Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
EDITORA ESPAÇO DA SOPHIA 2 REVISTA ACADÊMICA ESPAÇO DA SOPHIA 3 3 © 2011 - Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou duplicada sem autorização expressa do autor e do editor. Editora: Espaço da Sophia Editor: Luciano Arantes Sanches Capa: Juliana Roberta Pereira Conselho Editorial: Andrea Marcia de Toledo Pennacchi; João Paulo Souza Silva; Maio José Maestri Filho Moises José Bueno; Paulo Roberto de Almeida. Conselho Cientifico: Angélica Gois Müller Morales; Cíntia da Silva Arruda; Debora Cristina de Souza Denise Godoi Ribeiro Sanches; José Hilário Delconte Ferreira; Paulo Cezar de Oliveira. Revisão Linguística: Sérgio Vale da Paixão; Núbia Andrade do Vale Designer: Willians Severino Dias. Publicidade: Juliana Roberta Pereira EDITORA ESPAÇO DA SOPHIA 4 Revista Acadêmica Espaço da Sophia/ Vol. Especial – 1. ed. Tomazina, (PR): Editora Espaço da Sophia, MARÇO 2011. CDD 370 REVISTA ACADÊMICA ESPAÇO DA SOPHIA 5 5 SUMÁRIO ENSINO DE LITERATURA: POR QUE E PARA QUÊ? .......................................... 9 POR HIUDÉA T. R. BOBERG ................................................................................... 9 PRODUÇÃO DE TEXTOS: UM TRABALHO QUE DÁ TRABALHO ...................... 27 POR SERGIO VALE DA PAIXÃO (PG-UEL/FEATI) ................................................... 27 ARQUEOLOGIA E HISTÓRIA: CONTRIBUIÇÕES RECÍPROCAS PARA O ENTENDIMENTO DA TRAJETÓRIA HUMANA ................................................ 43 POR ALUIZIO ALFREDO CARSTEN – UEM ............................................................... 43 A APRENDIZAGEM MATEMÁTICA DO DEFICIENTE VISUAL: .......................... 53 POR CARDOSO, FLÁVIA APARECIDA REITZ ............................................................ 53 E VECCHI, THELMA PRETEL BRANDÃO .................................................................. 53 RESERVA NATURAL E SUA IMPORTÂNCIA PARA A COMUNIDADE ESCOLAR: O CASO DO PARQUE DO CINQUENTENÁRIO .................................................... 73 POR ADALBERTO FERDNANDO INOCÊNCIO – UEM ¹ ................................................. 73 E ANA LUCIA OLIVO ROSAS MOREIRA – UEM² ....................................................... 73 O ENSINO DE ANATOMIA COMO ENSINO DE CIÊNCIAS: CONSIDERANDO A MODALIDADE NÃO-FORMAL NO ESPAÇO DE UM MUSEU INTERDISCIPLINAR. .................................................................................................................... 91 POR ELOIZA MUNIZ CAPPARROS 1 , ........................................................................ 91 ADALBERTO FERDNANDO INOCÊNCIO², .................................................................. 91 E SILVANA REGINA DE MELO 3 ............................................................................... 91 ESTÁGIO SUPERVISIONADO E A IMPORTÂNCIA DE ATIVIDADES DIVERSIFICADAS NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES ...................... 101 POR ANDRESSA DOMINGOS POLLI¹ ..................................................................... 101 E ANA LÚCIA OLIVO ROSAS MOREIRA² ................................................................. 101 EDITORA ESPAÇO DA SOPHIA 6 FORMAÇÃO DE EDUCADORES AMBIENTAIS EM RESERVA URBANA: INVESTIGANDO O COMPROMETIMENTO DE PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL EM PARTICIPAR DE PROJETO AMBIENTAL ........................ 117 POR ANA LÚCIA OLIVO ROSAS MOREIRA 1 , ........................................................... 117 RENATA MAYARA CAMPOS 2 , ............................................................................. 117 E ANNA LUIZA SÓRIA DE SANTANA 2 ..................................................................... 117 A TECNOLOGIA COMO SUPORTE DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL ................... 135 POR DENISE GODOI RIBEIRO SANCHES¹ ................................................................ 135 E ANA LÚCIA OLIVO ROSAS MOREIRA² ................................................................. 135 REVISTA ACADÊMICA ESPAÇO DA SOPHIA 7 7 EDITORA ESPAÇO DA SOPHIA 8 REVISTA ACADÊMICA ESPAÇO DA SOPHIA 9 9 ENSINO DE LITERATURA: POR QUE E PARA QUÊ? Por Hiudéa T. R. Boberg (Universidade Estadual do Norte do Paraná - UENP) Deve-se ou não ensinar literatura? Por que se ensina e para quê? Pretende-se provocar reflexões sobre o tema em questão, mas com o propósito de estimular a mudança da prática pedagógica, voltada mais para a identificação do leitor com o texto lido, por meio da exploração dos saberes que o próprio texto veicula. Palavras-chave: Leitura literária. Metodologia de ensino. Formação do professor. Introdução O que leva uma criança, em alguma etapa do seu crescimento, a se desinteressar pela leitura literária? Justo ela, que já se deixou embalar pelos contos infantis e buscou esse imaginário nos livros que tanto a fascinou. Uma literatura sem inspiração? Dificuldades financeiras que lhe impeçam adquirir livros? Uma fase da evolução psíquica do ser humano? Ou uma prática abandonada em prol de outras mais prementes? Qual a parcela de responsabilidade da escola nesse processo? Estas questões já inquietaram pais, professores e estudiosos da pedagogia da leitura, e não apenas no Brasil, pois o desprezo pela leitura da literatura, entre aqueles que ingressam na adolescência, acentua-se em vários países, ao menos no mundo ocidental. Em Como um romance, Daniel Pennac assim resume, habilmente, as mesmas aflições: “Se, como se costuma dizer, meu filho, minha filha, os jovens não gostam de ler, ou melhor, EDITORA ESPAÇO DA SOPHIA 10 não amam a leitura – e o verbo é justo, porque se trata de uma ferida de amor – não é preciso incriminar nem a televisão, nem a modernidade, nem a escola. Ou incriminamos tudo isso, se quisermos, mas somente depois de nos termos colocado esta primeira questão: o que foi que fizemos daquele leitor ideal, que ele era, naquele tempo em que representávamos, de uma só vez, o papel de contador e do livro?” (1993, p. 50, grifos no original) Observe-se que o leitor “ideal” lembrado por Pennac já existiu “naquele tempo” da infância, portanto, já desfrutou de um prazer estético incorporado naturalmente na vivência familiar e no período de ingresso à escola, mas que foi perdido em seguida. São observações de um estudioso que defende a fruição do texto como estratégia a ser recuperada no ambiente escolar, e isso no contexto europeu dos anos 90. Não é sem surpresa que resgatamos as mesmas percepções do poeta Carlos Drummond de Andrade, cerca de vinte anos antes, quando responsabilizou a escola pelo fato de a criança perder sua natural sensibilidade poética: “Por que motivo as crianças, de modo geral, são poetas e, com o tempo, deixam de sê-lo? Será a poesia um estado de infância relacionada com a necessidade de jogo, a ausência de conhecimento livresco, a despreocupação com os mandamentos práticos de viver – estado de pureza da mente, em suma? Acho que é um pouco de tudo isso, se ela encontra expressão cândida na meninice, pode expandir-se pelo tempo afora, conciliada com a experiência, o senso crítico, a consciência estética dos que compõem ou absorvem poesia. Mas, se o adulto, na maioria dos casos, perde essa comunhão com a poesia, não estará na escola, mais do que em REVISTA ACADÊMICA ESPAÇO DA SOPHIA 11 11 qualquer outra instituição social, o elemento corrosivo do instinto poético da infância, que vai fenecendo, à proporção que o estudo sistemático se desenvolve, até desaparecer no homem feito e preparado supostamente para a vida?(...) O que eu pediria à escola, se não me faltassem luzes pedagógicas, era considerar a poesia como primeira visão direta das coisas e, depois, como veículo de informação prática e teórica, preservando em cada aluno o fundo mágico, lúdico, intuitivo e criativo, que se identifica basicamente com a sensibilidade poética. (...) Alguma coisa que se bolasse nesse sentido, no campo da Educação, valeria como corretivo prévio da aridez com que se costuma transcrever os destinos profissionais, murados na especialização, na ignorância do prazer estético, na tristeza de encarar a vida como dever pontilhado de tédio. E a arte, como a educação e tudo o mais, que fim mais alto pode ter em mira senão este, de contribuir para a adequação do ser humano à vida, o que, numa palavra, se chama felicidade?” (ANDRADE, 1974) A longa citação se faz necessária para que se possa colher, nos argumentos do poeta, os fundamentos de sua preocupação com o banimento das chances que a criança deveria usufruir no ambiente escolar, para lapidar seu “ser poético”. Há que se lembrar da literatura no quadro das artes evocadas pelo poeta, responsáveis por este burilamento, afinal, ela resultou como disciplina nos currículos escolares, associada ao estudo da língua. Provavelmente, o poeta já pressentia o descaso do poder público com a experiência do prazer estético, que em sua opinião EDITORA ESPAÇO DA SOPHIA 12 também poderia ser absorvida pela escola. Nela estariam os alicerces de uma formação mais humanizada e sensível. As ponderações aqui alinhavadas, e as implicações delas decorrentes, que tomam o seu curso ao longo de décadas de equívocos no campo das políticas educacionais, constituem o pano de fundo das reflexões que se pretende alcançar com este texto, especialmente sobre o espaço que o ensino de literatura ocupa e deve ocupar na formação da criança dentro da escola. Assim, por que se ensina literatura e com qual objetivo são duas questões principais a nortearem estas considerações. Brevíssimo percurso