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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC-SP Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde Marlene Moraes Rosa Chinelato Teste de progresso: a percepção do discente de Medicina Mestrado Profissional em Educação nas Profissões da Saúde SOROCABA 2018 Marlene Moraes Rosa Chinelato Teste de progresso: a percepção do discente de Medicina Trabalho final apresentado à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência para obtenção do título de MESTRE PROFISSIONAL em Educação nas Profissões da Saúde, sob a orientação da Prof. Dr. José Eduardo Martinez. SOROCABA 2018 ERRATA CHINELATO, Marlene M.R. Teste de progresso: a percepção do discente de Medicina. 09/02/2018 Dissertação (Mestrado Profissional em Educação nas Profissões da Saúde) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2018. Folha Linha Onde se lê Leia-se 29 5º Foram utilizadas duas perguntas Foram utilizadas quatro perguntas 29 16º Análise de Conteúdo, segundo os conceitos de Bardin.45 Análise de Conteúdo, na modalidade temática, segundo os conceitos de Bardin.45 30 13º dos resultados – a inferência e interpretação. ... dos resultados – a inferência e interpretação. Nesta fase faz-se a análise, propriamente dita, dos conteúdos explícitos e ocultos contidos no material coletado – “corpus” da pesquisa. 31 4º idade entre 22 e 32 anos e idade média de 23,42 anos idade entre 22 e 32 anos e média de 23,10 ± 3,08 anos 31 6º idade entre 22 e 29 anos e idade média de 24,57 idade entre 22 e 29 anos e média de 24,85 ± 1,96 anos Folha Linha Onde se lê Leia-se 31 15º 1. Condições inadequadas; 1. As condições são inadequadas para realizar o TP. 32 Q. 1 33 2º 31 16º 2. TP como ferramenta pedagógica. 2. O TP como ferramenta pedagógica precisa ser aprimorado. 32 Q. 1 35 22º 31 17º 3. Sentimentos antagônicos. 3. A participação no TP determina sentimentos antagônicos. 32 Q. 1 37 21º Banca Examinadora _______________________________ _______________________________ _______________________________ "Sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino". Paulo Freire 1 “Por si, a avaliação, como dissemos, é inclusiva e, por isso mesmo, democrática e amorosa. Por ela, por onde quer que se passe, não há exclusão, mas sim diagnóstico e construção. Não há submissão, mas sim liberdade. Não há medo, mas sim espontaneidade e busca. Não há chegada definitiva, mas sim travessia permanente, em busca do melhor. Sempre!” Cipriano Carlos Luckesi 2 DEDICATÓRIA Ao José Antonio, meu companheiro de jornada, por seu apoio e compreensão. À Juliana, minha filha, motivo de alegria e sentido para o meu viver. Aos meus pais Elza e Henrique, que me ensinarem a ter fé e a acreditar que é possível. AGRADECIMENTOS À minha família, por todo amor e paciência; Ao meu orientador, pela oportunidade de realizar esta pesquisa; À Coordenação do curso de Medicina da UNIFEV, pelo incentivo; As minhas amigas de NDE, pelo apoio constante; Aos meus colegas de mestrado, pelo companheirismo; Aos bibliotecários da PUC SP, pelo valioso auxílio; À secretária da pós-graduação, pela atenção e assistência; Aos alunos, pelo aprendizado que me proporcionam; Aos meus amigos, que me apoiaram e incentivaram; Aos membros da banca de qualificação, pelas contribuições; Ào Centro Universitário de Votuporanga, pela bolsa de PIQCD; À Deus, pelo dom da minha vida, e às daqueles que dão sentido a ela. LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Categorias e subcategorias resultantes dos grupos focais ....................... 32 Quadro 2 - Subcategorias e unidades de contexto da categoria n.3 ........................... 32 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABP ABEM AMEE ANASEM CEP CPA DCN ECI ENADE FACLE GF GF 1 GF 2 MEC N. NAI NDE PIESC PL PUC-SP SINAES THAM TCLE TP UMKC UNIFEV UFRGS Aprendizagem Baseada em Problemas Associação Brasileira de Educação Médica Association for Medical Education in Europe Avaliação Nacional Seriada dos Estudantes de Medicina Comitê de Ética e Pesquisa com seres humanos Comissão Própria de Avaliação Diretrizes Curriculares Nacionais Estudo de Caso Integrado Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes Faculdade de Ciências e Letras de Votuporanga Grupo Focal Grupo Focal 1 realizado com discentes do quinto período Grupo Focal 2 realizado com discentes do oitavo período Ministério da Educação Número de identificação do discente participante do grupo focal Núcleo de Avaliação Interinstitucional Núcleo Docente Estruturante Prática de Integração Ensino Serviço Comunidade Práticas Laboratoriais Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior Treinamento de Habilidades e Atitudes Médicas Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Teste de Progresso University of Missouri-Kansas City Centro Universitário de Votuporanga Universidade Federal do Rio Grande do Sul RESUMO Chinelato M.M.R., Martinez J.E. Teste de progresso: a percepção do discente de Medicina. Objetivo: Esta pesquisa descritiva de abordagem qualitativa objetivou analisar a percepção dos estudantes do curso de graduação de Medicina de um Centro Universitário do noroeste paulista sobre o seu desempenho no Teste de Progresso, bem como o impacto desta percepção em curto prazo e, a partir disto, propor ações de ajustes para o melhoramento contínuo do processo ensino-aprendizagem. A amostra de conveniência foi constituída por vinte participantes após aprovação da pesquisa no Comitê de Ética em Pesquisa. Utilizou-se a técnica de grupos focais em dois momentos distintos para coletar os dados qualitativos. A análise de conteúdo dos grupos focais fundamentou-se em Bardin (2011). Resultados: Participaram do primeiro grupo focal dez estudantes do quinto período e do segundo grupo, dez estudantes do oitavo período. A análise de conteúdo das entrevistas resultou na identificação de três categorias: 1. Condições inadequadas; 2. TP como ferramenta pedagógica; 3. Sentimentos antagônicos. Conclusão: Os estudantes entrevistados consideram o Teste de Progresso uma “ferramenta pedagógica” relevante que permite a autoavaliação e a correção das lacunas de aprendizagem. Entretanto, os resultados de desempenho do TP e o feedback recebido determinam sentimentos antagônicos, de acordo com o período que estão cursando, de frustração para os alunos de quinto período e de segurança para os alunos do oitavo período. O impacto determinado pelo desempenho no TP, a curto prazo, não promoveu mudanças no plano de estudo dos estudantes entrevistados. É preciso considerar estratégias para a entrega do feedback formativo, que permita a discussão das questões e dos resultados do curso/turmas, de forma reflexiva, potencializando o processo ensino-aprendizagem. Palavras-chaves: Educação Médica, Abordagens de aprendizagem, Teste de Progresso, Métodos de avaliação. ABSTRACT Chinelato M.M.R., Martinez J.E. Progress Test:the perception of the medical student. Objective: This descriptive research of qualitative approach aimed to analyze the students ' perception of the undergraduate course of Medicine of a University Center in the northwest Paulista about their performance in the progress test, as well as the impact of this perception in the short term and, from that, propose adjustments actions for the continuous improvement of the teaching-learning process.The sample of convenience was made up by twenty participants, after approval of the research at the Ethics Committee on Research. The technique of focal groups was applied in two distinct moments to collect the qualitative data. The content analysis of the focal groups was based on Bardin (2011). Results: Ten students of the fifth period took part in the first focal group and ten students of the eighth period took part in the second group. The analysis of the content of the interviews resulted in the identification of three categories:1. Inappropriate conditions; 2.PT as a pedagogical tool; 3. Antagonistic feelings. Conclusion: The students that were interviewed consider the ProgressTest a relevant "pedagogical tool" that allows self-assessment and correction of learning gaps.&n bsp; However, the performance results of PT and the received feedback determine antagonistic feelings according to the period they are taking, of frustration for the fifth period students and security for the students of the eighth period. The impact determined by the performance in the short-term PT did not promote changes in the study plan of the students that were interviewed. It is necessary to implement strategies for the delivery of the formative feedback in a reflexive way, which allows the discussion of the issues and the results of the course/classes enhancing the teaching-learning process. Key-Words: Medical education, problem-based learning, progress test, evaluation methods. