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Historia em movimento Vol 2-47

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321Manual do Professor
•	 1672-1680: portugueses realizam praticamente uma expedi-
ção militar por ano, na tentativa de destruir o quilombo, mas 
não conseguem; 
•	 1694: depois de sucessivos ataques liderados pelo bandei-
rante Domingos Jorge Velho, Palmares sofre grande derrota; 
•	 1695: Zumbi é assassinado e Palmares começa a ser destruído;
•	 entre 1695 e 1716: o quilombo é alvo de mais 29 ataques; 
•	 1716: ocorre a completa destruição de Palmares.
5. Nas cidades e vilas, os escravos tinham maior liberdade para 
se deslocar. Muitos deles trabalhavam sem o controle e a vi-
gilância rigorosa imposta aos que viviam nas fazendas. Ha-
via escravos que eram alugados para trabalhar em outros 
lugares e havia os “escravos de ganho” que executavam 
variados serviços para terceiros em troca de dinheiro. Uma 
quantia previamente estipulada dos ganhos feitos pelos es-
cravos, nesses serviços, era entregue aos seus senhores. 
6. A cultura brasileira é essencialmente uma mistura de ou-
tras culturas. A cultura dos povos africanos trazidos ao Bra-
sil como escravos foi uma das bases da formação da nossa 
cultura e isso se manifesta de várias formas. Na língua por-
tuguesa falada no Brasil, encontramos diversas palavras afri-
canas, como cachimbo, moleque, banana, quitanda, etc. Na 
culinária, os africanos e seus descendentes introduziram o 
azeite de dendê, a pimenta-malagueta e o quiabo, modi-
ficando pratos típicos dos portugueses e dos indígenas, e 
criaram outros pratos, como a farofa, o quibebe, o vatapá, 
o mingau, o abará, etc. Várias das manifestações folclóricas 
da cultura brasileira têm origem africana; é o caso de dan-
ças e ritmos (o samba, o carimbó, o coco, o maracatu e o 
jongo) e de festas populares (a congada e o afoxé). Entre 
os instrumentos musicais oriundos da África, temos o ago-
gô, o atabaque, o berimbau, a cuíca e o xequerê. Na músi-
ca, compositores e instrumentistas afrodescendentes (como 
Pixinguinha) criaram gêneros marcantes da cultura brasilei-
ra, como o chorinho e o samba. Atualmente, merecem des-
taque grupos de rap brasileiros (Racionais MC’s, O Rappa, 
MV Bill) e vários músicos (Zeca Pagodinho, Jorge Aragão). 
Negros e pardos também se destacaram na literatura brasi-
leira, como Machado de Assis, considerado por muitos críti-
cos o maior escritor brasileiro. 
Interpretando DOCUMENTOS
1. Os proprietários acreditavam que os anúncios em jornais aju-
dariam na captura dos escravos. Professor, a resposta é bas-
tante simples, mas você pode chamar a atenção dos alunos 
para três aspectos presentes nos anúncios: uma descrição de-
talhada dos escravos, o que ajudaria os capitães do mato a 
identificar o fugitivo mais rapidamente; a oferta de recom-
pensa que também estimulava a captura ou a denúncia; o en-
dereço de entrega do escravo ou a informação precisa sobre 
a localização dos fugitivos. Esses aspectos demonstram que 
havia uma prática socialmente reconhecida, com regras cla-
ras. Sobre esse tema, há o conto Pai contra mãe, de Macha-
do de Assis, que inspirou o filme Quanto vale ou é por quilo?, 
de Sérgio Bianchi (2005, Brasil), no qual se abordam as várias 
relações sociais no interior da escravidão.
2. A descrição do comportamento do escravo pode sugerir di-
versos aspectos de sua personalidade “pública”, isto é, da sua 
maneira de se portar diante dos brancos. O anúncio afirma 
que ele era mal-encarado, o que pode ser entendido como 
uma maneira pessoal (consciente ou não) de manter algu-
ma distância dos brancos, impondo-se pela expressão facial. 
Outros trechos da descrição também oferecem interpretações 
sobre as estratégias pessoais do escravo Luiz de Telles: fingir-se 
de doido, manter uma expressão de estupor, isto é, paralisa-
da, sem iniciativa, e parecer inocente. Mas o autor do anúncio 
informa que o escravo, na verdade, era muito ladino e astu-
cioso. Uma das mais interessantes artimanhas de Luiz de Tel-
les são os documentos escritos que ele afirma ter quando per-
guntado sobre seu destino e sobre as atividades que realiza. 
Professor, você pode ressaltar com a classe que era prática 
comum e necessária que todos os brancos “vigiassem” os 
escravos, para garantir que nenhum deles circulasse livre-
mente pelas ruas da cidade sem a devida autorização. Por 
isso, a qualquer momento, um escravo podia ser questio-
nado por qualquer pessoa livre sobre suas atividades e seu 
proprietário. Caso o escravo não soubesse se explicar ou es-
tivesse sem os devidos documentos, poderia ser preso até 
que o proprietário viesse soltá-lo. 
3. O texto do anúncio afirma: “julga-se que tenha sido acolhi-
do numa casa”, isto é, sugere que alguém o teria escondido. 
Professor, nesse caso é muito difícil saber que estratégias fo-
ram construídas previamente ou que motivos os donos des-
sa suposta casa teriam para acolher David. Mesmo que fosse 
apenas uma hipótese do autor do anúncio, no entanto, esse 
tema refere-se aos esforços dos escravos para reconstruírem 
suas relações pessoais e de amizade ou mesmo para oferecer 
seu trabalho em troca de uma futura liberdade.
Capítulo 8
Açúcar e escravidão 
na colônia portuguesa
Conteúdos e procedimentos sugeridos
Esse capítulo trata da produção da cana-de-açúcar como 
a atividade econômica que transformou a Zona da Mata do 
Nordeste brasileiro no primeiro polo de expansão econômica 
da colônia portuguesa na América. Ao longo do texto, é abor-
dada a formação de uma estrutura socioeconômica que viria 
definir algumas das principais características do período colo-
nial. O tema é ampliado ao abordar também alguns aspectos 
da produção de cana-de-açúcar atualmente no Brasil.
