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76 Unidade 2 O trabalho Os donos de engenhos, também conhecidos como senhores de engenho, desfrutavam de status so- cial semelhante ao da nobreza em Portugal. Eles con- trolavam a vida política da região, ocupavam cargos nas câmaras municipais e seus filhos e parentes deti- nham importantes postos públicos. Além disso, man- tinham sob controle uma ampla rede de dependentes. De modo geral, as mulheres dos senhores de enge- nho também deviam obedecer às suas ordens, cabendo a elas a tarefa de cuidar da educação das crianças, cos- turar e supervisionar os escravos domésticos. Suas filhas deviam se preparar para um casamento de encomenda. Estudos recentes, porém, mostram que essa submissão feminina não era uma constante. Muitas viúvas tornaram-se administradoras de engenhos e várias mulheres reagiram às determinações que lhes eram impostas: fugindo de casa, separando-se do marido ou até mesmo cometendo adultério. O trabalho nos engenhos A obtenção do açúcar era resultado de um pro- cesso que exigia grandes investimentos em máqui- nas, instalações, animais e mão de obra especializa- da, além das áreas destinadas ao plantio da cana. Algumas dessas áreas pertenciam ao próprio enge- nho. Outras faziam parte de terras cujos proprietários vendiam ao senhor do engenho a cana aí cultivada. Óleo sobre madeira do pintor holandês Frans Post (1630) representando um engenho de açúcar na capitania de Pernambuco durante a ocupação holandesa do Nordeste. M in is té ri o d a s R e la ç õ e s E x te ri o re s , B ra s il /A rq u iv o d a e d it o ra Os primeiros engenhos O primeiro engenho em terras portuguesas da América do Sul foi instalado em 1532 por Martim Afonso de Sousa na capitania de São Vicente. Entretanto, seria no Nordeste que a agroindús- tria do açúcar obteria maior êxito. Nessa região, o massapê – solo argiloso escuro e rico em calcário – revelou-se ideal para o cultivo da cana e permitiu a rápida expansão da produção canavieira. Em 1542, começou a operar o primeiro enge- nho em Pernambuco; quatro décadas depois, já ha- via aí 66 engenhos. Em 1580, eram 115 os enge- nhos distribuídos por todo o litoral brasileiro. Juntos, eles colocavam no mercado uma produção anual de 300 mil arrobas de açúcar (4,5 mil toneladas), além de aguardente (cachaça). Produto igualmente derivado da cana, a cacha- ça se tornou importante item nas transações comer- ciais da colônia. Os traficantes de escravos a utiliza- vam como “moeda de troca” para a compra de cativos africanos. No Nordeste, alguns dos principais centros produtores de açúcar eram as capitanias da Bahia, Pernambuco e Paraíba (sobre a Paraíba, veja a seção Patrimônio e diversidade, na página 77). Inicialmente, o termo engenho designava ape- nas a edificação na qual se fabricava o açúcar. Mais tarde, passou a indicar todo o complexo que envol- via a produção açucareira: os canaviais, as matas de onde se extraía lenha para as fornalhas, a casa-gran- de – residência do proprietário –, a senzala – aloja- mento dos escravos –, a moenda e demais instrumen- tos de produção, etc. Fachada da casa-grande de um engenho no município de Palmares, em Pernambuco, em foto de 2007. Situadas muitas vezes no alto de uma colina, as casas-grandes dos engenhos se impunham na paisagem como símbolo do poder e da riqueza de seus proprietários. A le x a n d re B e le m /J c I m a g e m HMOV_v2_PNLD2015_074a079_U02_C08.indd 76 3/20/13 4:27 PM 77Açúcar e escravidão na colônia portuguesa Capítulo 8 A cana-de-açúcar é o principal produto agrí- cola da Paraíba, e o setor canavieiro é o que ain- da mais gera empregos na região. Hoje, quase toda a produção paraibana é comprada pelas usinas para ser transformada em etanol, mas em 1587, ano em que foi erguido o primeiro engenho paraibano, a cana era usada primordialmente na produção do açúcar. Embora a produção açuca- reira das capitanias de Pernambuco e Bahia fos- se maior, o produto paraibano era considerado pelos europeus como o melhor de toda a colônia portuguesa na América. A memória desse período colonial encontra- -se preservada nos engenhos que sobreviveram ao tempo, erguidos em cidades como Bananeiras, Pi- lões e Alagoa Grande. Nesses locais, hoje são