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Esclerose múltipla Por Gabriela Borges Trata-se de uma doença desmielinizante, autoi- mune e inflamatória crônica do SNC, de causa desco- nhecida. É uma doença de evolução lenta com lesão neuronal progressiva e que se caracteriza por surtos com piora do quadro. Acomete cerca de 2,5 milhões de pessoas no mundo, com maior prevalência nos países nórdicos ( vitamina D). No Brasil, estima-se que 35 mil pessoas tenham o diagnóstico de esclerose múltipla. Apre- senta uma maior incidência em mulheres, em idades entre 20 e 40 anos. Apresenta os chamados fenótipos (associado a evolução da doença), sendo o mais co- mum conhecido como fenótipo remitente recorrente (85%) e o fenótipo progressiva primária (10-15%), Existem os fatores genéticos e os fatores desenca- deantes/ambientais (p.ex.: baixa exposição solar, ta- bagismo, obesidade e fatores epigenéticos infecciosos [Epstein Barr]). Em condições normais, a formação das células do sangue ocorre na MO vermelha (série branca e verme- lha). Com relação aos leucócitos, principalmente os linfócitos, eles são produzidos na MO e são liberados na sua forma imatura na corrente sanguínea e, para que sofram o processo de amadurecimento precisam alcançar algumas estruturas do nosso corpo: linfo- nodo e timo. Uma vez que esses linfócitos alcançam essas regiões, ali permanecem por um tempo e vão sofrendo o processo de amadurecimento. E durante esse processo de amadurecimento, o nosso orga- nismo detecta (e seleciona) quais linfócitos estão nor- mais e quais estão autorreativos (aqueles que se ama- durecem vão sair e irão atacar o próprio organismo). Em um paciente com esclerose múltipla, quando os linfócitos alcançam o timo, não existe a capacidade de regular quais linfócitos são autorreativos e quais são normais, de modo que todos passam pelo processo de amadurecimento e todos eles são liberados na corrente sanguínea. Os LT autorreativos alcançam o SNC, ultrapassam a barreira hematoencefálica, en- tram em contato com a bainha de mielina e a detec- tam tal como um Ag, passando a destruí-la. Eles de- sencadeiam toda uma cascata imunológica para auxi- liar na destruição de toda a bainha de mielina neuro- nal ali presente. Isso sempre termina com um pro- cesso inflamatório local. A partir disso, os neurônios não conseguem fazer mais nada e ainda perdem a sua bainha que auxiliava na transmissão do impulso ner- voso. Além disso, o processo inflamatório vai se tor- nando crônico e começa a acontecer morte neuronal progressiva. Pode existir momentos em que se ob- serva uma produção exacerbada de LT autorreativos que desencadeiam uma resposta imunológica grave, caracterizando o surto. – mostra um processo inflamatório (inicialmente leve) que com o passar do tempo aumenta e leva a degeneração neu- ronal. E, durante o processo inflamatório, apresenta episódios de piora súbita. E, à medida que acontece morte neuronal, o volume cerebral reduz. Perde-se parênquima. Os surtos da esclerose múltipla são quadros clíni- cos súbitos que vem e logo passam. Existem os cha- mados surtos típicos, sendo eles: Neurite óptica – o pcte apresenta de forma súbita embaçamento visual unilateral e dor ao movimentar os olhos. Mielite transversa – a alteração nos neurônios ocorre em todo o SNC, podendo ocorrer a nível medu- lar em neurônios que controlam a parte motora. As- sim, o pcte pode apresentar de forma súbita alterações motoras ou sensitivas leves e alterações de esfíncteres. Síndrome cerebral sensitiva ou motora – pode apresentar hemiparesia, paresia de membro e etc. Síndrome tronco-cerebelar – pcte apresenta alte- ração da motricidade ocular, diplopia, ataxia e etc. Geralmente, inicia com ao menos 1 dos surtos típicos. Síndrome clínica isolada – é a apresentação da pri- meira crise, podendo evoluir para três tipos de fenóti- pos da esclerose múltipla. Esclerose múltipla remitente recorrente (85%) – períodos de surta e períodos de melhora. A degenera- ção neuronal acontece de maneira continua. Esclerose múltipla secundariamente progressiva (5%) – períodos de surto e melhora aparecem por um tempo (+/- 20 anos). Posteriormente, não há mais sur- tos, apenas degeneração contínua. Esclerose múltipla progressiva primária (10%) – não há surtos desde o início (ou há apenas um único surto) e há apenas a degeneração neuronal continua. Fecha-se o diagnóstico do paciente através dos chamados critérios de McDonald. Assim, para definir o diagnóstico de esclerose múltipla precisamos de: Exclusão de outras causas – solicitação de exames para excluir qualquer possibilidade de causa que não esclerose. Disseminação do tempo – é quando o pcte apre- senta dois ou mais surtos em tempos distintos, isso a gente vê através da história clinica ou o pcte já chega ao consultório desse jeito. Feito isso, busca-se confir- mar disseminação no espaço (SNC). Disseminação no espaço – é a investigação de le- são no SNC, sendo o padrão ouro a ressonância mag- nética. Se observada duas ou mais lesões que ocorrem em diferentes locais do SNC, confirma-se dissemina- ção no espaço. Em seguida, é importante excluir ou- tras causas. – Dois ou mais surtos (disseminação do tempo) e duas ou mais lesões típicas vistas a RNM (dissemina- ção no espaço), confirma-se o diagnóstico. Dois ou mais surtos (disseminação do tempo) e apenas uma lesão típica vista a RNM (sem dissemina- ção no espaço) é necessária a realização de nova RNM em outros momentos para confirmação de novas le- sões e, consequentemente, confirmar o diagnóstico. Um surto (sem disseminação do tempo) e duas ou mais lesões típicas vistas a RNM (disseminação do es- paço) é necessário aguardar um novo surto para con- firmação do diagnóstico. Um surto (não houve disseminação do tempo) e uma lesão típica vista a RNM (não houve disseminação no espaço), é necessário aguardar um novo surto e re- alizar a RNM em um outro momento. **** Importante!!! Em caso de paciente sem disse- minação do tempo, mas já com disseminação do es- paço existe a possibilidade da realização de uma co- leta do LCR com pesquisa de bandas oligoclonais, atra- vés da eletroforese das proteínas liquóricas que em pctes com esclerose apresentam o formato de bandas oligoclonais. Essas bandas oligoclonais NÃO são pato- gnomônicas da esclerose, aparecendo também em meningite, neurossífilis, cisticercose, glioblastoma, carcinomatose meníngea e etc. é uma técnica pouco disponível no Brasil. **** Os dedos de Dawson Tem como objetivo bloquear a atividade inflama- tória desencadeada pelos LT autorreativos que pas- sam a atacar a bainha de mielina. Assim, o objetivo é impedir de alguma forma que ele alcance o SNC ou im- pedir que ele desempenhe sua ação a nível de SNC. Pode-se utilizar: Natalizumabe – impede a entrada dos LT autorre- ativos no SNC. Fingolimod – mantém LT presos nos linfonodos e no timo, de modo a impedir sua caída na circulação sanguínea. Tem como obstáculo “prender” todos os LT, não apenas os autorreativos, com risco de desen- volvimento de infecções oportunistas. Interferon - altera a resposta inflamatória, dei- xando-a mais branda. Glatiramer – funciona tal como uma falsa bainha de mielina que circula pelo sangue buscando confun- dir o LT autorreativo.
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