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321Manual do Professor parada à do território do início da expansão? Como um impé- rio de tamanha dimensão pode se desagregar? Os recursos cartográficos também podem ser explorados para que os alunos tenham noção da dimensão que o Impé- rio Romano adquiriu e do processo histórico envolvido em sua construção. Pode-se propor, por exemplo, a comparação en- tre o mapa Império Romano (p. 120) e o mapa A conquista da península Itálica (seculos IV e III a.C.), do capítulo 14 (p. 108). Com relação à primeira fase do período imperial (expan- são), vale destacar que é no governo de Otávio Augusto que se origina o poder ilimitado dos imperadores. Ainda com relação a essa fase, o item Os romanos se divertem (p. 118) aborda as- pectos do cotidiano romano. O boxe A arte, a cultura e o Direito Romano (p. 120), por sua vez, analisa a produção romana na po- esia, na arquitetura, na filosofia e seu maior legado – o Direito. Com base na leitura coletiva do boxe A difusão do cristia- nismo, pode-se propor uma discussão de aspectos das práticas e concepções religiosas dos romanos (culto doméstico, poli- teísmo, paralelo em relação aos mitos gregos, introdução do cristianismo como religião monoteísta). Já a abordagem do período de retração e desagrega- ção do Império pode ter como ponto de partida a leitura do mapa As invasões do Império Romano (p. 123). Devem ser observados, por exemplo, a divisão do Império, considerando suas respectivas áreas, e as diversas trajetórias empreendidas pelos povos germânicos no processo de invasão. A leitura do mapa pode ser enriquecida pela do boxe A ameaça externa (p. 122). O texto contém também informações sobre os po- vos invasores. Na análise desse período, vale destacar que a divisão do império (em ocidental e oriental) visava a uma administração mais eficaz. Entretanto, isso não conseguiu deter as invasões.57 Na seção Enquanto isso..., os alunos têm oportunidade de conhecer como viviam alguns povos da África subsaaria- na. Pode-se trabalhar a simultaneidade histórica recorrendo a algumas perguntas: A metalurgia do ferro era conhecida pelos romanos? As sociedades subsaarianas não tinham con- tato com os romanos ou outros povos que viviam na Europa e na Ásia? O fechamento dos trabalhos desta unidade pode ser feito com base na releitura do texto de abertura da unidade (p. 78), fazendo-se uma retomada dos conceitos de democracia, cida- dania e direito (discutidos durante as aulas), o que favorecerá uma análise crítica dos documentos 1 e 2 da seção Fechando a unidade (p. 125). Sugestão de leitura FINLEY, Moses I. Democracia antiga e moderna. Rio de Janei- ro: Graal, 1988 Sugestão de site Roma antiga – Fotografias e ilustrações referentes à Roma antiga. Disponível em: <www.vedute.fi/imbas/roma/startpage. php?lang=en&action=1>. Acesso em: 2 dez. 2012. A difusão do cristianismo Sua opinião Nesta atividade, espera-se que a classe reflita coleti- vamente sobre os limites da tolerância religiosa no mundo contemporâneo e, especialmente, no Brasil. O direito legal à diversidade religiosa é algo bastante recente na história do país. Até o fim do Império, a Igreja Católica e o Estado es- tavam juridicamente ligados e era proibido professar outra religião que não fosse o catolicismo. Atualmente, o Esta- do deve assegurar a liberdade religiosa, mas há ainda muito preconceito e intolerância nas relações entre pessoas de re- ligiões diferentes. A desconfiança, os estereótipos e as ane- dotas depreciativas em relação a grupos minoritários, como judeus e muçulmanos, revelam um tipo de tratamento de- sigual. As representações sobre cultos afro-brasileiros tam- bém mostram sinais de intolerância. Em termos compara- tivos, não há mais perseguição religiosa, como no Império Romano, mas certos preconceitos e rivalidades ainda preci- sam ser vencidos para que possamos viver em uma socieda- de mais tolerante. A arte, a cultura e o Direito Romano Sua opinião Objetiva-se com esta atividade propiciar uma reflexão sobre o papel do Direito nas sociedades contemporâneas, especialmente no Brasil. Se, por um lado, o Direito garante a manutenção do status quo, beneficiando poderosos gru- pos econômicos ou dificultando a atuação dos movimen- tos sociais e das organizações sindicais, por outro, o Direi- to também pode contribuir para combater a desigualdade, criando estratégias de distribuição de renda, garantindo o uso social da terra e da riqueza produzida no país e comba- tendo a impunidade. A ameaça externa De olho no mundo Enquanto os fluxos de capital e de informações se glo- balizaram nas últimas décadas, em certas regiões do mun- do o controle sobre as fronteiras se tornou mais rigoroso. Esse controle tem dificultado a migração de pessoas dos paí- ses empobrecidos ou mergulhados em anos de guerra ci- vil para países mais desenvolvidos, à procura de emprego ou simplesmente para proteger a própria vida e a de seus familiares. Essa situação criou o “imigrante ilegal”, que atualmente chega a milhões de pessoas em todo o mun- do. O Departamento de Segurança Nacional do gover- no norte-americano estima que existam nos Estados Uni- dos cerca de 12 milhões de imigrantes nessas condições, a maioria