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Intervenção piloto em idosos independentes submetidos às práticas educativas em saúde

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Prévia do material em texto

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 
PUC-SP 
Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde 
 
Arlete Antoniassi 
 
 
 
 
Intervenção piloto em idosos independentes submetidos às práticas 
educativas em saúde 
 
 
 
 
Mestrado Profissional em Educação nas Profissões da Saúde 
 
 
 
 
 
 
 
Sorocaba 
 2016
 
 
Arlete Antoniassi 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Intervenção piloto em idosos independentes submetidos às práticas 
educativas em saúde 
 
 
Trabalho apresentado à Banca Examinadora da Pontifícia 
Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial 
para obtenção do título de MESTRE PROFISSIONAL em 
Educação nas Profissões da Saúde, sob orientação do Prof. 
Dr. Paulo Renato Canineu. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sorocaba 
 2016
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Elaborado pela Biblioteca Prof. Dr. Luiz Ferraz de Sampaio Júnior. 
Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde – PUC-SP 
 
 
Antoniassi, Arlete 
A635 Intervenção piloto em idosos independentes submetidos às práticas 
educativas em saúde / Arlete Antoniassi. -- Sorocaba, SP : [s.n.], 2016. 
 
Orientador: Paulo Renato Canineu. 
Trabalho Final (Mestrado Profissional) -- Pontifícia Universidade 
Católica de São Paulo, Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde. 
 
1. Educação em Saúde. 2. Saúde do Idoso. 3. Qualidade de Vida. 4. 
Cognição. I. Canineu, Paulo Renato. II. Pontifícia Universidade 
Católica de São Paulo, Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde. 
III. Título. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 BANCA EXAMINADORA 
 
__________________________________________ 
 
__________________________________________ 
 
__________________________________________ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos meus pais, Ettore Antoniassi e Marlen Antoniassi (in memoriam), que me 
ofereceram a vida e qualificaram o meu caráter e a minha honra através dos seus 
exemplos de vida e de perseverança. 
 
À minha irmã, Elisete, e aos meus sobrinhos, Ana Carolina e Marcos Vinícios, pela 
confiança depositada, pelo apoio sempre presente, mesmo nos momentos extremos. 
Que meu intento sirva de exemplo para a pequena Lara: lute, sempre com amor, por 
aquilo em que acredita! 
 
Aos idosos, pela generosidade em doação. 
 
À presença Espiritual. 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Ao Professor Doutor Paulo Renato Canineu, cuja orientação foi essencial para a 
elaboração qualificada desta pesquisa. 
Aos Professores da Pós-graduação em Educação nas Profissões da Saúde: Dra. 
Alda Luiza Carlini, Dra. Cibele Isaac Saad Rodrigues, Dr. Fernando Antonio Almeida, 
Dr. Flávio Morgado, Dra. Lúcia Rondelo Duarte, Dra. Maria Helena Senger, Dra. 
Raquel Aparecida de Oliveira, pela dedicação à educação. 
À inigualável turma deste Mestrado, amigos que permanecerão para sempre: 
Adriana, Bernardo, Camila Carlos, Claudia, Deborah, Juliana, Helena e Paulo. 
À Dra. Tatchia Puertas Garcia Poles, um agradecimento especial ao apoio 
incondicional. 
À Dra. Andrea Wernthaler, pela orientação na terapia artística. 
À Priscila Maria Franco da Frota, pelo treinamento das atividades corporais. 
Aos funcionários da Unidade de Saúde da Vila Sabiá, pela calorosa acolhida. 
À Dra. Priscilla Cecília Mendes Bartocci Luz, residente multiprofissional em saúde da 
família, colaboradora desta pesquisa. 
Aos funcionários e jovens usuários do Território Jovem, pelo ao trabalho com os 
idosos. 
Aos funcionários da PUC, Heloisa Helena Armenio, Antonio Pedro de Melo Maricato, 
Isabel Cristina Campos Feitosa, pela paciência. Vocês têm uma exemplar dedicação 
ao aluno! 
Aos Professores e Doutores Neil Ferreira Novo, Daniel Ferreira Netto e Neimar 
Fernandes, pela análise estatística. 
À Professora Helena Rodrigues Gonçalves, pela revisão textual. 
A Ingeborg Scheible, pela correção do texto em inglês e pelas nossas deliciosas 
tardes de chá e boa conversa. 
Aos meus amigos. 
Muito obrigada! 
 
Arlete Antoniassi 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Tem sempre presente que a pele se enruga, que 
o cabelo se torna branco, que os dias se 
convertem em anos, mas o que é importante não 
muda: a sua força interior não tem idade.” 
 Anjezë Gonxhe Bojaxhiu 
Madre Tereza de Calcutá1 
 
 
RESUMO 
 
Antoniassi A. Intervenção piloto em idosos independentes submetidos às 
práticas educativas em saúde. 
 
Fenômeno mundial preocupante, o envelhecimento populacional traz implicações 
tanto para a sociedade quanto para a pessoa idosa. O comprometimento cognitivo, 
associado ou não às doenças crônico-degenerativas, limita a vida de relação dos 
idosos. A depressão, síndrome psiquiátrica mais frequente na terceira idade, 
prejudica a qualidade de vida, podendo provocar ou acentuar incapacidades 
funcionais. Diante disso, esta pesquisa caracterizou idosos independentes, usuários 
da unidade de saúde da família da Vila Sabiá, Sorocaba (SP) e descreveu a 
experiência de um piloto de intervenção de práticas educativas em saúde em grupo 
de idosos. Trata-se de um estudo descritivo e quantitativo, aprovado pelo Comitê de 
Ética em Pesquisa, desenvolvido com 35 idosos independentes. Sete indivíduos 
participaram de um piloto de intervenção com práticas educativas em saúde, por 12 
semanas, de agosto a outubro de 2014. As práticas educativas em saúde 
envolveram movimentos corporais, conteúdos temáticos diversos, atividades 
artísticas e lúdicas. Dados estatísticos foram obtidos por 5 instrumentos: um 
questionário sobre aspectos socioeconômicos, demográficos e relacionados à 
saúde; o Mini-exame do Estado Mental (MEEM) para avaliação cognitiva; a Escala 
de Depressão Geriátrica reduzida (EDG-15), para rastreamento de transtorno de 
humor depressivo; o Questionário das Atividades Funcionais de Pfeiffer (QAF) para 
avaliação das Atividades Instrumentais de Vida Diária; o WHOQOL-Bref para a 
qualidade de vida. Utilizou-se o teste do qui-quadrado na correlação dos dados 
estatísticos e o teste “t” de Student na comparação dos resultados antes e após as 
práticas educativas em saúde do grupo piloto de intervenção. Resultados: a maioria 
dos indivíduos era do sexo feminino, na faixa etária de 60 a 65 anos, trabalhadores 
da raça branca e moradores em casa própria com cônjuge, católicos e com ensino 
fundamental. Houve prevalência de hipertensão arterial, diabetes tipo 2, obesidade e 
sintomas depressivos. O tipo de moradia conjunta dos idosos contribuiu para o 
diagnóstico de hipertensão arterial (p=0,03). A fé/crença pessoal/espiritualidade 
foram fatores individuais protetivos da diabetes (p=0,03). O grupo participante do 
piloto de intervenção apresentou mudança estatisticamente significativa no score 
total do MEEM (p=0,03). Conclusões: fatores relacionados ao aparecimento e à 
manutenção das principais DCNT (hipertensão arterial, diabetes e obesidade) e 
sintomas depressivos podem ser evitados por meio de mudanças comportamentais 
e de reorganização no estilo de vida. As práticas educativas em saúde contribuíram 
para a melhora do perfil cognitivo dos idosos, durante o período estudado. 
 
Descritores: Educação em Saúde; Saúde do Idoso; Qualidade de Vida; Cognição. 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
Antoniassi A. Pilot Intervention in independent elderly submitted to educational 
practices in health. 
 
An aging population is a disturbing worldwide phenomenon which has implications 
both for society and for the elderly people. Cognitive impairment associated or not to 
chronic degenerative diseases limits the life ratio of the elderly. Depression, the most 
common psychiatric syndrome among elderly, impairs their quality of life and can 
cause or increase functional disabilities. Thus, this study characterized independent 
elderly, users of the FamilyHealth Unit from Vila Sabiá, in Sorocaba (SP) and 
described the experience of a pilot intervention of educational practices in health of 
an elderly group. This is a descriptive and quantitative study approved by the 
Research Ethics Committee, developed with 35 independent elderly. Seven 
individuals participated in a pilot intervention with educational practices in health, for 
12 weeks, from August to October in 2014. The educational health practices involved 
bodily movements, several thematic content, artistic and recreational activities. 
Statistical data were obtained through 5 instruments: a questionnaire on 
socioeconomic, demographic and health-related aspects; the Mini-Mental State 
Examination (MMSE) for cognitive assessment; the reduced Geriatric Depression 
Scale (GDS-15) for screening of depressive mood disorder; Functional Activities 
Questionnaire by Pfeiffer (FAQ) for evaluation of Daily Life Instrumental Activities; the 
WHOQOL-Bref for the quality of life. We used the chi-square test on the correlation of 
data and the Student "t" test in comparing the results before and after the educational 
practices in health intervention pilot group. Results: The majority of subjects were 
female, aged 60-65 years old, Caucasians workers and residents at proper home 
with spouse, Catholics and with elementary school level. There was prevalence of 
hypertension, type 2 diabetes, obesity and depressive symptoms. The type of joint 
housing of individuals contributed to the diagnosis of hypertension (p=0,03). The 
faith/ personal belief/ spirituality were individual protective factors of diabetes 
(p=0,03). The group participating in the intervention pilot showed statistically 
significant change in the total score of the MMSE (p=0,03). Conclusions: factors 
related to the appearance and maintenance of the major NCDs (hypertension, 
diabetes and obesity) and depressive symptoms can be prevented through 
behavioral changes and reorganization in lifestyle. Educational practices in health 
contributed to the improvement in the cognitive profile of the elderly subjects during 
the studied period. 
 
