Prévia do material em texto
A AméricA espAnholA e A AméricA inglesA 107 a) Por que as elites índias tinham uma “importância estratégica”, segundo a visão dos missionários espa- nhóis que atuaram no México no século XVI? b) Tomando por base seus conhecimentos de História, quais seriam as intenções dos missionários ao abrir escolas para a elite ameríndia? c) Em sua opinião, por que as escolas fundadas pelos missionários não se destinavam a todos os jovens ameríndios? d) De acordo com o texto, a educação formal da nobreza asteca teve efeitos positivos para as populações ameríndias? Explique. e) Reflita sobre as informações do texto e responda: Em sua opinião, a preservação da cultura ameríndia poderia ocorrer sem a educação das elites astecas? Argumente em favor de sua opinião. Em 1519, a cidade do México-Tenochtitlán contava com cerca de 400 mil habitantes, o que significa que, na época, era provavelmente a maior cidade do mundo, e que essa sociedade urbanizada com certeza dispunha de elites perfeitamente formadas para que pudesse funcionar de maneira eficaz. Compreende- -se que, para administrar uma cidade de tal importância, os invasores não pudessem se abster dos sabe- res sofisticados, do prestígio e da influência da nobreza índia. Essa nobreza tinha uma formação notável. Antes da conquista espanhola, era formada em colégios de ensino superior, os calmecac, onde aprendia os saberes, os mitos, os rituais e as artes do mundo pré-colombiano. [...] De fato, os missionários compreenderam cedo a importância estratégica das elites índias e rapidamente abriram escolas para assegurar uma educação cristã aos filhos da nobreza. É o que farão também, por toda a América, os missionários espanhóis e em particular os jesuítas. Mas devemos estar atentos à épo- ca em que foram abertas essas primeiras escolas no México. Os monges franciscanos que desembarca- ram no México na década de 1520 são portadores do humanismo da Renascença, são leitores entusiastas de Erasmo e de Thomas Morus, querem que as elites indígenas conheçam os saberes europeus e para isso ensinam imediatamente a leitura, a escrita, o latim, a música, a pintura e a tipografia. Os resultados foram prodigiosos. Em uma geração, os nobres indígenas aprenderam a ler e a escrever. Esse acontecimento é fundamental. É preciso compreender que a adoção da escrita latina constituiu uma verdadeira revolução técnica e intelectual, e ao mesmo tempo uma inovação tremendamente ambígua: de um lado, ler e escrever, pensar a língua indígena por intermédio do modelo do latim representa in- contestavelmente uma forma sutil de colonização do imaginário, mas, por outro lado, essa aprendizagem teve também efeitos imprevistos, pois deu às elites índias o meio de redigir em língua nahuatl, e portanto de preservar uma quantidade impressionante de textos literários e de documentos de toda espécie. GRUZINSKI, Serge. O renascimento ameríndio. In: NOVAES, Adauto (Org.). A outra margem do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. p. 285-286. c) Na obra da página anterior, que papel Rivera atribui aos religiosos que desembarcaram na América com os conquistadores espanhóis? d) Que associação a obra estabelece entre os nativos e os animais representados? e) No mural, Fernão Cortez, o conquistador do México, aparece representado duas vezes: à direita, no alto, próximo à cruz de madeira, e no centro, junto a dois outros espanhóis. Localize as duas cenas e descreva a figura de Cortez, imaginada por Diego Rivera. f) No mural, que efeitos a chegada dos espanhóis parece ter produzido na paisagem mexicana? g) Reflita sobre todos os aspectos que você destacou acima e, com base neles, elabore uma análise de como a conquista espanhola é representada na obra Desembarque espanhol em Vera Cruz, lembrando-se de considerar o contexto em que foi pintada e as propostas defendidas pelo muralismo mexicano. 2 Leitura e interpretação de texto historiográfico Leia o texto abaixo e responda às questões que o acompanham. HGB_v2_PNLD2015_099a113_u1c08.indd 107 25/03/2013 15:24 108 EUROPA, O CENTRO DO MUNDO cional, fortaleceu o grupo que tomaria a frente no estabelecimento de colônias no Novo Mundo. Além disso, fatores políticos – como a derrota da nobreza feudal por Henrique VII e Henrique VIII – e cultu- rais – o desenvolvimento de uma pequena burguesia com forte iniciativa econômica associada ao indivi- dualismo espiritual da teologia protestante – tam- bém foram importantes para a colonização da Amé- rica inglesa. Como a Inglaterra oferecia poucos re- cursos para promover a colonização, diferentemente do que ocorreu nas demais regiões da América, esta decorreu fundamentalmente do empenho dessa pe- quena burguesia. Assim, as colônias inglesas come- çaram pobres e sem gerar importantes recursos para a metrópole inglesa. As primeiras tentativas colonizadoras ocorre- ram entre 1584 e 1587, quando foram enviadas três expedições inglesas à América do Norte, sob o co- mando de sir Walter Raleigh, que resultaram, porém, em grande fracasso, por