teórico-metodológico Quando se busca conhecer os fundamentos das ideias defendidas pelos estudiosos que se debruçaram sobre o tema do ensino da literatura, no contexto brasileiro, encontram-se ao menos duas vertentes de publicações: a primeira, que se volta para a detecção de graves problemas no trato do texto literário em sala de aula, com justificativas calcadas em pesquisas institucionais a corroborarem os questionamentos levantados. Constitui o complexo de manifestações dessa ordem, livros como Literatura/Ensino: uma problemática (1992), de Maria Thereza Fraga Rocco; Invasão da catedral: literatura e ensino em debate (1983) e Reinvenção da Catedral (2005), de Lígia Chiappini de Moraes Leite; O ensino de literatura no segundo grau (s.d.) e A leitura e o ensino de literatura (1988), ambos organizados por Regina Zilberman; Ler na escola: para ensinar literatura no 1º, 2º e 3º graus (1998), de Tânia M. K. Rösing; O prazer do texto: perspectivas para o ensino de literatura (1989), de Alice Vieira, e Parâmetros curriculares e literatura: as personagens de que os alunos realmente gostam (1999), de Maria Alice Faria. A segunda vertente compreende a produção de autores que se dedicaram a propor metodologias de ensino, buscando REVISTA ACADÊMICA ESPAÇO DA SOPHIA 13 13 subsidiar os docentes também com descrições de práticas pedagógicas ou sequências didáticas, como forma de ilustrar a proposta metodológica. Compreendem esta categoria publicações como Literatura: a formação do leitor: alternativas metodológicas (1993), de Vera Teixeira de Aguiar e Maria da Glória Bordini; Literatura: arte, conhecimento e vida (2000), de Nelly Novaes Coelho; Transformando o ensino de língua e literatura: análise da realidade e propostas metodológicas (2002), organizado por Cecil Jeanine Albert Zinani; Ensino de literatura: uma proposta dialógica para o trabalho com literatura (2005), de William Cereja; Letramento literário: teoria e prática (2006), de Rildo Cosson; Ensino de literatura: propostas para o ensino fundamental (2006), de Juracy Aussman Saraiva e Ernani Mügge. Como se pode perceber, as publicações sobre os problemas que cercam a presença da literatura no currículo escolar datam de pouco menos de trinta anos, ao passo que aquelas, cuja preocupação é a de subsidiar o trabalho do professor, não passam dos últimos dez anos, revelando que ainda existe um abismo entre a teoria e a prática. Por teoria, subentende-se o conjunto de reflexões acerca de resultados de pesquisas na área, sobre a adoção de políticas públicas, ou sobre o próprio contexto escolar, enquanto a prática compreenderia a aplicabilidade das metodologias de ensino em sala de aula. Considerando-se a pouca produção nas duas instâncias, e mesmo o pouco aproveitamento dessas ideias pela escola, o prejuízo recai sobre a geração de crianças e jovens à mercê de práticas convencionais de leitura literária, que já re revelaram toscas diante das potencialidades intelectuais e emotivas desses alunos. EDITORA ESPAÇO DA SOPHIA 14 Discussão 1. Ensino de literatura: as sequências didáticas Em vários dos livros elencados, os pesquisadores são unânimes em apontar a concepção vigente na escola brasileira, de ensino tecnicista, como responsável por impregnar a formação de uma geração de professores, que por sua vez adotou a mesma concepção em sua prática, quer movida pela própria trajetória quer por aderir a um sistema de ensino em que os livros e os manuais didáticos desencorajam a adoção de experiências criativas. Entre os conteúdos explorados destacam-se os conceitos relativos a elementos de teoria literária, supostamente necessários para que o aluno “interprete” o texto, o qual invariavelmente é representativo de uma dada estética e deve ser “analisado” sob uma perspectiva histórica. Para superar este quadro adverso, em que a leitura do aluno sequer é considerada, e em que as ligações entre possíveis contextualizações são desprezadas, alguns dos autores elaboraram propostas de abordagem do texto, com o objetivo de buscar especialmente mais envolvimento do aluno no ato da leitura, quando são explorados os saberes que o próprio texto veicula. Tais práticas foram reunidas num trabalho monográfico a ser publicado por Boberg e Stopa (2008), sumariadas a seguir. 1.1 Método Pesquisa-Ação Sequência didática proposta por Cecil Jeanine Albert Zinani e Salete Rosa Pezzi dos Santos, no livro Transformando o ensino de literatura: análise da realidade e propostas metodológicas (2002, p. 114-120), direcionada para o ensino médio. Composto de sete etapas, pode ser assim resumida: REVISTA ACADÊMICA ESPAÇO DA SOPHIA 15 15 1ª etapa - discussão inicial sobre a presença da literatura no cotidiano dos alunos; 2ª etapa - reforço da importância do estudo da literatura, pelo professor, independentemente do resultado da discussão anterior; 3ª etapa - escolha da obra que será lida extraclasse, em consonância com os objetivos traçados pelo professor e com os interesses e carências dos alunos; 4ª etapa - leitura e análise de um texto literário, escolhido pelo professor, de preferência uma narrativa breve, interessante e adequada ao nível intelectual da sala, procurando servir-se dela para uma apreciação estética, interpretativa e crítica; 5ª etapa - contextualização da obra, resgatando informações breves sobre o autor e a época de sua produção, e os contextos social e literário; 6ª etapa – análise do texto literário realizada pelo aluno, a partir de experiência de leitura e de discussão já empreendidas com o professor, garantindo a apreciação de acordo com os procedimentos adotados anteriormente; 7ª etapa – relação entre obra literária e o cotidiano, com o propósito de sensibilizar o aluno a percebera literatura como veículo de conscientização de uma dada realidade sociopolítica e cultural. 1. 2 Metodologia Integradora Concebida por Juracy Aussman Saraiva e Ernani Mügge, no livro Ensino de literatura: propostas para o ensino fundamental (2006) é constituída por etapas de percepção (entender, interpretar e aplicar), que se apóiam no caráter estético dos textos. Compreende atividades diversificadas: EDITORA ESPAÇO DA SOPHIA 16 1ª etapa – leitura compreensiva: efetiva-se no momento em que o leitor responde à pergunta O que o texto diz?; exige a leitura integral do texto; o leitor responde aos elementos nele disponibilizados; deve-se investigar a duplicidade de planos (do conteúdo e da expressão). 2ª etapa – leitura interpretativa: cumpre-se quando o leitor responde à pergunta Qual é o sentido do texto?; confronta o resultado da análise crítica dos componentes textuais à significação inicialmente atribuída ao texto; a interpretação resulta da sobreposição de leituras (a primeira leitura se torna horizonte da segunda; a percepção estética do texto passa a ser feita pelo horizonte de interpretação do leitor) 3ª etapa – transferência de leitura ou etapa de aplicação: visa responder à pergunta: Que diálogo há entre o texto e o contexto estético-cultural atual e o do momento de sua produção?; possibilita ao leitor ampliar a sua experiência literária, relacionando-a às manifestações do presente e do passado e integrando-a a outros campos de expressão artística ou do conhecimento. 1.3 Sequência Básica Projetada por Rildo Cosson, em Letramento literário (2006), é voltada para a abordagem de textos no ensino fundamental, e compõe-se das seguintes etapas: 1ª - Motivação: preparar o aluno para a leitura do texto, explorando o elemento de motivação: o tema a ser considerado; observação da estrutura e da temática a ser trabalhada. 2ª - Introdução: apresentação do autor e da obra; opção ou não por antecipar parte do enredo, como estratégia para cultivar a curiosidade do leitor; exposição da obra e sua importância, justificando a escolha; demonstração física da obra e REVISTA ACADÊMICA ESPAÇO DA SOPHIA 17 17 exploração dos elementos paratextuais (“leitura” coletiva do objeto livro); levantamento de hipóteses sobre a “leitura” feita (orelha, capa, contracapa) e justificativa da primeira impressão após o término da leitura integral da obra; leitura das impressões críticas e do prefácio. 3ª - Leitura: observação sem policiamento, a fim de auxiliar os alunos a superar obstáculos; leitura de texto curto (em sala de aula) ou de texto extenso (fora da sala); aplicação de intervalos (no máximo três) para manifestação dos resultados das leituras dos alunos; caracterização dos intervalos (leitura de textos menores que tenham ligação com o texto maior); leitura conjunta de um capítulo ou trecho de capítulo, para ser trabalhado estilisticamente em microanálise; atividades do intervalo (período destinado a perceber dificuldades, como vocabulário, estrutura composicional, interação com o texto, ritmo de leitura). 4ª - Interpretação: construção de sentido do texto por meio de inferências (partir do entretecimento dos enunciados, que as constituem, para chegar à construção do sentido do texto); momento interior (decifração de palavras, páginas, capítulos, até chegar à apreensão global da obra); momento exterior (concretização da interpretação como ato de construção de sentido); compartilhamento das interpretações dos alunos (reflexão e externalização dos comentários); registro das explanações (desenho, música, resenha, performances, diário, colagens, maquetes, júri simulado, feira do livro, produção literária). 1. 