Keywords: Health Education; Health of the Elderly; Quality of life; Cognition. 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1 - Estruturas anatômicas do encéfalo em plano sagital. .............................. 32 
Figura 2 - Interação entre os componentes da Classificação Internacional da 
Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. ................................................................... 48 
Figura 3 - Práticas educativas em saúde: movimentos corporais com bastão. 
Sorocaba (SP), 2014. ............................................................................................ 130 
Figura 4 - Práticas educativas em saúde: movimentos corporais com bola. Sorocaba 
(SP), 2014. .............................................................................................................. 131 
Figura 5 - Práticas educativas em saúde: movimentos corporais de contração e 
expansão. Sorocaba (SP), 2014. .............................................................................. 132 
Figura 6 - Práticas educativas em saúde: roda de conversa. Sorocaba (SP), 2014. ...... 133 
Figura 7 - Práticas educativas em saúde: desenho representativo da imagem do 
conto de fadas. Sorocaba (SP), 2014. .................................................................... 134 
Figura 8 - Práticas educativas em saúde: desenho de formas. Sorocaba (SP), 2014.
 ................................................................................................................................ 135 
 
 
LISTA DE QUADROS 
 
Quadro 1 - Mini-exame do Estado Mental (MEEM). ................................................. 36 
Quadro 2 - Escala de Depressão Geriátrica (EDG) .................................................. 43 
Quadro 3 - Questionário das Atividades Funcionais. ................................................ 50 
Quadro 4 - Domínios e facetas do WHOQOL-Bref. .................................................. 59 
Quadro 5 - Cronograma das atividades semanais de grupo. ................................... 78 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
Tabela 1 - Características sociodemográficas dos idosos independentes da USF Vila 
Sabiá, segundo a frequência absoluta (f) e percentual (%). Sorocaba (SP), 2014. ............ 85 
Tabela 2 - Perfil das condições de saúde autorrelatadas dos idosos independentes 
da USF Vila Sabiá dos gêneros feminino e masculino, segundo a frequência 
absoluta (f) e percentual (%). Sorocaba (SP), 2014. ................................................. 88 
Tabela 3 - Correlação entre Hipertensão arterial e idade dos idosos independentes 
da UBS Vila Sabiá dos gêneros feminino e masculino, segundo a frequência 
absoluta (N), média e desvio padrão (Sd). Sorocaba, 2014. ..................................... 88 
Tabela 4 - Correlação entre a hipertensão arterial e os aspectos sociodemográficos 
dos idosos independentes da USF Vila Sabiá. Sorocaba (SP), 2014. ...................... 90 
Tabela 5 - Correlação entre Diabetes e idade dos idosos independentes da UBS Vila 
Sabiá dos gêneros feminino e masculino, segundo a frequência absoluta (N), média 
e desvio padrão (Sd). Sorocaba, 2014. ..................................................................... 91 
Tabela 6 - Correlação entre a diabetes e os aspectos sociodemográficos dos idosos 
independentes da USF Vila Sabiá. Sorocaba (SP), 2014. ........................................ 92 
Tabela 7 - Distribuição de frequência de hipertensão arterial e diabetes nos idosos 
independentes da USF Vila Sabiá. Sorocaba (SP), 2014. ........................................ 93 
Tabela 8 - Correlação entre a hipertensão arterial e os aspectos saúde dos idosos 
independentes da USF Vila Sabiá. Sorocaba (SP), 2014. ........................................ 94 
Tabela 9 - Correlação entre diabetes e os aspectos saúde dos idosos independentes 
da USF Vila Sabiá. Sorocaba (SP), 2014. ................................................................. 95 
Tabela 10 - Desempenho cognitivo aferido pelo Mini Exame do Estado Mental (MEEM) 
dos idosos independentes da USF Vila Sabiá dos gêneros feminino e masculino: 
mínimo, máximo, média e desvio padrão (Sd). Sorocaba (SP), 2014. .......................... 96 
Tabela 11 - Scores da Escala de Depressão Geriátrica (EDG) e do Questionário 
das Atividades Funcionais (QAF) dos idosos independentes da USF Vila Sabiá 
dos gêneros feminino e masculino: mínimo, máximo, média e desvio padrão (Sd). 
Sorocaba (SP), 2014. ............................................................................................... 96 
Tabela 12 - Qualidade de vida aferida pelo WHOQOL-Bref e domínios, dos idosos 
independentes da USF Vila Sabiá dos gêneros feminino e masculino segundo o mínimo, 
máximo, média e desvio padrão (Sd). Sorocaba (SP), 2014. ......................................... 97 
Tabela 13 - Correlação entre hipertensão arterial e o resultado das escalas MEEM, 
EDG, QAF e WHOQOL-Bref aplicados nos idosos independentes da UBS Vila Sabiá, 
dos gêneros masculinos e femininos, Sorocaba (SP), 2014..................................... 99 
Tabela 14 - Correlação entre diabetes e o resultado das escalas MEEM, EDG, QAF 
e WHOQOL-Bref aplicados nos idosos independentes da UBS Vila Sabiá, dos 
gêneros masculinos e femininos, Sorocaba (SP), 2014. ........................................ 101 
Tabela 15 - Características sociodemográficas dos idosos independentes da USF 
Vila Sabiá, participantes do piloto de intervenção, segundo a frequência absoluta () 
e percentual (%). Sorocaba (SP), 2014. ................................................................. 102 
Tabela 16 - Perfil das condições de saúde autorrelatadas dos idosos 
independentes da USF Vila Sabiá, dos gêneros feminino e masculino, 
participantes do piloto de intervenção, segundo a frequência absoluta () e 
percentual(%). Sorocaba (SP), 2014. .................................................................. 104 
Tabela 17 - Scores do MEEM obtidos pelos idosos participantes do piloto de intervenção, 
em dois momentos, com intervalo de 12 semanas, antes e depois, das práticas 
educativas em saúde, segundo a média, desvio padrão. Sorocaba (SP), 2014.............105 
Tabela 18 - Scores da EDG e do QAF obtidos pelos idosos participantes do piloto de 
intervenção, em dois momentos, com intervalo de 12 semanas antes e depois, das práticas 
educativas em saúde, segundo a média, desvio padrão. Sorocaba (SP), 2014...............106 
Tabela 19 - Scores nos domínios do WHOQOL-Bref obtidos pelos idosos 
participante do piloto de intervenção, em dois momentos, com intervalo de 12 
semanas antes e depois, das práticas educativas em saúde, segundo a média, 
desvio padrão. Sorocaba (SP), 2014....................................................................106 
 
 
LISTA DE SIGLAS 
 
AIVD Atividades Instrumentais de Vida Diária 
APA American Psychiatric Association 
APS Atenção Primária à Saúde 
AVD Atividades de Vida Diária 
AVE Acidente Vascular Encefálico 
CCL Comprometimento Cognitivo Leve 
CID-10 Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas 
Relacionados à Saúde décima edição 
CIF Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e 
Saúde 
Creci Centro de Referência da Cidadania do Idoso 
DCNT Doença Crônica não Transmissível 
DSM-5 Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – quinta 
edição 
EDG-15 Escala de Depressão Geriátrica – quinze 
EIAVD Escala de Independência em Atividades de Vida Diária 
EORTC-QL European Organization for Research and Treatment of Cancer 
Quality of Life 
FCMS Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde 
FAQ Functional Assessment Questionnaire 
GDS-15 Geriatric Depression Scale – fifteen 
HAS Hipertensão Arterial Sistêmica 
HIV Human Immunodeficiency Vírus 
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
IMC Índice de Massa Corporal 
MEEM Mini-exame do Estado Mental 
OMS Organização Mundial da Saúde 
ONU Organização das Nações Unidas 
PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio 
PNS Pesquisa Nacional de Saúde 
 
 
 