dos quais de origem latino-americana. Em 2006, o Senado estadunidense aprovou a construção de um muro de cerca de mil quilômetros na fronteira entre os Esta- dos Unidos e o México para conter a entrada de imigran- tes clandestinos. Os senadores também aprovaram leis que 57 São comuns as dúvidas a respeito dos motivos que levaram às invasões germânicas. Segundo o historiador Jacques Le Goff, não há uma causa única, podendo ser citados o crescimento demográfico dos invasores, a atração por territórios mais ricos, ou até mesmo mudanças climáticas, que, com o resfriamento, teriam reduzido as áreas de cultivo e criação dos povos germânicos ao norte. Porém, mais importante do que isso, foi a pressão exercida pelos hunos sobre os povos germânicos que viviam mais a leste. Estes, para fugir da pressão, se deslocaram para o oeste, pressionando por sua vez outros povos que, em seu deslocamen- to, acabaram por franquear as fronteiras do Império Romano do Ocidente. (Ver: LE GOFF, Jacques. Civilização do Ocidente medieval. Bauru: Edusc, 2005. p. 22). HMOV_v1_PNLD2015_MP_273a376_alt.indd 321 10/23/13 12:50 PM 322 Manual do Professor punem com maior rigor os imigrantes ilegais que já se en- contram nos Estados Unidos, permitindo à polícia norte- -americana tratá-los como criminosos antes da deportação para o país de origem. Na Europa, a restrição à imigração também é assunto debatido no Parlamento europeu. O go- verno italiano aprovou em 2008 um conjunto de leis que per- mitem condenar os imigrantes ilegais a até 4 anos de prisão. O Grupo de Informação e Suporte ao Imigrado (Gisti) calcula que só na França existam cerca de 600 mil imigrantes sem documentação e em situação de ilegalidade. Dois artigos em português do jornal Le Monde trazem informações sobre o debate em torno dos imigrantes na Europa. Um deles é o ar- tigo Os sem papéis também lutam, de Olivier Piot, no ende- reço eletrônico <http://diplo.org.br/2008-06,a2445>. Aces- so em: set. 2012. O outro, A força dos que vivem longe, de Pierre Daum, encontra-se no endereço <http://diplo.org.br/ 2007-09,a1905>. Acesso em: set. 2012. Organizando aS iDEiaS 1. A princípio, Otávio manteve o Senado e os cônsules que eram símbolos importantes da República. Mas logo o po- der se concentrou na sua pessoa, embora o Senado nun- ca tenha desaparecido. Otávio recebeu do exército o títu- lo de Imperator e foi aclamado Sumo Pontífice e Augusto, título reservado às divindades. Para reafirmar seu poder, passou a ser chamado de Augusto. Governou duran- te quatro décadas, ao longo das quais promoveu refor- mas na sociedade romana, destituiu senadores acusados de corrupção, perdoou as dívidas dos camponesescom o Estado, criou um tribunal de pequenas causas, distribuiu alimentos e recursos para os pobres, incentivou os espe- táculos públicos. 2. As festas e espetáculos mantidas pelo governo de Augus- to serviam para manter ocupada a população pobre e sem emprego. Foram construídos anfiteatros para a realização de diversos espetáculos. No Coliseu, eram organizadas lutas entre gladiadores; no Circo Máximo, havia corridas a pé, a cavalo e de carros. Para divertir-se, os romanos tinham ainda teatros, jogos de azar e grandes festas em homenagem aos generais vitoriosos. O governo promoveu também a cons- trução de edifícios para que os romanos pudessem tomar banho, já que não havia água encanada na maioria das ca- sas. Nessas termas, as pessoas também recebiam massagem e tinham acesso a bibliotecas. 3. Entre a morte de Otavio e o início da dinastia dos Flávios, com Vespasiano, em 69, o Império passou por um período de turbulência política provocada por disputas sangrentas pelo trono. A maioria dos imperadores passou por episó- dios de perseguições aos inimigos, assassinatos e conspi- rações que os mantinham no poder ou os levavam a per- der o trono e a vida. Um desses imperadores foi Calígula, que concedeu honrarias a seu cavalo e o teria nomeado cônsul. Outro imperador da época foi Nero, que perseguiu implacavelmente os cristãos e assassinou a própria mãe. Com a morte de Nero, houve um ano de guerra civil que terminou quando o general Vespasiano assumiu o trono e apaziguou o Império. 4. Nesse período, a produção literária e artística assumiu ca- racterísticas próprias, tipicamente romanas, separando- -se da forte influência grega. Surgiram poetas e escritores como Cícero e Virgílio. A arquitetura também inovou, com a invenção de arcos sustentados por pilares, o que permi- tiu a construção de pontes e aquedutos. A descoberta do cimento impulsionou a construção de grandes edifícios. No campo político e social, a pax romana (paz romana) repre- sentou um período de calmaria nas diversas províncias. Isso foi possível graças à prosperidade econômica e ao controle militar das fronteiras, que impedia a entrada de povos in- vasores. Apesar da relativa tranquilidade, porém, o Império enfrentou diversos problemas, como epidemias, incêndios e a erupção do Vesúvio, que destruiu as cidades de Pompeia e Herculano. 