fa- bricados cachaça, doces e uma das iguarias mais tradicionais do Nordeste brasileiro: a rapadura. A importância da rapadura na sociedade paraibana é tão significativa que na cidade de Areia existe o Museu da Rapadura, funcionando em um engenho do século XVIII. A história da Paraíba, contudo, não se restrin- ge à presença do açúcar. Na cidade de Ingá, a cerca de 100 quilômetros de João Pessoa, encon- tra-se a Pedra do Ingá, um imenso bloco de pe- dra, com 24 metros de comprimento e 4 metros de altu ra que, em 1944, foi transformado em Pa- trimônio Arqueológico Nacional. Nessa pedra existem centenas de inscrições rupestres (como estudado no capítulo 3 do volume 1). Além da Pedra do Ingá, ao longo do território paraibano estão espalhadas mais de 30 mil pintu- ras rupestres, o que faz do estado um verdadeiro museu a céu aberto. A Paraíba guarda no sertão uma relíquia ainda mais antiga: as pegadas de dinossauros, animais que viveram milhões de anos antes do surgimento do ser humano na Terra. Essas pegadas estão numa região conheci- da como Vale dos Dinossauros. Ocupando uma área de 700 quilômetros quadrados e engloban- do trinta municípios, o Vale dos Dinossauros é o sítio arqueológico que concentra o maior nú- mero de pegadas fossilizadas desses animais no mundo. São ao todo 505 trilhas de dinossauros de diferentes espécies, entre eles o tiranossauro e o estegossauro. Na cidade de Sousa existe um parque no qual, além das pegadas, é possível visitar um museu com informações a respeito desses ani- mais pré-históricos. Patrimônio e diversidade Paraíba Um museu a céu aberto C o rr e io d a P a r a íb a /F u tu r a P r e s sEngenho Lagoa Verde, em Alagoa Grande, na Paraíba, maio de 2009. HMOV_v2_PNLD2015_074a079_U02_C08.indd 77 3/20/13 4:27 PM 78 Unidade 2 O trabalho Grandes ou pequenos, esses cultivadores dispu- nham de seu próprio plantel de escravos, cujo nú- mero variava entre seis e dez cativos, em média. Os primeiros a serem escravizados foram os indígenas, chamados de “negros da terra”, mas já nas primeiras décadas do século XVI teve início a utilização da mão de obra africana. Cabia aos escravos a tarefa de cortar a cana e amarrá-la em feixes. Estes eram empilhados em car- ros de boi, que os transportavam até a casa da moen- da. Aí, a cana era esmagada, processada e transfor- mada em açúcar escuro, mascavo. Essa tarefa ficava a cargo de outra equipe de escravos e de profissionais especializados, muitos deles livres (veja o boxe Os tra- balhadores livres, ao lado). Na época da colheita, os engenhos funcionavam ininterruptamente de 18 a 20 horas por dia. Engenhos médios contavam com 60 a 80 escravos. Os maiores, com mais de 200. O trabalho era febril, rígido e dis- ciplinado; e o cansaço, tão grande que muitos cati- vos chegavam a adormecer durante as longas e exte- nuantes jornadas. As taxas de acidentes eram altas, che- gando a provocar a morte de 5% a 10% dos escravos. Até meados do século XVII, a colônia portugue- sa liderou a produção açucareira mundial. A partir de então, problemas internos – como secas e a destrui- ção de engenhos nordestinos durante a Insurreição Pernambucana (veja o capítulo 10) – e, mais tarde, externos – como a forte concorrência dos produto- res holandeses da região das Antilhas – provocaram a lenta decadência da economia do açúcar na colônia portuguesa da América. Enquanto os trabalhadores livres eram responsáveis pelas funções mais qualificadas, cabia aos escravos os trabalhos mais pesados do engenho. Neste desenho aquarelado de Frans Post (1640) estão representados escravosem diversas atividades no interior de um engenho. F ra n s P o s t, 1 6 4 0 /M u s e u R e a l d e B e la s A rt e s , B ru x e la s /A rq u iv o d a e d it o ra Nos canaviais, a tarefa de preparar o terreno, plantar e colher a cana era em geral realizada pelos escravos. Já nas oficinas, onde a cana era transfor- mada em açúcar, ao lado da mão de obra cativa encontravam-se também brancos ou ex-escravos libertos que trabalhavam mediante pagamento. Esses trabalhadores livres estavam encarrega- dos das atividades mais qualificadas. Eram pro- fissionais como o mestre de açúcar, responsável pela qualidade final do produto, o purgador, en- carregado da purificação do açúcar, e o