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Aula 16 - Romantismo No Brasil – Prosa 159 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência também, o sobrenatural. Destaca-se da sua produção em prosa as obras “Macário”, uma peça teatral que explora o satanismo, a presença do diabo, e “Noite na taverna”, livro de narrativas satânicas. UMA PEÇA SATÂNICA Álvares de Azevedo nutria uma grande ambição em relação ao teatro, mas sua morte precoce impediu que ele desenvolvesse seu projeto dramático. Ficou-nos Macário, uma peça marcada pela ironia e pelo spleen, usando o sobrenatural para refletir sobre seu tempo e para dar voz a um pessimismo marcante, manipulando diversas das características românticas já trabalhas, como a intensa subjetividade, o tédio da vida, o escapismo e a oposição “amor x sexo”. Na peça teatral, Macário, Álvares de Azevedo faz com que o protagonista, Macário, interaja com o diabo, que o convida para peregrinar por várias cidades do mundo, montado num burro negro. Enquanto viajam, conversam sobre o amor, as mulheres, o bem e o mal, os comportamentos transgressores, os pecados de membros da Igreja... No segundo ato, que se passa na Itália, encontram-se com outro personagem, Peneroso, e continuam o diálogo do ato anterior. A peça termina com Satã pedindo a Macário que observe pela janela uma cena de orgia e bebedeira de seis jovens em uma taverna, sugerindo que a cena vista no final da peça é a cena inicial de “Noites na taverna”. Os românticos, através, da figura do Diabo possibilitaram ao indivíduo a total liberdade de ação, a transgressão, escapando de qualquer controle moral ou de convenções sociais. Trecho I Macário: (bebe) Eu vos dizia pois... Onde tínhamos ficado? O desconhecido: Não sei. Parece-me que falávamos sobre o Papa. Macário: - Não sei: creio que o vosso vinho subiu-me à cabeça. O desconhecido: Falas como um descrido, como um saciado! E contudo ainda tens os beiços de criança! Quantos seios de mulher beijaste além do seio de tua ama de leite? Quantos lábios além dos de tua irmã? Macário: A vagabunda que dorme nas ruas, a mulher que se vende corpo e alma, porque sua alma é tão desbotada como seu corpo, te digam minhas noites. Talvez muita virgem tenha suspirado por mim! Talvez agora mesmo alguma donzela se ajoelhe na cama e reze por mim! O desconhecido: Na verdade és belo. Que idade tens? Macário: Vinte anos. Mas meu peito tem batido nesses vinte anos tantas vezes como o de um outro homem em quarenta. O desconhecido: E amaste muito? Macário: Sim e não. Sempre e nunca. O DESCONHECIDO - Fala claro. Macário: Mais claro que o dia. Se chamas o amor a troca de duas temperaturas, o aperto de dois sexos, a convulsão de dois peitos que arquejam, o beijo de duas bocas que tremem, de duas vidas que se fundem... tenho amado muito e sempre!... Se chamas o amor o sentimento casto e puro que faz cismar o pensativo, que faz chorar o amante na relva onde passou a beleza, que adivinha o perfume dela na brisa, que pergunta às aves, à manhã, à noite, às harmonias da música, que melodia é mais doce que sua voz; e ao seu coração, que formosura mais divina que a dela...eu nunca amei. Ainda não achei uma mulher assim. Entre um charuto e uma chávena de café lembro-me às vezes de alguma forma divina, morena, branca, loura, de cabelos castanhos ou negros. Tenho-as visto que fazem empalidecer-me, meu peito parece sufocar meus lábios se gelam, minha mão se esfria...Parece-me então que, se aquela mulher que me faz estremecer assim, soltasse sua roupa de veludo e me deixasse por os lábios sobre seu seio um momento, eu morreria num desmaio de prazer! Mas depois desta vem outra, mais outra e o amor se desfaz numa saudade que se desfaz no esquecimento. Como eu te disse, nunca amei. O