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CLÍNICA MÉDICA ! DOENÇAS ENDÓCRINAS E METABÓLICAS30 A síndrome de Smith-Lemli-Opitz, causada pela deficiência da enzima 7-deidrocolesterol redutase, ca- racteriza-se pela presença de malformações congênitas múltiplas e ambigüidade da genitália externa57. Disforia de gênero Disforia de gênero ou transexualismo é uma ano- malia da identificação sexual. Os pacientes têm con- vicção de pertencer ao sexo oposto e demonstram, consistentemente, desejo e necessidade de adequação do corpo ao sexo psíquico. O transexualismo é mais freqüente no sexo mascu- lino, com uma prevalência de 1:11.900 homens e 1:30.400 mulheres58. A etiologia do transexualismo per- manece desconhecida. As primeiras manifestações ocorrem muito precoce- mente na infância. Os pacientes não apresentam nenhu- ma alteração da genitália externa ou interna, bem como nenhuma alteração hormonal. O diagnóstico de transe- xualismo é realizado exclusivamente por meio de testes psicológicos aplicados por profissional especializado. Tratamento O objetivo do tratamento é adequar o fenótipo à identidade sexual do paciente. O tratamento só deve ser iniciado após um longo e cuidadoso estudo clínico e psiquiátrico do paciente e após pelo menos 2 anos de psicoterapia, selecionando os pacientes que realmente devem ser submetidos ao tratamento cirúrgico59. Tratamento dos distúrbios do desenvolvimento sexual Tratamento psicológico O acompanhamento psicológico da família e do paciente deve ser iniciado no momento do diagnóstico. Nenhuma decisão de mudança do sexo social poderá ser tomada sem uma avaliação psicológica criteriosa da identidade sexual do paciente e de sua aceitação pela família. Tratamento hormonal Sexo social feminino O tratamento hormonal visa ao desenvolvimento dos caracteres sexuais femininos e menstruação. No tratamento, simula-se uma puberdade normal e introduzem-se baixas doses de estrógenos conjugados (0,07 a 0,15 mg/dia) diariamente, entre os 10 e 11 anos de idade, o que dependerá da avaliação psicológica da paciente. Após o desenvolvimento completo das ma- mas, mantém-se a dose de estrógeno conjugado de 0,3- 0,625 mg continuamente e associa-se acetato de medro- xiprogesterona (5 a 10 mg do 1o ao 12o dias/mês) para induzir a menstruação. Nas pacientes que não têm úte- ro, mantém-se apenas a reposição estrogênica. Quando o diagnóstico é feito mais tardiamente e a paciente não apresenta retardo de crescimento, inicia-se a terapêutica com 0,625 mg de estrógenos conjugados por 6 meses e em seguida associa-se a progesterona no mesmo esquema. Durante o tratamento de reposição hormonal, todas as pacientes devem ser acompanhadas anualmente com exame ginecológico de rotina, ultra- sonografia de mamas e densitometria óssea. Sexo social masculino Quando o diagnóstico é realizado em idade pré-pu- beral, inicia-se a reposição de testosterona entre os 10 e 11 anos, o que dependerá da avaliação psicológica da criança, simulando a puberdade normal. Aplica-se a dose mensal de 25 a 50 mg de ésteres de testosterona. Geralmente, dobra-se a dose a cada 6 meses, acompa- nhando a evolução da idade óssea anualmente. A dose de manutenção no paciente adulto é de 200 a 250 mg de ésteres de testosterona a cada 2 semanas. Tratamento cirúrgico Esse tratamento deve ser realizado de preferência antes dos 2 anos de idade, época em que a criança toma consciência dos seus genitais e do seu sexo social. O tratamento cirúrgico visa corrigir os genitais ex- ternos e retirar as estruturas internas antagônicas ao sexo social. Porém, o tratamento cirúrgico indicado vai depender de vários fatores, incluindo basicamente o grau de desenvolvimento do falo, o desejo da família e o diagnóstico etiológico do paciente. Atualmente, a ci- rurgia por via laparoscópica tem sido utilizada com a vantagem de permitir uma boa visualização dos genitais internos e das gônadas e não deixar cicatrizes. Na intervenção cirúrgica para correção da ambigüi- dade genital no caso de sexo social feminino, realizam-se a clitoroplastia, mantendo-se a glande clitoriana que é implantada no períneo, e a abertura do seio urogenital, expondo o intróito vaginal. No sexo social masculino, a cirurgia é feita em pelo menos duas fases com um inter- valo de 6 meses entre cada uma delas. O tratamento ci- rúrgico é em geral bem-sucedido, tanto do ponto de vis- ta estético quanto funcional, permitindo uma atividade sexual satisfatória para a maioria dos pacientes60. A infertilidade é muito freqüente nos casos de DDS 46,XY. Atualmente, com o desenvolvimento das técnicas de fertilização in vitro, é possível a fertilização em alguns pacientes com DDS 46,XY. Nas pacientes com DDS 46,XX por hiperplasia adrenal congênita virilizante, a correção do hiperandrogenismo permite fertilidade normal. Considerações finais O diagnóstico e o tratamento dos DDS 46,XX e 46,XY exigem uma equipe multidisciplinar adequada- mente preparada e apoiada numa estrutura laboratorial que permita um diagnóstico rápido e seguro. A agilida- Martins - Clínica Médica (Volume 5)
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