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AULA 3 NOVAS TECNOLOGIAS EM PESQUISA MERCADOLÓGICA Profª Shirlei Camargo 2 CONVERSA INICIAL Em conteúdo anterior, falamos principalmente de novas tecnologias aplicadas a métodos já tradicionais. Continuamos nessa toada com os diários on- line e a etnografia mobile. Porém, vamos conhecer também algumas novidades em pesquisas que surgiram graças aos avanços da tecnologia, como o scrapbooking e o smartboard — todos utilizando as ferramentas digitais. Finalizamos esta aula falando de um método que já é bem antigo, mas traz informações bem importantes e que ainda é muito utilizado: a pesquisa observacional. TEMA 1 – DIÁRIO ON-LINE Provavelmente, você já teve um diário onde relatava suas atividades diárias: alegrias, tristezas, novidades etc. (Figura 1). Ou, ainda, você já pode ter ouvido falar de diários de bordo — expressão utilizada para se referir ao relatório de determinada navegação, onde ficam registrados os acontecimentos mais importantes durante o trajeto. Contudo, pesquisadores começaram a pensar que essa ideia poderia ser aplicada como ferramenta de pesquisa. Também conhecido como diário pessoal, é quando pessoas pertencentes ao público-alvo fazem um registro em primeira pessoa para determinadas atividades, em que escrevem suas impressões e pensamentos. Trata-se de uma pesquisa detalhada, mas de longo prazo, indicada para testar principalmente produtos existentes. Os participantes, que podem ser equipados com câmeras, documentam atividades cotidianas, como preparar comida, usar um produto ou um aparelho. O diário é atualizado todos os dias em determinada hora (manhã ou noite) ou em certas ocasiões (antes de uma refeição, por exemplo). Deve ser fácil de usar podendo ser uma folha de papel, um câmera de vídeo, ou um gravador de áudio. No entanto, com o avanço das tecnologias, ele passou a ser on-line. Ou seja, nos diários on-line, pede-se ao participante que registre os acontecimentos relacionados a um produto/serviço dia após dia em seus computadores ou smartphones. São dados referentes a vida cotidiana, comportamentos e seus sentimentos, buscando padrões de conduta entre as pessoas para uma melhor compreensão de como os indivíduos interpretam situações e atribuem significados para as ações (Vasques, 2021). 3 Figura 1 – Adolescente escrevendo em seu diário Créditos: Teechai/ Shutterstock. Há uma variação conhecida como dia na vida, ou day in the life, usada para o detalhamento de personas (um personagem fictício que representa o cliente ideal da empresa). O pesquisador mostra fotos ou arquivos como e-mails, anotações, tweets, posts do Facebook, que representam as ações de uma persona durante um dia típico da sua vida. Depois, ele faz perguntas para a equipe sobre os hábitos daquela persona. As respostas variam, mas a ideia é que os participantes se familiarizem com a persona e possam se capacitar para tomar decisões em seu lugar. Resumindo, os diários on-line são ótimos para capturar experiências com produtos e serviços, e para se ter uma visão de longo prazo dos consumidores em seu dia a dia. Ou seja, utilizar diários on-line permite que o pesquisador tenha uma relação mais longitudinal e interativa durante a pesquisa com os participantes. O princípio é simples mas poderoso: as pessoas mantêm um diário de suas atividades, tarefas, experiências e pensamentos de forma on-line. Dessa forma, os pesquisadores obtêm uma “janela” para a vida dos participantes, seus estilos de vida, hábitos, pensamentos, experiências e opiniões (Smith, 2021). Martin (2021b) apresenta algumas boas práticas para construção de diários on-line: • As tarefas diárias devem ser estruturadas, ou seja, fáceis de preencher pelos participantes e que forneçam feedbacks sucintos. • As instruções precisam ser claras sobre o que é esperado dos participantes, quais são os prazos além de fornecer lembretes quando necessário. Isso porque os hábitos de preenchimento são difíceis de 4 incorporar à rotina diária, portanto é uma boa ideia lembrar os participantes