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METODOLOGIA DO ENSINO DA LITERATURA Conselho Editorial EAD Dóris Cristina Gedrat (coordenadora) Mara Lúcia Machado José Édil de Lima Alves Astomiro Romais Andrea Eick Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores a emissão de conceitos. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº .610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal. ISBN: 978‐85‐7838‐337‐4 Edição Revisada APRESENTAÇÃO Este livro, Metodologia de Ensino da Literatura, é o resultado da práti‐ ca profissional de um grupo de docentes preocupados com a qualifica‐ ção e a educação continuada daqueles que têm como meta e responsa‐ bilidade tornar o espaço sala de aula um lugar privilegiado de apren‐ dizagem prazerosa e desafiadora para o aprendiz de literatura. Seu objetivo é provocar uma análise crítica e reflexiva sobre a compe‐ tência pedagógica do professor, não só quanto ao domínio de métodos e técnicas de ensino da Literatura, mas principalmente e fundamen‐ talmente, no que tange à postura deste frente ao ato pedagógico. Isso porque esse grupo acredita que um conhecimento específico só se torna significativo se aliado ao domínio da habilidade de educar. A balização desses pressupostos determinaram o eixo condutor sobre a seleção dos dez capítulos que compõem esta obra, a qual prevê, no primeiro capítulo, Metodologia(s) no processo de ensino e aprendiza‐ gem, uma apresentação do conceito de metodologia do ensino e sua importância no processo de ensino e aprendizagem. Neste capítulo são apontados métodos que o docente pode utilizar para desenvolver suas aulas de Literatura, destacando a importância e aplicabilidade de cada um dos métodos apresentados. O segundo capítulo, A contextualização e a intertextualidade literária, contém informações teóricas para a metodologia do ensino de Língua Portuguesa e trata dos conceitos de intertextualidade e contextualiza‐ ção dos conteúdos em sala de aula. Apresenta também exemplos de situações práticas. Em Metodologia de pesquisa, terceiro capítulo, tem‐se a oportunidade de estudar alguns conceitos importantes para que a pesquisa esteja presente no processo de ensino e aprendizagem de Literatura. Tam‐ bém são listadas algumas técnicas que poderão auxiliar as investiga‐ ções e, por fim, apresentam‐se sugestões de temas adequados ao traba‐ lho com o contexto literário. 6 O quarto capítulo, A leitura e o conhecimento literário, focaliza a im‐ portância da leitura para o conhecimento literário. Apresenta os está‐ gios por que passa um aprendiz durante o processo de desenvolvimen‐ to de sua habilidade leitora e traz o exemplo de uma aula de leitura, que poderá ser utilizada ou adaptada pelo professor de literatura às condições da turma com que trabalha. A noção de periodização literária, tema do quinto capítulo, é apresen‐ tada, vinculando‐a, sobretudo, ao estudo das literaturas nacionais e à história literária. Aborda também as noções de cânone e clássico. O sexto capítulo, Periodização literária II, trata da periodização literá‐ ria que é vinculada ao estudo da Literatura no ensino médio e, ainda, discute essa forma de apresentação da literatura brasileira neste nível de ensino. O texto em sala de aula, tema do sétimo capítulo, trata da unidade que constitui o principal eixo temático e metodológico para o estudo da literatura na escola: o TEXTO, que compõe o centro do processo de ensino e aprendizagem. É na LEITURA e na PRODUÇÃO TEXTUAL do aluno que o professor de Literatura deve pensar quando planeja todo o seu trabalho, em termos de objetivos, conteúdos, estratégias, recursos e avaliação. Com a leitura do oitavo capítulo, Planejamento, o leitor constata que o trabalho com o texto literário requer um bom planejamento e, por isso, deve ter três momentos: introdução, desenvolvimento e fechamento; percebe que o professor precisa se preocupar em estabelecer objetivos bem definidos, adequar os conteúdos, selecionar recursos e técnicas, além de prever formas de avaliar; compreende que é importante que a Literatura seja desenvolvida já no ensino fundamental, partindo para o estudo da periodização somente no ensino médio, ocasião em que o professor procurará seguir as orientações dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCNEM). O capítulo traz também uma sugestão de plano de aula a ser aplicado em quintas séries do ensino fundamental. O nono capítulo, Avaliação, trabalha os conceitos e as modalidades de avaliação. Também aborda as funções dessa etapa durante o trabalho com o texto literário. Por fim, apresenta sugestões de atividades que podem servir para o professor de Literatura avaliar tanto a aprendiza‐ gem dos alunos quanto o seu próprio trabalho em sala de aula. 7 Encerrando a seleção de capítulos desta obra, destaca‐se o décimo, Adequação dos conteúdos e programas de literatura aos diferentes níveis e séries, que aborda o ensino fundamental e o ensino médio, fazendo uma articulação entre os conteúdos de literatura previstos nesses dois níveis de ensino, bem como da fase de leitura em que os alunos se encontram. Sabe‐se que o estudo aqui realizado não esgota temática abordada, contudo tem‐se a pretensão de, com ele, suscitar a busca permanente de novos postulados metodológicos e tendências tecnológicas que possam vir a promover ou despertar a paixão pelo ensino da Literatu‐ ra. O caminho está traçado. Cabe a você, leitor, acomodar‐se ao seu per‐ curso ou usá‐lo como ferramenta básica para novas investigações, novas alternativas metodológicas. Boa Leitura. SOBRE OS AUTORES Mara Elisa Matos Mara Elisa Matos Pereira possui graduação em licenciatura em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul ‐ UFRGS (1992), gra‐ duação em Psicologia pela UFRGS (2003), mestrado e doutorado em Linguística e Letras pela PUCRS (1996). Atualmente é professora ad‐ junta com doutorado da Ulbra. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Teoria Literária e Literatura Brasileira, atuando, principal‐ mente, em Literatura Infantil. Moema Cavalcante Doutora em Literatura Comparada pela Universidade de Limoges, França. É professora da Ulbra, onde desempenha o cargo de Supervi‐ sora de Estágio e professora de Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa e de Literatura há dez anos. Sara Regina Scotta Cabral Professora da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) no campus de Cachoeira do Sul. É doutora em Letras desde 2007 pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e, atualmente, cursa pós‐doutorado em Linguística Aplicada na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP). Sua trajetória docente, desde 1973, inclui atuação nos ensinos fundamental, médio e superior, nas disciplinas de Língua Portuguesa, Literatura Brasileira e Linguística. SUMÁRIO 1 METODOLOGIA(S) NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM ...................... 13 1.1 O que é metodologia? .............................................................................. 13 1.2 Quais são as consequências do uso de uma metodologia adequada? ......... 14 1.3 Quais métodos podem ser empregados no ensino de Literatura? ............... 15 1.4 Quais são as vantagens em adotarmos um dos métodos apresentados? ..... 21 Atividades .................................................................................................... 23 2 A CONTEXTUALIZAÇÃO E A INTERTEXTUALIDADE LITERÁRIA .............................. 25 2.l A intertextualidade literária ...................................................................... 25 2.2 A contextualização literária .....................................................................29 Atividades .................................................................................................... 32 3 METODOLOGIA DE PESQUISA ......................................................................... 35 3.1 O que é pesquisa? ................................................................................... 35 3.2 Quais são os tipos de pesquisa? ............................................................... 36 3.3 Existem outros tipos de investigação? ...................................................... 39 3.4 Como fazer pesquisa? ............................................................................. 40 3.5 Qual é a diferença entre método e técnica? .............................................. 42 3.6 Que técnicas podemos utilizar em pesquisa? ............................................ 42 3.7 Para que serve a pesquisa em literatura?................................................. 44 Atividades .................................................................................................... 46 4 A LEITURA E O CONHECIMENTO LITERÁRIO ...................................................... 48 10 4.1 O que está acontecendo? ........................................................................ 48 4.2 Para que serve a leitura? ......................................................................... 51 4.3 Como podemos trabalhar com a leitura? .................................................. 53 4.4 Uma experiência de leitura ...................................................................... 55 4.5 A leitura extraclasse ................................................................................ 60 Atividades .................................................................................................... 