desconhecido: Ter vinte anos e nunca ter amado! E para quando esperas o amor? Macário: Não sei. Talvez eu ame quando estiver impotente! O desconhecido: E o que exigirias para a mulher de teus amores? Macário: Pouca coisa. Beleza, virgindade, inocência, amor. O desconhecido: Admira-me uma coisa. Tens vinte anos: deverias ser puro como um anjo e és devasso como um cônego! Álvares de Azevedo, Macário Trecho II Macário: Por acaso há mulheres ali? (Em São Paulo) Satã: Mulheres, padres, soldados e estudantes. (...) Para falar mais claro as mulheres são lascivas, os padres dissolutos, os soldados ébrios, os estudantes vadios. Isso salvo honrosas exceções, por exemplo, de amanhã em diante tu Macário: Esta cidade deveria ter o teu nome. Satã: Tem o de um santo: é quase o mesmo. Não é o hábito que faz o monge. Demais essa terra é devassa como uma cidade, insípida como uma vila e pobre como uma aldeia. (...) Até as calçadas... Macário: Que têm? Satã: São intransitáveis. Parecem encastoadas* as tais pedras. As calçadas do inferno são mil vezes melhores. Mas o pior da história é que as beatas e os cônegos cada vez que saem, a cada topada, blasfemam tanto com o rosário na mão que já estou enjoado. Álvares de Azevedo, Macário NOITE NA TAVERNA Em “Noite na Taverna”, em que seis estudantes bêbados, reunidos em uma taverna, narram as mais aventuras marcadas por orgias, incestos, assassinatos, fratricídio, mistérios e morte. Logo no primeiro capítulo de Noite na taverna, Azevedo louva o conhaque como a um deus, exaltado o culto ao prazer, que, no entanto, é uma fuga diante da inquietude, do tédio da vida. Os jovens que narram suas histórias, Solfieri, Bertram, Gennaro, Claudius Herrmann e Johann, não apresentam profissões definidas, vivem de maneira desregrada, uma vida boêmia que reflete o desencanto, a angústia, a incapacidade de se alcançar uma vida plena, mascarados, muitas vezes, pela ironia. As histórias narradas giram em torno de casos amorosos que resultam em tragédia. Antônio Carlos Secchin faz a seguinte afirmação sobre a obra “a condição marginal do herói se revela também em sua indefinição profissional: os personagens de Álvares de Azevedo são invariavelmente alijados do trabalho ou a ele avessos, consumindo -se num espaço noturno e entregues ao jogo, à bebida e aos amores. Tal alijamento lhes soa com o irreversíveis, o que imprime a suas falas um certo tom de autopunição e masoquismo, como se lamentassem algo que lhes superassem a força consciente. Não há vanglória onde não houve opção.”. 160 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula) Trecho — Silêncio! moços!! acabai com essas cantilenas horríveis! Não vedes que as mulheres dormem ébrias, macilentas como defuntos? Não sentis que o sono da embriaguez pesa negro naquelas pálpebras onde a beleza sigilou os olhares da volúpia?? —Cala-te, Johann! enquanto as mulheres dormem e Arnold— o loiro—cambaleia e adormece murmurando as canções de orgia de Tieck, que musica mais bela que o alarido da saturnal? Quando as nuvens correm negras no céu como um bando de corvos errantes, e a lua desmaia como a luz de uma lâmpada sobre a alvura de uma beleza que dorme, que melhor noite que a passada ao reflexo das tachas? —És um louco, Bertram! não e a lua que lá vai macilenta: e o relâmpago que passe e ri de escárnio as agonies do povo que morre, aos soluços que seguem as mortalhas do cólera! —O cólera! e que importa? Não há por ora vida bastante nas veias do homem? não borbulha a febre ainda as ondas do vinho? não reluz em todo o seu fogo a lâmpada da vida na lanterna do crânio? —Vinho! vinho! Não vês que as taças estão vazias bebemos o vácuo, como um sonâmbulo? —E o Fichtismo na embriguez! Espiritualista, bebe a imaterialidade da embriaguez! —Oh! vazio