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33 PR IS CO - E N F - Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 6/ 12 /2 01 6 SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA Unidade II 5 FATORES RELACIONADOS À ÁGUA, À ENERGIA E AO AR QUE INTERFEREM NO MEIO AMBIENTE E NA SAÚDE HUMANA Abordaremos de forma geral os fatores que estão estreitamente relacionados com o prejuízo do meio ambiente e, consequentemente, da vida humana. Convidamos você a ter a seguinte reflexão: por melhor que seja a condição de vida das pessoas, faz parte do cotidiano delas conviver com a saúde, a doença e a morte, pois, mesmo com todo o avanço e desenvolvimento tecnológicos para aumentar a qualidade de vida, ainda existem fatores responsáveis por causar doenças e que são independentes das ações da comunidade ou dos serviços de saúde, como os fatores genéticos. Como nós profissionais e (também) cidadãos podemos lidar com isso? Aos profissionais da saúde, cabem a prevenção, a promoção e o tratamento adequado dos indivíduos acometidos por essa causa, enquanto que aos cidadãos cabe o comprometimento e cumprimento das ações, além do compartilhamento das informações recebidas acerca da temática. Quando passamos a compreender que o território vai além das propriedades geofísicas e que diversos motivos, como mudanças climáticas, uso abusivo de recursos naturais, forma de organização das grandes cidades, produção e consumo de energia, descarte de resíduos de forma inadequada, má utilização do solo, uso de agrotóxicos, falta de planejamento dos grandes centros das cidades, poluição visual, sonora e do ar, falta de processos de reciclagem dos resíduos e tantos outros, contribuem para o desencadeamento da doença, podemos começar a construir alternativas para todos esses fatores a fim de melhorar a qualidade de vida das pessoas. Para isso, é extremamente importante que aconteça uma inter-relação de diferentes setores do MS para uma efetiva prevenção e controle dos riscos que todos esses fatores impõem à vida dos cidadãos. São esses setores: a Vigilância Sanitária, a Vigilância Epidemiológica e a Saúde do Trabalhador. Lembrete Diversos fatores, como mudanças climáticas, uso abusivo de recursos naturais, forma de organização das grandes cidades, produção e consumo de energia, descarte de resíduos de forma inadequada, má utilização do solo, uso de agrotóxicos, falta de planejamento dos grandes centros das cidades, poluição visual, sonora e do ar, falta de processos de reciclagem dos resíduos, dentre outros, contribuem para o desencadeamento da doença. O Canadá, em 1980, criou um termo chamado “cidade saudável”, que norteia, ainda nos dias atuais, todas as ações de saúde realizadas pela OMS. Assim, para que uma cidade seja considerada 34 PR IS CO - E N F - Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 6/ 12 /2 01 6 Unidade II saudável, necessita ser uma comunidade forte, solidária e constituída de bases de justiça social, tendo grande participação da população nas ações e decisões no âmbito da saúde; deve haver um ambiente favorável à qualidade de vida e saúde, limpo e seguro, satisfazendo as necessidades básicas dos cidadãos (alimentação, moradia, trabalho, acesso a serviços de qualidade em saúde, educação e assistência social), com uma vida cultural ativa e uma economia forte, diversificada e inovadora. Considerando todos esses aspectos, quando pensamos em saúde e comunidade saudável, precisamos pensar na qualidade da água e do ar, no consumo, nas fontes de energia e no estilo de vida. Uma vez que a água, a energia e o ar são fatores determinantes para a sobrevivência, a manutenção adequada desses elementos é essencial para a qualidade de vida do indivíduo e da comunidade. Na era primitiva, tais recursos não custavam absolutamente nada (em termos de moeda financeira), mas isso foi se modificando ao longo do tempo e do crescimento populacional. Para compreender a importância desses fatores sobre o meio ambiente e a vida das pessoas, os abordaremos de forma abrangente e descreveremos com detalhes as melhorias que podemos realizar em prol do meio ambiente e, consequentemente, da qualidade de vida das pessoas. A princípio falaremos da água, pois a ocorrência de diversas doenças está estreitamente ligada à sua qualidade e à sua quantidade ofertada para a população, o que indica a sua importância na saúde das pessoas. Podemos começar destacando a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico no Brasil, realizada pelo IBGE (2008), a qual apontou que cerca de 99,4% dos 5.531 municípios brasileiros apresentam abastecimento de água por rede geral, sendo que o Sudeste, desde o ano 2000, é a única região do País que possui, em todos os seus municípios, rede de abastecimento de água. Saiba mais Para obter mais detalhes dessa pesquisa, visite o site disponível em: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Pesquisa nacional de saneamento básico 2008. Rio de Janeiro: IBGE, 2008. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/ pnsb2008/>. Acesso em: 14 nov. 2016. Vamos refletir um pouco: qual a importância de estudarmos os nossos recursos hídricos? A água para consumo sempre esteve disponível, mas sempre estará? Qual o grau de conscientização que possuímos a respeito dessa substância essencial à vida? Responderemos tais perguntas na sequência. Primeiramente, conforme já foi dito, a água para o abastecimento público é uma crescente preocupação para a humanidade, tanto em qualidade como em quantidade. O estilo de vida e o desenvolvimento das atividades humanas vêm, durante séculos, causando alterações significativas no meio ambiente, influenciando a disponibilidade de uma diversidade de recursos naturais, inclusive a da água. 35 PR IS CO - E N F - Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 6/ 12 /2 01 6 SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA Podemos dizer que a disponibilidade do nosso mais valioso recurso hídrico se encaixa em um estado de alerta máximo. Processos crescentes de desmatamento, assoreamento, produção agrícola e lançamento de detritos industriais e domésticos não têm levado em conta a capacidade de suporte da natureza e, dessa forma, tem gerado sérias consequências à saúde pública. Segundo a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), o planeta é composto por ¾ de água e ¼ de continente. Como demonstra a figura a seguir, a maior proporção desse contingente de água se encontra nos mares e oceanos (97,5%), ou seja, são águas salobras. O restante da porcentagem (2,5%) é de água doce, considerada apropriada ao consumo humano. A água doce está distribuída diferencialmente no planeta em geleiras e icebergs (68,9%), em leitos subterrâneos (29,9%), e em rios e lagos ou outros locais, como reservatórios ou açudes (1,2%) (2011). BA Água doce (2,5%) Leitos subterrâneos (29,9%) Rios, lagos e outros locais (1,2%) Geleiras e icebergs (68,9%) Oceanos (97,5%) Figura 9 – Distribuição de água no planeta O abastecimento de água para a crescente taxa populacional e o desenvolvimento de atividades econômicas somente são possíveis pela coleta de recursos hídricos de mananciais, que são reservas hídricas, fontes de água doce para o abastecimento público, doméstico, industrial e comercial que podem ser encontrados na superfície (córregos, rios, lagoas, ribeirões, reservatórios e represas) ou em camadas subterrâneas (lençóis freáticos, poços rasos ou profundos, galerias e aproveitamento de nascentes). Nesse ponto pode ser destacada a necessidade de proteger a nascente dos rios contra o desmatamento e o assoreamento de seus leitos, a ocupação humana desordenada sem sistemade tratamento de esgoto e a falta de planejamento da construção de barreiras e hidroelétricas em toda a bacia hidrográfica, pois dependemos dessas fontes para a obtenção de água potável. O perfil histórico da utilização da água como origem de vida é bem interessante. Se observarmos a história, veremos que, desde a Antiguidade, as grandes cidades se desenvolveram em torno de mananciais. São exemplos a Mesopotâmia, que está entre os rios Tigre e Eufrates, o Antigo Egito, que se encontra próximo ao Rio Nilo e, com atenção especial, os romanos, que desenvolveram até sistemas de captação – os 36 PR IS CO - E N F - Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 6/ 12 /2 01 6 Unidade II aquedutos – para essa água. O abastecimento de água era feito “águas acima ou a montante” e a liberação dos dejetos era realizada “águas abaixo ou a jusante” do mesmo rio. Infelizmente, podemos perceber que, independentemente da época, existe uma falta de cuidado com esse bem tão valioso, uma vez que, ainda nos dias atuais, observamos que a fonte de coleta de água ainda é a mesma fonte de despejos. Saiba mais Recentemente, a ciência descobriu a conscientização romana quanto à higienização. Para conhecer mais a respeito, sugerimos que leia a reportagem a seguir: KENNEDY, D. Esgoto de cidade soterrada revela segredos sobre Roma Antiga. Agência BBC Brasil. Cultura. 