 
PUC Pontifícia Universidade Católica 
SNC Sistema Nervoso Central 
SP São Paulo 
SUS Sistema Único de Saúde 
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 
USF Unidade de Saúde da Família 
WHO World Health Organization 
WHOQOL GROUP World Health Organization Quality of Life Group 
WHOQOL-100 World Health Organization Quality of Life-100 
WHOQOL-bref World Health Organization Quality of Life-bref 
WHOQOL-OLD World Health Organization Quality of Life-Old 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 19 
2 ENVELHECIMENTO ............................................................................................. 21 
2.1 O envelhecimento populacional ...................................................................... 21 
2.2 O envelhecimento individual ............................................................................ 23 
3 COGNIÇÃO ........................................................................................................... 29 
3.1 Fatores associados ao déficit cognitivo no idoso ......................................... 32 
3.2 Fatores de proteção das funções cognitivas .................................................. 34 
3.3 Instrumento de rastreamento de comprometimento cognitivo ..................... 34 
4 DEPRESSÃO NO IDOSO ..................................................................................... 37 
4.1 Diagnóstico da depressão ................................................................................ 38 
4.2 Fatores de risco para a depressão em idosos ................................................ 39 
4.3 Fatores de proteção de depressão .................................................................. 42 
4.4 Instrumento para rastreamento da depressão no idoso ................................ 42 
5 FUNCIONALIDADE .............................................................................................. 45 
5.1 Conceitos ........................................................................................................... 45 
5.2 Instrumentos para avaliação funcional ........................................................... 49 
5.3 Fatores preditivos de incapacidades funcionais ............................................ 51 
6 QUALIDADE DE VIDA .......................................................................................... 53 
6.1 Conceito de Qualidade de Vida ........................................................................ 55 
6.2 Instrumentos de avaliação da qualidade de vida ........................................... 57 
6.3 Fatores preditores de qualidade de vida nos idosos ..................................... 60 
7 PRÁTICAS EDUCATIVAS EM SAÚDE ................................................................ 61 
7.1 Contribuições dos contos de fadas na saúde ................................................ 64 
7.2 Arte e saúde ....................................................................................................... 66 
7.2.1 Arteterapia ........................................................................................................ 67 
7.2.2 Terapia artística ................................................................................................ 67 
7.3 Práticas corporais ............................................................................................. 68 
7.3.1 As danças ......................................................................................................... 70 
7.3.2 Euritmia ............................................................................................................ 70 
8 OBJETIVOS .......................................................................................................... 73 
9 MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................... 75 
 
 
 
 
9.1 Local e período do estudo ............................................................................... 75 
9.2 Participantes da pesquisa ................................................................................ 76 
9.2.1 Critérios de inclusão e exclusão ...................................................................... 77 
9.2.2 Grupos estudados............................................................................................ 77 
9.3 Piloto de intervenção ........................................................................................ 78 
9.3.1 A metodologia das práticas educativas em saúde ........................................... 78 
9.4 Instrumentos de avaliação ............................................................................... 81 
9.5 Análise estatística ............................................................................................ 83 
9.6 Aspectos éticos ................................................................................................ 83 
10 RESULTADOS .................................................................................................... 85 
10.1 Caracterização da população do estudo ...................................................... 85 
10.2 O piloto de intervenção ................................................................................ 101 
11 DISCUSSÃO ..................................................................................................... 107 
11.1 A população do estudo ................................................................................ 108 
11.1.1 Características sociodemográficas ..............................................................108 
11.1.2 Perfil da Saúde ........................................................................................... 109 
11.1.3 Os instrumentos de avaliação ...................................................................... 115 
11.2 O Piloto de intervenção – efeitos das práticas educativas em saúde .......... 120 
11.2.1 Sobre as características sociodemográficas e o perfil da saúde ................. 122 
11.2.2 Desempenho nos instrumentos de avaliação .............................................. 123 
11.2.3 Retratos do processo ................................................................................... 125 
12 CONCLUSÕES ................................................................................................. 137 
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 139 
APÊNDICES .................................................................................................... 159 
Apêndice A – Carta à Instituição ................................................................... 159 
Apêndice B – TCLE ........................................................................................ 160 
Apêndice C – Termo de Cessão de Direitos de Imagem ............................. 162 
Apêndice D – Questionário sociodemográfico e de saúde ........................ 163 
Apêndice E – Carta ao Coordenador do CEP .............................................. 164 
ANEXOS .......................................................................................................... 167 
Anexo A – Carta de Autorização da Instituição ........................................... 167 
Anexo B – Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa ............................ 168 
Anexo C – Mini-exame Estado Mental .......................................................... 170 
 
 
Anexo D – Escala de Depressão Geriátrica .................................................. 171 
Anexo E – Questionário de Atividades Funcionais de Pfeiffer ................... 172 
Anexo F – WHOQOL-Bref ............................................................................... 173 
Anexo G – WHOQOL-Old ................................................................................ 177 
Anexo H – Conto: Os Músicos de Bremen.................................................... 182 
Anexo I – Conto: João Felizardo .................................................................... 186 
Anexo J – Conto: O Rei Sábio ........................................................................ 188 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Substanciando o envelhecer como parte natural do ciclo da vida, as ações de 
promoção da saúde com ênfase no envelhecimento saudável vêm contribuir para 
mudanças no paradigma da atenção à saúde dos idosos. 
Considerando-se que os indivíduos com doenças crônicas não transmissíveisi 
são os usuários adultos mais frequentes nas unidades de saúde da família, a 
educação em saúde faz-se importante proposta de intervenção, por propiciar a 
oportunidade na aquisição de habilidades para o alcance de uma melhor qualidade 
de vida nessa população. 
A educação em saúde dirigida para a saúde integral dos idosos tem um 
importante papel na evocação do potencial dessas pessoas quanto à conquista de 
maior controle sobre os fatores comportamentais determinantes da sua saúde.2,3 
Com eixo central na educação em saúde, esta pesquisa desenvolveu-se a 
partir da vivência da autora como médica de equipe de saúde da família, com 
orientação para as práticas integrativas e complementaresii, especialmente a 
homeopatiaiii e a antroposofiaiv. 
Pode-se dizer que tanto a homeopatia quanto a antroposofia têm uma 
compreensão ampliada quanto à saúde e ao processo de adoecimento, na medida em 
que concebem o ser humano integral, ou seja, na sua dimensão individual – aspectos 
físico, emocional e espiritual – e na dimensão do contexto socioeconômico e cultural. 
Cogitando-se a educação em saúde para um grupo de idosos, em uma 
unidade de saúde da família e aliando-se a teoria à práxis antroposófica, 
descortinou-se a possibilidade de realizar uma pesquisa de campo para fundamentar 
cientificamente essa intervenção em saúde. 
 
i
 Grupo de doenças de etiologia incerta, múltiplos fatores de risco, longos períodos de latência, curso 
prolongado e que, associadas a deficiências e incapacidades funcionais, têm em comum um conjunto de 
fatores comportamentais de risco (tabagismo, sedentarismo, alimentação inadequada, alcoolismo), 
passíveis de modificação, por meio de ações como a educação em saúde.
176
 
ii
 As práticas integrativas e complementares são sistemas e recursos médicos que envolvem tecnologias 
de alta complexidade (conhecimento) e de baixa densidade (equipamentos e instrumentais médico-
hospitalares) como formas naturais de prevenção de agravos e recuperação da saúde.
147
 
iii
 Criada por Christian Friedrich Samuel Hahnemann (1753-1843), a homeopatia considera os sinais e os 
sintomas de uma doença como manifestações físicas e/ou psíquicas do desequilíbrio da energia vital no 
indivíduo.
147
 
iv
 A antroposofia foi introduzida pelo filósofo Rudolf Steiner (1861-1925) como uma ciência espiritual ou 
conhecimento da natureza do ser humano no universo. Dessa forma, a medicina antroposófica, utilizando-
se dessa imagem espiritual do homem, considera o ser humano constituído por quatro elementos ou 
membros: corpo físico, corpo vital, corpo anímico (psíquico) e um Eu (cerne espiritual individual).
147,148,176
 
20 
 
 
 
Para tanto, foram utilizadas avaliações quantitativas, buscando-se descrever 
a possível influência de tais práticas educativas em saúde na melhoria dos aspectos 
cognitivos, comportamentais, funcionais e de qualidade de vida dos participantes. 
Partindo-se dessas premissas, esta pesquisa consubstanciou-se em uma 
proposta de um piloto de intervenção de práticas educativas em saúde para idosos 
independentes. 
No texto que compõe esta dissertação, são apresentados referenciais teóricos 
acerca do envelhecimento da população e dos componentes do envelhecimento 
individual, seguindo-se de assuntos de interesse global da pesquisa: a cognição, a 
depressão, a funcionalidade, a qualidade de vida e as práticas educativas em saúde, 
que se encontram pormenorizadas na metodologia. 
Os resultados, a discussão e a conclusão estão organizados de forma a 
evidenciar a caracterização da população idosa independente, seguindo-se do 
piloto de intervenção. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
 
 
2 ENVELHECIMENTO 
 
2.1 O envelhecimento populacional 
 
O envelhecimento populacional é um fenômeno global, caracterizado pela 
modificação na estrutura etária4, com aumento quantitativo de idosos em relação às 
pessoas mais jovens na população. A modificação dessa estrutura etária deu-se de 
forma distinta e gradativa, ao longo dos anos5, nos países desenvolvidos, quando 
comparada aos países menos desenvolvidos. 
Nas nações desenvolvidas, principalmente as europeias, o envelhecimento 
populacional está relacionado à diminuição substancial da taxa de mortalidade pela 
melhoria na qualidade de vida da população6, em função de conquistas nos campos 
sociais, econômicos e da saúde: urbanização e saneamento das cidades, emprego, 
acesso aos bens e serviços, avanços tecnológicos da saúde. 
Já nos países em desenvolvimento, como o Brasil, a dinâmica do 
envelhecimento populacional está ligada à redução da mortalidade infantil, à 
diminuição da taxa de mortalidade da população idosa, à redução da taxa de 
fecundidade – fenômeno chamado transição demográfica.7 
Segundo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)8, no censo 
de 2010, a população com 60 anos ou mais de idade alcançou 19,6 milhões. Com 
um crescimento médio de mais deum milhão de idosos por ano, estima-se que a 
população deverá atingir 41,5 milhões de pessoas, em 2030. 
Como podemos inferir, esse expressivo aumento do número de idosos tem 
como consequência, tanto para a sociedade quanto para o próprio indivíduo desse 
grupo etário, a busca dos fatores determinantes das condições de saúde, de vida e 
do processo do envelhecimento. Desse modo, é necessário conhecer os fatores 
ambientais, psicológicos, sociais, culturais e econômicos, numa “visão global do 
envelhecimento como processo e do idoso como ser humano”.9 
No cenário atual, resultante das diferenças entre as taxas de mortalidade por 
sexo10, o maior contingente de idosos11 – cerca de 20 milhões ou 55,5% – é 
constituído de mulheres12 (feminilização do envelhecimento7,12), algumas em 
condições de viuvez, que não tiveram acesso à educação formal e à 
22 
 