meu copo esta vazio! Olá taverneira, não vês que as garrafas estão esgotadas? Não sabes, desgraçada, que os lábios da garrafa são como os da mulher: só valem beijos enquanto o fogo do vinho ou o fogo do amor os borrifa de lava? —O vinho acabou-se nos copos, Bertram,mas o fumo ondula ainda nos cachimbos! Após os vapores do vinho os vapores da fumaça! Senhores, em nome de sodas as nossas reminiscências, de todos os nossos sonhos que mentiram, de sodas as nossas esperanças que desbotaram, uma ultima saúde! A taverneira ai nos trouxe mais vinho: uma saúde! O fumo e a imagem do idealismo, e o transunto de tudo quanto ha mais vaporoso naquele espiritualismo que nos fala da imortalidade da alma! e pois, ao fumo das Antilhas, a imortalidade da alma! —Bravo! bravo! Um urrah tríplice respondeu ao moco meio ébrio. Um conviva se ergueu entre a vozeria: contrastavam-lhe com as faces de moco as rugas da fronte e a rouxidão dos lábios convulsos. Por entre os cabelos prateava-se-lhe o reflexo das luzes do festim. Falou: —Calai-vos, malditos! a imortalidade da alma? pobres doidos! e porque a alma e bela, porque não concebeis que esse ideal posse tornar-se em loco e podridão, como as faces belas da virgem morta, não podeis crer que ele morra? Doidos! nunca velada levastes porventura uma noite a cabeceira de um cadáver? E então não duvidastes que ele não era morto, que aquele peito e aquela fronte iam palpitar de novo, aquelas pálpebras iam abrires, que era apenas o ópio do sono que emudecia aquele homem? Imortalidade da alma! e por que também não sonhar a das flores, a das brisas, a dos perfumes? Oh! não mil vezes! a alma não e, como a lua, sempre moca, nua e bela em sue virgindade eterna! a vida não e mais que a reunião ao acaso das moléculas atraídas: o que era um corpo de mulher vai porventura transformar-se num cipreste ou numa nuvem de miasmas; o que era um corpo do verme vai alvejar-se no cálice da flor ou na fronte da criança mais loira e bela. Como Schiller o disse, o átomo da inteligência de Platão foi talvez pare o coração de um ser impuro. Pôr isso eu vo- lo direi: se entendeis a imortalidade pela metempsicose, bem! talvez eu creia um pouco:— pelo Platonismo, não! Álvares de Azevedo, Noite na Taverna O TEATRO ROMÂNTICO - MARTINS PENA Martins Pena figura, no Brasil, como o fundador da comédia de costumes. Inserido no Romantismo, trouxe o caráter nacional ao teatro da época, deixando uma obra de aproximadamente trinta peças, dentre as quais se destacam “O noviço” e “O Juiz de Paz na Roça”. Nas suas comédias e farsas, o dramaturgo retratou, normalmente num tom satírico, rivalidades políticas, abusos das autoridades, irregularidades no comércio, a busca por ascensão social, através de personagens comuns, numa linguagem marcada pela espontaneidade. Suas peças criaram um “retrato” da vida cotidiana do Rio de Janeiro. Segundo Silvio Romero, Martins Pena “fotografa o seu meio com uma espontaneidade de pasmar, e essa espontaneidade, essa facilidade, quase inconsciente e orgânica, é o maior elogio de seu talento. Se perdessem todas as leis, escritos, memória da história brasileira dos primeiros cinquenta anos deste século, que está a findar, e nos ficassem somente as comédias de Pena era possível reconstruir por elas a fisionomia moral de toda essa época.”