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ANEMIA APLÁSICA


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HEMATOLOGIA E HEMOTERAPIA - PRISCILA DUTRA - 8º PERÍODO
ANEMIA APLÁSICA 
1. Introdução 
 
→ A falta de Tecido Hematopoiético pode ser causada por 
diversos fatores, incluindo: 
• Atrofia com substituição do Parênquima por Gordura. 
• Proliferação Neoplásica, como no caso de Cânceres 
Hematológicos. 
• Granulomatose, uma condição caracterizada pela 
formação de Granulomas, que podem afetar a Medula 
Óssea. 
• Fibrose, que pode resultar na substituição do Tecido 
Hematopoiético por Tecido Fibrótico. 
• Defeitos Metabólicos que afetam a produção ou a função 
das Células Sanguíneas. 
• Necrose da Medula Óssea, que pode ocorrer em condições 
como trauma grave ou infecções sistêmicas graves. 
 
OBS: o Tecido Hematopoiético é inversamente proporcional a 
idade; 
 
→ A falta de Tecido Hematopoiético pode resultar em uma 
condição conhecida como Pancitopenia. Esta condição é 
caracterizada pela diminuição no Hemograma de todas as 
principais linhagens celulares em decorrência de várias causas. 
A Pancitopenia pode ser classificada em duas categorias 
principais: 
• Diminuição de Produção na Medula Óssea 
Ex: Aplasia, Infiltração Neoplásica, Leucemia, Linfoma, Tu-
mores Sólidos, Deficiências Nutricionais, Infecções (Tuber-
culose)... 
• Aumento da Destruição Periférica 
Ex: Doenças Autoimunes, Infecções, Hemólise... 
 
ANEMIA APLÁSICA 
→ A Anemia Aplásica ou Síndrome de Falência Medular é uma 
falha da Medula Óssea caracterizada pela diminuição de 
Células Sanguíneas e pela substituição por Gordura. 
Medula Óssea normal e Hipoproliferativa (redução dos 
Elementos Figurados) 
→ Mais frequente nas primeiras décadas de vida (10-25 anos) 
ou a partir da sexta década de vida (maiores que 60 anos). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAUSAS DA ANEMIA APLÁSICA 
• Congênita: identificada no nascimento ou nos primeiros 
dias de vida. 
Ex: Anemia de Fanconi e Disceratose Congênita 
• Adquirida: oriunda de algum grau de toxicidade exógena a 
Medula Óssea: uso de medicamentos, Doenças Autoimu-
nes, Infecções Virais... 
A grande maioria é idiopática! 
 
 
 
 
 
 
OBS I: Cloranfenicol era muito comum na Pediatria para o 
tratamento de diversas infecções, mas hoje é abolido pelo risco 
de Aplasia Medular. 
OBS II: dependendo do grau de exposição à droga, a Aplasia 
Medular pode ser reversível, mas nem sempre completamente. 
 
SINAIS E SINTOMAS 
→ Relacionados a Anemia: Astenia, Dispneia, Palidez, 
Sonolência, Irritabilidade, Insônia, Cefaleia, Tontura, 
Taquicardia/Palpitação, baixa tolerância ao exercício físico... 
→ Relacionados a Leucopenia: predisposição a quadros infec-
ciosos. 
→ Relacionados a Plaquetopenia: Sangramentos Leves (Epis-
taxe, Mucoso-cutâneo...) e Hemorragias Graves (Trato Gastro-
intestinal). 
→ Relacionados a Doença de Base e Complicações: Hepatome-
galia e Esplenomegalia; Febre, Tontura e Cefaleia. 
 
DIAGNÓSTICO 
• Avaliação Inicial: Hemograma 
- Pancitopenia. 
- Reticulocitopenia 
 
• Análise do Sangue Periférico: Hematoscopia 
- Hemácias: Normocitose e Normocromia. 
- Elementos Figurados reduzidos em número, porém de 
morfologia normal. 
- Ausência de Células anormais. 
 