4 Proposta dialógica As relações dialógicas entre textos literários, seja considerando temas, gêneros diferenciados ou projeto estético, estão na base da metodologia concebida por William Roberto Cereja e publicada em Ensino de literatura: uma proposta EDITORA ESPAÇO DA SOPHIA 18 dialógica para o trabalho com literatura (2005). O autor defende a ideia de que o uso da historiografia não é o único motivo a justificar o fracasso do ensino da literatura no ensino médio. Em vista disso, propõe o enriquecimento dessa prática com uma metodologia que une a sincronia e a diacronia na análise do texto. Por ser dialógica, a proposta compõe-se de idas e vindas entre os diversos textos escolhidos, podendo ter o seguinte encaminhamento: 1º momento: escolha dos textos, com a preocupação de buscar, por meio do uso simultâneo da sincronia e da diacronia, “pontos de intersecção” que guiem a análise. Pode-se optar por dois caminhos: a) fazer um estudo comparativo entre textos de diferentes períodos e com diferentes enfoques; ou b) para aproveitar plenamente o que o texto oferece, buscar os caminhos que o próprio texto aponta “em suas relações dialógicas com outros textos” (CEREJA, 2005, p. 166). Escolha do “ponto de intersecção”: a) por temas (a nacionalidade, a representação da infância, o negro, o amor, a adolescência, campo X cidade); b) por gêneros (o conto, por exemplo, na perspectiva de autores com diferentes nacionalidades ou de diferentes épocas); c) pela tradição ou pelo projeto estético (contraste entre diferentes autores que cultivaram o mesmo gênero, para se perceber a forma como tratam o mesmo tema; confronto entre autores que cultivaram gêneros diferentes, buscando entender como trataram, por exemplo, a ironia; comparação entre as diferentes concepções da linguagem regional utilizada pelos autores; ou ainda considerar semelhanças e diferenças entre projetos estéticos de diferentes autores). 2º momento: como a preocupação é seguir os caminhos apontados pelo próprio texto, um desses deverá nortear as outras leituras, estimulando o diálogo. Constituem procedimentos: a) analisar os textos de forma imanente, contextualizá-los e observá- REVISTA ACADÊMICA ESPAÇO DA SOPHIA 19 19 los em seus aspectos externos; b) realizar o processo de forma que os caminhos escolhidos fiquem claros para o aluno; c) tomar um texto como ponto de partida para movimentos de leitura diacrônicos (de trás para frente ou vice-versa) e sincrônicos, aproximando autores de diferentes épocas com semelhanças em seus projetos estéticos; d) destacar quais as alterações em relação à recepção da crítica e do leitor que o deslocamento espaço- temporal causa; e) ressaltar como cada época literária via de forma diferente os modos de produzir os gêneros, ou abordar os temas, além das mudanças de concepção do que seja tradição literária. 3º momento: para fugir ainda mais de uma abordagem convencional, sugere-se ampliar a proposta com inclusão de músicas, filmes, peças teatrais, em consonância com a intersecção escolhida. São os passos: a) analisar como diferentes linguagens artísticas estabelecem relações dialógicas com outros discursos, contemporâneos ou inseridos na tradição; b) observar como o corte sincrônico proporciona outros cortes no antes e no depois da diacronia. 1. 5. Proposta rizomática Concebida por integrantes do Grupo de Pesquisa “Literatura e Ensino” da UENP, reúne concepções da Estética da Recepção, de rizoma, de transversalidade, e de transdisciplinaridade. Em síntese, a sequência didática: 1º momento: sondagem das carências e gostos dos alunos, definindo-se com eles algum tema que lhes interessa. A conversa inicial pode ser alimentada, por exemplo, por impressões a respeito de um assunto em pauta, tratado pela mídia, ou por qualquer outro veículo cultural. Pode-se ainda estimular os alunos a buscarem textos literários que tratem do tema, delimitando-se o gênero. EDITORA ESPAÇO DA SOPHIA 20 2º momento: recolha das sugestões apontadas pelos alunos, explorando-se as intenções nas escolhas feitas. Os textos podem serapreciados esteticamente, mas de forma ainda não extensiva, para se poder contemplar o maior número de textos recolhidos pelos alunos. Se a colaboração dos alunos for menor do que a esperada, pode-se tratar de textos com temas vistos no primeiro momento, cujas apreciações devem ser preparadas com antecedência. 3º momento: escolha de um texto que trate do mesmo tema sob uma perspectiva nova, seja na forma como se apresenta ou no conteúdo abordado, buscando-se tecer as considerações estéticas pertinentes, sempre estimulando o envolvimento do aluno a partir da exposição de suas ideias. Se num primeiro momento, é preciso conter os ímpetos dos alunos, quando tentam expor seus pontos de vista, logo que a apreciação estética se completa, passa-se a estimular as associações, as analogias que fazem com suas experiências pessoais, valorizando-se as opiniões com o intuito de romper ainda mais os seus horizontes de expectativas. Caracteriza a postura transdisciplinar do professor a sua predisposição de explorar as ideias lançadas pelos alunos, nos campos da política, da filosofia, da história, da geografia, da ecologia, das artes em geral, do comportamento social, dentre inúmeras possibilidades. Expostas aqui, sem o suporte dos textos literários, as sequências didáticas oriundas das metodologias podem afigurar- se como receitas prontas, aplicáveis em qualquer circunstância de leitura. Cabe ao professor, que conhece o perfil de seus alunos, a responsabilidade de fazer as adequações que julgar necessárias. Conhecer as metodologias, bem como o suporte teórico que as sustentam, seria o ideal para que os docentes pudessem avaliar a exequibilidade das estratégias. Todas se caracterizam por explorar REVISTA ACADÊMICA ESPAÇO DA SOPHIA 21 21 os saberes veiculados pelo texto em contraponto com o cotidiano dos leitores. Convém ressaltar que as propostas foram experimentadas em sala de aula, por docentes integrantes do Grupo de Pesquisa “Literatura e Ensino”, com os devidos ajustes, e os resultados já foram expostos em congressos e seminários da área. 2. Ensino de literatura: por que e para quê? Se a literatura é uma arte, por que ensiná-la, ou torná-la uma disciplina? Como as demais artes, ela não deveria apenas ser apreciada? Na escola básica brasileira não se ensina pintura, arquitetura, música, dança, escultura, teatro, pois não se constituem saberes sistematizados em disciplinas. Quando muito, explora-se a história dessas artes. No entanto, a literatura foi incorporada aos currículos desde o final do século dezenove, a princípio, com o propósito de “afirmação da nacionalidade” (OLIVEIRA, 2008, p. 32), para depois ser integrada aos propósitos da escola, pois com ela, o leitor em formação teria condições de assimilar sua cultura. Embora tivesse raízes “na tradição escolar brasileira que remontam à pedagogia jesuítica” (AGUIAR; BORDINI, 1988, p. 36), a concepção de aula de literatura foi se adequando às propostas educacionais, às diretrizes curriculares, sempre ao sabor das mudanças no campo político e social. Assim, a literatura escolarizou-se. Sobre este tema, os estudiosos têm chegado à conclusão de que se trata de um mal necessário. Magda Soares chega a afirmar: “[...] não há como evitar que a literatura, qualquer literatura, não só a literatura infantil e juvenil, ao se tornar “saber escolar”, se escolarize, e não se pode atribuir, em tese, [...] EDITORA ESPAÇO DA SOPHIA 22 conotação pejorativa a essa escolarização, inevitável e necessária; não se pode criticá-la, ou negá-la, porque isso significaria negar a própria escola.” (2003, p. 22) Ao expor argumentos sobre o processo de escolarização a que a literatura está sujeita, Soares conclui que “a questão fundamental das relações entre literatura infantil e escola é que é necessário saber (ou descobrir?) como realizar, de maneira adequada, a inevitável escolarização da literatura” (2003, p. 48). Sem dúvida, o processo em questão, dadas as circunstâncias em que a leitura literária sobrevive na escola brasileira, acaba beneficiando aquela criança que desafia estas mesmas circunstâncias para continuar alimentando o seu gosto. A par desse leitor nato, há aqueles que encontram só na escola a oportunidade de conhecer e desbravar o jogo imaginativo que a leitura proporciona, e a partir disso iniciar então o percurso que os tornarão grandes leitores. Estes já são motivos mais do que razoáveis para se ensinar literatura. O problema está em o que é que se ensina e como se ensina, pois conforme lembrou Soares, há que se buscar a maneira adequada de abordar o texto literário em sala de aula. Constata-se a todo momento a ineficácia do que e como se ensina literatura, e até as metodologias que podem beneficiar o professor, no seu papel de mediador da leitura, correm o risco de se tornar receitas prontas e sem sentido, se não houver dele maior comprometimento. Para adotar uma metodologia adequada ao perfil da turma, e escolher estratégias que resultem em aulas bem sucedidas, seria necessário que o professor, em primeiro lugar, fosse ele mesmo um bom leitor, ou ao menos se dispusesse a sê- lo. Iniciado nesse ofício, teria toda a dimensão do que seja estar aberto a processos de descoberta e de compreensão não apenas REVISTA ACADÊMICA ESPAÇO DA SOPHIA 23 23 do mundo imaginário em que mergulha, mas como num espelho, do próprio mundo em que vive. Sua tarefa consistiria então em introduzir o aluno em outras formas de saberes, como lembra Paulo Franchetti: “[...] ela [a literatura] reuniria vários conhecimentos, uniria vários feixes de sentido que são objetos de ciências e disciplinas autônomas, como a história, a