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74 Manual do Professor compreensão maior e mais duradoura dos conteúdos. Isso poderia ser rea li zado, por exemplo, durante um bimestre, em cinco fases: I) com a aplicação de testes diagnósticos sobre os co- nhecimentos prévios dos alunos, no início de uma unidade de ensino, a fim de verificar se o planejamento realizado pelo professor necessita de algum ajuste previamente à sua execução; II) com o uso da avaliação continuada, através de situa- ções-problema em que os alunos teriam seus desempe- nhos parciais registrados em um diário do professor, ou de desenvolvimento de atividades de laboratórios e exercí- cios extraclasse, variando-se os procedimentos avaliativos; III) com uma avaliação mais classificatória por testes ou questões dissertativas, que verifique se os objetivos mais globais do assunto dessa unidade de ensino foram alcan- çados; IV) com a retomada das questões tratadas na avalia- ção classificatória, para que os alunos tentem realizá-las novamente, por exemplo, em atividades extraclasse, com posterior discussão em sala de aula sobre erros, acertos e dificuldades encontradas; V) e, finalmente, com a avaliação pessoal do professor e dos alunos (autoavaliação) a respeito do próprio desem- penho, assim como das dificuldades e facilidades peda- gógicas encontradas no desenvolvimento desta unidade, por parte do professor. Os critérios de avaliação em cada etapa deverão ser estabelecidos com ciência prévia dos alunos e, se neces- sário, renegociando-os, conforme as especificidades dos conteúdos tratados naquela unidade e, também, levando- -se em conta a realidade social e cultural dos estudantes, que deve se refletir nos objetivos de ensino. Fornecer uma receita para isso seria imprudente, uma vez que os profes- sores é que detêm o conhecimento dessa realidade, mais do que ninguém, e essas condições variam infinitamente. É claro que, conhecendo a realidade das salas de aula brasileiras – em que o número de alunos é grande e os professores precisam se dedicar, muitas vezes, a diversas escolas simultaneamente, com uma carga horária de tra- balho extensiva –, sabemos que se torna muito difícil re- alizar todas essas fases em todas as unidades de ensino. Nossa sugestão aplica-se a uma situação mais próxima do ideal, em que o trabalho extraclasse do professor seja valorizado adequadamente. Nos casos em que isso não seja possível, sugerimos que pelo menos em alguma uni- dade de ensino do ano se apliquem todas as etapas, a fim de que o professor possa verificar os efeitos de uma avaliação mais formativa, que os alunos possam ter expe- riências pedagógicas mais ricas e que lhes desenvolvam maior senso crítico. Ou ainda, quando isso também não for possível, que em cada unidade de ensino se diversi- fique o método de avaliação, aplicando-se duas ou três dessas etapas. Ficam, então, estas sugestões para aqueles que de- sejam fazer a diferença em sua escola: com a discussão sobre novas práticas avaliativas, a formação e experi- mentação dos professores, com registros e reflexões so- bre suas novas experiências, e com o envolvimento dos pais e alunos, a avaliação poderá se tornar um processo mais prazeroso, realista e eficiente, dentro das discipli- nas específicas e da escola como um todo. Leituras complementares sobre o tema 1) HAGA, M. S. et al. A avaliação e o seu potencial pedagó- gico para a mediação da aprendizagem. Anais do X CE- PFE Ð Congresso Estadual Paulista sobre Forma•‹o de Educadores, p. 5585-5597. 2) HAGA, M. S.; HAGA, K. I. Fundamentos de avaliação for- mativa: os conflitos e as conciliações entre as diferen- tes lógicas. Anais do IX Congresso Estadual Paulista para Forma•‹o de Educadores, Águas de Lindoia, SP, CD- -ROM. 2007. 