de preencherem o diário. • Permita que os participantes compartilhem qualquer tipo de mídia que queiram: imagens, fotos, capturas de tela, vídeos etc. Por fim, podemos pontuar algumas vantagens em se usar o diário on-line: • Permite ter acesso aos dados dos participantes por um período de tempo mais longo, ajudando a entender melhor a psicologia do usuário e suas emoções. • Deixa que os usuários capturem momentos em tempo real, utilizando seus smartphones ou outros dispositivos, o que é interessante para avaliar a propagandas, serviços ou a eficiência de produtos. • A coleta de dados torna-se mais amigável e interativa. • Permite que os pesquisadores obtenham dados mais personalizados dos usuários o que não seria possível por meios tradicionais. • Fornece aos pesquisadores a possibilidade de conhecer tendências ao coletar dados qualitativos sobre preferências e hábitos. • Auxilia os pesquisadores a identificarem as necessidades dos clientes além de pontos relevantes que a marca possui para essas pessoas e que servirão para criar uma imagem positiva da mesma. Enfim, com o diário on-line, a empresa consegue saber exatamente como os consumidores utilizarão os produtos e ainda o que pensam e sentem no seu dia a dia ao utilizá-los (Vasques, 20021). Diários on-line são úteis porque além de pouparem tempo e dinheiro, eles permitem a coleta de dados pessoais de forma mais profunda do público estudado. TEMA 2 – ETNOGRAFIA MOBILE Em conteúdo anterior, aprendemos sobre netnografia, uma evolução da etnografia ocasionada pela popularização das redes sociais, em que as interações acontecem entre os próprios consumidores ou ainda destes com a marca. No entanto, surgiu uma nova modalidade — a etnografia mobile ou móvel, aplicada à pesquisa de mercado (Zanini, 2018). Pode-se afirmar que é um tipo de diário on- line, porém totalmente realizado pelos smartphones dos participantes e de forma mais aprofundada que um diário. 5 A etnografia móvel é uma ferramenta cada vez mais popular, às vezes conhecida como registro da vida, em que as pessoas usam suas câmeras de celular para registrar os eventos à medida que acontecem. Assim, permite que as marcas vejam o que as pessoas fazem na vida real, em vez do que afirmam fazer, o que nem sempre é a verdade. Isso porque a pesquisa nesse caso ocorre no ambiente natural do sujeito (Burrows, 2014). A técnica consiste em escolher um grupo específico formado pelo público- alvo da empresa e solicitar que estes registrem, por meio de vídeos, fotos, áudios e textos, o seu dia a dia relacionado a um determinado tema ou ao consumo de um produto/marca. O objetivo dessa metodologia é ir além das respostas que um questionário comum poderia oferecer. A ideia é entender de forma mais profunda os hábitos, significados e preferências do consumo de um determinado produto/serviço através do relatado e registro dos próprios consumidores no seu dia a dia e no seu “ambiente natural” (Zanini, 2018). Isso significa que o período de avaliação pode ser de alguns dias, e não apenas de algumas horas, proporcionando um banco de informações muito mais rico. Ou seja, o foco é a observação, e não a interpretação. Isso porque a empresa consegue informações muito mais valiosas ao observar as pessoas e suas ações, em vez de pedir que relatem o que fazem (Burrows, 2014). Resumindo, pede-se que as pessoas registrem através de fotografias e vídeos os momentos em que vão utilizar determinado produto, dando suas opiniões e expondo os pontos positivos e negativos. Contudo, além das informações fáceis e óbvias (como a opinião direta sobre um determinado produto, por exemplo), o pesquisador terá um material detalhado para interpretar os códigos e as simbologias daquele momento para aquelas pessoas, além de descobrir as formascoletivas e culturais de apropriação do produto (Zanini, 2018). Por exemplo, em empresas de maquiagem que utilizam essa técnica, as pesquisadoras observam e interpretam como as mulheres seguram o produto, como eles são utilizados, em que lugar as maquiagens são feitas e