. Martins Pena criou personagens que, ainda que carecessem de maior profundidade psicológica, representavam diferentes tipos sociais do Brasil do século XIX: escravos, funcionários públicos, comerciantes, artesãos, soldados, padres, representantes da Corte, etc. Por meio do humor e da sátira, censurou os valores e os costumes considerados imorais, assumindo um tom de crítica e destacando, muitas vezes, problemas sociais, expondo, por exemplo, a corrupção nos serviços públicos, o contrabando de escravos, a exploração do sentimento religioso, a desonestidade dos comerciantes. Assim, Martins Pena reproduziu os costumes de sua época contribuindo para que o público compreendesse a identidade cultural brasileira. Trecho I Casa do Juiz. Entra o JUIZ DE PAZ E (o) ESCRIVÃO. JUIZ - Agora que estamos com a pança cheia, vamos trabalhar um pouco. (ASSENTAM-SE À MESA) ESCRIVÃO - Vossa Senhoria vai amanhã à cidade? JUIZ - Vou, sim. Quero-me aconselhar com um letrado para saber como hei-de despachar alguns requerimentos que cá tenho. ESCRIVÃO - Pois Vossa Senhoria não sabe despachar? JUIZ - Eu? Ora essa é boa! Eu entendo cá disso? Ainda quando é algum caso de embigada, passe; mas casos sérios, é outra cousa. Eu lhe conto o que me ia acontecendo um dia. Um meu amigo me aconselhou que, tôdas as vêzes que eu não soubesse dar um despacho, que eu não soubesse dar um despacho, que desse o seguinte: "Não tem lugar." Um dia apresentaram-me um requerimento de certo sujeito, queixando-se que sua mulher não queria viver com êle, etc. Eu, não sabendo que despacho dar, dei o seguinte: " Não tem lugar." Isto mesmo é que queria a mulher; porém (o marido) fêz uma bulha de todos os diabos; foi à cidade, queixou-se ao Presidente, e eu estive quase não quase suspenso. Nada, não me acontece outra. ESCRIVÃO - Vossa senhoria não se envergonha, sendo um juiz de paz? JUIZ - Envergonhar-me de quê? O senhor ainda está muito de cor. Aqui para nós, que ninguém nos ouve, quantos juízes de direito há por estas comarcas que não sabem aonde têm sua mão direita, Aula 16 - Romantismo No Brasil – Prosa 161 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência quanto mais juízes de paz... E além disso, cada um faz o que sabe. (BATEM) Quem é? MANUEL JOÃO - (dentro) "Um criado de Vossa Senhoria. JUIZ - Pode entrar. Martins Pena, O Juiz de Paz na roça Trecho II Sala com uma porta no fundo, duas à direita e duas à esquerda, uma mesa com o que é necessário para escrever-se, cadeiras, etc. Paulina e Fabiana. Paulina junto à porta da esquerda e Fabiana no meio da sala; mostram-se enfurecidas. PAULINA (batendo o pé) - Hei de mandar!... FABIANA (no mesmo) - Não há de mandar!... PAULINA (no mesmo) - Hei-de e hei-de mandar!... FABIANA - Não há-de e não há- de mandar!... PAULINA - Eu lho mostrarei. (Sai.) FABIANA - Ai que estalo! Isto assim não vai longe... Duas senhoras a mandarem em uma casa... é o inferno! Duas senhoras? A senhora aqui sou eu; esta casa é de meu marido, e ela deve obedecer-me, porque é minha nora. Quer também dar ordens; isso veremos... PAULINA (aparecendo à porta) - Hei de mandar e hei de mandar, tenho dito! (Sai.) FABIANA (arrepelando-se de raiva) - Hum! Ora, eis aí está para que se casou meu filho, e trouxe a mulher para minha casa. É isto constantemente. Não sabe o senhor meu filho que quem casa quer casa... Já não posso, não posso, não posso! (Batendo com o pé:) Um dia arrebento, e então veremos! (Tocam dentro rabeca.) Ai, que lá está o outro com a maldita rabeca... É o que se vê: casa-se meu filho e traz a mulher para minha casa... É uma desavergonhada, que se não pode aturar. Casa-se minha filha, e vem seu marido da mesma sorte morar comigo... É um preguiçoso, um indolente, que para nada serve. Depois que ouviu no teatro tocar rabeca, deu-lhe a mania para aí, e leva todo o santo dia - vum,vum,vim,vim! Já tenho a alma esfalfada. (Gritando para a direita:) Ó homem, não deixarás essa maldita sanfona? Nada! (Chamando:) Olaia! (Gritando:) Olaia! Martins Pena, Quem casa, quer casa EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM Questão 01 (Puccamp 2017) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO José de Alencar retratou o seu herói goitacá em prosa, a exemplo