O estudo pode ser iniciado comparando-se o uso do açú-
car atualmente – por milhões de pessoas, todos os dias –, e no 
passado, quando ele era considerado uma especiaria de luxo, 
um produto para reis e nobres. Essa grande valorização econô-
mica do açúcar na Europa afetaria profundamente os rumos da 
colonização portuguesa na América.
O interesse do governo português em produzir cana-de-
-açúcar na colônia está ligado à sua valorização no mercado eu-
ropeu, ou seja, o desenvolvimento da colonização com base em 
uma atividade agrícola está subordinado a uma demanda exter-
na, como ocorrido também com a exploração do pau-brasil (as-
sunto tratado no capítulo 4). Esse aspecto é muito importante 
para compreender o processo de colonização e o período colo-
nial, ou seja, o desenvolvimento da colônia portuguesa na Amé-
rica está relacionado à necessidade de fornecer aos países euro-
peus alguns poucos produtos muito valorizados naquele período, 
como o pau-brasil, o açúcar, o tabaco, o ouro, o algodão, etc.
Outro aspecto também caracterizador da sociedade colo-
nial foi a organização da produção nos engenhos assentada no 
trabalho escravo. Uma produção com essas dimensões, como 
era a da cana e do açúcar, demandava uma ampla gama de 
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pessoas trabalhando em diversos setores. O boxe Os trabalha-
dores livres pode ser utilizado para ampliar as discussões acerca 
da importância desses trabalhadores na economia açucareira 
e para mostrar como era dividida e organizada cada uma das 
etapas da produção do açúcar. Nesse texto é abordado, com 
destaque, as evidências de que os africanos e seus descenden-
tes desempenharam outros papéis sociais, extrapolando os que 
estavam vinculados à escravidão.
Ainda sobre a organização social dos engenhos, nesse 
capítulo é destacada a figura do senhor do engenho, que, em 
muitos casos, aglutinava todo o poder não só econômico e 
político, mas também social, sobre as pessoas diretamente re-
lacionadas a ele. Uma ampliação dessa questão pode ser fei-
ta propondo-se aos alunos uma discussão sobre algumas for-
mas de resistência de outros sujeitos históricos como escravos 
e mulheres. Estudos recentes, por exemplo, indicam que ape-
sar dessa aparente supremacia masculina, as mulheres cum-
priam papéis sociais diversosna sociedade colonial e há várias 
referências históricas às “senhoras” de engenho.
A seção Patrimônio e diversidade (página 77), que nesse 
capítulo aborda o atual estado da Paraíba, serve de base para 
discutir, com os alunos, como a materialização da vida econô-
mica e social, quando resiste ao tempo, pode se tornar uma 
importante fonte de investigação do passado e de preservação 
do patrimônio.
A seção Passado presente, com o texto Do açúcar ao eta-
nol (página 75) trata de vários aspectos envolvidos na produ-
ção da cana-de-açúcar no presente: econômicos, de susten-
tabilidade ecológica e trabalhistas, especialmente. Com base 
nesse texto, pode ser traçado um paralelo entre as duas reali-
dades – dos escravos, no passado, e dos cortadores de cana, 
na atualidade –, para discutir, com os alunos, a permanência 
de rotinas aviltantes de trabalho em nosso espaço geográfico 
no passado e no presente. 
Nessa mesma linha de reflexão pode ser trabalhada tam-
bém a seção Hora de refletir, que aborda a questão do traba-
lho infantil na atualidade, principalmente em carvoarias, olarias 
e canaviais. Ao propor a redação de uma carta ao conselho tu-
telar, pretende-se não só sugerir uma ação civil e política, mas 
também reforçar a importância do combate sistemático à ex-
ploração da mão de obra infantil no Brasil.
Texto complementar
A seguir, reproduzimos trechos da entrevista de José Ro-
berto Novaes, professor da Universidade Federal do Rio de Ja-
neiro, especialista no assunto, concedida à Comissão Pastoral 
da Terra-Nordeste.
IHU On-line: – Quais são as principais consequên-
cias do êxodo maciço de trabalhadores em direção a es-
tados mais ricos do Brasil, no caso da indústria sucroalcoo-
leira em expansão? 
José Roberto Novaes: – Sempre houve um fluxo mi-
gratório muito grande de trabalhadores do Nordeste para 
outras regiões do país. […] A migração atual é do Nor-
deste rural para o Sudeste rural. Essa é uma característica 
muito recente, porque é uma migração pendular. Signifi-
ca que os trabalhadores (principalmente homens) deixam 
suas famílias no Maranhão, no Piauí, na Paraíba, e vêm 
trabalhar de seis a oito meses nas usinas de açúcar de São 
Paulo para cortar cana. Entre as consequências dessa mi-
gração está um processo de desintegração familiar. […] E 
essa migração se torna necessária porque nas regiões de 
origem desses migrantes, como Maranhão, Piauí e Paraí-
ba, não há alternativa de emprego para a juventude. […]
IHU On-line: – Como são as condições de trabalho 
desses migrantes empregados no corte de cana? 
José Roberto Novaes: – […] temos constatado que 
as condições são realmente precárias, porque o corte da 
cana é um trabalho difícil, que exige ritmo, força física e 
destreza. O trabalhador mexe com o facão, cuja lâmina 
está apontada para o corpo dele o tempo todo, ou para a 
canela ou para o dedo, quando ele corta a base da cana 
e quando ele apara a ponteira dessa cana. Então, ele tem 
que ter muita atenção nesse trabalho e o desgaste físico 
é muito grande. Para termos uma ideia, um trabalhador 
levanta às 5 horas da manhã, tem que fazer a comida 
para levar para o campo, porque ele começa a trabalhar 
às 7h. E para atingir o padrão de produtividade impos-
to pelas usinas ele tem que cortar, no mínimo, 10 tone-
ladas de cana por dia. Isso significa trabalhar exaustiva-
mente durante o dia todo, até o limite da sua força física. 
Isso tem consequências diretas na saúde desse trabalha-
dor. Por exemplo, manifestações de câimbra, em função 
do desequilíbrio de sais minerais no corpo. As pessoas 
transpiram muito e essa transpiração em excesso começa 
a causar câimbra nas mãos, nas pernas, na barriga, que 
provocam uma dor violenta. Então, os trabalhadores têm 
que ser levados para os hospitais para tomar soro. As usi-
nas, para resolver esse problema, estão dando um com-
plexo vitamínico, que o trabalhador é obrigado a tomar 
todos os dias, para eliminar as manifestações de câimbra. 