16 jun. 2011. Disponível em: <http:// www.bbc.co.uk/portuguese/cultura/2011/06/110616_esgoto_roma_ mv.shtml>. Acesso em: 14 nov. 2016. Exemplo de aplicação Além de aquedutos, Roma também possuía rede de coleta de esgoto. Reflita: por que essa preocupação com os excrementos se perdeu ao longo da história? Para que possamos entender melhor a importância da água na vida dos seres humanos, deixaremos a história um pouco de lado e nos concentraremos nas suas principais propriedades e características. A porcentagem de água no organismo humano é de aproximadamente 70% em um indivíduo adulto pesando 70 kg. Em alguns seres marinhos, como as medusas, essa porcentagem é de aproximadamente 95%, o que indica a importância dessa substância para todos os seres vivos. A água também pode ser representada por sua fórmula molecular (H2O), composta de dois átomos de hidrogênio e um átomo de oxigênio, formando um ângulo de 104,5º. Por conter essa forma estrutural, as moléculas de água se atraem umas pelas outras e se interligam por conexões fortes, denominadas pontes de hidrogênio. Muitas das propriedades que conheceremos derivam dessa disposição estrutural da molécula de água, sendo que algumas características podem ser utilizadas em conjunto, servindo como indicadores de qualidade. A água é abundante na maior parte da superfície terrestre e pode ser encontrada nos três estados da matéria (sólido, líquido e gasoso) em temperaturas e pressões normais da superfície do globo terrestre. Somente a água, o mercúrio e o petróleo são encontrados em estado líquido na natureza, mas o mercúrio é um metal extremamente raro, e o petróleo necessita de condições especiais para sua ocorrência (aprisionado entre rochas impermeáveis devido ao seu caráter volátil), diferentemente do que acontece com a água. 37 PR IS CO - E N F - Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 6/ 12 /2 01 6 SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA A água possui diversas propriedades e características. Inicialmente, falaremos de suas propriedades, que são: • térmica (calor específico): a temperatura da água muda lentamente, o que significa que grandes quantidades de calor terão de ser empregadas para que uma massa de água sofra pequenas elevações de temperatura. Muitas vezes não percebemos o quanto isso é benéfico para a vida, mas as grandes massas de água, como rios e oceanos, amenizam a temperatura global por absorver grande quantidade do calor advinda dos raios solares; • densidade: a água diminui sua densidade à medida que congela; por isso, o gelo flutua sobre o líquido. A densidade da água é maior que a do ar mesmo em temperaturas muito baixas, e é por isso que a superfície de um lago pode congelar enquanto seu interior permanece em estado líquido, garantindo a vida no ambiente aquático; • viscosidade e tensão superficial: a água possui alta viscosidade, sendo por isso que diminui a velocidade dos movimentos, como acontece conosco quando estamos em uma piscina. Além disso, a ligação entre suas moléculas apresenta uma característica denominada tensão superficial, a qual é capaz de formar uma película na superfície de um lago, por exemplo. É essa tensão que permite a pequenos insetos flutuarem em um lago. Os detergentes são substâncias que possuem a propriedade de romper a rigidez da película de tensão superficial; • dissolução: a água é um solvente e diluente universal. Possui capacidade de dissolver substâncias inorgânicas (por exemplo, minerais) e orgânicas (de origem animal ou vegetal), além dos sólidos e gases, tornando-os acessíveis aos sistemas vivos e proporcionando um meio no qual possam reagir e formar novos compostos. Como dito, para abordarmos todos os assuntos a respeito da água, precisamos destacar que ela possui propriedades (já citadas), mas também características que devem ser discutidas. Conforme os parâmetros do MS, a avaliação da qualidade de um copo de água destinado à captação (utilização dessa água pelo ser humano) deve ser realizada de forma integrada, considerando o conjunto de informações de caráter físico, químico e biológico, reforçando as informações anteriores. Iniciaremos esse assunto com algumas perguntas: Quem nunca ouviu dizer que a água deve ser incolor, insípida e inodora? Você sabia que essas são características físicas da água? Elas refletem principalmente a aparência da amostra. Dentre as quais, podem ser analisadas: • temperatura: no Brasil, os ambientes aquáticos estão na faixa de 20º a 30ºC. No Sul, durante o inverno, essa temperatura chega a 5ºC, podendo congelar a água. No entanto, para o consumo humano, as temperaturas elevadas são rejeitadas. Devido a esse fator, as águas subterrâneas, captadas em grandes profundidades, necessitam de unidades de resfriamento para adequar as condições de abastecimento; • cor, sabor e odor: a determinação da cor reflete a existência de materiais dissolvidos; portanto, se torna um parâmetro de análise. Essa é feita por meio de comparação com uma amostra de 38 PR IS CO - E N F - Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 6/ 12 /2 01 6 Unidade II platina-cobalto e o resultado é fornecido em “uH” (unidade Hazen). As águas naturais possuem um padrão de cor na escala entre 0 e 200 uH – e para ser considerada potável, ela deve apresentar cor inferior a 5 uH. Já o sabor e o odor estão correlacionados com a presença de substâncias químicas, gases dissolvidos e microrganismos, como algas; • turbidez: mede o grau de interferência à passagem da luz através do líquido. A turbidez é medida em unidades Jackson e a presença de materiais em suspensão pode alterar essa medida. Grande parte dos rios brasileiros possui águas turvas devido às características geológicas do terreno, e a turbidez da água encontrada nesses locais está entre 3 e 500 unidades Jackson. Já em represas e lagos, onde a velocidade de escoamento é menor, as partículas que estavam suspensas acabam sedimentando e a turbidez da água fica menor. Para ser considerada potável, a água deve apresentar uma turbidez com taxa inferior a 1 unidade de Jackson. Além disso, a presença de sólidos pode ocorrer de forma natural, por meio de processos erosivos, por detritos orgânicos ou, ainda, por forma antropogênica, ou seja, forma influenciadapelo ser humano, que lança lixo e esgotos a essa fonte de água, diminuindo a sua potabilidade – uma vez que o padrão de potabilidade é referido ao limite de 1000 mg/L (miligramas de sólidos em suspensão por litro de água); • condutividade elétrica: é a capacidade de transmitir corrente elétrica, e será maior quanto maior for a concentração iônica no corpo de água. A condutividade será medida por unidades de resistência “S” (Siemens) e os teores de condutividade das águas naturais estão entre 10 e 100 µS/ cm. Vale ressaltar que ambientes receptores de esgotos domésticos ou industriais podem chegar a até 1000 µS/cm (FUNASA, 2007). Até o momento, discutimos aspectos ligados ao estado físico da água, mas precisamos recordar que também existem os químicos. As características químicas refletem na composição da água e, dentre elas, se destacam: • potencial hidrogeniônico (pH): a presença de íons de hidrogênio (H+) poderá tornar o corpo de água mais ácido, quando houver maior quantidade de H+, ou mais alcalino, quando existir menor quantidade de íons H+. O pH é medido em uma faixa que varia de 0 a 14; quanto mais próximo de 0, mais ácido ele estará, e quanto mais próximo de 14, mais alcalino estará esse pH. É importante ressaltar que a acidificação das águas pode ser uma consequência da poluição atmosférica e formação de complexos entre os vapores de água e gases poluentes (chuvas ácidas). Além disso, baixos valores de pH podem provocar corrosão nas redes de distribuição da água e valores aumentados devem favorecer incrustações nessas redes. Para a vida aquática, o pH se encontra em uma estreita faixa entre 6 e 9. O MS, por meio da Portaria nº 1.469 (BRASIL, 2000), estabelece-se que, para águas de abastecimento humano, o pH deve se encontrar na faixa entre 6,5 e 9,5; • alcalinidade: o indicador da capacidade de neutralização de íons H+ ou capacidade de tamponamento deles, resistindo às mudanças de pH, principalmente pela presença de substâncias como o bicarbonato. O aumento da alcalinidade geralmente está relacionado às altas taxas de decomposição de matéria orgânica. 39 PR IS CO - E N F - Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 6/ 12 /2 01 6 SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA • dureza: medida pela presença de cátions, principalmente cálcio (Ca++) e magnésio (Mg++). É comum encontrarmos águas duras naturais em decorrência da dissolução de rochas calcárias. No Brasil, as águas subterrâneas mostram índice de dureza maior que as superficiais. Entretanto, a dureza também pode resultar do despejo de efluentes industriais (nesse caso, consideramos esse tipo de dureza como de origem antropogênica); • oxigênio dissolvido: extremamente importante para refletir a qualidade de um meio aquático aeróbio. Os valores mínimos considerados são de 2 a 5 mg/L, sendo que a maioria dos peixes necessita de um ambiente com 4 mg/L. A concentração de oxigênio dissolvido pode ser reduzido pela presença de matéria orgânica; portanto, a presença de material orgânico pode ser medida pelo consumo de oxigênio presente na água. Considerando esse aspecto, foram criados parâmetros como a DBO (demanda bioquímica de oxigênio) e a DQO (demanda química de oxigênio), que mostram o consumo de oxigênio necessário para estabilizar a matéria orgânica de uma amostra. A DBO é responsável por demonstrar a estabilização por atividade biológica de microrganismos e a DQO por demonstrar a estabilização do material quando dependente da adição de agentes químicos. O valor da DQO sempre será maior que a DBO, mas essas medidas devem ser realizadas em um período de cinco dias com a amostra a uma temperatura de 20º C; • micronutrientes: elementos ou compostos químicos que podem ter efeito tóxico