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Introdução Estimado(a) aluno(a), a Sociologia, como uma ciência que surge das transformações sociais emergentes da sociedade capitalista, constitui-se como um conhecimento plural em suas perspectivas teóricas e metodológicas, tal como se apresenta a consolidação do capitalismo em suas contradições. Considerando esse contexto, este material é um convite para que você compreenda a diversidade de metodologias e de posicionamentos teóricos que foram desenvolvidos pelos autores precursores da Sociologia. Buscaremos demonstrar como a lente da ciência se voltou para a sociedade e o que ela nos revelou sobre nossas condições sociais. Começaremos apresentando o autor que cunhou o termo “Sociologia”, Auguste Comte. Estudaremos sobre como esse teórico via, na Sociologia, uma possibilidade de intervenção social para solucionar a crise da sociedade capitalista. A seguir, partiremos ao entendimento da metodologia de Émile Durkheim, autor que fundamenta regras e métodos de pesquisa que fizeram da Sociologia um conhecimento científico institucionalizado, capaz de estudar os acontecimentos sociais com rigor científico equivalente ao das ciências naturais (matemática, biologia e química). Conheceremos, ainda, Max Weber, sociólogo que desenvolveu uma teoria que busca entender a sociedade por meio das ações individuais dos indivíduos. Seguidamente, apresentaremos as discussões de Karl Marx, responsável por promover uma análise crítica sobre a sociedade capitalista, abrangendo as relações de produção e as características estruturais, assim como a origem dos problemas sociais decorrentes dessa organização social. Pronto(a)? Vamos lá! Sociologia: a lente da ciência voltada para sociedade Solange Santos de Araujo Autor Daiany Cris Silva Autor Objetivos de Aprendizagem Aprender as teorias e os principais conceitos dos precursores da Sociologia. Dimensionar o processo de constituição da Sociologia em diferentes perspectivas teóricas e metodológicas. Compreender o papel de Auguste Comte, Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx na consolidação da Sociologia como ciência. O papel dos precursores da Sociologia na consolidação da disciplina As ciências sociais podem ser consideradas um campo de estudos emergente do processo de formação da sociedade capitalista, representada, aqui, pela Sociologia. Assim, apresentaremos diferentes posicionamentos teóricos e metodológicos que expressam as contradições desse sistema social. Desde o seu nascimento, a Sociologia debate-se entre tendências teóricas, entre perspectivas produzidas por diferentes visões de mundo. Essa diversidade frutifica da própria diferenciação interna, das tensões e das contradições que determinam a formação social capitalista (MARTINS, 2008, p. 1). Portanto, cabe a nós situar essa ciência em seu contexto histórico, preferencialmente, referenciado pelo capitalismo. Para isso, torna-se necessário apresentar os princípios lógicos de formação do pensamento dos precursores da Sociologia, que, como referenciais teóricos, possuem um papel fundamental na consolidação da disciplina e geram repercussões no fazer sociológico até os dias atuais. Auguste Comte, Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx são considerados como autores basilares para a disciplina de Sociologia, atuando como referências fundamentais para o desenvolvimento desta. Primordialmente, podemos destacar três elaborações teóricas provenientes deles: o método funcionalista de Durkheim, que é inspirado pelo positivismo de Comte; o método dialético de Marx; o método compreensivo de Weber. Ressalta-se, ainda, que aprender as metodologias clássicas nos permite dimensionar a diversidade de perspectivas do conhecimento sociológico e compreender as ciências sociais não como um conhecimento universal, e sim como uma produção científica que apresenta possibilidades de leitura e apreensão da realidade social. A construção da ciência sociológica por Auguste Comte A Revolução Industrial é resultado da solidificação da ciência e das inovações tecnológicas na Europa Ocidental. Esse movimento de transformação social impulsionou a formação de uma nova estrutura econômica e de estratificação social, a qual consolidou o que conhecemos atualmente como sistema capitalista. Diante de tantas mudanças nos âmbitos político e econômico, a sociedade ocidental enfrentou uma série de problemas sociais. Veja só! Com a Revolução Industrial, surgiram fábricas que abrigavam um modelo de trabalho de produção em série extremamente especializado. Assim, com a adesão de máquinas, cada vez menos trabalhadores eram necessários no processo de produção, ocasionando desemprego e miséria entre os que não possuíam poder econômico e que dependiam do trabalho assalariado. Somando- se a isso, é de extrema importância entender que, como a mão de obra é considerada uma mercadoria, os trabalhadores vendiam suas forças de trabalho para os donos das fábricas (capitalistas/burgueses), e estes tentavam pagar o menos possível, resultando em baixos salários. O desemprego, a fome e os problemas estruturais na organização das cidades se multiplicaram nesse período, e, diante de tantos problemas sociais, um cientista, o filósofo francês Auguste Comte (1798-1857), decidiu que a ciência poderia atuar como uma forma de intervenção social. Pioneiro da ciência positiva, Comte, buscou entender a sociedade capitalista, analisando o funcionamento desta e a forma com que as relações sociais se estabeleciam nesse sistema. O objetivo do autor foi, primordialmente, encontrar os motivos da existência de conflitos e desordem social, ou seja, estabelecer a ordem para atingir o progresso. Para alcançar o objetivo de compreender a ordem estabelecida na sociedade e as relações sociais, Comte desenvolve a ciência positiva, uma teoria do conhecimento que considera que “[...] os procedimentos da ciência natural são diretamente aplicáveis ao mundo social com objetivo de estabelecer leis invariantes ou generalizações semelhantes a leis sobre fenômenos.” (WACQUANT, 1996, p. 597). De acordo com Comte, “[...] o genuíno espírito positivo consiste em ver para prever, em estudar o que é, a fim de concluir o que será, segundo o dogma geral da invariabilidade das leis naturais.” (COMTE, 1978, p. 131). A ciência positiva buscou replicar os métodos e as técnicas das ciências naturais para a investigação dos fenômenos sociais, campo de estudos que Comte intitulou, inicialmente, de física social e que, posteriormente, foi desenvolvido como Sociologia. Com o intuito de prever os acontecimentos da sociedade e de possibilitar uma intervenção nos processos sociais, para que estes fossem ordeiros e harmoniosos, o filósofo positivista buscou