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ANALISE DO SISTEMA PENITENCIARIO FEMININO BRASILEIRO EM ESPECIAL A MATERNIDADE NO CARCERE

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53
Mariane Arturo Naba 
ANÁLISE DO SISTEMA PENITENCIÁRIO FEMININO BRASILEIRO: EM ESPECIAL A MATERNIDADE NO CÁRCERE
Centro Universitário Toledo
Araçatuba
Mariane Arturo Naba
ANÁLISE DO SISTEMA PENITENCIÁRIO FEMININO BRASILEIRO: EM ESPECIAL A MATERNIDADE NO CÁRCERE
Trabalho de conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito à Banca Examinadora do Centro Universitário Toledo, sob orientação do Prof (a). Marcelo Misaka
Centro Universitário Toledo
Araçatuba 
2020
Mariane Arturo Naba
ANÁLISE DO SISTEMA PENITENCIÁRIO FEMININO BRASILEIRO: EM ESPECIAL A MATERNIDADE NO CÁRCERE
Trabalho de conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito à Banca Examinadora do Centro Universitário Toledo, sob orientação do Prof. Marcelo Misaka
Aprovado em ____de ______________de ______
BANCA EXAMINADORA
Centro Universitário Toledo
Á Deus por me dar forças para fazer esse trabalho mesmo com todos os obstáculos e terminar a faculdade. 
Agradeço a minha família pelo apoio, e a todos os meus professores pela paciência ao longo de cinco anos, em especial ao meu orientador Professor Marcelo Misaka e a Professora Leiliane Emoto
Á minha querida amiga Mariana Manfrinatti por ser tão paciente e gentil me ajudando a editar este trabalho.
"Para o Estado e a sociedade, parece que existem somente 440 mil homens e nenhuma mulher nas prisões do País. Só que, uma vez por mês, aproximadamente 28 mil desses presos menstruam". Hiedi Ann Cerneka, de 21 de setembro de 2009.
RESUMO
O presente trabalho busca analisar e conhecer a situação das mulheres que vivenciam a maternidade no cárcere brasileiro. Descrevendo a precariedade e o descaso do sistema penitenciário feminino, contextualizando a participação feminina na criminalidade, analisando o perfil das mulheres presas – especificamente das que estão na maternidade –, e por fim analisando a garantia de seus direitos expressos em leis e tratados. Serão apresentados dados reais referentes a população carcerária feminina, os crimes mais cometidos por mulheres e a situação social das mulheres encarceradas. Levantando dados da condição da maternidade na prisão e os reflexos na sociedade. Não obstante, é buscado entender suas especificidades e o porquê de ser tão necessário construir cadeias destinadas a mulheres, bem como visualizar as dificuldades da maternidade no cárcere. Compreender seus direitos resguardados em leis e em tratados, e se realmente são efetivados na prática. O tema estudado é de extrema importância, porém possui grandes problemas que não tem recebido a atenção necessária para serem resolvidos. A estatística de mulheres em penitenciarias tem crescido cada vez mais no Brasil, mas a construção de cadeias destinadas especificamente para mulheres tem sido cada vez menor, cabendo a elas ficarem em penitenciárias que não são mais ocupadas por homens. Pretende-se entender como funciona a maternidade no cárcere e seus reflexos na sociedade e na vida da mãe e do bebê, e além disso, porquê são poucas as cadeias que possuem maternidade, caracterizando ainda mais o descaso com a mulher gestante e seu bebê.
Palavras-chave: Cárcere. Maternidade. Mulher. 
ABSTRACT
This study seeks to analyze the situation of women who experience motherhood in Brazilian prison. Describing the precariousness and neglect of the female prison system, contextualizing female participation in crime, analyzing the profile of women arrested specifically those in motherhood, and looking over the guarantee of their rights expressed in laws and international treaties. Real data will be presented regarding the female prison population, the most committed crimes by women and the social situation of incarcerated women and the condition of motherhood in prison and the effects on society. Understand its specificities and why it is so necessary to build special chains for women, as well as to visualize the difficulties of motherhood in prison and the women’s rights protected in laws and treaties, and if they really are effective in practice. This topic is extremely important, but it has problems that are not receiving the necessary attention to be solved. The statistics of women in penitentiaries have grown more and more in Brazil, but the construction of chains specifically created for women has been decreasing, so they have to stay in prisons that are no longer occupied by men. It is intended to understand how motherhood works in prison and its effects on society and on the mothers and babies lives, and moreover, why there are few chains that have structure for moms to take care of their kids, further characterizing neglect of the pregnant woman and her baby.
Keywords: Prison. Maternity. Woman.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO	10
1	 POPULAÇÃO CARCERÁRIA	11
1.1 	Significado de Prisão e Seus Objetivos	11
1.2	 Breve Histórico dos presídios	12
1.3 	Contextualização da População Carcerária Brasileira	14
1.4	 A Participação Feminina na População Carcerária Brasileira	16
2	 PARTICULARIDADES DA MULHER NA PRISÃO	19
2.1	 O Surgimento dos Presídios Femininos	19
2.2	 Perfil das Mulheres Privadas de Liberdade no Brasil	22
3	 O CÁRCERE E A MATERNIDADE	25
3.1	 A Estrutura do Presídio Feminino	25
3.2	 A Maternidade no Sistema Penitenciário	27
3.2.1 A Permanência da criança nas creches prisionais em conflito com o Princípio da Pessoalidade	29
3.3	 A Saúde Materna	30
3.4	 As Crianças	34
3.5 	Mulheres Estrangeiras	35
4	 A GARANTIA DO DIREITO DAS MULHERES	36
4.1	 O Acesso à Justiça	36
4.1.1 Defensoria Pública e Mães em Cárcere	37
4.1.2 O Processo de Perda do Poder Familiar	37
4.2 	A Lei de Execução Penal 7.210/84	38
4.3	 Regras de Bangkok Aspectos Gerais	42
4.3.1 Tratamento dado a maternidade no cárcere pelas Regras de Bangkok	46
4.4 	Obstáculos na manutenção dos vínculos afetivos	48
4.5 	A Liberdade Provisória e a Prisão Domiciliar	49
5 	CONCLUSÃO	52
6	 REFERÊNCIAS	54
INTRODUÇÃO
O presente trabalho busca analisar e conhecer a situação das mulheres que vivenciam a maternidade no cárcere brasileiro. Descrevendo a precariedade e o descaso do sistema penitenciário feminino, contextualizando a participação feminina na criminalidade, analisando o perfil das mulheres presas especificamente das que estão na maternidade, e por fim analisando a garantia de seus direitos expressos em leis e tratados. 
Busca-se apresentar e analisar o porquê não são construídas penitenciárias destinadas exclusivamente a mulheres, respeitando suas particularidades, bem como suas necessidades que muito se diferem com a dos homens, porém, o que sobra a elas são prisões que não são mais utilizadas por homens. Um local que é feito para homens e que após a utilização dos mesmos é finalmente destinada a mulheres não respeita suas particularidades e não resguarda o direito das encarceradas. 
Os números de mulheres presas continuam crescendo e o sistema penitenciário brasileiro falido não consegue atender a demanda das detentas, sendo incapaz de cumprir sua principal finalidade de reeducação do condenado para ressocializa-lo, reinseri-lo e reintegrá-lo na sociedade, sendo a cadeia apenas mais um meio de descaso. As mulheres que são submetidas ao cárcere, em geral, são jovens, mães, de baixa renda, responsáveis pelo sustento de sua casa e com baixa escolaridade. 
Segundo o Infopen, no primeiro semestre de 2020, entre o público feminino predomina o envolvimento com o tráfico de drogas, sendo o principal responsável pela prisão da maioria das mulheres, pois é o “meio mais fácil” de se conseguir o sustento de seu lar. Notória se faz a falência do Sistema penitenciário brasileiro, que ignora a importância da implementação de novas políticas públicas e insiste com encarceramento da pobreza, adotando normas mais rígidas e penas mais severas. 
O aumento do encarceramento feminino tende a produzir consequências de diversas ordens e gravidades, além das diversas formasde violação de inúmeros direitos fundamentais. A prisão desrespeita as particularidades de sua condição feminina, em um processo de deterioração da cidadania e identidade destas mulheres. O tema em questão é de extrema importância uma vez que traz um duro reflexo na sociedade e mostra um contexto social que merece atenção e cuidado especial, porém que é pouco dado atenção.
1. POPULAÇÃO CARCERÁRIA
O sistema penitenciário brasileiro é um dos maiores desafios dos gestores públicos e do sistema de justiça do país, sendo um sistema punitivo, enraizado no patrimonialismo, e na exclusão social, faz com que os estabelecimentos carcerários sejam grandes lugares com a violação de direitos das pessoas que ali se encontram.
Devemos analisar a população carcerária e seu surgimento para entender todo o contexto social que vem por traz da prisão, e o que leva o encarceramento, bem como os padrões de pessoas encarceradas.
Significado de Prisão e Seus Objetivos
Para que possamos analisar com efetividade o sistema carcerário, é de extrema importância começarmos estudando o significado da prisão, bem como os objetivos que ela tem.
Ao que sabemos, a prisão é um local utilizado pela administração pública, com a finalidade de restringir a liberdade de ir e vir do indivíduo em decorrência da suspeita ou prática de uma infração penal. A prisão sendo assim, pode ser usada durante a investigação policial de forma temporária ou preventiva, durante a ação penal, ou durante a execução que é quando se vai efetivamente cumprir a pena. 