causa da violenta reação dos povos nativos. Somente em 1607 a fundação da colô- nia de Virgínia, explorada por uma companhia de co- mércio – que reunia empresários acionistas e detinha o monopólio comercial e da colonização –, iniciou uma era de viabilidade econômica para a ocupação e exploração da região. A AMÉRICA INGLESA A ocupação da América do Norte pelos ingleses distinguiu-se da colonização ibero-americana em vários aspectos. Na América do Norte, o processo de coloniza- ção ocorreu mais tarde – a partir, principalmente, do � m do século XVI – e teve um caráter em grande parte es- pontâneo. Além disso, as próprias características físicas do litoral norte-americano eram diferentes, por se tratar de uma região não tropical e sem metais preciosos. Na Inglaterra, a rainha Elizabeth I, que gover- nou de 1558 a 1603, estimulou a construção naval e o comércio marítimo, no contexto da política mer- cantilista. O governo também apoiava outro tipo de presença inglesa no mar: no litoral do Caribe, os corsários ingleses saqueavam os galeões espanhóis repletos de metais preciosos que rumavam para a Europa. Quando a Inglaterra se lançou à conquista colo- nial, no início do século XVII, o território da América tropical já estava sendo explorado por portugueses e, principalmente, espanhóis. Na América do Norte, era necessário disputar espaço com franceses e espa- nhóis. Quando os ingleses chegaram, as regiões que hoje correspondem ao Arizona, à Flórida e ao Novo México já eram territórios espanhóis. A criação de companhias de comércio na In- glaterra, nas quais o Estado apoiava a burguesia na- 108 EUROPA, O CENTRO DO MUNDO EUROPA, O CENTRO DO MUNDO T h e B ri d g em an A rt L ib ra ry /K ey st o n e p Ilustração de 1915, de Howard Davie, mostra o desembarque de sir Walter Raleigh, acompanhado de sol- dados e colonos, na Virgínia, em 1584. HGB_v2_PNLD2015_099a113_u1c08.indd 108 25/03/2013 15:24 a amérIca espanhola e a amérIca Inglesa 109 Um dos estímulos ao fluxo populacional da In- glaterra para a América do Norte, colaborando para seu povoamento, foi o processo de cercamento das propriedades agrícolas inglesas, o que gerou grande excedente demográfico. Expulsas do campo e não encontrando espaço na economia urbana, as vítimas dos cercamentos acabaram rumando para a Améri- ca. Ao mesmo tempo, os crescentes conflitos políti- cos e religiosos dentro do Estado inglês estimularam a emigração de protestantes, como os puritanos e os quakers, grupo dissidente dos calvinistas ingleses fun- dado no século XVII. ao enfatizar a soberania de deus e a dependên- cia do homem, o puritanismo (apenas com um pouco mais de energia do que o protestantismo em geral) chocava-se de frente com o espírito moderno de oti- mismo e individualismo confiante. ainda assim, ao mesmo tempo, o puritanismo imprimia um poderoso ímpeto psicológico ao esforço individual. os purita- nos eram “atletasmorais”, convencidos de que a vida correta era a melhor prova (embora não garantia) de que o indivíduo desfrutava a graça de deus. a vida correta incluía trabalhar tão arduamente e ser tão bem-sucedido quanto possível em qualquer ofício mundano e negócio em que deus houvesse colocado a pessoa. animados por essas convicções, não era de admirar que os puritanos fossem altamente vitorio- sos em suas atividades temporais, em especial nas circunstâncias favoráveis oferecidas pelo ambiente do novo mundo. sellers, c. et al. Uma reavaliação da história dos Estados Unidos. rio de Janeiro: Zahar, 1991. p. 29. As treze colôniAs inglesAs 80º O 40º N Na região da Virgínia, os primeiros núcleos de produção inicialmente se dedicaram à obtenção do tabaco, produto largamente consumido na Europa. Mais tarde, também foram produzidos corante índigo (anil), arroz e algodão. Além da Virgínia, outras colô- nias se transformaram em grandes centros de produ- ção agrícola, como Geórgia, Carolina do Norte, Caro- lina do Sul, Maryland e Delaware. Essas colônias situadas ao sul do território inglês da América do Norte têm sido consideradas generica- mente colônias de exploração, assemelhando-se às colônias portuguesas, no sentido de terem se fundado economicamente no regime de plantation (latifúndio monocultor, baseado em trabalho escravo e cuja pro- dução estava voltada para o mercado externo). A colonização dos territórios mais ao norte (atuais estados de Nova Jersey, Nova York, Pensil- vânia, Connecticut, Massachusetts, Rhode Island e New Hampshire) teve, entretanto, características bastante diferentes. Nessa região, concentrava-se boa parte dos co- lonos que sofriam perseguição religiosa na Inglaterra. O primeiro grupo desembarcou do navio Mayflower em 1620 e fundou a cidade de Plymouth, em Massa- chusetts – núcleo inicial da Nova Inglaterra, assim chamada porque pretendia reproduzir as condições de vida da pátria dos colonos. Mais tarde, a Nova Inglaterra participou do comércio triangular entre a A da pt ad o de : F R A N CO J R ., H ilá ri o; A N D R A D E FI LH O , R uy d e O . A tla s H is tó ria g er al . S ão P au lo : S ci pi on e, 2 00 0. p . 