3) HOFFMANN, J. Avalia•‹o: mito e desafios: uma pers- pectiva construtivista. Mediação: Porto Alegre, 1991. 4) KRASILCHIK, M. As relações pessoais na escola e a ava- liação. In: CASTRO, A. D.; CARVALHO, A. M. P. (Org.). Ensi- nar a ensinar: didática para a escola fundamental e mé- dia. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001. p. 165-176. 5) PERRENOUD, P. A avalia•‹o: da excelência à regulagem das aprendizagens: entre duas lógicas. Rio Grande do Sul: Artmed, 1999. 6) ______. Não mexam na minha avaliação! Para uma abordagem sistêmica da mudança pedagógica. In: ES- TRELA, A.; NÓVOA, A. (Org.). Avalia•›es em educa•‹o: novas perspectivas. Portugal: Porto, 1993. p. 171-191. HGB_v3_PNLD2015_MP_001a080.indd 74 4/30/13 11:30 AM Manual do Professor 75 11 materiais didáticOs digitais Ismar Frango Silveira Coordenador da CEIE Ð Comiss‹o Especial de Inform‡tica na Educaç‹o SBC Ð Sociedade Brasileira de Computaç‹o Desde tempos remotos, o ser humano tem se defron- tado com a necessidade de criar ferramentas com pro- p—sitos diversos, sendo o principal deles, possivelmente, o de facilitar a sua vida. Os computadores, essas valiosas ferramentas do nosso tempo, t‹o presentes e necess‡rios no nosso dia a dia, n‹o parecem ter a mesma presen•a no cotidiano das escolas, apesar de todo o seu potencial. Sabemos que as escolas brasileiras enfrentam mui- tos problemas, para cuja resolu•‹o a a•‹o do professor Ž fundamental. E isso se aplica tambŽm ao uso efetivo de computadores no ensino. N‹o se trata de n—s, professo- res, ensinarmos nossos alunos a usar os computadores, a navegar na internet ou a usar aplicativos Ð como editores de texto ou planilhas. Isso eles j‡ sabem (melhor que n—s, geralmente) ou podem aprender de maneira aut™noma, sem a nossa ajuda. Lembremos que nossos alunos s‹o o que se convencionou chamar de nativos digitais Ð crian- •as e adolescentes que nasceram em um mundo imerso em tecnologia. Mesmo que Ð por condi•›es sociais, geogr‡ficas ou culturais Ð esses alunos n‹o tenham pleno acesso a com- putadores e internet em suas casas, o mundo no qual eles vivem propicia uma sŽrie de oportunidades para que te- nham contato com a tecnologia e para que esta venha a fazer parte de suas vidas, como aconteceu com o r‡dio e a TV para outras gera•›es. Grande parte de n—s, professores, pertence ao grupo que se denomina imigrantes digitais Ð nascemos em uma Žpoca em que os computadores n‹o eram onipresentes e tivemos contato com essas tecnolo- gias depois do nosso processo de letramento. De maneira similar a pessoas que imigram para outro pa’s, podemos atŽ dominar a ÒlinguagemÓ do mundo digital, mas, para n—s, ela n‹o Ž nativa. E o que esperam os nativos digitais de n—s, imigrantes digitais, como seus professores? Na verdade, o que sem- pre esperaram: que os ensinemos dentro de nossas ‡reas de conhecimento, mas preferencialmente na ÒlinguagemÓ que lhes Ž familiar. E de que maneira podemos nos comu- nicar nessa ÒlinguagemÓ que n‹o Ž familiar Ð e por vezes, nem mesmo amig‡vel Ð para muitos de n—s? Uma quest‹o que logo nos vem ˆ mente Ž: para que fazer isso? Por que raz›es utilizar computadores em sala de aula? Podemos listar algumas das (muitas) raz›es: ■ motivação: o uso de computadores em si n‹o garan- te uma motiva•‹o maior dos alunos. Esse uso deve ser cuidadosamente planejado e estar em sincronia com as demais atividades da disciplina. Em outras palavras, levar os alunos para a sala de computadores para atividades genŽricas, sem foco, como Òfazer pesquisas na internetÓ, costuma ter pouca ou nenhuma efic‡cia. Entretanto, o uso de computadores com objetivos bem claros e di- retamente associados aos t—picos do plano de ensino tende a ser uma atividade motivadora e com um bom potencial de impacto no aprendizado dos alunos. ■ Novas possibilidades de experimentos: h‡ muitos casos de atividades que requerem recursos espec’ficos (como laborat—rios de experimentos), ou que trazem al- gum tipo de risco (Ž o caso de algumas atividades de Qu’mica e Biologia, por exemplo) e que poderiam ser realizadas com simuladores virtuais, com seguran•ae sem custo. H‡ ainda atividades que n‹o poderiam ser executadas em condi•›es normais, para as quais distin- tas ferramentas computacionais podem ser usadas. ■ Aprendizagem autônoma: os alunos podem desenvol- ver atividades fora do hor‡rio de aula com as ferramen- tas aprendidas com o professor, ou mesmo outras fer- ramentas buscadas e encontradas por eles na internet. Dessa maneira, os recursos digitais trazem um conjun- to de novas possibilidades ao professor por proporcionar situa•›es did‡ticas diferenciadas, que, de outro modo, n‹o poderiam ser implementadas em sala de aula. Tais recur- sos n‹o v•m substituir o material did‡tico tradicional: mui- to pelo contr‡rio, sua fun•‹o Ž complementar o material j‡ comumente utilizado pelo professor, ampliando as possi- bilidades do fazer docente. E que recursos existem para ser usados? H‡ v‡rios tipos de recursos, cada um com uma sŽrie de possibilidades di- d‡ticas. O MinistŽrio da Educa•‹o entende por recursos digitais Òv’deos, imagens, ‡udios, textos, gr‡ficos, tabelas, tutoriais, aplica•›es, mapas, jogos educacionais, anima- HGB_v3_PNLD2015_MP_001a080.indd 75 4/30/13 11:30 AM 76 Manual do Professor ções, infogr‡ficos, p‡ginas web e outros elementosÓ. Eles podem ser assim classificados: ■ Livros digitais ou e-books: s‹o versões digitais de livros em papel, ou de obras completas pensadas para o for- mato digital. Podem ser est‡ticos (como os livros em papel, cont•m textos e imagens) ou din‰micos (podem incluir v’deos, animações, simulações ou qualquer outro conteœdo dito multim’dia Ð ou seja, que agrega v‡rias Òm’diasÓ, ou formas de representaç‹o da informaç‹o). ■ Softwares educacionais: s‹o programas de computa- dor feitos especificamente para fins educacionais. Em sua maioria, necessitam de instalaç‹o nos computado- res (o que n‹o Ž Ð ou n‹o deveria ser Ð exatamente um problema), mas muitos s‹o planejados para utilizaç‹o sob orientaç‹o do professor, visando um resultado de aprendizagem mais efetivo. Um exemplo gratuito des- ses softwares Ž o GeoGebra (para aprendizagem de Ma- tem‡tica; <www.geogebra.org>). ■ objetos de aprendizagem: na pr‡tica, correspondem a todo e qualquer elemento digital que possa ser usado e reutilizado em situações de aprendizagem Ð de um texto em PDF ou um conjunto de slides a um simulador virtual, in- cluindo nessa definiç‹o tambŽm animações, v’deos, jogos digitais e outros tipos de recursos. Apesar de v‡rios desses objetos serem encontrados de maneira simples por meio de buscadores da internet, existem reposit—rios deles, que fornecem mais informações (chamadas ÒmetadadosÓ) so- bre cada um, como autores, pœblico-alvo, sugestões de uso, etc. Em ‰mbito nacional, o MEC mantŽm o Banco Internacional de Objetos Educacionais (BIOE; <objetos educacionais2.mec.gov.br>), vasto reposit—rio com gran- de variedade de objetos de aprendizagem. ■ recursos educacionais abertos: seguem a mesma linha dos objetos de aprendizagem, com a ressalva de que os elementos, alŽm de utilizados e reutilizados, podem tambŽm ser modificados e adaptados livremente. O site <rea.net.br> traz uma sŽrie de informações a respeito. PorŽm, que tipos de computadores s‹o necess‡rios para trabalhar com esses elementos? Muitos deles encon- tram-se dispon’veis para uma variedade de dispositivos, desde computadores desktop (de mesa) e notebooks, a atŽ mesmo tablets e smartphones. J‡ alguns softwares educa- tivos apresentam algumas exig•ncias tŽcnicas para insta- laç‹o (tipo espec’fico de sistema operacional, quantidade m’nima de mem—ria