à saúde por se acumularem no organismo ao longo da cadeia alimentar. São eles: arsênio, cromo, chumbo, cobre e mercúrio, dentre outros, sendo todos geralmente encontrados em despejos industriais. Recapitulando: até o momento realizamos uma discussão abrangente sobre os aspectos físicos e químicos da água, mas ainda faltam os biológicos. As características biológicas dela são condizentes com os seres que habitam o meio aquático, os quais são classificados como: • microrganismos de importância sanitária: como as bactérias que promovem a decomposição da matéria orgânica. Os coliformes fecais são considerados microrganismos patogênicos, presentes em grande quantidade em fontes de água que são receptoras de esgoto doméstico; • comunidades hidrobiológicas: organismos com movimentação própria, classificados como fitoplânctons (algas e bactérias) e zooplânctons (protozoários e crustáceos), habitantes do fundo de rios e lagos, os bentos (larvas de insetos e anelídeos) e os organismos maiores, classificados como néctons, no qual se enquadram os peixes. Até esse ponto, fechamos o raciocínio e revisamos os principais aspectos da água. No entanto, existem outras questões, de ordem simples, que podem facilitar a compreensão dos aspectos relacionados com água, meio ambiente e saúde humana. Por exemplo: como acontece a distribuição da água na Terra? E por que ocorre a chuva? Para respondermos a essas questões, é extremamente importante sabermos que a água não está inerte na natureza, ou seja, ela está em movimento contínuo. Essa movimentação está elucidada na figura a seguir, a qual esquematiza o ciclo da água na natureza. Nela, podemos observar o ciclo por ordem numérica, de acordo com os acontecimentos descritos a seguir: 40 PR IS CO - E N F - Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 6/ 12 /2 01 6 Unidade II 1 2 3 4 5 Figura 10 – Ciclo hidrobiológico • os raios solares aquecem os oceanos e os continentes; • com isso, a vegetação transpira e ocorre a evaporação da água dos oceanos, rios e lagos; • o vapor de água se condensa, formando as nuvens; • nas nuvens carregadas de vapor de água, ocorre precipitação, constitutivo que cai em forma de chuva, granizo ou neve e atinge o solo, os rios, os mares e o oceano; • parte da água da chuva se infiltra no solo, formando os aquíferos subterrâneos, mas outra parte escoa pela superfície e chega aos rios, lagos e oceanos, finalizando o ciclo. Considerando todos esses aspectos, é natural que exista uma preocupação por parte das autoridades com a qualidade dessa fonte de vida das pessoas. Diversas conferências internacionais realizadas em prol do meio ambiente e da saúde humana abordaram a questão da água e de sua qualidade como um parâmetro para a qualidade de vida dos seres humanos. No dia 22 de março de 1992, durante a Conferência da Eco-92, a ONU instituiu o Dia Mundial da Água, além da assinatura do documento denominado Agenda 21, que trouxe à tona debates sobre a qualidade de vida no planeta e a divulgação da Declaração Universal dos Direitos da Água. No Brasil, tivemos o reconhecimento dessa iniciativa pela Política Nacional de Recursos Hídricos, por meio da Lei das Águas nº 9.433 (BRASIL, 1997), que a implementa como um bem de domínio público, um recurso natural limitado e dotado de valor econômico, além de determinar que devemos ter como diretrizes de ação a articulação dos recursos hídricos concomitante com a gestão ambiental, o uso do solo e a proteção das bacias hidrográficas. Em 2015, os países membros da ONU, se reuniram para traçar novas decisões a respeito do desenvolvimento sustentável. Esse evento foi realizado para dar continuidade aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), estipulados para entrar em vigor a partir do ano 2000 e para serem alcançados até 2015. Os ODM primavam pelo desenvolvimento sustentável para diminuir os efeitos das mudanças climáticas. As alterações realizadas nesse período foram inúmeras e influenciarama 41 PR IS CO - E N F - Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 6/ 12 /2 01 6 SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA vida de milhares de pessoas, mas necessitamos continuar com as metas e melhorar o que ainda não foi suficiente para o cuidado do meio ambiente e da saúde das pessoas. Em setembro de 2015, a Assembleia Geral das Nações Unidas definiu novos objetivos e novas metas para serem seguidas até 2030. Uma nova agenda foi estipulada para tratar do desenvolvimento sustentável. Nela foram definidas como ODS e estipulados 17 novos objetivos que entraram em vigor a partir de janeiro de 2016. Entre eles, temos a erradicação da pobreza, da fome e da desigualdade social, o acesso à energia e garantia da educação a todos, o alcance da igualdade de gênero e a utilização sustentável dos recursos naturais. A implementação do objetivo 6, que fala sobre assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos procura assegurar o acesso igualitário, condições dignas de abastecimento de água potável e a oportunidade de ter esgotamento sanitário, melhorando o patamar de saúde pública da população. (ONUBR, 2016). No conjunto de metas do objetivo 6, podemos destacar: • o acesso universal e equitativo à água potável e segura para todos, bem como acesso a saneamento e higiene; • a redução pela metade da proporção de águas residuais não tratadas, eliminando despejo e minimizando a liberação de produtos químicos e materiais perigosos; • a cooperação internacional e o apoio à capacitação para os países em desenvolvimento em atividades e programas relacionados à água e ao saneamento, incluindo a coleta de água, a dessalinização, a eficiência no uso da água, o tratamento de efluentes, a reciclagem e as tecnologias de reúso; • a proteção e restauração de ecossistemas relacionados com a água doce, incluindo montanhas, florestas, zonas úmidas, rios, aquíferos e lagos. Saiba mais Para conhecer mais a respeito da Lei das Águas e da Balneabilidade das Águas, recomendamos as seguintes leituras: ___. Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989. Brasília, 1997. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9433.htm>. Acesso em: 11 nov. 2016. CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (CONAMA). Resolução nº 357, de 17 de março de 2005. Dispõe sobre a classificação dos corpos de 42 PR IS CO - E N F - Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 6/ 12 /2 01 6 Unidade II água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. Alterada pela Resolução nº 410/2009 e pela Resolução nº 430/2011. Brasília, 2005. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/ conama/res/res05/res35705.pdf>. Acesso em: 14 nov. 2016. No Brasil, o estudo da hidrometria está relacionado com a geração de energia pela construção de usinas hidrelétricas, utilizando bacias hidrográficas e volumosos rios. Contudo, o principal problema dessa ação é a presença de sedimentos nessas águas que diminuem a vida útil das barragens. Além disso, os mananciais que subsidiam o abastecimento de água ainda sofrem as consequências da falta de estudos científicos que melhorem a utilização dessas fontes, pois as pequenas bacias drenam as águas das cidades e recebem todos os tipos de dejetos provenientes de vários tipos de locais. Em 2005, houve um marco histórico em relação ao controle de qualidade da água. O Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), sob a Resolução nº 357 (CONAMA, 2005), estabeleceu a necessidade de avaliações toxicológicas e controle de despejos em corpos de água (o que significa qualquer acumulação significativa de água), visando o manejo sustentável dos recursos hídricos e garantido os padrões de qualidade dentro da sua bacia hidrográfica. Contudo, o desenvolvimento urbano nem sempre respeitou a preservação do ciclo hidrológico natural e a ocupação desordenada nos leitos dos rios, e o excesso de pavimentação altera a permeabilidade do solo, o que favorece as inundações durante as épocas de maior pluviosidade. Lembrando que as enchentes dos rios são fenômenos naturais e de frequência variável, podemos inferir com clareza que a ocupação humana em torno dessas áreas é a principal culpada tanto pela transformação da enchente em inundação, com perdas humanas e materiais, como pela disseminação de doenças graves de veiculação hídrica. A qualidade das águas urbanas depende demasiadamente da prevenção das inundações, sendo necessário o desenvolvimento de sistemas de drenagem, com paralela recuperação e revitalização das áreas ribeirinhas. Adicionalmente à ocupação humana, está o assoreamento, que contribui para os episódios de inundação. Esse termo se refere à diminuição da profundidade dos rios, o que interfere drasticamente no leito hidrográfico. Além disso, a manipulação do solo, como aquela que acontece em áreas que receberão construções e na prática agrícola e/ou nos desmatamentos, favorece o aumento das áreas sujeitas à erosão e aumenta a quantidade de argila, areia e folhas em áreas próximas às bacias de drenagem. Com a ocorrência das chuvas, todo esse material é drenado para os rios e lagos e se sedimenta no fundo do leito. Mas até agora falamos de locais onde existe água. No entanto, apesar de toda abundância desse recurso no planeta, existem muitos locais com escassez hídrica que exerce um grande impacto social e econômico e afeta diretamente a saúde e sobrevivência humana. O que a seca poderia causar, se estamos falando sobre contaminação da água? A seca causada por efeito climático ou ação