filosofia, a psicologia, a sociologia” (2009, p. 2). Ao amealhar argumentos na defesa do ensino de literatura, Franchetti ainda comenta: “Por meio da literatura aprendemos, sim, muitas coisas. Sobretudo aprendemos a relativizar as certezas, a contemplar o leque das possibilidades de realização (e também das limitações à realização) humana ao longo do eixo temporal ou espacial.” (2009, p. 9) Compartilhando o mesmo ponto de vista, Carlos Ceia, professor da Universidade Nova de Lisboa, e autor de livros como O que é ser professor de literatura e A literatura ensina-se?, chega a sugerir: “É necessário instituir e concretizar o ensino interdisciplinar, multidisciplinar, pluridisciplinar ou transdisciplinar, como se queira, e fazer incluir no estudo literário o estudo da filosofia, da história, da antropologia, da sociologia, da psicologia, da psicanálise, da política, etc., porque o professor de literatura tem que ser um pouco professor de tudo isso, porque a literatura é tudo isso.” (2004, p. 52) Se, enfim, a presença da literatura na sala de aula precisa ser reinventada, para atender a um público constituído em sua maioria de crianças e jovens que só têm acesso a esta modalidade de leitura na escola, se existem metodologias e novas EDITORA ESPAÇO DA SOPHIA 24 estratégias à disposição dos professores, e se há um processo de conscientização de que se faz a leitura de mundo na leitura do texto, basta que uma conjunção de esforços seja empreendida para que a leitura literária possa ser explorada de forma adequada. Considerações finais O abandono de práticas convencionais, direcionando energias para a busca do aproveitamento dos saberes que o texto revela, além do cultivo do prazer estético, são providências simples, quase intuitivas, que poderiam ser adotadas pelos docentes. O exercício dessa prática, numa evidente demonstração de que se busca o convívio com a literatura, sem as restrições da disciplinarização, traria ao docente a segurança para o necessário mergulho no ato da leitura, especialmente porque estaria à mercê de suas próprias indagaçõese dúvidas, mas entregue a uma experiência única de franco diálogo com o texto. No momento em que experiências pessoais e emoções são evocadas, a leitura atinge o campo das significações, da verdadeira identificação entre leitor e o texto. É a oportunidade ímpar lembrada por Antonio Candido, em que se dá a fruição da leitura, como um direito inalienável: “A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante” (1995, p. 249) Por que e para que se deve ensinar literatura na escola brasileira, se não para proporcionar a identificação com a própria condição humana? Eis uma questão que o professor deveria fazer a si mesmo diante de um texto literário. REVISTA ACADÊMICA ESPAÇO DA SOPHIA 25 25 Referências AGUIAR, Vera Teixeira de; BORDINI, Maria da Glória. A formação do leitor: alternativas metodológicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988. ANDRADE, Carlos Drummond de. A educação do ser poético. JB, Caderno B, p. 5. 20/07/1974. BOBERG, Hiudéa T. Rodrigues; STOPA, Rafaela. Leitura literária na sala de aula: propostas metodológicas, 2008. (Monografia) CANDIDO, Antonio. Direito à literatura. In: Vários escritos. 3. ed. São Paulo: Duas Cidades, 1995. CEIA, Carlos. A literatura ensina-se? Lisboa: Edições Colibri, 2004. CEREJA, William Roberto. Ensino de literatura: uma proposta dialógica para o trabalho com literatura. São Paulo Atual, 2005. COSSON, Rildo. Letramento literário. São Paulo: Contexto, 2006. FRANCHETTI, Paulo. Ensinar literatura para quê? Disponível em http://maisdesenredos.blogspot.com/2011/01/ensinar-literatura- para-que.html. Acesso em 20/02/2011. GRUPO DE PESQUISA Literatura e Ensino. Disponível em lattes.cnpq.br/9423974341180731. OLIVEIRA, Luiz Eduardo. O ensino da literatura e a identidade nacional: o caso brasileiro. In: Literatura & Ensino. _______ ; Santos, Josalba Fabiano dos (orgs.) Maceió: EDUFAL, 2008, p. 27-44. PENNAC, Daniel. Como um romance. 4. ed. Trad. Leny Werneck. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. SARAIVA, Juracy Aussman e MÜGGE, Ernani. Ensino de literatura: propostas para o ensino fundamental. Porto Alegre: Artmed, 2006. SOARES, Magda. A escolarização da literatura infantil e juvenil. In: EVANGELISTA, Aracy Alves Martins et alli. A escolarização da leitura literária. 2. ed. Belo Horizonte, 2003. ZINANI, Cecil Jeanine Albert Zinani et alli. Transformando o ensino de língua e literatura: análise da realidade e propostas metodológicas. Caxias do Sul, RS: Educs, 2002. EDITORA ESPAÇO DA SOPHIA 26 REVISTA ACADÊMICA ESPAÇO DA SOPHIA 27 27 PRODUÇÃO DE TEXTOS: UM TRABALHO QUE DÁ TRABALHO Por Sergio Vale da PAIXÃO1 (PG-UEL/FEATI) O trabalho com produção textual tem sido realizado, não raras as vezes, de modo mecânico por parte do aluno e corrigido de forma similar pelo professor. O não tratamento adequado com as atividades de produção de textos na escola tem favorecido cada vez mais os alunos a não produzirem textos com qualidade, o que tem gerado grandes discussões no que diz respeito a esses trabalhos dos alunos na escola, pelos professores. Fundamentados nas condições de produção advindas de Bakhtin (1992-2003) e seu Círculo em Genebra, nosso objetivo é de apresentar estratégias de trabalho com produção textual na escola que, aliado as posturas mais comprometidas do professor, motivarão os alunos a produzirem textos dos mais variados gêneros resultando em trabalhos de qualidade. Por meio de reflexões teóricas sobre as condições de produção e de exemplos práticos de sala de aula, os professores sentir-se-ão motivados e encorajados a trabalhar com a produção de textos na escola e consequentemente contribuirão para melhores resultados em tais atividades com os alunos. Palavras-chave: Produção textual; condições de produção; Gêneros textuais. 1 Mestrando em Estudos da Linguagem no Programa de Pós Graduação (PPGEL) na UEL. Professor de Língua Portuguesa e áreas afins na Faculdade de Educação, Administração e Tecnologia de Ibaiti-Pr (FEATI) EDITORA ESPAÇO DA SOPHIA 28 INTRODUÇÃO Mesmo considerando que há mais de 3 décadas a linguística tem trazido inúmeras reflexões e benefícios ao campo educacional no que diz respeito ao ensino de línguas na escola, nota-se uma grande resistência por parte dos professores para que tais novidades no campo educacional sejam colocados em prática e que melhorias nas práticas de produção de leitura e produção de textos aconteçam significativamente. Os documentos que norteiam o trabalho do professor, ou seja, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN,1998) e as Diretrizes do Estado do Paraná (DCE,2008) têm apontado para trabalhos que valorizem as práticas de análise linguística, leitura e produção textual. No trabalho com análise linguística tem-se a iniciativa de que, por meio de atividades de análise dos elementos linguística e extralinguísticos que constituem o texto, o aluno passe a conhecer melhor os mecanismos promotores de sentido para o texto, e assim, passa a conhecer com mais profundidade as marcas de sentido que são utilizadas no texto/discurso, no intuito de que suas práticas de linguagem passem a ser realizadas com mais adequação a determinadas situações sociais. No que concerne a leitura, os documentos atentam para práticas significativas em que o leitor do texto é considerado tão importante quanto o autor do texto e o texto que esteja sendo lido. Com vistas à formação de leitores críticos, os já mencionados documentos norteadores do trabalho pedagógico, valorizam práticas em que não há mais espaço para leitores e práticas de leitura passiva nas quais o texto é quem ordena as informações e o leitor é um mero receptor dos dados oferecidos pelo mesmo. Assim, ancorados nos pressupostos da linguística textual, análise do discurso, semiótica dentre tantas outras áreas de conhecimento, encontra-se possibilidades de um trabalho mais REVISTA ACADÊMICA ESPAÇO DA SOPHIA 29 29 engajado em práticas significativas de conhecimento da própria língua, e consequentemente, de uso da mesma de forma a sanar certas dificuldades de uso da linguagem que o ser humano encontra no curso de sua vida. Fixar-nos-emos neste artigo na terceira orientação dos documentos norteadores do trabalho pedagógico na escola, o trabalho com produção textual. Nosso objetivo é apresentar teorias que perpassam o trabalho com produção textual na escola apresentando um exemplo de trabalho fundamentado em tais teorias que objetivam um melhor pensar sobre práticas pedagógicas em que o texto seja tratado na sala de aula com mais atenção, tanto pelo aluno quanto pelo professor. Tomando o texto como objeto de ensino, como nos apontam os já referidos PCN (1998) e as DCE (2008) em comunhão com as reflexões advindas de Geraldi (1994) em que se apresenta uma mudança na aula de língua portuguesa na iniciativa de abandonar o trabalho com a palavra e a frase descontextualizadas, substituindo-as pelo texto, torna-se importante esclarecer de que forma, ou, qual a melhor forma de se trabalhar com o texto na sala de aula no que diz respeito à produção do mesmo. Ao longo da história as atividades de produção textual foram desenvolvidas de acordo com o conceito de linguagem vigente na época. Assim, quando se concebia a linguagem como expressão do pensamento, preocupava-se em ensinar a produzir textos em sala de aula que não levavam o aluno a aproximar-se do conteúdo que deveria ser produzido, ou seja, nenhum material que pudesse oferecer conteúdos básicos para que o aluno