no computador, etc.), enquanto al- guns objetos de aprendizagem necessitam que determi- nados plugins (programas adicionais) estejam instalados. Equipamentos e programas, entretanto, nada mais s‹o do que ferramentas. E, como foi dito no in’cio deste texto, ferramentas s‹o criadas com o intuito de facilitar o nosso dia a dia. Assim, mais importantes que as ferramentas, s‹o as pessoas que ir‹o utiliz‡-las: os professores dispostos a ressignificar o seu papel como formadores de cidad‹os plenamente aptos a tirar proveito das tecnologias de nos- so tempo; e os alunos, que poder‹o manej‡-los como ve- ’culos de informaç‹o, interaç‹o social, entretenimento e aprimoramento intelectual. HGB_v3_PNLD2015_MP_001a080.indd 76 4/30/13 11:30 AM Manual do Professor 77 Como todo professor que leciona uma disciplina cujo volume de leituras é muito elevado, você já deve ter se sentido frustrado alguma vez por seus alunos não con- seguirem compreender sua matéria. O fato é que muitos deles não se interessam por ela porque têm grandes difi- culdades para entender a informação no texto, conforme apontam os resultados de diversos testes de leitura. A importância da leitura para a vida cotidiana e, so- bretudo, para a vida na escola, espaço de aprendizagem e desenvolvimento intelectual por excelência, é inegável. Se o desinteresse de alguns alunos se deve ao fato de não terem consolidado seu hábito de ler, vale a pena o professor de História, Geografia, Filosofia ou Sociologia conhecer o que está envolvido no ensino da leitura e como essa capacidade pode ser desenvolvida, a fim de ajudar seu aluno. Lembremos que os professores de to- das as disciplinas são também professores de leitura, pois são modelos de como ler os textos de sua área. Além dis- so, vale lembrar que é objetivo explícito nos currículos das disciplinas de Ciências Humanas o desenvolvimen- to de competências de leitura. No currículo de Filosofia, por exemplo, lemos, entre as habilidades visadas no 1¼ bimestre da 2» série Òdesenvolver habilidades de leitura, escrita e planejamento investigativo para autonomia inte- lectualÓ 1. Apesar de toda sua importância, a leitura parece estar perdendo espaço na vida de um número expressivo de es- tudantes brasileiros, em parte por causa das novas mídias e novas tecnologias, em parte pelo acesso limitado que muitos alunos têm a livros, jornais, revistas e bibliotecas. Considerados esses fatos, e para poder planejar algum tipo de intervenção didática, é importante que os profes- sores das disciplinas da área das Ciências Humanas conhe- çam as principais compet•ncias de leitura esperadas do aluno, que precisa ter acesso a textos em prosa sobre as- suntos polêmicos, reflexivos, complexos e abstratos, como 1 SECRETARIA DA EDUCA‚ÌO DO ESTADO DE SÌO PAULO. Curr’culo do Estado de S‹o Paulo: Ciências Humanas e suas tecnologias. Secretaria da Educação; coordenação geral: Maria Inês Fini; coordenação de área: Paulo Miceli. São Paulo: SEE, 2010. p. 124. Disponível em: <www.rededosaber.sp.gov.br/por- tais/Portals/43/Files/CHST.pdf>. Acesso em: 24 fev. 2013. os textos de História, Geografia, Filosofia e Sociologia. En- tre essas competências, temos: a) saber localizar informa•›es expl’citas: o professor de Ensino Médio não precisa se preocupar demais com esta competência, pois é a mais exercitada pelo pro- fessor, pelo livro didático e a mais básica de todas as competências; muitas vezes o aluno aparenta entender por que suas respostas exigem apenas que reconheça palavras semelhantes na pergunta e no texto, como no exemplo a seguir: Texto2: Ò... o endeusamento de r—tulos representa ex- traordin‡ria vit—ria ideol—gica do capitalismoÓ. Pergunta: O que representa o endeusamento de rótulos? Resposta: Representa extraordinária vitória ideológica do capitalismo. b) inferir nas entrelinhas: é a capacidade menos visada, a julgar pelo número de perguntas que demandam inferência no livro didático, e a mais importante para a formação do leitor independente. A inferência é de- monstrada quando o aluno consegue tirar conclusões e perceber intenções, e é praticada quando são feitas perguntas precedidas pelas palavras como e por que: ÒPor que, segundo o autor, o endeusamento de grifes representa uma vitória do capitalismo?