Nesse sentido, André Gonzales Cruz, significa como:
A prisão, em sentido jurídico, é a privação do direito de liberdade de locomoção de uma determinada pessoa, ou seja, é a restrição do seu direito constitucional de ir e vir. Todavia, o referido termo tem vários significados no ordenamento jurídico brasileiro, pois pode expressar a pena privativa de liberdade, o ato de captura (prisão em flagrante, cumprimento de mandado de prisão ou recaptura de foragido) ou a simples custódia (recolhimento da pessoa ao cárcere). (CRUZ,s.p, 2013) 
O Professor Nestor Távora, traz também como significado: 
A prisão é o cerceamento da liberdade de locomoção, é o encarceramento. Pode advir de decisão condenatória transitada em julgado, que é a chamada prisão pena ou, ainda, ocorrer no curso da persecução penal, dando ensejo à prisão sem pena, também conhecida por prisão cautelar, provisória ou processual. (TÁVORA, p.1, 2019)
A prisão penal, em sentido estrito, ocorre após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, porém não é a única, há também a prisão processual penal, que pode ser: provisória ou cautelar, subdividindo-se em prisão em flagrante, prisão preventiva e prisão temporária.
Em relação ao objetivo da pena imposta, Albergaria destaca em seu livro:
Muñoz conde resume as teorias da pena (a saber: as teorias absolutas, teorias relativas e teorias da união). As teorias absolutas atendem ao sentido (essência ) da pena, prescindindo-se da idéia de fim . O sentido da pena radica-se na retribuição: imposição do mal da pena pelo mal do crime. Nisso exaure-se a função da pena. A pena é, pois, consequência justa e necessária do crime praticado, entendida como uma necessidade ética (imperativo categórico), segundo Kant, ou necessidade lógica ( negação do crime e afirmação da pena ) , segundo Hegel. as teorias relativas ao fim da pena distinguem-se em teorias da prevenção especial e teorias da prevenção geral. Para as teorias da prevenção geral, o fim da pena consiste na intimidação da generalidade dos cidadãos, para que se afastem da pratica de crimes. Seu principal representante foi Feuerbach, que considera a pena como uma coação psicológica sobre todos os cidadãos. As teorias da prevenção especial consideram o fim da pena ao afastar o delinquênte da pratica de futuros crimes, mediante sua correção e educação, como sua custodia. Seu principal representante foi Von Liszt. Após essas teorias aparentemente inconciliáveis, surge a teoria da união, que defende uma posição intermédia, procurando conciliar os dois extremos. Parte da idéia de retribuição como base, acrescentado os fins preventivos especiais e gerais. Aparece como uma solução de compromisso na luta das escolas. Retribuição e prevenção são dois pólos opostos da mesma realidade, que se coordenam mutuamente, e não podem subordinar-se um ao outro. Na teoria da união, em cada um dos estágios ou fases da pena, cumpre ela funções distintas: no momento da ameaça da pena (legislador) e decisiva a prevenção geral; no momento da aplicação da pena, predomina a ideia da retribuição, no momento da execução da pena, prevalece a prevenção especial, porque então se pretende a reeducação e socialização do delinquente. (ALBERGARIA, p.18, 2018)
Breve Histórico dos presídios
Até o século XV, o cárcere não era uma forma de pena e sim um meio de custódia dos acusados, a prisão em forma de pena começou a ganhar esse significado em mosteiros na Idade Média. Tendo por objetivo punir os membros do clérigo que não estavam cumprindo suas funções, eles eram mandados para as celas para se recolherem, meditarem e se arrepender. A primeira prisão com essa proposta foi feita em Londres, em 1550, a House Of Correction. Havia um Hospício de San Michel em Roma, que foi a primeira instituição penal construída no mundo destinada a encarcerar “meninos incorrigíveis”, e foi usada de inspiração para construir a House Of Correction.
Com tudo, a pena de privação de liberdade surgiu em 1595, na Holanda, quando foi construído o Rasphuis de Amsterdã, era uma prisão onde os jovens infratores eram enviados e obrigados a trabalhar e a seguir todos os meios disciplinares estabelecidos, se caso algum deles se recusasse a trabalhar, era jogado em um porão, que aos poucos era inundado.
No Brasil, o sistema penitenciário surgiu através da Carta Régia, de 8 de julho de 1796, que determinava que fosse construída a Casa de Correção da Corte. Em 1984 a construção começou na capital do país, que na época era o Rio de Janeiro, e foi inaugurada em 6 de julho de 1850.
Apenas no século XIX que começaram a surgir prisões com selas individuais, nessa época, o Brasil ainda era considerado uma colônia portuguesa e por isso não possuía código penal, submetendo-se as Ordenações Filipinas.
Em 1828, com a precariedade das penitenciárias no Brasil, a Lei Imperial determinou que uma comissãovisitasse as prisões militares, civis e eclesiásticas com o objetivo de realizar um estudo a fim de relatar ao estado e articular as melhorias que deveriam ser feitas. O primeiro relatório foi feito em São Paulo em 1829 e já tratava de problemas vivenciados hoje, como a superlotação de celas.
Em 1830 as Ordenações Filipinas foram, em parte, revogadas e o Brasil Imperial instituiu o primeiro Código Criminal. A prisão como forma de pena foi implementada de duas maneiras, a prisão simples e a prisão com trabalho. Com a influência das ideias reformistas e vista como uma punição moderna, foi adotada a condenação a pena de prisão com trabalho, que tinha o objetivo de reprimir e reabilitar os presos. Foi apenas depois da metade do século XIX, com a construção da Casa de Correção da Corte, localizada no Rio de Janeiro, capital do Império, que este modelo de punição foi colocado em prática. (Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário)
Em 1861, na casa de correção da corte, foi criado o Instituto de Menores Artesões, que tinha por finalidade abrigar menores de idade que cometiam atos infracionais, esses menores davam educação moral e religiosa aos que ficassem ali acolhidos, também era ensinado profissões, música e desenho. A partir disso, podemos observar que já nessa época, havia uma preocupação em oferecer um estudo ao encarcerado, para que depois que deixasse o cárcere fosse ressocializado. 
Com a criação do Código Penal de 1890, as penas de prisão foram limitadas em restritivas de liberdade individual, por no máximo 30 anos. Foram abolidas as penas de morte, penas perpétuas e coletivas.
Em 1970 a Casa de Correção da Corte passou a se chamar Penitenciária Lemos Brito, e em 2006 teve suas atividades encerradas quando houve a desativação do Complexo Penitenciário da Frei Caneca que era composto por três presídios e um hospital no centro da cidade. Atualmente integra o Complexo de Gericinó, onde são localizadas as unidades prisionais de segurança máxima. (Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro)
Contextualização da População Carcerária Brasileira 
O Sistema de Informações do Departamento Penitenciário Nacional, trouxe informações de que a quantidade de presos detidos em estabelecimentos prisionais chegou a 702.069 mil pessoas privadas de liberdade, sendo 344.773 mil em regime fechado, 101.805 mil em regime semiaberto, 43.325 mil em regime aberto, 209.257 mil provisoriamente, 213 mil em tratamento ambulatorial e 2.696 mil por medida de segurança, até junho de 2020.
Gráfico 1- Regimes das pessoas privadas de liberdade até junho de 2020.
(FONTE: SISDEPEN 2020.)
Se formos adicionar os números de outros tipos de carceragens esse número vai para 759.518 pessoas privadas de sua liberdade, seja em estabelecimentos prisionais ou em polícias judiciárias, batalhões e etc.
Dessas pessoas encarceradas, 21,22% possuem idade de 18 a 24 anos, sendo a grande maioria, depois segue a faixa etária de 25 a 29 anos representando 20,69% do total. 
Ao realizarmos uma análise, nota-se a importância em classificar a composição dessa população prisional por cor/raça no sistema prisional. Cerca de 301.621 mil pessoas, entre homens e mulheres, são consideradas pardas, e representam a grande maioria de pessoas presas. Em segundo lugar com 195.085 mil ficam as pessoas consideradas brancas, e em terceiro lugar com 96.195 mil pessoas pretas.
Gráfico 2- Composição da população prisional por cor/raça.
(FONTE: SISDEPEN 2020.)
Feita essa classificação, é de importância levantar a quantidade de unidades prisionais brasileira, que em 2020 é de 177 unidades, desse número 87 são penitenciárias, 49 são centros de detenção provisória, 22 centros de ressocialização, 15 centros de progressão penitenciária, 03 hospitais e 01 unidade de regime disciplinar diferenciado.
Ao comparar a quantidade de pessoas privadas de sua liberdade, e a quantidade de unidades prisionais, o que fica de questionamento é se 177 unidades prisionais são capazes de atender a demanda de 702.069 pessoas encarceradas uma vez que o crescimento de pessoas nos estabelecimentos prisionais é desproporcional com a quantidade de unidades.
Dia 24 de julho de 2020, o tribunal de contas do estado de São Paulo divulgou uma auditoria que revela que em 2019 as unidades prisionais administradas pela Secretaria Estadual da Administração Penitenciária, tem um déficit de 83 mil vagas que deveria abrigar cerca de 231 mil detentos. Levando em consideração a capacidade de uma unidade prisional média, que deveria receber 823 presos, só no estado de São Paulo, 147.942 pessoas seriam atendidas, porém a demanda é muito maior. Em dezembro de 2019, a população nas carceragens estaduais chegou a 231.287 detentos.
Outro problema é o déficit de agentes penitenciários, o recomendado pelo Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária é de que seja um agente para cerca de cinco presos, mas na realidade são de oito a nove presos por agente, quase o dobro do máximo recomendado pelo conselho.
Além disso, a auditoria feita pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo constatou que muitas das unidades prisionais não possuem uma equipe mínima de pessoal da saúde, a portaria interministerial n° 1.777/2003 preconiza que é necessário 01 profissional da saúde para a cada 500 presos.