 
 
profissionalização. Diante dessa realidade, segundo Camarano4, a “longevidade 
feminina nem sempre é vista como vantagem”. 
Por outro lado, há uma preponderância do gênero feminino nos centros 
urbanos11, que possibilita não só sua participação em atividades comunitárias e de 
lazer ou trabalho, mas também a apropriação no papel de provedora da família. 
Outra questão importante acerca do envelhecimento populacional refere-se às 
pessoas consideradas economicamente ativas ou inativas. A razão de dependência, 
que expressa a relação entre a população inativa (menores de 15 anos e maiores de 
60 de idade) e a população ativa (de 15 a 59 anos de idade)13 é um importante 
indicador10 na avaliação da efetividade das políticas públicas (previdência, 
educação, saúde, trabalho). 
Segundo Camarano, Kanso e Melo12, no Brasil, há um “caráter bidimensional” na 
relação entre o envelhecimento e a dependência: enquanto o idoso depende funcional e 
afetivamente da família, esta pode ser subvencionada por questões financeiras. 
No Brasil, devido às desigualdades – econômica, regional, social –, o 
aumento da expectativa de vida mantém estreita relação com a transição 
epidemiológica6,7,14,15 (modificação dos padrões de morbidade, invalidez e morte), 
ocasionando uma grande diversidade nos padrões de adoecimento, dependência e 
morte15. Dessa forma, a população brasileira padece de doenças infecto-
parasitárias, típicas de países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, e de 
doenças crônicas não-infecciosas (hipertensão arterial, diabetes, obesidade e 
neoplasias), comuns em países desenvolvidos.16 
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS)17, embora o 
envelhecimento populacional evidencie o sucesso das políticas de saúde pública e 
do desenvolvimento socioeconômico, são necessárias políticas públicas 
governamentais, em conjunto com ações da sociedade, que possibilitem condições 
para um envelhecimento digno. 
No Brasil, a Constituição Federal da República (CF, 1988)18 foi o primeiro 
marco legal que, apoiado pelo Plano de Ação Internacional para o Envelhecimento 
de Viena (1982)19, impulsionou a Política Nacional do Idoso (Lei 8.842 de 1994)19, 
elaborada e criada em 13 de maio de 2002, a partir das diretrizes do Conselho 
Nacional dos Direitos do Idoso (CNDI). Em 2003, ocorreu a regularização dos 
direitos da pessoa idosa por meio da publicação do Estatuto do Idoso20, que passa a 
23 
 
 
 
assegurar, na forma da Lei, oportunidades e facilidades para a preservação da 
saúde física e mental, além do aperfeiçoamento moral, intelectual e social do idoso, 
com liberdade e dignidade. 
Considerando o envelhecimento da população brasileira, os avanços na gestão da 
saúde e do conhecimento científico e as necessidades de dar condições de autonomia e 
independência por meio de um conceito de saúde específico para os idosos, a Política 
Nacional de Saúde da Pessoa Idosa tem por finalidade primordial: 
 
Recuperar, manter e promover a autonomia e a independência dos indivíduos 
idosos, direcionando medidas coletivas e individuais de saúde para esse fim, 
em consonância com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde. É 
alvo dessa política todo cidadão e cidadã brasileiros com 60 anos ou mais de 
idade (PNSPI, PT - nº 2528/GM 19 de outubro de 2006).
21 
 
 
A PNSPI tem como diretrizes21: promoção do envelhecimento ativo e 
saudável; a atenção integral da pessoa idosa; estímulo às ações intersetoriais; 
provimento de recursos capazes de assegurar a qualidade da atenção à saúde da 
pessoa idosa; estímulo à participação do controle social; formação e educação 
permanente dos profissionais de saúde do SUS na área de saúde da pessoa idosa; 
divulgação e informação sobre a PNSPI; promoção de cooperação nacional e 
internacional das experiências na atenção à saúde da pessoa idosa; apoio ao 
desenvolvimento de estudos e pesquisas. 
Os estudos interdisciplinares sobre o envelhecimento são importantes para 
subsidiar a elaboração de planejamentos e ações para enfrentar os desafios 
impostos pelo envelhecimento populacional. 
 
2.2 O envelhecimento individual 
 
Processo único, irreversível e natural, o envelhecimento é individual e 
acompanhado de progressivas perdas de funções, capacidades e papéis sociais, 
dependendo de qualidades básicas e adquiridas no meio ambiente, com implicações 
na família, nas políticas públicas e na distribuição de renda da sociedade.4 
Embora haja variadas características que marcam a passagem para a última 
fase da vida, como aparência física, surgimento de doença crônica, perda de 
capacidades físicas e mentais e de papéis sociais e familiares, a delimitação do seu 
24 
 
 
 
início é difícil, na medida em que a vida toda é afetada por condições sociais, 
econômicas, regionais, culturais, étnicas e de gênero.4 
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU)22 e o Estatuto do Idoso20, 
são idosos os indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos nos países em 
desenvolvimento. Esse parâmetro cronológico é utilizado nos estudos científicos9, 
principalmente na área da saúde, visto que não há uma idade precisa que marque o 
limiar de passagem entre a vida adulta e a velhice, sob o ponto de vista físico-
biológico, psicológico ou social. 
Papaléo Netto9 define o envelhecimento como um processo continuum, a 
velhice – fase da vida – e o idoso como o resultado final de um conjunto cujos 
componentes estão inter-relacionados: 
 
O envelhecimento é conceituado como um processo dinâmico e 
progressivo, no qual há modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas 
e psicológicas, que determinam perda da capacidade de adaptação do 
indivíduo ao meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e maior 
incidência de processos patológicos que terminam por leva-lo à morte 
(p.10). 
 
De acordo com Neri23, o envelhecimento do ser humano comporta: 
 
Expressiva variabilidade, dependendo do nível de desenvolvimento 
biológico e psicológico atingido pelos indivíduos e pelas coortes em virtude 
da ação conjunta da genética, dos recursos sociais, econômicos, médicos, 
tecnológicos e psicológicos (p. 20). 
 
De modo geral, a senescência ou envelhecimento normal inicia-se após o 
ápice da maturidade sexual do ser humano, com declínio gradual e progressivo da 
estrutura física e das funções fisiológicas. Também chamado de envelhecimento 
bem-sucedido, o envelhecimento normativo pode ser consequência da herança 
genética, da pouca exposição às doenças, das atitudes comportamentais e do 
ambiente favorável, bem como do acesso aos recursos de saúde e sociais. 
Nesse sentido, chama-se senilidade ou envelhecimento patológico aquele 
associado a comprometimentos na saúde. Segundo a OMS2, quatorze milhões de 
pessoas (85%) com idades entre 30 a 70 anos, que vivem em países em 
desenvolvimento, são acometidas pelas doenças crônicas não transmissíveis 
(DCNT) – doenças cardiovasculares, respiratórias crônicas, neoplasias, diabetes. No 
25 
 
 
 
Brasil, as DCNT, associadas às doenças neurodegenerativas e osteomusculares, 
contribuempara incapacidade na vida produtiva do idoso.24,25 
As atividades educativas, que estimulam mudanças no estilo de vida ou no 
comportamento de risco dos indivíduos, são imprescindíveis na medida que há 
expressiva associação das principais DCNT com tabagismo, alcoolismo, obesidade, 
sedentarismo, níveis elevados do colesterol, alto consumo de sal e de alimentos 
processados, baixa ingestão de verduras e frutas.25 
Considerando o idoso como agente participativo nas questões 
socioeconômicas, culturais, civis e espirituais, a OMS26 propôs o termo 
envelhecimento ativo para expressar um processo de potencialização das 
oportunidades de saúde, da participação social e da segurança, com o objetivo de 
aumentar a expectativa de vida saudável para todos que se encontram em processo 
de envelhecimento, incluindo os indivíduos com incapacidades físicas, fragilizados 
ou que necessitem de cuidados, melhorando sua qualidade de vida. 
O idoso independente é todo aquele capaz de realizar as atividades de vida 
diária (banhar-se, vestir-se, utilizar banheiro com controle de esfíncteres vesical e 
anal, transferir-se da cama para a cadeira, alimentar-se com a própria mão) e sem 
necessitar da ajuda de terceiros. 
De acordo com o grau de comprometimento da capacidade funcional, os 
idosos com potencial para desenvolvimento de fragilidade são aqueles que, mesmo 
independentes, apresentam alguma restrição nas atividades instrumentais de vida 
diária (cozinhar, controlar a própria medicação, fazer compras, cuidar do dinheiro, 
usar telefone, fazer pequenas tarefas domésticos, sair de casa desacompanhado, 
utilizar transporte coletivo). Conceitua-se idoso frágil todos com idade igual ou 
superior a 75 anos, além daqueles com as seguintes condições: hospitalização 
recente; doenças comprometedoras da funcionalidade física ou mental (acidente 
vascular encefálico, doenças neurodegenerativas, etilismo, neoplasia terminal, 
amputações de membros); acamados; limitados por pelo menos uma incapacidade 
nas atividades básicas de vida diária; moradores em Instituição de Longa 
Permanência para Idosos (ILPI); os que convivem com alguma forma de violência 
doméstica.27–30 
Resultante da associação de fatores biopsicológicos e sociais suscitados ao 
longo da vida, a fragilidade do idoso corrobora a importância da avaliação geriátrica 
26 
 