5. A religião cumpria diversas funções na vida dos romanos. Havia práticas religiosas domésticas de adoração aos ances- trais e aos deuses e deusas que podiam oferecer proteção, prosperidade e boas colheitas. Ao lado disso, havia cultos públicos nos santuários construídos para os diversos deuses e deusas. Os sacerdotes tinham importante participação po- lítica e eram consultados sobre vários assuntos de Estado. Entre as diversas divindades romanas, muitas tinham origem estrangeira e haviam sido incorporadas pela cultura romana ao longo de séculos de dominação. Boa parte dessas divin- dades era oriunda do panteão grego. 6. O cristianismo baseia-se nos ensinamentos de Jesus, que te- ria vivido na Palestina no século I, época em que a região era província do Império Romano. Seus seguidores – os cristãos – acreditam que Jesus é filho de Deus, enviado à Terra para pregar o amor ao próximo e redimir a humanidade de seus pecados. As autoridades romanas passaram a perseguir os cristãos porque não admitiam que se atribuísse caráter divi- no a outras pessoas que não os imperadores. Além disso, ao pregar o amor universal, sem distinção entre ricos e pobres, senhores e escravos, o cristianismo ameaçava a estabilidade social do Império Romano, baseada na escravidão. Esses te- riam sido os principais motivos para a condenação de Jesus Cristo à morte na cruz. 7. A maioria dos povos que invadiram o Império Romano do Ocidente era de origem germânica. Antes das invasões, eles habitavam uma extensa região a leste do Império Romano. Em sentido norte-sul, essa região ia desde o mar do Norte até as planícies do mar Negro. O movimento em direção ao Império foi provocado por dois fatores: por um lado, as in- cursões dos hunos sobre a planície russa e a Europa oriental levaram os diversos grupos germânicos a migrar para dentro do Império Romano, em alguns casos à procura de proteção; por outro, a crise interna do Império enfraqueceu as defesas militares das zonas de fronteira, facilitando a penetração de povos estrangeiros. Todos os que viviam para além das fron- teiras do Império eram chamados pelos romanos de bárba- ros. A expressão vem do grego e significava a princípio “não grego”, mas foi incorporada pelo idioma latino e passou a HMOV_v1_PNLD2015_MP_273a376_alt.indd 322 10/23/13 12:50 PM 323Manual do Professor designar os “não romanos” e, em consequência, “não civili- zados”. Até hoje, a palavra “bárbaro” tem um sentido nega- tivo e depreciativo. Hora DE rEFlETir A lentidão do sistema judiciário brasileiro tem sido mui- to debatida pelos meios de comunicação e pelos governos que se sucederam desde o fim da ditadura militar, em 1985. Algumas propostas já foram feitas para diminuir o tempo de tramitação dos processos nos tribunais e acelerar as decisões da Justiça. Uma delas é a “súmula vinculante”, que vincu- la uma decisão do Superior Tribunal Federal (STF, a mais alta instância da Justiça no país) às decisões tomadas nas cortes menores. Isso eliminaria a necessidade de julgamento de ca- sos semelhantes nos tribunais de cada estado, bastando que uma decisão já adotada pelo STF fosse utilizada como base da decisão do tribunal. Outra medida discutida é a que res- tringe as possibilidades de recursos a serem apresentados nos tribunais de instância superior contra decisões de tribunais de uma instância inferior. Dessa forma, deixaria de ser necessá- rio que um caso julgado num tribunal estadual tenha que ser julgado novamente pelo STF. Essas polêmicas e a insatisfação social com a atuação da Justiça brasileira provocaram um am- plo debate sobre a reforma do Judiciário, que pode ser acom- panhada pelos jornais e revistas. Fechando a unidade Reflita e responda 1. O texto de abertura e o relatório da ONU afirmam que a de- mocracia tem por base a realização dos direitos humanos em geral, e não apenas do direito de eleger representan- tes ou manifestar opiniões políticas. Segundo o relatório, o sistema democrático deve ser entendido como o eixo orga- nizador da própria sociedade. A democracia é, simultanea- mente, fim e instrumento de realização dos direitos políti- cos e sociais, pois ela é capaz de definir o modo pelo qual os indivíduos participam da sociedade e contribuem para seu desenvolvimento. O relatório afirma ainda que a realiza- ção plena da democracia permite aos indivíduos passarem da condição de eleitores para a de cidadãos, graças a con- dições efetivas de participação política. Portanto, o sentido ampliado da democracia deve levar em conta a “cidadania civil e social”, capaz de garantir a melhoria da qualidade de vida das pessoas. 2. A crítica de Angeli refere-se à identificação preconceituosa entre atos criminosos e condição social. Professor, você pode ressaltar que a ironia da charge tem pelo menos dois signi- ficados: o primeiro, refere-se ao trabalho da Polícia Federal que tem se debruçado sobre diversas formas de crime or- ganizado (que, em geral, envolvem pessoas de classe média ou de setores da elite). Por isto, o policial da charge faz uma lista das técnicas de investigação utilizadas (escutas telefô- nicas, quebra do sigilo bancário, etc.). Nessa perspectiva, a charge sugere que entre as classes “privilegiadas” há crimi- nosos a serem investigados pelos órgãos policiais. Por outro lado, à medida que o personagem “funk” revela sua condi- ção de pobreza, não são mais precisos mecanismos que pro- vem a sua condição individual de criminoso: basta a sua pa- lavra: “Eu sou pobre”. 