humana de impacto ambiental, como a desertificação de áreas degradadas e a estiagem, que é um período de baixa pluviosidade, são fatores envolvidos direta 43 PR IS CO - E N F - Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 6/ 12 /2 01 6 SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA e indiretamente com a precariedade das condições de saúde, deixando a população vulnerável e carente, contribuindo para a desnutrição, pobreza e ocorrência de surtos de doenças infectocontagiosas. A seca e a estiagem são consideradas desastres extensivos, que não ocorrem de forma súbita causando danos imediatamente visíveis. Sendo assim, o seu efeito sobre o meio ambiente, a saúde e o tempo que influenciarão esses setores são muito difíceis de serem mensurados e prevenidos. O Brasil, apesar de contar com uma favorável hidrologia, possui uma vasta extensão de território e uma grande parte da população residente, principalmente no Nordeste, sofre com a estiagem e a seca (GRIGOLETTO et al., 2015). Para a saúde, os efeitos podem exercer um resultado direto através das doenças gastrintestinais ou um efeito indireto, em longo prazo, por meio da desnutrição. A baixa ocorrência ou ausência de pluviosidade afeta a quantidade e qualidade dos mananciais, aumentando a ocorrência de contaminação. O ar seco favorece a ocorrência de queimadas naturais e de doenças respiratórias devido à quantidade de poeira no ar. Quanto à ação do poder público durante todos os anos de história brasileira, o que existe de mais concreto ao amparo da seca no semiárido e no Nordeste foi a implantação do plano Brasil sem Miséria, lançado em 2011, que através de um cadastro único e cruzamento com dados do bolsa família e outros programas sociais promoveu a busca ativade famílias em estado de maior vulnerabilidade social, contemplando-as com o programa de água para todos. O plano Brasil Sem Miséria, dentro do seu eixo de inclusão produtiva rural, levou à construção de cisternas nessas áreas para melhoria das condições de saúde (IBASE, 2012). Podemos, então, pensar que preservar e corrigir a qualidade das águas tornam-se atitudes indispensáveis para a manutenção da saúde pública, só que para isso é necessário estabelecer e planejar a forma de utilização de nossos recursos hídricos. Por esse motivo, temos que compreender qual a prioridade de utilização da água. Ela será utilizada para o abastecimento urbano ou irrigação? Para a geração de energia? Assim, como podemos definir uma prioridade? Para responder a essas questões, é preciso compreender que cada tipo de comunidade destinará o uso da água visando as suas necessidades específicas. Por exemplo, a utilização da água para irrigação e manutenção das criações é altamente prioritária em áreas agrícolas, fato que não ocorre se a região for industrial ou urbana. Além disso, conforme a Resolução nº 357 do Conama (2005), as águas doces, salinas e salobras dentro do território nacional devem ser classificadas segundo o padrão de qualidade da água. As águas doces são divididas em 5 classes (especial, 1, 2, 3 e 4), determinadas pelo grau de tratamento necessário para seu uso de forma prioritária ao abastecimento humano, mas que possuem vários outros parâmetros de destinação, como a proteção das comunidades aquáticas, a recreação de contato primário (como natação e mergulho), a irrigação de hortaliças, culturas arbóreas, frutíferas e cerealista, a atividade pesqueira, a atividade pecuária e a navegação. Considerando as águas destinadas ao abastecimento e ao consumo humano, teremos as seguintes divisões: • classe especial: águas que necessitam apenas de tratamento de desinfecção; • classe 1: águas que necessitam de um tratamento simplificado; 44 PR IS CO - E N F - Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 6/ 12 /2 01 6 Unidade II • classe 2: águas que necessitam de um tratamento convencional; • classe 3: águas que necessitam de tratamento convencional ou avançado para consumo humano, mas que sem ele também podem ser destinadas à recreação de contato secundário; • classe 4: águas que não serviriam para consumo, mas que podem ser destinadas à navegação. Como o crescimento populacional demanda quantidades cada vez maiores de água potável, está atrelado a ele o comprometimento/degradação dos mananciais. Embora exista a tecnologia para o tratamento da água destinada ao consumo humano, ela se torna mais dispendiosa à medida que a população cresce sem planejamento e infraestrutura urbana, pois, na maioria dos casos, a taxa de implantação de rede de coleta e tratamento de esgotos não acompanha a taxa de crescimento urbano. Para compreender como acontece o sistema de captação de águas para o abastecimento, podemos observar a figura a seguir, que esquematiza todos os processos de distribuição de água, a qual deve, antes de chegar aos domicílios, passar por uma estação de tratamento. Assim, quando ela chegar nas casas será utilizada para consumo e outras atividades, como banhos, limpeza, lavagem de carros e calçadas, piscinas e caixas d’água, entre outras. Fonte de abastecimento (manancial) Estações de tratamento de água (ETA) Abastecimento de água Cidades Esgoto doméstico Indústrias Esgoto industrial Chuvas Esgoto pluvial Estação de tratamento de esgoto (ETE) Coleta de esgoto Figura 11 – Dinâmica de captação e distribuição de água potável e coleta de esgoto Em áreas servidas por redes de coletas de esgoto doméstico, são coletadas pelas redes as águas que foram destinadas às atividades diversas, como a água da chuva e o esgoto industrial, de acordo com a região. As águas coletadas contendo esgotos, lixo, substâncias poluentes ou contaminantes são destinadas a uma nova e diferenciada estação de tratamento, denominada estação de tratamento de esgoto (ETE). Esse material volta para a natureza somente após o seu tratamento, mas o seu retorno nem sempre acontece no mesmo manancial onde foi captado, pois tal ação dependerá da capacidade de assimilação do corpo de água. Vale a pena ressaltar que o crescimento populacional não demanda apenas a água, mas também o fornecimento dos alimentos envolvendo as áreas de agricultura e pecuária predatórias. Lembrando que o Brasil tem um amplo território destinado a essas culturas de subsistência, é natural que exista uma 45 PR IS CO - E N F - Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 6/ 12 /2 01 6 SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA preocupação em relação à qualidade da água dos mananciais, pois eles recebem águas de drenagem de agricultura e pecuária, ricas em adubos, pesticidas, herbicidas e aditivos químicos. Considerando todos esses aspectos, as doenças de veiculação hídrica são extremamente preocupantes e consideradas problemas de saúde pública. Elas têm a água como a principal fonte de agentes infecciosos, sendo que alguns patógenos têm seu ciclo de vida total na água. Existem ainda aqueles que desenvolvem seu ciclo em um hospedeiro (um inseto) e esse necessita de água em seu ciclo biológico. Em humanos, tais doenças comprometem principalmente o aparelho digestório, e os agentes causadores mais comuns são bactérias, fungos, vírus, helmintos e protozoários. É importante ainda ressaltar que algumas doenças podem ter origem hídrica, mas sendo derivadas da alta concentração de algum componente químico. Um exemplo é o saturnismo, provocado pelo excesso de chumbo na água (KOBIYAMA; MOTA; CORSEUIL, 2008). Existe também um problema associado aos efluentes industriais, que liberam uma grande quantidade de produtos químicos no meio ambiente. A legislação vigente e o monitoramento da poluição ambiental já possuem diretrizes a respeito do tratamento desses efluentes e sua liberação para o meio. No entanto, ainda apresenta lacunas que os estudos mais recentes pretendem dar subsídios para que tais normas melhorem. A respeito desse assunto, você consegue responder o que seria uma substância classificada como desregulador endócrino? Ela pode afetar o funcionamento do sistema nervoso? Que pode afetar seu sistema imunológico? E o que os efluentes industriais têm a ver com essas questões? As estações de tratamento de esgoto reúnem uma grande concentração de contaminantes, mas nem todas elas são conhecidas ou monitoradas pela legislação vigente. Entre essas substâncias, estão alguns compostos químicos capazes de alterar o sistema hormonal de animais e de seres humanos. Eles são designados como desreguladores endócrinos e não são totalmente removidos pelos tratamentos convencionais de água ou esgoto. Estudos atuais apontam que o aumento de doenças crônicas na população, como obesidade, diabetes, distúrbios respiratórios e alterações na tireoide, podem estar associadas a essas substâncias. Como as estações de tratamento de água e de esgoto são projetadas para diminuir a carga orgânica e os organismos patogênicos, a presença e permanência dos desreguladores endócrinos no meio aquático é continuada. Devido a esse fato, outros tipos de tratamento de efluentes, principalmente os industriais, vêm ganhando espaço, como os processos oxidativos, a ozonização associada ao peróxido de hidrogênio, nanofiltração em membranas, osmose reversa, reatores com lâmpadas UV. No entanto, essas novidades ainda são onerosas e discute-se a obrigatoriedade do tratamento dos efluentes industriais antes da sua disposição ao ambiente e até onde a legislação consegue cobrar esse controle das empresas. Entre os desreguladoresendócrinos já identificados, podemos citar o BPA, uma substância da classe dos bisfenóis, que imita a ação de estrógenos. Esse composto é largamente utilizado na fabricação de plásticos e produtos dentários e se acumula no tecido adiposo, o que pode levar o organismo à obesidade. Uma outra substância já identificada são os ftalatos utilizados na produção de plásticos, brinquedos e cosméticos que podem afetar o sistema reprodutivo (PONTELLI; NUNES; OLIVEIRA, 2016). 