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53 METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS Unidade II 5 O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO O processo de construção do conhecimento em sala de aula requer a ação do docente para criar as condições adequadas ao ensino. Isto necessita, fundamentalmente, problematizar o próprio conteúdo. A problematização consiste em explicitar a relevância do conteúdo e estabelecer relações com temas atuais. O conteúdo deve criar questionamentos que instiguem os alunos a compreender sua importância. Esta problematização pode ter início com perguntas socráticas e pode ser acompanhada por uma sensibilização do aluno a partir da escolha de um recurso didático como música, texto e charge, entre outros. Perguntas socráticas são aquelas que despertam a curiosidade do aluno, que o conduzem a pensar. O método socrático consiste em um diálogo em que o professor conduz o aluno a um processo de reflexão partindo de perguntas simples, próximas da ingenuidade, que conduzem a pensar e colocar em evidências as contradições presentes na forma de pensar do aluno. Este método foi desenvolvido pelo filósofo Sócrates, que viveu no século V a.C. Embora Sócrates não tenha deixado nenhuma obra escrita, seus diálogos foram transmitidos por seu discípulo Platão. Observações As perguntas socráticas são caracterizadas pela maiêutica, que conduz uma pessoa, pelo seu próprio raciocínio, à reflexão e à busca do conhecimento. A ironia das perguntas socráticas é o que conduz o aluno a entrar em contradição e depois à conclusão de que seu conhecimento é limitado. Veja, a seguir, o quadro elaborado por Giddens, no qual descreve o processo de questionamento sociológico, que pode se configurar em um dado fundamental para a problematização dos conteúdos no processo de aprendizagem da Sociologia. 54 Unidade II Quadro 2 – A linha de questionamento do sociólogo Pergunta factual O que aconteceu? Desde a década de 1980, as garotas têm alcançado melhores resultados educacionais na escola do que os garotos. Pergunta comparativa Isso aconteceu em toda parte? Esse é um fenômeno global, ou ocorreu apenas na Grã‑Bretanha, ou apenas em uma região da Grã‑Bretanha? Pergunta evolutiva Isso tem acontecido ao longo do tempo? Quais são os padrões de desempenho educacional das garotas ao longo do tempo? Pergunta teórica O que está por trás desse fenômeno? Por que as garotas estão apresentando melhor desempenho na escola? Que fatores podemos analisar para explicar essa mudança? Fonte: Giddens (2012, p. 43). A análise do quadro elaborado por Giddens nos permite identificar como as perguntas sociológicas instigam os processos de estranhamento e desnaturalização e estimulam a compreensão dos fenômenos com bases mais profundas. Anthony Giddens é um sociólogo britânico, considerado por muitos como o mais importante filósofo social inglês contemporâneo. Nasceu em 1938, em Londres, e foi diretor da London School of Economics. Do ponto de vista acadêmico, o seu interesse centra‑se em reformular a teoria social e reexaminar a compreensão do desenvolvimento e da modernidade. As ideias de Giddens tiveram uma enorme influência quer na teoria quer no ensino da Sociologia e da teoria social em todo o mundo. Sua obra abarca diversas temáticas, entre as quais história do pensamento social, estrutura de classes, elites e poder, nações e nacionalismos, identidade pessoal e social, família, relações e sexualidade. Saiba mais Conheça as obras de Anthony Giddens: GIDDENS, A. As consequências da modernidade. São Paulo: Editora Unesp, 1991. ___. Em defesa da Sociologia: ensaios, interpretações e tréplicas. São Paulo: Editora da Unesp, 2001. ___. Sociologia. Tradução Ronaldo Cataldo Costa. 6. ed. Porto Alegre: Penso, 2012. Entretanto, além da introdução de questionamentos que conduzam a reflexão, é imprescindível ao docente que tenha um plano adequado de aulas. O plano de aulas deve levar em conta as melhores opções didáticas. 55 METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS Para a elaboração de um plano de aulas, é necessário que o docente realize algumas reflexões prévias, como veremos a seguir: 1. Por que isso é importante? 2. Qual o meu objetivo para os estudantes? O que eles devem ser capazes de fazer ao fim deste conteúdo? 3. Como o tema se encaixa no currículo geral? 4. O que os estudantes já sabem sobre isso? 5. Como eu posso despertar o interesse dos alunos? 6. Como eu posso apresentar esse material? 7. O que os estudantes farão durante as aulas? 8. Como eu posso atender as necessidades de cada estudante? 9. Como eu posso ligar o conteúdo e a rotina dos estudantes? 10. Existe alguma tecnologia capaz de melhorar essa tarefa? Adaptado de: Luzivotto (2013). O plano de aula é uma ferramenta importante para a organização do trabalho, uma vez que indica as intenções (objetivos) e a forma de conduzir a situação de aprendizagem. O plano de aula, além de ser um guia, contribui para que o professor não se distancie dos seus objetivos educacionais. É importante destacar que o plano de aula não requer o seu rígido cumprimento. O contexto da aula exige do professor uma postura pró‑ativa no sentido de recriar ou redirecionar as ações quando necessárias. Lembrete Cabe esclarecer que a metodologia utilizada pelo professor deve estar relacionada com os objetivos educacionais e com seus pressupostos epistemológicos. Segundo Bridi, Araújo e Motim (2009, p. 83), os questionamentos que devem nortear o seu plano são: Que tipo de reação minha aula irá provocar? Quais são as operações mentais que estarei acionando ou exigindo? 56 Unidade II Recordação, reconhecimento, associação, comparação, levantamento de hipótese, crítica, resumo, interpretação, solução de problemas entre outras. Para Bridi, Araújo, Motim (2009, p. 83) a educação tradicional valoriza a cópia, a reprodução, a imitação, a repetição ou o exercício mecânico. É necessário superar a educação tradicional para estimular processos mentais mais elaborados. Espera‑se que o ensino de Sociologia contribua para que os alunos desenvolvam a habilidade de compreender e analisar os fenômenos sociais; desenvolvam a desnaturalização da percepção da relação do homem com a natureza, as relações do indivíduo com a sociedade e suas instituições e identifiquem a estrutura social e como esta produz e reproduz as desigualdades sociais. É necessário compreender também a dinâmica do Estado, da cultura e da ideologia. Não existe um só caminho para o aprendizado dos alunos e não existem também fórmulas acabadas de como ensinar. Isto significa que o professor pode utilizar vários recursos didáticos para atingir os objetivos. 5.1 Aula expositiva e construção do diálogo coletivo Parte considerável das atividades desenvolvidas nas escolas se concentra nas salas de aula. As atividades desenvolvidas em outros espaços, como museus e estudos de meio, constituem momentos especiais do processo de aprendizagem. As atividades desenvolvidas em sala de aula representam um momento significativo para a aprendizagem. Esse fato coloca a necessidade de preparo das atividades pelos docentes. Atualmente, existem concepções pedagógicas que consideram a aula expositiva como recurso ultrapassado. Essas concepções partem do princípio de que o ensino deve ser centrado no aluno que deve construir o seu próprio conhecimento. Para as OCNs, a aula expositiva pode ser uma forma de diálogo, como veremos a seguir: Mesmo a aula expositiva é um diálogo. Aliás, todo o trabalho – e a esperança – do professor é transformá‑la num diálogo, não pretendendo que seja o esclarecimento absoluto do tema do dia, mas o levantamento de alguns pontos e a apresentação de algumas questões que incentivem os alunos a perguntar. Pode ser também um discurso aberto, aliás, conscientemente aberto, para provocar a necessidade de questões (ORIENTAÇÕES..., 2006, p. 127). Deste modo, a aula expositiva é vista como recurso necessário para o estímulo ao diálogo e a sistematização doconhecimento. Porém, é necessário que haja diversificação das formas de dar aula para que a aula expositiva não seja vista como único recurso pedagógico. 57 METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS Para que haja diálogo com os alunos no decorrer da aula expositiva, é mister que estes leiam previamente o texto base para a aula. A leitura prévia permite a troca de leituras em sala de aula, possibilitando o diálogo, e contribui para o desenvolvimento da autonomia do aluno, que deixa de ser um mero ouvinte da exposição do professor e enriquece a aula com questões e observações de sua leitura. Esta questão é analisada por Bridi, Araújo e Motim (2009), conforme veremos a seguir: Se o professor tem por objetivo que o aluno participe da aula, alguns encaminhamentos prévios precisam ser acertados, tais como: a leitura do texto, a elaboração de questões, o levantamento de dúvidas (oral ou escrito), o fichamento de textos, as respostas previamente elaboradas às questões centrais (BRIDI; ARAÚJO; MOTIM, 2009, p. 144). A organização de esquemas proporciona a intelecção das ideias centrais e das relações entre conceitos e contribui no processo de assimilação do conteúdo. Veja a seguir como os mapas conceituais podem ser utilizados no ensino da Sociologia a partir da demonstração do conceito de trabalho. Observação Mapas conceituais são ferramentas que permitem representar visualmente uma ideia, um conceito, uma teoria, entre outros. Saiba mais Para saber mais acesse: SILVA, A. L. S. da Mapas conceituais no processo de ensino‑aprendizagem: aspectos teóricos. [s.d.]