pudesse produzir seu texto era disponibilizado para ele. Ou o aluno sabia sobre o assunto solicitado pela professora ou o resultado seria umafolha em branco, ou mesmo produções mal escritas sem conteúdo e coerência alguma. Faz-se importante lembrar de atividades em que proposta de redação como “ EDITORA ESPAÇO DA SOPHIA 30 Escreva sobre o tema: Dia das Mães” eram colocados no quadro e o aluno, sem uma fonte de informações para sua produção, deveria escrever seu texto. Tal atividade entendida como Escrita como Dom/ Inspiração Divina, não permitia ao aluno escrever seus textos com a devida atenção e coerência a que o professor estava esperando. Acarretando assim em produções, como já comentadas, sem sucesso. Nessa mesma abordagem teórica de linguagem, encontramos atividades classificadas como Escrita como Consequência. Em tais atividades o aluno era colocado diante de uma situação para observação e como consequência deveria produzir um texto para entregar ao professor e obter nota. Exemplos típicos de visitas a museus, captação de água, parques ecológicos etc. Outro trabalho bastante presente nas escolas, considerando agora a linguagem como instrumento de comunicação, eram atividades em que se valorizava os aspectos gramaticais do texto. A atenção era na correta ortografia, o que desviava a atenção, tanto do produtor quanto do corretor do texto, ao conteúdo. O importante era então, escrever bem dentro da norma padrão da língua portuguesa. O importante era dar atenção aos parágrafos, ao título, a letra e a ortografia. Tal prática ficou conhecida como Atividade com Foco na Língua, o que levou muitos alunos a tirarem nota máxima em redações escolares desprovidos de conteúdo e sentido, porém organizadas dentro dos moldes estabelecidos pela professora. Nosso objetivo, nesse artigo é apresentar um conceito de trabalho com produção textual entendido como Trabalho, no sentido denotativo da palavra. Compreendemos que as abordagens apresentadas até agora sobre o trabalho com produção textual na escola não é coisa do passado. Mesmo hoje, compreendendo a linguagem como Interação em que os princípios são outros e as pesquisas apontam para outras práticas de trabalho com a linguagem na escola, muitos professores, por REVISTA ACADÊMICA ESPAÇO DA SOPHIA 31 31 não conhecerem tais teorias, ou por resistirem às novidades advindas da academia, preferem continuar um trabalho tradicional de produção de textos na escola, o que tem favorecido ainda mais as produções textuais desprovidas de sentido e mal realizadas pelos alunos e que revertem para uma gama de discussões acerca dos alunos de hoje em reuniões de professores, tais como, conselhos de classe e planejamentos anuais. Compreendemos que as atividades com foco na língua e como dom/inspiração divina e consequência não acontecem de forma a colocar o aluno em situação de comprometimento naquilo que esteja sendo produzido e da mesma forma o professor não vê o texto como uma possibilidade de garantir o avanço do aluno naquilo que esteja sendo corrigido, ao contrário, tem o texto como material de correção, em que o mesmo utiliza para dar visto, visto do verbo ver e não do verbo corrigir. Nossa iniciativa é apresentar uma possibilidade de trabalho na escola em que as teorias que subjazem o trabalho com o texto no ambiente escolar cheguem até os professores e fundem-se com um postura séria e comprometida do profissional docente e que o resultado seja, sem dúvida, produções textuais melhores e inserções na sociedade em que o uso da linguagem nas produções textuais escritas e orais sejam necessárias. Nossa abordagem perpassa a noção vygotskyana de que o texto instrumentaliza o indivíduo para atividades de linguagem na sociedade. Seguindo as vertentes teóricas advindas de Bakhtin (1982) sobre gêneros discursivos, compreendemos a necessidade de se promover na escola uma progressão curricular em que os gêneros discursivos se façam presente nas atividades. Assim, nota-se a necessidade de se aproximar as aulas de língua portuguesa aos gêneros que fazem parte da vida social do cidadão dentro e fora do ambiente da escola. Assim, torna-se EDITORA ESPAÇO DA SOPHIA 32 necessário uma progressão curricular em que se eleja uma sequência de gêneros que deverão ser trabalhados na escola durante a vida acadêmica do aluno, garantindo que o mesmo tenha, ao longo de sua vida escolar, contato com os mais variados gêneros possíveis, instrumentalizando-o com os mesmos para que ao saírem da escola, não encontrem dificuldades para utilização desses que são entendidos como lugar privilegiado da transformação dos comportamentos (SCHNEUWLY, 2004) Vale lembrar que a escolha dessa progressão de gêneros deva levar em conta a esfera social que se pretende atingir, dada a necessidade de determinado grupo. Ora, se o intuito é inserir os alunos na universidade, tem-se o cuidado de planejar a sequência didática (NASCIMENTO, 2009) para esse fim, se o objetivo é colocar o alunado no mercado de trabalho, a seleção textual atenderá também esse propósito. Assim, a esfera social é que organizará a sequência de trabalho com os gêneros em determinadas séries. Mas afinal o que é gênero? Para que se considere um texto como um gênero textual é importante observar que o mesmo deva apresentar três elementos básicos conforme aponta Ferragini e Perfeito (2010, p.1): Conteúdo temático, ou seja, aquilo que pode ser dizível num gênero; Estilo, isto é, a escolha dos recursos expressivos do gênero (as marcas linguístico-enunciativas); a construção composicional, formas de organização, de arranjo textual. Os três, interligados e incutidos na esfera/campo social e associados as condições de produção: quem fala; para quem fala; com que objetivo; em que época, local e suporte, passam a constituir o gênero como tal. Tendo observado tais itens, está-se frente a um gênero de texto. REVISTA ACADÊMICA ESPAÇO DA SOPHIA 33 33 As atividades com o gênero textual e as condições de produção Entendemos que para que o texto do aluno seja produzido adequadamente é necessário que as condições de produção advindas dos construtos teóricos bakhtinianos sejam colocadas em prática. Tais construtos direcionam um trabalho em que o aluno tenha perfeita consciência daquilo que se esteja produzindo. A finalidade do texto, o interlocutor, o gênero, seu posicionamento de autoria, o suporte e a circulação social que seu texto terá. A criatividade do professor na organização de sua aula e na elaboração de atividades que insiram tais condições para a produção do texto do aluno fará significativa diferença para o bom êxito da produção textual. No que se refere à Finalidade “para que fim se vai escrever o texto, qual é o seu objetivo definido” (MENEGASSI, 2010, p. 81) para a produção de textos entendemos que é a clareza quanto à finalidade do que se pretende produzir nos diferentes suportes textuais é que torna o texto fluido e carregado de marcas subjetivas. Em segundo lugar a clareza acerca do Interlocutor também torna a condição de produção do texto mais facilitado. Estabelecidas as finalidades para a produção do texto, estabelece-se também o papel dos interlocutores, os quais também colaboram sobremaneira para que a produção dos textos seja materializada. Podemos compreender que Bakhtin organiza o diálogo como uma estrutura triangular. No primeiro vértice, está o sujeito enunciador, no segundo, o destinatário virtual e, no terceiro, o destinatário superior. (GARCEZ 1998, p. 61) Na situação de produção escrita tem-se como interlocutor real o próprio locutor, é ele quem dialoga com ele mesmo, ele assume o papel de interlocutor de si próprio ( BAKHTIN; VOLOCHINOV, 1995). É necessário que o interlocutor real, o EDITORA ESPAÇO DA SOPHIA 34 próprio locutor que dialoga com si próprio, se auto compreenda e estabeleça sua própria interação para que o texto produzido por ele comecea fazer sentido. Após essa enunciação monológica, responsável pela organização textual, ainda que no âmbito da mente, torna-se necessário considerar a presença do interlocutor virtual para que se possa direcionar, mesmo que virtualmente, o conteúdo do texto, o gênero que esteja sendo desenvolvido para alguém. O interlocutor virtual é aquele que possivelmente venha a apreciar a produção efetuada pelo locutor. É a presença daquele que motiva a prática da produção do texto, é pela sua possível condição de existência que o produtor do texto direciona seu discurso e fortalece suas marcas subjetivas no decorrer de sua produção. Ao escrever, o produtor do texto direciona suas marcas linguísticas e discursivas àqueles que farão contato direto com sua produção, ou seja, farão a leitura apreciativa do texto. Quando definido o interlocutor virtual do texto que deverá ser produzido, as marcas linguísticas e estruturais definirão o gênero e o estilo de linguagem que será utilizado na produção desse texto. Sequencialmente encontramos a presença do interlocutor superior, aquela instância maior que determina de modo global a produção do gênero em destaque. No caso da escola, tem-se a necessidade de produzir texto para fins específicos, ser aprovado de ano, agradar os pais, tirar notas boas etc. Essa necessidade é o que motivará, ou não, uma melhor produção textual do aluno. Quanto ao Gênero produzido, quando definido o tipo de texto que será produzido, aquele que já circula nas esferas da sociedade, considerando a realidade social e histórica em que vive o autor do texto e seus leitores ( MENEGASSI, 2010, p. 84) ou como definida por Bakhtin (2003) “formas