Ó. A inferência tambémé praticada quando são feitas perguntas que demandam uma opini‹o baseada na leitura do texto: ÒVocê concorda com a opinião do autor, de que o en- deusamento de grifes representa uma vitória do capi- talismo? JustifiqueÓ. c) usar elementos n‹o verbais, como gr‡ficos, tabelas e figuras, para compreender o texto: hoje os textos são multimodais, ou seja, recorrem a mais de uma mo- dalidade: além de fotos, mapas, gráficos, ilustrações, tabelas, esquemas, infográficos, há diversos elementos gráficos, como tipografia, diagramação, cor, tamanho das fontes. O uso de todos esses recursos tem uma função, um sentido, e, na maioria das vezes, torna a leitura mais dinâmica. O livro didático pode ter um pa- 2 SINGER, André. Ostentação. Folha de S.Paulo, 16 fev. 2013. p. 2. 12 a leitura nas ciências humanas Angela B. Kleiman Ph.D. em Lingu’stica pela University of Illinois, EUA, desenvolve pesquisas sobre leitura e ensino. Professora titular colaboradora do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp HGB_v3_PNLD2015_MP_001a080.indd 77 4/30/13 11:30 AM 78 Manual do Professor pel essencial nesse entendimento e o professor pode explorar essa leitura no próprio material; por isso é im- portante dirigir o olhar do aluno para sua organização: capítulos, geralmente subdivididos em tópicos e sub- tópicos bem destacados por cores, tamanho das letras, posição na página, etc. d) estabelecer rela•›es e comparar dados: trata-se de uma das competências mais importantes na leitura crí- tica, geralmente pouco praticada em sala de aula, que abrange saber distinguir causas de consequências e fatos de opiniões relativas a ele; reconhecer diferenças no tratamento dado ao mesmo tema em dois textos diferentes; tirar conclusões. Para desenvolver tal com- petência, o aluno deve ser capaz de perceber detalhes, como a seleção de vocabulário e os tipos de exemplos usados, e o professor pode ajudá-lo fazendo perguntas sobre esses aspectos. e) identificar o tema de um texto expositivo ou infor- mativo: essa competência envolve também perceber as marcas que o autor e seus editores vão deixando nos títulos e subtítulos e na repetição de palavras, a fim de indicar que uma informação é mais importante do que outras, que é o tema ao qual as demais estão relacionadas. Chamar a atenção para o título e pedir hi- póteses sobre o tema com base nele ou em uma ilus- tração são estratégias que podem ajudar o aluno nessa percepção. Por exemplo: há na primeira página do jor- nal uma chamada para o texto de opinião já mencio- nado, que se intitula “Autêntico, funk expõe vitória do capitalismo”. Logo em seguida, repete-se a frase sobre a vitória do capitalismo, citando – e portanto desta- cando – um trecho do texto de opinião: “Mas Ž mister observar que o endeusamento de r—tulos representa ex- traordin‡ria vit—ria ideol—gica do capitalismo”. Quando finalmente se lê o trecho no texto original, escondido no penúltimo parágrafo, parte do tema já foi repetida três vezes. Munidos desses conhecimentos, os alunos podem, de fato, ser orientados para a leitura de textos mais comple- xos das Ciências Humanas. Entretanto, para além desse saber, é importante destacar três princípios de caráter me- todológico e didático, que devem ser levados em conta em relação à leitura: f 1. Facilitação do texto Todos nós evitamos