 
 
global. Os sistemas neurológicos, musculares, endócrinos e imunológicos 
comprometidos delineiam uma síndrome de fragilidade, clinicamente observável, 
com marcha lentificada, atividade física reduzida, diminuição da força da preensão 
da mão dominante, perda ponderal não intencional e queixa de fadiga. A 
sarcopenia29 (perda da massa muscular) e a dinapenia (diminuição da força 
muscular), correlacionadas a um conjunto de interações – distúrbios da inervação, 
diminuição de hormônios, aumento de mediadores inflamatórios e alterações da 
ingestão proteico-calórica – são os fatores preponderantes na síndrome de 
fragilidade do idoso, que tem diminuída a sua capacidade homeostática orgânica, 
com consequências danosas na capacidade funcional, resultando desde 
incapacidades até a morte.27,28 
Na área da saúde, a vulnerabilidade correlaciona-se com a contingência ao 
adoecimento resultante de causas contextuais históricas, individuais ou coletivas. Os 
idosos têm maior chance à vulnerabilidade frente a adversidades sociais, 
econômicas, ambientais, psicológicos ou culturais, que podem associar-se ao 
declínio físico próprio da senescência. Nesse sentido, o envelhecimento dá-se de 
forma patológica (senilidade), por acúmulo de eventos nocivos à sua individualidade, 
acarretando necessidade de recursos protetivos, nem sempre disponíveis ou 
alcançáveis por essa parcela da população.23,31–34 
Relacionada à incapacidade do exercício da liberdade, por causas física, 
psíquica, social, educacional ou econômica, a vulnerabilidade não pressupõe a 
perda da autonomiav. Segundo Almeida35, enquanto a autonomia envolve um 
conceito individual, a vulnerabilidade remete-se ao estabelecimento de relações 
desiguais entre indivíduos. 
Com ênfase nos aspectos psicossociais do envelhecimento bem-sucedido, os 
termos resiliência e vulnerabilidade são associados como contrafaces da 
disponibilidade psíquica individual frente às diversidades da vida. A resiliência 
refere-se a uma resposta de flexibilidade adaptativa do indivíduo, por meio de 
recursos internos (intrapsíquicos), para lidar com ambientes desfavoráveis ou com 
situações estressoras.36,37 
 
v Autonomia refere-se a habilidade individual de controle, decisão e ação sobre a modo de andar a 
vida baseado em regras e preferências próprios da pessoa.
26
 
. 
27 
 
 
 
Não obstante a relevância dos conceitos acerca da fragilidade, da 
vulnerabilidade e da resiliência dos idosos, o aprofundamento desses temas escapa 
aos objetivos desta pesquisa. 
Considerando-se a heterogeneidade do envelhecimento e os aspectos 
multifatoriais envolvidos no processo, o idoso confronta-se com alterações 
morfofisiológicas inexoráveis. Diante disso, efetivamente, a preservação da 
autonomia, por meio da manutenção das funções cognitivas, da capacidade 
funcional física, do estado mental, além da participação social e da satisfação com a 
vida, são os componentes mais favoráveis para o alcance do envelhecimento 
saudável ou bem sucedido.6,23 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
 
 
 
 
29 
 
 
 
3 COGNIÇÃO 
 
Termo empregado para descrever o funcionamento mental do indivíduo, a 
cognição inclui as habilidades de perceber (atenção), lembrar (memória), tomar 
decisões, planejar, sequenciar e produzir respostas adequadas às solicitações e 
estímulos externos, integrando esse processamento de informações com 
experiências anteriores.38 O envelhecimento pode levar a alterações das funções 
cognitivas, sendo na memória as mais evidentes.39 
Como se pode perceber, a função cognitiva pode ser analisada de acordo 
com a integração de experiências, ou seja, de acordo com os processos, com as 
estratégias e com os potenciais para aprendizagem e uso do que foi aprendido em 
variadas e novas situações, de forma que sua disfunção pode afetar a capacidade 
funcional em todas as esferas da vida: social, interpessoal, trabalho, lazer e 
atividades de vida diária.39 
Embora exista uma variabilidade no ritmo do declínio cognitivo normal do 
envelhecimento, esse ritmo é relacionado a fatores individuais de natureza biológica 
e de natureza genética, ambos associados a condições ambientais e socioculturais. 
Quanto aos processos orgânicos, esse declínio, que ocorre mais frequentemente 
após os 70 anos, está associado a alterações neurológicas típicas do 
envelhecimento, como a limitação do funcionamento sensorial e a diminuição no 
processamento de informações.40 
Como já se afirmou, o envelhecimento normal pode levar ao declínio gradual 
das funções cognitivas, relacionadas aos processos neurológicos que se alteram 
com a idade. Muitos idosos temem que a perda de memória, como dificuldades para 
recordar nomes, números de telefone e objetos guardados, seja sinal inicial de 
demência.41 
O sistema nervoso central (SNC) é o sistema biológico mais comprometido 
com o processo de envelhecimento, pois é o responsável pela vida de relação 
(sensação, movimento, funções psíquicas, entre outras) e pela vida vegetativa 
(funções biológicas internas).42 
A memória é uma função do SNC responsável pela aquisição, 
armazenamento e evocação de informações. A maioria das informações que 
constituem a memória é aprendida através dos sentidos, em episódios que são 
30 
 
 
 
denominados experiências. Os momentos de grandes emoções – como medo, 
paixão, tristeza, alegria, entre outros – são importantes na fixação da memória. 
Algumas informações, porém, são adquiridas pelo processointerno de memórias 
pré-existentes modificadas ou não (insight). Há tantas memórias possíveis quantas 
são as experiências e insights.42 
As memórias podem ser separadas em dois grupos principais: as 
declarativas43,44, relacionadas a eventos ou fatos ocorridos, e as de procedimento43,44, 
que estão associadas às habilidades adquiridas durante a vida (andar de bicicleta, 
tocar violino, etc.) e que podem ser evocadas automaticamente. As memórias 
declarativas podem ser subdivididas em episódica43 – que detém a referência do 
tempo e do espaço físico das informações, principalmente em eventos ou 
aprendizagem recentes – e semântica43 – que retém a autobiografia e a 
representação do universo individual, sendo, portanto, construída ao longo dos anos 
vividos. 
Todas as memórias são associativas43, na medida em que são adquiridas por 
meio da ligação entre grupos de estímulos: ouvir música é um estímulo que pode 
provocar sensação prazerosa; caso a experiência seja reforço (repetição) de outras 
sensações prazerosas semelhantes – segundo estímulo –, ocorre o 
condicionamento. 
A capacidade de retenção da informação enquanto ela está sendo 
processada é chamada de memória de trabalho.43,44 Esse processamento pode 
demorar poucos segundos e, como é sustentado apenas por atividades neuronais em 
rede durante a percepção do estímulo, essa memória não pode ser evocada. Ao ler a 
frase “o dia está bonito”, pode-se, por exemplo, demorar poucos segundos para 
processar a informação (memória de trabalho ou memória operacional), compreender 
e interligar as palavras para que a frase tenha um sentido, mas não se tem acesso a 
essa evolução de trabalho, em si, no nível da consciência. Se essa frase puder ser 
evocada por um período de tempo de até 6 horas, define-se a memória de curta 
duração43; caso ela permaneça por um período de tempo maior (horas, dias, semanas 
ou anos), será nomeada memória de longa duração.43 A memória de curta duração 
mantém a cognição em funcionamento durante o período de tempo necessário para a 
integração definitiva do evento na memória de longa duração. 
31 
 
 
 
A memória de curta duração44 detém a capacidade de manter e operar 
informações durante a realização de tarefas cognitivas – procurar um papel e uma 
caneta enquanto se fala ao telefone – e mantém a cognição em funcionamento 
durante o período de tempo necessário para a integração definitiva na memória de 
longa duração de um evento considerado relevante pela individualidade. 
Em formato de cavalo-marinho e localizado nos lobos temporais do cérebro 
humano, o hipocampo43 é a estrutura principal associada às memórias declarativas 
e à conversão da memória de curto prazo para a de longo prazo (Figura 1). O 
hipocampo faz parte do sistema límbico45, que é responsável pelos 
comportamentos emocional, social e sexual, pelo aprendizado, pela memória e 
motivação, tendo como principal função a integração de informações sensitivo-
sensoriais com estado psíquico interno: afeto, grau de alerta (estado de 
consciência) e ansiedade. Por serem extremamente complexos, o sistema e a 
sequência envolvidos na formação das memórias de longa duração são 
brevemente mencionados para demonstrar a fragilidade e a susceptibilidade às 
falhas da organização neurobiológica advindas com a idade. 
Os processos envolvidos nas memórias de curta43,44 duração ocorrem como 
eventos paralelos e, ao mesmo tempo, vinculados aos da memória de longa 
duração: trata-se de estímulos liberados no hipocampo que irão determinar o quanto 
as memórias consolidadas inicialmente persistirão com o tempo. 
Diante do exposto, contida no termo cognição38, a memória está relacionada à 
capacidade de perceber (através dos órgãos sensitivos – olhos, ouvidos, boca, nariz, 
pele), codificar, armazenar, consolidar e recuperar informações que são integradas 
como experiência ou aprendizado do indivíduo. 
Sob o conceito de cognição, as funções executivas46–48 são o conjunto das 
habilidades voluntárias individuais para a resolução de problemas, através do 
planejamento e sequenciamento das ações necessárias para a realização de 
tarefas futuras (ajuste preparatório49), mantendo a atenção dirigida e impedindo 
interferências de estímulos que possam interromper o curso da ação (controle 
inibitório49). De acordo com a neuropsicologia, as funções executivas exigem 
flexibilidade cognitiva47,49 e capacidade para suster modificações comportamentais48 
diante de contratempos e eventos novos. 
 