. Disponível em: <http://www.infoescola.com/ pedagogia/mapas‑conceituais‑no‑processo‑de‑ensino‑aprendizagem‑ aspectos‑teoricos/>. Acesso em: 3 fev. 2014. Os mapas conceituais podem ser construídos com os alunos ao longo de uma aula expositiva. Mesmo que não possua a sofisticação do exemplo que acabamos de apresentar, constitui uma forma eficaz de sistematização do conhecimento. Moraes sugere que a aula expositiva esteja associada a outros recursos pedagógicos, como a leitura de um artigo de jornal. A sugestão é associar a apresentação do tema a recursos capazes de provocar interesse e conferir materialidade ao conteúdo trabalhado. Recortes de jornais, por exemplo, são recursos provocativos e podem 58 Unidade II informar sobre a atualidade do conteúdo ensinado. Imagine, por exemplo, uma aula teórica sobre Durkheim. Como aplicar o conceito de fato social na sociedade em que vivemos? Dependendo das turmas em que se está trabalhando, é possível trazer exemplos reais, retirados de reportagens de jornais que aproximem a teoria das situações experimentadas pelos estudantes. Fenômenos como crimes, abortos, gravidez na adolescência e infanticídio são relatados diariamente em reportagens expressas e virtuais. Alguns, inclusive, acontecendo próximo ao bairro da escola. Pois bem, tais fenômenos são identificáveis como fatos sociais, segundo a caracterização dada por Durkheim: são dotados de generalidade, coercitividade e exterioridade (MORAES, 2010, p. 55‑6). Diante do exposto, identifica‑se que a aula expositiva é um recurso importante, mas não deve ser usado extensivamente. A boa utilização do recurso expositivo pode ser identificada nos momentos iniciais de uma reflexão e nos momentos finais para a elaboração da síntese. Saiba mais Recomendamos que o aluno assista ao filme: SOCIEDADE dos poetas mortos. Dir. Peter Weir. Estados Unidos: Touchstone, 1989. 128 min. Quando o carismático professor de inglês John Keating (Robin Williams) chega para lecionar num colégio para rapazes, seus métodos de ensino pouco convencionais transformam a rotina do currículo tradicional e arcaico. O filme mostra a relação entre jovens. O aspecto essencial de aulas expositivas é que seja elaborada levando em conta as falas dos alunos para ampliar a participação e evitar a monotonia. 5.2 Os seminários As atividades em sala de aula podem ser desenvolvidas em grupos e o trabalho pode ser apresentado em seminários. Essa é uma forma de trabalhar em grupo sob a supervisão do professor. Todo seminário deve ter um tema e um texto que sirva de referência para a sala. Segundo Severino (1998, p. 51), a condução de um seminário pode ocorrer da seguinte maneira: • Exposição inicial do professor sobre o problema a ser discutido e indicação de um roteiro de questões para a discussão. 59 METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS • Divisão da turma em grupos para a discussão do texto. • Organização de uma plenária onde os grupos expõem a síntese da discussão. • Síntese final. É necessário ressaltar que não existe um único modelo de elaboração de seminário. A discussão do tema pode ser realizada diretamente na plenária sem a organização de grupos. O que é imprescindível é a existência de um texto de referência e o estímulo ao debate. Veja a seguir um exemplo de texto de referência de um trabalho a ser realizado com alunos. Este trabalho foi apresentado originalmente no III Encontro Nacional sobre o ensino de Sociologia na educação básica (Eneseb) realizado em junho de 2013, em Fortaleza‑CE. TEMA: A formação da identidade nacional No Brasil, as relações entre os brancos e as raças de cor foram desde a primeira metade do século XVI condicionadas, de um lado pelo sistema de produção econômica – a monocultura latifundiária; de outro, pela escassez de mulheres brancas, entre os conquistadores. O açúcar não só abafou as indústrias democráticas de pau‑brasil e de peles, como esterilizou a terra, em uma grande extensão em volta dos engenhos de cana, para os esforços de policultura e de pecuária. E exigiu uma enorme massa de escravos. A criação de gado, com a possibilidade de vida democrática, deslocou‑se para os sertões. Na zona agrária desenvolveu‑se, com a monocultura absorvente, uma sociedade semifeudal – uma minoria de brancos e brancarões dominando patriarcais, polígamos, do alto das casas‑grandes de pedra e cal, não só os escravos criados aos magotes nas senzalas como os lavradores de partido, os agregados, moradores de casas de taipa e de palhas vassalos das casas‑grandes em todo o rigor da expressão. Vencedores no sentido militar e técnico sobre as populações indígenas; dominadores absolutos dos negros importados da África para o duro trabalho da bagaceira, os europeus e seus descendentes tiveram entretanto de transigir com índios e africanos quanto às relações genéticas e sociais. A escassez de mulheres brancas criou zonas de confraternização entre vencedores e vencidos, entre senhores e escravos. Sem deixarem de ser relações – as dos brancos com as mulheres de cor – de “superiores” com “inferiores” e, no maior número de casos, de senhores desabusados e sádicos com escravas passivas, adoçaram‑se, entretanto, com a necessidade experimentada por muitos colonos de constituírem família dentro das circunstâncias e sobre essa base. A miscigenação que largamente se praticou aqui corrigiu a casa‑grande e a mata tropical; entre a casa grande e a senzala. O que a monocultura latifundiária e escravocrata realizou no sentido de aristocratização, extremando a sociedade brasileira em senhores e escravos, com uma rala e insignificante lambujem de gente livre sanduichada entre os extremos antagônicos, foi em grande parte contrariado pelos efeitos sociais da miscigenação. A índia e a negra‑mina a princípio, depois a mulata, a cabrocha, a quadrarona, a oitavona, tornando‑se caseiras, 60 Unidade II concubinas e até esposas legítimas dos senhores brancos, agiram poderosamente no sentido de democratização social do Brasil. Entre os filhos mestiços, legítimos e mesmo ilegítimos, havidos delas pelos senhores brancos, subdividiu‑se assim a força das sesmarias feudais e dos latifúndios do tamanho de reinos. Fonte: Freyre (2004, p. 32‑3). Exemplo de aplicação Questões para o debate: Quem foi Gilberto Freyre e em qual contexto social desenvolveu estas reflexões? O que o autor pretendedemonstrar no trecho selecionado? De que maneira o estudo da sociedade colonial brasileira contribui para compreendermos o que é ser brasileiro hoje? A miscigenação do povo brasileiro contribuiu para tornar a sociedade brasileira democrática? A partir da leitura do texto, os grupos de alunos podem aprofundar sua pesquisa sobre o autor e o contexto da produção da obra mencionada e ampliar a sua visão sobre o processo de formação do povo brasileiro. Conduz a análise sobre o sentido da formação do povo brasileiro e apresenta questões para o debate coletivo. De acordo com as OCNs, o seminário é um recurso de aprendizagem que requer do professor constante intervenção. Não significa distribuir temas, mandar os alunos pesquisar e expor. Como veremos a seguir: Ele [o professor] deve organizar os grupos, distribuir os temas, mas orientar cada um deles a respeito de uma bibliografia mínima, analisar o material encontrado pelos grupos, estar presente, intervir durante a apresentação e “fechar” o seminário. Dessa forma, o professor auxiliará os alunos na produção e na apresentação do seminário, complementando o que possivelmente tiver sido deixado de lado. Possibilitará aos alunos a oportunidade de pesquisarem e de exporem um determinado tema, desenvolvendo uma autonomia no processo e na exposição dos resultados da pesquisa (ORIENTAÇÕES..., 2006, p. 128). Como recurso pedagógico, a prática do seminário conduz a pesquisa, e a busca de aprofundamento e permite a expressão dos alunos, o debate em torno de leituras realizadas pelos grupos e tende a estimular o desenvolvimento da reflexão. 61 METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS É preciso levar em conta que o debate em sala de aula só é profícuo quando é preparado previamente. O debate baseado meramente em opiniões não contribui para superação do senso comum. Deste modo, é necessário que os alunos preparem suas argumentações a partir da leitura de uma bibliografia indicada. É usual que os debates girem em torno de questões polêmicas nas aulas de Sociologia. É um momento rico para contraposição de visões diferenciadas sobre o processo social. Neste caso, a sala pode ser dividida em dois grupos, uma parte defendendo um ponto de vista e a outra parte se preparando para contra‑argumentar. 5.3 A pesquisa como recurso didático A prática da pesquisa escolar deve ser um estímulo à autonomia intelectual e se configura como um “instrumento importante para o desenvolvimento da compreensão e para a explicação dos fenômenos sociais” (ORIENTAÇÕES..., 2006, p. 126). A relevância da pesquisa para o ensino da Sociologia é vista por Moraes da seguinte forma: O conhecimento no campo das Ciências Sociais é, antes de tudo, um exercício de autoconhecimento, mas de modo sistemático, rigoroso e intersubjetivo, uma vez que a investigação sociológica oferece ao estudante instrumentais que lhe garantam um tratamento coerente e analítico das questões que estão à sua volta, compreendidas com racionalidade. Ir além do que é imediatamente visível e aceito como natural é um dos objetivos de se trabalhar a pesquisa sociológica no Ensino Médio (MORAES, 2010, p. 54). Na análise do papel da pesquisa na formação do jovem, Silva afirma que: A pesquisa constitui elemento fundamental para o ensino da Sociologia, pois coloca o aluno diante de desafios, o faz buscar informações, preparando‑o para a autonomia intelectual. Por isso nem mesmo no ensino médio deve haver dissociação entre ensino e pesquisa (SILVA, 2011, p. 193).1 Seja na opção por trabalhar com temas, conceitos ou teorias, é recomendável a prática da pesquisa. A questão que se coloca é compreender em qual momento da aprendizagem deve ser inserida a prática da pesquisa. Segundo as OCNs: A pesquisa pode ser feita depois das apresentações teóricas, conceituais ou temáticas, como um elemento de verificação ou de aplicação (ou não) do que 1 No meio acadêmico, acredita‑se que o lugar da pesquisa é na pós‑graduação. Não nos referimos aqui à busca de rigor ou domínio teórico, mas na predisposição para conhecer, estimulando a dúvida e a crítica. 