60 5 PERIODIZAÇÃO LITERÁRIA I ............................................................................ 62 5.1 Período literário ...................................................................................... 62 5.2 Estilo de época ....................................................................................... 64 5.3 Cânone literário ...................................................................................... 67 Atividades .................................................................................................... 69 6 PERIODIZAÇÃO LITERÁRIA II ........................................................................... 70 6.l História da literatura e periodização literária ............................................. 70 6.2 Periodização e literatura nacional ............................................................ 73 Atividades .................................................................................................... 77 7 O TEXTO EM SALA DE AULA ............................................................................. 79 7.1 A seleção dos textos ................................................................................ 79 7.2 A leitura e a produção textual .................................................................. 84 Atividades .................................................................................................... 88 8 PLANEJAMENTO ............................................................................................. 90 8.l Por que planejar? ..................................................................................... 90 8.2 Plano de Aula - conteúdos e objetivos, técnicas e recursos, avaliação, procedimentos.............................................................................................. 92 Atividades .................................................................................................... 99 9 AVALIAÇÃO .................................................................................................. 101 9.1 O que é avaliação? ................................................................................ 101 9.2 Por que avaliar em literatura? ................................................................ 105 11 9.3 Como podemos avaliar em literatura? .................................................... 107 Atividades .................................................................................................. 109 10 ADEQUAÇÃO DOS CONTEÚDOS E PROGRAMAS DE LITERATURA .................... 111 10.1 A escola e a literatura ......................................................................... 111 10.2 A seleção de textos ............................................................................. 114 10.3 Aspectos importantes para realizar a seleção adequada de materiais .... 116 Atividades .................................................................................................. 117 REFERÊNCIAS POR CAPÍTULO ......................................................................... 119 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 121 GABARITO ...................................................................................................... 124 1 METODOLOGIA(S) NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM Sara Regina Scotta Cabral Algumas pessoas dizem que para ser professor é necessário ter voca‐ ção. Hoje, entretanto, sabemos que a vocação por si só não basta, uma vez que o magistério é uma profissão, assim como muitas outras, que requer conhecimento, competência e técnica. Para que se obtenham resultados significativos, o ato de ensinar deve acontecer através de procedimentos próprios e adequados à sua finalidade. Neste capítulo apresentamos algumas orientações para que o professor de Literatura possa conduzir suas aulas com mais segurança. Para isso, inicialmente apresentamos o conceito de metodologia do ensino e sua importância no processo de ensino e aprendizagem. Logo após, apre‐ sentamos métodos que o docente pode utilizar para desenvolver suas aulas de Literatura. Por fim, fazemos considerações sobre a importân‐ cia e aplicabilidade de cada um dos métodos apresentados. 1.1 O que é metodologia? Ensinar e aprender são procedimentos pedagógicos que, para atingi‐ rem seus fins, necessitam de um planejamento cuidadoso em todas as etapas do processo, desde a motivação inicial até as atividades de finalização. Por isso, é importante que o professor faça uso de uma metodologia adequada, que cumpra o papel de elemento organizador do processo de ensino e aprendizagem. Metodologia do ensino corresponde, então, AO CAMINHO QUE o PROFESSOR UTILIZA PARA PROMOVER O APRENDIZADO: o tema a ser abordado, o método (ou procedimento) a ser escolhido, o material de trabalho, as técnicas de instrução e de avaliação. No trabalho com a literatura, tanto no ensino fundamental quanto no ensino médio, o professor precisa estabelecer ROTEIROS PARA AS DIFERENTES SITUAÇÕES DIDÁTICAS, de modo que leve o aluno a 14 se apropriar dos conhecimentos propostos. O maior objetivo do traba‐ lho com a literatura na escola é a formação de leitores competentes e críticos e, para isso, o professor precisa estar instrumentalizado, tanto na teoria quanto nas práticas diárias de sala de aula. Sem um planejamento cuidadoso não será possível estabelecer uma melhor convivência dos alunos com o texto literário. Por esse motivo, o professor precisa estar atento a alguns fatores determinantes para a escolha da metodologia a ser utilizada: os objetivos a serem atingidos, a etapa no processo de ensino, a relevância do tema, a estrutura do assunto e o tipo de aprendizagem envolvido, a experiência prévia dos alunos, o tempo destinado à aula e os recursos físicos disponíveis. 1.2 Quais são as consequências do uso de uma metodologia adequada? Além da melhor convivência com os textos especiais da língua portu‐ guesa,o uso de uma metodologia adequada conduz os alunos a um melhor aproveitamento da bagagem cultural dos envolvidos e à dina‐ mização do processo de ensino e aprendizagem1. Outra consequência é a exploração das potencialidades de diálogo que os textos permitem entre si, de modo a promover o interesse do leitor e a consequente compreensão do mundo em que vive. Segundo Cândi‐ do2, a literatura ʺdesenvolve em nós a quota de humanidade na medi‐ da em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhanteʺ. A literatura, como objeto de ensino na escola, é uma área propícia para atividades de cunho interdisciplinar, já que é atravessada por inúme‐ ros outros temas como os de caráter sociológico, antropológico, cultu‐ ral, histórico, econômico etc. O estudo do texto literário, situado no seu tempo e nas suas condições de produção, pode ser ricamente explora‐ do e relacionado ao contexto do aluno e às contingências da vida atual. É importante que o professor de linguagem tenha uma proposta ade‐ quada de envolvimento com a literatura em sala de aula. Com a defini‐ ção dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), os estudos de lín‐ gua portuguesa não foram tratados separadamente dos estudos de literatura. O legislador partiu do princípio de que é necessária uma ʺreflexão sobre o uso da língua na vida e na sociedadeʺ3, fazendo da linguagem verbal o material de estudo em sala de aula. Os PCN4 apon‐ tam que os ʺconteúdos tradicionais foram incorporados por uma pers‐ pectiva maior, que é a linguagem, entendida como um espaço dialógi‐ 15 co, em que os locutores se comunicam. Nesse sentido, todo conteúdo tem seu espaço de estudo, desde que possa colaborar para a objetiva‐ ção das competências em questãoʺ. A grande quantidade e flexibilidade dos gêneros discursivos propici‐ am que os textos literários se tornem, mais do que nunca, acessíveis e, ao mesmo tempo, portadores de diversas formas de manifestação linguística, seja em propagandas, em artigos e crônicas de jornais, em panfletos, em fôlderes, etc. Promover o letramento literárioa dos alunos não consiste em apenas propiciar sua exposição aos cânones apontados pela crítica especiali‐ zada, mas também em fazer com que os educandos convivam com as mais variadas manifestações da arte da linguagem. 