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Renata Valadão Bittar – Medicina UNIT / P5 1 IMAGINOLOGIA DOR NEUROPÁTICA CENTRAL E PERIFÉRICA Os métodos de imagem têm desempenhado um papel fundamental na abordagem das infecções do SNC, contribuindo de forma decisiva para o diagnóstico específico, para a estimativa de complicações e também para o acompanhamento terapêutico. A TC é útil para uma avaliação preliminar, em face da sua grande disponibilidade e rapidez, necessária ao atendimento daqueles indivíduos com alteração do estado mental ou outras complicações sistêmicas. Também auxilia na interpretação de casos com hemorragia aguda ou calcificações teciduais e situações que a punção lomba é demandada, em que a TC estima a existência ou o grau de hipertensão intracraniana. A RM é o MÉTODO DE IMAGEM DE ESCOLHA pela sua maior resolução de contraste tecidual, capacidade multiplanar de aquisição de imagens e alta sensibilidade para a detecção de extravasamento de contraste. Pode ainda fornecer dados diagnósticos do agente infeccioso específico, assim como orientar procedimentos cirúrgicos minimamente invasivos. INFECÇÕES VIRAIS Geralmente desencadeiam processos inflamatórios multifocais ou difusos, com predomínio de acometimento parenquimatoso (encefalite), que também pode estender-se às leptomeninges (meningoencefalite). A doença pode resultar de uma infecção aguda ou da reativação de um vírus latente. As encefalites virais cursam com degeneração neuronal e inflamação. ACHADOS MACROSCÓPICOS: variam desde aspecto normal até a congestão encefálica difusa, ou o edema vasogênico associado a hemorragia e necrose. Há algum grau de congestão dos vasos meníngeos. A análise de dados dos achados das imagens de sequências funcionais, como a difusão, a perfusão e a espectroscopia é útil na avaliação da maioria das encefalites virais. 1. ENCEFALITE PELO HERPES SIMPLES Encefalite esporádica mais comum (20%) Alta mortalidade (50 a 70%) Alta morbidade (sequelas neurológicas graves) Agente etiológico mais comum: HSV-1 Pelo menos 70% dos casos de encefalite por HSV-1 resultam da reativação do vírus latente a partir do gânglio trigeminal 1/3 dos casos são decorrentes da infecção primária HSV-2: 80 a 90% dos casos de encefalite herpética neonatal (via primária de transmissão através do canal do parto de mães portadores de herpes genital) Infecção intraútero hematogênica transplacentária pelo HSV-2: rara mas pode acontecer TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA Estágios mais precoces da encefalite pelo HSV-1 TC pode ser normal ou mostrar áreas hipodensas que expandem o lobo temporal e produzem certo efeito expansivo local A detecção de hemorragia constitui achado comum, porém pouco evidenciado na TC Na encefalite pelo HSV-2, a TC pode mostrar áreas hipoatenuantes sutis na substância branca periventricular, poupando de certa forma os núcleos da base, os tálamos e as estruturas infratentoriais Posteriormente, com a progressão da doença, podem ser observadas áreas focais de necrose hemorrágica A presença de encefalomalácia parenquimatosa denota achados sequelares ou doença avançada RESSONÂNCIA MAGNÉTICA MÉTODO MAIS SENSÍVEL PARA A DETECÇÃO DE ACOMETIMENTO PARENQUIMATOSO HSV-1 Renata Valadão Bittar – Medicina UNIT / P5 2 Estágios mais precoces – HSV-1: edema no córtex temporal medial, na substância branca dos lobos temporais e na porção inferior dos frontais = Hipersinal em T2/FLAIR, com expansão das regiões acometidas