fazer aquilo que é desagradável e procuramos fazer aquilo que nos dá prazer. Isso não é diferen- te quando se trata da leitura. Quando o aluno tem dificuldade para compreender a língua escrita, a atividade de leitura se torna desagradável. Dessa forma, se não existe alguém para orientá-lo, são poucos os que insistem nessa atividade, prin- cipalmente se não conhecem as vantagens e satisfações que a aprendizagem trará no futuro. Acontece que, como em toda prática, quanto mais se lê, mas fácil vai ficando a atividade. O aluno que lê muito pouco desiste assim que encontra as primeiras dificuldades. Ou seja, quem mais precisa praticar é quem menos o faz; no entanto, o único meio de melhorar é pela prática. Mas, se os alunos não leem bem aquilo de que não gostam, leem bem o que gostam. A chave consiste, portanto, em fazer com que a leitu- ra exigida pela escola se torne uma atividade menos penosa e mais prazerosa. Tornar o contato com a leitura prazeroso exige a convi- vência contínua com professores que contagiem com seu entusiasmo por ela e com bibliotecários prestativos e gene- rosos trabalhando em bibliotecas bem aparelhadas. Requer também acesso a um grande acervo: livros, revistas, jornais, hipertextos, inclusive os gêneros menos valorizados, como resumos ou versões condensadas, divulgações em revistas para adolescentes, histórias em quadrinhos, revistas noticio- sas; enfim, textos mais acessíveis, que despertem uma curio- sidade inicial e o desejo de ler. Embora os conteúdos a serem ensinados sejam impor- tantes, o professor pode levar para a aula textos literários ou jornalísticos que têm ou tiveram papel importante no seu letramento e na sua formação. Pode levar textos dos quais ele mesmo gosta, para mostrar aos alunos seu gosto pela leitura, e deve demonstrar suas próprias estratégias de leitor, fazendo perguntas que requeiram pensar, modelan- do aquelas que ele próprio se faz antes de começar a ler e explicando para seus alunos o que foi que lhe agradou ou chamou a atenção. f 2. Flexibilização do currículo Em áreas que se caracterizam pela presença forte de conteúdos estruturadores e pelo objetivo de engajamen- to social e atuante no mundo globalizado atual, a flexibili- zação do currículo é viável. Numa disciplina como a Geografia, por exemplo, se um determinado conceito, como o aprofundamento da noção de território brasileiro, esteja previsto para o ter- ceiro bimestre da 2ª série do Ensino Médio3, um acon- tecimento amplamente noticiado no primeiro bimestre 3 SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Curr’culo do Estado de S‹o Paulo: Ciências Humanas e suas tecnologias. Secretaria da Educação; coordenação geral: Maria Inês Fini; coordenação de área: Paulo Miceli. São Paulo: SEE, 2010. p. 102. (3º bimestre, 1ª série do Ensino Médio). HGB_v3_PNLD2015_MP_001a080.indd 78 4/30/13 11:30 AM Manual do Professor 79 que tem a ver com o território nacional deveria ser mo- tivo para a altera•‹o da ordem dos conteœdos ou para a substitui•‹o de um contexto de exemplifica•‹o por ou- tro. Fatos que j‡ s‹o conhecidos dos alunos Ð seja qual for a m’dia Ð tornam a aprendizagem dos conceitos abs- tratos mais f‡cil, porque o conhecimento prŽvio permite ancorar e estruturar o novo. Isso sem contar com as pos- sibilidades de leituras interdisciplinares desses assuntos, o que tambŽm se constitui num elemento facilitador. Quase diariamente h‡ acontecimentos not‡veis que requerem simplesmente que o professor passe a acre- ditar que os conceitos de sua matŽria (densidade de- mogr‡fica, por exemplo) e as pr‡ticas relevantes (como a leitura de mapas) possam ser ensinados Ð e, portanto, atingidos os objetivos do curr’culo Ð mesmo quando o foco no conteœdo determinado para esse per’odo Ž mo- mentaneamente mudado. No in’cio de 2013, por