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 15 1.1 Avaliação da aprendizagem ............................................................................. 16 1.2 Avaliação da aprendizagem no Curso de Medicina da UNIFEV .................... 17 1.3 Avaliação do curso ........................................................................................... 19 1.4 Teste de Progresso ........................................................................................... 20 1.5 Teste de progresso do curso de medicina da UNIFEV .................................. 22 2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 25 2.1 Objetivo Geral .................................................................................................... 25 2.2 Objetivos Específicos ....................................................................................... 25 3 MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................................... 26 3.1 População, Amostra e Local de Estudo .......................................................... 26 3.2 Aspectos Éticos ................................................................................................ 26 3.3 Grupo focal na pesquisa qualitativa ................................................................ 26 3.4 Composição dos grupos focais ....................................................................... 27 3.5 Local de realização dos grupos focais ............................................................ 27 3.6 Forma de condução dos grupos focais ........................................................... 27 3.7 Questões norteadoras ...................................................................................... 29 3.8 Procedimento de análise de dados ................................................................. 29 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 31 4.1 Caracterização Sócio Demográfica ................................................................. 31 4.2 Categorização do discurso do grupo focal ..................................................... 31 4.3 Compreendendo as categorias identificadas ................................................. 33 4.3.1 Condições inadequadas ................................................................................... 33 4.3.1.1 A prova é muito extensa ................................................................................ 33 4.3.1.2 O tempo é insuficiente ................................................................................... 34 4.3.1.3 Época da aplicação ....................................................................................... 34 4.3.2 Teste de Progresso como ferramenta pedagógica ........................................... 35 4.3.2.1 Realizar com mais frequência ....................................................................... 36 4.3.2.2 Disponibilizar “feedback” com especificidade ................................................ 36 4.3.3 Sentimentos antagônicos ................................................................................. 37 4.3.3.1 Frustração ..................................................................................................... 38 4.3.3.2 Segurança ..................................................................................................... 39 4.4 Ações propostas ............................................................................................... 40 4.4.1 Melhorar as condições de aplicação do TP ...................................................... 40 4.4.2 Otimizar o uso do TP como ferramenta pedagógica ...................................... 40 4.4.3 Diminuir o sentimento de frustração discente em relação ao TP ..................... 41 5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 42 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 43 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 44 APÊNDICE A - Transcrição do grupo focal 1 ........................................................ 48 APÊNDICE B - Transcrição do grupo focal 2 ........................................................ 54 Apêndice C - Termo de Consentimento Livre Esclarecido .................................. 59 Anexo 1 - Parecer Consubstanciado do CEP ....................................................... 61 APRESENTAÇÃO Por que retornar à vida acadêmica depois de tantos anos atuando como pediatra assistencial? Cursar Medicina foi a concretização de um sonho de infância e, durante o internato médico, vivenciar o trabalho em equipe e o vínculo dos profissionais, médicos e enfermeiros, com seus pacientes foi um diferencial importante para a identificação com a pediatria e sua escolha como área clínica para atuação. Assim, a formação profissional teve continuidade por meio da residência médica em pediatria pela Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo nos anos de 1987 e de 1988. Em seguida, a especialização em nefrologia pediátrica iniciou-se na Santa Casa de São Paulo, onde o trabalho como médica assistente teve sequência até o ano de 1995. Na Santa Casa de São Paulo, o convívio com internos e residentes, o exemplo de dinamismo e de determinação do Prof. Dr. Júlio Toporovski, chefe do departamento de pediatria, e seu permanente estímulo para o desenvolvimento docente dos médicos assistentes e para a realização de pesquisas clínicas foram determinantes para iniciar o mestrado naquela instituição. Próximo à conclusão da pesquisa de campo e com os créditos necessários cursados, a mudança para o interior do estado e a distânciada capital exigiram o afastamento das atividades do mestrado. Por quase 20 anos houve a dedicação exclusivamente à prática assistencial na rede pública e em consultório particular. Nesse período, o intenso crescimento e desenvolvimento de Votuporanga tornou a cidade referência nacional em gestão pública e serviços de saúde locais, com significativa melhora da assistência em todos os níveis de atenção à saúde.3 Apoiados na melhoria da infraestrutura local de saúde, mobilização política e social, o Centro Universitário de Votuporanga (UNIFEV) solicitou a abertura do Curso de Graduação em Medicina que foi autorizado em de 2012 pelo Ministério da Educação.4 Em 2013, ao se iniciar o terceiro período da primeira turma do Curso de Medicina da UNIFEV, houve o convite pelo coordenador, Prof. Dr. João Damasceno, para participar do processo seletivo para tutoria destes alunos. Assim, aconteceu o retorno à docência e à academia. Em seguida, estimulada pelo Núcleo Docente Estruturante (NDE) do curso, com outras docentes, deu-se início a uma especialização à distância em Docência em Saúde, no programa EducaSaúde do Ministério da Saúde e Educação, realizada pela UFRGS. Esta especialização proporcionou, além de subsídios para a prática docente, uma reflexão sobre a necessidade de se quebrar paradigmas e de continuar o processo de formação profissional. Dessa forma, em 2015, após o Prof. Mauro Esteves Hernandes assumir a coordenação do curso de Medicina da UNIFEV e fazer o convite para colaborar como coordenadora adjunta, no trabalho de implantação do curso, o Mestrado Profissional em Educação nas Profissões da Saúde foi o modo de buscar a capacitação. 