diminuir os conflitos e os problemas sociais. Atualmente, sabemos que a vida em sociedade não é previsível e passível de controle igual a um experimento de laboratório; no entanto, durante o processo de consolidação da disciplina, Comte acreditou nessa possibilidade. O progresso social, que só seria alcançado por meio da ciência, foi um dos principais norteadores da teoria de Auguste Comte. Para apresentar esse preceito, o autor desenvolve a “lei dos três estados”, que se configura em estágios de evolução das concepções intelectuais humanas. FIGURA 1 Bandeira nacional e seu lema “Ordem e Progresso” inspirado no pensamento positivista FONTE: luzitanija / 123RF O primeiro, menos evoluído intelectualmente, é o estado teológico, baseado em crendices populares e em crenças de religiões politeístas e monoteístas, além de ser constituído por explicações de mundo que, segundo o filósofo, seriam fruto da imaginação e das ficções coletivas. O segundo estado seria o metafísico, de evolução intermediária e transitória. De acordo com Comte (1978), tanto no estado teológico quanto no estado metafísico, existe a busca de uma explicação para a natureza da vida e para a origem de todas as coisas, porém, neste último: [...] em vez de empregar para isso os agentes sobrenaturais propriamente ditos, substitui-os cada vez mais por entidades ou abstraçõespersonificadas, cujo uso, verdadeiramente característico, amiúde permitiu designá-la sob a denominação de Ontologia. (COMTE, 1978, p. 123). O terceiro estágio, mais evoluído intelectualmente, foi denominado de estado positivo e necessitou do processo de desenvolvimento intelectual dos estados teológico e metafísico. Segundo Comte (1978), o estado positivo subordina a imaginação e as conceituações abstratas sobre a realidade social, a observação e a investigação empírica dos fenômenos sociais. Além disso, constitui-se como uma concepção de mundo baseada no estudo social e permite “[...] perceber as verdadeiras relações de cada parte com o todo, de modo a oferecer constantemente um largo destino às mais eminentes pesquisas, evitando, entretanto, toda especulação pueril.” (COMTE, 1978, p. 146). Portanto, a Sociologia comporia, para Comte, a superioridade intelectual no pensamento humano, ou seja, o estado positivo, em que a compreensão dos processos sociais e a formulação de iniciativas que cooperam para o ordenamento social são possíveis. Para a ciência positivista, seria possível dominar e controlar a realidade social por meio do conhecimento e do entendimento das relações sociais instituídas na sociedade capitalista, o que possibilitaria mapear suas problemáticas e instaurar a disciplina e a ordem social, garantindo o progresso da civilização moderna. Em termos positivistas, “o progresso é regulado pela ordem” (MARTINS, 2008, p. 3), o que significa que a Sociologia, por investigar de maneira aprofundada os processos sociais, poderia dar instrumentos para o entendimento da realidade social vigente. Émile Durkheim em busca de atribuir à Sociologia uma reputação científica O sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1971), inspirado, em alguma medida, na ciência positivista de Auguste Comte, avança no desenvolvimento de uma ciência social e busca atribuir à Sociologia uma reputação científica. Quando ocorre a publicação de “As regras do método sociológico” em 1895, Émile Durkheim inaugura uma discussão sobre a metodologia própria da Sociologia. Em busca de analisar a sociedade como um organismo, tal qual as ciências naturais, Durkheim observa que, independente da vontade individual, a humanidade é regida por causas exteriores e, portanto, sociais. Uma das grandes preocupações de Durkheim é centrar o estudo da vida social como uma realidade objetiva. O autor defendia que os acontecimentos sociais deveriam ser estudados como coisas ou objetos. Portanto, o sociólogo deveria desenvolver a capacidade de realizar uma observação neutra, racional e livre de preconceitos e concepções predefinidas. O método para estabelecer essa relação com um objeto de estudo na Sociologia, segundo Durkheim, seria por meio do estudo do fato social, o objeto de estudo da Sociologia, constituído pelos acontecimentos sociais que ocorrem independentemente das manifestações individuais. Para Durkheim (1971), os fatos sociais podem ser divididos em três categorias: a. coercitivo – o fato social é uma imposição coletiva sobre o indivíduo, que se configura como uma obrigação a seguir um determinado comportamento estabelecido pela sociedade por meio de grupos sociais e instituições, por exemplo, religião, moda e crença; b. exterior ao indivíduo – o fato social ocorre independentemente da vontade do indivíduo, sendo imposto por determinações externas, ou seja, o fato social não se expressa no comportamento de uma só pessoa, e sim na adesão de uma maioria de pessoas envolvidas na determinação coercitiva de um comportamento, padronizando as maneiras de agir, ser e pensar em sociedade; c. coletivo/geral – o fato social é comum a todos os indivíduos da sociedade. Além de ser externo às nossas vontades individuais e nos coagir a seguir padrões de comportamento, o fato social é ditado pelo meio social em que convivemos. Atenção! O fato social “É fato social toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então ainda, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria, independente das manifestações individuais que possa ter.” Fonte: Durkheim (1971, p. 11). O fato social, constituído como o objeto de estudo de Durkheim (1971), torna o autor o primeiro sociólogo a desenvolver uma metodologia própria para a Sociologia, ou seja, não é apenas uma réplica de métodos e técnicas das ciências naturais, como pretendeu a física social de Comte, é uma metodologia sociológica pensada especificamente para o estudo da sociedade. Pode-se resumir as propostas de teoria sociológica de Durkheim por meio das seguintes características: a) observação empírica – a análise por experiência, detida aos sentidos, e o contato direto com sujeito e o objeto de estudo; b) neutralidade científica – apenas o que se pode comprovar e analisar cientificamente, distanciando-se de prenoções e posicionamentos predeterminados; c) método comparativo – a comparação do fato social em diferentes situações, considerando a diversidade de condições sociais existentes e, até mesmo, em outras formas de organização social; d) diagnóstico de função e causa social – a procura pela explicação das causas que tornaram possível a existência do fato social e a busca pela função do fato social em sua sociedade de origem; e) indução – o resultado da análise de um fato social específico deve servir para a compreensão de uma lei geral. O objetivo de atribuir uma reputação