As alterações estruturais podem ser demonstradas à RM poucas horas após o início dos sintomas, ao passo que a sensibilidade menor da TC demandaria cerca de 3 a 5 dias. A impregnação pelo contraste ocorre geralmente com padrão giriforme e é menos frequente nas fases mais precoces, tornando-se proeminente com a propagação da doença Áreas de difusibilidade restrita podem ser detectadas nas fases mais precoces (edema) A maioria das encefalites necro-hemorrágicas se associa à redução da difusibilidade A sequência ponderada em difusão pode ainda ser útil para o acompanhamento terapêutico Fases mais crônicas: encefalomalacia, com atrofia das regiões afetadas, circundadas por gliose e associadas a depósitos de resíduos hemorrágicos crônicos HSV-2 Achados se assemelham ao da TC, com perda de distinção entre as substâncias branca e cinzenta Edema parenquimatoso pode ser de difícil caracterização devido ao hipersinal normal da substância branca não mielinizada nas imagens T2/FLAIR A necrose hemorrágica cortical e as calcificações podem ser caracterizadas por hipossinal em T2 Áreas de difusibilidade restrita também podem ser detectadas nas fases precoces A RM É O MÉTODO DE IMAGEM DE ESCOLHA PARA A AVALIAÇÃO E DEVE SER UMA PRIORIDADE DO ATENDIMENTO, DEVIDO À ALTA SENSIBILIDADE DO MÉTODO E À ESPECIFICIDADE DOS ACHADOS, QUE DEVE VALORIZAR A DISTRIBUIÇÃO DAS LESÕES NAS ESTRUTURAS LÍMBICAS E NOS LOBOS TEMPORAIS. O EMPREGO DA DIFUSÃO DEVE SER PRIORITÁRIO PARA VALORIZAÇÃO DOS ACHADOS PRECOCES E TAMBÉM PARA O MELHOR ACOMPANHAMENTO DA RESPOSTA TERAPÊUTICA. Renata Valadão Bittar – Medicina UNIT / P5 3 2. ENCEFALITE PELO VÍRUS VARICELA- ZÓSTER O VZV pode causar 2 manifestações clínicas diferentes: a varicela e o herpes-zóster Doenças basicamente com manifestações cutâneas O envolvimento do SNC é raro em indivíduos imunocompotentes Após a primo-infecção, o VZV pode ficar latente em núcleos de nervos cranianos, usualmente o trigêmeo, ou em gânglios dos nervos espinais dorsais Predomínio de acometimento em crianças, idosos e pacientes imunodeprimidos TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA Os achados da TC, mesmo com contraste, constituem alterações encefálicas bastante sutis e raramente observadas TC não é o método mais indicado para a abordagem de indivíduos com esta suspeita clínica RESSONÂNCIA MAGNÉTICA MENINGOENCEFALITE que acompanha alguns casos de varicela áreas de hipersinal em T2/FLAIR no córtex Acometimento do SNC lesões subcorticais do tipo placas, demonstrando rápida desmielinização e lesões ativas que podem realçar após a administração de gadolíneo | Edema e hemorragia podem aparecer no decorrer da infecção | Pode ocorrer hipersinal focal ou segmentar no tronco encefálico e substância cinzenta supratentorial Encefalite Necrotizante lesões com “aspecto em alvo” em T2/FLAIR, tendendo a confluência em grandes regiões e com extenso envolvimento parenquimatoso | Os nervos cranianos envolvidos podem estar espessados, hiperintensos em T2/FLAIR e exibir focos de impregnação pelo contraste Em algumas circunstâncias é possível caracterizar o tropismo do vírus por alguns nervos cranianos, a partir dos quais se estende ao tronco encefálico, particularmente do 5º, 7º e 8º, com hipersinal em T2/FLAIR, difusibilidade reduzuda e impregnação anormal focal pelo gadolíneo dos nervos cranianos ou de seus núcleos A infecção sistêmica concomitante ou pregressa pelo VZV pode ter risco aumentado de VASCULOPATIA INFLAMATÓRIA