15 1 INTRODUÇÃO O Centro Universitário de Votuporanga - UNIFEV é uma instituição comunitária de Ensino Superior, sem fins lucrativos, mantida pela Fundação Educacional de Votuporanga, a qual surgiu em 1966, quando a Lei Municipal Nº 751 criou, em regime de Autarquia Municipal, a Faculdade de Ciências e Letras de Votuporanga (FACLE). Em 1997, foi credenciado o Centro Universitário de Votuporanga, que oferece, aproximadamente, 40 cursos de graduação, nas diferentes áreas do conhecimento e tem como missão “Educar com excelência para o desenvolvimento pessoal e social”. Conforme dados divulgados pelo Ministério da Educação (MEC) por meio do Índice Geral de Cursos, em 2015 a UNIFEV obteve o título de melhor Centro Universitário do interior paulista, 2º melhor do Estado de São Paulo e 5º melhor do Brasil. O Curso de Medicina da UNIFEV foi autorizado a ser ministrado com 60 vagas anuais por meio da Portaria 75, de 5 de junho de 2012 SERES/MEC. Em agosto de 2017, ingressou a sexta turma. A formação médica, alvo de críticas nas últimas três décadas, segundo Gomes e Rego, devido às características curriculares Flexnerianas, está em processo de transformação,5 o qual pode ser evidenciado nas reformas curriculares, desde a publicação das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) de 2001, quando o Ministério da Educação e Cultura, por meio do Conselho Nacional de Saúde / Centro de Ensino Superior, propôs aos cursos de Medicina um currículo baseado em competências e estabeleceu diretrizes. As novas DCN de Graduação em Medicina, homologadas em 2014, apontam a necessidade de um currículo que utilize metodologias ativas.6 O Curso de Medicina da UNIFEV utiliza como referencial para a construção e a implementação de seu currículo o modelo de competência profissional canadense -CanMeds, 2005,7 com o conteúdo curricular da matriz do Revalida (Brasil, 2014),8 distribuída em quatro ou cinco unidades curriculares semestrais, organizadas de acordo com os ciclos de vida. As unidades curriculares: Módulo Tutorial, Treinamento de Habilidades e Atitudes Médicas (THAM), Prática de Integração Ensino Serviço Comunidade (PIESC), Estudo de Caso Integrado (ECI) e Práticas Laboratoriais (PL), apresentam uma organização lógica, que favorece a transdisciplinaridade e a intersetorialidade, 16 desenvolvidas por meio de diferentes estratégias de métodos ativos de ensino- aprendizagem, dentre as quais estão a Aprendizagem Baseada em Problemas, Aprendizagem Baseada em Projetos, Aprendizagem Baseada em Equipes e Caso Motivador. 1.1 Avaliação da aprendizagem A aprendizagem requer assimilação, interpretação do conteúdo e raciocínio de como aplicar esse conhecimento à prática do indivíduo.9 Para o filósofo americano John Dewey, a aquisição de conhecimento ou de significados só acontece quando a experiência possibilita uma atividade reflexiva (pensamento reflexivo). A experiência deve estimular o estudante a utilizar diferentes processos mentais - formas de pensar e de criar soluções, por meio do exercício cognitivo e prático. Este autor desenvolveu teorias pedagógicas progressistas, nas quais o estudante é sujeito ativo no processo de aprendizagem.10 A avaliação, no contexto educacional, é entendida como um processo que oferece informações sobre o grau de aproximação entre as metas ou os objetivos educacionais propostos e seu alcance (aprendizagem), e visa dimensionar o progresso dos alunos ao longo do curso e determinar sua promoção. Considera-se que a avaliação é formativa se a sua finalidade é ajudar nas decisões sobre a melhor forma de dinamizar a aprendizagem ou somativa, caso o objetivo consista em sintetizar a aprendizagem até o momento da avaliação para classificar, certificar ou registrar o progresso. As características formativa ou somativa referem-se à função da avaliação e não ao método utilizado.9,11 Segundo Perrenoud:12 É formativa toda avaliação que ajuda o aluno a aprender e a se desenvolver, ou melhorar, que participa da regulação das aprendizagens e do desenvolvimento no sentido de um projeto educativo. Tal é a base de uma abordagem pragmática. Importa, claro, saber como a avaliação formativa ajuda o aluno a aprender, por que mediações ela retroage sobre os processos de aprendizagem. Todavia, no estágio da definição, pouco importam as modalidades: a avaliação formativa define-se por seus efeitos de regulação dos processos de aprendizagem. Dos efeitos buscar-se-á a intervenção que os produz e, antes ainda, as observações e as representações que orientam essa intervenção. (1998 p. 4) A avaliação formativa ou avaliação para aprendizagem também tem função diagnóstica, permite reconhecer a aprendizagem adquirida, identifica pontos fortes e 17 fracos do processo pedagógico, contribui para desenvolver, no estudante a capacidade de autoavaliação, além de promover motivação e nortear as tomadas de decisão quanto à necessidade de adaptações curriculares.11 A avaliação na educação médica envolve competências complexas e, portanto, requer informações quantitativas e qualitativas de diferentes fontes, bem como julgamento profissional,13 uma vez que esta deve permear o desenvolvimento das habilidades cognitivas como conhecimento, compreensão, crítica, organização, aplicação, análise e síntese; das habilidades afetivas como comportamento e capacidade de valoração; e, das habilidades psicomotoras como a capacidade de execução de procedimentos específicos à formação médica.14 Para tanto, é preciso utilizar avaliações somativas e formativas em diversas estratégias (avaliação escrita, oral, trabalhos, seminários, resenhas, exercícios, portfólio) de modo que as diferentes funções da avaliação possam conviver desde que, garantidos a coerência com o momento e os objetivos de sua proposição no processo educacional.13 O conhecimento é componente essencial da competência médica e um dos principais objetivos da educação médica;15 portanto, a aprendizagem deve ser avaliada de forma contínua e sistemática, e o resultado precisa ser compartilhado com o estudante, não apenas ser caracterizado como conceito/nota. É fundamental oferecer um “feedback” ao aprendiz, para que o processoavaliativo desempenhe uma dimensão orientadora.11,14 A avaliação, parte do processo ensino-aprendizagem, é necessária para determinar em que medida os objetivos educacionais estão sendo alcançados e a eficiência do currículo médico, além de ser um instrumento de aprendizagem, fundamental para o crescimento pessoal e profissional do estudante,9,13,15 o qual pode determinar sua promoção e verificar/acompanhar o seu progresso pelo currículo, ao longo do curso. 1.2 Avaliação da aprendizagem no Curso de Medicina da UNIFEV Considerando-se a avaliação do processo ensino-aprendizagem um ato educativo para promover a formação e o desenvolvimento do discente, o aprimoramento do trabalho docente e da organização dos conteúdos curriculares,2 as avaliações das unidades curriculares utilizam diferentes modalidades e 18 instrumentos de avaliação, coerentes com os métodos de ensino-aprendizagem. Estas diferentes estratégias de avaliação são elaboradas pelos docentes responsáveis pelas unidades curriculares em conjunto com o Núcleo Docente Estruturante (NDE) do curso.17 Na modalidade somativa, uma avaliação teórica estruturada com questões de múltipla escolha e/ou discursivas é realizada em todas as unidades curriculares, no mínimo, uma vez a cada bimestre. As unidades curriculares Práticas Laboratoriais utilizam avaliação somativa por meio de provas teórico-práticas das diferentes áreas básicas contempladas, as quais podem apresentar perguntas abertas e objetivas referentes a estruturas anatômicas, histológicas ou patológicas entre outras. Nas unidades curriculares Estudo de Caso Integrado, também são aplicadas avaliações diagnósticas parciais decorrentes das metodologias ativas utilizadas, como a Aprendizagem Baseada em Equipes. As questões dissertativas, após correção, são apresentadas ao aluno para verificação e constatação de seu desempenho, bem como dos critérios de avaliação utilizados pelo docente. A avaliação formativa é realizada nas unidades curriculares Módulo Tutorial, Treinamento de Habilidades e Atitudes Médicas (THAM) e Prática de Integração Ensino Serviço Comunidade (PIESC). Nos Módulos Tutoriais, a avaliação formativa é realizada ao final de todas as sessões tutoriais e avalia o desempenho discente na dinâmica do processo tutorial por meio de instrumento estruturado com dez prognosticadores17 que analisam os seguintes aspectos: exploração dos dados (chuva de ideias);18 colaboração na compreensão19,20 e esclarecimento da situação-problema ou caso;18,21 análise integradora das dimensões biológica, psicológica, social, ética e bioética quando pertinente;18,21 identificação das lacunas de conhecimento e levantamento de questões de aprendizagem enfatizando as necessidades de saúde;21,22 compartilhamento e discussão das informações para geração de novo conhecimento; análise crítica das informações e suas fontes;18 capacidade de síntese das informações obtidas;18 habilidade em fazer e receber críticas;18 realizar autoavaliação e avaliação dos pares e tutor/professor e, entre outros, a assiduidade.18 19 As Unidades Curriculares Treinamento de Habilidades e Atitudes Médicas possibilitam a utilização de vários recursos avaliativos formativos que podem incluir: instrumentos de avaliação de desempenho discente específicos aos diferentes cenários de prática do período em curso; avaliação do tipo Exame Clínico Objetivo Estruturado (OSCE - Objeticve Structured Clinical Examination),20 considerado padrão ouro para avaliação de competências médicas, porque não se restringe a um dado conhecimento específico, mas abrange a