1.3 Quais métodos podem ser empregados no ensino de Literatura? Vários são os métodos que podem ser utilizados pelo professor no ensino de Literatura. Dentre os mais conhecidos, citamos: o método CIENTÍFICO, o método CRIATIVO, o método RECEPCIONAL, o método COMUNICACIONAL e o método SEMIOLÓGICO. Método científico O método científico tem como ponto de partida a seleção de um pro‐ blema, que pode ser a escolha, a partir de vários textos, de um tema e a delimitação de hipóteses que possam ser reformuladas no desenvol‐ vimento do trabalho. Geralmente este método é conduzido mediante pequenos projetos acerca de um tema específico de literatura, os quais têm uma certa duração (um mês, um bimestre, um semestre). Por apresentar características de projeto de pesquisa, alunos e profes‐ sor traçam objetivos, preveem metodologia de trabalho e instrumentos de acompanhamento e avaliação. É importante, neste método, a inter‐ pretação dos resultados, o que conduzirá às conclusões da pesquisa. No método científico, o professor pode optar por conduzir o trabalho segundo a temática e a cronologia simultaneamente. Um exemplo é a observação de um fenômeno estilístico, social ou religioso, no decorrer de um tempo predeterminado. O método científico, quando utilizado em consonância com programas que propõem um estudo cronológico e histórico da literatura, pode 16 trazer excelentes resultados para o trabalho com o texto literário e enriquecer essa prática. Apresentamos algumas sugestões de temas adequados à aplicação do método científico nas aulas de literatura do ensino médio: • os acontecimentos históricos que propiciaram o surgimento das escolas literárias; • a comparação entre o comportamento burguês nas obras do romantismo e nas obras do modernismo; • as características da prosa do século XIX e do século XX; • a evolução da métrica desde o quinhentismo até o parnasianismo; • as manifestações da religiosidade nos períodos literários; • a representação do índio no romantismo e no modernismo brasileiro; • a investigação das técnicas de narrativa e do trabalho linguístico em romances experimentais de Osman Lins, Ignácio de Loyola Brandão, Ivan Angelo, Antônio Callado, dentre outros. Método criativo O método criativo parte da produção textual e literária dos próprios alunos. Durante as aulas, os alunos produzem textos a partir de in‐ sights criativos, que são aperfeiçoados através de técnicas aprendidas no decorrer dos trabalhos. A característica mais importante deste método é a liberdade atribuída ao aluno no decorrer do curso, de modo que ele possa escrever criati‐ vamente, na busca de novas formulações para seus textos. Assim, o educando passa a ser o agente do processo de ensino‐aprendizagem, pois ele é o centro das aulas. O professor, nesta perspectiva, comporta‐ se como estimulador e orientador do processo. O trabalho de produção textual literária, entretanto, requer do docente um preparo sólido e uma grande versatilidade, a fim de poder lidar com os diferentes estilos e peculiaridades dos novos escritores. Para o professor que utilize o método criativo, sugerimos os seguintes temas para aulas de literatura do ensino médio: elaboração de poemas a partir de fatos do cotidiano; realização de paráfrases e paródias de obras consagradas conhecidas da literatura brasileira; escritura de um pequeno ensaio comparativo entre um poema de Fernando Pessoa e um poema de Carlos Drummond de Andrade; escritura de textos em prosa com temáticas comuns à literatura (amor, 17 fidelidade, inspiração, natureza, poder); composição de cartas a personagens importantes de obras famosas (por exemplo, Capitu, Bentinho, Moreninha, Jeca Tatu, Diadorim etc.) e a autores importantes (Padre Antônio Vieira, Gregório de Matos Guerra, Castro Alves, Machado de Assis, Olavo Bilac, Mário de Andrade, Guimarães Rosa, Ariano Suassuna etc.); composição e encenação de peças teatrais. Método recepcional O método recepcional baseia‐se na estética da recepção, de Hans Ro‐ bert Jauss5. Na perspectiva do teórico alemão, o leitor é o responsável pela atualização da obra literária, garantindo a historicidade do texto. A historicidade é entendida aqui não como o período literário a que pertence uma obra, mas como o momento em que a obra é lida e apre‐ ciada pelo leitor. Durante o processo de leitura, estabelece‐se uma relação dialógica entre texto e leitor, de modo que este último, a partir de seu conheci‐ mento prévio, proceda a novas construções da realidade. Como conse‐ quência dessa perspectiva, o leitor atinge sua emancipação à medida que amplia seu horizonte de expectativas. Jauss6 avalia que a obra literária ʺnão é um objeto que exista por si só, oferecendo a cada observador em cada época um mesmo aspecto. Não se trata de um monumento a revelar monologicamente seu Ser atem‐ poral. Ela é, antes de tudo, como uma partitura voltada para a resso‐ nância sempre renovada da leitura, libertando o texto da matéria das palavras e conferindo‐lhes existência atualʺ. Maria da Glória Bordini e Vera Teixeira Aguiar7 defendem que o mé‐ todo recepcional pode ser uma boa alternativa metodológica no ensino da literatura. Elas afirmam que o ponto de partida para a aplicação do método é o ponto de vista do leitor, mesmo que a interpretação obtida seja relativa.Para as autoras, a literatura ʺnão se esgota no texto. Com‐ plementa‐se no ato da leitura e o pressupõe, prefigurando‐o em si, através de indícios do comportamento a ser assumido pelo leitorʺ8. Partindo das referências e vivências que o leitor tem acerca do mundo, a leitura do texto literário pode confirmar esse horizonte de expectati‐ vas ou se contrapor ao que é esperado. Na visão de Bordini e Aguiar9, quanto mais o texto se distanciar do horizonte de expectativas do lei‐ tor, mais esse último poderá ampliar os limites de tais horizontes. 18 As autoras10 apontam cinco etapas que compõem o método recepcio‐ nal: 1ª etapa ‐ determinação do horizonte de expectativas. 2ª etapa ‐ atendimento do horizonte de expectativas. 3ª etapa ‐ ruptura do horizonte de expectativas. 4ª etapa ‐ questionamento do horizonte de expectativas. 5ª etapa ‐ ampliação do horizonte de expectativas. Na primeira etapa, o professor deverá identificar quais são os horizon‐ tes de expectativas de seus alunos. Isso será obtido a partir de conver‐ sas informais, observações diretas e indiretas, entrevistas, questioná‐ rios, realização de brincadeiras, etc. Esta fase é fundamental, pois ser‐ virá de base para que o professor trace sua estratégia de interferência nas expectativas da classe. Uma vez feitas as constatações iniciais, o professor passará para a segunda etapa de aplicação do método ‐ o atendimento do horizonte de expectativas dos educandos. Isso poderá ser realizado através da seleção de textos que sejam ao gosto dos estudantes e da aplicação de tarefas que lhes sejam familiares. Aos poucos, entretanto, o docente deverá aumentar o grau de exigência, de modo a acrescentar elemen‐ tos novos no trabalho com o texto em sala de aula. A terceira etapa está destinada à realização de atividades que surpre‐ endam as expectativas dos alunos, o que deverá ser realizado aos pou‐ cos. A tarefa do professor, nesta fase, é provocar o estranhamento do aluno em relação a novos textos e, assim, fazer com que o discente questione as formas até então conhecidas como normais, regulares, comuns. É importante que esse estranhamento ocorra aos poucos, em complexidade crescente, de maneira que o novo seja apresentado ao aluno. Mesmo que a temática seja a mesma da segunda etapa, nesta fase o estudante deve começar a perceber novos jogos de linguagem, novas formas de construção frasal, de estrutura textual ou mesmo de expres‐ são do pensamento do autor. Avaliação concomitante deve ser realizada em conjunto com os alunos, de maneira que faça com que eles reflitam sobre as diferenças entre o trabalho inicial e o atual e percebam o grau de dificuldade crescente. Na quarta etapa, a apresentação de pontos de vista poderá ser conse‐ 19 guida através de seminários, debates, discussões com a turma, exposi‐ ção de motivos, dentre outras estratégias. Por fim, na quinta etapa, o professor promoverá a ampliação do hori‐ zonte de expectativas dos estudantes. Nesta fase, os próprios alunos reafirmam‐se como sujeitos do processo de aprendizagem, uma vez que fazem a avaliação de seus anseios anteriores e atuais. E uma nova etapa de avaliação, desta vez sobre o crescimento demonstrado, indi‐ vidual e coletivamente. Esta etapa pode coincidir com uma nova apli‐ cação do método, com a vantagem de maior participação dos alunos nas etapas subsequentes. Pelo exposto, podemos dizer que o método recepcional tem o leitor como centro do processo de ensino e aprendizagem. É em torno desse sujeito que se organizam as ações docentes, de maneira que promovam a emancipação do educando, tanto na sua dimensão humana quanto na sua dimensão criativa. Sugerimos alguns temas cujo desenvolvimento pode ser aplicado ao método recepcional nas aulas de Literatura do ensino médio: a identidade feminina; a representação do amor; a situação do sertanejo nordestino; abandono infantil; a não correspondência amorosa. Método comunicacional O método comunicacional toma por base as seis funções da linguagem, na definição de Roman Jakobson11: emotiva, conativa, referencial, me‐ talinguística, fática e poética. Nesta perspectiva, o professor parte da análise do texto literário quanto aos seis elementos do ato de comuni‐ cação (emissor, receptor, contexto, código, contato e mensagem) e enfoca a importância de tais componentes na construção do texto. Aborda também o modo como cada um desses elementos é manipula‐ do pelo autor de modo a causar impacto no leitor. O objetivo final do método é demonstrar como todos os elementos do ato de comunicação concorrem para a construção da mensagem como elemento regulador de todas as relações estabelecidas no texto. Outras atividades podem acompanhar a aplicação do método comuni‐ cacional, como a produção textual criativa dos alunos. Entretanto, tal procedimento visaria apenas à melhor percepção das diferentes fun‐ ções da linguagem nos textos literários. 