relativamente estáveis do enunciado” pode-se dizer que varia de acordo com a necessidade e o suporte em que a produção do texto exija. REVISTA ACADÊMICA ESPAÇO DA SOPHIA 35 35 Nas palavras de Marcuschi. Gênero textual refere-se aos textos materializados em situações comunicativas recorrentes. Os gêneros textuais são os textos que encontramos em nossa vida diária e que apresentam padrões sociocomunicativos característicos definidos por composições funcionais, objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integração de forças históricas, institucionais e técnicas”. (...) “Os gêneros são formas textuais escritas ou orais bastante estáveis (Bakhtin fala em relativamente estáveis), histórica e socialmente situadas”. ( 2008, p.155.) Quando falamos de Suporte nos referimos aos meios concretos utilizados pelos locutores para a veiculação do gênero produzido. Assim torna-se necessário “em função da definição do gênero escolhido, que se determine qual o suporte do texto produzido, o que o articula com o meio social de sua circulação. (MENEGASSI, 2010, p. 85). A Circulação Social é outra condição para que a produção textual aconteça. Tomaremos com exemplo, a produção textual que ocorre nas redes sociais de comunicação na internet muito presente na vida social dos alunos de hoje. No âmbito virtual a circulação social se torna muito extensa, afinal, quando se opta por produzir um texto nas redes sociais virtuais tem-se o conhecimento de que a maioria deles estará disponível para que outros interlocutores apreciem e não só aquele o qual o texto foi direcionado, ou seja, para um interlocutor direto. Assim, diferente do trabalho de produção textual da escola, em que o professor, muitas vezes, é o único interlocutor que apreciará e terá contato EDITORA ESPAÇO DA SOPHIA 36 com o texto do aluno, nas redes sociais da internet, outros interlocutores farão contato com tal produção, o que permite adaptações e cautelas acerca do que, e como produzir, com vistas a não exposição excessiva de suas marcas subjetivas que de alguma forma venham prejudicar ou trazer certos prejuízos a sua imagem pessoal. O contrário também é verdadeiro, muitas vezes intencionalmente locutores apresentam-se de tal forma, tendo perfeita convicção da circulação social que seu texto terá para se exporem e apresentarem suas subjetividades publicamente. Porém em ambos os casos, seja de forma consciente ou não, o produtor do texto tem perfeita clareza da circulação social a qual seu texto será veiculado, as produções da internet passaram a ter uma dimensão social muito vasta e que é do conhecimento de todos os produtores de textos nessa esfera comunicativa, o que faz o texto ser redigido de forma clara e consciente por parte do locutor. E por último, temos aquilo que o círculo define como Posição do Autor. O locutor apresenta suas marcas de subjetividade, deixando muitas vezes de forma implícita, marcas de seu estado emocional, sentimentos e estados interiores. Entende-se desse modo que a posição do autor são as marcas da individualidade e do mundo do produtor do texto. A produção do texto dentro do ambiente escolar tem sido submetida a uma forma padronizada de trabalho, as propostas, o tempo destinado à produção, atribuição de notas, correções, entre outros são formas e estratégias de trabalho tradicionais na aula de redação. Raramente algum detalhe ou situação, dependendo do gênero em questão, é alterado, porém as condições de produção são sempre as mesmas, ou seja, a professora pede aos alunos que produzam um determinado gênero textual geralmente ancorados no tripé dissertação, narração e descrição, no mesmo suporte de sempre, ou seja, o REVISTA ACADÊMICA ESPAÇO DA SOPHIA 37 37 caderno, para o interlocutor de sempre, ou seja, o professor. As possibilidades de existência de outros interlocutores, outros receptores e apreciadores das produções dos alunos são quase sempre anulados por conta de inúmeras justificativas dos professores. A falta de tempo para a correção e elaboração de planos de aula mais elaborados, a baixa remuneração da classe que faz com que o professor resista a correções fora do horário da aula, entre tantas outras, têm sido algumas das justificativas dos professores para que um trabalho mais organizado dentro das condições de produção já explicitadas aqui seja realizado nas escolas de hoje. Atividades muitas vezes destituídas de uma finalidade específica, ou de uma posição de autoria do texto, e sem nenhuma circulação social. Situação essa que colabora para que os resultados sejam aqueles apresentados constantemente nas avaliações do MEC, tais como o Prova Brasil, SAEB, etc. As situações concretas de produção dos textos nos ambientes virtuais, na internet, são responsáveis para uma produção de textos fluidos e dinâmicos em que os alunos escrevem por prazer, por vontade de fazer e não submetidos a práticas forçadas de uma produção desvinculada de um contexto social concreto e próximo do produtor. Ao contrário, as produções de textos realizadas na escola, as famosas redações, são resultados de atividades realizadas dentro de um contexto artificial em que as condições de produção não passam de um faz de conta, em que os alunos devam imaginar situações, interlocuções, contextos e posicionamentos como se imagina num conto de fadas. Exemplos disso são as propostas de trabalho com o gênero carta em que se solicita ao aluno que imagine o receptor do texto para quem se escreve, ou do gênero notícia o qual o aluno deva se imaginar como um repórter ou inventar a cena que será relatada na produção de seu texto. EDITORA ESPAÇO DA SOPHIA 38 É certo que a situação das propostas de produção de texto, assim como qualquer outra atividade proposta de trabalho pela escola, não fugirá dessa artificialidade, do mundo de faz de conta, afinal são situações imaginárias que são colocadas dentro da sala de aula para que aconteça a produção. Porém atividades inovadoras que procurem diminuir tais artificialidades devem ser repensadas e adaptadas no contexto escolar. Uma possibilidade dadiminuição dessa realidade são as propostas de trabalhos com projetos, quando bem organizadas, que colocam as disciplinas do currículo escolar dentro de uma situação concreta de trabalho a qual põe o aluno em posição direta com a realidade. As aulas de ciências e biologia, por exemplo, algumas vezes utilizam essa estratégia para aproximar o aluno do conhecimento científico, colocam os alunos em situações palpáveis como natureza, plantações, aterros, sistemas de capacitação de água dentro outros. O mesmo ocorre nas aulas de história, quando o professor procura levar os alunos a lugares históricos ou a conhecer in loco algumas realidades históricas de uma determinada região. Porém na aula de Língua Portuguesa no momento de se produzir textos, isso não ocorre com muita frequência. As condições de produção são quase sempre distantes dos produtores, são imaginadas e abstratas o que dificulta uma produção textual dotada de conteúdos e finalidades claras e objetivas. Vale exemplificar como as redações dos vestibulares são realizadas. Na redação do vestibular o aluno sabe quem é seu interlocutor virtual, um professor de língua portuguesa que vai corrigir sua redação e dessa forma ele não ousa apresentar sua posição de autor, suas marcas subjetivas reais dentro do tema abordado, pois se encontra intimidado diante daquele que, assim como sempre fez seu professor da escola, avaliará seu ponto de vista de maneira radical e pontual. REVISTA ACADÊMICA ESPAÇO DA SOPHIA 39 39 O que pode e deve acontecer dentro das esferas educativas é sem dúvida encontrar meios que, de alguma forma, diminuam a artificialidade de um trabalho com a produção de textos que favoreça uma aproximação da realidade social dos alunos fora dos muros da escola de maneira mais concreta. Um trabalho pedagógico que colabore para que as condições de produção sejam trazidas para a sala de aula é o caminho para que a aula de produção de textos seja realizada com mais eficiência e participação por parte dos alunos (ver anexo I). Assim como acontece nos meios virtuais de comunicação em que as condições de trabalho com os gêneros dessa esfera são apresentadas de forma natural, sem pressões, sem atribuições de nota e sem correções depreciativas. Meu objetivo aqui não é dizer que a escola deva utilizar os recursos virtuais, já de posse dos alunos, para o desenvolvimento de suas aulas, já que ainda se questiona sobre a eficácia dessa transposição didática e até que ponto os instrumentos virtuais de comunicação serão entendidos como algo interessante quando colocados dentro das salas de aula. Nem pretendo tomar uma postura paternalista em relação aos alunos dizendo que tudo o que é produzido dentro das redes sociais de comunicação sejam algo dotados de valor apreciativo pela escola, ou mais especificamente pelo professor. Meu esforço é, sem dúvida, levantar uma reflexão que entenda as condições de produção dos textos digitais em relação aos produzidos pela escola para que se possa, dentro de um trabalho prático do professor de língua portuguesa, uma reflexão das teorias subjacentes a essa temática e um resultado mais eficiente nas atividades escolares após essa apropriação do professor. Considerar as condições de produção para que se organize uma aula de produção de textos, é sem dúvida, diminuir essa artificialidade existente nas produções dos alunos e permiti-los a produzir textos com mais vontade e subjetividade. As considerações das condições de produção aqui EDITORA ESPAÇO