capacidade de exercê-lo, pois contempla competências como a comunicação clínica, o relacionamento médico- paciente-família-equipe de saúde, bem como aspectos bioéticos e ético-legais da prática médica. Os instrumentos de avaliação são elaborados segundo a especificidade do cenário clínico, com escores (satisfatório, insatisfatório ou não realizado) ou (adequado, inadequado ou não realizado) e descrição dos padrões esperados. Esta modalidade de avaliação permite um feedback imediato do desempenho discente, corroborando efetivamente à aprendizagem significativa.17 As Unidades Curriculares Prática de Integração Ensino-Serviço-Comunidade utilizam além da avaliação somativa, diversas modalidades como: avaliação formativa com instrumentos estruturados de avaliação de desempenho discente específicos aos diferentes cenários de prática; elaboração, apresentação/entrega de relatórios finais de projetos de intervenção ou científicos; diário reflexivo23 – a partir das vivências na unidade curricular, é requerido que os alunos façam anotações diárias de maneira reflexiva, pertinentes aos diferentes cenários vivenciados, também com finalidade de contextualização teórica. O processo de recuperação, opcional para o aluno, é oferecido por unidade curricular no final de cada bimestre letivo.17 1.3 Avaliação do curso Com a criação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES) pela Lei n° 10.861, de 14 de abril de 2004, a avaliação institucional se difundiu em diferentes dimensões de análise e passou a ser orientada por instrumentos oficiais, os quais incluem avaliação externa, autoavaliação institucional, ENADE (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes) e, por último, a ANASEM (Avaliação Nacional Seriada dos Estudantes de Medicina). Esse sistema 20 normatizou, no âmbito das instituições de educação superior, a Comissão Própria de Avaliação (CPA) que passou a coordenar os processos internos de avaliação.17 Na UNIFEV, a autoavaliação, contemplando aspectos pedagógicos, estruturais, técnicos, administrativos e acadêmicos, é periodicamente executada pelo NAI – Núcleo de Avaliação Institucional, que tem como objetivos a promoção da cultura de avaliação contínua, a garantia da qualidade na oferta do ensino, além de assegurar metodologia participativa e fomentar ações institucionais dirigidas pelos resultados.17 Concomitante às avaliações internas realizadas pelo NAI, o curso, que está em processo de implantação e tem projeto pedagógico com características inovadoras, realiza, desde 2015, o Teste de Progresso Interinstitucional com a finalidade de verificar a eficiência do programa, dos processos e das estratégias utilizadas para atingir os resultados propostos. A discussão dos resultados das avaliações internas e externas, no âmbito do curso, é realizada pelo Núcleo Docente Estruturante, pelo Colegiado de Curso e pelos docentes. Em acordo com política institucional do Centro Universitário de Votuporanga - UNIFEV, após análise, os dados obtidos são divulgados para orientar todos os envolvidos no processo educativo e nortear o planejamento e a execução das estratégias propostas a fim de manter os pontos fortes e corrigir as fragilidades detectadas. O corpo discente, de forma transparente e colegiada, pode opinar e auxiliar na melhoria do processo de ensino-aprendizagem.17 1.4 Teste de Progresso A implantação da Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP), estratégia pedagógica inovadora e formativa, que se caracteriza por fomentar a aprendizagem significativa,24,25 como base da estrutura curricular,26 inicialmente no ensino de Ciências da Saúde na McMaster University, Canadá, a partir de 1969 e, pouco depois, na Universidade de Maastricht, Holanda, foi uma das principais inovações da educação médica nas últimas décadas. Nesta metodologia, o aprendizado passa a ser centrado no aluno, o qual deixa de ser tido como receptor passivo, para ser agente e principal responsável pelo seu aprendizado.25 O professor não ensina da maneira tradicional, mas atua como mediador da aprendizagem, conduzindo um grupo de sete a dez alunos aos objetivos educacionais. 27–29 21 A necessidade de avaliar a consistência e o progresso do conhecimento adquirido ao longo do programapor meio da ABP, na década de 1970, foi introduzida simultaneamente e de forma independente, nos cursos de Medicina da Kansas City Medical School da Universidade de Missouri (USA) e pela, então, University of Limburg, hoje Universidade de Maastricht (Holanda), uma avaliação longitudinal, sem caráter de aprovação, reprovação ou classificação, denominada Teste de Progresso (TP).29,30 A avaliação no formato proposto pelo Teste de Progresso em Medicina tem o objetivo de avaliar o desenvolvimento cognitivo dos estudantes e utiliza,31 habitualmente, questões objetivas de múltipla escolha construídas a partir dos conteúdos que compõem a matriz curricular do curso e é aplicada, simultaneamente e com a mesma composição, a todos os estudantes, do primeiro ao último período curricular, refletindo o conteúdo final do curso.24 Desde então, várias outras escolas de Medicina passaram a utilizar esse método de avaliação de forma isolada, ou em associação colaborativa, quando o mesmo teste é aplicado às escolas parceiras, ao mesmo tempo. O TP é utilizado em quase todos os continentes, exceto na Antártica, e envolve regiões tão diversas como África do Sul, Ásia, vários países da Europa, Oriente Médio, América do Norte e do Sul, Nova Zelândia e Austrália.28,32 O TP como um instrumento de avaliação na educação médica, apresenta algumas características distintas que o diferenciam de outros tipos de avaliação.33 Ao estudante, possibilita uma análise crítica do seu desempenho no curso, identificando fragilidades e potencialidades na sua formação em cada uma das etapas em que o teste é realizado.32 Para o docente, o resultado apresenta a média da turma em relação à etapa, possibilitando modificações nos processos e adequações nos conteúdos. E, para a gestão acadêmica, permite a identificação de potenciais problemas o que possibilita tomada de decisão assertiva e implementação de ações de correção.28,34 Recomenda-se aplicar a todos os alunos, de todos as séries, em intervalos regulares, ao menos uma vez ao ano, em um mesmo momento, gerando um histórico do desempenho cognitivo dos estudantes conforme sua evolução na graduação. Os dados longitudinais podem servir como uma medida de garantia de qualidade e transparência das revisões de programas e como comprovação de que a escola está cumprindo seus objetivos curriculares.26,32,36 22 1.5 Teste de progresso do curso de medicina da UNIFEV As novas Diretrizes Curriculares Nacionais de Graduação em Medicina, homologadas em 2014, apontam a necessidade de um currículo que utilize metodologias ativas e determinam que os Cursos de Medicina lancem mão de “critérios para acompanhamento e avaliação do processo ensino-aprendizagem e do próprio curso”, com instrumentos que verifiquem a estrutura, os processos e os resultados obtidos. Em conformidade com o documento, a coordenação e o Núcleo Docente Estruturante, do Curso de Medicina da UNIFEV se mobilizaram para a realização do Teste de Progresso Interinstitucional. Com o objetivo de avaliar o processo ensino-aprendizagem e de garantir a qualidade e execução dos objetivos curriculares, o Curso de Medicina da UNIFEV, em 2015 instituiu acordo de cooperação com outras duas instituições de educação médica localizadas no noroeste do Estado de São Paulo, denominado “Consórcio Caipira”, com vistas à realização do Teste de Progresso Interinstitucional. Passado dois anos, oito escolas médicas participam de forma colaborativa deste consórcio. O Teste do Progresso realizado pelo consórcio é composto por 120 questões de múltipla escolha com quatro alternativas, construídas no contexto da vivência prática, visando a problemas que exigem aplicação de princípios ou soluções que requeiram processo mental complexo (raciocínio e reflexão), evitando simples memorização ou retenção da informação.28,35 A elaboração colaborativa interinstitucional contribui para a qualidade dos itens utilizados na prova, alia benefícios econômicos e vantagens educacionais globais, pois afasta o efeito da endogenia24 do processo de avaliação, permite uma comparação salutar dos avanços e/ou das limitações entre as instituições participantes, sempre evitando qualquer tipo de ranqueamento,13,26 de modo que o maior número de estudantes participantes torna os resultados estatisticamente mais significativos. Os conteúdos abordados são, normalmente, determinados por uma