46 PR IS CO - E N F - Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 6/ 12 /2 01 6 Unidade II Observação As doenças de veiculação hídrica são extremamente preocupantes e consideradas problemas de saúde pública, pois têm a água como a principal fonte de agentes infecciosos. Contudo, muitas doenças não estão associadas somente à ingestão de água contaminada propriamente dita, pois são determinadas por um tempo de incubação da doença que acontece por dias ou semanas. Essas doenças também podem se propagar por contato indireto, como aquelas que ocorrem em casos de alimentos que foram lavados com água contaminada. As doenças de veiculação hídrica podem ser agrupadas pela forma de transmissão: pela água, pela falta de limpeza e higienização com a água, por vetores que se relacionam com a água e associadas a ela; logo, constituem quatro grupos principais. Com base em dados da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), segue um breve resumo das principais doenças com seus agentes etiológicos (2002). O primeiro grupo tem as doenças transmitidas pela ingestão de água contaminada. Seguem as principais doenças: • cólera (agente etiológico: bactéria Vibrio cholerae): incubação de aproximadamente três dias, com sintomas de diarreia com fezes semelhantes à água de arroz, sede, dores abdominais; • febre tifoide (agente etiológico: bactéria Salmonella typhi): incubação de até 2 semanas, com sintomas de infecção geral, febre contínua, manchas rosadas e diarreia; • hepatite A (agente etiológico: vírus da hepatite): incubação de 20 a 40 dias, com sintomas de febre, perda de apetite, fadiga e icterícia com possível dano ao fígado; • amebíase (agente etiológico: protozoário Entamoeba histolytica): incubação de 2 a 4 semanas (podendo ultrapassar), com sintomas de diarreia aguda de caráter sanguinolento, febre e calafrios. Pode levar ao óbito. Nesse primeiro grupo, estão ainda a giardíase (agente etiológico: Giardia lamblia) e as diarreias, que podem ter diferentes agentes etiológicos (Escherichia coli, Rotavírus A e B, Balantidium coli e Cryptosporidium, entre outros). A principal forma de prevenção para essas doenças do primeiro grupo é o tratamento da água para abastecimento. O segundo grupo de doenças apresenta aquelas transmitidas pela falta de limpeza e higienização, associadas ao abastecimento insuficiente de água. Dentre elas, estão as doenças infecciosas na pele e nos olhos (tracoma) e as verminoses, causadas por parasitas intestinais. 47 PR IS CO - E N F - Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 6/ 12 /2 01 6 SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA Seguem alguns tipos de doenças parasitárias: • ascaridíase (agente etiológico: Ascaris lumbricoides): popularmente conhecida como lombriga; • ancilostomíase (agente etiológico: Ancylostoma duodenale): popularmente conhecido como amarelão; • enterobíase (agente etiológico: Enterobius vermicularis); • tricuríase (agente etiológico: Trichuris trichiura); • salmonelose (agente etiológico: Salmonella typhimurium); • conjuntivite bacteriana (agente etiológico: Haemophilus aegyptius); • tracoma (agente etiológico: Chlamydia trachomatis); • pediculose (agente etiológico: Pediculus humanus): conhecido popularmente como piolho; • escabiose (agente etiológico: Sarcoptes scabiei): conhecida popularmente como sarna. As formas de prevenção para essas doenças do segundo grupo são: realização de medidas de higiene pessoal (lavar as mãos antes de se alimentar, beber água tratada), instalação de coleta de esgoto, instalação de melhorias sanitárias domiciliares e limpeza de reservatórios domésticos de água. No terceiro grupo, destacamos as doenças associadas à água quando uma parte do ciclo de vida do agente etiológico depende de um vetor aquático. Dessa forma, o transmissor da doença penetra na pele ou é ingerido pelo indivíduo. São as principais doenças do terceiro grupo: • malária (agentes etiológicos: Plasmodium vivax, Plasmodium malariae e Plasmodium falciparum); • dengue, zika e chikungunya (agentes etiológicos: Aedes aegypti e Aedes albopictus); • febre amarela (agentes etiológicos: Aedes aegypti e Haemagogus janthinomys); • filariose (agente etiológico: Wuchereria bancrofti): conhecida popularmente como elefantíase. As formas de prevenção para esse terceiro grupo incluem inspeção sanitária, eliminando focos de criadouro dos mosquitos, proteção de mananciais e destino adequado de resíduos sólidos. O quarto grupo é formado por doenças associadas à água, as quais são transmitidas por insetos (vetores) que se relacionam com ela. São exemplos: • esquistossomose (agente etiológico: Schistosoma mansoni); • leptospirose (agente etiológico: Leptospira interrogans). A forma de prevenção das doenças desse quarto grupo engloba o controle de vetores e hospedeiros intermediários, eliminando condições que possam favorecer seus criadouros. 48 PR IS CO - E N F - Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 6/ 12 /2 01 6 Unidade II Em paralelo ao tratamento de água, a oferta de saneamento básico para a população também pode ser considerada como um índice de desenvolvimento, bem como um marcador da qualidade de vida. Isso se deve ao fato de que sua ausência é capaz de gerar inúmeras desordens à saúde, como a mortalidade infantil, além de que, em relação à sustentabilidade, compromete os recursos hídricos às gerações futuras. Considerando que existem relações estreitas entre alguns fenômenos observados nas grandes metrópoles (enchentes, poluição de mananciais, falta de tratamento de água, alta produção e armazenamento inadequado de resíduos sólidos) com a doença, o levantamento de questões sobre saneamento básico e descarte adequado de resíduos são tão importantes quanto aquelas relacionadas à distribuição de água adequada à população, pois podem ser consideradas responsáveis por impactos profundos na saúde dos indivíduos, bem como nos serviços de saúde utilizados por eles. Assim, diversas ações de educação em saúde voltadas para essas questões, tendo como foco principal o meio ambiente e o processo saúde-doença, são perfeitamente justificadas. No Brasil, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2008) demonstram que cerca de 55,2% da população possui rede de coleta e tratamento de esgoto. Quando esse estudo relacionou o serviço de esgotamento sanitário com aqueles de distribuição de água (99,4%), manejo de resíduos sólidos (100%) e de águas pluviais (94,5%), pôde-se observar que os índices em relação ao esgoto foram bem inferiores aos demais. Esses dados demonstram que o setor de saneamento tem o pior índice de desenvolvimento, acarretando sérios efeitos para a saúde e, consequentemente, para a vida das pessoas. Além disso, há um sério impacto nos serviços de saúde, pois o SUS recebe por mês uma porcentagem altíssima de pessoas acometidas por doenças relacionadas à falta do serviço de saneamento básico. O termo poluição é comumente definido como qualquer alteração da composição ou das características do meio, fato que causa perturbações no ecossistema. Essa definição prejudica o sentido etimológico da palavra poluir (que vem do latim poluere equer dizer sujar) e não atende também a objetivos práticos, ligados ao controle da qualidade do meio ambiente. Um ponto importante para refletir é a introdução de uma grande quantidade de água doce, ainda que perfeitamente limpa, em um ambiente marinho. Essa ação causa profundas perturbações no ecossistema ali existente. Seria apropriado considerarmos esse fato como poluição e a água limpa introduzida como um poluente? Além disso, o lançamento de organismos patogênicos ou de substâncias tóxicas que não alteram o aspecto estético, mas prejudicam a utilização da água, também poderia ser considerado poluição? Para respondermos essas questões, discutiremos adiante que a ação direta de substâncias ou seres nocivos ao homem/animais aquáticos tem uma denominação particular. Frequentemente, ecossistemas terrestres e aquáticos sofrem perturbações cíclicas causadas por fenômenos naturais – por exemplo, o transporte de matéria orgânica em decomposição natural do solo (folhas e outros resíduos vegetais e animais) para os rios, o que nas épocas de chuvas causa profundas alterações no equilíbrio do oxigênio. A definição de poluição pode não estar associada exclusivamente às perturbações ecológicas, inclusive quando são ocasionadas pelo homem e escapam à conceituação geral de poluição, a não ser que abandone o sentido original e etimológico do termo. Por outro lado, origina-se da percepção sensorial do fenômeno de “sujar a água” – trata-se do componente estético. A formação do conceito tem em vista a preservação da saúde humana e da vida dos peixes e outros seres aquáticos úteis ao homem. Acreditava-se que o mau aspecto da água, como a turbidez, coloração, 49 PR IS CO - E N F - Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 6/ 12 /2 01 6 SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA exalação de odores e presença de materiais flutuantes ou em suspensão era responsável pela transmissão de doenças e mortandade de peixes, o que