científica à Sociologia se deu quando Durkheim conseguiu, por meio das premissas citadas anteriormente, denotar um rigor metodológico ao estudo da sociedade, de maneira a estabelecer conceitos objetivos de investigação científica. Destaca-se que, além de ter contribuído para o projeto de ciência social, Émile Durkheim colaborou para que uma lógica de pensamento importante se colocasse nos estudos sobre a sociedade. O autor definiu seu método científico de modo a considerar as imposições sociais sobre os nossos hábitos e modos de ser, agir e pensar, em um movimento que determina uma relação do geral para o particular, ou seja, do social para o individual. Saiba mais! O padrão de beleza como um fato social Os padrões de beleza no decorrer da história são um bom exemplo de fato social, no que se refere à imposição exterior de modelos de comportamento. No artigo indicado a seguir, é possível perceber que os nossos gostos e as nossas preferências estéticas são construídos socialmente e não possuem relações com laços genéticos e determinações biológicas. O padrão de corpo considerado bonito pela sociedade sofre modificações de acordo com o nosso contexto histórico e reflete em como a maioria dos indivíduos lidará com os padrões de beleza de seu tempo. Para saber mais, acesse o link: Clique Aqui Fonte: Elaborado pelas autoras. Para refletir sobre as interferências que a sociedade impõe sobre a nossa trajetória, Durkheim criou dois conceitos importantes: consciência coletiva e consciência individual. Segundo o sociólogo, a primeira se trata do que é: [...] comum a todo nosso grupo e, por conseguinte, não é a gente mesmo, mas a sociedade vivendo e agindo em nós; a outra, ao contrário, representa apenas nós mesmo, naquilo que temos de pessoal e distinto, naquilo que faz de nós um indivíduo. (DURKHEIM, 2008, p. 27-28). Ao dimensionar esses dois tipos de consciência, Durkheim inaugura uma série de discussões sobre como lidamos coletivamente com nossos gostos, nossas maneiras de ser, nossos pensamentos e nossas ações. Assim, reconhece-se uma dimensão individual, proveniente da personalidade que possuímos, a qual é vinculada a preferências como: cor favorita, tipo de comida preferida, entre outros aspectos muito particulares. No entanto, demonstra-se uma atenção a como nossas ações, também, estão condicionadas a fatores externos. Por exemplo, quando um indivíduo que vai a um casamento pensa que deve vestir um terno, o dever, nesse caso, não é porque há uma preferência por usar ternos, e sim porque, nesses espaços, esse é o tipoadequado de vestimenta, estabelecido por imposições coletivas. Destacar as características que constituem o fato social como um objeto de estudo e os conceitos de consciência individual e coletiva é essencial para aprender a teoria durkheimiana, principalmente, no que se refere à interpretação de Durkheim sobre uma sociedade que nos molda coletivamente como um organismo funcional. Divisão social do trabalho Agora que compreendemos, de maneira geral, as premissas do pensamento de Durkheim, convém avaliar uma de suas obras que apresenta uma análise prática da realidade moderna. Em 1893, Durkheim publicou sua tese de doutoramento “A divisão social do trabalho”, que analisa a sociedade moderna e as relações de produção do sistema capitalista. Para Durkheim: [...] a divisão do trabalho não é específica do mundo econômico: podemos observar sua influência crescente nas regiões mais diferentes da sociedade. As funções políticas, administrativas, judiciárias especializam-se cada vez mais. O mesmo ocorre com as funções artísticas e científicas. Estamos longe do tempo em que filosofia era a ciência única; ela fragmentou-se numa multidão de disciplinas especiais, cada uma das quais tem seu objeto, seu método, seu espírito. (DURKHEIM, 1999, p. 2). O sociólogo compreende que a divisão social do trabalho possuía a função de estabelecer coesão social e vínculos de solidariedade social, “[...] fenômeno totalmente moral e que não pode haver uma observação exata.” (DURKHEIM, 1999, p. 13). A coesão social se refere ao compartilhamento de ideais, valores, crenças e modos de agir e pensar em uma sociedade, quanto mais coeso é o funcionamento de uma sociedade, melhor a sua organização social. “Para Durkheim, o progresso é o progresso da divisão social do trabalho que se impõe pelo crescimento do volume e densidade moral das sociedades, pela intensificação dos contatos e das relações sociais.” (MARTINS, 2008, p. 3). Assim como vimos anteriormente, a imposição de valores sociais e morais impacta significativamente a vida das pessoas. A coletividade é determinante em muitas instâncias da vida social, a qual depende do estabelecimento de vínculos de solidariedade social para atingir uma melhor coesão em sociedade. Considerando esse contexto, para o autor, existem dois tipos de solidariedade social: a mecânica e a orgânica. Solidariedade mecânica As sociedades com solidariedade mecânica são aquelas baseadas na divisão social do trabalho simples, em que todos os seus membros reconhecem todos os processos de produção. Esse tipo de organização advém de sociedades mais elementares, em que há um forte senso de coletividade e não há muitos níveis de individualidade. Segundo Durkheim (2008): As moléculas sociais cuja a coesão se dê dessa forma singular, só poderão agir em conjunto se não tiverem movimentos próprios, como as moléculas de corpos inorgânicos. Por isso nos propomos chamar esta espécie de solidariedade mecânica. Com essa expressão não queremos dizer que ela seja produzida por meios mecânicos artificialmente. Chamamo-la assim apenas por analogia com a coesão que une entre si os elementos dos corpos brutos, em oposição àquela que dá unidade aos corpos vivos. O que completa a justificação de tal denominação é que o laço que une os indivíduos à sociedade é análogo ao que liga a coisa à pessoa. (DURKHEIM, 2008, p. 28). É comum perceber alusões a nomenclaturas das ciências naturais nas obras de Durkheim, principalmente, em suas primeiras produções, dado a tentativa do autor de adaptar os métodos desse campo de estudos para a investigação sociológica. Na citação anterior, o autor justifica o uso da expressão solidariedade mecânica, para nos mostrar que a sua definição se trata da relação dependente da coletividade em sociedades que possuem esse tipo de divisão social do trabalho. Saiba mais! Povos caçadores e coletores são sociedades de solidariedade mecânica? Considera-se que as sociedades de solidariedade mecânica são constituídas por modelos de produção com processos simples, como a economia e a alimentação, que são baseadas em caça, coleta, pesca e agricultura complementar, assim como vivem o povo Kaingang, uma das maiores populações