comissão que elabora, com especialistas, questões sobre temas de impacto para a formação médica30 e abrangem as grandes áreas do conhecimento médico como a Pediatria, a Clínica Médica, a Ginecologia/Obstetrícia, a Cirurgia e a Saúde Coletiva. Há também subdivisões determinadas para cada área, com o objetivo de avaliar outras habilidades ou conhecimentos, tais como a ética médica, a propedêutica, a urgência 23 e emergência, as áreas básicas (histologia, fisiologia, anatomia, etc.), a legislação, a medicina legal e a saúde mental.35,37 Os discentes que realizam o TP, recebem individualmente o resultado da sua prova com a análise do seu desempenho por categoria das questões, o índice de dificuldade e o gabarito processado destacando as respostas corretas. Os estudantes que efetuaram dois ou mais testes recebem um segundo relatório analítico que indica a evolução de seu desempenho a cada teste efetuado.37 O primeiro TP foi realizado simultaneamente nas três instituições participantes do “Consórcio Interinstitucional” em 29 de outubro de 2015. Na UNIFEV, foi aplicado aos estudantes do primeiro, terceiro, quinto e sétimo períodos do Curso de Medicina. E, a partir da análise destes resultados foi implementada uma reorganização do programa do sétimo e oitavo períodos em áreas específicas de ginecologia/obstetrícia e pediatria, nas quais o desempenho acadêmico apesar de satisfatório apresentava-se abaixo dos índices alcançados, pelos pelo discentes, nas demais áreas. A coordenação do curso e o núcleo docente estruturante, com a aprovação do colegiado, optaram por priorizar os conteúdos de ginecologia/obstetrícia das Unidades Curriculares Módulo Tutorial e THAM no sétimo período e de pediatria no oitavo, respectivamente. O segundo TP do consórcio ocorreu em 16 de abril de 2016, e nesta ocasião, com a anuência dos responsáveis, foi aplicada a todos os estudantes das escolas parceiras a prova do TP Interinstitucional Nacional de 2015, realizado pela Associação Brasileira de Educação Médica (ABEM), utilizando os melhores itens elaborados por professores de mais de 80 escolas médicas vinculadas à ABEM e Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Na UNIFEV, participaram da avaliação 200 estudantes do segundo, quarto, sexto e oitavo períodos do curso. No segundo semestre de 2016, o segundo TP elaborado pelo consórcio foi aplicado a alunos de seis escolas médicas e na UNIFEV aos estudantes de primeiro, terceiro, quinto, sétimo e nono períodos do Curso de Medicina. Nesta prova, foi possível verificar a efetividade da reorganização dos conteúdos curriculares/períodos, das áreas de pediatria e ginecologia/obstetrícia, evidenciando um crescimento no desempenho em ginecologia/obstetrícia superior a 30% para os mesmos períodos em relação ao primeiro TP. O TP está integrado ao calendário letivo do Curso de Medicina, a participação 24 dos alunos é voluntaria e não tem caráter de promoção ou de recompensas. Os resultados obtidos em cada em cada área, são avaliados pelo NDE e apresentados ao Colegiado do Curso e, posteriormente, aos docentes das áreas específicas, indicando as potencialidades e as fragilidades evidenciadas a fim de desencadear ações que visem a corrigir e a aperfeiçoar o currículo. Para a gestão do Curso de Medicina, o Teste de Progresso (TP) constitui-se em subsídio para avaliar a eficiência do programa, determinar correções e/ou adequações dos conteúdose o desenvolvimento das unidades curriculares, sendo considerado muito relevante. Contudo, a percepção do aluno quanto ao seu desempenho e o impacto do TP na sua aprendizagem pode variar de acordo com o contexto.38 Conhecer a percepção dos alunos pode auxiliar, a coordenação e o NDE do curso, na elaboração de planos para o incentivo à participação honesta e consciente no TP e, com resultados de desempenho confiáveis.39 25 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Analisar a percepção dos estudantes do curso de graduação de Medicina do Centro Universitário de Votuporanga - UNIFEV sobre o Teste de Progresso. 2.2 Objetivos Específicos - Analisar o impacto da percepção do aluno sobre o seu desempenho no Teste de Progresso a curto prazo e, - Propor ações de ajustes, para o melhoramento contínuo do processo ensino- aprendizagem. 26 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 População, Amostra e Local de Estudo O público alvo do presente estudo foram estudantes do Curso de Graduação em Medicina do Centro Universitário de Votuporanga - UNIFEV, que estavam cursando o quinto e o sétimo períodos no momento da aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética e Pesquisa com seres humanos (CEP) e que realizaram os TP Interinstitucional do curso. Foram convidados a participar voluntariamente, e a seleção foi aleatória, de acordo com a manifestação do desejo de participar da pesquisa. Todos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE ) (APÊNDICE A). Foram excluídos alunos que apresentavam doença infectocontagiosa na data agendada ou impossibilidade de comunicar-se no momento da realização do grupo focal - no local e no horário determinados para o início do grupo focal. 3.2 Aspectos Éticos O projeto de pesquisa e o TCLE foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIFEV em 10 de outubro de 2.016 (CAAE 60884116.0.0000.0078) de acordo com a Resolução do CNS 196/96, a qual determina que “toda pesquisa envolvendo seres humanos deverá ser submetida à apreciação de um Comitê de Ética em Pesquisa,” com o objetivo de salvaguardar os direitos e a dignidade dos sujeitos da pesquisa. 3.3 Grupo focal na pesquisa qualitativa Trata-se de pesquisa qualitativa, com Análise de Conteúdo e os dados foram coletados em entrevistas por meio de Grupos Focais (GF). A técnica Grupo Focal permite discutir e avaliar um tema proposto de modo flexível e dinâmico. Na década de 1920, foi utilizada para pesquisa em marketing. Nas ciências sociais, esta técnica foi introduzida com o objetivo de estudar as reações das pessoas à propaganda de Guerra, por R. Merton, em 1950.40 Na área de Educação em Saúde, começou a ser utilizada no Brasil, a partir do final da década de 80, pela Faculdade de Saúde Pública da USP,41 para a coleta de dados 27 de pesquisas qualitativas. O grupo focal representa uma fonte que intensifica o acesso às informações acerca de um fenômeno, seja pela possibilidade de gerar novas concepções ou pela análise e problematização de uma ideia em profundidade.42 O trabalho com o grupo focal permite a compreensão de contraposições, contradições, diferenças e divergências.43 Desenvolve-se a partir de uma perspectiva dialética, na qual o grupo possui objetivos comuns,42 e seus participantes exploram seus pontos de vista, a partir de reflexões sobre um determinado tema. 3.4 Composição dos grupos focais Foram realizados dois GF distintos com dez participantes em cada grupo. Os estudantes foram agrupados de acordo com o período que estavam cursando, por conveniência de horário livre, que possibilitasse a participação, o que permitiu manter a uniformidade do grupo e potencializar as reflexões acerca de experiências comuns,42 sendo o primeiro composto por discentes do quinto período do Curso de Medicina da UNIFEV e o segundo por discentes cursando o oitavo período. Não houve qualquer despesa ou ônus financeiro aos participantes voluntários desta pesquisa, bem como nenhum benefício financeiro ou premiação. 