DA SOPHIA 40 levantadas, junto a uma mudança mais inovadora do perfil do professor, tende, além de possibilitar produções de textos mais interessantes e bem formuladas, a diminuir em grande escala as angústias da classe docente ao ver os resultados apresentados nas avaliações no cenário nacional. Assim possivelmente será fácil encontrar professores com discursos mais motivadores e otimistas em relação às produções dos alunos na escola. Considerações finais No intuito de promover uma melhor reflexão sobre as práticas de trabalho com a produção textual na escola, procuramos apresentar teorias que subjazem essas práticas advindas de estudos contemporâneos da linguagem. No esforço de promover uma melhor reflexão, procuramos, em alguns momentos, assemelhar as produções textuais dos alunos nas esferas virtuais de comunicação com as produções que acontecem na escola, favorecendo uma reflexão sobre as condições de produção existentes nesses dois campos de produção textual. Nosso objetivo tem sido problematizar tais discussões apresentando em capacitações de professores, bem como em eventos que discutam o assunto em questão, com vistas a favorecer melhores práticas pedagógicas e consequentemente melhorando as produções textuais dos alunos seja na modalidade oral e escrita. No que tange as condições de produção, explicitadas ao longo do artigo, vale ressaltar que só terão êxito quando apropriadas, no sentido vygotskyano do termo, pelo professor e entendidas pelo mesmo, como possibilidade de se organizar e preparar sua aula no intuito de promover uma melhor participação do aluno nas atividades propostas o que levará, sem dúvida, a um trabalho mais intenso, o que nos leva a denominá-lo de Trabalho, no termo correto da palavra; as atividades darão REVISTA ACADÊMICA ESPAÇO DA SOPHIA 41 41 trabalho para o professor e para o aluno, porém com melhores resultados, sem sombra de dúvida. Com essa discussão espera-se que outras venham a somar forças para que o trabalho com a linguagem, entendida como Interação venha a fazer parte das aulas, não só de língua portuguesa, mas de todas as disciplinas que compõem o currículo, para que possamos colaborar para uma melhor inserção social dos alunos que demanda práticas discursivas eficientes e adequadas a determinadas situações. REFERÊNCIAS BAKHTIN, M./VOLOCHINOV. Marxismo e Filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1995. __________. Estética da criação verbal.São Paulo: Martins Fontes, 1982. p. 277-326 BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa/Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. 106 p. FERRAGINI, Neluana Leuz de Oliveira; PERFEITO, Alba Maria. Manuais das etiquetas: Servem para instruir... Servem para apreender. Anais do IX Celsul. Palhoça SC – 2010. GARCEZ, Lucília Helena do Carmo. A escrita e o outro: os modos de participação na construção do texto. Brasília. UNB.1998. 173p. GERALDI, João Wanderley.(Org.) O Texto na Sala de Aula. 2ed. Cascavel, ASSOESTE, 1994. 125p. EDITORA ESPAÇO DA SOPHIA 42 MARCUSCHI, L.A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008. MENEGASSI, Renilson José. O processo de produção textual. In: SANTOS, A.R, GRECO, E.A; GUIMARÃES, T.B. (orgs): A produção textual e o ensino. Maringá Pr: Eduem, 2010 NASCIMENTO, Elvira Lopes (org).Gêneros Textuais: Da didática das línguas aos objetos de ensino. São Carlos. Clara Luz. 2009. 288p. PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Língua Portuguesa. 2008. SCHNEUWLY, B. 2004. Gêneros e tipos de discurso: considerações psicológicas e ontogenéticas. In: ___e colaboradores. Gêneros orais e escritos na escola. Trad. e org. REVISTA ACADÊMICA ESPAÇO DA SOPHIA 43 43 ARQUEOLOGIA E HISTÓRIA: CONTRIBUIÇÕES RECÍPROCAS PARA O ENTENDIMENTO DA TRAJETÓRIA HUMANA Por Aluizio Alfredo Carsten – UEM e-mail: carstentmz@hotmail.com Resumo Esse trabalho tem como objetivo demonstrar como o diálogo entre a História e outras ciências pode contribuir para um novo entender do desenvolvimento das sociedades humanas, desde seu surgimento comoespécie até o alcançar de sua História contemporânea. Desde que a História começou a se relacionar com disciplinas como Arqueologia, Antropologia e Biologia etc. novos esclarecimentos estão sendo construídos e erros historiográficos desfeitos. Trataremos em especial a contribuição da Arqueologia para a escrita da história tendo em vista o conceito desenvolvido pelo antropólogo canadense Bruce G. Trigger (1937 – 2006) em seu livro Além da história: os métodos da pré-história (1973). Para este, história – em seu sentido mais estrito – é o estudo da mudança desde os tempos mais remotos até o presente. O autor salienta que a história humana (distinta da história natural) tenta colocar os acontecimentos da espécie humana numa ordem cronológica e procura explicá-los. Assim, para Trigger (1973), a história e a pré-história completam-se mutuamente e completam a crônica do desenvolvimento humano. Diferem, todavia, quanto aos tipos de fontes utilizadas e quanto à modalidade de reconstrução visada. PALAVRAS – CHAVE: Arqueologia, História, Multidisciplinaridade, Teorias da Arqueologia. EDITORA ESPAÇO DA SOPHIA 44 Introdução Jacques Le Goff, em seu livro História e Memória (2003), fez uma breve discussão sobre documento/monumento. Segundo o autor, com o surgimento e a consolidação da escola positivista, o documento teria triunfado. Esse triunfo, como bem exprimiu Fustel de Colanges, coincide com o do texto e que a partir de então, todo historiador recordará que é indispensável o recurso ao documento. A Arqueologia nesse momento tinha apenas o papel de trazer à tona os documentos escritos das grandes civilizações (Egito, Grécia e Roma). Essa limitação da historiografia positivista fez com que a história fosse feita exclusivamente por documentos escritos. Le Goff (2003) afirma que o próprio Fustel de Coulanges sentia o limite desta definição e que em uma lição pronunciada em 1862 na Universidade de Estrasburgo, declarara: Onde faltam os monumentos escritos, deve a história demandar às línguas mortas os seus segredos [...]. Deve escrutar as fábulas, os mitos, os sonhos da imaginação [...]. Onde o homem passou, onde deixou qualquer marca da sua vida e da sua inteligência, ai está a história (Ed.1901, p245)2. Ainda para Le Goff (2003), os fundadores da revista Annales d`Historie Économique et Sociale (1929), pioneiros de uma história nova, insistiram sobre a necessidade de ampliar a noção de documento, contrariando assim a escola positivista que tinha o documento escrito como única fonte para a escrita da história. O autor (LE GOFF, 2003) cita um dos fundadores, Lucien Febvre: LE GOFF, JAQUES. História e Memória. Editora da Unicamp, Campinas 2003. P. 530. REVISTA ACADÊMICA ESPAÇO DA SOPHIA 45 45 A história faz-se com documentos escritos, sem dúvida. Quando estes existem. Mas pode fazer-se, deve fazer-se sem documentos escritos, quando não existem. Com tudo o que a habilidade do historiador lhe permite utilizar para fabricar o seu mel, na falta das flores habituais. Logo, com palavras. Signos. Paisagens e telhas. Com as formas do campo e das ervas daninhas. Com os eclipses da lua e a atrelagem dos cavalos de tiro. Com exames de pedra feito pelos geólogos e com as análises de metais feitas pelos químicos. Numa palavra, com tudo o que, pertencendo ao homem, depende do homem, serve o homem, exprime o homem, demonstra a presença, a atividade, os gostos e as maneiras de ser do homem. Toda uma parte, e sem dúvida a mais apaixonante do nosso trabalho de historiadores, não consistirá num esforço constante para fazer falar coisas mudas, para fazê-las dizer o que elas por si próprias não dizem sobre os homens, sobre as sociedades que a produziram, e para constituir, finalmente, entre elas, aquela vasta rede de solidariedade e de entre ajuda que supre a ausência do documento escrito?3 A partir desse novo ponto de vista (de Lucien Febre e Marc Bloch, fundadores da revista Annales d`Histoire Économique et Sociale 1929), a historiografia passou tanto pelo que Le Goff (2003) chamou de revolução documental, mas também ficou aberta a contribuições de outras disciplinas, como a arqueologia – que antes tinha como única função trazer novas fontes documentais escritas para a história. Com a renovação do grupo dos Annales, tornou-se possível trazer luz a novas interpretações ou contribuições por meio do estudo da cultura material. Este LE GOFF, JAQUES. História e Memória. Editora da Unicamp, Campinas 2003. P. 530 EDITORA ESPAÇO DA SOPHIA 46 teórico (LE GOFF, 2003) afirma que o problema dele como historiador não é saber se a Arqueologia é uma ciência auxiliar da história ou uma ciência independente, mas reconhece que o desenvolvimento da disciplina renovou a história. Pois mal a arqueologia deu seus primeiros passos no século XVIII, e ganhou na história o vasto território da pré-história e da proto-história, renovando a história antiga. O autor (LE GOFF, 2003) ainda salienta-se que a arqueologia foi um dos setores da ciência histórica que mais evoluiu nos últimos decênios. Arqueologia e as diversas ciências que contribuem para o entendimento da trajetória humana Para Bruce G. Trigger (1973) a história, no sentido mais estrito, é o estudo da mudança desde os tempos mais remotos até o presente. O autor (TRIGGER, 1973) ressalta que a história humana (distinta da história natural) tenta colocar os acontecimentos da espécie humana numa ordem cronológica e procura explicá-los. Para ele, o historiador tem como dados básicos os relatos