caixeiro, que separava, pesava e encaixotava o produto. Também recebiam pagamento pessoas de confiança do senhor de engenho, entre as quais o feitor-mor, que gerenciava todo o trabalho, e o fei- tor dos partidos e roças, que defendia a terra con- tra invasões e fiscalizava o trabalho dos escravos. Também era remunerado o trabalho dos ferreiros, carpinteiros, alfaiates, cirurgiões-barbeiros, etc. Nos séculos XVII e XVIII, os senhores de en- genho preferiam contratar negros livres e libertos para esses serviços, oferecendo-lhes um salário inferior ao que pagavam a um funcionário bran- co. Em muitos engenhos, escravos de confiança dos senhores começaram a executar tarefas ad- ministrativas e especializadas, o que se revelou um negócio vantajoso para ambos os lados: en- quanto o fazendeiro reduzia suas despesas, o es- cravo especializado conquistava um status social mais elevado diante dos demais cativos. Adaptado de: SCHWARTZ, Stuart. Escravos, roceiros e rebeldes. Bauru: Edusc, 2001. p. 91-115. Os trabalhadores livres HMOV_v2_PNLD2015_074a079_U02_C08.indd 78 3/20/13 4:27 PM 79Açúcar e escravidão na colônia portuguesa Capítulo 8 U n iv e rs a l Im a g e s G ro u p /G e tt y I m a g e s Mundo virtual n Fundação Joaquim Nabuco – Instituição mantida pelo governo federal, tem como foco a pesquisa e a divulgação da cultura e da história do Nordeste brasileiro. Disponível em: <www.fundaj.gov.br/>. Acesso em: 9 nov. 2012. Hora DE REFLETIR Embora proibido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, o trabalho infantil continua a existir no Brasil: cerca de 704 mil crianças e ado- lescentes de 5 a 13 anos ainda trabalham, segun- do dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), divulgados em 2011. Em sua maioria, essas crianças e adolescentes trabalham em canaviais, olarias e carvoarias, ou executam serviços domésticos. Muitos deles não frequen- tam escolas nem recebem pagamento. Que me- didas você acha que deveriam ser tomadas para erradicar o trabalho infantil no Brasil? Por que as leis nem sempre são cumpridas em nosso país? Em grupos, escrevam uma carta endereçada ao Conselho dos Direitos da Criança e do Adoles- cente da sua cidade, chamado de Conselho Tu- telar, propondo medidas de combate ao traba- lho infantil. 1. Descreva, em linhas gerais, como se desenvol- veu o comércio de açúcar na Europa, desde o século XII até a formação de um “mercado glo- bal” do açúcar. 2. Como se realizou a instalação dos engenhos de açúcar na América portuguesa nas primeiras dé- cadas da colonização? 3. Defina as duas concepções possíveis para o ter- mo “engenho” e explique quem era o “senhor de engenho”. 4. A sociedade formada ao redor das lavouras de cana-de-açúcar gravitava em torno do se- nhor de engenho. Explique como isso ocorria. 5. Quais eram os papéis atribuídos às mulheres da elite na sociedade dos engenhos? 6. Boa parte do trabalho nos engenhos era escra- vo, mas havia também um número reduzido de trabalhadores livres. Quais eram as atividades e as condições de trabalho desses trabalhado- res livres? 7. Por que havia um alto índice de acidentes de tra- balho nos engenhos, especialmente na época da colheita? Organizando as IDEIas Trabalho infantil em carvoaria de Paragominas (PA), foto de 2006. Segundo denúncias, as crianças trabalhavam em turnos diários de 12 horas, recebendo como pagamento cerca de R$ 5,00 por semana. HMOV_v2_PNLD2015_074a079_U02_C08.indd 79 3/20/13 4:27 PM 80 Ao acender um cigarro, o fumante introduz em seu organismo mais de 4,5 mil substâncias tóxicas, entre elas a nicotina, o alcatrão e o monóxido de carbono. Não é à toa que, todos os anos, cerca de 4 milhões de pessoas no mundo morrem de doenças decorrentes do hábito de fumar, como câncer no pulmão, infarto e derrame. O hábito de fumar se difundiu pelo mundo a partir do século XV, como resultado das Grandes Navegações. Ao chegar à América, os europeus descobriram que alguns povos nativos tinham o costume de fumar folhas de tabaco em seus rituais. Na volta à Europa, levaram consigo o tabaco, e o hábito de fumar se disseminou. Em pouco tempo, a demanda por tabaco cresceu não só na Europa, mas também na África e na Ásia. Na época, dizia-se que o fumo tinha efeitos medicinais. Com o aumento da