62 Unidade II foi visto anteriormente. Mas pode ser utilizada como elemento anterior às explicações por meio dos três recortes. Podem‑se encaminhar os alunos para que realizem uma pesquisa antes de discutirem qualquer teoria, conceito ou tema, e, a partir do que encontrarem, problematizar os resultados no contexto de cada um dos recortes (ORIENTAÇÕES..., 2006, p. 126). A prática da pesquisa não pode prescindir dos padrões mínimos da metodologia científica, pois, deste modo, as pesquisas tenderiam simplesmente à reprodução do senso comum. Por exemplo, qual o sentido de realizar uma pesquisa sobre desemprego analisando exclusivamente entrevista com desempregados? A entrevista nos concebe a visão do indivíduo, mas não revela por si as estruturas sociais. Neste sentido, a pesquisa deve ser acompanhada da análise teórica sobre as novas configurações do mercado de trabalho e de dados estatísticos sobre o desemprego no país. Este procedimento contribui para que a pesquisa realizada pelo aluno adquira maior amplitude e revele novos aspectos da realidade. Lembrete Mesmo as pesquisas de caráter bibliográfico devem ser acompanhadas do conhecimento mínimo sobre metodologia científica. É usual encontrarmos no meio escolar pesquisas baseadas simplesmente em uma fonte da grande imprensa que tendem a reproduzir um ponto de vista de um grupo social. Deste modo, faz parte do processo de aprendizagem da Sociologia discernir artigos de opinião de artigos mais analíticos, assim como saber identificar o que é juízo de fato e juízo de valor nas leituras. Observação Quando dizemos ”Está chovendo” estaremos enunciando um acontecimento constatado por nós e o juízo proferido é um juízo de fato. Se, porém, falarmos: “A chuva é boa para as plantas” ou “A chuva é bela”, estaremos interpretando e avaliando o acontecimento. Nesse caso, proferimos um juízo de valor. Neste sentido, recomenda‑se que o aluno tenha noções prévias do que seja um editorial, uma reportagem, um artigo ou uma entrevista. Outra questão relevante é analisar várias publicações para identificar as diferentes abordagens sobre um mesmo tema. 63 METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS Figura 13 ‑ A pesquisa bibliográfica na escola Como se observa nas OCNs, a pesquisa de campo também requer um preparo: Para uma pesquisa de campo, isto é, na qual os alunos vão levantar dados diretamente com a população‑alvo, é preciso que eles tomem outros cuidados, tais como preparar a pesquisa com antecipação, o que engloba discutir o tema, definir o objeto, os instrumentos; fazer um roteiro; aplicar um pré‑teste nos instrumentos; enfim, todas as precauções para que a pesquisa não seja viciada. Assim, ao utilizar a história de vida, o questionário, à entrevista, é necessário que o aluno conheça cada uma dessas técnicas, seus limites e possiblidades, para saber o que está fazendo e como fazer o que vai encontrar em cada uma delas e por que elas são, muitas vezes, usadas complementarmente (ORIENTAÇÕES..., 2006, p. 127). Um dos grandes problemas da educação contemporânea advém da ausência de uma reflexão mais elaborada sobre a utilização de recursos tecnológicos para a pesquisa. Predomina o discurso sobre a acessibilidade às informações e à democratização do conhecimento. Para os jovens, tem sido comum, ao fazer uma pesquisa, se restringir a selecionar informações disponíveis na web e imprimir como se fosse sua produção. Para Bridi, Araújo e Motim (2009), a solução deste problema que assola o ambiente escolar é: Jamais pedir uma pesquisa sobre algum tema geral sem o acompanhamento das etapas de elaboração do trabalho, a exigência de fichamentos de leituras e, principalmente, a organização de um roteiro propondo questões reflexivas a serem abordadas pelo aluno (BRIDI; ARAÚJO; MOTIM, 2009, p. 129). Diante do exposto, evidencia‑se a necessidade de desenvolvernos alunos habilidades de leitura, compreensão de texto, interpretação e desenvolvimento da capacidade de discernir os tipos de textos presentes na web. Deste modo, é possível diminuir as possibilidades do aluno trabalhar fontes de pouco valor científico. 64 Unidade II Ao analisar as tensas relações entre a prática didática e a pesquisa, Zorzi e Kieling (2012, p. 112) nos relembram do intenso debate presente no meio acadêmico centrado na questão de que não existiria compatibilidade entre as atividades didáticas e a prática da pesquisa. Nesta perspectiva, compete ao pesquisador o empreendimento de elaboração da pesquisa, construir instrumentos de análise; enquanto ao docente caberia apenas a tarefa de reproduzir o conhecimento produzido por pesquisadores da área. A superação da condição que acabamos de descrever requer que o professor se veja também como um pesquisador, como colocam Zorzi e Kieling: Fica mais clara a necessidade de o educador se ver não só como docente, mas também como pesquisador. Quando ele se coloca na posição de professor‑pesquisador, abre espaço para as curiosidades e perguntas dos estudantes. Conforme Becker e Marques (2007, p. 19), o professor sabe que “toda investigação começa com uma pergunta”. Diante disso, sabendo quais são os problemas que os estudantes se deparam, podemos constituir um programa de estudos diferenciado que, em vez de privilegiar a reprodução dos conteúdos, destacamos como fundamental a contribuição com base em suas ações e reflexões para a construção do conhecimento (ZORZI; KIELING, 2012, p. 112). Diante do exposto, evidencia‑se como a prática da pesquisa é importante para o professor visto como trabalhador intelectual, assim como para o aluno concebido como agente construtor do conhecimento. A realização de uma análise sobre a localidade onde a escola se encontra pode ser uma sugestão de pesquisa. Os estudos de meio possibilitam a compreensão da estrutura social do local, que viabilizam a análise dos diferentes grupos sociais que convivem na localidade. Essas pesquisas podem conduzir a análise das situações de conflito, suas causas e consequências. Por fim, o projeto pode resultar na pesquisa da compreensão histórica dos conflitos semelhantes em outras regiões, assim como na análise de possíveis soluções. Uma questão importante é compartilhar com o grupo a aprendizagem através da exposição de trabalhos. 6 RECURSOS DIDÁTICOS Entende‑se por recursos didáticos todos os elementos presentes no ambiente educativo que contribuam para o processo de ensino‑aprendizagem. Pode ser considerado como recurso didático até mesmo a paisagem da janela de uma sala de aula, quando utilizada para observação e análise de um fenômeno estudado. Os materiais didáticos cumprem uma função de intermediar a comunicação entre o professor e o aluno, uma vez que podem disponibilizar sons, imagens e romper com a monotonia da aula expositiva. Cabe aqui fazer um esclarecimento quanto a motivação e sua relação com estratégias e recursos didáticos. Para isso, recorremos a Bridi, Araújo e Motim (2009), que afirmam: 65 METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS Muitos professores confundem motivação com estratégias e recursos didáticos utilizados e até mesmo com um ensinamento de maneira lúdica. As estratégias e os recursos didáticos são ferramentas que visam facilitar a aprendizagem, porém não podem ser confundidas com motivação. A Psicologia demonstra que a motivação é um processo interno ao indivíduo e implica desejo e vontade pessoais. Entretanto, sendo a motivação um dos componentes essenciais para que aconteça a aprendizagem, é mister que os alunos encontrem razões suficientes para estudar Sociologia em seu ensino médio. Sem dúvida, está entre uma das razões a exigência dos conhecimentos que englobem essa disciplina para a aprovação em exames vestibulares ou nos exames nacionais para o ensino médio, mas isso é pouco diante de sua importância para a formação individual e da consciência social da pessoa (BRIDI; ARAÚJO; MOTIM, 2009, p. 73). Portanto, o êxito do processo educacional não está ligado diretamente à existência de recursos didáticos, mas ao grau de motivação que o aluno possui. As contribuições dos recursos didáticos para o desenvolvimento do processo de aprendizagem são: 1. Servem de estímulo para despertar a curiosidade e o interesse no aprendizado. 2. Contribuem para ilustrar e estimular o debate. 3. Contribuem para o desenvolvimento da capacidade de observação. 4. Permitem a sistematização dos conteúdos. Existe uma gama de materiais que não foram produzidos originalmente com objetivos didáticos, mas que podem ser adaptados para a realidade escolar. É o caso de recursos audiovisuais e espaços de vivência coletiva. É usual que os docentes considerem que os recursos didáticos colocados à disposição das instituições sejam insuficientes. Muitas escolas não dispõem sequer de serviços de reprodução de textos, de computadores conectados à internet ou de data‑show para exibição de filmes ou imagens, quanto mais de recursos para realização de atividades extracurriculares. 