32 
 
 
 
Figura 1 - Estruturas anatômicas do encéfalo em plano sagital. 
 
 
 Fonte: Adaptada de Fundació GAEM MS Research.
50
 
 
3.1 Fatores associados ao déficit cognitivo no idoso 
 
O declínio cognitivo que acompanha a idade tem início e progressão 
extremamente variáveis, dependendo de fatores educacionais, de saúde e de 
personalidade, bem como do nível intelectual global e das capacidades mentais 
específicas do indivíduo.41 
Para Gorman e Campbell51, em 1995, comparando-se com pessoas mais 
jovens, o déficit cognitivo em idosos consiste em lentidão leve, generalizada e perda 
de precisão. Ainda segundo esses autores, um nível educacional elevado mostrou-se 
preventivo para o embotamento do estado mental durante o envelhecimento normal. 
Em um estudo longitudinal da população geral acima de sessenta anos, 
Schaie52, em 1996, observou que, embora nenhum dos participantes da pesquisa 
tivesse evidenciado declínio generalizado em todas as habilidades cognitivas, o 
33 
 
 
 
envelhecimento incidiu, especialmente, nas tarefas que exigiam rapidez, atenção, 
concentração e raciocínio indutivo. 
Estudo realizado por Santos et al.53, em 2012, demonstrou associação 
significativa entre a queixa de desempenho de memória, percepção de estresse, 
sintomas de depressão e de baixa autoestima. Os idosos com queixa subjetiva de 
comprometimento de memória apresentaram maior estresse, mais sintomas de 
depressão e baixa autoestima em comparação aos idosos sem queixa. 
Em revisão de publicações, Ávilla e Bottino54 observaram que muitos estudos 
sugerem que as alterações cognitivas em idosos deprimidos resulta em baixo 
desempenho em testes de avaliação de memória como consequência de disfunções 
executivas, déficits de atenção e diminuição da velocidade de processamento de 
informações e que, nos idosos com depressão de início tardio ou com depressão 
recorrente, os déficits cognitivos são mais graves com pior prognóstico devido ao 
risco de desenvolvimento de síndromes demenciais. 
A fim de investigar a relação entre queixas de memória, faixa de escolaridade 
e desempenho cognitivo em idosos, Paulo e Yassuda55, em 2010, estudaram 
setenta e sete frequentadores do Centro de Referência da Cidadania do Idoso 
(Creci), em São Paulo, e verificaram que os resultados sugerem que as queixas não 
variam de acordo com as faixas de escolaridade e não apontam associação 
significativa entre queixas e desempenho cognitivo. Essa investigação reafirma a 
tese de que a percepção subjetiva de perda de memória estaria mais associada a 
depressão e a traços da personalidade. Os resultados sugerem que o número de 
sintomas de ansiedade é proporcional à frequência de esquecimentos relatados. 
Adicionalmente, não se encontrou relação significativa entre queixas e sintomas 
depressivos, mas associação positiva com os sintomas de ansiedade.55 
Segundo Canineu41, os idosos que apresentam disfunção cognitiva, 
principalmente de memória, além do esperado no processo normal de 
envelhecimento, porém com manutenção das atividades funcionais, devem ser 
cuidadosamente avaliados, pois podem estar num processo inicial de demência. 
 
34 
 
 
 
3.2 Fatores de proteção das funções cognitivas 
 
Os processos de natureza sociocultural determinam o desenvolvimento e a 
manutenção da experiência, que pode ter uma ação compensatória em relação às 
perdasdecorrentes do envelhecimento biológico. Dessa forma, nesse processo de 
declínio, os fatores socioculturais e ambientais são determinantes no 
desenvolvimento e na manutenção das capacidades individuais, uma vez que 
podem atuar como ação compensatória em relação às inexoráveis perdas 
decorrentes do envelhecimento biológico.40 
Souza et al.56, em pesquisa com uma amostra de 50 idosos 
institucionalizados, que não apresentavam alterações neurológicas ou de memória, 
observaram os melhores desempenhos nos indivíduos com os seguintes aspectos: 
mulheres, nos subtestes que envolviam habilidade de memória; idosos considerados 
jovens, nas provas de memória relacionadas à evocação; pessoas com maior grau 
de instrução nas habilidades que envolviam linguagem. 
Argimon e Stein57, além de corroborarem a influência da escolaridade como 
fator de proteção do declínio cognitivo do idoso, apontam a hipótese de que algumas 
características sociodemográficas, como envolvimento com a comunidade, 
diferentes atividades de lazer, convívio com familiares e atividades físicas, também 
podem atuar como fatores protetivos individuais e ambientais. 
 
3.3 Instrumento de rastreamento de comprometimento cognitivo 
 
O Mini-exame do Estado Mental (MEEM) ou Mini-mental State Examination 
(MMSE) foi idealizado por Folstein58, na década de 1970, com o objetivo de ser um 
exame simples, rápido e prático na avaliação do estado cognitivo de pacientes. O 
termo “mini”, segundo o autor, refere-se ao fato de esse exame focar a esfera 
cognitiva de forma completa, sem inclusão dos aspectos relativos aos transtornos de 
humor e hábitos mentais (forma de pensar). Hoje em dia, embora não seja 
recomendado para diagnóstico, o MEEM é considerado um importante instrumento 
para rastreio de comprometimento cognitivo e também para avaliação temporal do 
grau de comprometimento cognitivo dos pacientes, bem como para acompanhamento 
da eficácia de tratamentos, pesquisas clínicas e estudos epidemiológicos.58,59 
35 
 
 
 
Como o nível de escolaridade59,60 do paciente pode influenciar o resultado do 
MEEM, Bertolucci, Brucki, Compacci e Juliano61 propuseram a adequação desse 
instrumento para uso no Brasil com adaptações validadas para o português e sugestões 
de pontos de corte estratificados para uma abordagem mais fidedigna e uniforme59 em 
relação à heterogeneidade educacional da população brasileira (Quadro 1). 
O MEEM apresenta confiabilidade confirmada61, pode ser utilizado em 
ambulatórios ou hospitais58–60, não requer um testador especialista, e as perguntas 
são feitas numa ordem pré-determinada (em lista) em duas seções58: a primeira para 
respostas verbalizadas sobre orientação espacial e temporal, memória e atenção; e 
a segunda com comandos verbais e escritos, escrita espontânea e cópia de 
desenho de um polígono complexo. O score máximo é 3058, o mínimo é de 23 para 
pacientes com algum nível de escolaridade e de 18 para aqueles sem instrução 
escolar formal60. Os pacientes que apresentarem score abaixo do mínimo podem ser 
considerados com prováveis comprometimentos cognitivos, necessitando de uma 
ampla avaliação geriátrica.62 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
 
 
Quadro 1 - Mini-exame do Estado Mental (MEEM). 
 
 
 Fonte: Adaptada de Bertolucci et al.
61
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37 
 
 
 
4 DEPRESSÃO NO IDOSO 
 
Utilizada, de forma geral, para denominar uma disposição de ânimo triste 
(desânimo) de uma pessoa, a palavra depressão também descreve sucessivos 
fenômenos, desde uma situação de desequilíbrio afetivo passageiro, passando por 
um mal estar geral (disforia), até uma doença depressiva maior, que necessita de 
intervenção psiquiátrica. A peculiaridade de todas essas formas de apresentação é a 
diminuição do humor e, nos casos mais graves, falta de interesse e desprazer nas 
atividades cotidianas.63–65 
A depressão pode surgir como sintoma, síndrome ou doença. Como sintoma, 
ela está ligada à reação situacional (exposição a agentes estressores, infortúnio 
financeiro, condição social) ou a alguns quadros clínicos (demência, uso de alguns 
medicamentos, doenças clínicas, etc.); como síndrome, além das alterações do 
humor, podem estar presentes alterações cognitivas, psicomotoras e vegetativas 
(alteração do sono e do apetite); e como doença, pode ter várias classificações 
(transtorno depressivo maior, melancolia, distimia, depressão integrante do 
transtorno bipolar tipos I e II, depressão como parte da ciclotimia, etc.).64 
A depressão tem efeito negativo na qualidade de vida do idoso, que tende 
apresentar maior comprometimento físico, social e funcional, causando sofrimento, 
desagregação familiar e incapacidades. Quanto maior a gravidade do quadro inicial, 
associado à inexistência de tratamento adequado, pior o prognóstico, aumentando a 
co-morbidade e a mortalidade.22,66 
Embora os sintomas depressivos possam ser comuns entre os idosos, 
principalmente nos que apresentam doenças crônicas e deficiências neurológicas, é 
essencial a diferenciação entre tristeza e depressão, pelo alto risco de 
comprometimento físico e desenvolvimento de uma depressão maior, o que pode 
aumentar o consumo de medicamento.22 
Os transtornos mentais estão entre as mais prevalentes condições crônicas, 
sendo a depressão a mais frequente síndrome psiquiátrica na terceira idade67, de 
modo que sua presença necessita ser avaliada.22,63 
No Brasil, a prevalência de depressão entre as pessoas idosas varia de 4,7% a 
36,8%22. Segundo Frank et al.68, as prevalências da depressão podem variar segundo a 
descrição da população de idosos, do método utilizado para o diagnóstico e do lugar de 
38 
 
 
 
referência (comunidade, instituição de longa permanência, serviço de atenção básica ou 
ambulatório especializado), presença de co-morbidades e fatores de risco. 
 