20 Consideramos que, para aplicação do método comunicacional, é inte‐ ressante que o professor trabalhe com textos pequenos, especialmente poemas, crônicas e contos. A aplicação deste método em porções de linguagem muito longas (como um romance, por exemplo) tornar‐se‐ia muito complexa, exigindo um grau mais elevado de adiantamento das turmas escolares. Para aulas do ensino médio, sugerimos textos como: poemas narrativos; crônicas de Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Rubem Braga, Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta), Lourenço Diaféria, João Ubaldo Ribeiro, Luís Fernando Veríssimo, Moacir Scliar e Martha Medeiros; contos de Machado de Assis, Monteiro Lobato, Osmar Lins, Murilo Rubião, Autran Dourado, Homero Homem, Oto Lara Resende, Ricardo Ramos, Marina Colasanti, Luís Vilela, Marcelo Rubens Paiva, Ivan Angelo, Hilda Hilst, Dalton Trevisan, entre outros; textos publicitários que utilizam a função poética. Método semiológico O método semiológico conduz à análise do uso social da linguagem e às questões de ideologia presente nos textos literários. Este método entende que há várias interpretações para uma mesma porção de lin‐ guagem e que essa interpretação está ligada ao conjunto de valores de cada leitor. A aplicação do método semiológico permite que cada aluno expresse sua opinião particular sobre o tema abordado no texto literário, de modo a desenvolver a leitura crítica. Leitura crítica, nesse caso, é en‐ tendida não como uma leitura negativa do texto, mas como uma avali‐ ação pessoal sobre a abordagem do autor na totalidade de sua obra (temas, estilos, relação com o contexto de produção, dentre outros). Tal avaliação deve acontecer em termos de visões de mundo apresentadas em interação com a própria visão dos leitores. Desse modo, podemos observar que o método semiológico tem caráter emancipatório e requer do professor e dos colegas de classe a pronti‐ dão para aceitarem e discutirem os mais variados pontos de vista. 21 Textos como os de Castro Alves, Oswald de Andrade, Graciliano Ramos, João Cabral de Melo Neto, Rubem Fonseca, J. J. Veiga, Thiago de Mello, Affonso Romano de Santanna, Antônio Callado, Gianfrancesco Guarnieri, Chico Buarque e Paulo Leminsky prestam‐se à aplicação do método semiológico. Também sugerimos, para o ensino médio, o trabalho com obras de romances memorialistas e autobiográficos de intelectuais que sofreram com o exílio ou com os acontecimentos do regime militar nas décadas de 1960 a 1980: Pedro Nava, Fernando Gabeira e Marcelo Rubens Paiva. 1.4 Quais são as vantagens em adotarmos um dos métodos apresentados? Todo procedimento metodológico apresenta algumas vantagens na sua aplicação, já quedemonstra haver planejamento por parte do professor ao preparar suas aulas. Também há alguns cuidados que devem ser tomados, uma vez que a escolha de uma forma de trabalho necessari‐ amente implica exclusão de outras. Em relação ao MÉTODO CIENTÍFICO, que trabalha com a metodolo‐ gia de projetos, podemos afirmar que ele organiza o estudo da produ‐ ção literária em aspectos pontuais, segundo o desejo do professor: temas, personagens, contexto de época, recursos estilísticos, entre ou‐ tros. Ao mesmo tempo, desenvolve a investigação cientifica dentre os alunos, já que utiliza procedimentos e instrumentos adequados e per‐ faz etapas delimitadas. O método científico pode, se o docente assim o desejar, ser mesclado ao estudo cronológico da literatura, não o impedindo. Outra vantagem do uso do método científico é que ele permite flexibi‐ lidade anual, por parte do professor, na organização de seu programa de ensino, o qual poderá adequar‐se, em determinado grupo social, às temáticas em voga no momento, como eleições, trânsito, educação, fome, moda, casamento, temas de campanhas e comemorações em determinadas épocas (Dia do Índio, Dia Internacional da Mulher, Dia dos Namorados, Mês das Noivas, Natal, Semana da Independência do Brasil, 100 Anos da morte de Machado de Assis, etc.). O MÉTODO CRIATIVO, que desenvolve nos alunos a autonomia na produção de textos, tem a vantagem de levar os estudantes a assumi‐ rem um papel ativo no processo de ensino e aprendizagem, de modo que não sejam apenas receptores passivos dos textos literários. O papel 22 do professor é o de orientador quanto a técnicas de composição textu‐ al, mas os insights ficam a cargo dos alunos. Entretanto, é preciso ter certa cautela ao utilizar o método criativo, pois ele não é adequado a todos os níveis de ensino nem a todos os tipos de aprendizes. Essa metodologia é recomendada a alunos adultos, especi‐ almente de graduação e pós‐graduação, que já tiverem uma certa expe‐ riência de escrita e um certo conhecimento de mundo. Também é pre‐ ciso lembrar que nem todos os estudantes gostam de produzir textos literários. Para a utilização do método criativo, o professor deve considerar vá‐ rios fatores, como interesse dos alunos pelo desenvolvimento da escri‐ ta criativa, predisposição da turma para a produção literária, conheci‐ mentos prévios de mundo, período de aplicação do método, entre outros fatores. O MÉTODO RECEPCIONAL, derivado da estética da recepção, na medida em que busca ampliar os horizontes de expectativas dos alu‐ nos, trabalha com textos de caráter emancipatório, o que significa tra‐ balhar com obras que ofereçam não aquilo que o estudante já sabe, mas sim novas perspectivas ainda não consideradas. O método tam‐ bém busca a participação ativa dos alunos, pois põe em questionamen‐ to os valores de seu grupo social, que os discentes trazem para a sala de aula como algo definitivo e de aceitação tácita. O professor, embora não seja o centro do processo, desempenha papel importante, já que é ele que fará a seleção das obras e dos textos literá‐ rios a serem examinados. O método COMUNICACIONAL, que parte dos elementos que concor‐ rem para a realização do evento comunicativo, toma por base as seis funções da linguagem12. A vantagem em se aplicar esta metodologia reside no fato de o aluno distinguir os efeitos da manipulação de cada um dos elementos da comunicação presentes no texto a ser estudado. Pode ser utilizado juntamente com o método criativo, a fim de se obter melhores resultados no processo de ensino e aprendizagem do texto O método comunicacional, por si só, traz poucas vantagens, na medida em que apenas aguça a percepção do educando para as diferentes funções da linguagem. Não contribui para tornar o aprendiz o centro do processo. O MÉTODO SEMIOLÓGICO tem a grande vantagem de propiciar várias interpretações de um mesmo texto e de desenvolver nos alunos 23 a leitura crítica. Esta metodologia permite que sejam apresentadas diversas opiniões dentro de uma mesma sala de aula e, em um proces‐ so dialógico, sejam debatidos os valores, as crenças e os desejos da classe. O método semiológico diz respeito à avaliação formativa dos educan‐ dos, na medida em que desenvolve a capacidade de interpretação e permite que eles desvelem a(s) ideologia(s) presente(s) nos textos lite‐ rários em estudo. É importante cuidar para que essa metodologia não se transforme em apenas um estudo da(s) intencionalidade(s), mas que derive para os fatores que promovam a interação entre texto e leitor. Atividades 1) Metodologia do ensino da literatura é: a) o planejamento das aulas de um professor preocupado com o processo de ensino e aprendizagem. b) o caminho utilizado, pelo professor, para promover o apren‐ dizado e a prática exercida na abordagem do texto literário em aulas de literatura. c) a realidade histórica analisada nas aulas sobre textos literá‐ rios. d) o conjunto de textos literários examinados em uma aula de li‐ teratura. e) o trabalho com o universo de significados implícitos em um texto literário. 2) Utilizar metodologia no ensino da literatura é importante, porque: a) contribui para que o aluno se torne um leitor mais competen‐ te. b) contribui para que as aulas de literatura se tornem mais fáceis. c) orienta o professor no processo de aprendizagem. d) orienta as atividades do professor e do aluno na abordagem do texto literário. e) torna os alunos leitores mais críticos. 3) Os métodos científico, criativo e comunicacional têm, respectiva‐ mente, como características: a) a organização, a criatividade e a comunicação. b) a cientificidade, a produção textual e a análise do texto literá‐ rio. 24 c) o tratamento analítico, a subjetividade e a análise das inten‐ ções do autor. d) a cientificidade, a subjetividade e a comunicação. e) o levantamento de hipóteses, a liberdade de expressão e a im‐ portância de todos os elementos na construção da mensagem. 4) Quando o professor, ao propor um trabalho com um texto literá‐ rio, pede aos alunos que indiquem qual é o autor, o público leitor, a mensagem, o canal e o modo de representação do mundo, está aplicando o método: a) criativo. b) recepcional. c) comunicacional. d) científico. e) semiológico. 5) Se o professor selecionar um tema e apresentar vários textos à classe, de diferentes épocas e autores, e solicitar aos alunos que fa‐ çam a comparação do modo como essa questão é tratada em cada uma das obras, o professor estará usando o método: a) recepcional. b) semiológico. c) criativo. d) científico. e) comunicacional. 