3.A democracia social envolve os direitos trabalhistas (des- canso remunerado, limitação da jornada de trabalho, férias, aposentadoria, proteção à mulher trabalhadora, etc.) e ou- tras prerrogativas, como o direito à educação, à saúde, ao bem-estar, a moradia digna, à justiça, ao trabalho, etc. Num país com imensas desigualdades sociais e, portanto, muita pobreza, esses direitos sociais não são assegurados a todos. Enquanto os mais ricos têm fácil acesso a eles – seja por meio do mercado (escolas particulares, hospitais privados, universidades, planos de saúde, etc.), seja por meio do Esta- do –, os mais pobres são marginalizados. Assim, a desigual- dade impede que a democracia seja vivenciada em todos os âmbitos da sociedade e por todos os seus integrantes. Nas sociedades latino-americanas, embora existam democracias políticas (com eleições livres e diretas), as diferenças sociais impedem que os setores mais pobres exerçam os mesmos direitos que as camadas médias e as elites. 4. Resposta pessoal. Pode-se, entretanto, estimular os alu- nos a refletir sobre suas próprias práticas sociais. A res- peito dessas questões, é muito comum que, a princípio, todos apresentem soluções ou práticas “abstratas”, rela- cionadas aos “políticos”, ao “governo” ou simplesmente aos “outros” ou a “todo mundo”. Por isso, seria interes- sante conduzir a reflexão para questões mais diretas, en- volvendo a prática social dos alunos no ambiente escolar ou na comunidade. Assim, podem surgir questões efetivas que contribuam para transformar a prática em sala de aula ou na escola. Diante de questões mais próximas ou de no- vas posturas que dependam apenas da reflexão do gru- po, o tema da democracia pode se tornar menos abstra- to, reduzido às altas esferas do poder ou à vida adulta. A transformação de práticas cotidianas pode ensinar muito mais sobre o conceito de democracia do que a formaliza- ção abstrata desse conceito. 4Unid a d e Diversidade religiosa Começo de conversa 1. Professor, a resposta depende do repertório cultural e da ex- periência dos alunos. É importante que eles possam explicar nos grupos o que compreendem por intolerância religiosa. Em geral, costuma-se atribuir esse conceito a situações de conflitos abertos, de grande repercussão na mídia, como os citados na abertura do capítulo. Entretanto, também são práticas intolerantes quaisquer formas de discriminação ou preconceito contra a religião ou a cultura de pessoas com as quais convivemos no dia a dia. Nesta etapa da reflexão, os alunos podem discutir livremente sem que seja necessá- HMOV_v1_PNLD2015_MP_273a376_alt.indd 323 10/23/13 12:50 PM 324 Manual do Professor rio sistematizar conceitos ou corrigi-los nas suas primeiras impressões sobre o tema. Ao longo da unidade, as ativi- dades de reflexão retomarão o tema, solicitando do aluno que aprofunde suas ideias e questione posições assumidas no início do curso. Neste momento, é mais relevante que os alunos ampliem suas noções e passem a reconhecer práticas sociais que ignoravam do que possam formular corretamen- te o conceito de intolerância religiosa. 2. A tolerância religiosa é requisito básico na definição das sociedades democráticas. Ela garante a liberdade de cul- to e de religião, que são aspectos fundamentais da vida social nesse tipo de sociedade. Quando não há tolerância e respeito pelas diversas práticas religiosas, o Estado e os grupos dominantes passam a perseguir ou estigmatizar os grupos minoritários ou com menos poder, discriminando- -os com base em pressupostos religiosos ou morais. Assim, apenas uma parcela da população tem assegurados seus direitos políticos e civis, enquanto outros grupos perdem as garantias legais estabelecidas pelo Estado de direito (a garantia, por exemplo, de não ser agredido ou roubado sem que o Estado o defenda, por intermédio da polícia e do sistema judiciário). Professor, é importante que o aluno compreenda que a tolerância não tem relação com “gos- to pessoal”, isto é, não depende da vontade e do desejo de cada pessoa, mas de um esforço coletivo para a cons- trução de um aparato legal (leis, sistema judiciá rio) e polí- tico capaz de garantir o direito à livre expressão religiosa. Portanto, as pessoas podem ter suas preferências pessoais, mas socialmente não podem praticar atos de discrimina- ção motivados por diferenças religiosas. Capítulo 17 Civilizações asiáticas Conteúdos e procedimentos sugeridos Neste capítulo é abordado o desenvolvimento de algu- mas sociedades asiáticas – China, Império Mongol e Japão – no período correspondente à Idade Média europeia. Antes de iniciar seu estudo, algumas perguntas podem ser valiosas para que os alunos compreendam por que abordar tais assuntos. O que se sabe sobre a história das sociedades orientais? O que acontecia nessa parte do mundo enquanto na Europa vivia-se a desagregação do Império Romano e o esta- belecimento dos povos germânicos? Os conhecimentos mate- riais e a crenças desses povos eram os mesmos dos povos que viviam na Europa? Essas questões contribuem também para a compreensão da simultaneidade dos processos históricos ocorridos no Oci- dente e no Oriente. Ao estudar os próximos capítulos, os alu- nos podem estabelecer