demanda, o comércio do produto se expandiu, afetando diretamente a colônia portuguesa na América. Por mais de duzentos anos, a cultura do tabaco estaria Estande de atividades promovidas pela prefeitura de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, no Dia Nacional de Combate ao Fumo. A data é marcada nacionalmente por chamar a atenção da população para os malefícios do tabagismo para a saúde e orientação para o abandono do vício. Foto de agosto de 2012. W e s le y S a n to s /F o lh a p re s s Xilogravura colorida à mão. Osher Map Library, Universidade de Southern Maine, Portland, EUA O avanço da colonização Capítulo 9 Objetivos do capítulo n Conhecer os motivos que levaram os franceses a ocupar as terras que viriam constituir o atual território brasileiro. n Compreender a importância da pecuária e da produção de tabaco para o desenvolvimento e a ampliação do território colonial português na América. n Identificar algumas regiões do atual território brasileiro cuja colonização teve início com as ocupações francesas e com essas atividades econômicas. n Compreender a diversificação das relações de trabalho em razão do desenvolvimento da criação de gado como atividade econômica. entre as três principais atividades econômicas da colônia, perdendo apenas para o tráfico negreiro e a produção de açúcar. Como veremos neste capítulo, nas terras portuguesas da América o fumo foi cultivado principalmente no Nordeste, de onde era levado para a África por traficantes de escravos, que o utilizavam como moeda de troca para a compra de africanos escravizados. HMOV_v2_PNLD2015_080a088_U02_C09.indd 80 3/20/13 4:27 PM 81O avanço da colonização Capítulo 9 A França Antártica Em 1555, o governo do rei da França, Henrique II (1547-1559), decidiu criar colônia na América. A tarefa de comandar a implantação de uma co- lônia francesa na América do Sul coube ao almirante Nicolas Durand de Villegaignon (1514-1571). A princípio, os 130 colonos franceses estabelece- ram-se em uma pequena ilha chamada pelos nativos de Serijipe (atual ilha de Villegaignon, no Rio de Janei- ro). Nela viviam os Tamoio, povo indígena que, havia já alguns anos, comercializava com os franceses e era contrário à presença portuguesa na região. A nova colônia recebeu o nome de França Antártica*, as- sim chamada porque Villegaignon e seus homens acreditavam que ela estava localizada nas proximi- dades do polo antártico. Diante da ilha, na enseada hoje conhecida como praia do Flamengo, Villegaignon deu início à constru- ção do povoado de Henriville. Em pouco tempo, as relações entre os colonos católicos e os protestantes, que vieram com Villegaig- non, se deterioraram. Villegaignon condenava a re- lação entre seus comandados e os indígenas, exigia que eles trabalhassem em ritmo estafante e pagava valoresinsignificantes pelo trabalho. Insatisfeitos, al- guns colonos tramaram o assassinato do almirante, mas o plano foi descoberto e seus líderes condena- dos à pena máxima. Em maio de 1559, Villegaignon embarcou para a França para explicar-se ao rei. 1 A Confederação dos Tamoio Ao descobrir que Villegaignon se encontrava no exterior, o novo governador-geral da colônia portu- guesa na América, Mem de Sá, reuniu uma armada de 26 navios com 2 mil militares e arregimentou entre os colonos e os indígenas uma grande tropa. Em março de 1560, as forças portuguesas destruíram Henriville. Enquanto isso, os povos indígenas que apoiavam os franceses formaram a Confederação dos Tamoio, que passou a ameaçar a presença portuguesa no lito- ral de São Vicente. A Confederação dos Tamoio reunia indivíduos de diversos povos indígenas, como os Tupinambá, os Goi- tacá e os Carijó. Em 1563, depois de um período de hos- tilidades, os jesuítas Manuel da Nóbrega e José de An- chieta acertaram uma trégua com os nativos sublevados. Embora momentânea, a trégua deixou o governador- -geral Mem de Sá com as mãos livres para tentar de- salojar os franceses da baía de Guanabara. Encarregou para isso seu sobrinho Estácio de Sá. A expulsão dos franceses da baía de Guanabara À frente de 220 portugueses, Estácio desembarcou na baía de Guanabara em fevereiro de 1565. No dia 1o de março, fundou ali um arraial com o nome de São Se- bastião do Rio de Janeiro. Construído