2 A CONTEXTUALIZAÇÃO E A INTERTEXTUALIDADE LITERÁRIA Moema Cavalcante Neste capítulo trabalharemos com dois conceitos fundamentais à com‐ preensão e à interpretação de textos literários na escola: a INTERTEX‐ TUALIDADE e a CONTEXTUALIZAÇÃO. Cabe ao professor de litera‐ tura refletir sobre esses conceitos no momento de planejar suas aulas, quando deve partir de fundamentação teórico‐metodológica importan‐ te, que facilite a aquisição do conhecimento ao seu aluno. Novamente, aqui, lançamos mão de base teórica desenvolvida em nosso artigo A aula de literatura, em livro publicado pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra)1. Temos como objetivos principais desenvolver conheci‐ mentos que facilitem aos jovens professores elaborar e aplicar os pla‐ nos de aula de literatura, razão por que iniciaremos pela reflexão em torno dos dois conceitos c 2.l A intertextualidade literária Chama‐se intertextualidade quando um texto remete a outro(s), que ele lembra ou de que traz a presença, seja por meio de citações explícitas ou implícitas, seja em formasestruturais, gêneros, linguagens diferen‐ tes ou ainda, quando apenas lembra a temática ou os sentidos primei‐ ros. O termo é retirado da Literatura Comparada e faz parte de estudos literários dos tempos pós‐modernos2. Os autores atuais têm recorrido aos aspectos intertextuais para, a partir de outros textos, criar ou recri‐ ar textos com novos s Considerando que qualquer texto possui, de um modo ou de outro, as marcas de outros que o precederam, há sempre a possibilidade de haver aspectos intertextuais a serem lidos ou descobertos na leitura de textos literários. Assim, cada obra pode também ser lida sob esse pris‐ ma, pelas semelhanças e/ou diferenças das que a precederam. Da mesma forma, toda atividade humana pode ser também entendida 26 como intertextual e todo o conhecimento está sempre lembrando ou‐ tras teorias, sentidos e palavras que o antecederam. Sob esse ponto de vista, toda aula de Literatura é intertextual. Ela pode ser analisada em seus aspectos intertextuais porque o professor ensina o que foi lido em outros livros e remete a diferentes textos, ou seja, o texto de quem ensina remete a outros que contêm o mesmo conteúdo. Os conhecimentos que o aluno aprende já foram anteriormente escri‐ tos, explicados, ou lidos em outros livros. Assim, também o discurso do professor é intertextual, pois as palavras e frases escolhidas por ele podem lembrar outros discursos aprendidos em livros ou com outros professores. Todos os livros usados nas aulas tomam por base a pes‐ quisa. E, como a pesquisa é também intertextual, logo, toda aula é intertextual. Leia‐se o que Cavalcante3 disse anteriormente sobre a intertextualidade: O que se realiza então é o ato ‐ cognitivo ‐ de extrair dos livros ideias, conceitos, até mesmo os valores sociais e, depois de transformá‐los segundo a visão do professor, adaptá‐los a uma linguagem mais simples, a qual possa ser compreendida pelos alunos na sala de aula. Que mais não é a pesquisa do que um longo processo intertextual, somatório de todas as leituras de textos científicos sobre determinado assunto? Então se pode afirmar que todo este sentido de ler, aprender, ensinar/comunicar conhecimentos é processo intertextual, em que se mesclam ideias e estabelecem‐se os posicionamentos do educador. São os aspectos intertextuais em sala de aula que tornam o discurso do professor consistente, avalizado pelo conhecimento. O aluno lê, aprende com o professor e, nos livros, faz a leitura de tex‐ tos literários de outros autores (escritores) ou de especialistas em co‐ nhecimentos literários. Esse é um processo intertextual. Além disso, quando escrever sobre os conteúdos da aula de Literatura ou comentar um poema ou romance em relação à teoria que estuda, o seu discurso também será intertextual. A produção do aluno é intertextual, pois lembra o discurso do professor e os livros que leu. Sua redação fica centrada também nesses conhecimentos adquiridos em sala de aula. Daí esse novo discurso produzido passa a ser também Intertextual. Como se pode ver, o processo de ensino e aprendizagem de conheci‐ mentos literários dá‐se, na escola, como processo intertextual. Não se aprende literatura de uma hora para outra, todo texto lembra outro(s) que o precedeu/precederam. É como se cada texto tivesse suas caracte‐ rísticas próprias sem deixar de se parecer com os anteriores4, assim com as aulas e a escola têm sempre as ideias e conhecimentos que se assemelham aos que outras pessoas já disseram ‐ no processo que se 27 denominou INTERTEXTO ESCOLAR5, pois se constrói na ENCRUZI‐ LHADA6 dos (textos) que o precederam. O professor de Literatura deve estar consciente desse sentido intertex‐ tual, que faz parte da sua aula sempre. Nem sempre o indivíduo (ou o aluno) tem consciência da intertextualidade presente na literatura. Os conhecimentos vêm com as leituras. O professor pode, e deve, sempre que lhe for possível, mostrar ao aluno, durante a leitura, os aspectos intertextuais, porque tal fato tornará mais fácil a compreensão do texto literário como objeto de estudo. Os conhecimentos de cada período literário podem facilitar a aprendi‐ zagem das obras produzidas nessas épocas. Por exemplo, se o conteú‐ do for o estudo dos romances urbanos românticos, o aluno entenderá melhor o contexto histórico‐político‐social representado se o professor puder mostrar‐lhe um filme que o represente nessa outra linguagem. O professor estará lançando mão de um procedimento intertextual para facilitar a aprendizagem da literatura. Um romance de qualquer período literário será mais bem compreen‐ dido pelos alunos se os mesmos assistirem ao filme em que houve adaptação do livro escrito para esta outra linguagem, a cinematográfi‐ ca. O cinema brasileiro tem representado os clássicos da literatura há anos. Se o professor tiver dificuldades para que os alunos leiam José de Alencar ou Machado de Assis, por exemplo, deve tentar inserir no planejamento uma projeção. E não pense que ele perderá tempo. Pelo contrário, ainda poderá fazer seminário em que cada um dos alunos da turma poderá analisar e discutir com os demais colegas sobre as seme‐ lhanças e diferenças entre o livro e a sua versão para o cinema, o con‐ texto social, os personagens, o tipo de narrador, o enredo, entre outros. Atualmente, a facilidade com que os jovens lidam com a tecnologia ‐ em computadores, câmeras e celulares ‐ tem possibilitado o acesso a esses recursos de filmagem a partir de temas trabalhados na sala de aula, o que proporciona ótimos trabalhos realizados por eles mesmos. Basta que o professor os lidere para que os grupos de jovens possam criar roteiros e filmar cenas com incrível facilidade para, depois, gravá‐ los em CD ou DVD. E, para fazê‐lo, poderão ler obras literárias sem achar que a tarefa de ler seja cansativa. Você pode estar pensando que esses recursos oriundos da tecnologia estão muito distantes da escola em que trabalha. Pois bem, passa‐se a outros mais simples e mais acessíveis. 28 O professor é sempre o mediador de conhecimentos entre o aluno e os livros ou textos literários com os quais deve trabalhar no ensino médio. Ele pode empregar recursos mais simples, tais como cartazes (use o papel pardo se achar a cartolina muito cara), com poemas de diferentes autores e épocas, para mostrar ao aluno essas semelhanças e/ou dife‐ renças que o professor esteja ensinando. O mesmo vale para músicas de grupos e de bandas conhecidas pelos alunos, para demonstrar se‐ melhanças entre poemas e canções. Os romances e características dos períodos literários poderão ser lembrados com mais facilidade se o professor empregar esse tipo de recurso. Depende do contexto escolar e da seleção do professor. O professor tem que usar recursos variados. Até o livro‐texto, se bem usado, pode ser outro recurso precioso para o professor de Literatura no ensino médio. Muitos livros de bons autores já trazem marcados, nos textos, a intertextualidade e a contextualização. Além disso, os atuais livros de literatura trazem sugestões de filmes, músicas, enfim, técnicas e recursos que podem ser ótimos se bem escolhidos de acordo com a turma e o período literário com o qual se vai trabalhar. O que não se deve é trabalhar no livro todos os conteúdos do ano ou semestre inteiro. As aulas se sucederão na maior monotonia se o aluno souber sempre o que virá adiante. O professor tem de variar método, técnicas e recursos, ser dinâmico e criativo, para conquistar seus alunos e ensi‐ ná‐los a gostarem do que estudam. A pesquisa em livros de bons autores de história da literatura é outro procedimentointertextual recomendado nas aulas de literatura, uma vez que enriquece os conhecimentos do aluno, que os aplicará ao estu‐ do da obra nas aulas de Literatura. O professor será, então, um facili‐ tador da aprendizagem para seus alunos, orientando sobre a bibliogra‐ fia, selecionando os conteúdos, elaborando o planejamento e avaliando o discente conforme os objetivos alcançados. Esta é uma das técnicas (intertextuais) recomendadas. O aluno poderá trabalhar com mais de uma obra ou autor, os trabalhos podem ser feitos em grupos ou indi‐ vidualmente. Só não é possível – ao bom professor – ficar parado du‐ rante todo o tempo da aula ou substituir o planejamento pelo improvi‐ so e, sob o nome de ʺpesquisaʺ deixar que os alunos trabalhem sozi‐ nhos, sem a sua orientação segura. Da mesma forma, visitas a museus, bibliotecas ou teatros podem lem‐ brar aos alunos autores já estudados ou obras já mencionadas na escola e despertar‐lhes o gosto pela leitura. O tempo que se dispensa a um passeio pode servir então a objetivos maiores, tais como educá‐los e incentivá‐los à leitura e à produção textual. O que o professor não 29 pode deixar, nesses casos, é que os alunos fiquem sem qualquer refe‐ rência na próxima aula, como se tivessem ido passear apenas para ʺmatarʺ o tempo, o que seria desperdiçá‐lo. É preciso planejar em dife‐ rentes etapas, como, por exemplo: o preparo dos alunos para receber os conhecimentos e saber ʺverʺ; o passeio (ao museu, biblioteca, exposição, teatro etc.); a volta à sala de aula com dois momentos, pelo menos, os comen‐ tários orais (que podem ser sob a forma de debates, seminários ou discussão orientada) e a produção textual escrita. Em todos esses planos deverão constar: objetivos, técnicas/recursos e avaliação. Também não podem faltar a criatividade, a análise crítica do professor e sua disposição e liderança, para mudar a rotina dentro da sala de aula. Os procedimentos sugeridos acima são apenas alguns que fogem à aula expositiva do método tradicional. O bom professor, que quiser alunos interessados nas suas aulas, poderá lançar mão da intertextua‐ lidade e interdisciplinaridade para tornar suas aulas mais prazerosas e incentivar nos alunos o gosto pela literatura. 