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Gênero e poder: a construção da masculinidade e o exercício do poder masculino na esfera 
doméstica. 
Maria Beatriz Nader* 
Jacqueline Medeiros Caminoti** 
 
Tanto a masculinidade quanto a feminilidade são socialmente construídas. Sobre o sexo biológico 
são criadas demandas culturais que indicam os papeis que devem ser desempenhados pelos 
gêneros masculino e feminino, bem como a relação que serão estabelecidas entre eles. As relações 
de gênero não ocorrem de maneira igualitárias e simétricas. Elas são permeadas por relações de 
poder e dominação dos homens sobre as mulheres. No âmbito doméstico e conjugal/amoroso, o 
ato sexual pode em algumas situações específicas, tornar-se coercitivo e configurar-se como meio 
eficaz de se estabelecer a dominação masculina. Neste artigo pretendemos esboçar algumas ideias 
acerca da construção da masculinidade nos homens e sua intrínseca relação com o poder, 
sobretudo aquele exercido cotidianamente pelos homens na esfera doméstica. 
 
 A construção da masculinidade 
 
O sentimento e as atitudes indicativas de masculinidade são, acima de tudo, construções sociais e 
não puramente inatos aos representantes do sexo masculino1. Nesse sentido, consideramos 
necessário diferenciar o sexo biológico dos conceitos de gênero e identidade de gênero. 
 
 
* Professora do Programa de Pós Graduação (mestrado e doutorado) em História Social das Relações 
Políticas da Universidade Fderal do Espírito Santo. 
 
**Mestranda do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal do Espírito Santo. Bolsista da 
CAPES. 
 
1 Além disso, a masculinidade não é unívoca. O masculino é uma concepção genérica e não universal, ou seja, 
depende da sociedade em que está inserida. Apesar disso, grosso modo, Robert W. Connell e James W. 
Messerschmid afirmam que, em todos os grupos sociais existem a masculinidade hegemônica e as 
masculinidades subordinadas. “A masculinidade hegemônica não se assumiu normal num sentido estatístico; 
apenas uma minoria dos homens talvez a adote. Mas certamente ela é normativa” (CONNELL). Ou seja, a 
masculinidade hegemônica, apesar é virtualmente inatingível por qualquer homem, existe de maneira forte e 
consistente no plano discursivo e exerce sobre homens e mulheres um papel controlador. 
 
 
 
A palavra gênero possuiu outras acepções no passado remoto mas no último quartel do século 
XX, as feministas passaram a adotá-la para referir-se a organização social entre os sexos. Ao 
insistir em utilizar o termo gênero, elas desejavam marcar o caráter iminentemente social das 
distinções sexuais, rejeitando, portanto, o determinismo biológico impregnado na palavra sexo 
(SCOTT, 1990, p.2). 
 
Embora seja inegável a diferença biológica entre e homens e mulheres, as Ciências Sociais 
entende - a partir da utilização do termo gênero - que a organização social é um fator muito mais 
influente na construção das identidades masculinas e femininas. Sobre a base das naturais 
diferenças biológicas, foram culturalmente criadas outras diferenças (NADER, 2002, p.470). 
Dessa forma, gênero tornou-se uma palavra útil pois, distingui a prática sexual dos papeis 
atribuídos socialmente a homens e mulheres (SCOTT,1990, p.7). 
 
As relações sociais são extremamente complexas. A construção do gênero é um processo que as 
simplifica na medida em que atribui a “homens e mulheres características de agência e poder que 
não lhes são inerentes” (ALMAEIDA, 1996, p.17). Sexo e gênero - frequentente considerados 
sinônimos- são categorias distintas. Se as características anatômicas determinam a qual sexo o 
indivíduo pertence, o gênero é uma construção social que define o que significa ser de um sexo 
ou de outro na sociedade (HARDY e JIMENEZ, 2001, p.78). 
Além disso, o termo gênero reforça o caráter relacional entre o masculino e o feminino. Os 
campos de atuação de cada sexo são definidos a partir dos papeis que a sociedade atribui a 
homens e mulheres. O conceito de papel social foi adotado da literatura e do teatro e assinala 
comportamentos que os indivíduos exercem de forma contínua e cotidiana (NADER, 2002, 
p.463). Podemos estabelecer uma analogia com uma peça teatral, onde homens e mulheres são 
interpretes que se expressam, de acordo com um roteiro pré-estabelecido, para um público que 
avalia seu desempenho. Papel social pode ser entendido também como o conjunto de direitos e 
deveres que determina o status, ou seja, a posição que o indivíduo ocupa na sociedade. Nas 
ciências sociais, portanto, o conceito de papel social é bastante amplo, podendo designar a 
expectativa de conduta do indivíduo ou mesmo o comportamento efetivamente realizado por ele 
(NADER, 2002, p.464). Nesse trabalho, salvo observação contrária, entendemos papel social 
como a expectativa de comportamento a ser realizado pelo indivíduo. 
 