3.5 Local de realização dos grupos focais A data para a realização dos grupos focais foi, previamente, agendada para que não houvesse prejuízo acadêmico aos discentes. As entrevistas foram realizadas em uma sala de sessão tutorial, do Curso de Medicina da UNIFEV climatizada, com uma mesa retangular e treze cadeiras, as quais acomodavam, confortavelmente, todos os participantes, possibilitando a visualização de todos os participantes pelo moderador e pelo observador, e destes entre si. 3.6 Forma de condução dos grupos focais Foram oferecidos aos participantes, antes do início da entrevista, sucos e mini lanches para evitar interrupções posteriores, proporcionar descontração e facilitar a interação entre os membros.40 28 A equipe de trabalho na realização do Grupo Focal foi composta de uma moderadora, um observador e uma relatora ou auxiliar de pesquisa. No primeiro GF, realizado com alunos do quinto período, a moderadora convidada foi uma enfermeira, docente da PUC-SP, que possui conhecimento cultural e técnico específicos sobre o tema44 e grande experiência na condução de grupos focais; na qualidade de observador participou um docente médico da UNIFEV; e a pesquisadora, na qualidade de auxiliar de pesquisa ou relatora. No segundo GF, realizado com alunos que estavam cursando o oitavo período, os papéis da moderadora e da relatora foram desenvolvidos por duas docentes da UNIFEV, uma médica e uma enfermeira respectivamente, ambas com experiência na condução de GF e a pesquisadora participou na qualidade de observadora. Após a apresentação do moderador, dos auxiliares (relator e observador) e explicação dos objetivos que norteiam o trabalho do grupo, foi definido que os participantes, seriam identificados por numerais de 1 a 10 para garantir o anonimato de todos. Na sequência, a moderadora fez a leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, o qual foi preenchido e assinado, pelos sujeitos da pesquisa. Após isto, distribuiu-se os crachás numerados e reafirmou-se a importância do sigilo, do que seria discutido, para garantir a liberdade de expressão. O moderador tem a responsabilidade pela condução e pelos direcionamentos necessários e deve facilitar a interação dos componentes do grupo para que se aprofundem as discussões, possibilitando a revelação de novos aspectos e de novos olhares relativos ao tema.41 O papel do observador é de perceber a linguagem não verbal e registrar as impressões relevantes.44 O desenvolvimento da entrevista foi orientado por questões norteadoras. O relator registrou a intenção de participação de cada aluno e coordenou a sequência de fala dos participantes. As entrevistas foram gravadas utilizando-se três gravadores (da pesquisadora) para posterior transcrição. No encerramento dos grupos, ao ocorrer a saturação do tema, as moderadoras realizaram uma síntese da discussão e deixaram o assunto em aberto para que todos os participantes realizassem suas considerações finais sobre o tema. 29 As falas dos participantes foram registradas e transcritas na íntegra pela pesquisadora e uma assistente de pesquisa. Os participantes não foram identificados a fim de garantir o anonimato e sigilo. 3.7 Questões norteadoras Foram utilizadas duas perguntas norteadoras para auxiliar o desenvolvimento da discussão nos grupos focais: 1. O que você realmente acha do Teste de Progresso? Qual a sua percepção acerca do teste de progresso? 2. O resultado do Teste de Progresso mudou a sua vida estudantil? De que forma? 3.8 Procedimento de análise de dados Os dados coletados por meio de grupo focal são de natureza qualitativa e Gatti (2005) afirma que “permite emergir uma multiplicidade de pontos de vista e processos emocionais, pelo próprio contexto de interação e significados .” O referencial teórico utilizado, paraa exploração e análise dos dados coletados foi a Análise de Conteúdo segundo os conceitos de Bardin.45 Para Bardin,45 o termo Análise de Conteúdo designa: Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando a obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (Bardin, 2011, p. 48). A análise de conteúdo visa a compreensão dos modelos, dos conceitos prévios e/ou gerados pela discussão, que estão por trás dos fragmentos de mensagens consideradas e produzem sentidos e significados.46 A condução da análise dos dados abrange três etapas fundamentais: pré- análise, exploração do material, tratamento dos resultados - a inferência e a interpretação.46 A fase inicial, de organização, é chamada de pré-análise. Nesta fase, ocorreu o primeiro contato com os documentos, envolvendo a leitura “flutuante” que foi 30 realizada, exaustivamente até esgotar a totalidade da comunicação e possibilitar a escolha dos documentos a serem analisados. A reunião destes documentos constituiu o “corpus” da pesquisa. Na segunda fase, foram escolhidas as unidades de codificação, adotando-se os procedimentos de codificação e categorização. Para a escolha das unidades, a serem analisadas, considerou-se as seguintes regras: serem representativas da amostra selecionada; terem homogeneidade, pertencerem ao mesmo tema; observarem a pertinência ao conteúdo e ao objetivo da pesquisa e apresentarem exclusividade - cada elemento foi classificado em uma categoria apenas.47 A terceira fase do processo de análise do conteúdo é denominada tratamento dos resultados – a inferência e interpretação. 31 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Caracterização Sócio Demográfica O primeiro grupo focal a colaborar foi composto por estudantes, cursando o quinto período, com idade entre 22 e 32 anos e idade média de 23,42 anos. Participaram do segundo grupo focal estudantes, cursando o oitavo período, com idade entre 22 e 29 anos e idade média de 24,57. Em ambos havia sete estudantes do gênero feminino e três do gênero masculino. 4.2 Categorização do discurso do grupo focal A organização dos registros fez-se por meio da contextualização das falas dos participantes, focando a divergência e a semelhança dos relatos. A posterior categorização das mensagens, e/ou fragmentos de falas, realizou-se por meio de vinculações entre os agrupamentos com características comuns. Foram identificadas três categorias a partir da síntese interpretativa, desses agrupamentos: 1. Condições inadequadas; 2. TP como ferramenta pedagógica. 3. Sentimentos antagônicos. Estas categorias são resultantes da associação de sete subcategorias descritas no Quadro1. As subcategorias “frustração e segurança” que compõem a terceira categoria “Sentimentos antagônicos” resultaram de cinco Unidades de Contexto descritas no Quadro 2. 32 Quadro 1 - Categorias e subcategorias resultantes dos grupos focais Categorias Subcategorias 1. Condições inadequadas a. A prova é muito extensa. b. O tempo é insuficiente. c. Época da aplicação. 2. TP como ferramenta pedagógica a. Realizar com mais frequência b. Disponibilizar “feedback” com especificidade 3. Sentimentos antagônicos a. Frustração b. Segurança Fonte: Elaborado pela pesquisadora. Quadro 2 - Subcategorias e unidades de contexto da categoria n.3 Subcategorias Unidades de Contexto 3.a - frustração Falta de compreensão do TP. Insegurança sobre os resultados do TP 3.b - segurança Comprovação do desenvolvimento dos conteúdos curriculares Evidência do “monitoramento” do processo de ensino- aprendizagem pelo curso. Desenvolvimento da autoavaliação. Fonte: Elaborado pela pesquisadora. 33 4.3 Compreendendo as categorias identificadas 4.3.1 Condições inadequadas Os discentes participantes da pesquisa consideram as circunstâncias em que ocorre a aplicação do TP inadequadas para avaliar o seu desenvolvimento cognitivo durante o curso. Os dois grupos de alunos entrevistados, do quinto e do oitavo períodos, questionaram o número de questões, o tempo concedido para fazer a prova e a época da sua realização. 4.3.1.1 A prova é muito extensa A primeira citação, do grupo focal realizado com alunos do quinto período, enfatiza que a prova é muito cansativa devido ao número de itens, que totalizam 120. *G1 - N. 7: “[...] acho que é uma prova assim muito extensa [...] ficou uma prova muito cansativa, são 120 questões, num dia só, então eu acho que isso pesa [...]”. Sucessivamente, nos dois grupos focais, foi referido pelos estudantes que o número de questões e o tamanho dos enunciados são fatores limitantes ao bom desempenho na prova. G 1 - N. 8: “[...] também acho que a prova é muito extensa, as questões muito longas, não tinha necessidade de ter uns textos tão grandes assim. A gente sai da prova muito cansado, muitas vezes já chega no fim da prova, sem nem conseguir ler as questões, [...]”. †G 2 - ‡N. 6: “[...] é um teste muito cansativo, são 120 questões, e assim...a primeira parte, as 60 primeiras, 70 você faz concentrado, quando vai chegando nas últimas você já está totalmente cansado, exausto e aí meio que você não consegue prestar muita atenção.” Em uma revisão crítica sobre as principais características do TP, feita por Albanese (2016),37 ele cita que os TP geralmente são longos e variam de 180 itens (McMaster) a 400 itens (UMKC) de múltipla escolha. Testes muito curtos podem refletir um conteúdo sub-representado e comprometer a validade e a confiabilidade da avaliação.28 * G 1 - Grupo Focal com alunos do 5º período. † G 2 - Grupo Focal com alunos do 8º período. ‡ N. - Número de identificação do participante. 34 4.3.1.2 O tempo é insuficiente No segundo grupo focal, realizado com os discentes do oitavo período, além de considerarem a avaliação estafante pela extensão de cada item, mencionam que o tempo disponibilizado para a realização do TP é insuficiente para o número total de questões aplicadas. G 2 - N. 6: “[...] o tempo a gente percebe que não é o adequado pra fazer todas as questões, então tem perguntas que a questão tem sei lá, 5, 6 linhas pra você pensar e raciocinar e as vezes falta tempo também. G 2 - N.10: Eu concordo com o que o participante 6 falou e eu acho muito importante a colocação que ele disse sobre o cansaço e o tempo, chega no fim da prova e a gente não consegue responder as últimas questões, a gente não consegue pelo tempo e por estar cansado, desse jeito umas 20 questões deixam de ser respondidas, no meu caso [...]”