os motivos de se maquiar. Também analisam as palavras utilizadas para descrever os produtos, o ambiente familiar, as trocas entre produtos, se as pessoas estão escutando música ou vendo televisão no momento da aplicação e até mesmo as contradições entre o que é falado e o que pode ser observado nos vídeos. Tudo é interpretado e transformado em insights para as marcas. Inclusive, algumas empresas do segmento até desenvolveram aplicativos específicos para facilitar o recolhimento 6 do material produzido pelos próprios consumidores e facilitando a interação pesquisador/sujeito de estudo (Zanini, 2018). Segundo Marco Madrisotti, vice-presidente de desenvolvimento de produtos da empresa de beleza Coty, “a ausência de um observador torna as coisas ainda mais naturais. Também é entre três e cinco vezes mais barato do que a etnografia tradicional, o que significa que podemos fazer isso com mais frequência e cobrir mais mercados” (Burrows, 2014). Dado que você está na casa das pessoas, não há nenhum lugar para elas se esconderem e você terá uma imagem muito mais realista do que as motiva — e o que as irrita. Frustrações são um ótimo lugar para encontrar inovações de produtos. A etnografia, por outro lado, pode oferecer uma visão incrivelmente valiosa, pois leva a soluções práticas e inovações que os clientes realmente precisam, em vez do que sua equipe de design pensa que eles precisam. No entanto, é um processo trabalhoso: em média, devem-se analisar sistematicamente entre 30 a 60 horas de vídeo (geralmente, utiliza-se uma base de 20 a 30 clientes) (Burrows, 2014). Ainda, escolher o etnógrafo certo é a chave, pois ele deve ter empatia com o público. Por exemplo, se a empresa quer investigar jovens mães, o pesquisador deve ser alguém que já teve um bebê para que o pesquisador e o consumidor se sintam relaxados (Burrows, 2014). Agora, vamos aprender um pouco sobre uma técnica bem inovadora e interessante: os smartboards. TEMA 3 – SMARTBOARDS Obviamente, a tecnologia tem proporcionado novas e criativas formas de fazer pesquisa. Ao buscar essas novidades, me deparei com uma empresa Inglesa chamada FlexMR, que tem também escritórios na Alemanha e nos Estados Unidos. Essa empresa de pesquisa apresenta várias formas interativas e tecnológicas de dar feedbacks dos consumidores. Algumas são bem interessantes e praticamente desconhecidas aqui no Brasil, como os smartboards e os scrapbooks. Este último analisaremos no próximo tema (Martin, 2021a). Traduzindo ao “pé da letra”, podemos dizer que smartboard seria um quadro inteligente. Eles existem em algumas instituições de ensino e são uma espécie de quadro branco interativo, uma lousa digital. Ele substitui os convencionais quadros negros, giz, apagador e telas de projeção. Trata-se de um equipamento que disponibiliza ao professor recursos interativos como o acesso à 7 internet, a programas de computador e a captação de imagens e dados de diversas fontes para serem integrados ao conteúdo da aula. No entanto, alguém teve a ideia de usar esse conceito adaptado ao setor de pesquisas. Neste contexto, os smartboards são imagens interativas que permitem aos participantes da pesquisa fornecerem seus feedbacks. Pode ser usado para avaliar a reação das pessoas em relação a embalagens, propaganda, sites, design de novos produtos, layouts de lojas etc. Os participantes recebem a imagem e através de um tipo post-it digital fazem comentários sobre a mesma (Figura 2). Ou seja, os outros participantes podem comentar o que as outras pessoas escreveram, gerando uma minidiscussão em grupo. Ou seja, os participantes clicam em elementos específicos da imagem para fixar comentários e responder aos comentários de outras pessoas. Resumindo, o smartboard tem um formato colaborativo e discursivo. Segundo a empresa, esse é o primeiro fórum de discussão dinâmico do mundo dentro de uma imagem, o que leva a pesquisa qualitativa visual para outro nível. Isso porque as anotações fornecem muitas informações úteis como recomendações, sugestões para melhorias e muito mais. Além disso, o participante pode atribuir um estado de humor a cada comentário classificando o mesmo como positivo, neutro ou negativo (só os administradores e o próprio participante podem ver — para não influenciar os demais). Esses comentários marcados de sentimento podem ser usados para construir facilmente um “mapa de calor” que identifica as partes da imagem avaliadas de forma positiva e negativa (Martin, 2021a). 