 
 
Nem todos os homens são dotados de traços e atitudes que usualmente caracterizam a 
masculinidade. Entretanto, a masculinidade parece oferecer uma série de vantagens que leva aos 
homens a ter interesse em cumprir esse papel, bem como as mulheres a adotar algumas posturas 
e comportamentos atribuídas a eles (HARDY e JIMENEZ, 2001, p.78). 
 
Miguel Vale de Almeida vai além ao afirmar que até mesmo o corpo sexuado é uma construção 
histórica e social. Masculinidade e feminilidade não seriam, portanto, um conjunto de 
características típicas de homens e mulheres. Antes disso, são metáforas de poder e podem ser 
acessadas por ambos sexos quando necessário (ALMEIDA, 1996, p.1). 
Como masculinidade e feminilidade são construções sociais, dependem bastante da educação 
recebida na infância e das influências sofridas ao longo da vida. As pessoas nascem com um 
sexo biológico e ele acaba determinando a maneira como serão tratadas pela família e pela 
comunidade a qual pertencem. Dessa maneira, tornam-se homens e mulheres aceitos 
socialmente. O processo de construção do gênero varia tanto dependendo do tempo histórico 
quanto do lugar onde o indivíduo está inserido (HARDY e JIMENEZ, 2001, p.78). Não 
significa a mesma coisa ser homem ou mulher, viver na Idade média ou no século XXI 
(PERROT, 2008 p.90). 
Apesar disso, a identidade de gênero começa a ser desenvolvida de maneira quase universal. Tal 
identidade é percepção por parte do próprio indivíduo que pertence a um sexo e não a outro. 
Ainda durante a primeira infância, a pessoa recebe estímulos para reproduzir comportamentos 
culturalmente compatíveis com seu gênero. Se responde de maneira satisfatória, recebe a 
contrapartida afetiva. O contrário também é verdadeiro. Quando a criança não reproduz o 
comportamento considerado adequado pelo adulto, é repreendida. É o caso por exemplo, dos 
meninos que são incentivados a manifestar agressividade durante suas brincadeiras. Como ocorre 
muito cedo na vida do indivíduo, a construção da identidade de gênero tende a ser uma das 
identidades mais básicas e estáveis do ser humano (NADER, 2002, p.473). 
A identidade masculina define e justifica o papel social do homem na sociedade . A construção 
da masculinidade inicia-se já durante a gestação, quando os pais começam a imaginar como será 
a criança baseada em seu sexo. Após o nascimento, o indivíduo do sexo masculino percorre um 
 