2.2 A contextualização literária Assim como o aspecto intertextual da literatura pode ser empregado em favor da metodologia de ensino e aprendizagem, também é neces‐ sário que o professor recorra à CONTEXTUALIZAÇÃO para tornar suas aulas mais atrativas e até, talvez, mais fáceis, para os jovens de hoje em dia. E o QUE É CONTEXTUALIZAÇÃO ou CONTEXTUALI‐ ZAR UM TEXTO LITERÁRIO? Para que o aluno entenda os sentidos que o texto literário expressa, é preciso que essa suprarrealidade aproxime‐se do contexto em que ele vive. O professor pode explicar‐lhe como é (ou era) a realidade do mundo representado num romance ou num poema que se lê em sala de aula. Considera‐se CONTEXTUALIZAÇÃO7 quando se traz o texto literário ao CONTEXTO do aluno, aproximando duas realidades ou seja, fazendo com que ele entenda o mundo criado, associando‐o ao seu mundo conhecido. Note‐se que aqui se chama CONTEXTO os elementos externos ao TEXTO, descritos por seu autor. E o conjunto de nexos referenciais a que os signos literários remetem, tais como a cultura do escritor, a 30 sociedade em que viveu, a política, a religião, o tempo, a região em que viveu e escreveu, o que o texto descreve, o meio em que o romance se desenvolve. CONTEXTUALIZAR é desvendar esse mundo (em que viveu o autor). É relacionar o mundo narrado ao mundo do aluno, apontar semelhanças e diferenças. O texto literário só adquire sentido quando o leitor descobre a relação do texto com o contexto. Cabe ao professor facilitar essa descoberta para o aluno. O bom professor deve cativar o aluno, incentivá‐lo à leitura literária. Cabe‐lhe estabelecer a ligação do texto literário com o mundo que cerca o aluno, à sua realidade conhecida, para que ele compreenda o mundo descrito. O conhecimento deverá resultar no gosto pela obra e na sua consequente leitura. Na mediação da linguagem, o ato da leitu‐ ra pode ser facilitado ou tornar‐se um verdadeiro ʺsacrifícioʺ para o jovem, se este não entender o texto de acordo com o contexto em que foi escrito. Cabe, então, outro aspecto teórico‐prático fundamental para o professor de Literatura: estabelecer a contextualização. Na sala de aula, o professor será mediador entre as duas realidades sem quais‐ quer dificuldades. Em 2008, ano em que foram lembrados os 100 anos da morte de Ma‐ chado de Assis, proferiu‐se aula inaugural do curso de Letras da Ulbra, para alunos do curso presencial e, em EAD, para os colegas professo‐ res. Na ocasião, procurou‐se mostrar situações práticas de sala de aula exemplificando como se poderia contextualizar e facilitar a leitura de um dos maiores escritores da literatura clássica. Eis aqui um trecho da palestra de Cavalcante8, contendo exemplos práticos: Assim, uma forma de CONTEXTUALIZAR o texto literário é recorrer à(s) outra(s) linguagem(ns), ou às das outras artes: cinema, teatro, pintura, representação gráfica. O aluno compreenderá melhor o contexto em que se desenrolam os romances visualizando‐os em recursos tais como filmes, novelas de TV, fotos ou pinturas representando a época (séc. XIX), os contextos social, econômico, geográfico, político. [...] Os livros de Ensino Médio trazem boas sugestões. A maior parte dos livros atuais são coloridos, têm material gráfico rico e bonito, neles há sugestões de músicas e outras atividades, como trabalhos em grupos e individuais, que proporcionam ao aluno a possibilidade de desenvolver a criatividade e análise crítica na aula de literatura, [grifo nosso] Na ocasião, houve perguntas dos jovens professores e comentários a respeito de contextualização literária e de metodologia do ensino de Literatura em geral, o que demonstra a preocupação do estudante do curso de Letras em geral e dos professores em dar aulas cada vez me‐ lhores e despertar nos jovens a consciência da necessidade de ler os clássicos. 31 Na palestra, falou‐se novamente sobre o TEATRO na sala de aula, que pode considerado uma das formas de CONTEXTUALIZAÇÃO que mais produz (e muito) ótimos resultados. O professor nem precisa exigir que o aluno leia o livro. Se interessado, o aluno pode criar, orien‐ tado pelo professor, a representação contexto para a classe. O aluno lerá para representar. E vai, então, criar e recriar cenários, guarda‐ roupas, fazer adaptações dos textos, tudo com muito gosto, recriando a obra em outra linguagem. Impressiona ver como, no ensino médio, a participação das turmas aumenta diariamente, à medida que os cole‐ gas representam seus trabalhos em sala de aula. Com muita vontade, o aluno irá ler o livro e, até, mais de um, para selecionar o qual preferir e recriá‐lo em uma das outras linguagens acima citadas. Logo, o professor deve refletir de acordo com a turma e os recursos de que dispõe antes de planejar suas aulas de Literatura. Em primeiro lugar, deve informar‐se sobre os recursos que dispõe a escola em que vai ministrar suas aulas: verificar se há retroprojetor, câmera de filma‐ gem, TV, DVD etc. E se não houver? Se não houver, o professor terá que usar material mais simples ‐ mas que também pode ser audiovisu‐ al: cartazes coloridos, ou em papel pardo, revistas velhas e jornais para os alunos recortarem, fichas e envelopes de cores diferentes, para pôr o material. Cartazes ou livros, use‐os. Consulte a biblioteca da escola. Você encontrará o material adequado parasuas aulas. A aula a partir de variados recursos demonstrará ao aluno que o professor é organi‐ zado e prepara suas aulas com criatividade. No ensino médio, o aluno já sabe muito bem valorizar o trabalho bem planejado. O mesmo deve‐ rá acontecer com técnicas interessantes, movimentadas. Não deixe a aula ser monótona! Que esteja repleta de recursos e conhecimentos literários. Técnicas como seminários, júris simulados e gravações de material movimentam suas aulas e produzem, no aluno, o estímulo à leitura, o gosto pela literatura. Os próprios alunos podem elaborar materiais que serão usados por eles na aula de Literatura. No caso de Machado de Assis, por exemplo, poderia ser feito um júri baseado em D. Casmurro ‐ com alunos como jurados, um advogado de defesa e um de acusação de Capitu (e Bentinho) ‐ com o tema: traição/ adultério. Os alunos participarão com entusiasmo para organizar a atividade e, para tanto, lerão a obra e outros os clássicos da literatura brasileira. Revisando, listamos algumas formas de promover a intertextualidade e contextualização do texto literário na sala de aula através de algumas técnicas e recursos: 32 a leitura de textos literários, como centro da aula de Literatura, em suas várias modalidades (individual, compartilhada, silenciosa ou em voz alta, em grupos, na aula ou em casa, na biblioteca escolar etc); a música como recurso precioso para compreender uma época; o teatro, que pode mostrar todo o contexto em que viviam os auto‐ res, as roupas, modo e ser e de pensar. O mesmo processo de contextualização literária e de intertextualidade na aula de Literatura ou de Língua Portuguesa pode ocorrer tendo como recursos os filmes retirados da televisão e do cinema. Os CDs e DVDs funcionam como excelentes recursos para que o aluno possa ver e memorizar o contexto literário tanto dos tempos antigos quanto da fase contemporânea, com suas diferenças em termos de locais, classes sociais e identidades regionais ou de grupos. Antes de trabalhar um texto clássico ou um período literário, seria bom o professor sondar os conhecimentos que a turma possui, em termos de contexto social e histórico, selecionando, assim, os recursos e técnica (s) mais apropria‐ dos para despertar o gosto de seus alunos na aprendizagem. O que não pode deixar de ocorrer é o conhecimento da realidade do aluno antes da preparação das aulas e a realização da contextualização literária para a compreensão da literatura pelo aluno, assim como o bom professor nunca pode deixar de planejar suas aulas. É preciso sempre planejar, selecionar os textos de acordo com o conteúdo e o nível de conhecimentos da turma, assim como selecionar o material de acordo com os alunos, enfim, aplicar técnicas e recursos conforme a turma a que se destinam. Isso é importante, sob pena de a aula virar uma sequência desordenada de atividades sem quaisquer bons resul‐ tados, nem para o aluno, nem para o próprio professor. Ambos insatis‐ feitos, o resultado pode ser a frustração do professor e a ʺbagunçaʺ do aluno na sala de aula. Portanto, cuidado, professor! Atividades 1) Chama‐se contextualização literária quando, no processo de ensi‐ no e aprendizagem da literatura, existe a possibilidade de: a) o aluno lembrar o contexto em que o escritor viveu, no senti‐ do de decorar datas, nomes das obras, listas de fatos e de acontecimentos históricos. b) o professor mostrar conhecimentos sobre , a realidade históri‐ ca e política da região em que vive. 33 c) o professor aproximar o contexto literário da realidade do aluno, para facilitar a compreensão do texto literário. d) o aluno entender a realidade em que viveu o escritor, porque, na prova, o professor irá expor data e outros números corres‐ pondentes. 