A mesma auditoria ainda relatou que as ações de ressocialização recebem pouca atenção uma vez que apenas 2% do orçamento da SAP é destinado a esse campo, apenas 55% dos postos de trabalho foram preenchidos, e vale ressaltar que o mesmo preso pode ocupar mais de um posto, menos de 1% dos presos conseguem voltar ao mercado de trabalho, o que reflete no aumento da reincidência em crimes. Cerca de 13% dos presos participaram de alguma atividade que é relacionada a formação educacional ou profissional. 
É de extrema importância que os detentos sejam incentivados a participarem de atividades de profissionalização e educação, uma vez que após sair do sistema prisional ele deverá retornar e contribuir com o mercado de trabalho, visando assim sua ressocialização.
Dito isso, é preciso salientar sobrea diferença de gênero entre a população prisional, uma vez que segundo o SISDEPEN de junho de 2020, o encarceramento feminino está estável. Desde 2016, havia uma queda na quantidade de mulheres presas, nesse período chegou a ser 41 mil mulheres. Em 2018, foram contabilizadas 36,4 mil mulheres, em dezembro de 2019, aumentou para 37,2 mil mulheres, e até junho de 2020 foi para 37,16 mil, conforme o gráfico abaixo:
Gráfico 3- Crescimento do cárcere feminino até junho de 2020.
FONTE: SISDEPEN 2020.
A Participação Feminina na População Carcerária Brasileira
Com o crescimento da população carcerária feminina torna-se necessário entender o fenômeno criminal a partir de uma perspectiva de gênero. As diferenças estabelecidas socialmente entre homens e mulheres determinam a nossa realidade criminal e todo o funcionamento da justiça criminal.
Gráfico 4- População carcerária por gênero.
FONTE: SISDEPEN, 2020.
Nosso sistema prisional é um espelho da realidade em que vivemos, a discriminação de gênero é um dos fatores responsáveis por uma visão mais severa da justiça criminal, quando uma mulher é condenada por cometer um crime sua conduta é ainda mais julgada pela sociedade do que a de um homem. Ocorre então que há uma “dupla punição”, uma pela prática da conduta criminosa e outra pelo simples fato de ser mulher, por não ter atendido a expectativa de conduta que a sociedade esperava.
Nesse sentido, quando realizamos análises que tem como objeto as relações sociais, notamos que a desigualdade de gênero é intrínseca aos problemas que encontramos nas diversas esferas sociais. De acordo com Costa e Sandenberg (2008) “A subordinação da mulher, além de ser um fenômeno milenar e universal, constitui-se, também, na primeira forma de opressão a historia da humanidade.” Sendo assim, entendemos que desde o início da história, as mulheres sofrem com as expectativas criadas baseadas em um certo padrão não somente de feminilidade, mas de morale ética. Quando analisamos os números referentes à participação feminina na criminalidade brasileira, os números não são tão significativos se comparados a quantidade de homens condenados, porém, o que é de se chamar atenção é a taxa que cresceu de 2018 até 2019.
Uma vez que o sistema prisional vem se mostrando totalmente falho em alcançar suas finalidades com a população carcerária, é importante separarmos as particularidades femininas e analisarmos, pois, deve ser considerada que o tema é pouco falado, é pouco dado atenção. Não há instituições capacitadas e nem profissionais para atender a demanda e as especificidades necessárias das mulheres em cárcere. Nas unidades femininas encontramos grandes violações de direitos sexuais, reprodutivos e ao acesso a saúde. Analisar essa problemática requer um olhar diferenciado, porém existem poucas ações que trazem visibilidade ao tema em questão, faltando ainda mais perceptibilidade a um assunto tão delicado, e tão carente de atenção. 
PARTICULARIDADES DA MULHER NA PRISÃO
O ingresso da mulher na realidade prisional trouxe grandes impactos no sistema prisional brasileiro, as diferenças sociais existentes entre homens e mulheres, fazem com que, quando essas mulheres estejam em cárcere, convivam ainda mais com a vulnerabilidade e desigualdade de gênero, juntamente com a condição inferiorizada que recais sobre os presos em geral. Ao ser inserida nesse sistema a mulher passar por diversos conflitos, um deles é que a privação de liberdade afeta o autocuidado, e por consequência seu corpo, sexualidade e sua autoestima.
Tratar da mulher no sistema penitenciário representa um dilema, pois a esta sempre coube o cuidado com os afazeres domésticos, com a família e filho. Trata-se de uma imagem de fragilidade, fraqueza e leveza já associada ao gênero no imaginário social. (LIMA, p. 11, 2006).
No encarceramento feminino há um histórico de omissão do poder público, referente a ausência de políticas públicas que reconhecer a mulher como um sujeito de direito, e garantir a regularização desses direitos segundo suas especificidades exclusivas de gênero.
Ao longo deste trabalho será possível analisar uma série de vezes em que a lei se faz falha ao regulamentar a situação da mulher encarcerada no Brasil.
O Surgimento dos Presídios Femininos
Ao analisarmos o contexto histórico do surgimento dos Presídios Femininos, podemos observar que nunca foi preocupação do estado dar um tratamento diferenciado as mulheres, além do que foi necessário que a Igreja Católica tomasse a iniciativa de criar uma penitenciaria feminina para que as mulheres fossem separadas dos homens.
Os primeiros registros de mulheres encarceradas no Brasil, são no início do século XIX, elas eram escravas que ficavam nos calabouços ou em “prisões navios”. (GOMES, 2010, p .48) 
Em 1920, a questão do cárcere feminino começou a ganhar destaque, José Gabriel de Lemos Britto em 1923, foi um dos primeiros estudiosos a mencionar essa questão em seu livro “Os Systemas Penitenciários do Brasil”. O autor relata que as prisões de 1923 e 1924 eram poucas, e que as mulheres eram presas junto com os homens. Com o tempo, a presença das mulheres tomou mais notoriedade tanto na sociedade bem como nas prisões, porém ainda percebemos que os problemas carcerários femininos eram sempre deixados de lado frente aos dos homens encarcerados. (BRITTO, p. 289, 1926)
Os primeiros estabelecimentos prisionais exclusivos para mulheres foram criados nas décadas de 1930 e 1940, quando a população feminina carcerária começou a ter um grande crescimento.
Em 1937 surgiu o Instituto de Readaptação Social, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, A Penitenciária Madre Pelletier, foi a primeira penitenciária feminina do Brasil, fundada pelas freiras Católicas da congregação Nossa Senhora da Caridade. O Rio Grande do Sul foi pioneiro em relação à separação de homens e mulheres no sistema prisional. O presídio nasceu com o nome de Instituto Feminino de Readaptação Social. Em 1941 o Presídio de Mulheres em São Paulo e a Penitenciária Feminina do Distrito Federal, em Bangu, no Rio de Janeiro. 
Lemos, penitenciarista brasileiro que estudou a situação das prisões do país, destaca que, em 1941, o Brasil tinha cerca de 340 mulheres presas, o que representava cerca de 6% da população masculina nas penitenciárias. VER NAQUELE LIVRO VELHO E GIGANTE
Em 1940, Código Penal já trazia em seu artigo 29 uma preocupação em separar a população feminina da masculina no cárcere:
§ 2° As mulheres cumprem pena em estabelecimento especial, ou, à falta, em secção adequada de penitenciária ou prisão comum, ficando sujeitas a trabalho interno.
§ 3º As mulheres cumprem pena em estabelecimento especial, ou, à sua falta, em seção adequada de penitenciária ou prisão comum, sujeito a trabalho interno, admitido o benefício do trabalho externo. 	
O Código trazia consigo a necessidade de um estabelecimento prisional especial para mulheres, de forma que reconheça suas necessidades diferentes das dos homens.
Em 1941, para atender as exigências do Código Penal de 1940, foi inaugurado o Presídio de Mulheres do Estado de São Paulo, o primeiro estabelecimento penitenciário do Brasil exclusivo para a população feminina. Sua gestão não era laica como vemos hoje em dia. Nesse presídio os serviços administrativos, a disciplina e a guarda das sentenciadas foram entregues pelo governo estadual as freiras católicas da Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor de Angers, que permaneceu nesse posto por mais de três décadas.
As freiras do Bom Pastor não ficaram apenas na gestão do presídio de São Paulo, mas também foram contratadas para gerir o Presídio Feminino de Tremembé, desde sua inauguração em 1973 até 1980, quando foi entregue a nova gestão que era laica. 
Conforme exposto acima, o Código Penal previa que o cumprimento de pena das presas deveria ser acompanhado de trabalho e instrução, no entanto, o decreto de criação do Presídio de Mulheres quanto o projeto do Bom Pastor estabelecia que esses trabalhos deveriam ser voltados a atividades do lar (costura, lavar e passar roupas). 
Na imagem, trabalho no Presídio de Mulheres do Estado de São Paulo – Foto: Acervo do Museu Penitenciário Paulista. (Paulista)
No que diz respeito a educação, era reduzido apenas a alfabetização, ensino primário e religioso. Com isso, podemos notar que há uma “domesticação do regime de execução penal”. Além disso, o próprio espaço físico da penitenciária era como uma casa. Ao ingressar o local, as mulheres tinham uma definição profissional e caso alguma delas não possuísse era rotulada como doméstica. 