66 Unidade II Figura 14 – Recursos didáticos A ausência de recursos didáticos não pode ser um obstáculo para o desenvolvimento das atividades. Cabe ao docente, como condutor do processo, garantir o desenvolvimento da aula. Embora não estivesse analisando a especificidade do ensino da Sociologia, mas o processo de alfabetização, encontramos no depoimento de Paulo Freire (1992) uma reflexão importante, que nos conduz a pensar sobre a importância dos recursos pedagógicos: “Fui alfabetizado no chão do quintal de minha casa, à sombra das mangueiras, com palavras do meu mundo e não do mundo maior dos meus pais. O chão foi o meu quadro‑negro; gravetos, o meu giz” (FREIRE, 1996, p. 15). Encontramos no depoimento de Paulo Freire a demonstração de que os recursos didáticos não determinam o processo de aprendizagem. Os meios didáticos são, antes, um meio, como veremos no depoimento do autor sobre sua experiência na alfabetização de adultos em São Tomé e Príncipe: Entre as inúmeras recordações que guardo da prática dos debates nos Círculos de Cultura de São Tomé, gostaria de referir agora a uma que me toca de modo especial. Visitávamos um Círculo numa pequena comunidade pesqueira chamada Monte Mário. Tinha‑se como geradora a palavra bonito, nome de um peixe, e como codificação um desenho expressivo do povoado, com sua vegetação, as suas casas típicas, com barcos de pesca ao mar e um pescador com um bonito à mão. O grupo de alfabetizandos olhava em silêncio a codificação. Em certo momento, quatro entre eles se levantaram, como se estivessem combinado, e se dirigiram até a parede em que estava fixada a codificação (o desenho do povoado). Observaram a codificação de perto, atentamente. Depois, dirigiram‑se à janela da sala onde estávamos. Olharam o mundo lá fora. Entreolharam‑se, olhos vivos, quase surpresos, e, olhando mais uma vez a codificação, disseram: “É Monte Mário. Monte Mário é assim e não sabíamos”. Através da codificação, aqueles quatro participantes do Círculo “tomavam distância” do seu mundo e o reconheciam. Em certo sentido, era como se estivessem “emergindo” do seu mundo, “saindo” dele, para melhor conhece‑lo. No Círculo de Cultura, naquela tarde, estavam tendo uma 67 METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS experiência diferente: “rompiam” a sua “intimidade” estreita com Monte Mário e punham‑se diante do pequeno mundo da sua quotidianeidade como sujeitos observadores (FREIRE, 1997, p. 44) Observem pela narrativa de Freire que o estranhamento e a desnaturalização foi estimulado por um desenho do povoado, denominado, neste contexto, de codificação. Como recurso didático, o desenho contribuiu qualitativamente para que se atingissem os objetivos educacionais e cumpriu um papel primordial no desenvolvimento da reflexão dos educandos. Os recursos didáticos devem ser utilizados não sópara dinamizar as aulas, como também para sedimentar os conhecimentos construídos pelos alunos. A observação empírica indica que é usual, no ambiente escolar, que professores com o domínio do conhecimento que irão ensinar acabem por superestimar a capacidade de abstração dos alunos e deixem de utilizar recursos que poderiam enriquecer o processo de ensino‑aprendizagem. É pertinente afirmar que os recursos podem tornar as aulas mais participativas e agradáveis, mas é necessário que o professor os utilize de forma adequada. Ou seja, é necessário planejar qual o momento adequado de utilização dos recursos e como explorá‑los adequadamente. Se o objetivo da aula de Sociologia é refletir sobre a identidade cultural do povo brasileiro, podemos utilizar como recurso visual didático gravuras, fotografias, filmes e recursos sonoros, como músicas. Seria inconveniente para o estudo deste conteúdo um filme que não retrate o povo brasileiro. Figura 15 ‑ Recurso visual para discutir a identidade cultural do povo brasileiro A partir da imagem, é possível suscitar a reflexão sobre a formação cultural, a origem das tradições do povo brasileiro e a influência da cultura africana na formação do povo brasileiro, entre outros temas. O que torna um recurso didático é a sua capacidade de suscitar interesse pela reflexão. Com este espírito são produzidos filmes, fotografias e desenhos. É possível que um recurso desenvolvido com outra finalidade se transforme em um recurso didático. 68 Unidade II Como recurso didático, as OCNs analisam a importância das atividades extraescolares, como excursões e visitas a museus e parques, como oportunidades de aprendizagem e enriquecimento curricular. A escola que puder propiciar a seus alunos esse tipo de experiência deve fazê‑lo. Mas quando o custo da excursão é impraticável, uma simples caminhada ao redor do quarteirão ou pelas ruas do bairro da escola, se forem levados em conta aqueles procedimentos críticos de estranhamento e desnaturalização, pode guardar riquezas visuais interessantíssimas e capazes de propiciar discussões voltadas para a questão dos direitos e deveres do cidadão, a preservação ambiental, as políticas públicas, a cultural, enfim, um leque de possibilidades voltadas aos objetivos da Sociologia no ensino médio (ORIENTAÇÕES..., 2006, p. 128). Diante do exposto, é importante constar no planejamento do professor atividades extraescolares que permitam ao aluno vivenciar fora do ambiente da escola os conteúdos que são discutidos em sala de aula. A visita a museus da cidade pode possibilitar a interlocução do olhar individual com o olhar coletivo sobre imagens, objetos e obras de arte. Saiba mais É possível fazer visitas virtuais a alguns museus: O Museu do Holocausto de Curitiba tem como tema a perseguição dos judeus na Segunda Guerra Mundial e seu eixo de exposição é a questão do preconceito e da violência ao longo do século XX. Faça uma visita ao Museu do Holocausto de Curitiba no seguinte endereço: <http://www.museudoholocausto.org.br>. O Museu do Índio tem como objetivo contribuir para uma maior conscientização sobre a importância das comunidades indígenas na sociedade brasileira atual. Faça uma visita ao Museu do Índio no seguinte endereço eletrônico: <http://www.museudoindio.gov.br/>. Existem muitos museus que possibilitam visitas virtuais, faça uma pesquisa e visite os museus mais importantes do Brasil e do mundo. Moraes produziu o seguinte pensamento sobre como as atividades em museus podem favorecer o desenvolvimento da reflexão entre as histórias individuais e os rumos da sociedade: 69 METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS Museus que guardam a memória da cidade, por exemplo, são espaços de conhecimento e de autoconhecimento. Visitados pela turma, assumem uma nova dimensão no momento em que os estudantes se reconhecem em objetos e montagens que também fazem parte da história da família ou mesmo que remetem a situações já conhecidas ou vivenciadas. No coletivo, fatos passados, situações vividas, lembranças relatadas pelos moradores da cidade ganham novas dimensões, ganham uma significação histórica, na medida em são socializados com os estudantes no momento da visita (MORAES, 2010, p. 59). Além do exposto, a visita a museus pode contribuir para ampliar a formação cultural dos estudantes. As atividades extraescolares contribuem para que o estudante desenvolva a autonomia reflexiva, na medida em que vislumbra que os espaços de aprendizagem são múltiplos. É necessário ressaltar a necessidade de planejamento prévio das atividades extraescolares, como visitas antecipadas do professor com o intuito de preparar as atividades dos alunos. Figura 16 ‑ Visita a museus Além disso, as atividades de observação do meio podem ser integradas à pratica cotidiana do ensino. O desenvolvimento do olhar sociológico pode ocorrer a partir de práticas de observação de uma localidade e posterior análise sobre as condições de vida da população. 6.1 Leitura e produção de textos A seguir, vamos analisar a importância da leitura na formação do olhar sociológico sobre a realidade. Partimos inicialmente das considerações de Paulo Freire sobre a importância do ato de ler. O ato de ler não se limita à decodificação da palavra escrita, a leitura é elemento primordial para a compreensão da realidade onde estamos inseridos. A formação de um público leitor é uma tarefa primordial que se coloca para a sociedade brasileira na atualidade. Na análise da importância do ato de ler, Paulo Freire afirma: A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem 70 Unidade II e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto (FREIRE, 1997, p. 11). A leitura como forma de compreensão do mundo se opõe aos tradicionais métodos de leitura que pressupõem a memorização do conteúdo. A leitura de um texto, quando pautada na busca inócua da memorização e não na da intelecção e no estabelecimento de relação com o mundo, se torna ineficaz. No ambiente escolar, é importante que se trabalhe com diversos tipos de textos, como jornais, revistas e quadrinhos. Sobre a leitura de livros, diferentes gêneros podem conduzir à reflexão sobre o mundo social, desde as obras literárias clássicas, poesia e outros. Segundo as Orientações Curriculares Nacionais, a leitura de textos sociológicos deve servir de suporte para o desenvolvimento de um tema, ou para a exposição e análise de teorias e conceitos. Todos os textos devem ser contextualizados e analisados dentro do conjunto da obra do autor. Neste sentido, cabe ao professor o trabalho de mediação entre o texto e o aluno. A leitura nas aulas de Sociologia requer do docente a seleção adequada do texto. É preciso iniciar com textos curtos que permitam o debate em sala de aula. Os alunos devem ser orientados a ler, identificar as ideias centrais, sublinhá‑las, anotar dúvidas e elaborar questões. Veja a seguir um exemplo de texto trabalhado com alunos: Devo começar explicando o meu enigmático título. É que será preciso estabelecer uma distinção radical entre um “brasil” escrito com letra minúscula, nome de um tipo de madeira de lei ou de uma feitoria interessada em explorar uma terra como outra qualquer, e o Brasil que designa um povo, uma nação, um conjunto de valores, escolhas e ideais de vida. O “brasil” com b minúsculo é apenas um objeto sem vida, autoconsciência ou pulsação interior, pedaço de coisa que morre e não tem a menor condição de se reproduzir como sistema; como aliás, queriam alguns teóricos sociais do século XIX, que viam na terra – um pedaço perdido de Portugal e da Europa – um conjunto doentio e condenado de raças que, misturando‑se ao sabor de uma natureza exuberante e de um clima tropical, estariam fadadas à degeneração e à morte biológica,psicológica e social. Mas o Brasil com B maiúsculo é algo muito mais complexo. É país, cultura, local geográfico, fronteira e território reconhecidos internacionalmente, e também casa, pedaço de chão calçado com o calor de nossos corpos, lar, memória e consciência de um lugar com o qual se tem uma ligação especial, única, totalmente sagrada. É igualmente um tempo singular cujos eventos são exclusivamente seus, e também temporalidade que pode ser acelerada na festa do carnaval; que pode ser detida na morte e na memória e que pode ser trazida de volta na boa recordação da saudade. [...] Sociedade onde pessoas seguem certos valores e julgam as ações humanas dentro de um padrão somente seu. Não se trata de algo inerte, mas de uma entidade viva, cheia de autorreflexão e consciência: algo que se soma e se alarga para o futuro e para o passado, num movimento próprio que se chama História. [...] 