• Confirmação: Aspirado e Biopsia de Medula Óssea 
- Medula Óssea Hipocelular, com menos de 30% de 
Celularidade p/ a idade. 
< 30 % = Anemia Aplásica; < 20% = Anemia Aplásica Severa 
- Ausência de Infiltração Neoplásica ou Fibrose. 
- Células Hematopoiéticas residuais com morfologia 
normal. 
- Exclusão de atividade Hemofagocítica. 
 
• Avaliação Citogenética/Cariotipagem 
- É importante porque, se normal, a possibilidade de ser 
Síndrome Mielodisplásica Hipoplásica diminui, que é 
similar clinicamente a Anemia Aplásica. 
 
• Imunofenotipagem por Citometria de Fluxo com 
Marcadores Eritrocitários 
- Ausência de CD55 e CD59: dado encontrado na Hemoglo-
binúria Paroxística Noturna. 
 
Citológico - Aspirado de Medula Óssea: estudo da morfologia 
celular (exame qualitativo). 
Histológico - Biopsia de Medula Óssea: quantificação celular 
(exame quantitativo). 
 
Exemplo I: Aplasia de Medula Óssea na Microscopia Eletrônica 
- Normal p/ paciente de 90 anos de idade; 
- Anormal p/ paciente de 20 anos de idade. 
 
 
 
 
 
Exemplo II: Anemia Aplásica em paciente com 20 anos de idade. 
 
 
2. Síndromes Genéticas relacionadas a Aplasia de 
Medula 
 
ANEMIA DE FANCONI 
→ Condição genética com variabilidade na sua expressão. Pode 
se manifestar na infância ou mais tarde, por volta dos 30 a 40 
anos. Além da Aplasia, também está associada ao Retardo de 
Crescimento e Defeitos Congênitos do Esqueleto (Atrofia 
Óssea), como Microcefalia, Ausência de Ossos como o Rádio ou 
Polegares. O Diagnóstico envolve o Teste de Fragilidade 
Cromossômica (Cariótipo) para avaliar essa Instabilidade 
Cromossômica, crucial para garantir que não seja uma 
Síndrome de Fanconi de baixa expressão Fenotípica, que pode 
se manifestar como Anemia Aplásica. 
Alterações Ósseas, Baixa Estatura, Manchas Café com Leite na 
Pele, Anomalias Renais (Hipoplasia Renal, Rim Pélvico), 
Microcefalia e Retardo Mental. 
• Diagnóstico: presença de aumento na quebra 
cromossomal em culturas de Linfócitos na presença de 
agentes ligadores de DNA (DEB - Diepoxibutano). 
 
Exemplo: Anemia de Fanconi 
 
 
 
 
DISCERATOSE CONGÊNITA 
→ Herança ligada ao X em 85% dos casos, mas também pode 
ser Herança Autossômica Dominante ou Recessiva, com 
relação à consanguinidade. Não apresenta Instabilidade 
Cromossômica, mesmo com o DEB. O Diagnóstico é feito de 
forma Molecular, com o mapeamento do Gene DKC1, 
localizado na Xq28, onde é observada a Deleção da Zona 2 
Subzona 8 do Braço Longo do Cromossomo X. O Gene DKC1 é 
importante porque codifica a Proteína Disquerina, responsável 
pela formação Ribossomal e produção do RNA. A Mutação no 
Gene DKC1 leva ao Déficit Proteico e ao encurtamento dos 
Telômeros. Atualmente, acredita-se que essa seja a principal 
alteração da Disceratose Congênita. 
• Tríade da Disceratose Congênita: 
- Manifestações precoces (antes dos 10 anos): 
Pigmentação anormal da Pele e Distrofia Ungueal 
+ 
- Manifestação tardia: Leucoplasia em Mucosas 
Assim como qualquer Doença Congênita, a Disceratose 
Congênita pode estar associada a outras malformações. 
 
