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Luís Felipe Rocha Anemias e Perda de Sangue Medicina Anemia Aplasica A aplasia medular é caracterizada pela pancitopenia e hipocelularidade da medula óssea, com falência da produção das três linhagens sanguínea. Dessa forma, o tecido hematopoiético é substituído por gordura, sem evidencias de fibrose ou infiltração neoplásica. A aplasia medular pode ser classificada como: • Primaria (congênita ou constitucional) • Secundaria (adquirida) O diagnostico exige a inclusão de dois dos seguintes parâmetros em associação a hipoplasia medular: • Hb < 10g/dL • Plaquetas < 100.000/mm³ • Neutrófilos < 1.500/mm³ Obs. A pancitopenia é a diminuição das três linhagens sanguíneas pela diminuição da produção medular ou por aumento da destruição periférica Epidemiologia • Maior incidência na Ásia possivelmente por exposição a virus ou a toxinas • Incide de 1,5 a 6 casos/10.000.000 habitantes/ano • No brasil os índices são de 2,1 caso/ano • Predomínio dos 15 anos 25 anos e em pessoas acima de 60 anos Etiologia e fisiopatologia 15% das AA são congênitas, sendo a anemia de Fanconi a mais frequente, pode ser classificada como: • decorrente de uma instabilidade cromossômica com anormalidades cinética do ciclo celular (fase G2) • hipersensibilidade a radicais O2 • aumento do apoptose • encurtamento acelerado do telômero Etiologias primarias Disqueratose A disqueratose congênita é uma rara sindrome de falência medular caracterizada pela incapacidade de manutenção do telômero, pode se comportar como: • Herança ligada ao X na qual a disquerina é afetada desestabilizando a manutenção da telomerase • Autossômica dominante • Autossômica recessiva Sindrome de Shwachman Diamond A sindrome de Shwachman Diamond, doença rara, autossômica recessiva na qual há um defeito no metabolismo do RNA gerando anormalidades no estroma e células tronco hematopoiética, aumentando a apoptose e encurtando os telômeros Etiologias Secundaria ou Adquirida Medicações e agentes tóxicos Muitos medicamentos e produtos químicos provocam AA secundaria, como o benzeno, produtos ocupacionais, produtos de uso domestico e inseticida. Alguns exemplos de medicamentos: • Clorofenicol • Furosemida • Alonupinol Essas medicações podem reduzir a atividade da glicoproteína P nas stem cells, a falta dessa glicoproteína provoca o acumulo dessas substâncias nas células tronco gerando citotoxidade. Alem disso, algumas substancias toxicas como o benzeno reagem com os nucleotídeos e proteínas celulares provocando a morte celular Pós Transplante Hepatico ou infecção viral De 5 a 10% das AA ocorrem após episódios de transplante hepatico e tambem pode infecção ao parvovirus B19 Gestação A gestação pode representar uma das causas da anemia aplastica embora observa-se uma melhora Luís Felipe Rocha Anemias e Perda de Sangue Medicina sanguínea após o termo, possivelmente pode haver um mecanismo imunológico somado a condição idiossincrásica Fisiopatologia Pontos chave do processo: • Lesão nas células tronco pluripotentes • Apoptose induzida pelo sistema imunológico A explicação da AA adquirida é complexa devido os vários fatores associados e alem disso tem como base o processo imunológico aliado a um componente genético. O mecanismo imunológico envolvido na AA envolve a inibição da hematopoese pelas células T do sangue periférico ou medula óssea. Dessa forma, os linfócitos TCD8 expressão o padrão Th1 e liberação do IFN-gama e TNF-alfa que levam a apoptose das células tronco CD34+. Esse apoptose pode ocorrer de forma direta pela ação do IFN nas células tronco ou indiretamente sistema Faz-Faz-ligand. Altos níveis de Fas são encontrados nas células tronco CD34+ na anemia aplastica. O Fas-ligand é uma glicoproteína trensmenbrana da família do TNF alfa expresso em linfócitos T ativados. A anemia aplasica ocorre um aumento dos receptores Fas (antígeno) nas células tronco promovendo maior exposição a Fas ligand (anticorpos), a ligação entre o antígeno e os anticorpos induz a apoptose. Alem disso, existe um polimorfismo dos genes relacionados a citocinas: a) Gene promotor de TNF b) Gene codificador de IFN c) Tbet- regulador Th1 d) Mutação do PRF1 e) Gene que inibe a produção de IFN-gama Recentemente foi sugerido que na anemia aplasica há deficiencia dos linfócitos T reg semelhante ao que ocorre em processos autoimune. Alem disso, há uma maior prevalência de HLA-DR2 envolvido na ativação de linfócitos, porem em alguns casos não há evidencia do mecanismo que destrói a linhagem hematopoiética, dessa forma esses pacientes não se beneficiam da terapia imunossupressora. Recentemente sugeriu-se que a aplasia congênita se comporte semelhante a adquirida- déficit na manutenção do telômero pois alguns pacientes apresentaram telômeros curtos. A AA pode