indígenas brasileiras. Para saber mais sobre o tema e compreender melhor a dinâmica de solidariedade mecânica, acesse o link a seguir: Clique Aqui . Fonte: Elaborado pelas autoras. Sociedades de solidariedade mecânica são aquelas em que o senso de coletividade é maior do que o de individualidade ou, até mesmo, se impõe à individualidade, sufocando-a. Solidariedade orgânica As sociedades de solidariedade orgânica constituem-se nos processos de produção da modernidade, ou seja, no sistema capitalista. Esse tipo de divisão social do trabalho se baseia no alto grau de especialização e no individualismo. Em uma sociedade de solidariedade orgânica, os indivíduos possuem muita dependência uns dos outros, complexificando o sistema de relações sociais nos mais diversos âmbitos, em instituições econômicas, políticas e culturais. A solidariedade do tipo orgânica é um desenvolvimento do tipo mecânico, segundo Durkheim: [...] a passagem da sociedade de solidariedade mecânica para a sociedade de solidariedade orgânica como uma lei histórica. Assim, quando a maneira como os homens são solidários se modifica, a estrutura das sociedades acaba mudando também. A forma de um corpo se transforma necessariamente quando as afinidades moleculares não são mais as mesmas. Por conseguinte, se a proposição precedente é exata, deve haver dois tipos sociais que correspondem a essas duas sortes de solidariedade. (DURKHEIM, 1999, p. 17). Portanto, para Durkheim, quando a sociedade muda, os indivíduos dependem uns dos outros, devido à especialização de funções ou mesmo à divisão do trabalho social. Na realidade, o que causa interação entre as pessoas é o progresso dos meios da especialização das funções que os indivíduos exercem entre si (DURKHEIM, 1999). Logo, os indivíduos acabam se tornando independentes das atividades em diferentes setores da vida social. Portanto, Durkheim postula que a divisão social do trabalho não deve se reduzir ao seu papel econômico: “Ao contrário, a divisão do trabalho social tem antes de tudo uma função moral, no sentido de que ela passa a ser o elemento-chave para a integração dos indivíduos na sociedade.” (SELL, 2001, p. 144). Sob essa perspectiva, Durkheim demonstra uma preocupação com a constituição dos valores morais em sociedade, pois, para o sociólogo, nossas fragilidades estão na perda, ou na falta de adesão, dessa dimensão coletiva de compartilhamento de ideias, normas e valores, responsável por orientar as condutas dos indivíduos. O nível de consciência individual é maior nesse tipo de sociedade, na qual a divisão social do trabalho impele que os indivíduos sejam diferentes entre si: Já com a solidariedade que a divisão social do trabalho produz [de solidariedade orgânica], é tudo muito diferente. Enquanto a precedente [de solidariedade mecânica] implica que os indivíduos se pareçam, esta supõe que que eles sejam diferentes entre si. A primeira só é possível na medida que a personalidade individual é absorvida pela personalidade coletiva; a segunda só é possível se cada um tem a esfera de ação que lhe é própria - uma personalidade, por conseguinte. É necessário, então, que a consciência coletiva deixe uma parte da consciência individual descoberta, para que aí se estabeleçam as funções especiais que ela não pode regulamentar; e quanto mais essa região se estende, mais forte é a coesão que resulta dessa solidariedade. (DURKHEIM, 2008, p. 28). Isso significa que, quanto maior forem o nível de interdependência entre cada indivíduo na sociedade, a diversidade de funções a serem exercidas socialmente e o grau de especialização nos processos de produção, melhor será o nível de coesão social. Quando essa coesão se perde e o nível de solidariedade social diminui, em razão da não adesão, pelos indivíduos, de regras e valores coletivos, nossa sociedade entrano que o Durkheim chama de anomia social. O olhar de Max Weber para entender o sistema capitalista O sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) propõe uma Sociologia que busca compreender e interpretar as relações entre indivíduos, isto é, a ação social. Para Weber, a ação, sem seu sentido social, é puro fruto do comportamento humano, já a ação social possui, como referência, o comportamento entre indivíduos, uns com relação aos outros, constituindo o que chamamos de vida em sociedade. Segundo Cruz (2004), a pesquisa histórica é, para Weber, essencial para a compreensão das sociedades. A investigação sociológica deve se basear no esforço interpretativo de avaliar as diferentes expressões de relações sociais. Atenção! A ação social para Max Weber “A ação social (incluindo tolerância ou omissão) orienta-se pelas ações de outros, que podem ser passadas, presentes ou esperadas como futuras (vingança por ataques anteriores, replica a ataques presentes, medidas de defesa diante de ataques futuros). Os ‘outros’ podem ser individualmente desconhecidos ou então uma pluralidade de indivíduos indeterminados e completamente desconhecidos (o ‘dinheiro’, por exemplo, significa um bem – de troca – que o agente admite no comércio porque sua ação está orientada pela expectativa de que outros muitos, embora indeterminados e desconhecidos, estarão dispostos também a aceitá-lo, por sua vez, numa troca futura).” Fonte: Weber (2008, p. 117). Diferentemente de Durkheim, Weber não defende que há leis gerais ou exteriores que se impõem sobre os seres humanos, pelo contrário, para Weber, todo fenômeno social tem uma causa, um comportamento individual que o precede. Portanto, leis universais que influenciam o comportamento humano e o desenvolvimento histórico são inexistentes, o que mantém o construto coletivo dado pelas relações sociais estabelecidas no cotidiano. Sob a perspectiva de Weber, deve-se compreender a realidade parcialmente, em suas particularidades individuais, em um movimento do particular para o geral, do indivíduo para a sua relação com a sociedade. O aspecto compreensivo significa, segundo Cruz (2004): [...] apreensão interpretativa do sentido ou contexto de sentido: a) realmente visando no caso particular (à luz da apreciação histórica) ou b) em média e aproximativamente visando (à luz da apreciação sociológica de massas) ou c) a construir cientificamente para o tipo puro (tipo ideal) de um fenômeno frequente (sentido ou conexão de sentido “ideal” típico). (CRUZ, 2004, p. 588). A análise sociológica proposta por Weber, diante da ação social como seu objeto de estudo, presume um método que busca compreender as motivações individuais que impulsionam determinadas ações sociais. A ação social, como toda ação, pode ser: 1) racional com relação a fins: determinada por expectativas no comportamento tanto de objetos do mundo exterior como de outros homens, e utilizando