Essa domesticação era defendida com o argumento de que possibilitava a empregabilidade futura das mulheres, de acordo com o ambiente que iriam frequentar após saírem da prisão. “Criaturas do lar, para o lar voltariam agora na condição de trabalhadoras”, denuncia Angela Teixeira Artur (ARTUR, s.p, 2017)
Não obstante, é nítido que a Congregação tinha interesses na gestão prisional, o trabalho com as mulheres infratoras “estava na essência de sua missão religiosa”, estará à frente da gestão das novas penitenciárias que surgiram no Brasil traziam a instituição prestígio social, garantindo também a remuneração de seus integrantes e o planejamento e realização de outras atividades da Congregação, uma vez que o trabalho era realizado através de contrato onde previa rendimentos mensais ou anuais fixos.
Perfil das Mulheres Privadas de Liberdade no Brasil
Sabemos que desde o surgimento dos primeiros estabelecimentos prisionais no Brasil, olhava-se apenas aos homens, construindo esse sistema prisional exclusivamente a eles. Tal fato já explica por si a insuficiência de políticas públicas voltadas a população carcerária feminina. 
Quando analisamos dados referentes a população carcerária feminina no Brasil se faz claro que mulheres são minorias em sistemas carcerários, e por conta disso:
 “Assim, ignoramos as transgressões de mulheres como se pudéssemos manter isso em segredo, a fim de controlar aquelas queainda não se rebelaram contra o ideal da ‘feminilidade pacífica’. Ou não crescemos ouvindo que a violência faz parte da natureza do homem, mas não da mulher? É fácil esquecer que mulheres são mulheres sob a desculpa de que todos os criminosos devem ser tratados de maneira idêntica. Mas igualdade é desigual quando se esquecem das diferenças. É pelas gestantes, os bebês nascidos no chão das cadeias e as lésbicas que não podem receber visitas de suas esposas e filhos que temos de lembrar que alguns desses presos, sim, menstruam [...]” (QUEIROZ, 2015, p. 19)
Ao longo do tempo, mulheres assumiram lugares sociais opostos aos que, antes, lhe foram destinados, acabando com a imagem social criada da mulher, conforme abaixo exposto:
“[...] A medicina social assegurava como características femininas, por razões biológicas: a fragilidade, o recato, o predomínio das faculdades afetivas sobre as intelectuais, a subordinação da sexualidade à vocação maternal” (DEL PRIORE, 1997, p. 304).
Nesse sentido, cria-se então uma lacuna entre o que a sociedade idealizou da mulher e o que era a realidade. Ao analisarmos o gênero sob a ótica de mulheres em situação de encarceramento, percebemos que há vulnerabilidades existentes e que necessitam de ambientes onde possam ter a devida atenção.
Com base nos dados apresentados pelo SISDEPEN, até junho de 2020, podemos destacar que 16.558 mulheres encarceradas são consideradas pardas, 10.331 são brancas, 4.741 são negras, 243 amarelas e por fim, 65 indígenas.
A maioria dessas mulheres são jovens de 18 e 29 anos, solteiras e com baixa escolaridade, e 62% dessas mulheres foram presas pelo crime de tráfico de drogas. Nem sempre a pratica desse crime foi recorrente entre mulheres, antes, os delitos mais praticados eram passionais.
O tráfico passou a ser o responsável pelo aumento das mulheres na prisão na década de 1970, tal aumento decorre da facilidade que se encontra em praticar tal ato. As mulheres não são alvo da polícia quando o assunto é tráfico, o que faz com que traficantes aliciem jovens adolescentes e mulheres para facilitar a venda.
Neste contexto, expõe Ribeiro que: "Uma explicação possível para esse fenômeno é a facilidade que a mulher possui para circular com a droga pela sociedade, por não se constituir em foco principal da ação policial.” (RIBEIRO, p. 64, 2003)
Durante toda a história, as mulheres precisaram lutar para conseguir os direitos básicos como por exemplo o acesso à educação, o direito ao voto e o direito de poder ingressar ao mercado de trabalho. As primeiras bandeiras para o direito básico de poder aprender a ler e escrever, foram levantadas em 1827, de acordo com Duarte (2019). Posterior a isso, novas pautas foram sendo levantadas como necessárias, como o direito ao voto, por exemplo, sendo adquiridas somente em 1932, uma vez que os argumentos utilizados ainda segundo a autora, de que os “sagrados deveres femininos” eram incompatíveis com a participação delas na esfera política.
	Dessa forma, percebemos que ainda é bastante recente a entrada das mulheres no mercado de trabalho, pois ainda há muitas barreiras colocadas, como por exemplo, a maternidade. A concepção de que é dever somente e exclusivamente da mulher os serviços relacionados ao lar e ao cuidado dos filhos. Tendo os pontos acima salientados, como o atraso a alfabetização, inserção desses sujeitos em lugares dignos de trabalho, alguns fatores como a baixa escolaridade, ambiente em que vivem, e a baixa renda influenciam o seu envolvimento no tráfico de drogas, fazendo com que a sua única fonte de sustento venha da conduta criminosa. Sendo assim, as mulheres deixam de ser vinculadas a crimes “femininos”, infanticídio, aborto, sendo inseridas de forma generalizada, na criminalidade de pobreza.
Outro fator de muita relevância é as relações afetivas de mulheres com homens que são traficantes. Percebe-se que a mulher encarcerada sofreu influências masculinas diretas ou indiretas que a levaram a sua prisão. Como quando estes as induzem ao cometimento ou participação do crime ou então, a assumir a culpa sozinha para livrá-lo do cárcere, servindo como escudo contra a ação policial e outra vez vítima de sua própria natureza. (Grupo de trabalho Interministerial, s/p, 2008)
“A inserção da mulher no tráfico pode ocorrer de forma independente, porém, comumente ocorre por influência de uma figura masculina que pode ser pai, irmão, filho e, principalmente, namorado ou marido.” (SOUZA, 2009)
O envolvimento da mulher em práticas ilícitas influenciadas por homens nos remete às representações sociais sobre a afetividade relacionadas às mulheres. Nesse sentido, as relações afetivas são extremamente importantes para a compreensão das motivações que levam a uma lógica tão complexa nas representações e nos papeis que os indivíduos formulam para si e para o outro.
Ainda assim, o perfil dessas mulheres sentenciadas não mudou muito ao longo dos anos, em geral, são mulheres que possuem filhos, não tem formação escolar, pertencem a uma camada social com poucos recursos para garantir a própria subsistência, com a idade variável a partir dos 18 anos até os 70, e que na época do fato que cometeram estavam desempregadas.
Dessa forma, nota-se que seguem um padrão de perfil, de acordo com os fatores sociais e econômicos. Prevalecem os perfis de mulheres pardas e negras com baixa escolaridade, tal retrato só reforça o de toda população prisional brasileira.
Um fato comum em estabelecimentos prisionais é a mulher na condição de mãe. Quando são detidas, seus filhos são acolhidos por parentes ou instituições. Apenas 19,5% dos pais assumem a guarda das crianças, os avós maternos assumem a guarda da criança em 39,9% dos casos, 2,2% dessas crianças vão para orfanatos, 1,6 acabam presos e 0,9% se tornam internos de reformatórios juvenis.
O CÁRCERE E A MATERNIDADE
Por muito tempo temos ouvido falar sobre a superlotação dos presídios, sua estrutura precária e as dificuldades enfrentadas pelos presidiários, porém é de se notar que os presídios estudados são de população masculina, uma vez que existem pouquíssimos presídios femininos construídos especificamente para mulheres, se formos comparar com os construídos para homens. Surge então a necessidade de dar uma atenção especial para esses presídios femininos, uma vez que possui características extremamente particulares e de grande relevância social. Além das mazelas estruturais que já são comuns ao próprio sistema carcerário geral e as violações do direito das mulheres presas, o aprisionamento feminino traz algo de extrema importância: a maternidade.
A prisão feminina deve ser estudada de forma diferenciada da prisão masculina, uma vez que tem suas particularidades tão especificas e delicadas, sendo uma das principais a maternidade. Ao analisarmos o contexto da prisão, já é de se observar que a vivência dentro do presídio já é precária para as mulheres em geral, ao envolvermos a maternidade isso se agrava.
A Estrutura do Presídio Feminino
Sabemos que desde o surgimento das primeiras unidades prisionais no Brasil, apenas as especificidades masculinas eram observadas, o que contribuiu para a criação desse sistema prisional onde é feito exclusivo a homens. Partindo disso já podemos observar o porquê da insuficiência de políticas públicas pensadas e desenvolvidas para o público feminino.
Em se tratando especialmente das mulheres e o ambiente prisional, podemos notar que estão expostas a sofrerem as mesmas dificuldades dos homens, juntamente com o machismo e o preconceito. 
Outro problema que essas mulheres enfrentam é o próprio ambiente prisional, o Estado tem o dever de separar as unidades prisionais conforme o gênero, além de necessário é um fato contribuinte para a efetivação de políticas públicas nesse segmento.
As prisões femininas além das dificuldades em comum com as masculinas, enfrentam também a precariedade de atendimento médico antes, durante e após a gravidez, separação precipitada das mães e seus filhos (as), escassez de roupas e materiais íntimos.
O sistema prisionalacentua a vulnerabilidade de gênero, tendo em vista que os presídios são construídos pensando no público masculino e adaptado para mulheres, assim se torna incapaz de observar as especificidades indispensáveis a espaços e serviços que são destinados as sentenciadas.
Atualmente possuímos 53 penitenciárias femininas no Brasil, porém, muitas mulheres são mantidas em delegacias policiais e carceragens com superlotação e estrutura precária, esses fatos estão associados a mulheres terem um tratamento semelhante aos dos homens.
