Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Clínica e Cirúrgica I – Nefrologia 1 Doença Renal Crônica ❖ É definida como a anormalidades estruturais ou funcionais dos rins, presentes por tempo maior que 3 meses e com implicações para a saúde. FISIOPATOLOGIA ❖ É uma doença insidiosa que destrói de forma lenta e progressiva as unidades formadoras dos rins (néfrons), permitindo com que os néfrons remanescentes hipertrofiem com o objetivo de suprir, até certo ponto, a função daqueles destruídos. Em linhas gerais, os sinais e sintomas se iniciam apenas quando há a perca de 50% da quantidade total de néfrons (50% do TFG). ❖ Dessa forma, tem-se o acúmulo no sangue de substâncias que deveriam ser filtradas pelo rim, isto é, os compostos nitrogenados (ureia e creatinina). Portanto, esse processo gera um aumento da carga excretora pelos néfrons remanescentes, aumentando a taxa de filtração glomerular. ❖ Histologicamente, a DRC acarreta na destruição dos glomérulos e sua cicatrização. CRITÉRIOS PARA DEFINIÇÃO DE DRC ✓ Albuminúria; ✓ Anormalidades no sedimento urinário (cilindros leucocitários, granulosos, hematúria); ✓ Distúrbios hidroeletrolíticos devido lesão tubular; ✓ Anormalidades histológicas; ✓ Anormalidades dos exames de imagem (baixa implantação, doença renal policística); ✓ História de transplante renal; ✓ TFG reduzida (< 60 ml/min). FATORES DE RISCO ✓ Presença de doenças causas para DRC (HAS e DM); ✓ Idade; ✓ Sexo masculino; ✓ Raça negra; ✓ Exposição a agentes nefrotóxicos (peçonhas, aminoglicosídeos, AINES e contrastes); ✓ Obesidade; ✓ Descontrole pressórico e glicêmico; ✓ Dislipidemia; ✓ Tabagismo; ✓ História de DCV. ESTÁGIOS DA DRC ❖ Deve ser calculada a TFG pelas fórmulas online (CKD-EPI ou MDRD) para definir o estágio da DRC que o paciente está. Para definir o risco do paciente (baixo, moderado, alto, muito alto), deve-se associar a estágio da DRC com o nível e albuminúria (A1, A2, A3). Clínica e Cirúrgica I – Nefrologia 2 QUADRO CLÍNICO ❖ Após a definição da história pré-clínica do paciente (não refere causa aguda), observa-se um quadro de anemia (normo/normo), hipercalemia, hipocalcemia e acidose metabólica compensada. Com a observação desses sinais laboratoriais, deve-se solicitar exames de imagem (US) para confirmação, nos quais serão observados perda da diferenciação corticomedular e redução do tamanho renal associadas, ou não, a alterações císticas. Rins aumentados: nefropatia diabética, amiloidose, rins policísticos e mieloma múltiplo. ANEMIA NA DRC ❖ É uma condição que gera limitação física e astenia no paciente, aumentando sua morbidade cardiovascular. ❖ Seus critérios diagnósticos envolvem hemoglobina < 13 g/dL em homens ou < 12 g/dL em mulheres. Sua avaliação deve ser feita com HMG completo, reticulócitos e perfil de ferro (IST e ferritina), com o intuito de excluir demais causas de anemia nesse paciente. FISIOPATOLOGIA DA ANEMIA NA DRC ❖ Com a destruição dos néfrons (perde parênquima), a produção e eritropoetina é reduzida, induzindo a anemia normo/normo. Outra causa muito comum envolve o estado inflamatório que o paciente apresentará, cursando com uremia, redução a sobrevida de hemácias e deficiência de ferro relativa, induzindo ao quadro de anemia. ❖ Ademais, outras causas envolvem deficiência absoluta de ferro, toxicidade por PHT (hipercalcificação medular e vascular), transfusões múltiplas, perdas sanguíneas relativas e anemias carênciais (falta de ácido fólico e B12). ❖ Deficiência de ferro na DRC: a deficiência absoluta ocorre pela má absorção secundária a uremia do paciente, enquanto a deficiência relativa ocorre pelo aumento dos estoques de ferritina e maior produção de hepcidina (aumenta devido Clínica e Cirúrgica I – Nefrologia 3 ao estado inflamatório – sua função consiste em ligar-se a ferroportina e regular a absorção e ferro no duodeno). A dose de ferritina sérica recomendada é de 100-500 nos doentes crônicos ou de 200-500 em pacientes em