na verdade pode ser apenas coincidência. A água poluída – no sentido original do termo, baseado em um parâmetro estético –, pode não causar um distúrbio ecológico, assim como certos matériais bastante profundos podem ocorrer em águas que não são poluídas. Uma maneira objetiva de enfrentar essas dificuldades seria criar um vínculo entre o conceito de poluição e a noção de utilidade da água. Poluir é sujar, alterar as características estéticas a ponto de prejudicar sua utilização normal, seja como água potável ou fonte de alimentos para uma diversidade de seres aquáticos. Assim, a noção instintiva de poluição é baseada na alteração das qualidades originais das águas das nascentes dos rios. A identificação estética é possível porque as águas que recebem detritos e, eventualmente, matérias fecais contendo seres patogênicos se tornam realmente mais turvas e coloridas, por vezes malcheirosas. Estabeleceu-se assim uma correlação entre o aspecto da água e a transmissão de doenças, o que não deixa de ter seu significado popular principalmente em rios que cortam zonas mais densamente povoadas (BRANCO; ROCHA, 1984). É importante salientar que os agentes poluidores não são apenas compostos de natureza química específica e tóxica. A ação nociva dos agentes pode englobar a quantidade deles ou ainda o seu caráter biodegradável. Além disso, o grau de dispersão, de diluição e de proporção entre volume de despejos e da fonte receptora também são importantes para caracterizar a ação nociva dos agentes poluidores. Por exemplo, o excesso de matéria orgânica vinda dos esgotos domésticos pode provocar a superpopulação de microrganismos, como bactérias e fungos e, ao mesmo tempo, estabelecer uma concorrência pela disponibilidade de oxigênio entre seres aeróbios presentes no corpo de água. Quando pensamos no termo contaminação, temos que relacioná-lo com a introdução de substâncias nocivas, as quais podem causar alterações no meio aquático. São exemplos: compostos organoclorados e organossintéticos, a matéria orgânica em excesso, organismos patogênicos e metais pesados. Ainda em relação à contaminação, também existem ações contaminantes específicas de compostos tóxicos que estão presentes em certas classes de despejos industriais, além das fontes naturais, como sementes, folhas, frutos e raízes, as quais podem conter substâncias tóxicas, incluindo cianetos (mandioca brava) e alcaloides (atropina da planta beladona, ricina da mamona). Os corpos de água ainda podem receber produtos originados da prática agrícola, como os defensivos agrícolas e a celulose, que, apesar de ser um produto vegetal, é amplamente usada em escalas industriais e resistentes à decomposição, aos detergentes sintéticos e aos metais pesados. Na maioria dos casos, esses materiais são considerados compostos recalcitrantes, ou seja, são compostos biologicamente resistentes e conhecidos como “não biodegradáveis”. Devido à resistência, eles acabam se aglomerando no meio aquático e favorecendo seu acúmulo no organismo dos seres humanos, uma vez que a água contaminada com esses produtos é utilizada para os afazeres comuns. Com base em dados da Anvisa (BRASIL, 2011a), os primeiros relatos de uso de defensivos agrícolas foram em meados de 1900. Esses compostos eram considerados organoclorados e o mais utilizado era o diclorodifeniltricloroetano, também conhecido como DDT. A utilização do DDT persiste até os dias atuais e vale ressaltar que esse composto agrícola é substancialmente resistente à biodegradação 50 PR IS CO - E N F - Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 6/ 12 /2 01 6 Unidade II por até 30 anos. Os organoclorados em contato com a pele, vias respiratórias e aparelho digestivo afetam o sistema nervoso e causam tremores, convulsões, vômitos, insônia e dermatites. Atualmente, uma das formas de proteção contra esses compostos tem sido a substituição dos organoclorados (mais resistentes) por organofosforados de biodegradação mais rápida. No Brasil, a proibição do uso de DDT aconteceu somente em meados de 2009, quando foi sancionada uma lei. Como citado, o desenvolvimento humano de grandes áreas urbanas favorece diversos danos ao meio ambiente, como lançamento de esgotos, uso de defensivos agrícolas, fertilizantes, resíduos industriais, desmatamento e erosão do solo, os quais demonstram uma crescente tendência à aceleração do processo de eutrofização de lagos e represas. A eutrofização é um processo que ocorre em pequenas bacias de drenagem que possuem um aporte variável de minerais. Esse manejo, ocorrendo de forma lenta e natural, enriquece a água, pois em lagos e represas, o período de residência da água é maior e com movimentação menor, favorecendo o crescimento de microrganismos e vegetais. Nos rios, ao contrário, existe correnteza, caracterizando um movimento constante da água – o que dificulta a proliferação de microrganismos, mas não é o suficiente para impedir esse efeito. Assim, podemos dizer que é menos usual encontrarmos um rio eutrofizado. Águas em processo de eutrofização, como demonstra a figura a seguir, possuem excesso de minerais e matéria orgânica, favorecendo o crescimento desordenado de várias espécies de algas, principalmente as cianofíceas, que formam uma faixa espessa e opaca sobre a superfície do corpo de água, dificultando a entrada de luz e impedindo que suas camadas internas realizem fotossíntese. Esse feito traz como consequência a diminuição da concentração de oxigênio disponível, sendo responsável pela morte de peixes e outras espécies aeróbias. As algas que cobrem a superfície realizam fotossíntese, mas o oxigênio produzido se perde para a atmosfera. Materiais drenados (solo/adubos) Resíduos industriais Excesso de material orgânico no esgoto (nitrogênio e fósforo)Copo de água (lago ou represa) Superpopulação de (algas ou vegetação aquática) Diminuição da taxa de fotossíntese interna Mortandade de peixes Aumento da população de insetos Alteração no odor e alteração estética Barreira à diminuição de luz Aumento de organismos anaeróbicos Formação de lodo (material em decomposição) Figura 12 – Processo de eutrofização em lagos e represas 51 PR IS CO - E N F - Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 6/ 12 /2 01 6 SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA Algumas espécies de algas produzem substâncias tóxicas, enquanto outras podem alterar o odor e o sabor da água. A mortalidade dos peixes favorece o aumento da proliferação de insetos e mosquitos, além de proporcionar o crescimento de aguapés (plantas aquáticas) nas margens dos leitos, as quais, após seu ciclo de desenvolvimento, têm suas folhas, caules e raízes mergulhados e acabam se decompondo e formando um lodo no fundo desse leito – o que causa prejuízos ao abastecimento e às estações de tratamento. Usualmente, o aumento das algas está associado com a oferta de nitrogênio e de fósforo. Os esgotos domésticos, adubos agrícolas drenados e alguns resíduos industriais são ricos em nitrogênio – que ainda pode ser fixado diretamente do ar atmosférico pelas mesmas algas cianofíceas. Nas mesmas condições, o fósforo é encontrado em quantidades menores, mas o seu consumo pelas algas é muito inferior ao de nitrogênio. Lembrete A poluição da água está relacionada à proporção entre o volume de despejos e o da fonte receptora. A contaminação está ligada à introdução de substâncias nocivas e/ou resistentes à degradação. Durante décadas, a política pública deixou de investir significativamente na área de saneamento básico. Em grandes centros urbanos, a rede de coleta de esgoto é mais ampla, mas ainda em muitas regiões, o esgoto é liberado a céu aberto, demonstrando a existência de um déficit entre o avanço urbano e o tratamento de esgoto. Como descrito anteriormente, o esgoto despejado em um corpo de água pode ser estabilizado (decomposto) por um processo natural. Hipoteticamente, se considerarmos que todo o esgoto gerado pelos estados e servido pela bacia hidrográfica do Rio Amazonas fosse despejado diretamente nele, seria fácil de entender que essa bacia teria condições de estabilizar todo esse esgoto, pois o volume de água suportaria tal condição. Mas se considerarmos uma região populosa, como a sudeste, que despeja todo o seu esgoto diretamente sobre um rio, como ele ficaria? Como exemplo, podemos destacar no estado de São Paulo os rios Tietê e Pinheiros, que há algumas décadas serviram para pesca e navegação turística, mas, atualmente, estão sem vida, por motivo de que ainda existe uma parcela do esgoto (que é despejado nesses rios) sem tratamento. Observação Considerando todos os aspectos citados, o grande desafio às autoridades para a preservação dos mananciais abrange a preservação do meio ambiente, a restituição da fauna e até a flora de áreas aos seus arredores, sem nos esquecermos das melhorias relacionadas à oferta de saneamento básico. 