comparações com os conteúdos estu- dados neste capítulo. O boxe Idade Média: um conceito europeu (p. 129) con- tribui para essa compreensão. Pode ser interessante propor aos alunos que elaborem hipóteses para explicar por que a deno- minação Idade Média, embora consagrada, está sujeita a crí- ticas. As hipóteses levantadas podem ser verificadas ao longo do estudo da unidade. Com relação à China, o texto A supremacia econômica do Oriente, da seção Passado presente (p. 130), contribui para a rejeição de qualquer ponto de vista eurocêntrico. No que se refere ao Império Mongol, o mapa Império Mongol (p. 132) mostra suas dimensões e suas possibilidades de expansão. Isso pode ser explorado por meio da iconografia da seção Olho vivo (p. 131). O Império Mongol teve papel es- pecial no contato entre Oriente e Ocidente, o que pode ser dis- cutido por meio do boxe O homem que viajava (p. 132), que trata das viagens de Marco Polo. Com relação ao Japão, é interessante destacar a impor- tância dos xogunatos, que relegam a um papel figurativo o próprio imperador. Por fim, o texto da seção Enquanto isso... possibilita co- nhecer as origens do Império Turco Otomano, que ocupou o território do Império Bizantino. Texto complementar O texto a seguir aborda a expansão do comércio durante a dinastia Song e seus reflexos para a China. Durante a dinastia Song do Sul, o comércio exte- rior fornecia a maior parte da receita do governo – única vez em que isto ocorreu antes do século XIX. A deman- da por artigos de luxo em Hangzhou, especialmente de especiarias importadas pela Rota das Especiarias – que ia da Índia ocidental até a China e que se estendia até a Europa – está na base da rápida expansão do comércio exterior na época Song. A demanda era tão elevada que as famosas exportações chinesas de sedas e porcelanas, assim como de moedas de cobre, não eram suficientes para contrabalançá-la. A diáspora islâmica – que chegou até a Espanha e influenciou profundamente a Europa – provocou também na época dos Song uma expansão do comércio marítimo nos portos chineses de Guangzhou (Cantão), Quanzhou (Zayton), Xiamen (Amoy), Fuzhou e Hangzhou. Embarcações chinesas desciam pela cos- ta da Ásia Oriental até as Índias e, dobrando a Índia, chegavam até mesmo à África Oriental, mas o comér- cio exterior dos Song do Sul encontrava-se ainda forte- mente concentrado nas mãos dos árabes. Os impostos que recaíam sobre eles permitiam que os Song do Sul se apoiassem mais no sal e nas taxas comerciais do que no tradicional esteio da vida imperial, ou seja, os impostos sobre a terra. Um dos efeitos desseaumento do comér- cio foi ter revivido o uso do papel-moeda, inaugurado pelos Tang, que começou com notas de pagamento do governo para a transferência de fundos, notas promis- sórias e outros papéis de poder de negociação limitado, chegando até a emissão, pelo governo, de papel-moeda em todo território nacional. Tal como o carvão, o papel- -moeda também fascinou Marco Polo. A tecnologia náutica chinesa era a melhor do mundo nesse período. Os grandes navios compartimen- tados da China (com até quatro conveses, quatro ou seis mastros e doze velas) dirigidos por um leme de popa e pelo uso de mapas e da bússola, podiam embarcar até quinhentos homens. Essa tecnologia era bem mais HMOV_v1_PNLD2015_MP_273a376_alt.indd 324 10/23/13 12:50 PM 325Manual do Professor avançada do que a que estava em vigor na Ásia Ociden- tal e na Europa, onde as galerias mediterrâneas ainda utilizavam força muscular e um ineficiente sistema de propulsão a remo. Extraído de: FAIRBANK, John King; GOLDMAN, Merle. China: uma nova história. Porto Alegre: L&PM, 2008. p. 99. Sugestão de leitura FAIRBANK, John King; GOLDMAN, Merle. China: uma nova história. Porto Alegre: L&PM, 2008. p. 99. Sugestão de site Museu de arte virtual do Japão – Site em inglês. Disponível em: <http://web-japan.org/museum/menu.html>. Acesso em: 2 dez. 2012. ¡sso...Enquanto Os turcos otomanos De olho no mundo Em 2012, o governo da Turquia continuava a negociar seu ingresso na União Europeia. Entretanto, alguns proble- mas não resolvidos pelas lideranças do país levantavam obs- táculos a essa pretensão. Para conquistar o direito de ingres- sar na União Europeia, o país candidato precisa contar com instituições democráticas estáveis, combater a corrupção, res- peitar os direitos humanos e satisfazer algumas exigências de ordem econômica, como um deficit nas contas públicas abai- xo de 3% do PIB, abertura dos mercados e baixos índices de inflação. Ora, a Turquia tem sido alvo de diversas denúncias de violação dos direitos humanos e apresenta altos índices de inflação, além de contar com uma forte presença de militares na vida política, o que fragiliza suas instituições democráticas. Tudo isso vem sendo apresentado pelos opositores à admis- são do país como razões para que a União Europeia rejeite o pedido de ingresso do governo turco. Questões religiosas também são levadas em consideração. Enquanto os países do bloco europeu são majoritariamente cristãos, a Turquia – com mais de 70 milhões de habitantes – é predominantemente muçulmana. Apesar disso, a Turquia é a nação mais ociden- talizada e laica do Oriente Médio. Desde 2001, mais de uma