A justificativa para a falta de um olhar diferenciado com práticas humanizadoras no que diz respeito à diversidade de gênero, no âmbito das prisões de mulheres, reproduzem visões simplistas unicamente focadas na questão numérica, tendo em vista que do total de 548.0031 da população carcerária, 35.039 são mulheres, o que equivale a um percentual de cerca de 7%. No Brasil, o déficit carcerário feminino cresce à medida que a quantidade de mulheres que ingressam nos estabelecimentos prisionais aumenta, pois além da conjuntura socioeconômica, falta, também, uma política efetiva para a construção permanente de vagas. O déficit carcerário feminino atual é de aproximadamente 13 mil vagas. (Política Nacional de Atenção às Mulheres, 2004)
Existe uma luta diária das mulheres encarceradas por higiene e dignidade. Os cárceres femininos do Brasil são escuros, superlotados e em sua totalidade encardidos. Em muitos deles, as mulheres dormem no chão. Os vasos sanitários, além de não terem portas, possuem descargas inutilizáveis ou falhas e canos estourados que resultam no vazamento de cheiros das necessidades básicas da digestão humana feitas por elas. Itens pessoais, como produtos de banho, papel higiênico, acabam sendo moeda de troca de grande valor (SOBRINHO; GEBARA, s.p, 2021).
O artigo 196 da Constituição Federal de 1988 garante que a saúde é um direito de todos, e é dever do Estado garantir, através de políticas sociais e econômicas que tenham por objetivo reduzir o risco de doenças, o acesso universal e igualitário a ações e serviços que promovam sua proteção e recuperação. 
Dados do Infopen mostram que apenas 41% dos presídios femininos e 34% dos mistos possuem locais para visitas íntimas, e não mais que 16% possuem dormitórios para gestantes. Somente 14% dos estabelecimentos prisionais nacionais contam com berçários ou centros materno-infantil (INFOPEN, 2017).
Na totalidade das 53 unidades prisionais femininas, há apenas 7 equipes próprias de pediatria, 10 equipes próprias de ginecologistas, 13 creches com capacidade para 192 crianças, 52 berçários ou centro de referência materno-infantil com uma capacidade de 568 bebês, 3 equipes próprias de cuidadores, e apenas 69 dormitórios ou celas adequadas para gestantes. (INFOPEN, 2020)
Informações apontam a HIV como a principal doença presente na população carcerária feminina, seguido da Sífilis, Hepatite e Tuberculose.
Gráfico 5- Doenças Patológicas Presentes na População Feminina de Janeiro a Junho de 2020.
(SISDEPEN, 2020)
A Maternidade no Sistema Penitenciário
O sistema penitenciário já se faz ineficaz quando nos atentemos a forma com que as mulheres são tratadas e, ao analisar isso ligado a maternidade, só se torna mais complicado, uma vez que a saúde prestada para a mãe e para o bebê é inviável. Há um déficit de profissionais nos estabelecimentos, e uma cultura desumana sem empatia com as reclusas. Um estudo realizado pela Fiocruz em 2017, descreve o perfil das mulheres encarceradas que vivem junto com seus filhos nas unidades prisionais, tal estudo revela que mais de um terço das mulheres presas grávidas relataram que tiveram de usar algemas durante a internação para o parto. (CASTRO, s.p, 2017)
A análise foi feita com base em uma série de casos, e foi realizada de agosto de 2012 a janeiro de 2014. Nessa pesquisa foram ouvidas 241 mães, desse total 45% possuíam menos de 25 anos de idade, 57% eram pardas, 53% com menos de oito anos de escolaridade, e 83% possuía mais de um filho.
O acesso ao pré-natal dessas mulheres foi inadequado em 36% dos casos estudado, e durante o período de hospitalização 15% afirmaram que sofreram algum tipo de violência (verbal, física ou psicológica),
Nesse sentido:
“Visitamos todas as prisões femininas de todas as capitais e regiões do Brasil que recebem grávidas e mães. Verificamos que foi baixo o suporte social e familiar recebido, e foi frequente o uso de algemas na internação para o parto, relatado por mais de um terço das mulheres. Piores condições da atenção à gestação e ao parto foram encontradas para a mães encarceradas em comparação as não encarceradas, usuárias do SUS. O estudo mostrou também que havia diferença na avaliação da atenção recebida durante a internação para o parto de acordo com a condição social das mães. Foi menor a satisfação para as pobres, as de cor de pele preta ou parda” (LEAL,s.p, 2016)
A lei que veda o uso de algemas em mulheres em trabalho de parto só foi sancionada em 12 de abril de 2017.
“Art. 292 Parágrafo único. É vedado o uso de algemas em mulheres grávidas durante os atos médico-hospitalares preparatórios para a realização do parto e durante o trabalho de parto, bem como em mulheres durante o período de puerpério imediato.”
Até 2017, era comum o uso de algemas em presas que estavam em trabalho de parto, mesmo existindo uma resolução do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária feito em 2012, que proíbe que seja colocado algemas em gestantes que estão prestes a dar à luz ou no momento em que estão amamentando seus filhos. 
Na maioria dos estados brasileiros, mulheres grávidas são transferidas de presídios apenas no terceiro trimestre da gestação, indo para unidades prisionais que possuam berçário ou centros materno-infantil, geralmente estão localizadas em regiões metropolitanas e capitais.
Essas mulheres são levadas ao hospital público para realizar o parto, e após dar à luz retornam a mesma unidade prisional onde permanecem com o bebê pelo período de 6 meses a 1 anos, após esse prazo a criança tem sua guarda atribuída a algum familiar ou é direcionada a um abrigo, enquanto a mãe retorna a sua prisão de origem.
A lei 11.108, de 7 de Abril de 2005 traz em seu artigo 19-J que o Sistema Único de Saúde – SUS-, da rede própria ou conveniada, são obrigados a permitir que a parturiente tenha um acompanhante durante todo o período do trabalho de parto, parto e pós-parto imediato. Sendo o acompanhante alguém que a própria gestante indicou.
Quando observamos as datas das leis que são responsáveis por garantir o mínimo de direito e dignidade as mulheres encarceradas, todas são recentes, sendo isso apenas um reflexo do contexto social em que se construíram os presídios, bem como um reflexo da nossa sociedade atual.
O Estado brasileiro e seu sistema de justiça criminal deve considerar todas as particularidades feminina durante o julgamento e execução da pena destas mulheres, é necessário que sejam preservados todos os seus direitos enquanto cidadãs brasileiras, e os direitos da vida que ela carrega em seu ventre. 
0.1.1 A Permanência da criança nas creches prisionais em conflito com o Princípio da Pessoalidade
A lei de execução penal, lei 11.942 de 2009 em seu artigo 89 §2° regulamenta sobre as penitenciarias serem dotadas de seções para gestantes, parturientes e creches para abrigar as crianças, sem desampara-las enquanto sua responsável estiver presa. Sendo inicialmente por 6 meses, tendo a possibilidade de aumentar esse prazo até que a criança tenha idade inferior a 7 anos. 
Podemos observar que até há um pequeno empenho em assegurar melhores condições de saúde e espaços adequados para as mulheres e a permanência de crianças nas dependências do estabelecimento prisional durante o período de amamentação. Porém, ao analisarmos e confrontarmos tal lei com o princípio da pessoalidade, entende-se então que a criança pode permanecer na creche da unidade prisional até 7 anos incompletos, tal lei não é satisfatória nesse quesito, uma vez que fere o princípio da pessoalidade,pois submete a criança por muito tempo ao cárcere, “transferindo a pena da mãe à criança”. O princípio da pessoalidade, veda a vinculação da pena a um terceiro que não seja o agente sentenciado. Nesse sentido, Ester Eliana Hauser, Hermínia Wilhelmina Bernardes Iora e Vanessa Aléxia Ragazzon definem:
Princípio da pessoalidade ou da intranscendência. Inscrito no artigo 5º, inciso XLV da Constituição Federal diz que “nenhuma pena passará da pessoa do condenado”. Para uma melhor compreensão deste princípio é preciso observá-lo de uma forma mais ampla. Primeiramente, trata-se de uma disposição que estabelece uma proibição: o cumprimento da pena não pode ser realizado por terceiro. Ocorre que, na prática, os efeitos da pena, muitas vezes, transcendem a pessoa do apenado refletindo material e moralmente na vida de terceiros que conviviam com o preso. Referente à temática discutida neste artigo, o encarceramento provisório da gestante/genitora impacta totalmente a vida dos seus filhos. Impossível discordar que uma penitenciária não é um ambiente apropriado para infantes, principalmente nas condições em que se encontram os presídios brasileiros. Portanto, o princípio da personalidade da pena vinha sendo constantemente ferido, tendo em vista a situação de crianças que, ao necessitarem dos cuidados de mãe, viam-se, também, presas. Como se tivessem recebido uma condenação, os filhos das apenadas cumpriam pena em conjunto com suas genitoras. (HAUSER; IORA; RAGAZZON, p. 8, 2018)
Nesse sentido, apesar da lei buscar garantir direitos a mãe tais como: um estabelecimento prisional unicamente feminino, alas com creches e berçários, suporte em todo seu período de gestação, entre outros, não se preocupa com a criança que passará parte de sua infância em cárcere, compartilhando a pena de sua genitora, vivendo em um ambiente onde é nítido que não é saudável para seu desenvolvimento.
A Saúde Materna
Conforme consta na Constituição Federal Brasileira, a saúde é um direito de todos, inclusive das mulheres sentenciadas a privação de liberdade, e o Estado é o principal responsável e único garantidor desse direito.
A organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que: “Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas mera ausência de doença ou enfermidade.” A partir desse conceito, devemos adotar um olhar ampliado referente as condições sociais de cada indivíduo, que são: econômicos, culturais, raciais, psicológicos, comportamentais. Todos esses aspectos interferem diretamente no estado de saúde de cada pessoa.