INTRACRANIANA, particularmente da ACI e de seus principais ramos, com estreitamento luminal e até oclusão Diagnóstico da vasculopatia inflamatória intracraniana: história patológica pregressa de infecção pelo VZV + manifestações neurológicas + anormalidades de imagem compatíveis comisquemia, infarto ou hemorragia, além de evidências angiográficas de estreitamento luminal vascular e pleocitose no LCR. Renata Valadão Bittar – Medicina UNIT / P5 4 PACIENTES COM SUSPEITA DE ENVOLVIMENTO DO SNC PELO VZV DEVEM SER SUBMETIDOS A EXAME DE RM, COM AVALIAÇÃO DAS ESTRUTURAS INFRATENTORIAIS, COM ESPECIAL ATENÇÃO PARA O TRONCO ENCEFÁLICO, ALÉM DE LESÕES CORTICAIS E NA SUBSTÂNCIA BRANCA SUPRATENTORIAL. A ADMNISTRAÇÃO DE GADOLÍNEO E A INCLUSÃO DE SEQUÊNCIAS PONDERADAS EM T1 COM CORTES FINOS E SURESSÃO DE GORDURA SÃO IMPORTANTES PARA A CARACTERIZAÇÃO DO ENVOLVIMENTO DE NERVOS CRANIANOS E O ACOMETIMENTO LEPTOMENÍNGEO. 3. SÍNDROME DO TÚNEL DO CARPO O túnel do carpo é um túnel osteofibroso composto basicamente pelos tendões dos flexores, nervo mediano, vasos e gordura, salientando-se a presença das bolsas ulnar e radial em seu interior O túnel do carpo pode ser dividido em segmentos proximal e distal: SEGMENTO PROXIMAL - Lateral: tuberosidade do escafoide - Medial: pisiforme - Profundo: ossos da fileira proximal do carpo - Superficial: retináculo dos flexores, sendo discretamente convexo na face volar SEGMENTO DISTAL - Lateral: tubérculo do trapézio - Medial: hâmulo do hamato - Profundo: ossos da fileira distai do carpo - Superficial: retináculo dos flexores, onde é mais retificado e espesso Devido à rigidez de suas margens, qualquer processo que aumente o conteúdo do túnel ou reduza seu tamanho poderá gerar sintomas devido à elevação da pressão no seu interior A causa mais comum dessa síndrome é a TENOSSINOVITE dos tendões flexores por lesão por esforço repetitivo (LER) TENOSSINOVITE: inflamação da bolsa sinovial que recobre os tendões Trata-se de uma neuropatia compressiva que afeta o nervo mediano do túnel do carpo, podendo ser de causa idiopática ou relacionada com doenças sistêmicas (diabetes, hemofilia, patologias da tireoide, entre outras), processos expansivos, anomalias anatômicas (ex: persistência da artéria mediana), ocupacional, traumas e processo inflamatório Quadro clínico clássico: Paciente do gênero feminino, entre 40 e 60 anos, com parestesia da face palmar da mão e nos 3 primeiros dedos, fraqueza e atrofia da musculatura tenar, geralmente unilateral (na mão dominante), podendo ser bilateral em 40% dos casos. DIAGNÓSTICO É CLÍNICO! Renata Valadão Bittar – Medicina UNIT / P5 5 Exame físico: Sinal de Tinel (percussão do túnel do carpo) e Sinal de Phalen (flexão forçada do punho durante 1 minuto) positivos (iniciam ou acentuam a parestesia) O diagnóstico por imagem é importante nos casos duvidosos e com sintomas recorrentes mesmo após a liberação cirúrgica e o método mais bem empregado é a US. RESSONÂNCIA MAGNÉTICA: Espessamento do nervo mediano na porção proximal do túnel Achatamento do nervo na porção distal do túnel Abaulamento do retináculo dos flexores na porção distal do túnel Aumento do sinal do nervo nas sequências ponderadas em T2 Alguns autores sugerem a razão ÁREA DO NERVO AO NÍVEL DO PISIFORME / ÁREA DO NERVO AO NÍVEL DO RÁDIO DISTAL que teria um valor médio normal de 1,1 (0,9 a 1,7) e uma média de 2,4 (1,6 a 3,5) nos casos de síndrome do túnel do carpo Pode-se utilizar a MEDIDA DE ABAULAMENTO DO RETINÁCULO: traça-se uma