quinta parte da Constituição foi emendada, com a votação de sete pacotes de “harmonização” com a União Europeia. Entre essas mudanças, a abolição da pena de morte e a igual- dade de direitos entre homens e mulheres foram vistas com bons olhos na Europa. Organizando aS iDEiaS 1. Os pensadores humanistas admiravam profundamente a cultura greco-romana, vendo nela a fonte de inspiração e a origem do próprio Renascimento. Segundo eles, entre esses dois momentos de florescimento artístico e cultural europeu, ou seja, entre a Antiguidade clássica e a época renascentista, houve uma fase intermediária (daí a expres- são média para Idade Média), na qual a Europa foi mer- gulhada nas trevas, isto é, na ignorância e na barbárie. Atualmente, essa visão é rejeitada pela maioria dos his- toriadores, que valorizam a riqueza cultural produzida no período medieval. 2. A dinastia Tang subiu ao poder em 618 e garantiu a reuni- ficação do poder imperial. Sob o domínio dessa dinastia a economia se expandiu, a metalurgia se desenvolveu com a abertura de fundições de cobre, ferro e prata, a agricultura também prosperou. Além disso, o comércio com o estran- geiro ampliou-se e estimulou o desenvolvimento urbano. No campo espiritual, esse período foi marcado pela expan- são do budismo, originário da Índia. Gigantescas estátuas de Buda foram construídas por toda a China. 3. Entre as importantes conquistas tecnológicas dos chineses dos séculos VI a XIII que repercutiram na história mundial, podemos citar a criação do dinheiro de papel, o desenvol- vimento de novas armas e a invenção da bússola. Poste- riormente levadas para a Europa, essas criações desempe- nharam importante papel, sobretudo durante as Grandes Navegações, nos séculos XV e XVI. Os chineses também aperfeiçoaram a impressão xilográfica: em meados do sé- culo XI, o alquimista Bi Sheng inventou uma forma de im- pressão com tipos móveis de argila cozida que permitia a produção de livros com grande facilidade. Invenção se- melhante só teria lugar na Europa no século XV, com a in- venção (ou reinvenção) dos tipos móveis de impressão por Johannes Gutenberg. 4. Publicadas na península Itálica após seu retorno do Orien- te, em 1295, as memórias de Marco Polo contribuíram para transformar o imaginário dos europeus, ao revelarem a exis- tência de civilizações complexas, ricas e culturalmente so- fisticadas – até então, totalmente desconhecidas na Europa medieval. O livro contribuiu para estimular o comércio e a aproximação entre Ocidente e Oriente. 5. O Império Mongol resultou da unificação ocorrida em 1206 das diversas tribos mongóis de pastores nômades que viviam nas estepes asiáticas. Cada tribo reunia vários clãs (grupos com um ancestral comum), sob a liderança de um chefe que recebia o nome de Khan. Com a unificação, o líder guerrei- ro Temudjin foi aclamado chefe de todos os mongóis com o título de Gêngis Khan (khan dos khans). Esse processo deu origem à expansão territorial que levaria os mongóis a con- quistar um imenso império no continente asiático. Esse ex- tenso domínio, porém, duraria relativamente pouco tempo: em fins do século XIII, teve início o declínio do Império, com a morte do neto de Gêngis Khan, Kublai Khan. 6. Os samurais eram guerreiros que lideravam clãs provinciais. Obedeciam a um rigoroso código de ética, pautado pela coragem, honra e lealdade, e contavam com diversos pri- vilégios, como o de receber grandes extensões de terra do imperador. Isso lhes garantia poder e riquezas, além do res- peito dos diversos setores sociais que compunham a socie- dade japonesa daquela época. Durante a dinastia Heian (794-1185), o imperador concedeu a um dos chefes guer- reiros, o samurai Minamoto Yoritomo, o título de xogum, que significa “grande general, supremo conquistador dos bárbaros”. A partir de então, o verdadeiro governante pas- HMOV_v1_PNLD2015_MP_273a376_alt.indd 325 10/23/13 12:50 PM 326 Manual do Professor sou a ser o xogum, escolhido sempre entre os chefes guer- reiros. Essa transferência de poder transformou o imperador em uma figura praticamente decorativa, já que o xogum passou a ser o governante de fato. Hora DE rEFlETir A separação entre Estado e religião é relativamente re- cente na história da humanidade. Além disso, mesmo atual- mente ela ainda não ocorreu em todos os países. A criação de um Estado laico (não religioso) que garanta a liberdade de cul- to remonta ao século XVIII e à Revolução Francesa. Entretanto, em diversos países, inclusive de tradição cristã, certas religiões exercem forte influência política, e o ateísmo, em muitos luga- res, ainda é moralmente condenado. Os conflitos atuais entre católicos da Irlanda do Norte e o governo protestante da Grã- -Bretanha, por exemplo, têm uma importante dimensão reli- giosa que remonta ao século XVII. Os discursos do ex-presi- dente George W. Bush (2001-2009) a respeito da chamada “guerra contra o terrorismo” insistiam na separação entre o “mundo cristão” (definido por ele como democrático, libe- ral, humano) e o “mundo islâmico” (que seria, segundo ele, autoritário, fanático e desumano). A contrapartida dessa po- sição é a política do governo do Irã, um dos Estados em que a religiãoe a política estão mais intimamente