 
longo caminho até tornar-se “homem”. Na sociedade ocidental atual, a família, a escola, a 
religião, a mídia e a sociedade em geral, ensinam de maneira velada ou explicita quais 
comportamentos são masculinos ou não (NADER, 2002, p.473). 
De maneira geral, durante o primeiro ano, o menino possui uma relação exclusiva com a mãe (ou 
alguém que cumpra seu papel). Ela lhe dá o sustento e meios de sobrevivência. Mesmo que 
exista a figura paterna, ela é mais distante. O pai exerce, nesse primeiro momento, o papel de 
provedor da criança. O fim da dependência do filho perante sua mãe surge ao mesmo tempo emque o menino começa a desenvolver seu papel masculino. O pai surge para libertá-lo do vínculo 
materno. A figura paterna pode ser substituída por outro homem seja o avô, um tio ou irmão 
mais velho. A própria mãe pode desempenhar o papel ao adotar com o filho posturas que 
culturalmente são interpretadas como masculinas (HARDY e JIMENEZ,2001, p.80). 
Vale de Almeida constatou empiricamente o processo descrito por Hardy e Jiménez. No início da 
década de 1990, afim de estabelecer relações entre gênero, masculinidade e poder, o pesquisador 
realizou um estudo de caso com trabalhadores de uma pedreira na aldeia de Pardais, ao sul de 
Portugal. Lá observou que há diferenças entre os laços estabelecidos pelas mães e seus filhos e 
filhas. O laço mãe–filha ocorre através de uma relação de apoio mútuo e continua durante toda a 
vida, mesmo depois do casamento das filhas. Já o laço mãe-filho configura-se de maneira mais 
complexa. Ao fim da infância, o menino é separado do mundo feminino e materno devido a 
pressões dos grupos masculinos. Esse fenômeno leva a conflitos e produzem no homem uma 
imagem mistificada de sua mãe como modelo de mãe ideal (ALMEIDA, 1996, p.15). 
A masculinidade não é apenas a formulação cultural de um dado natural. Ela é um processo de 
construção social contínuo, frágil e disputado. A manutenção desse processo é permanentemente 
vigiado e, sobretudo, auto-vigiado. O homem é socialmente cobrado e deve, o tempo todo, evitar 
posturas não másculas e também fornecer provas de sua masculinidade (ALMEIDA, 1996, p.2). 
A masculinidade construída ao longo da vida é considerada uma qualidade que, assim como se 
obtém, pode ser perdida de acordo com as circunstâncias e a história de cada indivíduo (HARDY 
e JIMENEZ, 2001, p.82). 
Via de regra, a atividade laboral, que normalmente é realizada fora do espaço doméstico, é uma 
das bases para construção da identidade masculina. O trabalho – que para os homens não está 
 
 
ligado a escolha e sim a fatalidade - está misturado a afetividade e sexualidade masculina e, junto 
com elas, formam a tripé da masculinidade (NOLASCO, 1993 p.70). 
O trabalho remunerado é uma função que culturalmente atribui-se ao homem. É o trabalho que 
constitui a base da respeitabilidade masculina na sociedade, na medida que permite ao homem 
obter reconhecimento, segurança e autonomia. A perda do emprego, portanto, provocaria a 
sensação de diminuição da masculinidade. Essa sensação seria percebida não só pelo próprio 
homem mas também por sua companheira e filhos. Existem estudos que indicam que o 
desemprego é uma das causas da violência doméstica e do alcoolismo (HARDY e JIMENEZ, 
2001, p.81). 
Em muitos casos, o corpo apto para o trabalho é um corpo dotado de força física. Na vida 
homem, este momento geralmente, é o mesmo da maturidade sexual de seu corpo (ALMEIDA, 
1996, p.6). 
Outra parte considerável da construção e do exercício da masculinidade ocorre durante as 
conversas masculinas sobre sexo, a relação entre os sexos e a sexualidade. É corrente a idéia de 
que os homens são naturalmente carregados de pulsão sexual. Dessa forma, cria-se um modelo 
de masculinidade altamente hierarquizador, onde feminiza-se aquele que se quer humilhar e 
vangloria a masculinidade daquele que se deseja elogiar. A falta de sexualidade é para o homem 
motivo de suspeita de homossexualidade. O casamento é, portanto, motivo de honra. É a prova 
da virilidade. Nesse sentido se assemelha ao trabalho; ambos privam o homem da liberdade mas 
são sinais de prestígio público. (ALMEIDA, 1996, p.12-14). 
 
O exercício do poder masculino na esfera doméstica 
A masculinidade, construída socialmente nos homens, possui um elemento chave que é a relação 
de poder que existe entre eles e as mulheres. O poder não é algo que uma pessoa ou um grupo 
possua, e sim uma relação que se estabelece entre dois polos. Para que a relação de poder seja 
efetivada, é necessário que exista um meio que a conduza, que pode ser ideológico, econômico 
ou coercitivo (força). Além disso, o polo “B” (aquele sobre o qual o poder é exercido) deve 
mudar seu comportamento em decorrência da vontade do polo “A” (aquele que exerce o poder) 
(BOBBIO, 2000, pgs.933-942). 
 