71 METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS Assim, o ponto de partida deste ensaio é o seguinte: tanto os homens como as sociedades se definem por seus estilos, seus modos de fazer as coisas. Se a condição humana determina que todos os homens devem comer, dormir, trabalhar, reproduzir‑se e rezar, esta determinação não chega ao ponto de especificar também que comida ingerir, de que modo produzir, com que mulher (ou homem) acasalar‑se e para quantos deuses ou espíritos rezar. É precisamente aqui, nesta espécie de zona indeterminada, mas necessária, que nascem as diferenças e, nelas, os estilos, os modos de ser e estar, os “jeitos” de cada qual. Porque cada grupo humano, cada coletividade concreta, só pode pôr em prática algumas dessas possibilidades de atualizar o que a condição humana apresenta como universal. As restantes ficam como uma espécie de fantasma a nos recriminar pelo fato de as termos deixado nos bastidores, como figuras banidas de nosso palco, embora estejam de algum modo presentes na peça e no teatro. No fundo, essa questão do relacionamento dos universais de qualquer sistema com um sistema específico é das mais apaixonantes de quantas existem no panorama das Ciências Humanas. Trata‑se, sempre, da questão da identidade. De saber quem somos e como somos; de saber por que somos. Sobretudo quando nos damos conta de que o homem se distingue dos animais por ter a capacidade de se identificar, justificar e singularizar: de saber quem ele é. De fato, a identidade social é algo tão importante que o conhecer‑se a si mesmo através dos outros deixou os livros de filosofia para se constituir numa busca antropologicamente orientada. Mas o mistério, como se pode adivinhar, não fica na questão do saber quem somos. Pois será necessário descobrir como construímos nossas identidades. Sei que sou José da Silva, brasileiro, casado, funcionário público, torcedor do Flamengo, carnavalesco da Mangueira, apreciador incondicional das mulatas, católico e umbandista; jogador esperançoso e inveterado da loto, porque acredito em destino – e não outra pessoa qualquer. Em sendo José, não sou Napoleão ou William Smith, cidadão americano de Nova York: ou Ivan Ivanovich patriota soviético. Posso distinguir‑me assim porque me associo intensamente a uma série de atributos especiais e porque com eles e através deles formo uma história: a minha história. Mas como é que sei o que sou? Como posso discutir a passagem do ser humano que nasci para o brasileiro que sou? Fonte: DaMatta (1986, p. 11‑6).2 Roteiro para leitura: • Sublinhe todas as palavras que você não conhece e, em seguida, procure‑as em um dicionário. • Pesquise sobre a vida do autor, suas obras e ideias principais. 2 Trabalho apresentado pela autora no III Eneseb – Encontro Nacional sobre o Ensino de Sociologia na Educação Básica, realizado em Fortaleza em junho de 2013. 72 Unidade II • Anote em seu caderno todas as passagens do texto que não compreendeu e faça uma pesquisa prévia para esclarecimento. Levante questões sobre o texto para ser discutida na próxima aula. • Pesquise o significado da palavra cultura. Quantos significados você encontrou? Escreva sua própria definição de cultura. • Qual é o assunto do texto? • Em busca da ideia central: • Que ideia o autor defende? O que pretende demonstrar? • Elabore um resumo do texto que contenha a síntese das ideias do autor. • É correto afirmar que para o autor o que faz o brasil Brasil é o povo? • Como você explica a diferença entre a cultura universal e a cultura brasileira? Há algo de específico na cultura brasileira? O texto escolhido faz parte de uma discussão maior sobre a identidade cultural do povo brasileiro. Ao disponibilizar esse texto aos estudantes, procurou‑se colocar o jovem em contato com uma produção intelectual mais elaborada, por meio do contato com o texto de um renomado pesquisador, o prof. Roberto DaMatta. Outro critério de escolha é que o texto é curto, o que permite a leitura em sala de aula. Atualmente, existe um consenso entre intelectuais sobre a importância do ato de ler na formação da visão de mundo dos indivíduos. É necessário superar a visão de que é responsabilidade dos professores de Língua Portuguesa a formação do leitor. Figura 17 ‑ A importância da leitura na formação do estudante Para Bridi, Araújo e Motim (2009, p. 83), os alunos devem ser estimulados a verbalizar e escrever sobre os conteúdos estudados, utilizando suas anotações para entender ou explicar sua realidade, os 73 METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS fenômenos sociais, políticos, culturais, econômicos. Para isso, é necessário que os alunos se situem criticamente diante de alguma notícia das diversas mídias: impressa, televisão ou internet. A expressão escrita é fundamental para o desenvolvimento do aluno. Deste modo, é importante estimular a passagem da oralidade para a escrita. Diante da importância da expressão escrita na formação do jovem, entende‑se que não compete somente à disciplina de Língua Portuguesa o desenvolvimento da escrita. Trata‑se de um desafio maior que deve ser encampado por todas as disciplinas do currículo. Para o desenvolvimento da expressão escrita, Bridi, Araújo e Motim nos recomendam que: na disciplina de Sociologia, após a leitura, o levantamento de dúvidas, o debate e os dados complementares trabalhados, o aluno sistematiza o seu entendimento, por escrito, o qual pode conter questões reflexivas, questões‑problema ou mesmo ideias centrais do conteúdo. A apresentação escrita é uma exigência e um dos componentes fundamentais do processo de avaliação, podendo ser através de resenhas, resumos, pesquisas, relatórios, levantamentos sociais, sínteses, redações, elaboração de jornal ou revista etc. A Sociologia, juntamente com outras disciplinas escolares, deve contribuir para uma escrita competente do aluno e isso acontece nas atividades que levem a trabalhar com a produção de textos, levantando questões capazes de exigir argumentação, análise, comparação, síntese, relações, descrição, narração (BRIDI; ARAÚJO; MOTIM, 2009, p. 159). A inserção do jovem no debate intelectual é um desafio do ensino de Sociologia no nível médio. A leitura de clássicos, a busca da disciplina intelectual é que é importante para a compreensão mais profunda da realidade que vivemos. Sabemos que a leitura e a compreensão das obras clássicas, no campo das Ciências Sociais, não é uma tarefa simples para jovens do Ensino Médio. Por isso, recomenda‑se a utilização de recortes, ou seja, trechos significativos, para que o estudante tenha contato com um pensamento mais sofisticado.3 Saiba mais Assista ao vídeo: A AVENTURA da leitura na educação. Dir. Vicente Guerra. Brasil: TV Escola/Grupo Conspiração/TV Cultura, 2009. 47 min. Disponível em: <http:// tvescola.mec.gov.br/tve/video?idItem=5348>. Acesso em: 4 fev. 2015. 3 Nos textos de Roberto DaMatta e Gilberto Freyre se encontram exemplos de recortes adequados ao ensino no nível médio. Trata‑se de trechos pequenos, que podem ser lidos e discutidos em uma aula.74 Unidade II Sinopse: quantos livros você já leu esse ano? Leitura é motor de aprendizado e mudança de si mesmo. Ela deve ser ponto‑chave de qualquer escola, mas esse hábito ainda é pouco desenvolvido no Brasil. Os Caminhos da Escola vai até Santo André (SP), onde na E. M. de Ensino Infantil e Fundamental Carolina Maria de Jesus alterou seu baixo índice de alunos alfabetizados com um projeto de leitura chamado “Lendo e Aprendendo”. Ninguém melhor que o homem‑livro, Evandro dos Santos, para continuar o debate sobre esse assunto. Neste filme vemos a última etapa do desafio sobre direitos humanos. 