hemodiálise. DISTÚRBIO MINERAL E ÓSSEO ❖ É observado clinicamente como a existência de edema, eritema e bolhas na pele, em superfícies próximas a ossos. É um processo causado pela deposição do excesso de cálcio nos tecidos e espaços periósseos (e ósseos também). Nessa doença, o excesso de PTH causa retirada de cálcio do osso (fica desmineralizado) e sua deposição nos demais tecidos do corpo, principalmente vasos. ❖ Conjuntamente a isso, a redução do parênquima renal induz ao aumento do fósforo sérico (forma o complexo cálcio-fósforo e causa a hipocalcemia aparente, porém não verdadeira) e a redução da produção de vitamina D ativa (calcitriol), reduzindo a absorção de cálcio a nível intestinal e, por feedback negativo, induz ao aumento da produção de PTH (hiperparatireoidismo secundário) e leva a desmineralização óssea e sua deposição crônica nos vasos. TRATAMENTO DOS DISTÚRBIOS ÓSSEOS ❖ Inicialmente, deve-se estabelecer orientação dietética com baixo fósforo e tratamento dialítico em pacientes estágio 5. Usa-se quelantes de fósforo (carbonato de cálcio – aumenta a excreção nas fezes), calcitriol, cinacalcete (calcimimético que reduz a produção de PTH) e, por fim, paratireoidectomia. TRATAMENTO DA DRC ❖ Inicialmente, tem-se o tratamento conservador, com acompanhamento médico e uso de medicamentos. Pode-se instituir também a hemodiálise, diálise peritoneal e transplante. ❖ Nos estágios 1 e 2, tem-se um TFG normal ou pouco diminuído e deve-se fazer prevenção do desenvolvimento da DRC (prevenção primária). Nos estágios 3 e 4 (lesão renal e queda brusca do TFG), deve-se instituir a prevenção da progressão das complicações, isto é, usa-se prevenção secundária de forma a tratar os distúrbios minerais e anêmicos. Por fim, em fases mais terminais, deve-se efetivar medidas de prevenção terciária de forma a evitar a ocorrência de eventos isquêmicos e demais complicações que possam levar ao óbito. Para estágio 1: ❖ Deve-se instituir um tratamento eficiente da HAS e DM e estabelecimento de medidas de educação em saúde (MEV). Usa-se IECA ou BRA para controlar a pressão do paciente, tendo como objetivo PA ≤ 140x90 (adultos < 60 anos) ou PA = 125x75 (proteinúricos). ❖ Para DM, o alvo é ≤ a 7,5. A metformina é sempre obrigatória se o Clarence estiver ≤ 30. Para estágio 2: ❖ Deve haver controle adequado de HAS e DM, evitar uso de AINES, cuidado com hipovolemia e desidratação e cautela com exames de imagem que usam contraste. Clínica e Cirúrgica I – Nefrologia 4 A partir desse estágio é absolutamente contraindicada a alimentação com carambola (pois ela é nefrotóxica). Para estágio 3A: ❖ Deve-se estabelecer os mesmos cuidados acima, associados com dieta hipoproteica, IECA, tratamento da hiperlipidemia e exames de rotina a cada 6 meses. Para estágio 3B: ❖ Deve-se estabelecer os mesmos cuidados acima e encaminhar para o nefrologista (neste estágio o paciente não será mais cuidado pela UBS). Deve-se também se atentar a anemia, cálcio, fosforo, acidose metabólica e hipercalemia. Para estágio 4: ❖ Deve-se estabelecer todas as medidas anteriores, com preparação para terapia de substituição renal (hemodiálise, diálise peritoneal ou transplante) e instituição do tratamento de anemia, do DMO e investigação cardiológica. Para estágio 5: ❖ Se o paciente não for dialítico (TFG < 15 porém estável clinicamente), deve-se instituir um tratamento pré-dialítico. No entanto, se o paciente apresentar síndrome urêmica (náuseas, vômitos, HDA, rebaixamento do nível de consciência, prurido crônico, síndrome das pernas inquietas), hipercalemia refratária, acidose refratária ou hipovolemia, deve-se considerá-lo como dialítico e encaminhá-lo para a terapia de substituição renal. Em pacientes com DRC e DM tipo 2, o tratamento com finerenona (antagonista de receptor mineralocorticoide – reduz a ação da aldosterona) resultouna redução a progressão da doença renal crônica e em uma menor taxa de eventos cardiovasculares nos pacientes.
Compartilhar