 
Já para Weber, o conceito de poder não tem forma definida, pois significa a probabilidade de 
impor sua vontade dentro de uma relação social, mesmo contra toda resistência e qualquer que 
seja o fundamento dessa probabilidade. Ainda segundo Weber, dominação é um conceito mais 
preciso, uma vez que é a legitimação do poder. Ou seja, a dominação seria possibilidade de 
encontrar obediência para ordens específicas, uma vez que quem obedece considera a ordem 
legítima. Os tipos puros de dominação seriam tradicional, carismática e racional-legal (WEBBER, 
1984, p.43). 
Em se tratando de relações de gênero, também consideramos que dominação seja um conceito 
útil. Partindo da teoria weberiana, podemos afirmar que entre homens e mulheres, na maioria das 
vezes, a dominação é do tipo tradicional, legitimada pela crença cotidiana das tradições vigentes 
desde sempre. Apesar disse, em alguns momentos históricos, a dominação masculina foi 
amparada por bases racionais e legais2. 
Pierre Bourdieu também utiliza o conceito dominação para analisar as relações de gênero. Para o 
autor, ainda na atualidade o gênero masculino domina o feminino. A dominação masculina não é 
apoiada prioritariamente na força bruta, nas armas ou na dependência financeira. Esses fatores 
possuem seu grau de influência, entretanto, se fossem determinantes, quando cessados a mulher 
deveria adquirir sua total libertação. A dominação dos homens sobre as mulheres, via de regra, 
ocorre no campo do simbólico. O dominado (no caso, a mulher) adere a dominação de maneira 
irrefletida e passa a considerar que aquilo seja natural3. A violência simbólica é fruto da 
exposição prolongada e precoce as estruturas de dominação (BOURDIEU, 2003, p. 26). 
A esfera doméstica é um ambiente onde tradicionalmente ocorre o exercício de poder e 
dominação masculina. Uma dos meios mais eficazes de dominação das mulheres pelos homens 
em um contexto doméstico e/ou conjugal/amoroso é o ato sexual. Obviamente nem toda relação 
sexual se configura como violência física ou mesmo simbólica. Entendemos que a mulher, a 
exemplo do homem, possui pulsões sexuais. Entretanto, mesmo nas sociedades ocidentais da 
 
2
 É o caso, por exemplo, do trabalho do Código Civil Brasileiro de 1918 que previa diversas vantagens dos 
maridos sobre as esposas. No parágrafo único do artigo 26 da referida lei, afirmava que a mulher casada era 
obrigada a residir no domicílio do marido. E ainda no parágrafo sétimo do artigo 178, que o marido poderia 
anular aos da mulher, praticados sem o seu consentimento (BRASIL, LEI Nº 3.071, DE 1º DE JANEIRO DE 
1916). 
 
 
 
 
atualidade, homens e mulheres são ensinados a pensar o ato sexual de maneira diferenciada. 
Enquanto as moças tendem a imaginar o sexo ligado também a relações amorosas, os rapazes o 
encaram como uma conquista, apropriação, dominação e posse. Nas conversas entre os homens é 
bastante comum “contar vantagem” de suas conquistas sexuais (BOURDIEU, 2003, p.25-26). A 
divisão sexual arbitrária que se fez do biológico vem legitimar a dominação do masculino sobre 
o feminino, na medida em produz um caráter “natural” ao que, na verdade, é uma construção 
social naturalizada (BOURDIEU, 2003, p29). 
As próprias representações que associam homens ao “cima” e o “ativo” e a mulher ao “baixo” e 
“passivo”, descreve a relação sexual como uma relação de dominação. Em francês (baiser) e em 
inglês (“fuck”) possuem a conotação de dominar, de submeter ao poder, enganar, abusar, 
possuir. A própria virilidade masculina está inscrita na lógica da conquista, da exploração 
(BOURDIEU,2003, p.25). 
Em um contexto doméstico e conjugal(em relações estáveis ou mesmo no namoro), homens 
violentos tendem a encarar o sexo como as companheiras como um direito adquirido. .Em nossa 
pesquisa, encontramos alguns dados que indicam essa tendência. Para a produção da dissertação 
de mestrado utilizamos como fontes documentais boletins de ocorrência registrados na Delegacia 
da Mulher de Vitória- ES (DEAM) entre os anos de 2006 e 2009. 
Chama a atenção o baixo número de registros denúncias de crimes sexuais na DEAM- Vitória4. 
Em se tratando de crimes dessa natureza ocorridos no âmbito doméstico, porcentagem de casos 
torna-se irrelevante. Entretanto, analisando o teor das demais denúncias de violência, 
percebemos que os abusos sexuais estão presentes em muitos relatos, até mesmo como 
motivador da violência física. Não é incomum relatos de mulheres agredidas por se recusarem a 
manter relações sexuais com seus maridos, namorados, companheiros ou ex-companheiros. 
Além disso, muitos relatos de mulheres indicam que o autor manteve ou tentou manter relações 
sexuais forçadas com a vítima. Entretanto, tal fato não é percebido como uma violência. 
 