essas expectativas como “condições” ou “meios” para o alcance de fins próprios racionalmente avaliados e perseguidos; 2) racional com relação a valores: determinada pela crença consciente no valor interpretável como ético, estético, religioso ou de qualquer outra forma - próprio e absoluto de uma determinada conduta, considerada de per si e independente de êxito; 3) afetiva: especialmente emotiva, determinada por afetos e estados sentimentais atuais; 4) tradicional: determinada por um costume arraigado. (WEBER, 2008, p. 118, grifo do autor). As ações sociais, que possuem diferentes formas de expressão no cotidiano, segundo Weber, são: [...] como tipos conceituais puros, construídos para fins de pesquisa sociológica, com relação aos quais a ação real se aproxima mais ou menos ou, o que é mais frequente, de cuja mescla se compõe. Somente os resultados que com eles se obtenham é que podem nos dar a medida de sua conveniência. (WEBER, 2008, p. 119). Ao mobilizar o conceito de ação social como objeto de estudo, podemos dimensionar sociologicamente as ações, como nos seguintes casos: 1) um político que busca ocupar uma posição de poder sob a finalidade de, supostamente, cumprir promessas de campanha eleitoral (ação social do tipo racional com relação a fins); 2) a ida a cultos religiosos, que só se justifica quando se acredita nos valores ali pregados (ação social do tipo racional com relação a valores); 3) atitudes passionais, movidas por afeição a outro, crises de ciúmes, declarações de amor etc. (ação social do tipo afetiva); 4) hábitos culturais e festas tradicionais, como o Carnaval, a Folia de Reis, a festa do boi-bumbá e as festas juninas que acontecem aqui no Brasil, podem ser pensados pela ação da tradição (ação social do tipo tradicional). Weber defende que a compreensão da sociedade se dá pelo olhar atento às relações entre os indivíduos que a compõem e pelas ações efetivas desses indivíduos entre si. Isso significa que, se quisermos entender como a instituição escola funciona, por exemplo, devemos olhar para os indivíduos que fazem parte dela (alunos, professores etc.) e verificar o modo como essas pessoas agem em relação umas às outras, ou seja, a interação social; assim, esse processo é denominado pelo autor como relação social. A relação social é a reciprocamente dotada de sentido na ação, sentido esse que é modificado por uma pluralidade de agentes que se orientam por essa referência de reciprocidade. A ética protestante e o espírito do capitalismo Ao centrar sua atenção na ação social dos indivíduos, Max Weber defendia a possibilidade de afirmar que a base inicial do sistema capitalista foi a ação social dos indivíduos que seguiam a ética protestante calvinista, vertente do movimento de Reforma Protestante iniciado no século XVI. Sobre essa temática, o sociólogo publicou, em 1904, a primeira versão da obra “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, na qual defendia que haveria um tipo de conduta religiosa que contribuiu para o desenvolvimento do capitalismo moderno. Weber classifica essa conduta por um conceito que ele chama de tipo ideal, constituído como um instrumento metodológico que possibilita ao cientista social a investigação de fenômenos particulares. Segundo Weber, a ética de vida dos calvinistas era fortemente voltada ao trabalho e com disciplinas rígidas, porque estes acreditavam que o trabalho, além de servir como forma de glorificação divina, garantiria, também, a salvação. Em algum momento de sua vida, você, caro(a) aluno(a), já deve ter ouvido a expressão “o trabalho dignifica o homem”; é nesse sentido que a lógica calvinista colaborou para a formação do espírito do capitalismo, criando uma condição humana divina para a realização do trabalho, de forma que estaríamos, portanto, predestinados ao trabalho. Atenção! Meritocracia A lógica de pensamento protestante, que difundia um valor de dignidade e recompensa celestial aos trabalhadores dedicados, colaborou para que, na atualidade, nossa sociedade desenvolvesse a meritocracia. De acordo com a definição de Johnson, a “[...] meritocracia é um sistema social no qual o sucesso do indivíduo depende principalmente de seu mérito - de seus talentos, habilidades e esforço.” (JOHNSON, 1997, p. 146). A crença na conquista meritocrática é uma mentira que nosso sistema capitalista moderno criou para significar o esforço desmedido de trabalhadores e apaziguar as discrepâncias que suas desigualdades sociais promovem, como uma espécie de justificativa para a manutenção do poder nas mãos de pequenos grupos sociais. Fonte: Adaptado de Johnson (1997). Com o passar do tempo, essa ideia de predestinação foi deixada de lado, mas o trabalho disciplinado e a busca por sucesso (acúmulo do capital) continuaram a existir na teoria exposta no livro em questão. Isso, para Weber, resultou no aparecimento dos primeiros capitalistas. Na Idade Média, a religião motivava a vida das pessoas e dava sentido às suas ações. Com o pensamento científico ganhando espaço na Europa Ocidental, a cultura religiosa foi confrontada, porém, para Weber, a ciência não poderiaocupar, por completo, o lugar que a religião tinha ao desenvolver concepções de mundo. Nesse sentido, na concepção de Weber, a Reforma Protestante contribuiu para a consolidação do sistema capitalista, pois surgiu como forma de ressignificar a leitura religiosa sobre a sociedade. A extrema racionalização dos processos sociais seria, segundo o autor, um elemento conflituoso, que causaria uma fragilidade no sistema capitalista. Weber acreditava que os indivíduos, quando agem por meio de uma racionalização extrema, conduzem-se a um desencantamento do mundo, que torna as pessoas mais calculistas e frias. Esse processo de racionalização causaria uma burocratização da vida, que aprisionaria a humanidade em sua própria organização social. Karl Marx e seu pensamento crítico sobre a sociedade capitalista Karl Marx (1818-1883) é considerado um dos pensadores mais revolucionários da Sociologia, pois, além de um método científico, o autor propôs um projeto político de atuação e organização social. Os estudos de Marx buscaram analisar a sociedade capitalista em seu processo de consolidação e discutiram sobre as características do trabalho nesse sistema e como as relações de produção que estavam se estabelecendo influenciam na estrutura social e na determinação de desigualdades sociais. Karl Marx e Engels (1998) entendiam que a burguesia, classe de proprietários, comerciantes e industriais donos dos meios de produção, adquiriu poder econômico e político durante a Revolução Industrial e a Revolução Francesa. Sob posse de um maior poder econômico, a burguesia criou leis e regras sociais que visam proteger a propriedade