do que o escocês Walter Scott havia feito com os cavaleiros medievais na célebre novela Ivanhoé. Para evocar um mítico passado nacional, na falta dos briosos cavaleiros medievais de Scott, o índio seria o modelo de que Alencar lançaria mão. (...) O índio entrara como tema na literatura universal por influência das ideias dos filósofos iluministas e especialmente, da obra de Jean- Jacques Rousseau (...). As teses de Rousseau sobre o “bom selvagem”, por sua vez, bebiam na fonte das narrativas de viajantes do século XVI, os primeiros europeus que haviam colocado os pés no chão americano. Foram esses viajantes os responsáveispela propagação do juízo de que, do outro lado do oceano, existia um povo feliz, vivendo sem lei nem rei (...). (NETO, Lira. O inimigo do Rei. Uma biografia de José de Alencar. São Paulo: Globo, 2006. p. 166-167) A corrente romântica indianista, além da ficção de José de Alencar, encontrou também alta expressão a) na poesia de feitio lírico ou épico, como nos cantos de Gonçalves Dias. b) na crônica de costumes, como as frequentadas pelos missionários do século XVI. c) no teatro popular, como o desenvolvido por Martins Pena. d) na épica de recorte clássico, como a concebeu Tomás Antônio Gonzaga. e) na crítica satírica, como a elaborada por Gregório de Matos. Questão 02 (Puccamp 2016) Para responder à(s) questão(ões) a seguir, considere o texto abaixo. Há no Romantismo nacional uma expressão evidente do culto da nacionalidade, o qual, tomado num sentido mais amplo, se manifesta também em lutas pela afirmação da liberdade política e determina a exaltação de valores e tradições. Esse sentimento é tomado também nos seus aspectos sociais, sob o apanágio dos direitos do homem livre, razão de ser do movimento abolicionista e matéria para o romance, para o teatro e para a poesia da época. (Adaptado de: CANDIDO, Antonio e CASTELLO, José Aderaldo. Presença da Literatura Brasileira I. Das origens ao Romantismo. São Paulo: DIFE, 1974, p. 207-208) A evidência do culto da nacionalidade de que fala o texto pode ser comprovada no projeto de um copioso autor romântico, investido de seu papel de escritor brasileiro. Nesse projeto, a) José de Alencar busca alcançar épocas, espaços e culturas distintas da nossa história. b) Machado de Assis abraça vários gêneros literários comprometidos com os vários regionalismos. c) Aluísio Azevedo dedica-se a estudar a fundo o que entendia por psicologia do caráter nacional. d) Manuel Antônio de Almeida estimulou, em suas crônicas, a propagação de revoltas libertárias. e) Bernardo Guimarães investiu, em seus versos, contra o despotismo dos mandatários portugueses. Questão 03 (Ucs 2012) José de Alencar, um dos mais importantes ficcionistas brasileiros do século XIX, escreveu romances históricos, regionais, urbanos e indianistas. Leia o fragmento do romance O Guarani, de José de Alencar. Caía a tarde. No pequeno jardim da casa do Paquequer, uma linda moça se embalançava indolentemente numa rede de palha presa aos ramos de uma acácia silvestre [...]. Os grandes olhos azuis, meio cerrados, às vezes se abriam languidamente como para se embeberem de luz [...]. Os lábios vermelhos e úmidos pareciam uma flor da gardênia dos nossos campos, orvalhada pelo sereno da noite [...]. Os longos cabelos louros, enrolados negligentemente em ricas tranças, descobriam a fronte alva, e caíam em volta do pescoço presos por uma rendinha finíssima de fios de palha cor de ouro. [...] Esta moça era Cecília. (ALENCAR, José de. O guarani. 25. ed. São Paulo: Ática, 2001. p. 32.) 