4 1. As 13 colônias inglesas em solo americano p as treze colônias da américa do norte, fundadas na região litorânea, tiveram características econômicas diferentes entre si e com seus parceiros comerciais. América, a Europa e a África: ali os comerciantes fa- bricavam rum, a partir do melaço obtido nas Antilhas, para trocar por escravos na África e vendê-los nas co- lônias de exploração do sul e nas colônias do Caribe. A ll m a p s /A rq u iv o d a e d it o ra HGB_v2_PNLD2015_099a113_u1c08.indd 109 3/21/13 3:31 PM 110 europa, o centro do mundo Nas décadas seguintes, novas colônias próximas a essas foram fundadas, caracterizadas pela pequena e média propriedade e pela produção para subsistên- cia da comunidade de colonos e para o mercado in- terno, distinguindo-se daquelas mais ao sul. No início, havia grande pobreza nas colônias do norte, pois a po- pulação mal conseguia produzir o suficiente para se manter. Porém, no longo prazo, a chegada constante de novos imigrantes e o predomínio do trabalho livre acabaram por criar um mercado consumidor local, impulsionando a produção de diversos produtos. É importante observar que não se pode fazer uma classificação rígida entre colônias de povoamento e co- lônias de exploração. Assim como na América ibérica, houve nas diversas colônias da América inglesa iniciati- vas de formação de núcleos de povoamento, nos quais a produção estava voltada para o consumo interno, e tam- bém atividades em que se utilizava mão de obra escrava e cuja produção estava voltada para o mercado externo. A grande diferença entre ingleses e ibéricos em seus domínios americanos consistiu na forma como as Coroas metropolitanas se impuseram no processo de colonização. Diferentemente dos espanhóis e por- tugueses, a Coroa britânica não exerceu uma fiscali- zação colonial intensiva no século XVII, em boa medi- da por causa de conturbações políticas internas. Sem um forte controle tributário, os colonos da América inglesa puderam dedicar-se a várias atividades produ- tivas e desfrutar de liberdade econômica e religiosa. Mantendo poucos laços políticos e econômicos com a Inglaterra, as colônias do norte desenvolveram uma produção manufatureira e um comércio cada vez mais intenso e diversificado. A construção naval progrediu, tornando possível maior articulação entre as colônias, obtenção de itens externos e até comér- cio de longa distância, que envolvia o Caribe, a África e a Europa (veja o mapa abaixo). O controle intenso sobre a colônia, tão caracte- rístico do colonialismo ibérico, não esteve presente na colonização inglesa da América do Norte. Desde sua fundação, jamais houve um efetivo projeto nor- mativo inglês de colonização. Ao mesmo tempo, os intensos conflitos políticos internos na Inglaterra do século XVII, como a Revolu- ção Puritana de 1641, a posterior guerra civil e a Revo- lução Gloriosa de 1688, contribuíram para afrouxar os laços de dominação. Na verdade, já existia certa autonomia econômi- ca e política, pelo menos entre as colônias da Nova Inglaterra. Mais tarde, no século XVIII, a monarquia liberal inglesa assegurou estabilidade política ao país e a Inglaterra emergiu como potência mundial. Nesse momento, buscou-se uma redefinição do papel das colônias, sujeitando-as a uma política fiscal inglesa e impondo o fim de suas liberdades comerciais e políti- cas. Os conflitos daí gerados culminariam no proces- so de independência das Treze Colônias inglesas na América do Norte. te cid o s , a rm a s , á lcool escravos pe les de an im ais , ta ba co, rum ma deir as, ín dig o, alg od ão, açú car OCEANO PACÍFICO OCEANO ATLÂNTICO OCEANO ÍNDICO 90º L 0 1790 km 3580 Adaptado de: KINDER, Hermann et al. The Anchor Atlas of World History. New York: Doubleday, 1974. p. 220-224. o regime de plantation e o comércio triangular das colônias norte-americanas A ll m a p s /A rq u iv o d a e d it o ra HGB_v2_PNLD2015_099a113_u1c08.indd 110 3/21/13 3:31 PM a amérIca espanhola e a amérIca Inglesa 111 inglaterra sul das treze colônias norte das treze colônias interesses mercantis cercamentos lutas religiosas guerra civil companhias de comércio • grande propriedade • exportação • monocultura • trabalho escravo • pequena propriedade • mercado interno • produção diversificada • trabalho livre refugiados • dependência econômica • estagnação social • avanço rumo ao comércio/ manufaturas • dinamização social puritanos econômicos religiosos políticos PArA recordAr: A colonização inglesa na América do norte AtiVidAdes 1. observe o esquema-resumo e explique por que as transformações econômicas e políticas ocorridas na Inglaterra no século XVII impulsionaram a colonização inglesa das terras norte-americanas. 2. com base no esquema-resumo, compare a colonização do sul e do norte das treze colônias inglesas na américa. 3. releia o texto A exploração da América espanhola e faça um esquema-resumo da administração colonial aplicada pela espanha na américa. HGB_v2_PNLD2015_099a113_u1c08.indd 111 3/21/13 3:31 PM