Essa é uma solução paliativa, porque a questão central 
não é “bombar” o trabalhador com uma vitamina para 
ele manter o ritmo de trabalho a que está sendo submeti-
do até à exaustão física do corpo. A solução seria reduzir 
a jornada e aumentar o preço da cana. Além da câimbra 
há outras manifestações. O trabalhador submetido a um 
ritmo tão violento de trabalho perde a destreza no cor-
te. Isso faz com que ocorram muitos acidentes, cortes na 
mão, na perna, apesar de ele utilizar todo o equipamento 
de proteção ao trabalho. Uma terceira consequência são 
as inclinações que ele faz no movimento corporal, que 
provoca, em médio prazo, doenças de coluna. Temos en-
contrado muitos trabalhadores que, a partir dos 27 anos, 
estão praticamente inutilizados para o trabalho, devido a 
problemas de coluna e de acidentes. […] 
IHU On-line: – Como compreender o paradoxo do 
aumento da mecanização e o avanço da produtividade 
baseado na exploração da força de trabalho? 
José Roberto Novaes: – O agronegócio de açúcar 
e de álcool está em processo de expansão. Ele tem uma 
potencialidade de mercado internacional muito grande, 
devido a esse problema energético do álcool e de alguns 
cortes de subsídios para a produção de açúcar na Europa. 
O que acontece é que muitos grupos internacionais estão 
vindo para o Brasil, investindo na compra de usinas para 
produzir açúcar e álcool aqui para exportar. Com essa ex-
pansão da agroindústria do açúcar e do álcool, as previ-
sões apontam que, até a safra de 2010, serão 89 novas 
usinas que serão implantadas no Brasil. Já podemos ima-
ginar o que deve ser isso em termos de aumento de área 
de cana, em todos os estados do país. A agricultura bra-
sileira vai virar um mar de cana. Parte dessa plantação, 
com a inovação tecnológica, vai entrar no corte meca-
nizado, pois já existem colheitadeiras de cana muito efi-
cientes. Mas parte ainda substancial da cana vai ser cor-
tada manualmente, porque existe uma limitação técnica 
para utilizar toda a colheita de forma mecanizada. […] 
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A tendência é uma combinação entre o corte mecaniza-
do e o corte manual. […] E a referência que passa a ter a 
produtividade do trabalhador vai se dar fazendo um con-
traponto com a máquina. Se a máquina é altamente pro-
dutiva e substitui cem cortadores, porque ela corta dia e 
noite, só compensa cortar cana manualmente se a produ-
tividade desse trabalho for competitiva com a máquina. 
E muitas vezes quando se opta pelo corte mecanizado, a 
melhor cana é dada para a máquina e a pior é dada para 
o corte manual. Então, esse trabalhador, além de ter que 
competir com a máquina ele vai pegar a pior cana. […]
IHU On-line: – Qual o perfil do cortador de cana 
mais “disputado”? 
José Roberto Novaes: – O perfil tem quatro carac-
terísticas básicas. A primeira é a seguinte: para supor-
tar esse padrão de produção de cortar 12 toneladas de 
cana por dia tem que ter força física, destreza e habili-
dade. A questão da idade também passa a ser um ele-
mento fundamental. Trabalhadores na faixa de 18 a 29 
anos são os preferidos. Esse é um critério de perfil. O 
outro critério é que sejam trabalhadores preferencial-
mente migrantes. As usinas estão preferindo buscar tra-
balhadores de fora, cujo local de moradia seja longe do 
local de trabalho, porque eles passam a exercer um con-
trole 24 horas por dia sobre a vida desses trabalhadores. 
É imposta uma disciplina ao trabalho, pois esses corta-
dores vêm para morar no alojamento da usina. Quem 
determina os horários e o tempo de lazer desses traba-
lhadores é a administração da usina. O quarto critério 
de definição do perfil é o sexo. Preferencialmente, para 
suportar a jornada, se contrata em grande maioria ho-
mens. Apesar de o movimento sindical estar exigindo 
que pelo menos em cada turma de 40, 50 trabalhadores 
tenha, no mínimo, 10% de mulheres, tem regiõesque 
não respeitam os acordos coletivos e só contratam ho-
mens. Em um filme que eu fiz no interior de São Paulo, 
peguei o depoimento de uma trabalhadora que diz que, 
para a mulher ser contratada, além desses problemas 
todos, ela tem que ser “operada”, fazer uma cirurgia de 
esterilização, porque corre o risco de engravidar e aí tem 
vários direitos. Que absurdo é esse? A mulher tem que 
se “castrar” para conseguir trabalhar... E estamos falan-
do do setor moderno da agricultura brasileira. 
Disponível em: <http://projeto.unisinos.br/ihu/index.php? 
option=com_noticias&Itemid=127&task=detalhe&id=3076>. 
Acesso em: 12 dez. 2012.
Sugestões de leitura
ABRAMOVAY, Ricardo. Biocombustíveis: a energia da contro-
vérsia. São Paulo: Senac São Paulo, 2009.
PIRES, Fernando Tasso F. Antigos engenhos de açúcar no Brasil. 
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994.
SCHWARTZ, Stuart B. Segredos internos: engenhos e escravos 
na sociedade colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.
Organizando aS iDEiaS
1. No século XII, o açúcar chegou ao continente europeu por 
meio de mercadores árabes e cruzados. Nessa época, a pro-
dução e a comercialização eram reduzidas e seu preço era 
altíssimo, o que o tornava acessível apenas a nobres e reis. 
A partir do século XVI, iniciaram-se as grandes plantações 
de cana na América portuguesa, em fazendas monoculto-
ras, exigindo grandes estruturas comerciais e produtivas que 
envolviam, de alguma forma, a maior parte do mundo co-
nhecido na época: o financiamento e o refino eram holan-
deses; as plantações da cana e a produção do açúcar ocor-
riam na colônia portuguesa na América; os consumidores 
estavam disseminados por toda a Europa e a mão de obra 
era africana.
2. No início do século XVI, o primeiro engenho de cana foi 
instalado na capitania de São Vicente. Ainda em meados 
do século XVI, começou a funcionar o primeiro engenho 
em Pernambuco, no Nordeste, onde as plantações tiveram 
muito êxito devido ao solo apropriado. Em 1580, já havia 
115 engenhos distribuídos pelo litoral da colônia portu-
guesa na América.