e fortificado o ar- raial, passou a lançar surtidas contra os franceses. Os confrontos se reiniciaram em 1567. A luta pro- vocou a morte de mais de mil nativos. Entre os euro- peus, as baixas não chegaram a trinta. A vitória coube aos portugueses, que puseram fim à França Antártica e escravizaram cerca de mil Tamoio. Apesar da destruição da França Antárti- ca, os franceses continuaram a assediar outras regiões, muitas delas no Nordeste, em terras que hoje pertencem à Paraíba e ao Rio Gran- de do Norte. Buscando manter o domínio des- sas regiões, os portugueses construíram fortes e fundaram povoações que originaram, entre outras, as atuais cidades de João Pessoa e Na- tal (sobre o Rio Grande do Norte, veja a seção Patrimônio e diversidade, na página 82). Por essa época, consolidou-se também a coloniza- ção da região do atual estado de Sergipe. * Leia o livro Vermelho Brasil, de Jean- -Christophe Rufin. Editora Objetiva. J e a n D e L é ry /R e p ro d u ç ã o /A rq u iv o d a e d it o ra Mapa da França Antártica do livro Viagem à terra do Brasil (c. 1557), de Jean de Léry. Entre outros detalhes topográficos, a carta sinaliza o Pão de Açúcar (Pot de Beurre). HMOV_v2_PNLD2015_080a088_U02_C09.indd 81 3/20/13 4:27 PM 82 Unidade 2 O trabalho Erguido entre 1598 e 1602, o forte dos Reis Magos marca o início da colonização portugue- sa na região e o nascimento da cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte. Em 1628, após passar por reformas, a fortaleza assumiu a for- ma que mantém até hoje: a de uma estrela de cinco pontas. O forte contribuiu para reprimir a ação dos franceses que assediavam o litoral po- tiguar, de onde retiravam pau-brasil para comer- cializar na Europa. Mas não foi capaz de impedir que, em 1633, o atual território do Rio Grande do Norte fosse ocupado pelos holandeses. No perío- do em que os fl amengos dominaram a região, o forte chamou-se Castelo Ceulen e só recuperou o nome original depois da expulsão dos invasores, em 1654 (veja o capítulo 10). Enquanto o forte servia de ponto de apoio para a colonização portuguesa do litoral potiguar, no século XVIII o interior do atual estado começava a ser desbravado por sertanistas interessados em instalar fazendas de gado no semiárido. Os currais proliferaram e a fi gura do vaqueiro a cavalo pasto- reando bois e vacas tornou-se comum na região. Refl exos dessa época podem ser observados ainda hoje no Rio Grande do Norte. Uma festa tra- dicional muito popular no estado é a vaquejada, cujas origens remontam ao tempo em que o gado pastava solto pelo semiárido e os vaqueiros preci- savam correr quilômetros atrás dos animais que se desgarravam do rebanho. Essa tarefa – que fazia parte da rotina do va- queiro – deu origem à vaquejada, competição na qual dois vaqueiros montados em cavalos compe- tem para derrubar pelo rabo um boi em corrida ao longo de uma pista de 160 metros de comprimen- to. A vaquejada é uma das principais manifesta- ções culturais de cidades como Currais Novos e Caicó, localizadas na região conhecida como Seri- dó, no sertão potiguar, atraindo todos os anos visi- tantes de diversas partes do país. Também no Seridó, a cidade de Carnaúba de Dantas guarda vestígios de grupos humanos que viveram na região muitos anos antes da chega- da dos vaqueiros. Além de diferentes ferramentas de pedra, arqueólogos encontraram no município inscrições rupestres, feitas pelos paleoíndios, que têm até 9,5 mil anos. Por meio dessas inscrições é possível conhe- cer um pouco mais o cotidiano dos primeiros habi- tantes da região. As pinturas mostram pessoas em pirogas (canoas), guerreiros armados enfrentando seus inimigos, grupos de caçadores perseguindo emas e veados, homens e mulheres carregando potes de água e outras imagens do dia a dia. Patrimônio e diversidade Rio Grande do Norte Entre fortes e vaqueiros S te fa n K o lu m b a n /P u ls a r Im a g e n s Forte dos Reis Magos, tendo ao fundo a cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, em foto de setembro de 2007. Erguida entre os séculos XVI e XVII, a fortaleza foi construída sobretudo para defender a região das investidas francesas. HMOV_v2_PNLD2015_080a088_U02_C09.indd 82 3/20/13 4:27 PM
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