ligados. Desde 1979, uma Revolução liderada pelo líder supremo da religião muçulmana naquele país, o aiatolá Khomeini, transformou o Irã numa República Islâmica, isto é, num Estado cujo poder político é controlado pela hierarquia religiosa (uma teocracia). Embora o presidente do Irã possa ser uma pessoa laica, acima dele encontra-se o Conselho de Guardiães, formado por doze líderes religiosos, que zela para que as leis e as decisões po- líticas sejam coerentes com sua interpretação do islamismo. Como consequência, a vida política praticamente se confun- de com a vida religiosa. Capítulo 18 O mundo árabe-muçulmano Conteúdos e procedimentos sugeridos O mundo árabe-muçulmano originou-se de tribos semi- tas, que foram unificadas em torno de uma nova religião mo- noteísta – o islamismo. Fator de identidade entre os povos ára- bes, a nova religião continha preceitos que contribuíram para a expansão e formação de um império. E mesmo depois de ter se desagregado, os diversos reinos que se formaram continuaram ligados pelo islamismo. É disso que trata o capítulo. Levantar questões do presente sobre o mundo islâmico pode ser um interessante ponto de partida para o estudo dos conteúdos do capítulo. Que informações têm os alunos a res- peito do mundo islâmico? A que país(es) se refere(m)? São in- formações políticas? Por que nesse(s) país(es) religião e política estão tão associadas? O que os alunos sabem sobre a cultura, os costumes e as tradições do mundo árabe-islâmico? É importante observar o processo de passagem de um mundo fragmentado e politeísta para um mundo monoteís- ta, unificado e expansionista. O divisor entre esses dois mun- dos foi Maomé, que difundiu o islamismo entre os árabes. O texto Princípios do islamismo, da seção Passado presente (p. 137), ajuda a compreender as origens e os fundamentos do islamismo, assim como o significado de jihad. Além do texto, é oportuna a leitura do mapa A expansão islâmica (p. 138), que registra os territórios conquistados pelos árabes e os respecti- vos momentos da conquista. Com relação às dinastias Omíada e Abássida, que suce- deram Maomé, vale destacar: da primeira, seu caráter laico; da segunda, a responsabilidade pela ampliação das etnias conver- tidas à fé maometana, o que transformou o Império Árabe em Império Muçulmano. Merece destaque a cultura do mundo islâmico (veja o tex- to complementar a seguir), não só por sua própria produção, mas também pela preservação da produção cultural e científica de outros povos (gregos, romanos, hindus, persas). Na seção No mundo das letras (p. 142), os alunos têm oportunidade de conhecer um trecho da obra As mil e uma noites. Por fim, o boxe Jerusalém, uma cidade sagrada (p. 141) articula o conteúdo do capítulo ao conceito norteador da unidade – Diversidade religiosa –, considerando que a ci- dade é sagrada para as três principais religiões monoteístas. A leitura coletiva do texto, aliada à discussão proposta na seção Diálogos, pode proporcionar um trabalho proveitoso a esse respeito. Texto complementar Num momento em que, na Europa, a cultura letrada estava restrita ao controle da Igreja, no mundo islâmico ela se expandia, com a publicação de livros e a organização de várias bibliotecas. No texto a seguir, o historiador britânico, Albert Hourani, analisa a difusão da cultura letrada no mun- do árabe. Não apenas os sábios e os estudantes religiosos nas madrasas, mas também membros de famílias urbanas que se haviam alfabetizado liam livros. A essa altura, ha- via um grande volume de obras escritas em árabe para lerem, e desenvolveu-se uma espécie de autoconsciência cultural, um estudo e reflexão sobre a cultura acumulada expressa em árabe. A condição de tal atividade era que houvesse livros de fácil acesso. A difusão da fabricação e uso do papel a partir do século IX tornou mais fácil e barato copiá-los. Um livro era ditado a escribas por seu autor ou sábio fa- moso, que depois ouvia ou lia a cópia e autenticava-a com a ijaza, um atestado de transcrição autêntica. Esse processo se propagou à medida que os que tinham co- piado um livro autorizavam outros a copiá-lo. As cópias eram vendidas por livreiros, cujas lojas muitas vezes fica- vam perto das principais mesquitas de uma cidade, e al- gumas eram adquiridas por bibliotecas. As primeiras grandes bibliotecas de que temos re- gistro foram criadas por soberanos: a “Casa do Saber” (Bayt al-hikma), em Bagdá, pelo califa Ma‘mum (813- -33), e depois a “Casa da Cultura” (Dar al-‘ilm), fundada no princípio do século XI no Cairo. As duas eram mais HMOV_v1_PNLD2015_MP_273a376_alt.indd 326 10/23/13 12:50 PM 327Manual do Professor do que simples repositórios de livros; eram também cen- tros de estudo e propagação de ideias favorecidas pe- los soberanos. HOURANI, Albert. Uma história dos povos árabes. São Paulo: Companhia da Letras, 2006. p. 267-268. Sugestões de leitura ARMSTRONG, Karen. Maomé: uma biografia do profeta. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. HOURANI, Albert. Uma história dos povos árabes. São Paulo: Companhia da Letras, 2006. LEWIS, Bernard. O Oriente Médio: do advento do cristianismo aos dias de hoje. Rio de Janeiro: Zahar, 1996. Passado Presente Princípios do islamismo De olho no mundo O texto a seguir oferece um quadro geral a respeito da situação da mulher no mundo islâmico e pode subsidiar a re- flexão sobre o tema: “Duas citações do Corão demonstram como este pode ser usado para fundamentar duas versões bem diferentes do papel da mulher: ‘Os homens têm auto- ridade sobre as mulheres porque Deus os fez superiores a elas’. ‘As mulheres devem, por justiça, ter direitos semelhan- tes àqueles exercidos contra elas’. O contraste no tratamen- to de homens e mulheres é visível numa série de áreas da vida social, sobretudo, nas leis relativas ao casamento. Mas, como muitos estudiosos islâmicos já indicaram, há também uma série de leis que protegem as mulheres dentro do ca- samento. Quando o contrato de casamento é assinado, o marido paga um dote que permanece propriedade da espo- sa e não pode ser usado sem o consentimento dela. A mu- lher só pode ter um marido, ao passo que os homens po- dem ter até quatro esposas. A poligamia para os homens não era rara no Oriente Médio na época de Maomé. A exigên- cia deste de que um homem não deve tomar mais esposas do que pode sustentar teve muitos efeitos positivos em sua época. Hoje, a poligamia é proibida na Turquia e na Tunísia. [...] Diferentemente da circuncisão para os homens, a exci- são do clitóris (mutilação da genital feminina) não é obriga- tória para as mulheres; tampouco se menciona tal mutilação no Corão. Mesmo assim, ela é praticada com frequência no Norte da África. Nos anos recentes, porém, vem encontran- do forte oposição por causa de seus efeitos negativos sobre a vida sexual da mulher. Nem mesmo a tradição de usar véu, ou chador, deriva do Corão, mas ela se difundiu por amplas áreas geográficas, independentemente da religião. Em sua origem, tal moda se limitava às classes superiores, não tendo penetração na sociedade agrícola, onde as mulheres deviam trabalhar no campo. A luta contra o véu vem sendo uma questão predominante na modernização de muitas nações árabes; entretanto, o reavivamento islâmico dos anos recen- tes também forneceu apoio ao véu” (GAARDER, Jostein et al. O livro das religiões. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. p. 133-134). Jerusalém, uma cidade sagrada Diálogos Trata-se de uma questão historicamente polêmica, cujo debate pode ser observado na imprensa atual. Em 1949, o Estado de Israel declarou Jerusalém sua capital, mas na parte oriental da cidade viviam milhares de palestinos. Na chamada Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel anexou a porção pales- tina (além dos territórios da Cisjordânia e da Faixa de Gaza).No começo dos anos 1980, o Parlamento israelense aprovou a chamada “Lei Básica” (ou Lei de Jerusalém) que reafirmou Jerusalém em seu status de capital e a declarou “eterna e in- divisível”. Em 2008, um projeto de lei propôs uma nova de- finição para a cidade como “capital de Israel e do povo ju- deu”. Isso reforçaria o caráter judaico da cidade, apesar dos 200 mil palestinos que ainda vivem lá. A comunidade in- ternacional não reconhece Jerusalém como capital de Israel e mantém seu corpo diplomático, isto é, suas embaixadas e consulados na cidade de Tel Aviv, a segunda maior do país. A cidade de Jerusalém está no centro das principais negociações de paz entre judeus e palestinos há mais de meio século. Atualmente, os palestinos exigem que a parte oriental da cidade seja transformada em capital do seu fu- turo Estado independente. Essa disputa se fundamenta na dimensão histórica e simbólica da cidade para as duas reli- giões. Além disso, os cristãos também reivindicam o cará- ter sagrado de Jerusalém, pois foi ali que Jesus Cristo teria sido crucificado. Ademais, a cidade abriga monumentos e templos cristãos. O texto a seguir é um relato pessoal so- bre Jerusalém da professora e pesquisadora britânica Ka- ren Armstrong. Em meu primeiro dia em Jerusalém meus colegas israelenses me ensinaram a identificar as pedras utili- zadas pelo rei Herodes, com seus característicos bor- dos chanfrados. Elas pareciam onipresentes, lembrando eternamente um compromisso dos judeus com Jeru- salém que (neste caso) remonta ao século I a.C. – e, portanto, é muito anterior ao surgimento do islã. Sem- pre que passávamos por um canteiro de obras da Cida- de Velha contavam-me que Jerusalém havia estagnado completamente durante a dominação otomana e só vol- tara à vida no século XX, em boa parte graças a inves- timentos de judeus – bastava ver o moinho construído por Sir Moses Montefiore e os hospitais fundados pela família Rothschild. Graças a Israel, a cidade prosperava como nunca. Meus amigos palestinos me mostravam uma Je- rusalém muito diferente. Para eles, o esplendor do Ha- ram al-Sharif e as primorosas madãris – escolas muçul- manas –, construídas pelos mamelucos em suas bordas, evidenciavam o compromisso dos muçulmanos com a cidade. Eles me levaram ao santuário de Nebi Musa, er- guido nos arredores de Jericó para defender Jerusalém dos cristãos, e aos extraordinários palácios que a dinas- tia dos Omíadas edificara nas proximidades. Adaptado de: ARMSTRONG, Karen. Jerusalém: uma cidade, três religiões. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. p. 13. 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