6.2 A utilização de poesias e músicas A poesia e a música podem ser grandes aliadas no processo de ensino‑aprendizagem. A música se encontra presente na vida da maioria dos jovens brasileiros como forma de expressão da sua identidade cultural. O trabalho com música possibilita o exercício da reflexão e o cultivo da sensibilidade e agrega prazer ao processo de aprendizado. Para Nidelcoff (2004), a importância de trabalhar com poesia nas aulas de Ciências Sociais expressa: A vinculação de textos literários (neste caso poemas, mas pode tratar‑se também de novelas, capítulos de novelas, fragmentos de ensaios, contos ou peças de teatro, [...] é um trabalho rico e interessante. Permite dar vida e cor aos temas destas matérias, pode oferecer novos dados ou novas maneiras de ver as coisas que a proporcionada pelos livros didáticos ou pela explicação do professor, ajuda os alunos a ver a realidade de uma maneira ampla, integral e não parcelada em matérias de estudo brindando a possibilidade, sempre bem vinda, de abrir a aula para a apreciação da comunicação e do sentimento vivos num texto literário (NIDELCOFF, 2004, p. 122). Observa‑se que a utilização de poesias possibilita o desenvolvimento da sensibilidade e que a reflexão é estimulada pelos próprios sentimentos que a poesia desperta no aluno. Diante do incipiente espaço do mundo acadêmico para discussão de práticas pedagógicas, a pesquisadora Kelly Mota (2010) defende o desenvolvimento de formas de realização práticas do conhecimento sociológico nas escolas. Seu objetivo é ir além de uma sugestão de aula, em seus projetos de aula busca “tornar conhecimentos sociológicos em objetos de ensino, a partir da recontextualização e mediação pedagógica” (MOTA, 2010, p. 130), que requer a utilização de uma linguagem adequada ao meio escolar. Para isso, a autora articula a linguagem literária e temas do ensino de Sociologia para o nível médio. O consumismo é uma prática social que requer uma refinamento de sua compreensão. Para trabalhar os conceitos de fetichismo, ideologia, reificação e mais valia e para provocar a percepção do processo de “coisificação do ser humano e humanização das coisas” (MOTA, 2010, p. 132), propõe‑se o estudo 75 METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS do consumo sob a perspectiva de Marx, e como objeto de análise o poema Eu, etiqueta, de Carlos Drummond de Andrade, que veremos a seguir. Eu, etiqueta Em minha calça está grudado um nome Que não é meu de batismo ou de cartório, Um nome... estranho. Meu blusão traz lembrete de bebida Que jamais pus na boca, nesta vida. Em minha camiseta, a marca de cigarro Que não fumo, até hoje não fumei. Minhas meias falam de produtos Que nunca experimentei Mas são comunicados a meus pés. Meu tênis é proclama colorido De alguma coisa não provada Por este provador de longa idade. Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro, Minha gravata e cinto e escova e pente, Meu corpo, minha xícara, Minha toalha de banho e sabonete, Meu isso, meu aquilo. Desde a cabeça ao bico dos sapatos, São mensagens, 76 Unidade II Letras falantes, Gritos visuais, Ordens de uso, abuso, reincidência, Costume, hábito, premência, Indispensabilidade, E fazem de mim homem‑anúncio itinerante, Escravo da matéria anunciada, Estou, estou na moda. É duro andar na moda, ainda que a moda Seja negar a minha identidade, Trocá‑la por mil, açambarcando Todas as marcas registradas, Todos os logotipos do mercado. Com que inocência de demito‑me de ser Eu que antes era e me sabia Tão diverso dos outros, tão mim mesmo, Ser pensante, sentinte e solitário Com outros seres diversos e conscientes De sua humana, invencível condição. Agora sou anúncio, Ora vulgar, ora bizarro. Em língua nacional ou em qualquer língua 77 METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS (Qualquer principalmente) E nisto me comparo, tiro glória De minha anulação. Não sou – vê lá – anúncio contratado. Eu é que mimosamente pago Para anunciar, para vender Em bares festas praias pérgulas piscinas, E bem à vista exibo esta etiqueta Global no corpo que desiste De ser veste e sandália de uma essência Tão viva, independente, Que moda ou suborno algum a compromete. Onde terei jogado fora Meu gosto e capacidade de escolher, Minhas idiossincrasias tão pessoais, Tão minhas que no rosto se espelhavam E cada gesto, cada olhar, Cada vinco da roupa Sou gravado de forma universal, Saio da estamparia, não de casa, Da vitrine me tiram, recolocam, Objeto pulsante mas objeto 78 Unidade II Que se oferece como signo de outros Objetos estáticos, tarifados. Por me ostentar assim, tão orgulhoso De ser não eu, mas artigo industrial, Peço que meu nome retifiquem, Já não me convém o título de homem. Meu nome novo é Coisa Eu sou a Coisa, coisamente. Fonte: Andrade (1984, p. 85‑7). O poema anterior possibilita a análise de um conjunto de conceitos sociológicos ligados ao consumismo, fetichismo da mercadoria e alienação. A análise do poema em sala de aula requer inicialmente a leitura coletiva, seguida de questionamento das razões pelas quais os alunos são induzidos a consumir. A partir de então, é possível refletir sobre a própria participação do aluno no sistema de consumo. A partir do poema Eu, etiqueta é possível desenvolver reflexão sobre o fetiche das mercadorias, o papel dos meios de comunicação de massas no estímulo ao consumo. A reflexão pode se estender para a análise das mensagens publicitárias e ter como desdobramento o desenvolvimento de um olhar crítico sobre os meios de comunicação. Trabalhar com poesias é um recurso didático que permite inserir na reflexão científica o social, a sensibilidade humana ou, como afirma Nidelcoff (2004, p. 130), “compreender que o poeta pode ser uma testemunha que nos ajuda a captar melhor e sentir mais intensamente uma problemática”. Trabalhar com músicas em sala de aula possibilita aproximar a aprendizagem da cultura juvenil. Veja as considerações de Moraes (2010, p. 60) sobre a utilização de músicas nas aulas de Sociologia: A música é um recurso financeiramente acessível, disponível à maioria das escolas e que aguça a capacidade de análise em relação a situações, capaz de superar as dificuldades presentes nos textos didáticos, levando‑se em conta que as letras analisadas não foram escritas com esse propósito, mas com intenções as mais diversas. A partir da inspiração pessoal do artista que escreveu os versos, a análise sociológica que deles provém pode remeter às mais diferentes questões da vida social. 79 METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS Trabalhar com músicas possibilita agregar o aspecto lúdico no processo de aprendizagem. É recomendável que se parta dos interesses musicais dos jovens. Para exemplificar as formas de utilização da música como recurso pedagógico, segue um exemplo de como a música pode ser utilizada para introdução da discussão do consumismo e da atuação da publicidade e propaganda. 3ª do plural Corrida pra vender cigarro cigarro pra vender remédio remédio pra curar a tosse tossir, cuspir, jogar pra fora corrida pra vender os carros pneu, cerveja e gasolina cabeça pra usar boné e professar a fé de quem patrocina Eles querem te vender, eles querem te comprar querem te matar, de rir... Querem te fazer chorar quem são eles? quem eles pensam que são? Corrida contra o relógiosilicone contra a gravidade dedo no gatilho, velocidade quem mente antes diz a verdade satisfação garantida obsolescência programada eles ganham a corrida antes mesmo da largada Eles querem te vender, eles querem te comprar querem te matar, à sede... eles querem te sedar quem são eles? quem eles pensam que são? Vender... Comprar... Vedar os olhos jogar a rede contra a parede querem te deixar com sede não querem nos deixar pensar quem são eles? quem eles pensam que são? Fonte: ENGENHEIROS DO HAWAII (2005). 80 Unidade II Para trabalhar em sala de aula com música, recomenda‑se inicialmente ouvi‑la com a turma, em uma atmosfera de aula de maior descontração. A seguir, é produtivo ouvir as impressões iniciais dos alunos e em seguida ler a letra com o grupo, levando a discussão sobre a ideologia do consumo e classes sociais. 6.3 Tecnologias audiovisuais: TV e vídeo nas aulas de Sociologia Existem muitos recursos tecnológicos que podem ser utilizados nas aulas de Sociologia. Os vídeos e a internet podem atuar como recursos importantes desde que se tenha claro quais são os seus objetivos educacionais. A utilização das novas tecnologias na educação deve conduzir o professor a refletir sobre a forma como poderão contribuir para que se atinja os objetivos educacionais. A seguir, veja como esta questão é discutida pelo pesquisador José Armando Valente. As facilidades técnicas oferecidas pelos computadores possibilitam a exploração de um leque ilimitado de ações pedagógicas, permitindo uma ampla diversidade de atividades que professores e alunos podem realizar. Por um lado, essa ampla gama de atividades pode ou não estar contribuindo para o processo de construção do conhecimento. O aluno pode estar fazendo coisas fantásticas, porém o conhecimento usado nestas atividades pode ser o mesmo que o exigido em outra atividade menos espetacular. [...] Por exemplo, o aluno pode estar buscando informações na rede internet, na forma de texto, vídeo ou gráficos, colando‑as na elaboração de uma multimídia, porém sem ter criticado ou refletido sobre os diferentes conteúdos utilizados. Com isso, a multimídia pode ter um efeito atraente, mas ser vazia do ponto de vista de conteúdos utilizados (VALENTE, 2005, p. 23). Observa‑se que a construção do conhecimento se torna fundamental, o que conduz o professor a refletir sempre se a utilização da tecnologia está contribuindo ou não para a construção de novos conhecimentos. Isto coloca a necessidade de estabelecer clara distinção entre o que é informação e o que é conhecimento. Observação O que diferencia informação de conhecimento? Segundo o artigo de José Armando Valente (2005, p. 22‑31) Informação: são os fatos, os dados que encontramos nas publicações, na internet ou mesmo aquilo que as pessoas trocam entre si. 81 METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS Conhecimento: é o que cada indivíduo constrói como produto do processamento, da interpretação, da compreensão da informação. É algo construído por cada um, muito próprio e impossível de ser passado – o que é passado é a informação que advém do conhecimento, porém nunca o conhecimento em si. Diante do exposto, coloca‑se a necessidade de refletir sobre a forma como as tecnologias podem contribuir com o processo educacional. As tecnologias possuem a capacidade de informar? Elas contribuem para o desenvolvimento do conhecimento? O desenvolvimento da internet e as múltiplas utilizações do computador no meio educacional têm levado muitos educadores a desconsiderar a importância da televisão e do vídeo para o processo educacional. Ao analisar a relevância da televisão, do cinema e vídeo – os meios de comunicação audiovisuais –, o pesquisador Moran reconhece sua importância na formação das visões de mundo no homem contemporâneo. A informação e a forma de ver o mundo predominantes no Brasil provêm fundamentalmente da televisão. Ela alimenta e atualiza o universo sensorial, afetivo e ético que crianças e jovens – e grande