52 PR IS CO - E N F - Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 6/ 12 /2 01 6 Unidade II No entanto, o principal aspecto que precisa ser melhorado é a oferta de saneamento básico, pois se torna primordial o tratamento do esgoto antes de sua devolução aos corpos de água, uma vez que existe uma correlação entre os poluentes encontrados no esgoto e algumas consequências no meio ambiente e na saúde. Para compreendermos todos os aspectos relacionados à contaminação da água pelos poluentes do esgoto, faremos um breve resumo sobre a identificação deles, mostrando os parâmetros de caracterização com suas respectivas consequências ao meio ambiente. São eles: Sólidos em suspensão • caracterização: sólidos em suspensão total; • efluente: doméstico e industrial; • consequências: problemas estéticos, depósito de lodo, presença de patógenos. Sólidos flutuantes • caracterização: óleos e graxas; • efluente: doméstico e industrial; • consequências: problemas estéticos. Matéria orgânica biodegradável • caracterização: demanda bioquímica de oxigênio (DBO); • efluente: doméstico e industrial; • consequências: eutrofização, mortalidade de peixes, piora das condições sépticas. Patogênicos • caracterização: coliformes; • efluente: doméstico; • consequências: doenças de veiculação hídrica. Nutrientes • caracterização: nitrogênio e fósforo; • efluente: doméstico e industrial; • consequências: superpopulação de algas. 53 PR IS CO - E N F - Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 6/ 12 /2 01 6 SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA Compostos não biodegradáveis • caracterização: pesticidas, detergentes, adubos e outros; • efluente: industrial e agrícola; • consequências: diminuição do oxigênio, odores fétidos, permanência da substância por vários anos sem degradação. Metais pesados • caracterização: elementos específicos (cádmio, cromo, mercúrio etc.); • efluente: industrial; • consequências: toxidade, contaminação de água subterrânea, inibição da ação biológica no esgoto. Sólidos inorgânicos dissolvidos • caracterização: sólidos dissolvidos totais, condutividade elétrica; • efluente: reutilizados; • consequências: salinidade excessiva, toxidade à vegetação, problemas de permeabilidade do solo. Em relação às doenças referentes ao esgoto, elas derivam do inadequado acondicionamento dos dejetos nos corpos de água. Um exemplo disso é a presença de coliformes fecais, o que indica contaminação fecal do corpo de água. Esses coliformes também podem ser encontrados no solo (pela defecação de animais) e nos alimentos (pela higienização deficitária). No solo, as fezes de um homem/ animal doente podem conter ovos de parasitas, que podem eclodir no solo e liberar larvas que penetram facilmente pela pele de outra pessoa/animal que se encontra saudável. A penetração dessas larvas pela pele favorece a sua instalação no intestino, comprometendo diversos órgãos. A higienização deficiente de alimentos também propicia a disseminação de doenças, pois eles se tornam veículos de transmissão quando, em alguma fase do processo, entraram em contato com o solo contaminado e foram mal-lavados ou higienizados com água contaminada. Outros exemplos no que se refere à transmissão de doenças são a ingestão de carne malcozida de um animal infectado e a procriação de insetos em locais infectados. Todos esses elementos são identificáveis e estão resumidos na figura a seguir, que demonstra que as excretas em contato com a água, o solo, o homem ou os vetores de doenças podem chegar aos alimentos, que podem ser digeridos ou absorvidos, favorecendo o surgimento da doença no organismo. 54 PR IS CO - E N F - Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 6/ 12 /2 01 6 Unidade II Vetores (insetos, mosquitos, caramujos) Solo (evacuações) Mãos (má higienização) Água (mananciais) Alimentos Doença Boca (ingestão) Pele (absorção) Excrementos Figura 13 – Esquema de geração de doenças de origem fecal É interessante ressaltar que muitas doenças de veiculação hídrica se enquadram naquelas relacionadas ao esgoto, principalmente as verminoses. Entre elas, estão cólera, febre tifoide, hepatites A e E, ascaridíase, tricuríase, ancilostomíase, esquistossomose, teníase, cisticercose, toxoplasmose e diarreias agudas. Como prevenção a essas doenças, podemos citaralgumas medidas: uso de vasos sanitários evitando a contaminação do solo, lavagem das mãos antes de manipular alimentos e após o uso do banheiro e a troca de fraldas, evitar banhos em córregos, lavar frutas e legumes utilizando água potável, filtrada ou fervida, cozinhar muito bem carnes que venham de locais de abate desconhecidos, melhorar instalações sanitárias, tratar o esgoto antes de disponibilizá-lo ao solo e controlar a proliferação de vetores. Ainda em relação às doenças, os vetores podem transferir um agente infeccioso de uma população animal portadora de doença aos seres humanos. Geralmente isso ocorre devido à picada de pessoas contaminadas por insetos que, em seguida, picam alguém sadio. Saiba mais A ciência atua na fronteira do conhecimento. Para ver que tipo de avanços tecnológicos teremos a nosso favor, sugerimos a leitura da notícia a seguir: CRISTINO, L. G. Bahia inicia uso de inseto transgênico contra a dengue. Folha de São Paulo, Ciência, São Paulo, 24 fev. 2011. Disponível em: <http:// www1.folha.uol.com.br/ciencia/880408-bahia-inicia-uso-de-inseto- transgenico-contra-dengue.shtml>. Acesso em: 24 fev. 2017. 55 PR IS CO - E N F - Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 6/ 12 /2 01 6 SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA O impacto da falta de saneamento básico na saúde e sobre o meio urbano é evidente, mas a prevalência das doenças é maior na população carente que, por falta de recursos, instala sua moradia em locais de risco, sem abastecimento de água, sem coleta de esgoto e, na maioria dos casos, em locais que deveriam ser destinados à preservação ambiental. No entanto, não podemos descartar o papel da classe social de maior aquisição econômica, pois ela contribui em relação ao consumismo e produção de resíduos sólidos (lixo), cuja destinação também constitui um grande problema ambiental, que será discutido com mais detalhes posteriormente. Assim, a falta de coleta e a disposição inadequada do lixo podem ser consideradas fontes de alimento, abrigo e proliferação de macrovetores de doenças. Segundo Barros et al. (1995), ratos, baratas, suínos e aves são considerados os macrovetores mais comuns em ambientes urbanos com pouca estrutura de saneamento básico. Podemos destacar algumas enfermidades relacionadas ao lixo. São elas: • leptospirose, peste bubônica e tifo murino: são transmitidas por ratos e pulgas que vivem no corpo do rato, por meio da mordida, pela urina e pelas fezes desses roedores; • febre tifoide, cólera, amebíase, disenteria, giardíase, ascaridíase, amebíase e salmonelose: são transmitidas por moscas, por via mecânica, por meio de asas, patas e corpo desses insetos e também por suas fezes e saliva; • malária, febre amarela, leishmaniose, dengue, zika, chikungunya e filariose: são transmitidas por mosquitos, por meio da picada das fêmeas; • febre tifoide, giardíase e cólera: também podem ser transmitidas por baratas, por via mecânica, por meio das asas, patas, corpo e pelas fezes desses insetos; • cisticercose, toxoplasmose, triquinelose e teníase: são transmitidas por suínos e gado, por meio da ingestão de carne contaminada; • toxoplasmose: transmitida por cães, gatos e aves, por meio de sua urina e fezes. Ainda sobre os macrovetores, é interessante salientar que, para serem contaminados, eles entraram em contato com o agente infeccioso e, portanto, o transportarão em seu corpo, nas asas, patas e penas. Além disso, esses macrovetores podem ter ingerido material contaminado, transmitindo o agente infeccioso por meio de sua saliva, picada, urina e fezes. Dentre os mosquitos (pernilongos), apenas as fêmeas são hematófagas (se alimentam de sangue); elas transmitem a doença por meio da picada, enquanto os machos se alimentam de néctar de flores e sucos de vegetais. Dengue, chikungunya e zika têm sido doenças virais de grande preocupação sanitária, principalmente no Brasil. Recentemente, foi descoberto que o mesmo mosquito pode transmitir as três doenças. Contudo, a zika tem sido de grande preocupação, pois está associada à microcefalia em bebês de mães que foram contaminadas, durante a gestação. 56 PR IS CO - E N F - Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 6/ 12 /2 01 6 Unidade II O MS tem observado de perto os números dos indivíduos infectados pelas três doenças. No primeiro semestre de 2016, cerca de 1.294.583 pessoas foram contaminadas com dengue no País inteiro, sendo que o Nordeste lidera o ranking, com mais de 20% do total de casos. Em se tratando de Chikungunya, em 2015 foram confirmados 13.236 casos da doença, enquanto que somente no primeiro semestre de 2016, foram 122.762 casos. Novamente, o Nordeste foi o líder do ranking para Chikungunya. Em relação ao Zika, foram confirmados 64.311 casos somente no primeiro semestre de 2016. No que se refere às gestantes, foram confirmados 5.647 casos. Contudo, para o Zika, o Centro-oeste lidera o ranking dos casos (BRASIL, 2016). Outro fator que contribui para a degradação do meio ambiente é a forma e o tipo de energia que utilizamos. Na Antiguidade, a energia elétrica era obtida da queima de lenha para as necessidades domésticas e o aquecimento do local. Contudo, o crescimento populacional obrigou a criação de outras fontes de energia mais viáveis, pois o consumo energético aumentou significativamente. As energias derivadas da água e dos ventos passaram a ser utilizadas, mas não eram suficientes para suprir toda a população, principalmente nas grandes metrópoles. Entretanto, isso foi modificado após a Revolução Industrial, período em que a energia começou a ser obtida a partir de carvão, petróleo e gás – que são caros e ainda têm efeitos deletérios ao meio ambiente. Ainda nos dias atuais, os padrões de consumo de energia da população são baseados na utilização de fontes de energia não renováveis, como