linha do trapézio ao hámulo do hamato (TH), mede-se a distância do TH e o retináculo dos flexores, que deve ser menor que 2 a 4 mm Pode fornecer maiores informações diagnósticas e anatômicas sobre a importância das estruturas de partes moles do túnel do carpo ULTRASSONOGRAFIA • Na literatura de US o critério mais utilizado para diagnóstico é a área seccional do nervo mediano, a maioria dos autores sugere que se considere o limite superior da normalidade do nervo mediano entre 9 e 12 mm2 • No entanto, para facilitar o diagnóstico, em geral se aceita que, se o nervo mediano apresenta, pelo menos, o dobro do calibre no interior do túnel do carpo em relação à região pré-túnel, a hipótese de síndrome do túnel carpal é favorecida • A área do nervo mediano é mais bem obtida no segmento proximal do túnel do carpo, sendo a localização esperada para o edema máximo do nervo • Assumindo uma forma elíptica, a área do nervo no túnel do carpo proximal não deveria ser maior que 10mm2 • VANTAGENS DA US PARA A STC: exame rápido, dinâmico, em tempo real e de baixo custo • LIMITAÇÕES DA UF PARA A STC: não avalia estruturas ósseas Renata Valadão Bittar – Medicina UNIT / P5 6 4. NEUROPATIA INFLAMATÓRIA (HANSENÍASE) A hanseníase é uma doença infecciosa crônica causada pelo Micobacterium leprae e que cursa com acometimento da pele e dos nervos periféricos, tendo formas variadas de apresentação clínica 2 formas clínicas: tuberculoide e a lepromatosa, havendo formas intermediárias entre ambas Os sítios de acometimento preferencial da neuropatia da hanseníase são o NERVO ULNAR na região do cotovelo no túnel cubital e pré e pós-túnel, o nervo mediano do túnel do carpo e pré-túnel, o nervo peroneiro comum na altura da cabeça e do colo da fíbula, e o nervo tibial no túnel do tarso ULTRASSONOGRAFIA É o exame mais objetivo e mais eficiente para definir o espessamento dos nervos periféricos Pode demonstrar também desarranjo focal da arquitetura fascicular e hipoecogenicidade do nervo, principalmente na forma tuberculoide da doença O aumento de vascularização intraneural e perineural detectado pelo Doppler colorido, em geral, é identificado em pacientes com reação hansênica tipo 1 e tipo 2 Tem relativa vantagem de possibilitar o estudo de múltiplos nervis e de longos segmentos dos nervos periféricos, sendo uma técnica relativamente barata e acessível RESSONÂNCIA MAGNÉTICA Também é capaz de avaliar o espessamento do nervo da neuripatia na hanseníase Acredita-se que o aumento do sinal do nervo na ponderação T2 e o realce neural após injeção EV de gadolíneo sejam sugestivos de reação reversa em atividade Linfonodos regionais de aspecto inflamatório podem, eventualmente, ser identificados O processo granulomatoso pode evoluir para necrose caseosa, com formação de abscessos frios intraneurais ou perineurais Em casos crônicos, também foram descritos focos de fibrose e até calcificações intraneurais Renata Valadão Bittar – Medicina UNIT / P5 7 A prevenção de sequelas da neuropatia é um objetivo prioritário no tratamento dos pacientes com hanseníase e, portanto, métodos de imagem que demonstrem o acometimento neural podem ser úteis no manejo dos pacientes. O espessamento neural na neuropatia da hanseníase tende a ser mais acentuado e ter uma maior extensão do que o que ocorre nas neuropatias compressivas e pode não ficar restrito às regiões clássicas de compressão, sendo, por exemplo, comum o acometimento proximal ao túnel do carpo e proximal ao túnel cubital.