parte dos adultos – levam para a sala de aula (MORAN, 2005, p. 97). Ao traçar um paralelo entre o discurso televisivo e o discurso escolar, Moran identifica que a TV possui um formato “despretensioso e sedutor”, que cria uma dificuldade para o meio escolar de contrapor com uma visão mais crítica, que requer um grau maior de abstração. Enquanto a televisão fala do mundo afetivo, o discurso escolar tem base científica. Para abstrações necessárias para o desenvolvimento de linhas de raciocínio, a televisão oferece a sedução das imagens. Figura 18 ‑ A força da linguagem televisiva 82 Unidade II Na busca por audiência, os meios de comunicação utilizam um discurso de apelo emocional, exploram a fantasia e a mostram como realidade as telenovelas e reality shows. Nos meios de comunicação, os temas são apresentados sem profundidade, as informações são transmitidas de forma superficial. Na análise dos meios de comunicação, Moran afirma: Os meios de comunicação, principalmente a televisão, desenvolvem formas sofisticadas de comunicação sensorial, emocional e racional, superpondo linguagem e mensagens que facilitam a interação, com o público. A TV fala primeiro do “sentimento – o que você sentiu”, não o que você conheceu; as ideias estão embutidas na roupagem sensorial, intuitiva e afetiva (MORAN, 2005, p. 97). Diante do exposto, Moran indica pistas de como trabalhar a televisão na sala de aula. Parte‑se do sensorial, do afetivo, para se avançar para conceitos e teorias. Para Moran, é necessário que o professor faça um esforço para integrar imagens, sons e textos para que a linguagem se aproxime mais do jovem. A utilização da televisão nas aulas de Sociologia permite partir de elementos mais próximos da sensibilidade dos alunos e desenvolver análise do conteúdo com o objetivo dos alunos perceberem os aspectos positivos e negativos da abordagem televisiva. Deste modo, é possível formar o telespectador criterioso, que saiba avaliar o que é apresentado. Lembrete Cabe ressaltar que nem toda programação televisiva é voltada somente para o entretenimento. Existem programas, principalmente nos canais educativos, que podem ser utilizados em sala de aula para complementar as informações e contribuir para a construção do conhecimento. Figura 19 ‑ A produção de vídeos pelos alunos 83 METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS Outra possibilidade de trabalhar com vídeos é estimular os alunos a produzir os seus próprios programas com filmadoras amadoras. É possível realizar trabalhos envolvendo a produção de vídeos pelos próprios alunos. A produção de vídeos pode estimular a expressão e criatividade dos alunos. Para isso, é necessário aprender um pouco sobre a linguagem televisiva. Diante de uma discussão sobre a diversidade cultural nas aulas de Sociologia, é possível que os alunos pesquisem as diferenças culturais e produzam filmes sobre as diferenças de costumes e religiosidade entre os habitantes da sua localidade. A utilização de filmes nas aulas de Sociologia pode contribuir para tornar as aulas mais atrativas para os jovens na medida em que vivemos em uma época que se valoriza em demasia a imagem. Os filmes podem contribuir para a compreensão da realidade e ser adequado à faixa etária dos alunos. Segundo as Orientações Curriculares Nacionais, a utilização do cinema, vídeo ou TV nas aulas de Sociologia devem contribuir para os processos de estranhamento e desnaturalização da realidade. Trazer a TV ou o cinema para a sala de aula não é apenas buscar um novo recurso metodológico ou tecnologia de ensino adequado aos nossos dias, mais palatáveis para os alunos – e o público—, que são condicionados mais a ver do que a ouvir, que têm a imagem como fonte do conhecimento de quase tudo. Trazer a TV e o cinema para a sala de aula é submeter esses recursos a procedimentos escolares – estranhamento e desnaturalização (ORIENTAÇÕES..., p. 129). Defende‑se que a utilização dos recursos tecnológicos atue na formaçãodo olhar crítico, sociológico. A incorporação da imagem ao ensino requer uma leitura científica. Portanto, as OCNs defendem que o assistir filme na escola se diferencie das formas convencionais de utilização dos meios de comunicação de massa. Isso requer discussão e reflexão sobre os conteúdos assistidos. A utilização de vídeos tem constituído um recurso comum nas aulas de Sociologia. O grande problema é que a projeção de filmes destoa dos tempos de aula. As produções médias dos longa‑metragens é de 2 horas e as horas‑aula possuem em média 50 minutos. Para que aconteça uma projeção, são necessários verdadeiros malabarismos, com novos arranjos de turmas. É preciso selecionar filmes que permitam certos recortes que tornem evidentes certos aspectos considerados fundamentais. Assistir trechos de filmes pode parecer uma heresia para os cinéfilos, mas sob a perspectiva didática, o recorte permite colocar em evidência um aspecto considerado central e pode estimular o aluno a procurar ver a obra inteira em outro contexto. Observação Em junho de 2014, foi promulgada a Lei nº 13.006, que determina a obrigatoriedade da exibição de filmes e audiovisuais de produção nacional 84 Unidade II nas escolas de Ensino Básico por, no mínimo, duas horas mensais. A exibição de filmes nacionais constituirá componente curricular complementar integrado à proposta pedagógica da escola. O objetivo da lei é ampliar a presença da arte na escola e formar usuários de bens e serviços culturais. Saiba mais Veja a análise de cineastas sobre a nova lei em: CINEASTAS chamam a atenção para seleção de filmes e planejamento das aulas. Agência Brasil, 2014. Disponível em: <http://www.ebc.com. br/educacao/2014/07/cineastas‑chamam‑a‑atencao‑para‑selecao‑de‑ filmes‑e‑planejamento‑das‑aulas>. Acesso em: 5 fev. 2015. A seguir, formulamos um quadro com algumas sugestões de filmes que podem ser utilizados nas aulas de Sociologia. Quadro 3 - Sugestões de filmes para os principais temas das Ciências Sociais Tema Filme Sinopse Cultura e diversidade cultural CORAÇÕES Sujos. Dir. Vicente Amorim. Brasil: Downtown, 2010. 115 min. A história do imigrante japonês Takahashi, dono de uma pequena loja de fotografia, casado com Miyuki, uma professora primária, que de um homem comum transforma‑se em assassino, enquanto sua mulher luta contra o destino, tentando em vão salvar seu amor em meio ao caos e à violência. Os grupos étnicos e a questão racial CAPITÃES da Areia. Dir. Cecília Amado. Brasil: Telecine Productions, 2009. 96 min. Um grupo de meninos que viviam suas aventuras, à margem da lei, nas estreitas ruas e praias de Salvador, na década de 1940, e por possuírem a habilidade de desaparecerem, sem serem notados, ficaram conhecidos como os Capitães da Areia. Sexualidade e gênero HOJE eu quero voltar sozinho. Dir. Daniel Ribeiro. Brasil: Lacuna Filmes, 2014. 96 min. Leonardo é um adolescente cego em busca de sua independência. Seu cotidiano, a relação com a melhor amiga, Giovana, e a sua forma de ver o mundo ganham novos contornos com a chegada de Gabriel, um menino que vai fazê‑lo descobrir coisas que ele nem imagina. Religião e religiosidade na atualidade LINHA de passe. Dir. Walter Salles e Daniela Thomas. Brasil: Double Helix, 2008. 108 min. O filme conta a história de quatro irmãos que vivem na periferia de São Paulo. Com a ausência do pai, precisam lutar por seus sonhos. Reginaldo, o mais novo, procura obstinadamente seu pai que nunca conheceu. Dario, prestes a completar 18 anos, sonha com uma carreira como jogador de futebol profissional. Dinho, frentista em um posto de gasolina, busca na religião o refúgio para um passado obscuro. Dênis, o irmão mais velho, já é pai de um filho e ganha a vida como motoboy. No centro desta família está Cleuza (Sandra Corveloni), que, aos 42 anos, está grávida do quinto filho. 85 METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS Família e parentesco LAVOURA arcaica. Dir. Luiz Fernando Carvalho. Brasil: Video Filmes, 2001. 163 min. Baseado no livro de Raduan Nassar sobre uma família libanesa no Brasil. Lavoura arcaica é uma versão ao avesso da parábola do filho pródigo. André (Selton Mello) é um filho desgarrado. Pedro, seu irmão mais velho, recebeu da mãe a missão de trazê‑lo de volta ao lar. Nas lembranças de André, conhecemos as causas de sua fuga: a severa lei paterna e o sufocamento da ternura materna. Indústria cultural e os meios de comunicação de massa A NEGAÇÃO do Brasil. Dir. Joel Zito Araújo. Brasil: Casa de Produção, 2000. 90 min. O documentário aborda tabus e estereótipos sobre o negro na telenovela brasileira. O diretor, baseado em suas memórias, analisa as influências do gênero nos processos de identidade dos afro‑brasileiros. A juventude no Brasil PRO DIA nascer feliz. Dir. João Jardim. Brasil: Flávio Tambellini Produções Cinematográficas, 2005. 88 min. Documentário sobre as diferentes situações que adolescentes de 14 a 17 anos, ricos e pobres, enfrentam dentro da escola: a precariedade, o preconceito, a violência e a esperança. Foram ouvidos alunos de escolas da periferia de São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco e também de dois renomados colégios particulares, um de São Paulo e outro do Rio de Janeiro. O trabalho na sociedade contemporânea DOMÉSTICAS. Dir. Fernando Meirelles. Brasil: O2 Filmes, 2001. 85 min. O filme conta a história de cinco amigas, empregadas domésticas brasileiras: Raimunda, Cida, Roxane, Quitéria e Créo. Raimunda quer encontrar o homem ideal e casar; Cida já é casada, mas seu casamento não anda bem e ela quer um marido melhor; a bela Roxane quer deixar de ser doméstica para virar modelo; a estabanada Quitéria não consegue ficar num emprego por muito tempo; e Créo está preocupada com o sumiço de sua filha adolescente. Todas têm um grande sonho e diversas visões de paraíso, mas todas com o mesmo inferno: a profissão de doméstica. Diferença e desigualdade LIXO extraordinário. Dir. Lucy Walker. Brasil/Reino Unido: Almega Projects/O2 Filmes, 2010. 