3. A palavra “engenho” designava, em princípio, o local de 
fabricação do açúcar, mas, com o tempo, passou a definir 
também toda a propriedade envolvida com a produção do 
açúcar. Assim, faziam parte do engenho: os canaviais, as 
matas, as casas de moradia (do proprietário, dos escravos e 
dos trabalhadores livres), a casa da moenda e os demais ins-
trumentos de produção. O proprietário desse complexo era 
chamado de “senhor de engenho”.
4. Os senhores de engenho na colônia desfrutavam de poder 
semelhante ao dos nobres em Portugal. Eles controlavam a 
vida política da região, pois ocupavam – eles próprios, seus 
filhos ou parentes e apadrinhados – os principais cargos pú-
blicos. Os senhores de engenho também tinham autoridade 
sobre todas as pessoas que viviam no engenho ou que de-
pendiam dele para sua sobrevivência. Em torno dele, cons-
tituía-se um núcleo familiar formado por esposa, filhos, pa-
rentes, afilhados e agregados. 
5. As mulheres do núcleo familiar do senhor de engenho também 
respondiam à sua autoridade. De modo geral, elas tinham uma 
vida voltada para as atividades domésticas e para a família, e se 
submetiam a essas funções: eram responsáveis pela educação 
dos filhos, pelo funcionamento da casa e pela supervisão dos 
escravos domésticos. No entanto, essas regras tinham muitas 
exceções: ficaram conhecidos casos de mulheres que se torna-
ram administradoras de engenhos ou que procuraram se rebe-
lar por meio da fuga, do suicídio ou do adultério.
6. A mão de obra livre e remunerada era composta de brancos 
e escravos libertos que realizavam, nas oficinas, as tarefas 
que exigiam alguma especialização. Havia o mestre de açú-
car, o purgador e o caixeiro. Também recebiam pagamento 
o feitor-mor, que gerenciava todo o trabalho no engenho, 
e o feitor dos partidos e roças, que defendia a terra contra 
invasões e fiscalizava o trabalho dos escravos. Os ferreiros, 
os carpinteiros, os alfaiates, os cirurgiões-barbeiros também 
tinham trabalho remunerado. 
7. Durante o tempo da colheita, o engenho funcionava de de-
zoito a vinte horas por dia. Especialmente nessa fase, o tra-
balho era rígido e disciplinado, e o cansaço dos escravos era 
intenso, elevando a taxa de acidentes com mortes, que va-
riavam entre 5% e 10%.
Hora DE rEFlETir
Qualquer tentativa de erradicar o trabalho infantil deve 
começar atacando suas causas, principalmente a pobreza. Des-
sa maneira, costumam ser mais eficazes quaisquer medidas ou 
programas que afastem as crianças do trabalho e as mante-
nham na escola. Entretanto, tais medidas devem vir acompa-
nhadas de ações de fiscalização que combatam o uso da mão 
de obra infantil.
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No Brasil, há instituições, ONGs e fundações que buscam 
incentivar empresas a agir contra o trabalho infantil. Por exem-
plo, a Fundação Abrinq (www.fundabrinq.org.br) fornece cer-
tificados às companhias que se dispõem a assumir dez compro-
missos em relação à criança e ao adolescente, entre os quais, 
não utilizar o trabalho infantil e não adquirir matéria-prima de 
empresas que o utilizam. 
Professor, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) 
pode ser encontrado na internet, mas trata-se de um docu-
mento jurídico extenso, escrito numa linguagem nem sempre 
acessível aos alunos. Para aprofundar a discussão, será neces-
sário selecionar alguns artigos. 
Subsídios para reflexão e discussão podem ser obtidos 
no artigo “A questão do trabalho infantil: mitos e verdades”, 
de Jane Araújo dos Santos Vilani, publicado na revista Inclu-
são Social (Brasília, v. 2, n. 1, p. 83-92, out. 2006/mar. 2007), 
do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnolo-
gia, disponível no endereço eletrônico <http://revista.ibict.br/
inclusao/index.php/inclusao/article/viewFile/57/79>. Acesso 
em: 12 dez. 2012.
Professor, o Conselho Tutelar é formado por cinco repre-
sentantes da sociedade civil eleitos pela comunidade do mu-
nicípio. Entre outras funções, o Conselho deve acompanhar 
as crianças e adolescentes que moram no município e garan-
tir o cumprimento da legislação. Você pode organizar uma 
única carta da classe para ser enviada ao Conselho ou convi-
dar um dos membros do Conselho do seu município para visi-
tar a escola e conversar pessoalmente com os alunos.
Capítulo 9
O avanço da colonização
Conteúdos e procedimentos sugeridos
Esse capítulo trata das tentativas francesas de coloni-
zar terras na América que o governo de Portugal considerava 
suas e também aborda o desenvolvimento da pecuária e da 
produção de tabaco em regiões do atual Nordeste brasileiro. 
Tais processos e atividades, por razões diversas, foram deci-
sivos para a ampliação territorial e para o desenvolvimento 
econômico da colônia portuguesa na América.
O texto de abertura do capítulo mostra como a difusão 
do hábito de fumar por vários países da Europa impulsionou a 
produção do tabaco na colônia e relaciona esse hábito a pro-
blemas de saúde que atingem a população de vários países 
atualmente. Também mostra o açúcar como o principal produ-
to de exportação da colônia.
A ocupação francesa, tema pelo qual se inicia o capítu-
lo, deve ser encarada como uma tentativa de consolidar laços 
comerciais e um projeto de colonização que já vinham sendo 
esboçados pela França mercantilista (assunto estudado no ca-
pítulo 29 do livro 1).
Outro aspecto destacado no capítulo é o envolvimento 
de diversos grupos indígenas nas disputas de europeus pela 
colonização das terras do continente americano, como aborda 
o Texto complementar 1, sobre a ação de franceses no Mara-
nhão. No caso particular da Confederação dos Tamoios, trata- 
-se de uma aliança entre colonizadores franceses e povos indí-
genas que viam no colonizador português o inimigo comum.