Exemplo: Leucoplasia em Mucosa “parecem Aftas” e Pele 
descamativa, escamosa 
 
 
 
→ 50% dos casos evoluem com Aplasia/Falência Medular, e em 
80-90% dos pacientes que desenvolvem Falência Medular, isso 
ocorre até os 30 anos, geralmente na segunda década de vida. 
→ A Falência Medular pode anteceder a Leucoplasia em 
Mucosa. 
→ O paciente com Falência Medular portador de Disceratose 
Congênita tem maior predisposição a Neoplasias. 
Ex: LMA e SMD 
 
APLASIA ERITRÓIDE PURA 
• Hemograma: VCM (Normocitose) HCM (Normocromia) e 
RDW Normal. 
• Anemia Profunda, sem causa aparente, apenas pela 
inibição da Eritropoiese. 
A Granulopoiese e a Plaquetogênese estarão normais! 
 
→ A Aplasia Eritróide Pura pode se manifestar em Forma 
Crônica, associada a diversos defeitos somáticos como faciais e 
cardíacos, exemplificado pela Parvovirose, e em Forma Aguda 
Transitória, relacionada ao uso de drogas como o 
Antirretroviral AZT. 
 
NECROSE DA MEDULA ÓSSEA 
→ É a morte das Células do Estroma resultante da súbita falta 
de aporte sanguíneo, geralmente ocorrendo simultaneamente 
em várias áreas em Medulas Hipercelulares. É normalmente 
causa idiopática ou relacionada a um maior grau de toxicidade 
na Medula, levando à Necrose. Por exemplo, no tratamento da 
Leucemia Mieloide Aguda, um agente quimioterápico mais 
intenso pode causar Isquemia em vez de apenas destruir as 
Células, resultando na morte das Células do Estroma. 
 
SÍNDROME DE SHWACHMAN - DIAMOND 
Leia “Xuvana Diamond” 
→ Síndrome Autossômica Recessiva Rara, apresentando 
diferentes graus de Citopenia, principalmente Neutropenia. É 
importante associar porque, além da Citopenia, há Disfunção 
Exócrina do Pâncreas (alterações de Amilase e Lipase), além de 
Anomalias Esqueléticas,Doenças Hepáticas e Baixa Estatura. 
Tem uma propensão a evoluir para Leucemia Mieloide Aguda 
ou Mielodisplasia. 
 
TRATAMENTO DA ANEMIA APLÁSICA 
• Retirada de agentes potencialmente responsáveis pelo 
quadro clínico. 
• Terapia de Suporte: uso de Antibióticos e Transfusões de 
Hemocomponentes (Transfundir Hemácias, Plaquetas) 
• Uso de Fatores de Crescimento: 
- G-CSF: Fator Estimulador de Colônias Granulocíticas 
- EPO: Eritropoetina 
- Agonistas de Trombopoetina: p/ tentar estimular a 
Plaquetogênese. 
 
 
 
TRATAMENTO DEFINITIVO DA ANEMIA APLÁSICA 
• Transplante de Medula Óssea Alogênico. 
- Taxa de cura em torno de 60-70%. 
- Problema: rejeição do enxerto, principalmente naqueles 
submetidos as inúmeras Transfusões antes do TMO. 
- Mortalidade relacionada ao tratamento aumenta com a 
idade, depende do grau de Supressão e capacidade do 
paciente enfrentar situações de Imunossupressão 
(Infecções, Reativações Virais etc). 
 
→ Se o paciente é elegível para o Transplante e possui um 
doador de Medula Óssea, ele passará por um Transplante de 
Medula Óssea Alogênico. Caso não seja elegível devido a 
prioridades, comorbidades ou ausência de um doador de 
Medula Óssea, será realizada Imunossupressão com: 
• Corticoides; 
• Andrógenos; 
• Ciclosporina (como inibidor de Calcineurina) 
ou 
• Globulina Antilinfocítica (cavalo ou coelho). 
 
RESPOSTA AO TRATAMENTO 
→ Definida como Independência Transfusional, atingindo cerca 
de 60-70% em 6 meses nos pacientes com Anemia Aplásica 
grave. 
→ A Imunossupressão é uma opção terapêutica naqueles 
pacientes com Anemia Aplásica Moderada e Dependência 
Transfusional. 
Imunossupressão não é Terapia Curativa, apenas deixa o 
paciente em remissão e com qualidade de vida!

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