privada de seus bens e, assim, proporcionar a manutenção de sua classe no poder. Em posição de exploração e subjugados à classe burguesa, a classe proletária, composta por trabalhadores sem posses, era responsável pelo processo de produção, por meio da venda de sua força de trabalho (mão de obra). Dessa forma, Marx e Engels (1998) demonstram que a sociedade capitalista se constituiu pela divisão social do trabalho baseada em duas principais classes sociais: a dos capitalistas (burgueses), que detêm a posse dos meios de produção (as máquinas, as matérias-primas, as terras e as fábricas); e a dos proletários (operariado/trabalhadores), cuja única posse é a força de trabalho que seria vendida à classe dominante, os burgueses. Atenção! A sociedade de classes Em seu texto político do mundo moderno e contemporâneo, “O manifesto comunista”, publicado em 1848, Karl Marx explica que “[...] a sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos das classes. Estabeleceu novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta no lugar das antigas.” (MARX; ENGELS, 2001, p. 9). Fonte: Adaptado de Marx e Engels (2001). Para Karl Marx, a exploração da classe de trabalhadores possui, como principal objetivo, a acumulação de capital. Dessa forma, o capital seria o acúmulo de bens e lucros provenientes da exploração da mão de obra barata pela classe burguesa. Em sua obra mais significativa, “O capital: crítica da economia política”, publicada em 1867, o autor descreve os processos de produção capitalista e aponta a forma com que esse modelo aprofundava as desigualdades na sociedade que se consolidava e mantinha uma parcela da população em condição de exploração. Sobre a divisão de classes sociais, segundo Marx e Engels (2001): Na mesma medida em que a burguesia – isto é, o capital - se desenvolve, também o proletariado se desenvolve. A classe trabalhadora moderna desenvolve-se: uma classe de trabalhadores, que vive somente enquanto encontra trabalho e que só encontra trabalho enquanto o labor aumenta o capital. Estes trabalhadores, que precisam vender a si próprios aos poucos, são uma mercadoria, como qualquer outro artigo de comércio e são, por consequência, expostos a todas vicissitudes da competição, a todas flutuações do mercado. (MARX; ENGELS, 2001, p. 19). Na teoria de Marx, os meios de produção é que transformam as relações de produção e as formas de organização social, acarretando desigualdades sociais profundas, que propiciam a luta de classes. A luta de classes se trata dos embates políticos entre trabalhadores e burgueses. Segundo o sociólogo alemão, é por meio do movimento de organização social de questionamento à ordem dominante que a emancipação humana total seria possível, bem como o fim da exploração do trabalho, o advento da revolução operária e a derrocada do sistema capitalista. O materialismo histórico dialético Embora Marx estivesse muito mais preocupado em construir um projeto político de sociedade, o sociólogo também desenvolveu uma metodologia científica que direciona uma longa tradição de estudos marxistas na Sociologia, o método do materialismo histórico dialético. Para Marx, são as condições materiais que determinam a sociedade, e não o contrário, portanto, devemos compreender, primeiramente, o âmbito material, as estruturas e as relações efetivas que formam a sociedade, o que é denominado, pelo autor, de materialismo: [...] não partimos do que os homens dizem, imaginam ou representam, tampouco do que eles são nas palavras, nos pensamentos, na imaginação e na representação dos outros, para depois se chegarmos aos homens de carne e osso; mas partimos dos homens em sua atividade real [...]. Assim, a moral, a religião, a metafísica e todo o restante da ideologia, bem como as formas de consciência a ela correspondentes, perdem logo toda a sua autonomia. Não tem história, não tem desenvolvimento [...] (MARX; ENGELS, 1998, p. 19). Para o pensamento materialista de Karl Marx, a essência do indivíduo é o centro das relações sociais; por isso, ele compreende que o indivíduo não é um ser isolado, e sim que sua existência é proveniente dos processos sociais em curso. Nesse sentido, a pesquisa materialista histórico dialética é realizada por meio da análise dos contextos históricos e processos sociais que solidificam as relações sociais materialmente, em sua aplicabilidade prática da vida em sociedade. O movimento de pensamento dialético se dá na contraposição do campo das ideias com a realidade efetiva. Essa contraposição possibilita a junção desses dois elementos, constituindo, assim, uma concepção única, que é a análise da realidade. Em síntese: o materialismo histórico dialético de Marx (MARX; ENGELS, 1998) concebe a realidade social da seguinte maneira: a) interação universal – todos os elementos da vida em sociedade estão relacionados. Os fatos não podem ser considerados isoladamente; b) a realidade em movimento universal – toda a realidade social está em constante movimento, ou seja, as transformações sociais e as mudanças nas relações estão em constante conflito e desenvolvimento; c) unidade dos contraditórios – o ser social é construído com relação ao outro em suas contradições e conflitos, o que significa que nossa existência está condicionada ao nosso constante desenvolvimento social. Sob essa perspectiva, é possível afirmar que a existência de uma sociedade se dá com relação à materialidade da vida. Assim, nossas relações são reguladas por processos históricos, econômicos e sociais, principalmente, no que se refere às relações de produção, pois, à medida que elas se transformam, a sociedade também se modifica. Trabalho, alienação e sociedade capitalista Todo o método de análise de Karl Marx é baseado na preocupação em compreender os processos de produção, mais especificamente, a nova concepção de trabalho que se instaura na sociedade capitalista. Segundo o sociólogo, antes da modernização e da exploração de classes, a dimensão humana do trabalho se constituía no processo de transformação da natureza para a satisfação de nossas necessidades básicas. Com a instituição da sociedade capitalista, o que se colocou foi uma espécie de trabalho alienado, em que o trabalhador perde sua dimensão criativa e consciente de produção intelectual. Para Karl Marx: “[...] o processo histórico de alienação distancia o serhumano do objeto que ele produz. Assim, a alienação do trabalho significa que o operário não percebe que seu trabalho lhe pertence.” (MARX; ENGELS, 2001, p. 29). Esse processo transforma o trabalhador em simples mercadoria, tornando-o um ser alienado, que não possui intervenção criativa no produto do seu trabalho. Aspectos da alienação: 1) alienação em relação às coisas – o indivíduo fica alienado ao