as atitudes tendentes a ferir a dignidade alheia constituem elementos válidos para a realização do crime. Para analisar os vários comportamentos humanos, no contexto da injúria, depende-se da adequação social, “restringindo-se o tipo do delito de injúria àqueles casos que excedam em muito o tolerável socialmente em cada momento histórico” ➢ Elemento subjetivo do crime: É o dolo ➢ Elemento subjetivo do tipo específico: É a vontade específica de magoar e ferir a autoimagem de alguém (animus injuriandi). Há entendimento predominante na doutrina e na jurisprudência pela não configuração do crime contra a honra, desde que o fato ofensivo ou o insulto seja proferido fora do contexto da específica vontade de conspurcar a reputação alheia ou o amor próprio da vítima. Estariam nesse âmbito as brincadeiras, embora de mau gosto, as narrativas reputadas como simples fofocas, os relatórios feitos em locais de trabalho, os depoimentos prestados em juízo emitindo opiniões, dentre outros. Porém, há posição em sentido contrário: “Por si só, ou seja, por não ser mais que uma expressão de gracejo, esse animus não pode nem deve prevalecer como elemento descaracterizador da ofensa. É evidente. Se a pilhéria alcança o indivíduo, digamos, com o qualificativo de velhaco, isto não quer significar simplesmente que ele esteja livre de sofrer um dano, ainda que não haja intenção afrontosa. Em poucas palavras, a ninguém é dado o direito de atingir a honra alheia, a pretexto de fazer pilhéria, narrar fato, corrigir ou aconselhar, e depois pretender que na sua conduta não havia o menor intuito de ofensa. No caso, o que deve ser considerado é o dano que a pessoa visada venha a sofrer” Classificação: Comum; formal; de forma livre (pode ser realizado de qualquer forma visando atingir a honra); comissivo; instantâneo. Momento consumativo: Ocorre quando a imputação chega ao conhecimento do ofendido, independentemente de resultado naturalístico e da ciência de terceiros. Tentativa de injúria é admitido. Exceção da verdade: Não se admite, porque não importa se o fato é verdadeiro ou não. PERDÃO JUDICIAL Pode ocorrer nas seguintes hipóteses: a) quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria (§ 1.º, I); Acontece quando por exemplo, eu dou um soco em alguém e essa pessoa revida me xingando. b) quando houver retorsão imediata, que consista em outra injúria (§ 1.º, II). Nesse caso, quando eu xingo alguém e a pessoa replica a ofensa, porém o perdão será concedido somente aquele que respondeu a ofensa. FORMAS QUALIFICADAS a) é o cometimento da injúria real, isto é, usando de violência ou vias de fato (§ 2.º). A violência implica ofensa à integridade corporal de outrem, enquanto a via de fato representa uma forma de violência que não chega a lesionar a integridade física ou a saúde de uma pessoa. Uma bofetada pode produzir um corte no lábio da vítima, configurando violência, mas pode também não deixar ferimento, representando a via de fato. É possível que o agente prefira produzir um insulto dessa forma, o que, aliás, é igualmente infamante. Neste caso, se tiver havido violência, há concurso da injúria com o delito de lesões corporais. Circunscrevendo-se, unicamente, às vias de fato, fica a contravenção absorvida pela injúria chamada real. A pena é de detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência; b) é o cometimento da injúria com base em características de pessoas vulneráveis (§ 3º). A pena é de reclusão, de um a três anos, e multa. Torna-se mais grave a injúria quando se vale de atributos pessoais de quem integra um grupo mais frágil ou visado, como os adeptos de religiões, idosos e deficientes físicos ou mentais. Ofender a honra subjetiva de alguém, valendo-se desses elementos, significa usar paradigmas muito conhecidos e sujeitos a gerar a lesão ao amor-próprio. Entretanto, essa injúria qualificada pode ser tipificada como uma prática racista, quando o intuito se voltar não apenas contra a dignidade ou o decoro da vítima, mas a uma forma de discriminação e segregação de pessoas. A Lei 14.532/2023 criou o art. 2º-A na Lei 7.716/1989, migrando os fatores referentes a raça, cor, etnia e procedência nacional, e elevando a pena, o que, por si só, não afeta o entendimento do STF no sentido de que os insultos a judeus ou homossexuais, por exemplo, podem ser manifestações racistas. A posição do Supremo Tribunal Federal reviu o conceito de raça e, lastreado em interpretação evolutiva, concluiu tratar-se de um grupo de pessoas vulneráveis e socialmente minoritárias, no qual foram inseridas a religião. A utilização da religião e da orientação sexual com o fito segregacionista foi tipificada no âmbito do termo raça, pelo Pretório Excelso, que agora é transferido para a Lei 7.716/1989, com pena mais elevada e ação pública incondicionada. Sob outro aspecto, em tese, pode-se utilizar a religião, a idade avançada ou a deficiência como puro xingamento, como, por exemplo, dentro de uma reunião familiar, em que não se pretende excluir ninguém, mas somente humilhar, de modo que nasce a injúria qualificada (há exemplos extraídos da jurisprudência, como “bicha espírita” e “velha safada”). O insulto proferido em público a alguém, por conta de sua religião, visando ao seu afastamento de determinado grupo, como num clube recreativo, constitui injúria racial, aplicando-se o art. 2º-A da Lei 7.716/1989. Há que se analisar o elemento subjetivo específico implícito na ofensa: se honra ou também segregação. Por outro lado, quando se trata de ofensa por conta da cor da pele, ingressa-se em fator mais intenso, que extravasa a meta de macular a honra para adentrar, sempre, o nefasto campo do racismo estrutural, que há muito tempo assola a sociedade brasileira, constituindo, por natureza, a injúria racial, agora tipificada no art. 2º-A da Lei 7.716/1989. Em suma, a injúria qualificada do § 3º do art. 140 pode
Compartilhar