8 Figura 2 – Exemplo de smartboard investigando configuração de um layout de loja de ferramentas Crédito: Elias Dahlke. Ainda, o pesquisador, por meio das páginas de perfil dos participantes, pode monitorar as respostas e comunicar-se com eles inclusive lembrando aqueles que não estão participando. Quando a pesquisa terminar, as imagens comentadas podem ser exportadas no formato JPEG e os comentários para o Excel, juntamente com os dados demográficos dos respondentes. Também é papel do pesquisador estimular discussões e até mesmo pedir aos participantes maiores explicações sobre seus comentários (Martin, 2021a). Algumas dicas (Martin, 2021a): • Tente evitar imagens em que não esteja claro quais elementos os participantes devem avaliar ou que tem apenas um único elemento como, por exemplo, a imagem de um produto. Embora possa ser útil pedir feedback sobre designs de produtos, a força de um smartboard está na multiplicidade de conversas que ele pode gerar. Portanto, se você está procurando feedback sobre o design de um produto, considere contextualizá-lo para dar aos participantes um ponto de comparação. • Leia todos os comentários: todo comentário em um smartboard é valioso, esteja ele de acordo com o consenso geral ou não. Os mapas de calor são uma ótima maneira de entender o humor e feedback geral dos participantes. Isso também o torna extremamente útil para apresentar os 9 dados para aqueles que não estão envolvidos na pesquisa de uma maneira simples e concisa. • Enfim, utilize-o em conjunto com outros tipos de pesquisa. Embora o valor fornecido por um smartboard seja muito útil, ele ficará ainda melhor se utilizado em conjunto com outros métodos de pesquisa como, por exemplo, um grupo de foco on-line. No próximo tema, vamos conhecer outra técnica inovadora herdada do artesanato: o scrapbooking. TEMA 4 – SCRAPBOOKING Você já deve ter ouvido falar em scrapbooking no ambiente off-line. Ele pode ser definido como um álbum de recortes onde se guardam todos os tipos de recordações como fotos, cartas, pequenos itens, ou seja, a ideia é registrar momentos de forma criativa (Figura 3). Figura 3 – Exemplo de pessoa fazendo um scrapbooking Créditos: Adamova Mariya/ Shutterstock. Diferentemente do que se pode imaginar, esse estilo de álbum iniciou há muito tempo — mais precisamente em 1839 —, quando fotos e cartas eram guardadas no meio de livros. Logicamente, esse hábito foi evoluindo, e atualmente existe toda uma indústria especializada no setor, com inúmeros tipos de álbuns, cartolinas, fitas, botões, adesivos, carimbos, tecidos, tesouras etc. Contudo, agora é possível utilizar essa técnica como uma ferramenta de pesquisa e de forma on-line. Assim sendo, o scrapbooking como forma de pesquisa virou uma ferramenta, um método de coleta de dados, que permite que os participantes construam uma coleção de “ideias” de forma visual (Figura 4). 10 Pode ser utilizado, por exemplo, para investigar o estilo de vida de um determinado público de interesse da empresa. Figura4 – Exemplo de scrapbooking sobre formas de se refrescar Créditos: Maller e Strengers, 2016; Kwangmoozaa; Yurakrasil; Tero Vesalainen; Romiri; New Africa; Ryushi; Rawpixel.com; Vitcom Photo/Shutterstock. Os scrapbookings podem ser de dois tipos: • Individuais: cada participante cria seu próprio quadro de imagens. Eles são indicados quando um tópico é muito íntimo para os usuários desejarem compartilhar com outros ou ainda quando o pesquisador não quer que os participantes sejam afetados pela opinião dos demais. Também podem ser usados como técnicas projetivas, por exemplo, pedindo às pessoas que coloquem imagens