99 min. O documentário mostra o contato do artista plástico Vik Muniz com os catadores de material reciclável do Aterro do Jardim Gramacho, maior da América Latina, localizado no Rio de Janeiro. A partir da experiência, surge um novo combustível criativo para Vik e, como contrapartida, os catadores diminuem sua distância com a arte e conseguem condições melhores de vida. A questão urbana CIDADE cinza. Dir. Guilherme Valiengo e Marcelo Mesquita. Brasil: Sala12, 2013. 80 min. Em julho de 2008, um muro de 700 metros quadrados no centro de São Paulo foi recoberto de tinta cinza, seguindo uma política de limpeza urbana da Prefeitura. Acabava de ser apagado um grafite feito, entre outros, pela dupla Os Gêmeos, que naquele momento fora convidada a pintar a área externa do Tate Modern, em Londres. O acesso à terra no Brasil XINGU. Direção Cao Hamburguer. Brasil: O2 Filmes/ Globo Filmes, 2011. 192 min. Os irmãos Orlando, Claudio e Leonardo Villas Boas, resolveram trocar o conforto da vida urbana pela aventura de viver nas matas. Eles se alistaram no plano de expansão da região central, estabeleceram contato com os índios do Brasil central e foram os responsáveis pela criação do Parque Nacional do Xingu. Violência CIDADE de Deus. Dir. Fernando Meirelles. Brasil: O2 Filmes/ Globo Filmes, 2002. 130 min. O longa conta a história de dois meninos – Buscapé e Dadinho/Zé Pequeno – durante a ocupação do conjunto habitacional Cidade de Deus, no Rio de Janeiro. Enquanto o primeiro consegue resistir ao apelo de se tornar bandido e vira fotógrafo, o outro se transforma no mais temido bandido do Estado. 86 Unidade II Meio ambiente SANEAMENTO básico: o filme. Dir. Jorge Furtado. Brasil: Casa de Cinema de Porto Alegre, 2007. 112 min A comunidade da Linha Cristal, uma pequena vila de descendentes de colonos italianos na Serra Gaúcha, reúne‑se para tomarprovidências sobre a construção de uma fossa para o tratamento do esgoto da vila. Os moradores resolvem fazer um vídeo de ficção, ambientado nas obras de construção de uma fossa, com o único objetivo de usar a verba para as obras. Movimentos sociais QUANTO vale ou é por quilo?. Dir. Sérgio Bianchi. Brasil: Agravo Produções, 2005. 110 min. Livre adaptação do conto Pai Contra Mãe, de Machado de Assis. O filme traça um paralelo entre a vida no período da escravidão e a sociedade brasileira contemporânea, focando as semelhanças existentes no contexto social e econômico das duas épocas. Apontando a câmera para a falência das instituições no país, o filme faz uma analogia entre o antigo comércio de escravos e a exploração da miséria pelo marketing social: a solidariedade de fachada. Estado, governo e cidadania O BEM amado. Dir. Guel Arraes. Brasil: Natasha Filmes/Globo Filmes, 2010. 110 min. Odorico Paraguaçu (Marco Nanini) é o prefeito da cidade de Sucupira. Pilantra, ele tem uma plataforma de campanha: erguer um cemitério na cidade. O problema é que, após a construção, ninguém morre para inaugurar o local. Democracia e participação política DEMOCRACIA em preto e branco. Dir. Pedro Asbeg. Brasil: TV Zero, 2010. 90 min. Durante o ano de 1982, a ditadura militar completava 18 anos. A música popular brasileira sobrevivia de metáforas, devido a grande opressão e censura, e o clube de futebol Corinthians passava por um período interno turbulento. No meio disso, o rock nacional começava a nascer. O filme mostra como a música, o esporte e a política se encontraram para mudar o rumo da história do país. Direitos sociais, direitos civis, direitos políticos e direitos humanos BATISMO de sangue. Dir. Helvécio Ratton. Brasil: Quimera Filmes, 2006. 110 min. No fim dos anos 60, um convento de frades torna‑se um local de resistência contra a ditadura militar. Os freis Tito, Betto, Oswaldo, Fernando e Ivo passam a apoiar o grupo guerrilheiro Ação Libertadora Nacional, comandado por Carlos Marighella. Por isso, ficam na mira das autoridades policiais. Globalização JEAN Charles. Dir. Henrique Goldman. Brasil: Ja Filmes/ Mango Filmes, 2008. 93 min. O filme acompanha as experiências de diversos brasileiros que, em busca do sonho de uma vida melhor, arriscam viver longe de seu país, contando não apenas com seus próprios esforços, mas, principalmente, com a alegria e a criatividade, ̵ características marcantes do povo brasileiro. A história dessa comunidade é contada a partir de Jean Charles (Selton Mello), eletricista brasileiro assassinado em 2005 pela polícia britânica por ter sido confundido com um terrorista. O uso de recursos audiovisuais requer planejamento e relação com os conteúdos estudados. Utilizar filmes para substituir a presença do professor não contribui para o desenvolvimento da reflexão do aluno. O filme pode ser utilizado em diferentes momentos do processo de aprendizagem. Pode servir para instigar a curiosidade do aluno para compreender mais a fundo um tema. Pode ser utilizado no meio do processo de aprendizagem para ilustrar o tema em estudo. Finalmente, pode ser utilizado no final do processo, quando o aluno já possui um conhecimento básico sobre o tema, servindo assim para fechamento e análise de possíveis desdobramentos sobre um tema abordado pelo professor. 87 METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS Na reflexão sobre a utilização de recursos audiovisuais no ensino de Sociologia, Bridi, Araújo e Motim (2010, p. 179) propõem a elaboração de um roteiro de observação para que seja estimulada a discussão sobre o filme. Segue abaixo o exemplo. Roteiro de observação de filmes 1 Nome, autor, período em que foi produzido, gênero; 2. A temática básica do filme e outros temas sociais observados; 3. Especificação do tempo e do espaço em que ocorre a trama; 4. A fala dos personagens principais / o que pensam/ o que traduzem; 5. Imagens mais importantes; 6. Costumes da época/ cultura/ valores/ contexto social; 7. Identificação das ideias e valores passados pelo filme e também ideias e valores por ele questionados; 8. Semelhanças e diferenças do período apresentado com a realidade atual; 9. Críticas e observações sobre a trama do filme/ a realidade mostrada; 10. Relação entre o filme e os conteúdos sociológicos aprendidos. Adaptado de: Bridi, Araújo e Motim (2010, p. 179). Além dos recursos descritos, a fotografia também pode ser utilizada em aulas. Ela permite a análise de contextos sociais, políticos e culturais. Sua análise contribui para compreender os valores, as ideologias e as tensões de uma determinada época e local. 88 Unidade II Com o avanço dos recursos tecnológicos, tem se popularizado a utilização de filmadoras e câmaras fotográficas, que podem ser utilizados no espaço escolar pelos alunos para refletir sobre os temas das Ciências Sociais. Saiba mais Assista ao filme: AS NOVAS tecnologias em sala de aula. Brasil: TV Escola, 2009. 25 min. Disponível em: <http://tvescola.mec.gov.br/tve/video?idItem=6922>. Acesso em: 5 fev. 2015. Sinopse: o programa discute os recursos tecnológicos que contribuem para transformar a forma de ensinar e, principalmente, melhoram a relação entre os alunos, os professores e a comunidade. Vídeo, data‑show, retroprojetor, computadores, internet: as tecnologias são ferramentas importantes, mas o que elas exigem dos gestores das escolas? Em que tipo de projetos podem ser usadas? Especialistas convidados apontam suas opiniões nesse assunto. A fotografia é um recurso pedagógico muito utilizado na ilustração de materiais didáticos e atua como suporte para a compreensão dos conteúdos. Porém, pouco se trabalha no meio escolar com a leitura da imagem fotográfica. A projeção de slides com uma sequência de imagens sobre um determinando assunto é um recurso muito utilizado nas escolas. O trabalho com imagens permite ilustrar os fatos sociais. Na análise do uso pedagógico da fotografia, Costa propõe: Quando falamos no uso da linguagem fotográfica na prática educativa, estamos nos referindo a um uso bem mais amplo do que estes que já se consagraram na escola. Estamos nos referindo a trazer para a sala de aula essa cultura imagética que os quase duzentos anos de produção de fotografias acabaram implantando em nosso cotidiano. Estamos sugerindo que os temas sejam abordados também em sua trajetória imagética, através da qual tiveram suas diferentes faces registradas por foto‑amadores ou fotógrafos profissionais que estamparam seu olhar em documentos que hoje fazem parte do acervo de agências e editoras, museus e gavetas de colecionadores. Estamos sugerindo também que os próprios professores e alunos utilizem a fotografia para fazer seus próprios registros, aprendendo a olhar, a selecionar e a ver o mundo (COSTA, 2005, p. 81). 89 METODOLOGIA DE ENSINO APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS A utilização de imagens nas aulas de Sociologia cria a possibilidade de “tornar viva” uma mensagem, na medida em que dá cor e feição ao tema estudado. Além disso, a fotografia mobiliza o sistema emocional e orienta a atenção dos alunos. No trabalho didático com fotografia, é possível que esta sirva não só como ilustração, podendo atuar também como “fonte de conhecimento, descoberta, atenção e memória” (COSTA, 2005). Na apresentação de um tema, é possível utilizar imagens que sejam motivadoras e suscitem questões sobre o que temos como objetivo pedagógico. É importante que os alunos tenham um tempo para simplesmente olhar e refletir. Em seguida, cabe aos alunos expressar suas impressões iniciais e ao professor extrair os elementos que interessam para a reflexão do tema, teoria ou conceito. Figura 20 ‑ A condição do índio no Brasil A imagem anterior abre a perspectiva para exploração de vários temas presentes nos currículos estaduais de Sociologia no Ensino Médio. A condição do índio no país merece uma reflexão fundamentada em torno dos conceitos de
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