O capítulo revela tambémque a ocupação portuguesa 
em diversas regiões da colônia foi impulsionada, inicialmen-
te, muito mais pela disputa territorial entre nações europeias 
do que pela expectativa de êxito de uma atividade econômica 
em particular. Esse processo está na origem de diversas capi-
tais brasileiras atuais, como Natal (RN), São Luís (MA) e Belém 
(PA). A seção Olho vivo sobre a fundação de Belém se confi-
gura como importante exemplo desse processo de defesa do 
território, levado a cabo pelos portugueses. Ao mostrar como 
algumas representações situadas fora do contexto da época 
da fundação da cidade foram inseridas na obra A fundação 
da cidade de Nossa Senhora de Belém do Pará, essa seção es-
timula também realizar uma interessante discussão a respeito 
de como as imagens são documentos da época em que são 
produzidas e, como tal, devem ser consideradas apenas como 
mais uma forma de representar a realidade.
Ainda a respeito da ocupação territorial decorrente de 
atividade econômica, a criação de gado teve grande importân-
cia no processo de colonização do interior. Inicialmente desen-
volvida à sombra da economia açucareira, essa atividade foi 
responsável pela ocupação de gigantescas extensões de terra 
(veja também o Texto complementar 2). No capítulo, é desta-
cado o papel dos diversos tipos de trabalhadores especializa-
dos que realizaram essa empreitada.
Nesse processo, a disputa territorial que envolveu coloni-
zadores, membros da Igreja e os habitantes nativos das terras 
resultou na morte e na escravização de milhares de indígenas. 
Na seção Interpretando documentos, é tratado esse aspecto e, 
com base em um exemplo narrado por um padre capuchinho, 
pode-se conhecer e refletir sobre as estratégias utilizadas pelos 
colonizadores para subjugar os indígenas, o que muitas vezes 
provocou seu extermínio.
Os processos históricos alteram, criam e transformam o es-
paço, sendo a própria materialização das atividades humanas 
sedimentadas ao longo do tempo. Esse aspecto pode ser deba-
tido com os alunos com base na leitura do texto Entre fortes e 
vaqueiros, da seção Patrimônio e diversidade (página 82), que 
explora, entre outros aspectos, a construção do forte que mar-
caria o nascimento da cidade de Natal e a ocupação do interior 
do atual estado do Rio Grande do Norte com a criação de gado.
Embora a produção do açúcar tenha se mantido duran-
te boa parte do período colonial como o principal produto 
da colônia, seu êxito e altíssima especialização permitiram o 
afloramento de outras atividades que, ao mesmo tempo em 
que tornaram possível a própria produção do açúcar, foram 
significativas para a ampliação espacial e diversificação das 
relações sociais e econômicas da colônia. Um exemplo des-
sa diversificação é a produção do tabaco, citada na abertura 
do capítulo. Inicialmente uma produção caseira da população 
pobre, essa atividade passou a ser vista como lucrativa e foi 
inserida no comércio entre os reinos devido à valorização do 
produto em diversos países da Europa.
Texto complementar 1
No texto abaixo, a professora. Beatriz Perrone-Moisés abor-
da a aliança firmada entre representantes da França e os nativos 
da atual região do Maranhão com o intuito de fundar no local 
uma colônia francesa.
[…] Depois de serem expulsos pelos portugueses da 
Guanabara e da costa nordeste do Brasil, os franceses se 
voltaram para a região do Maranhão […].
Ao final do século XVI, uma dessas viagens de na-
vios mercantes daria origem à segunda colônia france-
sa em território hoje brasileiro: a França Equinocial. Em 
1596, um nobre francês de nome Charles des Vaux, de-
pois de ter passado dois anos na costa norte da América 
do Sul, voltou à França para promover a ideia de esta-
belecer ali uma colônia. Sua estada na região do Mara-
nhão tinha começado por um acidente: o capitão Jacques 
Riffault, que fazia viagens regulares à região havia alguns 
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anos, perdera ali um de seus navios e fora obrigado a dei-
xar parte de sua população. Des Vaux foi um dos que fi-
caram com a gente de Uirapive – chefe tupi com quem 
Riffault tinha selado aliança – e tinha vários argumentos 
para convencer o rei Henrique IV a fundar uma colônia no 
Maranhão. A região estava “vazia” – como diziam – de 
ocupação europeia. Os franceses contavam com a aliança 
com os nativos, que já haviam declarado a Des Vaux sua 
disposição de receber mais deles em suas terras. Além dis-
so, o lugar proposto, bem próximo da linha equinocial, 
ou Equador, tinha um clima abençoado, de temperaturas 
constantemente amenas, com muito sol e fartas riquezas, 
além de muitas terras férteis, regularmente regadas por 
chuvas e cortadas por grandes rios de água límpida. Uma 
colônia ali tinha tudo para prosperar e só poderia contri-
buir para grandeza do reino de França […]
PERRONE-MOISÉS, Beatriz. Lírios florescem no Reino do Sol. Revista 
de História da Biblioteca Nacional. Ano 5, n. 49, out. 2009. p. 25
Texto complementar 2
Celso Furtado, em sua obra clássica Formação econômi-
ca do Brasil, analisa a expansão da pecuária como reflexo do 
crescimento da economia açucareira e investiga sua capacida-
de de crescimento.
[…] Que possibilidades de crescimento apresentava 
esse novo sistema econômico que surgira como um refle-
xo da atividade açucareira? A condição fundamental de 
sua existência e expansão era a disponibilidade de terras. 
Dada a natureza dos pastos do sertão nordestino, a carga 
que suportava essas terras era extremamente baixa. Daí a 
rapidez com que os rebanhos penetraram no interior, cru-
zando o São Francisco e alcançando o Tocantins e, para o 
norte, o Maranhão no começo do século XVII. […] 
No que respeita à disponibilidade de capacidade 
empresarial, a expansão criatória não parece ter encon-
trado obstáculos. Essa atividade apresentava para o co-
lono sem recursos muito mais atrativos que as ocupações 
acessíveis na economia açucareira. Aquele que não dis-
punha de recursos para iniciar por conta própria a cria-
ção tinha a possibilidade de efetuar a acumulação inicial 
trabalhando numa fazenda de gado. […] o homem que 
trabalhava na fazenda de criação durante um certo nú-
mero de anos (quatro ou cinco) tinha direito a uma parti-
cipação (uma cria em quatro) no rebanho em formação, 
podendo assim iniciar criação por conta própria.[…]
Sendo a criação nordestina uma atividade dependen-
te da economia açucareira, em princípio era a expansão 
desta que comandava o desenvolvimento daquela. A eta-
pa de rápida expansão da produção de açúcar, que vai 
até a metade do século XVII, teve como contrapartida a 
grande penetração dos sertões. […] A expansão pecuária 
consiste simplesmente no aumento dos rebanhos e na in-
corporação – em escala reduzida – de mão de obra. A pos-
sibilidade de crescimento extensivo exclui qualquer preo-
cupação de melhora de rendimentos. 