Como já exposto anteriormente neste trabalho, grande parte das mulheres sentenciadas é de origem socioeconômica vulnerável, e com baixa escolaridade, ao analisarmos esse contexto juntamente com a passagem delas pela prisão estando gestantes fica claro que estamos falando de mulheres extremamente desamparadas, e sem a atenção que o Estado deveria prestar. 
Quando uma mulher está grávida, acaba passando por mudanças extremamente significativas, que se intensificam no ambiente prisional e afetam diretamente não apenas sua saúde, mas também a vida que está em formação em sua barriga e que depende diretamente do seu bem-estar, nesse sentido: 
O embrião ou feto reage não só às condições físicas da mãe, aos seus movimentos psíquicos e emocionais, como também aos estímulos do ambiente externo que a afetam. O cuidado com o bem-estar emocional da mãe repercute no ser que ela está gestando. (SANTOS, p. 19, 2014)
 
Estudos realizados são unanimes em mostrar que atenção especial ao pré-natal, com consultas, exames e tratamentos são fatores necessários a fim de proteger a mãe e o bebê contra a prematuridade, baixo peso ao nascer e o óbito perinatal. Além disso, garante a proteção da saúde da mãe com exames rotineiros de cautela, podendo assim evitar a possível ocorrência de problemas obstétricos, prevenindo danos a mãe e ao bebe na hora do procedimento.
O artigo 8, em seu parágrafo 4° do Estatuto da Criança e do Adolescente, assegura o direito de gestantes e mães presas referente ao acompanhamento médico e psicológico durante o pré-natal, parto e o pós-parto, se por algum motivo tal direito não for respeitado, a Defensoria Pública deverá ser comunicada.
Segundo o estudo realizado pelos professores Eliete da Cunha Araujo e Fábio André Souto Lima juntamente com as alunas Rafaela de Souza e Silva e Valéria Nascimento da Gama Azevedo, estudantes do curso de medicina da Universidade Federal do Pará, em 2006, relatou que a sífilis pode ser facilmente diagnosticada quando realizado um pré-natal adequado. A realização do pré-natal de forma inadequada, seja por seu início tardio ou pela não realização de consultas representa um fator de extrema importância para explicar diversos casos de sífilis congênita. (2006, p.49)
Se faz de extrema importância que sejam feitos corretamente tais exames que diagnostiquem possíveis doenças da mãe que são transmissíveis aos bebês para evitar que tais doenças se espalhem cada vez mais. Como salientado anteriormente, dados do SISDEPEN registraram quem de janeiro a junho de 2020 a sífilis foi a segunda doença mais presente entre o público feminino em cárcere, ficando atrás apenas da HIV. Em hipótese nenhuma, a mulher presa será obrigada a realizar exames sem sua autorização, e os médicos não poderão divulgar o resultado de qualquer exame sem o consentimento da detenta. 
A atenção a gestante deveria ser prestada desde sua admissão a unidade prisional, com testes de gravidez durante o exame de ingressante. Tal medida já facilitaria e avançaria com o cuidado pré-natal, porém na prática isso não ocorre. A mulher deveria ser vinculada a uma maternidade onde seu parto será realizado, de forma que possa se familiarizar com o ambiente, bem como criar vínculos com os profissionais de saúde responsáveis pelo seu tratamento durante toda a gestação e pela saúde do bebe ao nascer. 
Essa necessidade vai além das mulheres em estabelecimentos prisionais, não há tal suporte do Estado nem mesmo por mulheres que tem sua liberdade. Essas questões merecem serem reconhecidas pelo Estado, uma vez que ultrapassam os problemas das penitenciarias, estando presente na nossa sociedade, sendo problemas sérios de saúde pública da realidade brasileira.
Foi realizada uma pesquisa a Nascer na Prisão: gestação e parto atrás das grades no Brasil, onde cinco estudiosos entrevistaram 241 mulheres gestantes em prisões na capital e em regiões metropolitanas, a respeito do trabalho de parto e do parto em si: 
	Tabela 1. Trabalho de Parto e Parto das 241 mães encarceradas em unidades prisionais de regiões metropolitanas e capitais do Brasil.
(continua)
	Tempo entre o Início do Trabalho de Parto Atendimento Prisional
	N°
	%
	Primeiros 10 minutos
	91
	39,9
	10 a 30 minutos 
	54
	23,7
	30 minutos á 1 hora
	26
	11,4
	1 a 5 horas
	38
	16,7
	Mais de 5 Horas
	19
	8,3
	Transporte para o Local do Parto
	N°
	%
	Carro da Polícia
	85
	36,6
	Ambulância
	143
	61,7
	Carro Particular
	4
	1,7
	Tipo de Parto
	N°
	%
	Vaginal 
	154
	64,7
	Cesário
	84
	35,3
	Visita Durante a Gravidez
	N°
	%
	Não
	90
	37,3
	Sim
	151
	62,7
	Pai do Bebê
	39
	16,2
	Avôs
	99
	41,2
	Outros
	111
	46,1
	Acompanhada por Familiares Durante a Internação
	N°
	%
	Acompanhadas
	7
	2,9
	Sem Acompanhantes
	231
	97,1
	Violência ou Maltrato por parte de Guardas ou Agente Penitenciários
	N°
	%
	Não
	208
	86,0
	Sim
	33
	14
	Verbal
	21
	63,6
	Psicológica
	21
	63,6
	Física
	6
	18,2
	Violência ou Maltrato por parte de Profissionais de Saúde
	N°
	%
	Não
	201
	84,4
	Sim
	37
	15,6
	Verbal
	22
	59,5
	Psicológica
	18
	48,6
	Física
	10
	27,0
Fonte: Tabela elaborada pela autora com base no artigo. Nascer na prisão: gestação e parto atrás das grades no Brasil, 2016.
Tendo como base a tabela acima, pode-se notar que as mulheres encarceradas na condição de gestante, não são totalmente amparadas da forma como deveriam ser. No que tange ao trabalho de parto, notamos que a maioria das mulheres não recebem acompanhamento no momento de sua internação, o quepotencialmente pode trazer insegurança e medo, uma vez que as mesmas já se encontram em situação precária – como salientado anteriormente ao longo desse estudo- e agora se encontram em uma situação de vulnerabilidade.
O parto deve ser realizado em condições dignas. Guardas penitenciários não podem ficar na sala durante o parto, deve ser garantido o direito da presa ao parto humanizado respeitando seu direito a intimidade.
A lei 11.108/05 em seu artigo 19J garante o direito da mulher grávida a indicar um acompanhante, com antecedência e cadastrado na lista de visitantes do presidio para que acompanhe seu parto. Após o nascimento da criança, o pai deverá ser localizado, assim que a mãe o indicar, se por acaso estiver preso será necessário que as esquipes do presidio conversem entre si para que o registro seja providenciado e conste o nome do pai do bebê. Ainda que não haja indicação referente ao nome do pai, a mãe poderá registar a criança. Em possíveis casos de nascimento dentro do estabelecimento prisional, de forma alguma, isso poderá constar na certidão de nascimento.
Fica garantido o direito de visita à mãe quando o recém-nascido tiver que permanecer no hospital após a alta da mãe, de forma que seja possível amamentar o bebê bem como a mãe acompanhar seu desenvolvimento. Fica assegurada a criança, durante sua permanência no presidio o acompanhamento ao pediatra, e em caso de necessidade de internação, deverá ser acompanhado pela mãe, conforme assegura o artigo 120 da Lei de Execução Penal.
As Crianças
O instituto legal responsável por dar amparo às crianças e adolescente é o Estatuto da Criança e do Adolescente, fundado no principio do melhor interesse da criança. Esse princípio deve ser a base de todos os casos que envolvam a criança e o jovem adolescente, procurando sempre observar o que é melhor ao interesse delas.
Enquanto mãe estiver presa, e após o período de amamentação, a criança deverá ficar com um familiar, alguém que possua um laço afetivo, que pode ser indicado pela mãe através da Defensoria Pública. A criança será entregue através de um processo de guarda, onde os cuidados referentes a ela são transferidos a alguém de confiança da mãe ou a um familiar. Após ser transferida a guarda, quando a mãe estiver em liberdade, poderá pedir a modificação dessa guarda. Na situação em que o familiar deseja adotar a criança, a mãe será comunicada, e poderá indicar se concorda ou não com isso, bem como também poderá ser representada por advogado ou Defensor Público para manifestar seu direito de defesa.
Está prevista no art. 1.584, §5º do Código Civil: “se o juiz verificar que o filho não deve permanecer sob a guarda do pai ou da mãe, deferirá a guarda à pessoa que revele compatibilidade com a natureza da medida, considerados, de preferência, o grau de parentesco e as relações de afinidade e afetividade.” Porém, ainda é possível que a mãe reveja essa decisão após sua soltura.
Mulheres Estrangeiras
A respeito das mulheres estrangeiras é importante comentarmos sobre a repatriação, que é uma medida quando estrangeiras presas desejam enviar seus filhos à sua família no seu país de origem. Na maioria dos casos, o familiar responsável pela criança deverá vir até o Brasil para busca-lo, e abrir um pedido de autorização para viagem ao exterior e expedição de passaporte, na Vara da Infância e Juventude. É importante que a mulher tenha conhecimento desse direito e converse com o seu consulado para saber se presta assistência, e também com a Defensoria Pública para obter informações sobre como dar inicio a esse processo. (Mães em Cárcere, p.16, 2017)
A GARANTIA DO DIREITO DAS MULHERES 
No nosso ordenamento jurídico há garantias explicitas referente a proteção da população carcerária que buscam assegurar um tratamento humanizado, respeitando todos os direitos que não são afetados pela privação de liberdade, para resguardar a integridade física e moral das pessoas presas. 