as fósseis (petróleo, carvão e gás) e as nucleares (radiação), que possuem efeitos sobre a camada de ozônio e causam impacto direto na vida das pessoas. Para modificar essa situação, são necessárias a conscientização e a criação de outras fontes de energia, as renováveis (provenientes da hidráulica, da eólica e da produção de etanol), que serão abordadas posteriormente. Os objetivos são demonstrar os malefícios de algumas ações humanas sobre o meio ambiente e sobre a vida da população, apontaremos o impacto das fontes de energia não renováveis sobre o ambiente e o ser humano. A qualidade do ar se enquadra como outro fator importante para a saúde humana, além da qualidade da água e do tratamento de esgoto. Diversas doenças de ordem respiratória são influenciadas pela má qualidade do ar que respiramos. Isso se reflete pela falta de áreas verdes, principalmente nas grandes metrópoles, e pelo aumento da produção de substâncias químicas que são despejadas na atmosfera. É importante ressaltar que esses dois fatores que interferem na qualidade do ar são resultados do desenvolvimento humano. A atmosfera terrestre, uma fina camada de gases que envolve o planeta Terra, é mantida em seu lugar pela gravidade e é considerada o principal fator de sustentação do ecossistema planetário. O ar seco da atmosfera é constituído de nitrogênio, oxigênio, argônio, dióxido de carbono e outros gases inertes. Os restantes incluem os gases do efeito estufa, como dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e ozônio, além do vapor d’água. A camada de ozônio é formada pelo gás ozônio e é uma parte importante da atmosfera, pois trata-se de uma proteção poderosa contra os raios ultravioletas (UV) provenientes do Sol. Essa camada permite que não aconteçam maiores danos à vida dos seres vivos, ao protegê-los contra os raios UV antes que 57 PR IS CO - E NF - Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 6/ 12 /2 01 6 SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA eles atinjam a superfície da Terra. Assim, qualquer dano nessa camada, como aquela observada por Joe Farman, na região da Antártida em meados de 1980, gera consequências irreversíveis para a vida, como o aquecimento global. Esse, por sua vez, afeta o clima da Terra e é responsável pelo surgimento de diversas doenças que posteriormente serão discutidas em detalhes. O efeito do aquecimento global sobre o meio ambiente e a saúde humana estão esquematizados na figura a seguir. Elevação da temperatura planetária Alterações nos regimes das chuvas Ondas de frio e ondas de calor Descongelamento de microrganismos Enchentes/ enfermidades de veiculação hídrica Maior aglomeração/ doenças de transmissão respiratória Novas doenças Figura 14 – Inter-relações entre ambiente e saúde A descoberta de Joe Farman iniciou uma crise ambiental importante, voltando os olhos de todas as organizações governamentais a questões ambientais, as quais prevalecem até os dias atuais. Duas das medidas criadas por essas organizações foram os Protocolos de Montreal (1987) e de Kyoto ou Quioto (1997), que visam a defesa do meio ambiente, não permitindo que ações humanas sobre eles sejam capazes de degradá-lo ou poluí-lo. Além disso, esses protocolos geraram um pensamento ambientalista em diversos países, favorecendo a aplicação de ações que visam a educação ambiental, como a alfabetização ecológica e a ação propriamente dita. Em relação ao Protocolo de Montreal, que entrou em vigor em 1989, uma das suas funções é a substituição das substâncias que afetam a camada de ozônio e, consequentemente, aumentam o efeito estufa – ou seja, causam mais danos à camada de ozônio. Dentre as substâncias que a afetam, as mais conhecidas são os clorofluorcarbonos (CFCs). No entanto, os halons, os tetracloretos de carbono (CTCs) e os hidroclorofluorcarbonos (HCFCs) também compõem essa lista, pois todos eles são provenientes de processos industriais. Na década de 1930, os CFCs se tornaram essenciais para o desenvolvimento industrial. Contudo, apesar do crescimento e do desenvolvimento industrial e comercial gerado pelo uso dos CFCs, foi observado que esses compostos eram fortemente nocivos para o meio ambiente e para os seres vivos, pois danificavam seriamente a camada de ozônio. Tais observações favoreceram a criação de medidas para a substituição industrial desses compostos. Já o Protocolo de Kyoto (1997) fixa metas para diminuir a poluição por queima de produtos fósseis, os quais também são responsáveis pelo efeito estufa. Como as principais causas da poluição atmosférica são determinadas pelas emissões de poluentes das indústrias siderúrgicas, queima de carvão e petróleo 58 PR IS CO - E N F - Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 6/ 12 /2 01 6 Unidade II pelas indústrias, automóveis e sistemas de aquecimento doméstico, a redução dessas emissões se faz extremamente importante para a melhoria da qualidade do ar. Com a criação do Protocolo de Kyoto, os países tiveram que reduzir a emissão dos gases do efeito estufa em cerca de 5,2% entre 2008 e 2012. Além disso, os países que assinam esse protocolo devem investir em projetos de redução das emissões em outras nações, além de estimular atividades que favoreçam o plantio de árvores e a conservação do solo, a fim de aumentar a absorção de carbono do ambiente. No entanto, tal protocolo é bastante limitado em suas ações de forma global, considerando que grandes nações, como os Estados Unidos, não o assinaram mesmo sendo um dos países que mais emitem poluentes, principalmente o CO2, na atmosfera. Já o Brasil é um dos países com maior número de iniciativas a respeito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, que diminui as consequências do processo de geração de poluentes nos países em desenvolvimento. No entanto, a participação do Brasil nas questões ambientais não se iniciou somente no Protocolo de Kyoto. Bem antes dele, o País já considerava importante a proteção da camada de ozônio; por isso, aderiu à Convenção de Viena e assinou o Protocolo de Montreal (1990). Ele afirmava que os países desenvolvidos que, de acordo com a história, utilizaram tais substâncias no progresso de sua nação, deveriam financiar a erradicação delas nos países em desenvolvimento. O financiamento de todas as ações para o cumprimento das exigências do Protocolo de Montreal é proveniente do Fundo Multilateral (FML, criado em 1990), o qual é administrado por um comitê de caráter executivo e recebe fomento de países desenvolvidos. O Brasil é um dos países que recebe apoio financeiro desse fundo para o desenvolvimento de suas ações contra a destruição da camada de ozônio. No entanto, para que todas as ações fossem realizadas com seriedade, a Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária passou a fiscalizar, controlando e regulamentando em primeira instância, os rótulos dos produtos que não continham CFCs. Em 1991, o Governo Federal criou o Grupo de Trabalho do Ozônio (GTO) para a implementação do Protocolo de Montreal no Brasil. Concomitantemente, ações no MS intervindo na produção e venda desses itens, como cosméticos e produtos higiênicos contendo CFCs, favoreceram as ações impostas pelo protocolo no País. Com a regulação e a aprovação do Conama (1995), foram criadas prioridades para a eliminação dos CFCs dos produtos industrializados. Além disso, o governo federal criou o Prozon (Comitê Executivo Interministerial para a Proteção da Camada de Ozônio), e o Ministério do Meio Ambiente passou a coordená-lo. Assim, considerando todos os aspectos anteriormente descritos, foi imprescindível a criação de órgãos públicos fiscalizadores de diversos atos contra o meio ambiente e, consequentemente, contra a saúde da população. A partir do I Seminário da Política Nacional de Saúde Ambiental (2005), foi redefinido o documento denominado Subsídios para construção da Política Nacional de Saúde Ambiental, o qual foi o fruto de diversos debates entre os principais órgãos controladores do meio ambiente, que são: Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (Singreh), Coordenação Geral de Vigilância em Saúde Ambiental (CGVAM) da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Comissão Permanente de Saúde Ambiental (Copesa) e Conselho Nacional de Saúde (CNS), que é subsidiado pela Comissão Intersetorial de Saneamento e Meio Ambiente (Cisama). 59 PR IS CO - E N F - Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 6/ 12 /2 01 6 SAÚDE AMBIENTAL E VIGILÂNCIA SANITÁRIA Para ficar mais claro, o quadro a seguir demonstra um resumo temporal de todas as conferências das Nações Unidas sobre o desenvolvimento que colaboraram de alguma forma para a proteção do meio ambiente e para a promoção da saúde humana. A última reunião aconteceu em 2015 (que não está representada no quadro) e teve como tema Transformar nosso mundo para as pessoas e o planeta. Quadro 1 – Resumo das conferências das Nações Unidas sobre o desenvolvimento Ano Conferências 1990 Cúpula Mundial das Nações Unidas sobre a Criança 1992 Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento 1993 Conferência das Nações Unidas sobre os Direitos Humanos 1994 Conferência das Nações Unidas sobre Populações e Desenvolvimento 1995 Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Social 1996 Conferência das Nações Unidas sobre Assentos Humanos 1996 Cúpula Mundial das Nações Unidas sobre Alimentação 2000 Cúpula do Milênio: Declaração e Objetivos do Milênio 2002
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