2) Na linguagem do professor, em aulas de Literatura, devem estar sempre presentes: a) muitos conhecimentos difíceis para o aluno. b) a simplicidade para facilitar a compreensão e aprendizagem do texto literário. c) relações de números memorizados, datas e detalhes que im‐ pressionem o aluno. d) o desconhecimento de características e termos literários. 3) Uma visita a museus, exposições ou teatros pode ser uma forma de: a) contextualização literária e estímulo à leitura. b) deixar de lado o planejamento sério. c) resolver problemas da sala de aula e promover a interativida‐ de entre os alunos. d) deixar de lado os conhecimentos literários e o planejamento. 4) Escolha a alternativa que contém todas as palavras que comple‐ tam as lacunas do trecho a seguir: Na mediação da linguagem, o ato da leitura pode ser facilitado ou tornar‐se um verdadeiro ʺsa‐ crifícioʺ para o jovem, se este não entender o texto de acordo com o contexto em que foi escrito. A afirmação propõe a importância da figura do ..................... em sala de aula e do seu ..................como.......................... a) professor ‐ aluno ‐ aquele que não conhece nada de literatura. b) aluno ‐ professor de literatura ‐ aquele que sabe todos os co‐ nhecimentos. c) aluno ‐ professor de literatura ‐ facilitador da aprendizagem. d) professor ‐ professor de literatura ‐ aquele que detém todos os conhecimentos. 5) Neste capítulo, considera‐se a pesquisa em literatura, seja em casa, na biblioteca da escola, ou, ainda, pela internet, como forma de: a) facilitar a aula do professor, que pode deixar de planejá‐la. b) facilitar a aula, que se transforma em brincadeira sem organi‐ zação. c) intertextualizar a aula, para facilitar o trabalho do professor. 34 d) relacionar intertextualidade e contextualização da literatura, que produzem o conhecimento. 3 METODOLOGIA DE PESQUISA Sara Regina Scotta Cabral No capítulo 3, apresentamos alguns conceitos importantes para que a pesquisa seja uma das tarefas propulsoras do ensino e aprendizagem de literatura. Partimos da definição de pesquisa, e após, mostramos os tipos possíveis de realização nesse componente curricular. A seguir, listamos algumas técnicas que poderão auxiliar as investigações, e, por fim, apresentamos sugestões de temas que julgamos adequados ao trabalho com o texto literário, tanto em sala de aula quanto em espaços extraclasse. 3.1 O que é pesquisa? Vários são os conceitos de autores acerca da definição de pesquisa. Pesquisa é entendida como ʺa atividade básica da Ciência na sua inda‐ gação e construção da realidadeʺ1 e também como ʺuma atividade voltada para a solução de problemas teóricos ou práticos com o em‐ prego de processos científicosʺ2. Outro autor afirma que ciência é ʺuma tentativa de descrever, interpretar e generalizar sobre uma realidade obs Pelas definições acima, podemos afirmar que pesquisa é um procedi‐ mento reflexivo, dotado de uma sistematização e de um controle ade‐ quado, que permite, a partir de um problema, descobrir dados, fatos, relações ou leis em qualquer campo do conhecimento. Toda pesquisa nasce de uma curiosidade humana acerca de objetos, fatos e fenômenos, do mundo concreto e também do mundo abstrato. Constantemente, o homem se questiona sobre o mundo em que está inserido. Através da pesquisa científica, ele busca verdades, evidências e certezas. Entretanto, como a ciência está em constante progresso, não podemos afirmar que o homem tenha atingido a plenitude de suas aspirações. As verdades, evidências e certezas são, de certo modo, relativas, mas pertinentes em um determinado tempo. Sabemos que 36 alguns construtos que eram tidos como verdadeiros em outras épocas da história do homem já não o são hoje. É essa constante busca pela verdade que permite o progresso da ciência e o grande desenvolvi‐mento que o homem atingiu até hoje. 3.2 Quais são os tipos de pesquisa? Cervo e Bervian4 apontam três tipos básicos de pesquisa: a bibliográfica; a descritiva; a experimental. Os autores5, entretanto, observam: Qualquer espécie de pesquisa, em qualquer área, supõe e exige uma pesquisa bibliográfica prévia, quer para o levantamento do ESTADO DA ARTE do tema, quer para a fundamentação teórica ou ainda para justificar os limites e contribuições da própria pesquisa. Além disso, os trabalhos realizados pelos alunos para complementar os programas curriculares são, geralmente, pequenas pesquisas bibliográficas. A pesquisa bibliográfica Consiste em buscar, na literatura específica da área de investigação, a solução para o problema levantado. Para tanto, podem ser consultados livros, documentos, revistas especializadas, sites importantes na inter‐ net e teses ou dissertações na área. Esse tipo de pesquisa pode ser realizado independentemente, mas também pode fazer parte de outras pesquisas. Tem por objetivo inves‐ tigar o que já foi pesquisado na área, de modo a fazer um apanhado das contribuições científicas e culturais que existem até o momento. É muito utilizada em monografias, dissertações e teses em ciências hu‐ manas. Frequentemente, a pesquisa bibliográfica é o primeiro passo para o desenvolvimento de outras investigações. Ela é muito utilizada para fundamentar novos trabalhos de cunho descritivo ou experimental, que visem buscar uma resposta para um problema ou para uma hipó‐ tese que foi cogitada. Sugestões de temas para realização de pesquisas bibliográficas: contexto sócio‐histórico em que surgiram as escolas e tendências literárias; 37 as características temáticas e estilísticas de cada período literário no Brasil; regionalismo como vertente da literatura romântica e os principais autores; a poesia simbolista e seus representantes no Estado em que alunos e professores habitam; coleta de vários poemas que fazem intertextualidade com Canção do Exílio, de Gonçalves Dias; coleta de músicas populares brasileiras que fazem intertextualidade com obras de literatura; principais autores e tendências da literatura brasileira atual; conceito, autores e textos de literatura de cordel. A pesquisa descritiva Ocupa‐se de observar, anotar, analisar e correlacionar fatos e/ou even‐ tos, sem, entretanto, manipulá‐los. Ao trabalhar com dados colhidos da própria realidade, busca conhecer um determinado fato ou fenômeno, sua natureza, sua origem sua relação com os demais elementos, de modo a classificá‐los, explicá‐los e interpretá‐los. É adequada às ciên‐ cias humanas e sociais. A pesquisa descritiva, por se preocupar com aspectos do comporta‐ mento humano, requer uma metodologia de trabalho bem acurada, já que, ao observar os fatos em seu ambiente natural, precisa registrá‐los com rigorismo científico, para depois descrevê‐los. Segundo Cervo e Bervian6, há várias formas de realizarmos pesquisa descritiva: estudos descritivos, pesquisa de opinião, pesquisa de moti‐ vação, estudo de caso e pesquisa documental. Sugestões de temas para realização de pesquisas descritivas: • leitura da Carta do Descobrimento e realização de pesquisa sobre a existência de índios e seus hábitos na região onde os alunos moram; • análise de poemas do arcadismo brasileiro e identificação de passagens e elementos linguísticos que revelem a presença do bucolismo; • análise da obra Memórias de um Sargento de Milícias e indicação de passagens de cunho realista no texto; • comparação entre um poema parnasiano, um modernista e um contemporâneo; • identificação de passagens alusivas à morte na obra de Manuel Bandeira, em blogs etc.; • análise de produções literárias em quadrinhos e comparação com as narrativas originais; • realização de pesquisa na comunidade sobre o valor da poesia na atualidade e apresentação dos resultados a colegas e ao professor de Lite‐ ratura; 38 • realização de levantamento na comunidade sobre gostos e preferências literárias; • investigação, no Museu Municipal, sobre a presença de textos literários produzidos em sua cidade; • pesquisa em jornais de determinada época, no município, sobre colunas literárias publicadas; • análise da produção literária de um determinado autor ‐ seja consagrado, seja de sua região em particular ‐ e descrição de características, temas, tendências, volume da obra etc. A pesquisa experimental É aquela em que o investigador manipula instrumentos que se relacio‐ nem diretamente com as variáveis do objeto de estudo. Há a interfe‐ rência direta do pesquisador, que controla o curso dos acontecimentos. Em relação a esse tipo de pesquisa, ʺa manipulação das variáveis pro‐ porciona o estudo da relação entre causas e efeitos de um determinado fenômeno. Com a criação de situações de controle, procura‐se evitar a interferência de variáveis intervenientes. Interfere‐se diretamente na realidade, manipulando‐se a variável independente a fim de observar o que acontece com a dependenteʺ7. Um dos objetivos da pesquisa experimental é explicar a relação exis‐ tente entre as causas e os efeitos de um determinado fenômeno. Para isso, o investigador pode fazer uso de instrumentos e aparelhos mo‐ dernos, capazes de levar a resultados mais exatos. Entretanto, fazer pesquisa experimental não significa necessariamente fazer pesquisa em laboratórios. Esse tipo de investigação pode ser realizado também em outros ambientes, como sala de aula, locais de trabalho, ambientes comerciais e assim por diante. Sugestões de temas para realização de pesquisas experimentais: • elaboração de poemas a partir de apresentação de quadros de arte contemporânea; • adaptação de um poema romântico às características dos poemas modernistas; • realização de paródias de poemas conhecidos; • leitura de contos de autores brasileiros sem o desfecho e solicitação aos alunos para elaboração da conclusão do enredo, com posterior comparação; • montagem de poema a partir de palavras coletadas aleatoriamente em jornais; • transposição de versos bastante conhecidos (por exemplo, a primeira estrofe de Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, para a linguagem não verbal, utilizando apenas recortes de gravuras coloridas retiradas de 39 revistas). A mesma atividade poderá ser realizada através de mímica; • mistura de versos de poemas diferentes, de modo a formar novo poema; • montagem de pequenos esquetes a partir de contos brasileiros e apresentação à comunidade escolar. 