exemplo, a presen•a francesa no Mali e a queda de um meteoro na Rœssia foram eventos que ocuparam as manchetes dos jornais: os textos jorna- l’sticos poderiam servir tanto para a introdu•‹o de con- ceitos abstratos quanto para o exerc’cio de habilidades consideradas importantes na disciplina, como desenvol- ver “a capacidade de associar padr›es de desenvolvimento econ™mico e social ˆs maneiras de realizar o controle preven- tivo de situa•›es de risco naturais” ou “identificar elementos hist—rico-geogr‡ficos que expliquem o desencadeamento de conflitos Žtnico-culturais no mundo contempor‰neo; ou a ex- pans‹o do islamismo na çfrica”.4 Isso tudo Ž poss’vel desde que a flexibiliza•‹o do curr’culopasse a se constituir em um princ’pio did‡tico valorizado. Quando um acontecimento noticiado na m’dia passa a ter um lugar central na aula, o aluno entra em contato, via leitura, com outras histórias que provavelmente ter‹o muito mais chance de mudar sua forma de pensar sobre o próprio mundo e que ilustram muito melhor do que qualquer texto cient’fico os conceitos de globaliza•‹o e de transforma•‹o do espa•o geogr‡fico decorrentes das novas tecnologias de comunica•‹o. Isso porque na gran- de maioria das vezes, os alunos só têm contato com esses textos cient’ficos na escola, enquanto que um aconteci- mento noticiado mundialmente est‡ mais próximo de sua realidade. Caberia portanto ao professor, nesse caso, mos- trar aos alunos a rela•‹o entre o conceito abstrato encon- trado no texto do livro e os fatos vividos pela sociedade, estejam eles apresentados em jornais, mœsicas, novelas, fil- mes. Trata-se simplesmente de n‹o descartar aquilo que o 4 Op. cit., p. 110 ( 2¼ bimestre, 3» sŽrie do Ensino MŽdio). aluno j‡ conhece e que pertence a uma cultura de massa n‹o valorizada pela escola. f 3. (Re)contextualiza•‹o situada Esse princ’pio est‡ ligado ao de flexibilidade, uma vez que somente um curr’culo mais flex’vel permite a (re)con- textualiza•‹o situada de conceitos e princ’pios b‡sicos de uma determinada disciplina. O princ’pio envolve a abor- dagem de conceitos que s‹o diretamente relevantes para a situa•‹o social do aluno, o que envolve, necessariamen- te, uma recontextualiza•‹o de conceitos abstratos para a vida social. Em rela•‹o a uma disciplina como a Sociologia, por exemplo, cujo princ’pio estruturador Ž uma atitude meto- dológica Ð de estranhamento e desnaturaliza•‹o do fato social Ð mais do que um conjunto de conteœdos5, o ca- r‡ter especial do olhar sociológico, seletivo, distante, que refrata a realidade observada6, pode ser desenvolvido se o aluno, mesmo aquele com dificuldades de leitura, puder construir um olhar comparativo tomando como um dos pontos de compara•‹o fatos vivenciados, relevantes para seu próprio contexto e situa•‹o. Tais fatos, novamente, s‹o recorrentemente encontrados em matŽrias jornal’sticas sobre fen™menos sociais conhecidos dos alunos, mas que ele ainda n‹o observou pelo prisma do olhar sociológico. Um exemplo disso Ž o texto de opini‹o j‡ citado, sobre o funk “Ostenta•‹o”, um canto falado que, em lu- gar de fazer denœncia social (como o rap), “exalta o po- der de consumo que chegou ˆs camadas de menor renda nos œltimos anos”7. Conteœdos como “cultura, consumo, consumismo e comunica•‹o de massa” ou “constru•‹o da identidade pelos jovens”8, que têm por finalidade levar o adolescente a compreender as formas em que “os jovens se relacionam com a sociedade de consumo e a produ•‹o de cultura”9, podem partir do processo de desnaturaliza- •‹o da pr‡tica de consumo que o referido texto de opi- ni‹o (ou qualquer outro sobre a cultura juvenil local) pro- move, e a rela•‹o cr’tica do jovem pode ser desenvolvida tanto em rela•‹o a esse fen™meno cultural da periferia 5 Op. cit., p. 135. 