4.1 Diagnóstico da depressão 
 
O diagnóstico da depressão é determinado fundamentalmente a partir da 
descrição dos sintomas pelo paciente (história clínica), com busca minuciosa de 
transtornos psiquiátricos pregressos, uso de substâncias (medicamentos ou drogas) 
e a presença de doenças crônicas. Deve-se realizar avaliação cognitiva, funcional, 
psicológica e social, bem como coleta de informações a respeito de suas atividades 
de trabalho e de lazer, além de verificar o suporte e a dinâmica familiar, a rede de 
relacionamentos, a estrutura econômico-financeira e social. A capacidade funcional 
e a autonomia são relevantes no estado de saúde do idoso”.68 
Embora seja possível utilizar a Classificação Estatística Internacional de 
Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, atualmente, na 10ª edição (CID-
10, de novembro de 1996), da OMS, como critério para a classificação dos 
transtornos de saúde mental, no Brasil, o mais utilizado na área da geriatria68 é o 
Manual de Diagnóstico Estatístico de Doença Mental69, em sua 5ª edição – 
Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-5, de maio de 2013) –, 
da American Psychiatric Association (APA). 
Segundo o DSM-569, existem critérios para o diagnóstico de um episódio 
depressivo maior: ocorrência de cinco (ou mais) sintomas, com comprometimento 
funcional, durante período mínimo de duas semanas, sendo, pelo menos, um dos 
sintomas, humor deprimido ou perda de interesse/prazer. Os demais sintomas são 
os seguintes: (a) perda ou ganho de peso acentuado sem estar de dieta; (b) insônia 
ou excesso de sono (hipersonia), quase todos os dias; (c) agitação ou retardo 
psicomotor, quase todos os dias; (d) fadiga ou perda de energia; (e) sentimento de 
inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada; (f) capacidade diminuída de pensar ou 
concentrar, ou indecisão, quase todos os dias; (g) pensamento de morte recorrente 
ou ideação suicida, ou tentativa de suicídio. 
Os sintomas depressivos, que não se devem aos efeitos fisiológicos diretos 
de uma substânciaou outra condição médica, causam sofrimento significativo e 
39 
 
 
 
prejuízo no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes da 
vida do indivíduo. 
É na Atenção Primária de Saúde (APS) que a maioria dos pacientes idosos é 
atendida, principalmente em decorrência de suas doenças crônicas, de modo que o 
diagnóstico de depressão é de fundamental importância, para que sejam 
diagnosticados corretamente e não tenham terapêutica inapropriada. Com efeito, um 
consenso realizado em 2011, pela Sociedade Espanhola de Psicogeriatria70, 
verificou que os psiquiatras também necessitam de uma formação específica em 
psicogeriatria, para maior efetividade do tratamento de idosos deprimidos. 
Os transtornos depressivos podem ser classificados em três categorias quanto 
ao tempo e à intensidade: transtornos depressivos recorrentes, quando, entre episódios 
depressivos, ocorre um breve e pequeno aumento de humor e da atividade 
(hipomania); transtornos depressivos persistentes, quando os episódios persistem por 
anos; distimia, quando há rebaixamento crônico do humor com episódios muito curtos 
que não podem ser classificados como transtorno depressivo recorrente.71 
Não preenchendo critérios para a classificação de depressão maior, distimia 
ou transtorno depressivo, existe a depressão subsindrômica, que ocorre com a 
presença de sintomas depressivos evidentes por longo período de tempo, podendo 
evoluir, em 25% dos casos, para depressão maior.68 
 
4.2 Fatores de risco para a depressão em idosos 
 
Em pacientes idosos, o curso da depressão tende a ser reincidente e 
crônico68,72, e, quando há recorrência ou recaída, o tempo entre os episódios é mais 
curto. Estudo realizado por Reynolds72, em 2001, demonstrou que pacientes idosos 
com disfunção executiva estão em alto risco de recaída e recorrência. As 
prevenções secundárias são primordiais para diminuir angústia e sofrimento nas 
recaídas, nas recorrências e nos sintomas residuais, evitando uma cronificação da 
depressão nos idosos. 
Determinadas síndromes depressivas do idoso estão associadas a quadros 
neurodegenerativos. Há frequente co-morbidade entre dor e depressão nos idosos, 
justificada por disfunção compartilhada das vias nervosas de transmissão da dor e 
das zonas emocionais.70 
40 
 
 
 
Há unanimidade entre especialistas de que a depressão no idoso manifesta-se 
tipicamente com queixas somáticas70 e preocupação com a perda de memória do que 
propriamente por sintomas afetivos.68 Pode haver associação de queixa de cansaço 
exagerado (sensação de fadiga) e observação por parte dos familiares de redução das 
atividades em geral, além de desinteresse pelo ambiente.64 
A depressão geriátrica grave está associada a uma disfunção cognitiva, incluindo 
o funcionamento da memória episódica63, a função executiva e a velocidade de 
processamento.68 A presença de comprometimento das habilidades cognitivas nesses 
pacientes idosos está relacionada com maior gravidade e pior prognóstico.70 
Segundo estudo realizado por Silva e et al.73, em 2013, há evidência de que 
sintomas depressivos colaboram consideravelmente para a incapacidade funcional, 
com dependência nas tarefas de vida diária entre os idosos, para a escassa qualidade 
de vida74 e para o aumento do nível de sofrimento e angústia de seus cuidadores.67 
Há vários fatores adjuntos às mudanças fisiológicas próprias do envelhecer 
que contribuem ainda mais para suscetibilidade ao transtorno depressivo tardio66 ou 
desencadeantes da depressão em idosos vulneráveis: doenças crônicas, 
acontecimentos da vida (luto, solidão), revés econômico (empobrecimento) e fatores 
sócio-demográficos (isolamento, deslocalização), entre outros.66,75 O ingresso em 
uma residência geriátrica é um fator claramente associado à depressão.70 
Enquanto nos adultos jovens há maior prevalência de transtornos 
depressivos, os idosos apresentam mais sintomas depressivos.68 Streiner et al.76 
verificaram, em estudo realizado em 2006, que a prevalência de transtornos 
psiquiátricos (ansiedade ou de humor) diminui linearmente após a idade de 55 anos, 
independentemente do gênero. 
Segundo Kockler e Heun77, os sintomas depressivos são mais prevalentes 
nas mulheres jovens adultas do que nos homens, e a diferença de gênero para 
transtornos depressivos não é tão clara após os 75 anos de idade.68 Distúrbios do 
apetite são mais frequentes na mulher idosa deprimida, enquanto os homens idosos 
deprimidos apresentam mais agitação.77 
Em relação à diferença de gênero para depressão em idosos, um estudo 
longitudinal de sete anos, no Japão, em 2011, Tanaka et al.78 verificaram risco maior 
para desenvolvimento de transtorno depressivo nos seguintes grupos: homens 
sedentários, mulheres com IMC (Índice de Massa Corporal) igual ou maior que 25, 
41 
 
 
 
mulheres com mais de nove horas de sono por dia e fumantes. Em outro estudo, 
também realizado no oriente (Taiwan), as mulheres idosas com sobrepeso e obesas 
foram menos propensas à depressão do que seus pares de peso normal.79 
Um estudo longitudinal, realizado com idosos não institucionalizados, em 
Amisterdam80, verificou que a depressão aumenta o risco de morte, e a ansiedade 
(generalizada ou depressão e ansiedade mista) tem efeito protetor na mortalidade 
de homens idosos. 
Enquanto homens idosos viúvos têm o risco de 10 a 20% de apresentarem 
sintomas depressivos no primeiro ano após a morte do cônjuge, mulheres idosas 
viúvas estão em menor risco, pois se adaptam melhor à condição de viuvez. A 
convivência com um companheiro(a) é fator protetor para transtorno de humor em 
ambos os sexos.68 
Na nova versão do DSM-581, o luto, considerado forte fator estressor, por 
poder desencadear transtornos mentais graves, foi retirado do critério de exclusão 
para depressão maior, para indivíduos que passaram por essa adversidade em 
menos de dois anos. 
Em relação à escolaridade, vários estudos68,79,82,83 verificaram não só a 
importância do nível de instrução como fator protetor de transtorno de depressão em 
idosos, mas também que sintomas depressivos estão presentes em idosos 
analfabetos e com menor nível de escolaridade. 
Muitos estudos relacionam sintomas depressivos e depressão com baixos 
recursos financeiros68,84, pobreza e aposentadoria.82,85 Idosos que permanecem em 
atividade laborativa estão menos sujeitos à depressão.79 
O suporte social está significativamente associado com depressão, em 
particular, no idoso: quanto maior a rede de inter-relacionamentos, maior proteção, 
menor o risco de depressão68,83 Dessa forma, especial atenção deverá ser dada aos 
que moram sozinhos, pela possibilidade de experimentarem a solidão e a ausência 
de trocas emocionais.82 
A ausência ou o rebaixamento do cuidado emocional, durante a primeira fase 
da vida, a infância, pode determinar depressão no idoso, assim como traumas68, 
adversidades e desestrutura na família.66 
42 
 
 
 
Em instituições de longa permanência, a depressão é um importante fator de risco 
para idosos68, principalmente quando eles têm história de depressão anterior à 
institucionalização, apresentam distúrbio do sono ou são do gênero feminino.86 
Outros fatores que predispõem ao transtorno depressivo no idoso são: 
adicção (álcool e tabaco)78, distúrbios ou perdas sensoriais (visão e audição), uso de 
medicamentos (anti-hipertensivos, analgésicos e sedativos87, antiparkinsonianos). 
 