mundo externo e ao produto de seu trabalho; 2) alienação em relação a si mesmo – o indivíduo entende que sua força de trabalho não lhe pertence, isto é, não é dominada pelo trabalhador; 3) a alienação em relação ao trabalho – o trabalho do ser humano deixa de ser livre e passa a ser um meio de sobrevivência. Em uma sociedade capitalista, regida pela produção de mercadorias, segundo Marx e Engels (2001), o trabalhador e as suas possibilidades humanas só existem em função do capital. O indivíduo que não tem trabalho fica sem salário e por isso torna-se inexistente e dispensável para o sistema capitalista. Marx exemplifica: “Tão logo o trabalhador é explorado pelo fabricante e, no fim, recebe seu salário, ele é atacado pelas outras porções da burguesia, o senhorio, o lojista, o penhorista etc” (MARX; ENGELS, 2001, p. 21). O trabalho é uma forma de sobrevivência, assim, o operário não se reconhece no produto que criou. Dessa forma, o trabalhador torna-se uma extensão da máquina, que tem operações simples e fáceis, e pode ser facilmente substituído por outro trabalhador. Pelo caráter descartável denotado aos trabalhadores, o valor da sua força de trabalho é mínimo, o suficiente para a sua sobrevivência. Sobre o salário, Marx explica: O preço médio do trabalho assalariado é o salário mínimo, ou seja, a quantia do meio de subsistência que é requisito absoluto para manter o trabalhador na existência simples como um trabalhador. O que o trabalhador adquire por meio de sua atividade é, pois, o mínimo necessário para a conservação e a reprodução de vida humilde. [...] o trabalhador vive, meramente para aumentar capital e permitir-lhe viver somente o quanto o interesse da classe governante requer. (MARX; ENGELS, 2001, p. 32-33). Entende-se, assim, que, ao manter o trabalhador em condições de alienação, o sistema capitalista mantém o crescimento da riqueza dos donos dos meios de produção, ou seja, da classe burguesa de industriais, proprietários e comerciantes. Comunismo FIGURA 2 Trabalhador na sociedade capitalista FONTE: Jozef Polc / 123RF Como destacamos anteriormente, o intuito de Karl Marx não era apenas desenvolver um método científico, o sociólogo alemão propunha um projeto político, o comunismo, um sistema social que superaria o capitalismo e acabaria com as desigualdades sociais da divisão de classes. Considerada, por Marx, como a fase final da sociedade humana, alcançada somente a partir de uma revolução proletária, ele tinha a ideia utópica de uma sociedade igualitária, que seria a socialista (QUINTANEIRO; BARBOSA; OLIVEIRA, 2002). Assim, Marx trabalhava com a temática de progresso das sociedades – lei de desenvolvimento das sociedades. Na perspectiva de Marx, a organização social desenvolve todas as forças produtivas que possui. Quando a necessidade de expansão das forças produtivas de uma sociedade choca-se com as estruturas econômicas, sociais e políticas, gera conflitos sociais, o que dá início à sua desintegração e cria um terreno fértil para uma revolução. Desse modo, Marx vê o desenvolvimento da sociedade capitalista de seu tempo da seguinte forma: Como o desenvolvimento do antagonismo de classe acompanha o desenvolvimento da indústria, a situação econômica, como se encontram, ainda não lhes oferece as condições materiais para emancipação do proletariado. Eles buscam, portanto, uma nova ciência social, novas leis sociais que criarão tais condições. A ação histórica irá conduzir à ação pessoal inventiva; condições de emancipação historicamente criadas conduzirão a condições fantásticas; e a organização de classe gradual e espontânea do proletariado conduzirá a uma organização da sociedade especialmente planejada por estes inventores. A história futura resolve-se, aos olhos deles, na propaganda e na realização práticas de seus planos sociais. (MARX; ENGELS, 2001, p. 57-58). É possível afirmar, portanto, que, para que ocorra a passagem para uma organização social mais avançada, com um novo modo de produção, ou seja, uma sociedade comunista, a classe emergente deve se impor à decadente, ultrapassando-a e substituindo-a por outra mais apropriada a seu interesse e a seu domínio. Assim, os trabalhadores tomariam as instâncias de poder e provocariam a decaída da classe burguesa. Dessa forma, compreende-se que, pela ótica de Marx, o modo de produção capitalista é uma evolução do modelo de produção da sociedade feudal. Porém, a partir do desenvolvimento das forças produtivas do capitalismo e de suas relações sociais, será favorecida a criação de uma nova estrutura superior, e isso conduzirá a um processo revolucionário, isto é, uma revolução comunista. Contribuições metodológicas Durkheim, Weber e Marx Em linhas gerais, podemos afirmar que, devido às diferentes perspectivas dos pensadores pioneiros da Sociologia, é possível perceber que o esforço para a consolidação da disciplina como um conhecimento científico possuía um norteador em comum para todos os autores citados até aqui, buscava-se compreender as novas configurações da sociedade moderna e as suas contradições e padronizações, assim como as características das relações da humanidade com o meio social emergente. Nesse sentido, Durkheim, Weber e Marx colaboraram significativamente para o desenvolvimento de uma ciência social comprometida com uma leitura orientada sobre a sociedade em que vivemos. A teoria funcionalista de Durkheim, denominada assim devido ao objetivo do autor de avaliar a função social que os fatos sociais exercem na organização da sociedade, contribuiu para estabelecer uma perspectiva metodológica clara para a ciência sociológica. Da mesma forma que Weber, ao instituir a ação social como objeto de estudo, criou uma metodologia específica da disciplina; ou seja, essas metodologias não seriam mais apenas reproduções dos métodos e das técnicas das ciências naturais, assim como anunciou Comte. Embora Durkheim tenha se inspirado fortemente no positivismo e, até mesmo, tratado a sociedade tal qual um organismo vivo, o funcionalismo durkheimiano inovou ao denotar uma reputação científica à Sociologia. Weber construiu um caminho parecido ao de Durkheim no que se refere ao rigor metodológico, no entanto, sob outra perspectiva de análise, considerando não as interferências exteriores da sociedade sobre os indivíduos, e sim as interferências das ações individuais sobre a sociedade. Apesar de muitos colocarem o pensamento de Karl Marx como muito distante das configurações teóricas de seus companheiros precursores, é possível considerar que o mesmo objetivo, o de interpretar a sociedade moderna, era perseguido pelo sociólogo alemão, que utilizou, porém, a sua ciência para intervir politicamente nas lutas de classes provenientes dos conflitos causados por essa