6 Caracteriza•‹o do antropólogo Roberto Cardoso de Oliveira, segundo SA- RANDY, Fl‡vio M, Silva. Reflex›es acerca do sentido da sociologia no Ensino MŽdio. Revista Espa•o Acad•mico, ano I, n. 5, out. 2001. Dispon’vel em: <www.espacoacademico.com.br/005/05sofia.htm>. Acesso em: 24 fev. 2013. 7 SINGER, AndrŽ. Ostenta•‹o. Folha de S.Paulo, 16 fev. 2013. p. 2. 8 SECRETARIA DA EDUCA‚ÌO DO ESTADO DE SÌO PAULO. Curr’culo do Esta- do de S‹o Paulo: Ciências Humanas e suas tecnologias. Secretaria da Educa- •‹o; coordena•‹o geral: Maria Inês Fini; coordena•‹o de ‡rea: Paulo Miceli. S‹o Paulo: SEE, 2010. p. 144. (2¼ bimestre, 2» sŽrie do Ensino MŽdio). 9 Op. cit., p. 144 (2¼ bimestre, 2» sŽrie do Ensino MŽdio). HGB_v3_PNLD2015_MP_001a080.indd 79 4/30/13 11:30 AM 80 Manual do Professor quanto ˆ atitude da elite brasileira ao lamentar a perda de valores que outros grupos sociais jamais demonstra- ram. O estranhamento advindo da reflex‹o cr’tica ser‡ o prisma usado na leitura, qualquer que seja a opini‹o do aluno, e o instrumento pelo qual ser‡ atingido ser‡ um texto jornal’stico, atual, contextualizado e que permite o reposicionamento do pr—prio aluno. Com base nos tr•s princ’pios discutidos Ð facilita•‹o do texto, flexibiliza•‹o do curr’culo e (re)contextuali- za•‹o situada Ð o professor das disciplinas de Ci•ncias Humanas pode fazer uso dos enormes acervos ˆ nossa disposi•‹o, gra•as ˆs novas m’dias e tecnologias, atŽ en- contrar o texto e o tema que ter‹o grande apelo com o aluno e o motivar‡ a fazer mais leituras, aumentando suas chances de se tornar mais um leitor ˆ vontade com as mœltiplas pr‡ticas letradas. Pelo fato de ser leitor proficiente, muitas habilidades lei- toras parecem —bvias para o professor, como se fossem na- turais a qualquer ser humano. Entender o sum‡rio, o ’ndice remissivo e o funcionamento do livro did‡tico, por exemplo, ou falar sobre a import‰ncia da leitura das imagens para a constru•‹o do sentido do texto n‹o s‹o estratŽgias —bvias para o aluno que ainda tem dificuldades para compreender o que l•, mas podem, mesmo que tardiamente, ser apren- didas e exercitadas, especialmente com textos relevantes para a ‡rea e para a vida social do aluno. HGB_v3_PNLD2015_MP_001a080.indd 80 4/30/13 11:30 AM HINO NACIONAL Ouviram do Ipiranga as margens plácidas De um povo heroico o brado retumbante, E o sol da liberdade, em raios fúlgidos, Brilhou no céu da Pátria nesse instante. Se o penhor dessa igualdade Conseguimos conquistar com braço forte, Em teu seio, ó liberdade, Desafia o nosso peito a própria morte! Ó Pátria amada, Idolatrada, Salve! Salve! Brasil, um sonho intenso, um raio vívido De amor e de esperança à terra desce, Se em teu formoso céu, risonho e límpido, A imagem do Cruzeiro resplandece. Gigante pela própria natureza, És belo, és forte, impávido colosso, E o teu futuro espelha essa grandeza. Terra adorada, Entre outras mil, És tu, Brasil, Ó Pátria amada! Dos filhos deste solo és mãe gentil, Pátria amada, Brasil! Deitado eternamente em berço esplêndido, Ao som do mar e à luz do céu profundo, Fulguras, ó Brasil, florão da América, Iluminado ao sol do Novo Mundo! Do que a terra mais garrida Teus risonhos, lindos campos têm mais flores; “Nossos bosques têm mais vida”, “Nossa vida” no teu seio “mais amores”. Ó Pátria amada, Idolatrada, Salve! Salve! Brasil, de amor eterno seja símbolo O lábaro que ostentas estrelado, E diga o verde-louro desta flâmula – Paz no futuro e glória no passado. Mas, se ergues da justiça a clava forte, Verás que um filho teu não foge à luta, Nem teme, quem te adora, a própria morte. Terra adorada, Entre outras mil, És tu, Brasil, Ó Pátria amada! Dos filhos deste solo és mãe gentil, Pátria amada, Brasil! Letra: Joaquim Osório Duque Estrada Música: Francisco Manuel da Silva
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