4.3 Fatores de proteção de depressão 
 
O ambiente oportuno66 pode intervir positivamente na vida do idoso, assim 
como a aquisição de um comportamento de vida mais saudável com práticas de 
exercícios físicos regulares79,88, espiritualidade89, participação social75 e lazer.87 
Esses hábitos atuam como fatores protetores, melhorando a qualidade de vida e 
coibindo o desenvolvimento dos sintomas ou transtorno de humor depressivo. 
A identificação precoce dos sintomas depressivos ou o diagnósticode 
transtorno de humor depressivo, mesmo com a perspectiva de co-morbidade 
(doenças crônicas), traz benefício na qualidade de vida do idoso74, na medida em 
que torna possível uma intervenção terapêutica. 
 
4.4 Instrumento para rastreamento da depressão no idoso 
 
O rastreamento dos transtornos de humor depressivo nos idosos é de 
extrema importância e deveria ser realizado de forma sistemática90, principalmente 
na atenção primária à saúde – considerada porta de entrada do paciente no sistema 
de saúde do país e onde há um grande índice de sub-reconhecimento dos sintomas 
depressivos.68 
Por apresentar boa sensibilidade, especificidade e confiabilidade62, a Escala 
de Depressão Geriátrica-15 (EDG-15) ou Geriatric Depression Scale-15 (GDS-15), 
uma versão abreviada da escala de 30 questões elaborada por Sheikh e 
Yesavage62, é um dos instrumentos mais utilizado para o rastreamento dos 
transtornos de humor depressivos nos idosos62,90,91 
A EDG-15 é composta por quinze perguntas, com possibilidade de resposta 
dicotomizada – sim ou não – para cada uma delas (Quadro 2). O ponto de corte 
43 
 
 
 
sugerido é 662,91: score abaixo de 6 é considerado normal; igual ou superior a 6 é 
sugestivo de transtorno depressivo. 
 
 Quadro 2 - Escala de Depressão Geriátrica (EDG) 
 
 
 Fonte: Adaptada de Almeida OP e Almeida AS.
90
 
 
 
 
 
 
 
 
44 
 
 
 
 
45 
 
 
 
5 FUNCIONALIDADE 
 
O processo do envelhecimento traz alterações orgânicas progressivas92 na 
vida de uma pessoa, com rapidez de evolução variável de um indivíduo para outro, 
de modo que os idosos formam um grupo de alta heterogeneidade93 quanto aos 
aspectos físico e mental. Os comprometimentos auditivo94–97, visual97, motor96 e 
cognitivo, associados ou não às doenças crônico-degenerativas93, limitam a vida de 
relação dos idosos, podendo ocasionar dependência nas suas atividades habituais 
ou cotidianas. 
O idoso saudável é aquele que, além de, a partir de suas próprias decisões – 
autonomia22 –, pode agir livremente sem depender da ajuda de outras pessoas para 
realizar suas atividades, dispõe de suporte familiar, mantém-se emancipado 
economicamente e integrado na sociedade. Em concordância com Ramos98, a 
saúde ou bem-estar ao longo do envelhecimento resulta de um equilíbrio 
multidimensional da reserva funcional do idoso, apesar da provável existência de 
problemas relacionados à saúde. 
A investigação dos elementos relacionados com a capacidade funcional dos 
idosos é importante na compreensão dos determinantes do envelhecimento 
saudável99 e, consequentemente, oferece informações para o planejamento e 
execução de programas especiais de atenção para essa parcela da população.100 
Vale ressaltar que a capacidade funcional é um importante indicador de saúde98,101, 
e seu declínio está associado ao aumento da mortalidade102 entre os idosos. 
Para garantir uma “expectativa de vida sem incapacidades físicas”26, o 
sistema público de saúde do Brasil – Sistema Único de Saúde (SUS) – deve 
efetivamente permitir o acesso universal das pessoas idosas, com prioridade nas 
ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação de doenças.103 
 
5.1 Conceitos 
 
Funcionalidade é uma expressão genérica104 que se refere ao grau de 
precisão com que uma pessoa pode executar atividades em sua vida cotidiana, 
desde sua ideação até a ação propriamente dita; assim, capacidade funcional 
expressa o potencial105 que um ser humano apresenta de pensar e agir de forma 
46 
 
 
 
individual e independente. Incapacidade e capacidade funcional, de acordo com 
Lopez104, “são as duas faces da mesma moeda” relacionadas à saúde e 
influenciadas por diversos fatores ambientais ou pessoais. 
Na tentativa de aprofundar o conhecimento, vários estudos104,106–109 apontam 
um debate sobre dois aspectos distintos acerca dos conceitos envolvidos na 
funcionalidade e na incapacidade: um diz respeito ao modelo médico, que julga a 
incapacidade como uma doença, deficiência ou trauma relacionado diretamente com 
o indivíduo e que, portanto, necessita de intervenção médico-assistencial; o outro 
refere-se a um modelo social, que reputa a incapacidade como uma questão criada 
na interação do indivíduo com a sociedade, rechaçando a incapacidade como um 
atributo individual. 
No ponto central dessa dialética, estaria a forma de enfrentamento do 
problema: o objetivo do modelo médico é o tratamento ou a promoção de meios para 
adaptar o indivíduo incapacitado a novos comportamentos; já o modelo social 
propõe uma ação participativa de toda a sociedade para execução de ações 
ambientais. Ambos os modelos envolvem políticas: o primeiro, as políticas públicas 
de saúde, e o segundo, as políticas sociais e as questões relativas aos direitos 
humanos. 
Baseando-se em uma abordagem integrada dos modelos médico e social, a 
OMS107, em 2001, aprovou a Classificação Internacional de Funcionalidade, 
Incapacidade e Saúde (CIF)110, cuja concepção diferenciada da funcionalidade, da 
incapacidade e da saúde passou a ser um marco referencial104, um importante 
recurso na análise das condições da vida humana, para a implantação de políticas 
de inclusão social106 e para a legislação sobre os direitos humanos109, nacional ou 
internacionalmente. 
Enquanto a CID-1071 fornece uma codificação de base etiológica (origem causal 
da doença), a CIF, com posição neutra em relação à etiologia, oferece uma codificação 
para problemas funcionais e de estrutura corporal associados à saúde.109 Desse modo, 
ambas devem ser utilizadas de forma complementar104,106,107 para a obtenção de um 
retrato mais fidedigno sobre o estado de saúde individual ou populacional. A CIF109 dá 
o seguinte exemplo: “duas pessoas com a mesma doença podem ter diferentes níveis 
de funcionalidade, e duas pessoas com o mesmo nível de funcionalidade não têm 
necessariamente a mesma condição de saúde”. 
47 
 
 
 
A CIF está estruturada em duas partes, cada uma com dois componentes: 
funcionalidade e incapacidade, com funções do corpo (funções fisiológicas dos 
sistemas orgânicos, incluindo as psicológicas), e estrutura do corpo (partes 
anatômicas, órgãos, membros); fatores contextuais, com os componentes 
ambientais e pessoais (Figura 2). 
A funcionalidade109 indica aspectos positivos nas atividades e nas 
participações; já os processos de incapacidade109 indicam aspectos negativos das 
mesmas e incluem as dimensões: deficiência (impairment)107, quando sistemas ou 
partes do corpo não funcionam adequadamente; e incapacidade (disability)107, 
quando as pessoas não conseguem desempenhar atividades. As deficiências 
podem ser temporárias ou permanentes (quanto à duração), progressivas, 
regressivas ou estáveis (quanto à evolução), intermitentes ou contínuas (quanto ao 
intervalo de aparecimento).109 A incapacidade pode ser baixa ou grave, podendo 
variar ao longo do tempo. 
Para clarificar o tema abordado, algumas definições são importantes: 
atividade é a realização de uma tarefa ou ação por um indivíduo, ou seja, é a 
funcionalidade sob perspectiva individual; participação é o envolvimento (inclusão, 
aceitação, acesso) do indivíduo em uma determinada situação da vida, ou seja, é a 
funcionalidade sob a perspectiva social; limitação de atividade diz respeito à 
dificuldade de ação de um indivíduo; restrição de participação consiste nas 
dificuldades do desempenho de papéis sociais; desempenho descreve o que o 
indivíduo faz no seu ambiente cotidiano; capacidade tem relação com aptidão 
individual para realizar ações107,109 
Exemplificando esses conceitos: uma pessoa soropositiva para o HIV pode estar 
sem sintomas da doença, não apresentar deficiência, ser capaz de realizar várias 
tarefas, contudo, por discriminação, ela pode ter acesso negado a um emprego.109 
Expondo a biografia do indivíduo, ao demonstrar como seu estilo de vida e o 
ambiente físico-social107 inter-relacionam-se,

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