Para tanto, a Lei de Execução Penal estabelece um rol de assistências que devem ser garantidas aos presos, que basicamente dizem respeito a assistência médica, jurídica, educacional e social, além disso, a mencionada lei busca promover condições para a harmônica integração social da condenada, assim é importante observar que a mulher gestante ou no período de amamentação, encontra-se em uma situação de vulnerabilidade, e por tal motivo deve receber condições de tratamento específicas para que não seja ainda mais prejudicada.
O Acesso à Justiça 
Conforme resguarda a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5° LXXIV, o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aqueles que comprovarem ser insuficientes de recurso, nesse sentido, ainda no texto da Constituição Federal, seu artigo 134 vem para dar forma a instituição responsável por efetivar o artigo 5° LXXIV. A Defensoria Pública é uma instituição permanente e essencial a função jurisdicional, que tem a responsabilidade de prestar orientação jurídica, promover os direitos humanos e defender em todos os graus os direitos individuais e coletivos de forma integral e gratuita a quem necessite.
Porém, o sistema brasileiro, conta com uma população prisional extensa e um número pequeno de defensores públicos, com a cultura do encarceramento sendo a principal política social de segurança pública acaba acarretando em um aumento descontrolado de pessoas presas, o que simultaneamente contribui ao acesso precário a justiça.
A precariedade de acesso à assistência jurídica leva à falta de acesso a informação, e com isso há pouca participação do réu no processo, tornando assim o exercício da defesa precário.
Outro fator que é importante estabelecer, é que quando uma mãe vai presa, muitas vezes ela sequer sabe onde o juiz determinou que ficasse seus filhos, falta uma comunicação entre a mulher presa e o responsável por julgar para onde vai a guarda dessa criança
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0.1.2 Defensoria Pública e Mães em Cárcere
Existe um trabalho desenvolvido pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo que se chama “Mães em Cárcere”, que é voltado a mulheres presas que são mães de filhos de até 17 anos, ou que possuam alguma deficiência física, intelectual ou estão grávidas, esse projeto tem como uma das principais ações o pedido de prisão domiciliar, além de solicitar o pedido de realização do pré-natal às mulheres grávidas que ainda não o realizaram, a busca por identificar onde está a criança e sua situação após p encarceramento da mãe, e requerer que o abrigo leve a criança para fazer visitas a mãe.
Há uma cartilha, onde constam todos dos direitos das mães em prisão com suas fundamentações legais e orientações para que a mulher esteja informada de seus direitos e deveres, bem como o que pode acontecer com a criança após sua condenação.
0.1.3 O Processo de Perda do Poder Familiar
O poder familiar é a relação de direitos e obrigações que a mãe possui sobre seus filhos, durante a prisão fica suspenso, com o cumprimento de pena a mãe volta a ter o poder familiar sobre os filhos.
Basicamente o processo de perda do poder familiar se dá quando a mulher tem um filho durante o período que permaneceu na prisão, após a criança permanecer durante o prazo mínimo para a amamentação, que é de 6 meses, a equipe do presídio a encaminha para uma instituição de acolhimento, um abrigo. A equipe do abrigo, tem o objetivo de encontrar familiares que podem ficar com a criança, podendo ser pai, avós, tias, irmãos mais velhos e etc. Se, não for encontrado familiares para cuidar da criança durante o resto de cumprimento de pena da mãe, o Ministério Público entende que o bebê está em situação de risco devido a quantidade de tempo que ainda passará no abrigo, e a partir disso abre um processo de perda do poder familiar, que irá avaliar de a mãe tem condições de manter suas obrigações enquanto responsável pela criança. Se o juiz entender que não é possível, a mãe perde o poder familiar e a criança é encaminhada para a adoção.
A mulher pode se defender no processo, devidamente representada pela Defensoria Pública, e o juiz develocaliza-la por todos os meios possíveis. Se, a sentenciada não for encontrada, o juiz nomeará um advogado ou Defensor Público para atuar em sua defesa.
É também através da Defensoria Pública que a mãe localizará a criança quando estiver em um abrigo, encaminhando carta ou através de seus familiares. Por isso é importante informar a instituição todos os dados que facilitem a localização da criança.
Há ainda a possibilidade de recorrer quando o juiz determinar que a criança vá para o abrigo, porém a Defensoria é quem avaliará o caso, a mãe presa tem a possibilidade de indicar o nome de algum familiar que ainda não havia sido indicado. No tocando a adoção, também é função da Defensoria avaliar se há como recorrer, porém, quanto maior o tempo que a criança estiver com a família nova, mais difícil será reverter essa situação.
Para que aconteça esse processo de perca do poder familiar é necessário que a mãe seja condenada criminalmente, conforme dispões no artigo 92 da lei 13.715/2018:
Artigo 92 – São também efeitos da condenação:
II – à incapacidade para o exercício do poder familiar, da tutela ou da curatela nos crimes dolosos sujeitos à pena de reclusão cometidos contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar, contra filho, filha ou outro descendente ou contra tutelado ou curatelado;
Então para que aconteça a perda do poder familiar, a mulher deve ser condenada por crime doloso cometido conta outra pessoa igualmente titular do poder de família, contra um filho ou filha, descendente, tutelado ou curatelado.
Cleber Masson, sustenta que:
Essa incapacidade pode ser estendida para alcançar outros filhos, pupilos ou curatelados, além da vítima do crime. Não seria razoável, exemplificativamente, decretar a perda do poder familiar somente em relação à filha de dez anos de idade estuprada pelo pai, aguardando fosse igual delito praticado contra as outras filhas mais jovens, para que só então se privasse o genitor desse direito. (MASSOM, p. 798, 2009)
Nesse sentido, a perda do poder familiar pode ser estendida em relação aos outros filhos, uma vez que não é preciso que o responsável cometa novamente crime doloso para que seja privado desse direito.
A Lei de Execução Penal 7.210/84
Ao tratarmos sobre o direito das mulheres no cárcere, é importante lembrarmos que na esfera criminal é possível que alguém seja preso cautelarmente, ou seja, quando não há ainda sentença penal condenatória com transito em julgado para aquela acusação. Então, ainda que o indivíduo não possua condenação, o dolo ou culpa não tenha sido comprovado, ele fica restrito de sua liberdade com o objeto de defender interesses maiores. As prisões cautelares existentes no nosso ordenamento jurídico são: prisão preventiva, prisão temporária e prisão em flagrante.
A Constituição de 1988 estabeleceu que os homens e as mulheres são iguais perante os olhos da lei, porém sob a ótica legislativa ainda percebemos que quando uma lei se refere às pessoas, continua a ser escrita no gênero masculino. Isto nos traz para a própria Lei de Execução Penal, que faz constante uso das palavras interno, recluso, condenado, preso. Este fenômeno pode ser observado desde o primeiro artigo da referida que lei “Art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado. Com advento da referida lei, o procedimento de cumprimento das penas privativas de liberdade moldou-se em regras que davam prioridade ao respeito dos direitos das condenadas e condenados. A ressocialização da apenada (o) passou a ser um objetivo para o Estado, em teoria. No artigo 3º determina que as (os) condenadas (os) serão assegurados todos os direitos que não foram atingidos pela lei ou pela sentença (ANDRADE, p. 25, 2017).
“A lei em seu artigo 3° faz menção ao “condenado” e ao ‘internado”, não fazendo a distinção entre gêneros, cabendo a fazermos uma analogia ao tratar das mulheres.
No artigo 10 a lei traz consigo em seu texto que a assistência a condenada é dever do Estado, para que ele seja evitado futuramente e para garantir o retorno do indivíduo a sociedade. No próximo artigo da mesma lei, é listado em seis incisos as assistências que são dever do estado:
Art. 11. A assistência será: I - material; II - à saúde; III jurídica; IV - educacional; V - social; VI – religiosa
Posteriormente, no artigo 41 da mesma lei, são elencados direitos das pessoas presas, em seu primeiro inciso, traz que é direito das presas a alimentação e a vestuário suficiente, porém ao analisar a realidade, muitas famílias abandonam as presas e o estado não fornece a quantidade correta de alimentos e produtos necessários a encarcerada, restando a desamparada a sobreviver apenas com aquilo que lhe é possível, isso só mostra que, ao tratarmos de mulheres presas, tal artigo é falho. Há casos em que ao repassar o estabelecimento prisional, o vestuário também foi repassado as mulheres para que fosse reaproveitado.
No mesmo artigo, em seu inciso VII, vemos que é direito das mulheres encarceradas o acesso a assistência material à saúde, porém conforme já foi exposto, na grande maioria das vezes, o acesso a saúde da mulher é negligenciado, e isso é de fácil percepção uma vez que nem todas as unidades prisionais sequer possuem médicos ginecologistas, ou materiais para sua higiene. 
Em 22 de agosto de 2020 foi publicada uma notícia a respeito dos absorventes disponibilizados as presas da Penitenciaria de Piraquara, onde foi entrevistada Helen, que visita uma amiga nesse mesmo presidio, do presidio que dizia que qualidade dos absorventes não é boa: 
Eles são do tamanho daqueles pós-parto, só que muito finos e com um cheiro muito forte. Em quem tem um fluxo menstrual intenso, o sangue passa. A prisão dá 16 para cada presa e elas que se virem o mês inteiro [...] Mas para as meninas que são forasteiras, que não recebem visita, é complicado, né? Se ninguém do cubículo tiver absorvente pra emprestar, elas cortam roupas, colocam pano, papel higiênico [...] (Helen, s.p, 2020)
A falta desse item básico que é o absorvente, necessário para saúde intima da mulher, pode acarretar a problemas ginecológicos sérios, aliando isso com a falta de profissionais capacitados nos estabelecimentos prisionais, o problema só se agrava.