[…] é necessário ter em conta que a criação de gado 
também era em grande medida uma atividade de subsis-
tência, sendo fonte quase única de alimentos, e de uma 
matéria-prima (o couro) que se utilizava praticamente 
para tudo. 
[…] Muito ao contrário do que ocorria com a açuca-
reira, a economia criatória não dependia de gastos mone-
tários no processo de reposição do capital e de expansão 
da capacidade produtiva. 
[…] A expansão do sistema era, aí, um processo en-
dógeno, resultante do aumento vegetativo da população 
animal […]. Sem embargo, se a procura de gado na região 
litorânea não estava aumentando num ritmo adequado, o 
crescimento do sistema pecuário se fazia através do au-
mento relativo do setor de subsistência. […]
FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. 
São Paulo: Nacional, 1961. p. 58-62.
Sugestões de leitura
BRANDÃO, Tanya Maria Pires. O escravo na formação social do 
Piauí: perspectiva histórica do século XVIII. Teresina: Universida-
de Federal do Piauí, 1999.
MARIZ, Vasco; PROVENÇAL,Lucien. Villegagnon e a França 
Antártica. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Biblioteca do Exér-
cito, 2000.
Sugestões de sites
A cartografia do Brasil nas coleções da Biblioteca Nacional 
– Mais de 300 mapas do Brasil produzidos entre 1700 e 1822. 
Disponível em: <http://purl.pt/103/1/catalogo-digital/apresen-
tacao.html>. Acesso em: 12 dez. 2012. 
Nova cartografia social da Amazônia – Fruto do trabalho 
coletivo entre pesquisadores acadêmicos e as comunidades 
tradicionais da Amazônia, fornece mapeamentos sobre os fe-
nômenos socioeconômicos ocorridos na região. Disponível em: 
<www.novacartografiasocial.com/>. Acesso em: 12 dez. 2012.
Organizando aS iDEiaS
1. Sob as ordens do rei francês, Henrique II, a França Antár tica 
foi fundada, em 1555, pelo almirante Nicolas de Villegaignon 
que chegou à baía de Guanabara (atual estado do Rio de 
Janeiro) com 130 colonos, muitos dos quais protestantes. 
A princípio, eles se estabeleceram na ilha de Serijipe (atual 
ilha Villegaignon), habitada pelo povo indígena Tamoio, e 
fundaram o povoado de Henriville em frente à ilha. O des-
gaste das relações entre os colonos e Villegaignon levou-o 
de volta à França em 1559. Em 1560, portugueses e indí-
genas aliados fizeram uma primeira tentativa para recuperar 
as terras ocupadas pelos franceses e conseguiram destruir 
Henriville. Os franceses, com a ajuda dos Tamoio, consegui-
ram se reorganizar e se manter no que restava da cidade. 
Sob a liderança de Estácio de Sá, irmão do governador-ge-
ral, Mem de Sá, os portugueses fundaram, em 1565, um 
arraial na baía de Guanabara, de onde lançaram sucessi-
vos ataques contra os franceses. Os indígenas que apoiavam 
cada um dos lados foram os mais vitimados nessas lutas 
que duraram até 1567, quando os portugueses consegui-
ram destruir a França Antártica, expulsar os franceses e es-
cravizar mais de mil indígenas do povo Tamoio. 
2. Em 1612, Daniel de La Touche chegou ao atual litoral do Ma-
ranhão com quinhentos homens e fundou o forte e a cidade 
de São Luís, chamados de França Equinocial. Para combater 
os franceses, foi enviado o português Jerônimo de Albuquer-
que, da capitania de Pernambuco, comandando uma tropa 
de brancos, negros, indígenas e mestiços. Em 1615, os fran-
ceses foram expulsos definitivamente da região.
3. Os Tamoio tornaram-se aliados dos franceses, que fundaram 
a França Antártica, na baía de Guanabara, em 1555. Quan-
do os portugueses, em 1559, tentaram expulsar os france-
ses, os Tamoio ajudaram-nos a se refugiar na floresta e, pos-
teriormente, a reconstruir a vila francesa, Henriville. Naquele 
momento, os Tamoio se reuniram a outros povos indígenas 
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326 Manual do Professor
(Tupinambá, Goitacá e Carijó) e lideraram a Confederação 
dos Tamoios para resistir à colonização portuguesa no litoral 
de São Vicente. Em 1563, os jesuítas Manuel da Nóbrega e 
José de Anchieta acertaram uma trégua entre os portugue-
ses e os nativos sublevados da Confederação, o que, embo-
ra momentaneamente, enfraqueceu os franceses da França 
Antártica e facilitou a vitória dos portugueses. 
4. No final do século XVI, era crescente o assédio de holande-
ses, ingleses e franceses interessados em conquistar terri-
tórios na parte mais ao norte do atual território brasileiro. 
Diante dessa situação, o governo da União Ibérica (formado 
em 1580) estimulou a colonização dessas terras. Para tan-
to, foram fundadas cidades, como João Pessoa e Natal, e 
construídas fortificações para impedir a presença estrangei-
ra. Nos primeiros anos do século XVII, o governo da União 
Ibérica fundou cidades e construiu fortes na região amazô-
nica, dando origem a cidades como Belém e Manaus. E, em 
1621, para tentar aumentar o controle contra as investidas 
estrangeiras, dividiu as terras da colônia portuguesa em dois 
estados: do Maranhão, com capital em São Luís, e do Brasil, 
com capital em Salvador.
5. O gado era utilizado nos engenhos como força de tração 
no transporte de cana-de-açúcar, para mover moendas nos 
engenhos e para arar a terra. Com o tempo, carne e leite 
bovinos tornaram-se uma das principais fontes de alimenta-
ção dos colonos. No entanto, como os rebanhos eram cria-
dos soltos, reproduziam-se sem controle e começaram a 
destruir plantações, derrubar cercas e invadir propriedades. 