162 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula) Em relação à obra O Guarani, ou ao fragmento acima descrito, assinale a alternativa correta. a) Neste trecho, a descrição de Cecília revela um ideal de beleza típico da sociedade do Brasil colonial. b) A visão de mundo realista está posta no retrato harmonioso entre a beleza da jovem e a beleza da natureza brasileira. c) No romance, um dos triângulos amorosos é formado por Cecília, Loredano e Isabel. d) No fragmento, a languidez dos olhos de Cecília sugere um certo erotismo, desvinculando a obra do movimento romântico. e) Na obra, além da idealização da mulher, há elementos da idealização do índio, personificado na figura de Peri. Questão 04 (Fuvest 2009) Em um poema escrito em louvor de "Iracema", Manuel Bandeira afirma que, ao compor esse livro, Alencar "[...] escreveu o que é mais poema Que romance, e poema menos Que um mito, melhor que Vênus." Segundo Bandeira, em "Iracema", a) Alencar parte da ficção literária em direção à narrativa mítica, dispensando referências a coordenadas e personagens históricas. b) o caráter poemático dado ao texto predomina sobre a narrativa em prosa, sendo, por sua vez, superado pela constituição de um mito literário. c) a mitologia tupi está para a mitologia clássica, predominante no texto, assim como a prosa está para a poesia. d) ao fundir romance e poema, Alencar, involuntariamente, produziu uma lenda do Ceará, superior à mitologia clássica. e) estabelece-se uma hierarquia de gêneros literários, na qual o termo superior, ou dominante, é a prosa romanesca, e o termo inferior, o mito. Questão 05 (Pucrs 2015) Leia o trecho do romance A escrava Isaura, de Bernardo Guimarães. – Não gosto que a cantes, não, Isaura. Hão de pensar que és maltratada, que és uma escrava infeliz, vítima de senhores bárbaros e cruéis. Entretanto passas aqui uma vida que faria inveja a muita gente livre. Gozas da estima de teus senhores. Deram-te uma educação como não tiveram muitas ricas e ilustres damas que eu conheço. És formosa, e tens uma cor linda, que ninguém dirá que gira em tuas veias uma só gota de sangue africano. [...] – Mas senhora, apesar de tudo isso, que sou eu mais do que uma simples escrava? Essa educação que me deram e essa beleza, que tanto me gabam, de que me servem?... São trastes de luxo colocados na senzala do africano. A senzala nem por isso deixa de ser o que é: uma senzala. – Queixas-te de tua sorte, Isaura? – Eu não, senhora; não tenho motivo... o que quero dizer com isto é que, apesar de todos esses dotes e vantagens que me atribuem, sei conhecer o meu lugar. Com base no texto e no contexto do qual o fragmento acima faz parte, afirma-se: I. De acordo com a primeira fala, a cor de Isaura é apontada como uma possível negação de sua origem africana. II. Apesar de alguns questionamentos acerca da senzala, a escrava parece resignada ao lugar que ela ocupa na sociedade da época. III. A obra A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães, integra um dos momentos cruciais do realismo literário brasileiro, no qual os autores se mostravam preocupados com a crítica social. Está/Estão correta(s) a(s) afirmativa(s) a) I, apenas. b) II, apenas. c) I e II, apenas. d) II e III, apenas. e) I, II, III. Questão 06 (Pucpr 2016) Alfredo Bosi, em sua História concisa da literatura brasileira, diz a respeito de Inocência, de Visconde de Taunay: Por temperamento e cultura, o Visconde de Taunay tinha condições para dar ao regionalismo romântico a sua versão mais sóbria. Homem de pouca fantasia, muito senso de observação, formado no hábito de pesar com a inteligência as suas relações com a paisagem e o meio (era engenheiro, militar e pintor), Taunay foi capaz de enquadrar a história de Inocência (1872) em um cenário e em um conjunto de costumes sertanejos onde tudo é verossímil. Sem que o cuidado de o ser turve a atmosfera agreste e idílica que até hoje dá um renovado encanto à leitura da