das ideias ou do comportamento dos seres humanos; o pré-historiador, no entanto, deve satisfazer-se com o estudo dos restos materiais de culturas passadas que resistiram aos agentes de decomposição e foram recuperados pelo arqueólogo. Em sua opinião, a história mais recente baseia-se em documentos que se perpetuaram de geração em geração desde o tempo em que foram escritos, porém a história dos períodos mais antigos baseia-se mais frequentemente em documentos escritos obtidos através de escavações arqueológicas4. Trigger (1973) explica que a maior parte dos nossos conhecimentos sobre história da China ou da Grécia e Roma clássicas, provém de documentos escritos, nestes casos, as evidências REVISTA ACADÊMICA ESPAÇO DA SOPHIA 47 47 Conforme Trigger (1973), a história e a pré-história completam-se mutuamente e completam a crônica do desenvolvimento humano. Diferem, todavia, quanto aos tipos de fontes utilizadas e quanto à modalidade de reconstrução visada. Este ainda aponta que: Embora o adjetivo préhistorique tivesse sido usado por Tournal desde 1833 (Heizer, 1962: 72-83), o nome pré-história foi proposto pela primeira vez, para designar uma disciplina, num livro cujo título era The Archaelogy and Prehistoric Annals of Scotland, publicado por Daniel Wilson, em 1951. Wilson definiu a pré-história como um estudo relacionado a períodos ou tipos de dados históricos cujo o registro não fora intencional. O termo foi utilizado por Sir John Lubbock em 1865, em seu livro Prehistoric Times, tornando-se, trinta anos mais tarde, de uso universal (Daniel, 1963:13). Embora o termo tenha sido ocasionalmente criticado, tem o mérito de salientar (talvez de um modo que a definição de Wilson não tenha deixado claro) que a pré-história enceta o estudo do passado do homem onde cessa a história registrada. Os autores de língua inglesa consideram que o início do período pré-histórico em cada região começa desde o arqueológicas servem apenaspara confirmar ou completar fontes conhecidas, porém é importante salientar que a Arqueologia não é uma ciência auxiliar da História, e que sistemas de escrita e uma boa parte dos registros do antigo Egito e da Mesopotâmia estiveram perdidos durante muitos séculos e a reconstrução da história dessas antigas civilizações só foi possível através da estreita cooperação entre arqueólogos e filólogos. EDITORA ESPAÇO DA SOPHIA 48 momento em que não existem mais testemunhos escritos apropriados5. Se História é estudo da mudança desde os tempos mais remotos até o presente como conceituou Bruce G. Trigger (1973), a função do historiador é a de colocar os acontecimentos da espécie humana numa ordem cronológica e procurar explicá-los. Para isso o historiador deve - e necessita - manter o diálogo com outros ramos das ciências. Para Silvia Helena Zanirato (2005), a interdisciplinaridade passou a ser defendida depois Ca constituição da escola do Annales e constitui-se como recurso para a explicação histórica. Para dar conta de suas problemáticas esse grupo compreendeu que havia que se lançar mão cada vez mais dos conceitos explicativos, ainda que esses fossem buscados em outras áreas co conhecimento. Assim a interdisciplinaridade passou a ser defendida como um recurso para a explicação histórica e compreensão da realidade efetivamente vivida6. Como apontou Trigger (1973), na primeira metade do século XIX, quando muitos eruditos acreditavam que o mundo tinha menos de 6.000 anos, havia pouca consciência de que a maior parte dos documentos referentes ao desenvolvimento humano se situasse além dos confins da história escrita. O autor TRIGGER, B.G. Além da história: os métodos da pré-história. Editora da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1973. P. 3-4. ZANIRATO, S. H. A teoria e a metodologia na escrita histórica. In: Introdução ao Estudo de História - Formação de professores EAD n. 27. EDUEM, Maringá, 2005, p.6. REVISTA ACADÊMICA ESPAÇO DA SOPHIA 49 49 (TRIGGER, 1973) chama a atenção para a prerrogativa desta visão da história da humanidade, que se fundamentava na geologia da época e rogava ser a terra envolvida por uma série de catástrofes universais, cada qual seguida por uma nova criação. De acordo com este raciocínio, o homem foi criado somente depois da última catástrofe geral. Devido a crença de que a história do homem tinha pouca espessura de tempo, havia uma tendência em atribuir todos os restos arqueológicos a povos conhecidos, como os vikings ou os fenícios. Não devemos ser anacrônicos e julgar os homens da ciência que nos antecederam e acreditaram na fidelidade do documento e na sua importância para a escrita da história. São homens de seu tempo e trabalharam conforme convicções, crenças e valores de sua época. Trigger (1973), diz que essa idéia de catastrofismo geológico finalmente começou a ceder lugar à teoria de Charles Lyell (1830 – 1833), segundo a qual as forças que produziram as formações geológicas do passado operavam da mesma maneira que as forças geológicas atuais. Para o autor, isto abriu caminho ao desenvolvimento da monumental teoria de Charles Darwin sobre a evolução biológica (1859), que, por sua vez, suscitou a idéia de que a existência do homem remonta a um tempo muito mais distante do que se pensava até então e que ele e sua cultura deviam ser produtos de criação gradual em oposição à criação repentina. A partir da teoria de Lyell e da teoria da Evolução biológica proposta por Darwin, geólogos e arqueólogos começam, então, a desenvolver um trabalho conjunto, estudando as formações geológicas do pleistoceno. Como resultado desta experiência, os arqueólogos se habituaram a agrupar os artefatos ou descobertas culturais de acordo com o suposto nível em que estavam situados e tentaram evidenciar as relações de desenvolvimento entre os diferentes estágios. Desta cooperação frutífera nasceu uma nova disciplina, cujo objetivo foi buscar os EDITORA ESPAÇO DA SOPHIA 50 vestígios da história do homem no período obscuro que antecedeu sua decisão de escrever em tabletes um registro imperfeito de seus múltiplos pensamentos e experiências. Sabemos que não há documento nenhum em qualquer cartório do mundo que tenha o registro do primeiro homem que habitou a terra. Sem essa certidão de nascimento escrita, devemos nos atentar a outras fontes e outros saberes para que possamos reconstruir e aproximar ao máximo a trajetória humana. Hoje com o avanço das pesquisas em Geologia, Arqueologia, Antropologia, Biologia e tantas outras áreas da ciência não nos restam dúvidas de que o homem, assim como todos os demais seres vivos do planeta, foi gerado por um processo natural, de longo prazo, denominado evolução biológica. Devido ao desenvolvimento da Antropologia biológica e da genética sabemos que a origem do homem moderno (Sapiens - Sapiens) se deu no continente africano7. Vere Gordon Childe (1964) aponta que, pela inclusão da pré-história, o âmbito da história ampliou-se cem vezes. Assim, a arqueologia cobriu um período de mais de 500.000 anos, ao invés de apenas 5.000. Essa inclusão da história reconstruída por meio de arqueólogos, geólogos, biólogos e outros saberes das ciências naturais contribuiu para um melhor entendimento da maior parte da trajetória humana, que permaneceu sem escrita durante a maior parte de seu percurso. NEVES, W. A. ou Neves,W. ;PILÓ, Luis Beethoven. O povo de Luzia. 1. ed. São Paulo: Editora Globo, 2008. REVISTA ACADÊMICA ESPAÇO DA SOPHIA 51 51 Conclusão Assim como Vere Gordon Childe (1961), defendo que a arqueologia é uma forma de história e não uma simples disciplina auxiliar. Os dados arqueológicos são documentos históricos por direito próprio e não meras abonações de textos escritos. Exatamente como qualquer historiador, um arqueólogo estuda e procura reconstituir o processo pelo qual se criou o mundo em que vivemos – e nós próprios, por sermos criaturas do nosso tempo e do nosso ambiente social. Arqueologia não é uma ciência auxiliar da História e tampouco sinônimo de pré-história. A arqueologia é uma ciência independente que investiga a trajetória humana através de sua cultura material tendo como fonte; tudo o que o homem produz, utiliza e descarta são objetos da arqueologia. Durante o desenvolvimento do texto tentei demonstrar como a interdisciplinaridade contribuiu para um melhor entender do desenvolvimento do homem no tempo. Ainda não temos todos os dados sobre a trajetória do homem até os dias contemporâneos, mas atentando-se ao dialogo entre as diversas ciências, conseguimos, a cada descoberta, uma nova peça do quebra-cabeça da trajetória humana. O trabalho é lento e árduo. Paul Bahn (1993) referiu-se à arqueologia como um grande quebra-cabeça inventado pelo diabo como instrumento de tortura, pois não se pode trapacear olhando o fundo da caixa, e muitas das peças estão perdidas para sempre. EDITORA ESPAÇO DA SOPHIA 52 Referencias BAHN, Paul. Manual do Blefador: tudo que você precisa saber sobre arqueologia para nunca passar vergonha. Editora Ediouro. Rio de Janeiro, 1993. CHILDE, V. Gordon. Introdução à Arqueologia. Lisboa: Europa. América, 1961. CHILDE, V. Gordon. A Evolução Cultural do Homem. Zahar editores. Rio de Janeiro, 1964. FLORESCANO, Enrique. A Função Social do Historiador. IN: Tempo. Rio de Janeiro, vol. 4, 1997. FUNARI, P.P. Arqueologia. Atica. São Paulo, 1988. LE GOFF, Jacques. História e Memória. Editora da Unicamp. Campinas, 2003. PROUS, André. Arqueologia Brasileira. Editora UNB. Brasília, 1992. TRIGGER, B.G. Além da história: os métodos da pré-história. Editora da
Compartilhar