que elas associam a um determinado conceito, humor 11 ou produto. Para complementar, o pesquisador pode perguntar por que elas fizeram essas associações, além de procurar pontos em comum ou diferenças entre as imagens. • Colaborativo: os usuários podem postar fotos em uma espécie de mural, em que os demais comentam e questionam as imagens uns dos outros, criando uma discussão. Outra ideia é pedir que os participantes coloquem imagens sobre um determinado tópico, por exemplo, o que eles têm nos seus armários de cozinha. Ainda, ele pode pedir aos entrevistados que colaborem para criar um conjunto de imagens relacionadas ao que eles consideram as características essenciais de um determinado produto ou serviço, ou para comparar produtos semelhantes no mercado. Os álbuns de recortes podem ser uma fase anterior a outras técnicas, como um grupo focal. Ao pedir para as pessoas que construam um conjunto de imagens, façam comentários e perguntas, está-se levando-as a refletirem sobre o tópico que será explorado depois. Por exemplo, se o tema é roupas infantis, fazer com que as participantes compilem um álbum de recortes do que viram em outros lugares — incluindo o que eles amam e o que não gostam — pode ajudá-las a identificar os principais requisitos que usam para escolherem as roupas de seus filhos, o que dará mais material para ser discutido no grupo de foco. Complementando, Maller e Strengers (2016) pontuam algumas vantagens e desvantagens da técnica. Por exemplo, o scrapbooking cria uma atmosfera descontraída de conversação em comparação com as entrevistas baseadas apenas no formato de perguntas e respostas. O método também ajuda a descobrir significados mais profundos que não surgiriam em entrevistas comuns. Por outro lado, uma limitação desse método é que as discussões com os participantes ficam limitadas pela variedade e pelo tipo de imagens apresentadas e diferentes conjuntos de imagens podem produzir diferentes reações e respostas. TEMA 5 – PESQUISA OBSERVACIONAL A pesquisa de observação é uma forma de coletar dados simplesmente observando. Porém, ela pode ter tanto um cunho qualitativo como quantitativo. Ainda, a pesquisa de observação geralmente é utilizada em conjunto com outras técnicas, mas pode sim ser utilizada sozinha. Apesar de ser uma técnica antiga, é muito utilizada, pois tem inúmeras vantagens e traz insights bem interessantes. 12 Quando ela é usada, segundo a ótica qualitativa, o pesquisador analisará os comportamentos e as atividades das pessoas foco do estudo (Creswell, 2007). Contudo, nesse contexto, ela é bem flexível, não existe uma regra. Como se diz, é uma forma de coleta de dados, não é estruturada. O pesquisador vai anotar, filmar e gravar tudo o que considerar importante. Claro que o pesquisador deve ter um roteiro para não esquecer as principais coisas que precisa observar. Na observação, os dados são coletados pelo pesquisador que utiliza os seus sentidos para realizar a observação propriamente dita ao mesmo tempo em que analisa o que está sendo estudado (Siena, 2007). No entanto, quando a observação é feita com um caráter quantitativo, ela é “estruturada”, ou seja, o pesquisador vai se ocupar em quantificar as coisas e precisa saber exatamente o que tem que “contar”. Um pesquisador que trabalha muito com observação desse tipo nos pontos de vendas é Paco Underhill. Ele utiliza câmeras de vídeo instaladas nas lojas, filma os consumidores e depois realiza análises em busca de padrões de consumo e de hábitos de compra. Por exemplo, ele descobriu que existe em todo ambiente de loja uma área de transição. Segundo ele, as pessoas, em sua maioria, sempre estão andando muito rápido e quando entram na loja levam um tempo até se ambientar e diminuir o ritmo. Contudo, até isso acontecer, a visão periférica diminui e qualquer coisa que seja nessa parte será ignorada. Para minimizar esse efeito, uma ideia é aplicar uma iluminação especial para demarcar a fronteira dentro/fora. Ou, ainda, colocar uma pessoa saudando os clientes (mas não perguntar se querem