obra. (BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 2003, p. 144 -145). Com base no trecho acima, é possível dizer que: a) O romantismo de Visconde de Taunay é, de certa forma, um “realismo mitigado”. b) Visconde de Taunay, com Inocência, é o introdutor do realismo no Brasil. c) Por sua pouca fantasia, Inocência não pode ser classificada como obra do romantismo. d) O senso de observação de Visconde de Taunay em Inocência o leva às portas do naturalismo. e) A fantasia, aliada ao senso de observação, tornam esta obra o melhor representante do regionalismo ultrarromântico. Questão 07 TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO “A escrava abandonada aos desprezos da escravidão, crescendo no meio da prática dos vícios mais escandalosos e repugnantes, desde a infância, desde a primeira infânciatestemunhando torpezas de luxúria, e ouvindo a eloquência lodosa da palavra sem freio, fica pervertida muito antes de ter consciência de sua perversão, e não pode mais viver sem violenta imposição fora da atmosfera empestada de semelhantes costumes, e das suas ideias sensuais; a mucama, pois, colocada ao pé da menina inocente, inexperiente e curiosa, leva-a, arrasta-a tanto quanto lhe é possível, para a conversação que mais a encanta, para as ideias e os quadros do seu sensualismo brutal. Além disso a mucama escrava, que é sempre escolhida entre as mais inteligentes, compara-se com a senhora, e tendo muitas vezes presunção de excedê-la em dotes físicos, tem inveja da sua pureza e procura manchá-la para que ela não tenha essa auréola que nunca sentiu em si. Finalmente, a mucama compreende por instinto que essa profanação da inocência, essas conversações lúbricas que às Aula 16 - Romantismo No Brasil – Prosa 163 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência ocultas de seus pais a menina permite, estabelecem maiores condições de confiança, que lhe aproveitam, e por isso mesmo que humilham a senhora, ensoberbecem a escrava. Lucinda era levada por todos esses sentimentos: mas principalmente pelo império que sobre ela tinha o demônio da luxúria.” MACEDO, J. M. de. As vítimas-algozes: quadros da escravidão. 4. ed. São Paulo: Zouk, 2005. p. 139-140 O livro As Vítimas-Algozes, de Joaquim Manuel de Macedo, foi escrito na segunda metade do século XIX, em 1869, 19 anos antes da Abolição da Escravidão. Levando em conta as informações inferidas pela leitura do texto, assinale o item correto: a) O trecho, representativo da primeira geração do Romantismo, funciona como uma justificativa para a escravidão, visto que apresenta os escravos como moralmente degradados e danosos à sociedade. b) Ao retratar a degradação moral da escrava e sua influência sobre a senhora, o autor opõe-se à escravidão, mostrando como um sistema prejudicial à sociedade burguesa, utilizando as mesmas justificativas que Castro Alves. c) Apesar de condenar a escravidão através da denúncia de seus malefícios, Macedo afasta-se da linha traçada por Castro Alves, ao retratar o escravo não só como vítima, mas também como algoz. d) Pelo trecho, percebe-se que Macedo antecipou-se ao Realismo, ao mostrar a burguesia decadente, denunciando seus vícios morais através da investigação psicológica. e) Por ser obra de um autor romântico, é ausente do trecho qualquer manifestação de teor Determinista na construção das personagens, o que ressalta a culpabilidade da escrava. Questão 08 (Pucrs 2016) Leia o excerto abaixo, retirado da obra Macário, de Álvares de Azevedo. (O DESCONHECIDO) Eu sou o diabo. Boa-noite, Macário. (MACÁRIO) Boa-noite, Satã. (Deita-se. O desconhecido sai). O diabo! uma boa fortuna! Há dez anos que eu ando para encontrar esse patife! Desta vez agarrei-o pela cauda! A maior desgraça deste mundo é ser Fausto sem Mefistófeles. Olá, Satã! (SATÃ) Macário. (MACÁRIO) Quando