Para solucionar esse problema, em 1701, o Governo-Geral 
determinou que a criação de gado bovino fosse feita a uma 
distância mínima de dez léguas (cerca de 66 quilômetros) 
do litoral, o que provocou a interiorização da pecuária, am-
pliando as fronteiras da colônia. A criação de gado irradiou-
-se para o Agreste e para o Sertão do Nordeste a partir dos 
atuais estados da Bahia e de Pernambuco. As fazendas de 
gado deram origem a muitos municípios do sertão: em tor-
no delas surgiram pequenas vilas, que aos poucos ganha-
ram vida própria e se transformaram em cidades.
6. Assim como em várias outras regiões colonizadas pelos por-
tugueses, a ocupação do interior nordestino também não 
foi pacífica, pois os indígenas que habitavam a região se 
opuseram à usurpação de suas terras. Para acabar com a 
resistência indígena, o Governo-Geral e os grandes fazen-
deiros contrataram sertanistas de São Paulo, que recebiam 
como garantia de pagamento pelo trabalho, inclusive, o 
aprisionamento dos indígenas expulsos. Nesse processo, mi-
lhares de índios foram mortos ou escravizados. As terras das 
quais os indígenas foram expulsos acabaram cedidas aos fa-
zendeiros que patrocinaram sua desocupação, o que contri-
buiu para uma enorme concentração territorial na região.
7. Nas fazendas de gado, os responsáveis pelos rebanhos eram 
os vaqueiros. Os fábricas eram seus auxiliares, trabalhado-
res livres, remunerados mensalmente ou anualmente. Eles 
guiavam a boiada à procura de pastagens e dirigiam e par-
ticipavam de outras atividades juntamente com os escravos, 
como queimar o campo para a plantação, amansar e marcar 
os animais com ferro em brasa e tratar dos animais doentes.
8. Por mais de duzentos anos, o cultivo de tabaco foi a se-
gunda mais importante atividade agrícola da colônia portu-
guesa da América, perdendo apenas para o plantio da ca-
na-de-açúcar. Foi cultivado principalmente nas regiões do 
Recôncavo Baiano e em Pernambuco. Inicialmente, por ser 
um produto de fácil plantio, que necessitava de pouca terra 
e pouca mão de obra, era uma importante fonte de renda 
para as populações mais pobres, que o cultivavam de forma 
caseira. A partir do século XVII, com o aumento do interesse 
comercial no exterior, grandes proprietários de terras e es-
cravos começaram a plantá-lo. O tabaco era comercializado 
em forma de rapé nas Índias e também servia aos trafican-
tes de escravos como moeda de troca para a aquisição de 
cativos na África. 
9. Os dois aspectos que revelam claramente características do 
início do século XX, quando o quadro foi pintado, são: a 
presença da seringueira no centro da pintura, dividindo os 
dois momentos da cena da fundação de Belém, e o forte, 
representado como uma construção de pedra (e não de ma-
deira, como indicam os documentos históricos). A seringuei-
ra é uma alusão à exploração do látex em larga escala e à 
produção de borracha, atividades que só ganham destaque 
no início do século XX. A representação do forte como uma 
construção de pedra atribui certa imponência ao marco de 
fundação da cidade, sugerindo que a importância de Belém 
já estava anunciada em suas origens.
Interpretando DOCUMENTOS
1. O autor afirma que os portugueses, para convencer o gover-
nador a ordenar a guerra, “exageraram” a situação vivida 
com os indígenas. Segundo o padre Nantes, não seria ne-
cessário que isso ocorresse.
2. Os portugueses tinham notícias que outros conflitos com 
os “selvagens”, isto é, os indígenas, haviam resultado num 
grande número de nativos aprisionados como escravos. Por 
isso, eles acreditavam que, em um novo conflito, eles ga-
nhariam com a escravização dos cariris.3. Segundo o padre Nantes, o governador fora enganado pelos 
portugueses que queriam guerrear contra os indígenas a fim 
de torná-los escravos. Como as distâncias eram enormes, o 
governador agia a partir das informações que lhe chegavam 
até a sede do Governo-Geral. Se os portugueses, como diz o 
texto, “exagerassem” na narrativa da violência indígena, o 
governador decidiria por decretar a guerra contra as aldeias.
O texto do capítulo informa que diversas guerras contra os 
indígenas foram estimuladas pelo governador-geral e pelos 
fazendeiros e que havia outros interesses (relacionados à 
colonização e à posse das terras) na expulsão e no extermí-
nio dos nativos do Sertão nordestino.
4. Resposta pessoal. No entanto, pode ser que os alunos men-
cionem já ter ouvido essa versão da colonização no Brasil en-
tre outras pessoas, nos meios de comunicação ou mesmo em 
livros. De certa forma, trata-se de uma explicação simples e 
superficial sobre o “caráter do povo brasileiro”, usada para 
explicar, por exemplo, nossa índole pacífica ou nosso desen-
volvimento (decorrente da nossa descendência portuguesa, 
e não inglesa). De fato, para a América portuguesa (assim 
como para outras colônias portuguesas na África) eram en-
viados prisioneiros europeus, condenados ao degredo pela 
justiça comum ou pelo tribunal do Santo Ofício (ou seja, eram 
protestantes cujo crime se resumia a não serem católicos, 
como queria a Igreja católica, na época). No entanto, a noção 
de crime era muito vasta e envolvia diversas práticas sociais 
condenadas legalmente. Por isso, não significa que apenas 
“habitantes viciosos” tenham colonizado o território portu-
guês na América. Um indivíduo podia ser preso e condenado 
ao degredo, por exemplo, pela suspeita de heresia ou prática 
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327Manual do Professor
religiosa proibida, pelo roubo de alimentos, por conflito mal 
resolvido com um nobre ou pelo não pagamento de impos-
tos. Quando se analisa o discurso do padre Nantes percebe-
-se um julgamento moral e religioso e não uma reflexão jurí-
dica, pois ele considera que qualquer pessoa que tenha sido 
condenada é uma pessoa que praticará atos ilegais, não terá 
escrúpulos em mentir, etc. No texto do capítulo, é destacada 
que a captura ou a morte de indígenas pelos portugueses ti-
nham motivações econômicas importantes: a ocupação das 
terras do sertão nordestino e a utilização do trabalho escravo 
indígena na região do atual estado de São Paulo.