ajuda para não se sentirem invadidos) ou oferecendo uma cesta ou folheto (se esses itens ficarem ali sozinhos serão ignorados). Outra boa ideia é por uma espécie de “quebra molas”, como, por exemplo, uma banca de promoções ou novidades, obrigando as pessoas a parar e diminuir o ritmo (Underwill,1999). Outra achado interessante dele, por meio das observações, foi que as mulheres, apesar de gostarem de examinar os produtos, não gostam de olhar qualquer coisa que fique na gôndola abaixo da linha da cintura com medo de serem esbarradas pelas costas. Nesse caso, uma boa ideia e criar lugares da loja onde elas possam se sentir protegidas de esbarrões e encontros. Se elas não ficarem confortáveis, não vão parar para ler, analisar os produtos e acabarão não comprando (Underwill,1999). Em relação à técnica, tanto na observação qualitativa como na quantitativa, são utilizados instrumentos como quadros, anotações, escalas, gravações, 13 filmagens para realização da mesma (Siena, 2007). Ainda, elas podem ser classificadas da seguinte forma (Siena, 2007): • Observação sistemática, quando é planejada e realizada em condições controladas, ou assistemática, quando não existe planejamento e controle. • Observação não participante, quando o observador é um espectador e não interfere nem se envolve na situação. Por outro lado, pode ser participante, quando o pesquisador participa da situação estudada ou seja, ele se “mistura” ao grupo que está sendo pesquisado de forma natural (quando já é um integrante do grupo) ou artificial (Kauark et al., 2010). • Observação individual feita por apenas um pesquisador ou em equipe quando mais pesquisadores estão envolvidos (Kauark et al., 2010). • Por fim, a pesquisa de observação pode ser classificada como de campo — feita no local onde ocorre o que está sendo estudado — ou laboratório quando situações-problema (objeto de estudo) são criadas em laboratório, a fim de que se possa observar a situação, tem-se a observação em laboratório (Kauark et al., 2010). Enfim, as observações são estratégias interessantes porque os participantes são observados de forma natural, sem serem importunados o que pode evitar vieses que existem das pessoas nem sempre falarem a verdade, mas sim responderem aquilo que elas julgam ser correto ou aceitável. 14 REFERÊNCIAS BURROWS, D. How to use ethnography for in-depth consumer insight. 2014. Disponível em: <https://www.marketingweek.com/how-to-use-ethnography-for-in- depth-consumer-insight/:. Acesso em: 20 mar. 2021. CRESWELL, J. W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. Porto Alegre: Artmed, 2007. DIÁRIO de investigação móvel: saiba do que se trata. Question Pro. Disponível em: <https://www.questionpro.com/blog/pt-br/diario-de-investigacao-movel/>. Acesso em: 20 mar. 2021. KAUARK, F. da S.; MANHÃES, F. C.; MEDEIROS, C. H. Metodologia da pesquisa: um guia prático. Itabuna: Via Litterarum, 2010. MALLER, C.; STRENGERS, Y. 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Disponível em: <https://www.tramaweb.com.br/imprensa/sala- de-aula-inteligente-e-a-nova-campanha-da-smart-technologies/>. Acesso em: 20 mar. 2021. 15 SIENA, O. Metodologia da pesquisa científica: elementos para elaboração e apresentação de trabalhos acadêmicos. GEPES. PPGMAD. Departamento de Administração. UNIR. Porto Velho, 2007. SIGNIFICADO do Diário de bordo. Significados. Disponível em: <https://www.significados.com.br/diario-de-bordo/>. Acesso em: 20 mar. 2021. SMITH, A. All You Need to Know About On-line Diary Studies. Disponível em: <https://blog.flexmr.net/on-line-diary-studies>. Acesso em: 20 mar. 2021. UNDERHILL, P. Vamos às compras: a ciência do consumo. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1999 VASQUES, C. Diário Pesquisa de Mercado. Brazil Panels. Disponível: <http://www.brazilpanels.com.br/Diario-Virtual.aspx>. Acesso em: 20 mar. 2021. ZANINI, D. Etnografia mobile: aplicação na área da beleza e cosméticos. Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados. 2018. 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