partimos? (SATÃ) Tens sono? (MACÁRIO) Não. (SATÃ) Então já. (MACÁRIO) E o meu burro? (SATÃ) Irás na minha garupa. Sobre o movimento literário em que se inscreve Álvares de Azevedo, é INCORRETO afirmar: a) A representação de figuras do mundo sobrenatural também constitui uma das características desse movimento, conforme se lê no excerto acima. b) José de Alencar é o autor de romances mais representativos desse movimento, com obras como O Guarani, O sertanejo, As minas de prata. c) A representação da nação, um dos temas do movimento em que se inscreve a obra de Álvares de Azevedo, exaltou as belezas naturais da terra brasileira. d) Os estados de alma em que o sujeito poético expressa seus sentimentos de tristeza, dor e angústia é tema recorrente no movimento em que se inscreve a obra de Álvares de Azevedo. e) A poesia de Álvares de Azevedo, como a dos outros românticos brasileiros, define-se em torno de dois polos poéticos: a marcante presença da natureza, explorada com destaque em Noites da taverna, e a constante viagem ao interior do sujeito para exprimir sua dor e seus sentimentos. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO Questão 01 (UFRGS 2016) Assinale a alternativa correta sobre autores do Romantismo brasileiro. a) Gonçalves Dias, autor dos célebres Canção do exílio e I-Juca- Pirama, dedicou a maioria de seus poemas à temática da escravidão. b) Joaquim Manuel de Macedo, em A Moreninha, afasta-se da estética romântica em muitos pontos, especialmente no tom paródico adotado pelo narrador que ridiculariza a sociedade burguesa fluminense. c) Álvares de Azevedo, em A noite na taverna, desvincula-se do nacionalismo paisagista e indianista e ingressa no universo juvenil da angústia, do erotismo e do sarcasmo. d) Manuel Antônio de Almeida, em Memórias de um sargento de milícias, vincula-se à estética romântica, em especial porque se centra em personagens da classe média urbana fluminense. e) Castro Alves é o principal poeta do indianismo romântico, pois toma o índio como figura prototípica da nacionalidade. Questão 02 (Pucpr 2016) Alfredo Bosi, em sua História concisa da literatura brasileira, diz a respeito de Inocência, de Visconde de Taunay: Por temperamento e cultura, o Visconde de Taunay tinha condições para dar ao regionalismo romântico a sua versão mais sóbria. Homem de pouca fantasia, muito senso de observação, formado no hábito de pesar com a inteligência as suas relações com a paisagem e o meio (era engenheiro, militar e pintor), Taunay foi capaz de enquadrar a história de Inocência (1872) em um cenário e em um conjunto de costumes sertanejos onde tudo é verossímil. Sem que o cuidado de o ser turve a atmosfera agreste e idílica que até hoje dá um renovado encanto à leitura da obra. (BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 2003, p. 144 -145). Com base no trecho acima, é possível dizer que: a) O romantismo de Visconde de Taunay é, de certa forma, um “realismo mitigado”. b) Visconde de Taunay, com Inocência, é o introdutor do realismo no Brasil. c) Por sua pouca fantasia, Inocência não pode ser classificada como obra do romantismo. d) O senso de observação de Visconde de Taunay em Inocência o leva às portas do naturalismo. e) A fantasia, aliada ao senso de observação, tornam esta obra o melhor representante do regionalismo ultrarromântico. Questão 03 (Puccamp 2016) Costuma-se reconhecer que o Indianismo, na nossa literatura, é marcado por idealizações que emprestam uma espécie de glória artificial ao nosso passado como Colônia. Tais idealizações I. consistem, basicamente, em atribuir aos nossos silvícolas atitudes e valores herdados da aristocracia medieval, caros ao ideário romântico.
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