Hora DE rEFlETir
O registro na Carteira de Trabalho é o principal elemen-
to para saber se um trabalhador tem ou não acesso às leis 
trabalhistas.
De acordo com dados do Ministério do Trabalho e Empre-
go, 27% dos trabalhadores das regiões metropolitanas brasilei-
ras não têm carteira assinada, número que, no campo, chega 
a 92%. O próprio Ministério admite que os dados numéricos 
relativos ao campo possam estar superestimados, pois muitos 
agricultores trabalham em suas próprias terras. Ainda assim, o 
descumprimento das leis trabalhistas é bem mais comum na 
zona rural, onde é mais habitual o uso de mão de obra escra-
va e infantil. Nas cidades também ocorrem situações de des-
respeito aos direitos trabalhistas. Mesmo quando há registro 
em carteira, é comum o não pagamento de horas extras, por 
exemplo. A falta de registro se dá principalmente no caso dos 
trabalhadores domésticos, da construção civil e imigrantes es-
trangeiros em situação ilegal.
Professor, a atividade solicita dos alunos a organização de 
dados estatísticos e a apresentação desses dados. É importan-
te, por isso, que eles sejam orientados a organizar os dados de 
modo claro e objetivo. O tratamento da informação, em gráfi-
cos e tabelas, vem sendo cada vez mais utilizado, em especial 
pela historiografia econômica. Se necessário, você pode solici-
tar uma parceria com o professor de Matemática.
Capítulo 10
O Nordeste sob domínio holandês
Conteúdos e procedimentos sugeridos
Esse capítulo aborda o período de domínio holandês em 
terras coloniais portuguesas no atual Nordeste brasileiro. As 
ações de ocupação holandesa são analisadas com base na 
sua inserção no conjunto das relações mundiais do período, a 
fim de permitir uma reflexão sobre seus desdobramentos his-
tóricos. Além disso, o capítulo trata também da Insurreição 
Pernambucana, que culminou com a expulsão dos holande-
ses da região.
Ao longo do capítulo é mantido o foco no lucrativo co-
mércio do açúcar, retomando aspectos já abordados em capí-
tulos anteriores. Por meio das dimensões político-econômicas, 
são tratadas as motivações holandesas para as “invasões” do 
território na América: por um lado, elas atendem a um interes-
se econômico evidente – explorar o comércio açucareiro – e, 
por outro, o aspecto político de formação da União Ibérica foi 
o fator que determinou a invasão holandesa. 
A leitura do mapa O Nordeste holandês (p. 91) pode aju-
dar a perceber a extensa ocupação holandesa nas terras ame-
ricanas e a constatar que a derrota em Salvador, embora im-
portante, não foi suficiente para diminuir os interesses dos 
holandeses, os quais passam, então, a conquistar várias exten-
sões da região do litoral nordestino brasileiro atual. Para essa 
conquista, o governo holandês valeu-se de estratégias distin-
tas. A seção Patrimônio e diversidade (página 92), no texto 
Sergipe: tempo de resistência, exemplifica o processo de resis-
tência que os holandeses enfrentaram em algumas regiões. Al-
guns dos patrimônios materiais de cidades do atual estado de 
Sergipe têm sua origem no processo de reconstrução realizado 
após a expulsão dos holandeses da região. Já no atual estado 
de Pernambuco, devido ao apoio das elites produtoras de açú-
car (apoio, por sua vez, obtido por meio de leilões de engenhos 
confiscados e créditos, entre outros fatores), o governo holan-
dês, representado por Maurício de Nassau, conseguiu um rela-
tivo período de prosperidade e estabilidade. 
Na seção Interpretando documentos, por exemplo, é 
analisado um exemplo significativo da produção artística que 
teve incentivo do governo de Nassau, como forma de valo-
rizar a presença holandesa nas terras americanas. Veja texto 
complementar.
Em vários aspectos, a administração holandesa na colô-
nia demonstrou diferentes modos de governo, em compara-
ção com os luso-espanhóis, por exemplo, liberdade de cren-
ça religiosa e vultosos investimentos urbanísticos, artísticos e 
científicos. Por sua vez, em um aspecto especificamente, ela 
mostrou-se muito semelhante: as relações de trabalho. A ad-
ministração holandesa manteve nas terras que ocupava a ex-
ploração do trabalho escravo. Além de manter esse mesmo 
modelo nas terras da América, as disputas envolvendo holan-
deses e luso-espanhóis nas regiões africanas fornecedoras de 
mão de obra escrava são uma evidência dos interesses mer-
cantis que ligavam os dois governos. Na seção Hora de refle-
tir (página 94), os alunos têm a possibilidade de analisar, com 
base nesses fatos do passado, algumas questões referentes 
ao mundo do trabalho contemporâneo, examinando se mu-
danças econômicas e/ou políticas podem resultar em mudan-
ças no modo de vida da população.
Finalmente, o capítulo destaca a importância que pessoas 
ou grupos geralmente excluídos daquela sociedade (por exem-
plo, alguns povos indígenas, escravos e ex-escravos) tiveram 
no processo que garantiu a Portugal a retomada da região, e 
que teve seu principal destaque na Insurreição Pernambucana.
Texto complementar
No trecho a seguir, Bia e Pedro Corrêa do Lago analisam 
a importância de Frans Post para a arte brasileira.
Frans Post não é só o primeiro pintor da paisagem 
brasileira, mas também o primeiro paisagista das Améri-
cas. Ele ocupa, para a arte brasileira, uma posição de im-
portância primordial como primeiro artista estrangeiro a 
descobrir nossa paisagem.
De fato, não é difícil imaginar a surpresa e fascínio 
de um jovem pintor de 25 anos, formado na escola de 
Haarlem, acostumadoaos céus baixos e à topografia pla-
na da Holanda, fascinado pela natureza exuberante, re-
velando a fauna e a flora sob uma nova luz, tendo diante 
de si raças que descobre ao desembarcar em Pernambu-
co. A Vista de Itamaracá, feita por Post dois meses após 
sua chegada, em 1637, é o primeiro quadro a óleo de 
tema profano executado por um artista profissional nas 
Américas.
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