sociedade. Em suma, o que buscamos demonstrar no decorrer deste material é o mesmo que afirmou o sociólogo brasileiro Florestan Fernandes: Todo fenômeno social é, por sua natureza, dinâmico e pelo menos relativamente instável, apresentando-se à percepção e à observação sistemática do investigador, portanto, nessa condição, qualquer método de interpretação sociológica, para ser <<útil>> e <>, deve, pois, compreender e representar os fenômenos sociais em sua própria natureza, como fenômenos fundamentais e dinâmicos. (FERNANDES, 1962, p. 197). Considera-se, nesse sentido, que a apreensão de diferentes métodos e técnicas de pesquisa é essencial para que se possa estabelecer uma boa leitura sobre a sociedade em que vivemos, pois conhecer diversas concepções de mundo e interpretações da vida social nos proporciona um olhar mais atento sobre as circunstânciasque devemos enfrentar em nosso cotidiano. Agora que você concluiu a leitura deste estudo, veja, nos vídeos a seguir, temas que complementarão seus estudos: Indicação de Leitura Livro: Sociologia e Sociedade (Leituras de introdução à Sociologia). Autor: Marialice Mencarini Foracchi e José de Souza Martins (organizadores). Ano: 2008. Editora: LTC. ISBN: 978 - 85- 216 - 0599-7. Sinopse: esse livro é composto por uma compilação de textos, que oferecem ao leitor um parâmetro básico dos fundamentos teóricos da Sociologia. Organizado pelos sociólogos brasileiros Marialice Mencarini Foracchi e José de Souza Martins, o material foi selecionado para dar suporte ao ensino de Sociologia em cursos introdutórios e da educação básica, por isso, possui o objetivo de apresentar, na íntegra, as obras dos principais pensadores da Sociologia. Questão 1 O conceito de divisão social do trabalho de Durkheim buscava entender como a formação da sociedade capitalista se expressaria em diferentes esferas sociais. Sobre esse estudo de Durkheim, assinale a alternativa que melhor corresponde ao tipo de relação de produção que o autor descreve como sociedades baseadas na divisão social do trabalho simples, em que a consciência coletiva prevalece sobre a consciência individual. A. Sociedade moderna. B. Sociedade de solidariedade mecânica. C. Sociedade capitalista. D. Sociedade socialista. E. Sociedade industrial. Questão 2 O sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) é um dos precursores da Sociologia moderna. Weber entende a Sociologia como uma ciência que propõe compreender e interpretar os fenômenos sociais com relação às interferências das ações individuais. Assinale a alternativa que corresponde ao objeto de estudo desenvolvido por Weber para explicar a vida em sociedade. A. Ação social. B. Fato social. C. Alienação do trabalho. D. Divisão social do trabalho. E. Luta de classes. Questão 3 A Revolução Industrial provocou mudanças que configuraram uma nova estrutura econômica e de estratificação social, consolidando o que conhecemos como sistema capitalista. Todas as transformações sociais emergentes desse processo, em âmbitos políticos e econômicos, causaram, também, muitas problemáticas sociais. Diante desse contexto, o sociólogo alemão Karl Marx desenvolveu uma teoria sociológica para pensar sobre as desigualdades e os conflitos sociais promovidos pelo capitalismo que se consolidava nesse período. Sobre a metodologia desenvolvida por Karl Marx, chamada de materialismo histórico dialético, assinale a alternativa que melhor define seus preceitos teóricos. A. O materialismo histórico dialético é uma corrente filosófica que busca analisar a divisão social do trabalho, as configurações nas relações de produção e a relação dessas configurações com a organização social. B. O materialismo histórico dialético alega que a ciência é capaz de explicar os fenômenos por padrões racionais do estudo dos fenômenos sociais, distante de parâmetros religiosos, místicos e metafísicos. C. O materialismo histórico dialético é uma corrente filosófica baseada nos laços de solidariedade na divisão do trabalho social da sociedade capitalista. D. O materialismo histórico dialético é uma corrente filosófica baseada na ação individual do comportamento humano em sociedade. E. O materialismo histórico dialético é uma corrente filosófica que estuda a alienação, ou seja, o processo de distanciamento entre o ser humano e o objeto que ele produz, em que o operário não percebe que seu trabalho lhe pertence. Síntese Caro(a) aluno(a), finalizamos este material que apresenta os precursores da Sociologia e as suas concepções metodológicas e teóricas. Buscamos destacar as contribuições de Auguste Comte, Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx para a consolidação da disciplina. Foi possível aferir que a Sociologia é uma ciência plural, com diversidade de perspectivas teóricas e metodológicas desde o seu surgimento. O positivismo e a concepção de progresso social de Auguste Comte colaboraram para que houvesse a possibilidade de um estudo social. O funcionalismo de Émile Durkheim demonstrou que a sociedade possui influência sobre as nossas maneiras de agir, ser e pensar. A sociologia compreensiva de Max Weber contribuiu para a consolidação da disciplina, na medida em que destacou que as nossas ações cotidianas e decisões individuais também podem intervir no meio social. A perspectiva de Karl Marx, que considera as contradições do mundo moderno, nos ajuda a compreender que a vida em sociedade produz desigualdades sociais profundas e que precisam ser superadas. Todas as concepções teóricas e metodológicas apresentadas neste material cooperaram para a consolidação da Sociologia e dos fundamentos do pensamento intelectual no ocidente moderno. Esse processo de constituição das ciências sociais norteia a atuação de cientistas sociais no mundo todo até a atualidade; por isso, destacamos a importância de retomar a leitura dos clássicos da Sociologia. Esperamos que as discussões propostas até o momento possam colaborar para a elaboração de boas percepções sobre a realidade social em que você, caro(a) aluno(a), atuará profissionalmente em breve. Bons estudos! Referências Bibliográficas COMTE, A. Discurso sobre o espírito positivo. In: GIANNOTTI, J. A. (comp.). Comte. Tradução de José Arthur Giannotti e Miguel Lemos. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Coleção Os Pensadores). p. 114-226. , CRUZ, M. B. da. Teorias sociológicas: os fundamentos e os clássicos. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004. , DURKHEIM, É. As regras do método sociológico. São Paulo: Editora Nacional, 1971. , DURKHEIM, É. Da divisão do trabalho social. Tradução de Carlos Brandão. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. (Coleção Tópicos). , DURKHEIM, É. 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