esta associada a outras doenças medulares como sindrome mielodislasica hipocelular, hemoglobinúria paroxística noturna, leucemia linfocitica. Classificação segundo a gravidade ➢ Moderada • Medula com menos de 30% da celularidade • Citopenia em menos de duas series • Reticulocitos < 20.000/mm³ ➢ Grave: Existem dois dos seguintes achados: • Neutrófilos < 500 • Contagem de plaquetas < 20.000 • Reticulocitos < 20.000 ➢ Muito grave: • Neutropenia < 200 • Pancitopenia Aspectos clínicos As manifestações decorrentes da pancitopenia dependem da gravidade da insuficiência medular, sendo diagnosticado a maioria na infância, outra parcela menor na vida adulta Ao exame fisico • Palidez cutaneomucosa, dispneia, astenia- sindrome anêmica • Petéquias, equimoses ou sangramento mucosa, epistaxe, metrorragia- devido a redução das plaquetas, são os primeiros sintomas a serem observados • NÃO HÁ linfonodomegalia nem hepatoesplenomegalia • Infecções associadas- neutropenia grave Anemia de Fanconi Alterações associadas notadas desde a infância 5 a 10 anos, sendo que o paciente pode-se apresentar com alterações discretas ou sem alterações somáticas: • Baixa estatura Luís Felipe Rocha Anemias e Perda de Sangue Medicina • Microcefalia • Micrognatia • Hipertelorismo • Alterações osseas (radio e polegar) • Alterações renais e urinarias • Pigmentação cutânea (padrão café com leite) A falência medular inicia-se com uma plaquetopenia, há um aumento das chances de desenvolvimento de carcinoma epitelial de cabeça e pescoço ou no TG feminino. Padrão ouro para diagnostico: presença de quebra e rearranjo cromossômico induzido por agentes clastogênico (instabilidade cromossômica) Disqueratose congênita Caracteriza-se pela tríade de anormalidades cutaneomucosa • Distrofia das unhas • Hiperpigmentação reticular da pele • Leucoplasia Outras anormalidades incluem: • Desaparecimento das impressões digitais • Hipertensão • Fibrose pulmonar • Cirrose hepática • Anormalidades nos dentes • Constrições esofágicas hiperidrose • Forma grave: Sd. Hoyeraal Hreidarsson: retardo intra-uterino, microcefalia, hipoplasia cerebelar e imunodeficiência • Aumento da incidência de leucemia e carcinoma epitelial Não há teste especifico para diagnostico, observa-se apenas encurtamento do telômero Sindrome de Scwachman- Diamond Caracteriza-se por uma insuficiência pancreática exócrina que se manifesta nas fases precoces da vida como esteatorreia. Pode haver melhora com a idade. • Baixa estatura • Falência medular- inicia-se com neutropenia • Aumento da incidência de leucemia mieloide aguda • Herança autossômica recessiva Anemia de Diamond- Blackfan • Anemia macrocitica • Reticulocitopenia • Aplasia de precursores eritroides da medula de início na infância • Malformação dos dedos • Má-formaçãorenal e cardiaca • Aumento da HbF e adenosina deaminase intra- eritrocitaria • Ocorre por mutação no gene DBA1 que gera proteínas ribossomais Aspectos diagnósticos Objetivos dos exames: confirmar o diagnóstico, estabelecer um prognostico, auxiliar na pesquisa da etiologia da AA, pesquisar a presença de clones associados e orientar quanto a terapêutica • Historico familiar • Uso de medicações ou exposição a agentes tóxicos • Quadro clinico • Exames laboratoriais- hemácias normo ou macro, reticulocitopenia e leucopenia relativa, plaquetopenia Hemograma • Mostra-se uma pancitopenia • Anemia normo ou macrocitica • Neutropenia • Linfocitose relativa Reticulocitos • Reticulopenia Esfregaço periférico • Neutrófilos hipossegmentados • Poiquilocitose- hemácias em lagrima • Eritroblastos periféricos Mielograma • Medula hipocelular • Aumento relativo de linfócitos, plasmócitos e células reticulares • Presença de mastócitos Luís Felipe Rocha Anemias e Perda de Sangue Medicina Obs. Na sindrome mielodisplásica o mielograma apresenta-se com disgranulopoese, dismegacariopoese e eritroblastos displasicos Biopsia de medula • Confirma a substituição da medula óssea por gordura • Sem fibrose • Sem proliferação de células anormais Diante da celularidade classifica-se a AA em anemia aplastica grave, muito grave e não grave Estudo citogenético da medula • Detecta a presença de clones transitórios • Útil para diagnostico da hemoglobina paroxística noturna • Utiliza-se o método de citometria de fluxo • Investiga-se a quebra cromossômica por diepoxibutano ou mitomicina C sugerindo anemia de Fanconi Pesquisa da desidrogenase láctica • Indica hemólise • Utilizado para guiar o diagnóstico da hemoglobina paroxística noturna Obs. Não há ate o momento testes para diagnostico da disqueratose congênita, sindrome de schwachman Diamond e anemia de Diamond Blackfan Testes para determinar algumas etiologias da Anemia aplastica • Função hepática • Sorologia para hepatites A, B, C, D, E • Sorologia HIV • Sorologia