A Penitenciária Feminina de Piraquara, até agosto de 2020, custodiava 365 mulheres, com faixa etária predominante de 20 a 30 anos, cada uma dessas mulheres recebia 16 absorventes uma vez ao mês, podendo a família levar dois pacotes contendo oito unidades cada um, se desejar. (Departamento Penitenciário do Paraná, s.p.,2020)
Em março de 2020, a Defensoria Pública do Paraná fez uma inspeção na unidade prisional e encontrou pacotes de absorventes vencidos sendo entregues as presas, além disso as mulheres reclamavam da qualidade do absorvente sendo fornecido.
As mulheres reclamaram muito do número de absorventes e da qualidade. Elas nos mostraram que eram muito finos e não davam conta do fluxo. Além disso, é uma quantidade que nós, mulheres, sabemos que é absolutamente insuficiente. (BRODBECK, s.p, 2020)
Lívia, que é Defensora Pública e coordenadora do Núcleo de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher, relata que os produtos de higiene são comprados por meio de licitação, e que é possível que venha um produto inadequado, mesmo que não deveria acontecer esse tipo de coisa. Ainda que sejam buscados produtos de valores mais baratos, deve ser escolhido aqueles que sirvam corretamente àquilo que é destinado.
Ao ser questionado a respeito disso, o presídio argumenta que o estoque de absorventes é suficiente, e sempre que é necessário é reposto, sendo o problema o comércio entre as sentenciadas, que trocariam absorventes por outras coisas.
Nesse sentido, não é apenas de absorventes que se faz escasso, no mesmo documento apresentado pelo NUDEM, é relatada a falta de papel higiênico. No relatório apresentado, consta que são dados apenas dois rolos de papel por mês para as mulheres a cada 30 dias.Ao compararmos, fica nítido que mulheres tem necessidade de uso maior que dos homens, uma vez que sua questão anatômica faz necessário, além da questão da menstruação.
Segundo dados do Departamento Penitenciário Nacional, de todas as 365 mulheres presas na Penitenciária Feminina de Piraquara, apenas 182 recebiam visitas. Tal dado caracteriza o abandono da família em relação a essas mulheres.
Na mesma reportagem, Waleiska Fernandes, membro do Conselho Permanente de Direitos Humanos do Paraná, diz que conversou com presas que sequer tinham calcinha, que é um item que a família fornece. 
No Paraná, não temos muitas unidades femininas, então as presas são transferidas para as que existem. Imagine que as cadeias têm mulheres de várias cidades, porque crimes são cometidos em todas as cidades, mas nem sempre elas estão em unidades nas suas respectivas cidades. Isso significa que para levar o auxílio – o que a gente chama de ‘jumbo’ ou ‘sacola’ – muitas famílias têm de viajar. Quando a gente fala de mulher, tem também os exames preventivos rotineiros, e isso não existe, porque a Rede de Saúde do Paraná, para atender a população presa, é bem precária. (FERNANDES, s.p, 2020)
Durante a inspeção feita pelo NUDEM, as queixas sobre a falta de ginecologistas também são apontadas, e alguns casos de doença, elas são encaminhadas ao SUS, porém não são as unidades prisionais que possuem um acompanhamento próximo da unidade prisional. (Lívia Salomão Brodbeck, s.p, 2020)
Ainda na mesma lei, em seus incisos X e XV, é tratado a respeito das visitas e a comunicação com o mundo exterior, podendo ser através de correspondência escrita, leitura, e outros meios de comunicação que não comprometam a moral e os bons costumes.
Ao falarmos sobre a visitação, podemos analisar que há abandono da família da encarcerada, o que faz se tornar mais complexa a comunicação a respeito do mundo fora da penitenciária.
Sabendo que as opressões de gênero se configuram como antecessores e consequentes do encarceramento feminino, fatores correlatos circundam a experiência de abandono afetivo sofrido pelas mulheres presas. Além destes, o abandono está também associado às dificuldades que são comuns a toda a população carcerária, como as situações socioeconômicas desfavorecidas dos familiares e distância das prisões dos grandes centros urbanos. Devido à execução do ato infracionário estar concomitante ao rompimento das determinações instituídas às mulheres, grande parcela dessa população é abandonada por seus familiares ao adentrarem o sistema penitenciário, principalmente pelos do sexo masculino. (SANTOS; SILVA, s.p, 2019)
De acordo com Ana Carolina Vingert (2015, p. 29) "apenas as mães das detentas acompanhadas dos filhos pequenos as visitam, sendo raras as visitas de pais e maridos. Geralmente os companheiros refazem a vida, casando-se novamente ou se encontram presos também."
Regras de Bangkok Aspectos Gerais
As Regras de Bangkok, foram aprovadas em dezembro de 2010 pela Assembleia Geral da ONU, e possui esse nome em reconhecimento pelo papel que o governo da Tailândia teve na construção de aprovação das regras. Vem com o objetivo de complementar as Regras Mínimas Para o Tratamento de Presos, que foram aprovadas em 1957 pela Assembleia Geral da ONU. É importante pontuarmos que tal complementação se fez necessária pois em 1957 não era considerada a realidade da mulher presa, e muito menos qualquer especificidade sua, diferentemente das Regras de Bangkok que são especialmente direcionadas a contemplar a realidade da mulher mãe na prisão. 
 Ao discutirmos sobre a problemática que é a condição das mulheres presas, se faz necessário destacar que a Regra de Bangkok vem com a intenção de dar mais respaldo a diversas resoluções editadas pelos diversos Órgãos das Nações Unidas, ao longo do tempo. A referida regra tem como princípio básico a necessidade de considerar que mulheres presas possuem necessidades diferentes e especificas em relação aos homens em cárcere. 
Apesar de ser um documento que propõe um tratamento diferenciado as mulheres em cárcere, visando melhorar o cenário em que se encontram, no seu texto a pena privativa de liberdade é vista como última medida para mulheres enquanto mães e seus filhos, determina ainda que os Estados optem por formas alternativas de lidar com essas mulheres infratoras.
As referidas regras trazem em seu texto, disposições acerca do ingresso, registro, alocação, higiene pessoal, cuidado à saúde, atendimento médico, atenção à saúde mental, prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, a importância do contato com o mundo exterior, a possibilidade de flexibilização do regime prisional, o cuidado especial com as gestantes, entre outros. 
O governo brasileiro engajou-se nas negociações para a elaboração das Regras de Bangkok e a sua aprovação na Assembleia Geral das Nações Unidas, porém no âmbito interno pouco tem sido feito para aplicação dessas diretrizes. As medidas mais significativas que podemos citar são: a) a inclusão dos incisos IV, V e VI no art. 318 do Código de Processo Penal; b) o indulto especial e comutação de penas às mulheres presas que menciona, por ocasião do Dia das Mães, e dá outras providências; e c) inserção do parágrafo único no art. 292 do Código de Processo Penal, que veda o uso de algemas em mulheres em trabalho de parto, durante o parto e no período imediatamente posterior. (OLIVEIRA, s.p, 2017)
Tais regras oferecem diretrizes para o tratamento de mulheres presas. São consideradas “Soft Law”, uma vez que ainda não são leis, porém podem ter um peso normativo significativo. O Brasil, por ser um membro da ONU, tem o “dever” de respeitar a referida regra, mas não sofrerá sanção se não as cumpri-las. 
A primeira regra de aplicação geral traz em seu texto que a finalidade de que o princípio da não descriminação seja colocado em prática, é notório considerar as necessidades distintas das mulheres na aplicação das regras. A referida atenção necessária é com o intuito de atingir a igualdade material entre os gêneros.
O princípio da igualdade pressupõe que as pessoas colocadas em situações diferentes sejam tratadas de forma desigual: “Dar tratamento isonômico às partes significa tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na exata medida de suas desigualdades”. (NERY JUNIOR, 1999, p. 42).
Ao disciplinar a questão do ingresso, as regras já trazem que as mulheres presas devem receber condições de contatar seus parentes, o acesso a assistência jurídica, devem estar cientes das regras da unidade prisional, e seu regime de cumprimento de pena, e onde ela deverá buscar ajuda quando precisar. Aquelas que forem responsáveis pela guarda de alguma criança poderá tomar as providencias necessárias – como a possibilidade de suspender por um período a medida privativa de liberdade – buscando atender o melhor interesse da criança, tal regra é de extrema importância, uma vez que ninguém espera por sua prisão, ou seja, nenhuma mulher está preparada para deixar seus filhos, logo, não há com quem deixar as crianças de imediato. A suspensão provisória da medida privativa de liberdade para que a mulher encontre o melhor ambiente para deixar aquelas crianças que possui a guarda, é de interesse na proteção dessas crianças, visando seu bem-estar, e as melhores condições para seu desenvolvimento. 
Quando o estado leva a mulher presa, sem dar a oportunidade de que ela garanta que seus filhos fiquem em boas condições de cuidado, não é levado em consideração a saúde e nem o desenvolvimento dessas crianças.
Na terceira regra, é regulamentado o registro das mulheres ao ingressar na penitenciaria, onde deverão ser apontados seus dados pessoais junto com os dos seus filhos (idade, nome, e quando não acompanharem a mãe sua localização e situação de custódia ou guarda), toda informação referente a essas crianças deverá ser confidencial, e só poderão ser usadas se forem garantir o melhor interesse delas.
Fica especificada nas regras 6 a 9, a necessidade de uma avaliação ampla quando for o ingresso da sentenciada

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