. No Guide Nº 71 da AMEE28 os autores referem que a experiência holandesa na aplicação do TP evidenciou que são necessários aproximadamente de 75 a 85 segundos para responder um único item. O tempo disponibilizado para a realização do TP do Consórcio Interinstitucional são de 4 horas, que correspondem em média a 120 segundos para cada questão. Apesar de ser considerado pelos alunos como insuficiente, o tempo disponibilizado para fazer a prova é teoricamente adequado e maior que a média internacional. As questões de múltipla escolha com enunciados extensos e/ou alternativas muito longas demandam maior tempo para a leitura e podem comprometer o desempenho dos alunos, especialmente em avaliações longas como o TP. A construção de bons itens, contextualizados com cenários clinico ou laboratorial que concentrem somente informações importantes ao invés de triviais pode otimizar o tempo necessário para aresolução da prova e diminuir o desgaste físico relatado pelos alunos.48 4.3.1.3 Época da aplicação O período letivo em que foram aplicados os TP, realizados pelo Consórcio Interinstitucional, muito próximos ao das avaliações somativas bimestrais do curso, foi citado pelos entrevistados do quinto período, como um fator prejudicial ao bom 35 desempenho acadêmico, pois encontram-se excessivamente cansados; o que, somado ao fato da participação ser voluntária pode, também, ser um dos fatores para justificar as ausências. G1 - N. 7 : “ E outra coisa também que a gente percebeu é que geralmente esta prova do TP ela é marcada muito próximo a semana de provas, ou antes ou depois e a gente está super cansado e ainda faz uma prova super extensa eu acho que isso não é muito legal. [...].” G1 - N. 8 : “[...] por estar sempre coincidindo perto do nosso horário de provas, a gente está sempre mais cansado para realizar a prova.” G1 - N. 2 : “[...] acaba semana de prova, tem a prova de progresso e aí o pessoal falta porque está muito desgastado, eu acho que é isto. A ameaça de falhar nas avaliações somativas e a ansiedade determinada pelo risco de não progredir na graduação induzem os discentes a intensificarem as horas de estudo na véspera das provas. Assim como a expectativa por boas notas, com vistas ao sucesso a curto prazo, incorporados aos modelos competitivos contemporâneos, que os discentes trazem do ensino médio, podem corroborar com o estresse associado a esta percepção. Para Al-Kadri (2011),49 as avaliações somativas são fatores de ansiedade e a experiência mais estressante para o aluno. As avaliações formativas, com uma dimensão orientadora,9 realizadas continuamente no desenvolvimento das Unidades Curriculares, de forma a contribuir para a fixação da aprendizagem significativa, não foi suficiente para desestimular o estudo direcionado às provas, para estes discentes. 4.3.2 Teste de Progresso como ferramenta pedagógica Os alunos entrevistados, nos dois grupos focais, consideram o TP uma ferramenta útil e importante para monitorar o seu processo de ensino-aprendizagem, pois lhes permite reconhecer as dificuldades – lacunas de aprendizagem e progresso no decorrer do curso. G1 - N. 3: “[...] eu acho a prova de progresso uma coisa muito boa porque você começa a se avaliar...a intenção da prova eu acho muito boa [...].” G1 - N. 6 : “[...] eu sempre tento fazer depois as questões, daí eu acho que é muito bom, porque mesmo quando a gente erra alguma coisa [...] você acaba aprendendo [...]. G1 - N. 1: “[...] acho que é legal a gente fazer, ver como é que tá [...].” 36 G 2 - N. 6: Eu acho que é um teste muito bom, que avalia a nossa evolução desde o primeiro até o sexto ano [...] é necessário, eu acho que é muito importante. Entretanto, os resultados do TP não determinaram mudanças em suas estratégias de estudo e acreditam que, para potencializar o impacto desta avaliação, é preciso aperfeiçoá-la, realizando mais vezes por ano e receber “feedbacks” específicos para cada período. 4.3.2.1 Realizar com mais frequência Os alunos do oitavo período entendem que o TP deveria ser aplicado com mais frequência, duas ou mais vezes ao ano, e com menor número de itens. Esta estratégia de acordo com os alunos contribuiria para melhorar o desempenho individual e facilitar a correção de lacunas evidenciadas. G2 - N. 9: [...] Uma sugestão seria que a gente tivesse vários testes do progresso. G2 - N. 5: Então eu acho que seria muito interessante a gente ter mais testes desse tipo [...]. G2 - N. 10: [...] A sugestão de separar “ela” em dois dias eu acho que seria a melhor [...]seria a melhor opção mesmo, “pra” que esse teste seja 100%válido. Esta percepção discente encontra sustentação em pesquisa realizada por Wade et al. (2012) que demonstrou um impacto positivo na percepção dos estudantes submetidos ao TP quatro vezes por ano.50,51 A realização do TP repetidamente com o objetivo de avaliar o conhecimento, estimula a revisão dos conteúdos por meio do feedback e pode promover a aprendizagem profunda.28 4.3.2.2 Disponibilizar “feedback” com especificidade O feedback realizado pelo curso, na percepção dos alunos do quinto período é insuficiente para a autoavaliação. Acreditam que deveriam ter um “feedback” específico para cada período do curso, descrevendo quais os itens ou conteúdos de cada item que teriam que saber. G1 - N 1: Eu queria falar sobre a interpretação dos resultados mesmo [...] não quero receber só aqueles gráficos lá porque eles não são muito úteis pra mim, eu queria ter um retorno tipo, tal questão vocês já viram isso só que vocês erraram, o quê que aconteceu? É assim... assim e assim. G1 - N 6: Então, eu acho que tinha que ter esse direcionamento, ó vocês tinham que ter visto vigilância, então vai e estuda mais a partir dai, aprofunda mais esse tema, só que não, a 37 gente não sabe se era pra ter visto, se não era pra ter visto e ai vai deixando e acumulando mesmo. G1 - N 3: [...] Eu acho que isso seria o mais importante, da faculdade disponibilizar as questões que a gente deveria ter acertado, já teria visto, pra eu ter um parâmetro [...]. Em currículos integrados com ênfase na aprendizagem centrada no aluno, espera-se que o crescimento do conhecimento ocorra ao longo do tempo e não que demonstrem experiência em tópicos específicos em momentos específicos. O TP é uma avaliação longitudinal e abrangente, orientada para os objetivos finais do curso e portanto, está desacoplado das especificidades do que os alunos aprenderam ou estão aprendendo em qualquer momento.37 Por meio do feedback, o aluno tem a oportunidade de verificar a evolução de seu desempenho cognitivo nas diversas áreas ao longo do curso e fazer a análise comparativa com o de seus pares, para corrigir as fragilidades. G1 - N 1: [...] aqueles gráficos, mas não tem tanta utilidade mesmo, porque por exemplo, você não sabe se aquilo que você acertou tá bom no nível [...]. A dificuldade de interpretar os resultados (feedback) disponibilizados pode estar relacionada a uma análise pontual equivocada e/ou não realizada de modo reflexivo. Wade et al. (2012),50 avaliando a percepção dos alunos de duas escolas médicas do Reino Unido sobre o TP, constataram que em ambas os alunos sentiam que o feedback que recebiam era insuficiente. 4.3.3 Sentimentos antagônicos A percepção da magnitude de qualquer impacto (positivo ou negativo) sobre a realização do TP aparenta ter correlação com o período que os estudantes estão cursando. OS ESTUDANTES DO OITAVO PERÍODO VALORIZAM E CONSIDERAM QUE A REALIZAÇÃO DO TP TEM UM IMPACTO POSITIVO EM SEU PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM E PROPORCIONA sentimentos de segurança por constatarem o seu desenvolvimento ao longo do curso. G2 - N. 3: [...] eu acho que no primeiro contato com o teste do progresso a gente teve mais visão [...], pelo menos pra mim isso me fez ter uma maior clareza em relação a não só durante o período da faculdade [...] assim como vai ser lá fora. G2 - N. 7: [...] minha rotina não mudou, mas se eu tivesse tido um resultado ruim como a número 1 tinha falado eu acho que eu iria mudar minha rotina sim. 38 G2 - N. 2: Eu não vou mentir em falar que assim eu fiz algo diferente em relação ao resultado do teste do progresso, mas [...] acho que faz toda a diferença e faz pelo menos continuar de certa forma como eu tô estudando. G2 - N. 5: [...] ele também dá uma segurança em relação a outras faculdades, em que grau que a gente tá, o que a gente pode cobrar não só da gente, mas também da nossa faculdade[...] Para os alunos do quinto período, os sentimentos são opostos; referem que a realização do TP provoca frustração por não compreenderem a forma como é elaborada a prova, dificuldade em interpretar o feedback fornecido e insegurançaquanto a validade dos resultados. G1 - N. 4 : “[...] eu acho que ele abrange tudo o que tem que ser aprendido nos seis anos do curso, mas eu acredito que ele poderia ser melhorado. [...] eu acho que é uma ferramenta adequada talvez num horário errado, [...] eu passei por pediatria, eu passei por saúde da mulher, eu vô lá e fico patinando em questões de cirurgia que ainda não é o meu momento [...]