Epstein-Barr • Provas inflamatórias • Pesquisa do fator anti-nucleo • RX ou TC de tórax ( pesquisa de timoma) • B-HCG Testes de histocompatibilidade • Realizados em irmãos e no paciente • Pesquisa de um provável doador de medula óssea • Identificação do HLA-DR15 ( preditor de imunossupressão) Diagnostico diferencial Feito com outras causas de pancitopenia e hipoplasia de medula • Tricoleucemia • Linfoma • Leucemia de células T • Mielofibrose • Micobacterioses atipica • Anorexia nervosa • Sindorme mielodisplásica hipocelular • Leucemia linfoide aguda da criança Tratamento Pode haver remissão espontânea em 13% dos casos, mas na maioria das vezes os índices de mortalidade aproximam de 80% com a terapia de suporta (hemotransfusões e antibioticoterapia). As alternativas de tratamento podem ser suporte terapêutico, terapia imunossupressora e transplante de medula óssea Terapêutica de suporte Hemocomponentes: São transfundidos hemácias e plaquetas quando estão < 10.000mm³ Quelantes de ferro: As transfusões podem gerar sobrecarga de ferro gerando repercussões cardíacas, hepáticas e endócrinas. A quelação do ferro é indicada quando a ferritina estiver > 1.000ng/mL. A eliminação do ferro quelado ocorre por via fecal ou urinaria, utiliza-se: Luís Felipe Rocha Anemias e Perda de Sangue Medicina • Deferoxamina • Deferiprona • Deferasirox Fatores de crescimento hematopoiético e antibióticos: utiliza-se a G-CSF junto com a globulina e ciclosporina para recuperação de neutrófilos e diminuição da probabilidade de desenvolver infecções Antibióticos: a melhor escolha depende do numero de neutrófilos, não devem ser usados de maneira profilática pois podem oferecer maior resistência Andrógenos: possuem benefícios temporários na anemia de Fanconi e apresenta eficácia em algumas anemias adquiridas quando usado junto com a globulina de modo a aumentar a atividade da telomerase mas produz virilização e alterações esplênicas e hepáticas Transplante de medula óssea A principal causa de falha no TMO é a falha na enxertia seguido de complicações infecciosas. As chances de rejeição estão associadas ao numero prévio de transfusões de hemácias e plaquetas, sobretudo em pacientes idosos. Pacientes com idades < 20 anos deve-se propor o TMO, já nos pacientes > 40 anos deve-se optar pela terapia imunossupressora. Terapia imunossupressora As globulinas são produzidas em animais imunozados com timocitos ou linfócitos de ductos torácicos humanos. Pode causas reações alérgicas, plaquetopenia grave e doença do soro. Os pacientes podem apresentar uma resposta completa ou parcial. A ciclosporina é um agente imunossupressor de ação sobre os linfócitos T, VO, 5mg/kg/dia Fatores que predizem a resposta terapêutica imunossupressora • Idade avançada • Outros esquemas de imunossupressão • Intervalo maior que 23 dias entre diagnostico e tratamento Na ausência de uma resposta a dois ciclos de imunossupressão outras medicações podem ser utilizadas. Existe um risco de desenvolvimento de hemoglobina paroxística noturna . Prognostico • A intensidade da neutropenia, a refratariedade as transfusões plaquetárias, o retardo no diagnostico e o suporte inadequado são fatores prognósticos desfavoráveis Transplante de Medula Consiste na enxertia de células tronco hematopoiética com o objetivo de corrigir os defeitos quantitativo ou qualitativo na MO Indicações • Doenças hematológicas malignas e não malignas • Imunodeficiência • Erros inatos do metabolismo • Tumores sólidos • Doenças autoimunes Formas de realizar • Singênico: doador gêmeo univitelinico- alta compatibilidade • Alogênico: doador não gêmeo, o sucesso ocorre quando há proliferação hematopoiética no receptor • Autologo: doador é o próprio paciente Escolha do doador • Identificar o antígeno leucocitário humano- HLA • Maior chance de compatibilidade- doador da família Preparativo Visa reduzir ou erradicar doenças malignas e induzir a imunossupressão no receptor para assegurar maior chance de sucesso • Mieloablativo: agentes quimioterápicos + irradiação parcial ou total • Não mieloablativo e de intensidade reduzida: agentes imunossupressores e quimioterápicos reduzidos Luís Felipe Rocha Anemias e Perda de Sangue Medicina Recuperação • Gradualmente, ocorre a proliferação do enxerto. Em 3 meses ocorre a recuperação dos granulócitos, plaquetas e eritrócitos e por fim a restauração da imunidade Fonte de células tronco hematopoiética • Medula óssea: osso ilíaco, esterno, arcos costais • Sangue periférico • Sangue do cordão umbilical Compatibilidade Realiza-se a tipificação do antígeno do complexo de histocompatibilidade classes I e II ( HLA) Complicações • Infecções revias ao transplante • Mucosite • Doença do enxerto contra o hospedeiro • Rejeição do enxerto
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