3.3 Existem outros tipos de investigação? Quando pretendemos resolver um problema, podemos realizar outros tipos de investigação, que são: os estudos exploratórios, o resumo de assunto e o seminário de estudos. Os ESTUDOS EXPLORATÓRIOS constituem o passo inicial de um processo de pesquisa. São recomendados quando o conhecimento dos pesquisadores acerca do problema a ser estudado é pequeno. Para a realização desses estudos, os investigadores elaboram obje‐ tivos e buscam o maior número possível de informações acerca do tema, o que permitirá uma melhor compreensão do problema e possibilitará o levantamento futuro de hipóteses mais consistentes na área. O RESUMO DE ASSUNTO consiste em um texto que ʺreúne, analisa e discute conhecimentos e informações já publicadasʺ8. Exige leitura atenta por parte do pesquisador, que deverá decidir sobre a validade, a pertinência e a importância do material reco‐ lhido. Embora não seja um trabalho original, pode servir como ponto de partida para o processode alargamento da visão de um iniciante em p O SEMINÁRIO DE ESTUDOS acontece por meio de reuniões, debates, encontros reais e/ou virtuais, congressos de pesquisado‐ res de uma determinada área. É muito comum em aulas de pós‐ graduação e também de graduação. É de fundamental importância o trabalho de quem apresenta e dirige o seminário. A condução hábil das discussões terá como resultado a participação efetiva e contributiva de todos os participantes. A vantagem em trabalhar‐ mos com seminário de estudos como atividade escolar é a gradati‐ va emancipação do estudante e o aguçamento da curiosidade por novas buscas. 40 3.4 Como fazer pesquisa? Toda pesquisa parte de um problema, para o qual se buscará uma resposta ou uma solução. A fim de que isso aconteça, é preciso que o pesquisador use um determinado MÉTODO de investigação, o qual dependerá basicamente do objeto a ser estudado. Marconi e Lakatos9 conceituam método como ʺo conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo ‐ conhecimentos válidos e verdadeiros ‐, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientistaʺ. Para as autoras, dentre os diversos tipos de métodos que podem ser usados em uma pesquisa, destacam‐se o método indutivo, o dedutivo e o hipotético‐dedutivo. O método indutivo Caracteriza‐se pela utilização da indução que, como processo de pen‐ samento, distingue‐se por ser um raciocínio que parte da observação de um fato individual para depois chegar à formulação de uma con‐ clusão. O pesquisador realiza o movimento argumentativo que parte de uma ocorrência em particular para chegar a uma afirmação geral. A indução é muito utilizada nas ciências experimentais. Marconi e Lakatos10, citando Hegenberg, apresentam tipos de inferências induti‐ vas que podem ocorrer da amostra para a população, da população para a amostra, da amostra para a amostra, das consequências verifi‐ cáveis de uma hipótese para a própria hipótese e por analogia. Para a aplicação do método indutivo, sugerimos os seguintes procedimentos: • apresentar um texto literário aos alunos; • analisar diversas passagens do texto, buscando identificar, junto com os estudantes, as características temáticas, estilísti‐ cas e linguísticas do texto; • levar a turma a traçar um perfil (um tipo de diagnóstico ou julgamento literário) do texto; • a partir das conclusões, tentar identificar em que escola li‐ terária o texto se encaixa. 41 O método dedutivo Emprega a dedução como um processo argumentativo. Mais frequente que a indução, a técnica dedutiva caracteriza‐se por partir de uma afirmativa de caráter geral para chegar a uma conclusão particular. O pesquisador realiza, então, um movimento que se origina de uma realidade conhecida (o geral), para atingir outra desconhecida. A de‐ dução é muito utilizada por profissionais das áreas de matemática, física e química. Nas aulas de Literatura, frequentemente é utilizado o método dedutivo. Isso acontece quando, inicialmente, o professor apresenta uma lista de características literárias de um determinado período e, logo após, solicita aos alunos que identifiquem nas obras as passagens em que as caracte‐ rísticas se encaixam. O método hipotético-dedutivo Criado pelo filósofo austríaco Karl Popper, propõe que, em pesquisa, seja feito um trabalho de eliminação de erros, uma vez que o pesquisa‐ dor não tem garantias de que algum outro método o leve à certeza. Assim, toda a pesquisa parte de um problema para o qual procuramos uma solução, o que é feito através de hipóteses e eliminação do que estiver errado. A aplicação deste método supõe o cumprimento das seguintes fases: a) expectativas ou conhecimento prévio; b) problema; c) conjecturas; d) falseamento. Isso significa que, a partir do conhecimento que temos do mundo, podem surgir conflitos em relação a expectativas e teorias existentes. A partir daí, o pesquisador apresenta uma possível solução para esses conflitos e, por fim, aplica testes que busquem a eliminação de erros, através da observação e da experimentação. Para que o professor utilize o método hipotético dedutivo em uma situação de pesquisa em sala de aula, ele pode proceder da seguinte maneira: • apresentar aos alunos o episódio Lucíola, produzido pela TV Globo, homônimo do romance de José de Alencar; • discutir com os alunos acerca da produção audiovisual e questioná‐los acerca da fidedignidade da fita à história original; • fazer suposições, junto com os alunos, sobre figurinos, atitudes das personagens, coerência com o período histórico e literário, desfecho da história etc, e sobre o motivo das alterações efetuadas; • solicitar aos alunos que leiam o romance de José de Alencar; • pedir aos alunos que façam uma comparação entre a obra original e o filme, posicionando‐se sobre o efeito de cada gênero no leitor e no espectador. 42 3.5 Qual é a diferença entre método e técnica? É comum confundirmos as noções de método e técnica. Enquanto MÉTODO é o conjunto de procedimentos sistemáticos utilizados na realização de uma pesquisa, TÉCNICA é cada um desses procedimen‐ tos considerados separadamente. Cervo e Bervian11 assim diferenciam as duas noções: Por método entende‐se o dispositivo ordenado, o procedimento sistemático, em plano geral. A técnica, por sua vez, é a aplicação do plano metodológico e a forma especial de o executar. Comparando, pode‐se dizer que a relação existente entre método e técnica é a mesma que existe entre estratégia e tática. Tanto o método quanto a(s) técnica(s) a ser(em) utilizada(s) dependem do objeto de estudo. É ele que determina quais procedimentos e ativi‐ dades são mais adequados a investigação. Por exemplo, para um traba‐ lho de laboratório de química podemos usar uma técnica chamada calorimetria, que faz a medição da quantidade de calor em uma de‐ terminada substância. O mesmo não pode ser feito em uma entrevista com um profissional da área, em que usaríamos a técnica de perguntas e respostas orais. 3.6 Que técnicas podemos utilizar em pesquisa? Há várias técnicas que podemos utilizar em pesquisa. São elas: observação; experimentação; inferência; análise e síntese; estatística; coleta de dados. A OBSERVAÇÃO, segundo Marconi e Lakatos12, pode caracterizar‐se como assistemática, sistemática, não participante, participante, indivi‐ dual, em equipe e laboratorial. A EXPERIMENTAÇÃO caracteriza‐se mais pela aplicação de uma diretriz de trabalho do que pela interferência do pesquisador no pro‐ cesso de investigação. Trata‐se de verificar a relação entre causa e con‐ sequência, em determinado fenômeno, seja ele físico, químico, biológi‐ 43 co ou mesmo econômico. As ciências exatas e da terra utilizam larga‐ mente a experimentação. A INFERÊNCIA, segundo Cervo e Bervian13, ʺé uma operação mental que leva a concluir algo a partir de certos dados antecedentesʺ. Ao inferir, o pesquisador chega a uma nova proposição, que é resultado de conclusões já contidas (implícitas) nas proposições iniciais. Vários cientistas chegam à formulação de suas leis fazendo inferências sobre os fenômenos observados na realidade. ANÁLISE E SÍNTESE são técnicas complementares. Enquanto na aná‐ lise há a decomposição do objeto de estudo em suas partes constituti‐ vas, a síntese o reconstitui. Ao fazermos análise, realizamos um movi‐ mento que vai do princípio mais complexo para o mais simples; ao contrário, quando fazemos síntese, partimos do mais simples para o mais complexo. A análise e a síntese
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