. G1 - N. 7 [...] a prova eu acho que é até interessante, só que assim, como ela avalia os 6 anos, ela acaba prejudicando quem está muito no começo. E, eu acho assim, que é uma prova para a gente observar o que a gente está errando e também o que a gente precisa melhorar. [...] Ah, eu preciso melhorar, mas como eu vou melhorar... 4.3.3.1 Frustração As baixas pontuações nos TP nos primeiros anos do curso de Medicina são esperadas, porém causam sentimentos de frustração . Blake at al. (1996)52 relatam que os estudantes do primeiro ano de MacMaster não respondem a 80% dos itens. As provas somativas realizadas regularmente ao longo do curso e a própria motivação pessoal para obter altas notas, podem ser fatores que contribuem para os estudantes do quinto período apresentarem sentimentos de frustração com fraco desempenho inicial e demonstrarem dificuldade para compreender o TP como uma avaliação diagnóstica e formativa do desempenho cognitivo longitudinal. G1 - N 7: [...] realmente é muito frustrante isso, a gente faz a prova, eu olho lá – ah acertei duas questões de cirurgia que eu nunca vi na vida, beleza, só que, que parâmetro que eu tenho. [...]. G 1 8: A gente fica meio assim: - Ah, eu sei que fui mal em fisiologia mas e agora como faço para melhorar? Será que isso a culpa é da faculdade ou será que é culpa minha, será que 39 sou eu que não consigo estudar o suficiente ou será que é a minha faculdade que não está me dando isso. A gente fica meio na dúvida [...] G1 - N 2: [...] Mas aqueles gráficos que eles divulgam eu acho bem interessante, só que a gente não sabe interpretar, pelo o que eu converso com o pessoal, sai o gráfico, mas cada um interpreta de um jeito, é uma confusão, então o problema “tá” aí. Os estudantes argumentam que, devido a avaliação ser realizada em cooperação com outras escolas médicas, sentem insegurança quanto a validade dos resultados, pois seu desempenho é comparado ao de alunos de escolas médicas que utilizam diferentes matrizes curriculares e estratégias de ensino-aprendizagem. G1 - N 2: [...] a gente tem como o número 7 falou uma faculdade com um tema no segundo ano, que a outra viu no terceiro e a gente é comparado com as outras faculdades, então esse resultado acaba não sendo tão fidedigno né, porque eu não sei o nível de faculdade do terceiro ano em relação a minha que eu fui comparado. 4.3.3.2 Segurança Os estudantes do oitavo período, participantes da pesquisa, evidenciam efetivamente no TP que os conteúdos solicitados foram estudados e conseguem avaliar se o seu desempenho está adequado ou se há lacunas de aprendizagem a serem remediadas, além de perceberem que o processo ensino-aprendizagem do curso está sendo monitorado. G 2 - N. 3: O próprio resultado faz a gente ter um pouco de segurança no decorrer do curso, isso estimula mais ainda. G 2 - N. 8: [...] eu consigo enxergar muito bem as matérias que a gente viu, consigo lembrar e elencar as dificuldades que eu tive naquela matéria já vista e consigo também ver aquilo que nem passou pela minha frente, então eu acho bastante proveitoso. G2 - N. 10: [...] o teste do progresso não serve só pra ver o nosso progresso, serve pra ver...é eu tenho certeza que o NDE tá olhando pra essa prova que a gente faz e vê onde que a gente tá falhando [...] O feedback na percepção dos estudantes estimula a autoavaliação e pode determinar mudanças no modo de estudar, para a correção de falhas, se for necessário. Heeneman et al (2016)53 concluíram que incorporação do TP em programa de avaliação programática de maneira formativa afeta positivamente as pontuações do TP e a aprendizagem significativa. 40 G 2 - N.2: [...] é um teste muito importante pro nosso desempenho durante todo o passar do curso, e até mesmo pra avaliar se está sendo realmente aproveitado o nosso estudo, e até mesmo modificar a maneira com que a gente estuda. Se eu não estou desenvolvendo durante um ano ao outro, o quê que está acontecendo e onde que eu “tô” falhando. G2 - N. 1: [...] a autocrítica né, que a gente acaba desenvolvendo, não que eu tenha mudado a minha forma de estudar, mas a visão que a gente tem do nosso estudo pode acabar diferenciando, você vê se você melhorou ou não, de um ano pro outro, só que eu acho que talvez, não sei, mudaria minha forma assim de mudar mesmo radicalmente a forma de estudar alguma coisa assim, se eu fosse muito mal, [...] mas como eu vejo que eu tô melhorando ai eu vejo que eu estou no caminho certo. 4.4 Ações propostas Para permitir uma melhor compreensão sobre o TP, estimular a aprendizagem autodirigida, correção da fragilidades detectadas e promover a melhoria contínua do processo ensino-aprendizagem serão apresentadas ao NDE e Colegiado do curso de Medicina e ao Núcleo do Teste de Progresso Interinstitucional, as seguintes propostas para: 4.4.1 Melhorar as condições de aplicação do TP � Capacitar os docentes para elaboração e revisão de questões de múltipla escolha, com vistas aos propósitos do TP. � Realizar o TP duas vezes por ano, no início do semestre letivo. 4.4.2 Otimizar o uso do TP como ferramenta pedagógica � Implementar o feedback reflexivo de forma dirigida, por meio de devolutivas do TP, programadas no laboratório de informática. � Utilizar a participação no TP como horas de atividade complementar, para alunos do primeiro ao oitavo período. � Utilizar o resultado de desempenho no TP, como parte do programa de avaliação somativa semestral do internato médico, para os estudantes do nono ao 12º períodos. 41 4.4.3 Diminuir o sentimento de frustração discente em relação ao TP � Apresentação desta dissertação e discussão dos resultados, com os discentes. � Implementar discussões sobre os objetivos, benefícios e desvantagens da aplicação do TP e dos seus resultados com docentes e discentes. 42 5 CONCLUSÃO Os estudantes entrevistados consideram o Teste de Progresso uma “ferramenta pedagógica” relevante, que permite a autoavaliação e a correção das lacunas de aprendizagem. Porém, acreditam que as características estruturais da prova – número de questões, abrangência do conteúdo e tempo para realização – afetam negativamente o seu desempenho. E, propõem mudanças: aumentar a frequência de realização, diminuir o número de itens e fornecer um feedback orientado para o período que estão cursando. Os resultados de desempenho do TP e o feedback recebido determinaram sentimentos antagônicos de acordo com o período que estavam cursando, de frustração para os alunos do quinto período e de segurança para os do oitavo período. O impacto determinado pelo desempenho no TP, a curto prazo, não promoveu mudanças no plano de estudo dos estudantes entrevistados. É necessário implementar estratégias para a entrega do feedback, de modo dirigido e reflexivo, que permita a autoavaliação e a melhoria contínua do processo ensino-aprendizagem. 43 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS A percepção e a prática de autoavaliação dos alunos são habilidades instáveis que podem ser afetadas por diferentes variáveis, e o impacto que determinam pode ter magnitude positiva ou negativa.54 Embora os alunos recebam um o feedback detalhado do seu desempenho no TP este é sub-utilizado. O TP é uma ferramenta valiosa que pode ser utilizado como uma avaliação formativa monitorando o crescimento do conhecimento, e associar aspectos de avaliação somativa. É uma rica fonte deinformações que precisa ser melhor aproveitada pelos alunos, professores e Instituições de Ensino.53; 55 As ações propostas nesta pesquisa estão sendo discutidas com o NDE e serão encaminhadas para a apreciação do Colegiado do Curso, na primeira reunião ordinária de 2018. 44 REFERÊNCIAS 1. Freire P. 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