4
 Ao realizarmos uma análise preliminar das fontes, constatamos que o número de mulheres que 
denunciaram agressões de natureza sexual nos anos de 2006 e 2007 na capital capixaba foi bastante reduzido, 
sobretudo se comparado as denúncias de outros tipos de violência contra mulher em Vitória. Dos 2.326 
casos de violência contra a mulher registrados em boletins de ocorrência na Delegacia de proteção á Mulher 
de Vitória (DEAM), observamos que apenas 19 casos possuíam cunho sexual como natureza da agressão, ou 
seja, menos de 1 % dos casos. É importante salientar que desses casos, a maioria são denúncias de 
mulheres abusadas ou 
assediadas em seu ambiente de trabalho por colegas ou superiores 
 
 
Identificamos que casos dessa natureza só são denunciados quando há outros tipos de agressões 
envolvidas (física, verbal, ameaça etc...). Isso sugere que o número de casos abusos sexuais no 
âmbito doméstico é provavelmente bem maior do que os denunciados e que há uma possível 
naturalização desse tipo de violência. 
Considerações finais 
A relação entre os entre os gêneros é caracterizada pelo poder dos homens sobre as mulheres e 
sua legitimação pela sociedade, o que caracteriza o processo de dominação masculina. Essa 
dominação é calcada pela tradição, pela naturalização do fenômeno que, na verdade, é social. 
Tanto a masculinidade quanto a feminilidade também são socialmente construídas. Sendo que a 
noção de masculinidade é normalmente entendida como uma metáfora de poder acessada pelos 
homens quando necessário. O ato sexual está intimamente ligado a masculinidade. Os homens 
são ensinados socialmente a encarar o sexo como um ato de conquista, um atestado de virilidade 
e uma forma de dominação. A sexualidade masculina é regida pela contradição. A maior 
liberdade sexual que eles possuem em relação as mulheres, os faz prisioneiros e os torna 
inseguros devido necessidade de provar sua masculinidade. O sexo é visto ao mesmo tempo 
como um direito, uma necessidade e uma obrigação enquanto homem másculo. Dentro da esfera 
doméstica, se torna uma das formas mais eficientes de estabelecer-se relação de poder e 
dominação entre homens e mulheres. 
Bibliografia 
 
ALMEIDA, Miguel Vale de. Gênero, masculinidade e poder: Revendo um caso do Sul de 
Portugal. In Anuário Antropológico 95, Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro.1996. 
BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003 
NOLASCO, Sócrates. O trabalho como base para a identidade. In. O mito da masculinidade. 
2ª ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1993. p. 50-85 
JIMENEZ, Ana Luisa & HARDY, Ellen. Masculinidad y Gênero. Revista Cubana Salud 
Pública. v.27 n.2 Ciudad de La Habana jul.-dic. 2001. 
http://scielo.sld.cu/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0864-34662001000200001 
 
 
NADER, Maria Beatriz. A condição masculina na sociedade. Dimensões: Revista de História 
da. UFES, Vitória, n. 14, p. 461-480, 2002 
PERROT, Michelle. Os silêncios do corpo da mulher. In MATOS, Maria Izilda Santos de. O 
corpo feminino em debate. São Paulo: UNESP, 2003. 
SCOTT, Joan Wallach. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & Realidade. 
Porto Alegre, vol. 20, nº 2, jul./dez. 1995. 
WEBER, Max. Economia e sociedade. Brasilia. EDIUNB. 2006. VOL. 1º

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