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Cervicalgias ● síndrome dolorosa que acomete a região cervical ● 2ª maior queixa de dor no homem adulto (perde apenas para cefaleia) ● afeta 50% dos indivíduos em algum momento da vida ● predileção pelo sexo feminino ● maior prevalência em indivíduos idosos, portadores de transtornos de ansiedade e nos trabalhadores braçais ● etiologia variada → espasmos da musculatura até tumores intramedulares→ anamnese + EF completos essenciais para o diagnóstico ● tratamento depende da etiologia Anatomia da região cervical ● vértebras atípicas: atlas (C1, áxis (C2) e a sétima proeminente (C7) ● vértebras típicas: contêm componentes estruturais comuns a todas as vértebras: corpo vertebral e arco vertebral, processos transverso, espinhoso e articular, lâminas, pedículos e forame vertebral Atlas (C1) ● não possui corpo vertebral ● 2 arcos (posterior e anterior de menor tamanho) ● arco anterior: possui faceta articular para o processo odontoide do áxis (2ª vértebra cervical) ● articula-se com a base do crânio nos côndilos occipitais e com a áxis inferiormente Áxis (C2) ● possui densa porção óssea (processo odontoide) que se projeta na parte superior do áxis para dentro do atlas e se introduz no forame magno ● forame magno: base do crânio→ tem em seu interior estruturas como o bulbo e o início da estrutura medular nervosa ● processo odontoide: estabiliza a coluna cervical em relação ao crânio→ permite os movimentos de rotação da cabeça Vértebras cervicais típicas (C3 a C6) ● possuem corpo vertebral, arco vertebral, processos transverso, espinhoso e articular, lâminas, pedículos e forame vertebral ● corpo vertebral: situado anteriormente e suporta as forças de carga e pressão sobre a coluna ○ composto por tecido esponjoso interiormente e compacto externamente ○ varia de diâmetro conforme o segmento vertebral em que se localiza ○ corpos das vértebras cervicais: menores em tamanho e altura→ porção mais alta da coluna na posição ortostática ● arco vertebral: conjunto dos processo, lâminas e pedículos ● processo transverso: 2 prolongamentos laterais, direito e esquerdo, que se projetam transversalmente de cada lado do ponto de união do pedículo com a lâmina ● processo espinhoso: tem a forma de uma espinha, ímpar e mediana, que se origina no ângulo de união das lâminas ○ parte do arco ósseo que se situa medialmente e posteriormente ● processo articular (4): 2 superiores e 2 inferiores ○ saliências que se destinam à articulação das vértebras entre si ● lâminas vertebrais: porções ósseas laminares que limitam o canal raquidiano em sua face posterior ○ variam de forma e tamanho conforme a vértebra que constituem ● pedículos vertebrais: expansões ósseas conectadas ao corpo na sua porção anterior e a lâmina óssea vertebral na sua porção posterior → constituem a face lateral das vértebras + processo articulares na porção posterior ○ limita o canal raquidiano em ambos os lado e, por meio de seu processo articular, conecta-se com as vértebras adjacentes ● forame vertebral: situado posteriormente ao corpo e limitado lateral e posteriormente pelo arco ósseo, exerce a função de proteção das estruturas neurais Sétima proeminente (C7) ● mesmos componentes de uma vértebra típica ● processo espinhoso é proeminente e pode ser facilmente palpável na região posterior do pescoço, quando o indivíduo realiza a flexão de cabeça ● possui o forame vertebral bem menor que o das outras cervicais ● medula cervical é fixa à dura-máter pelos ligamentos denteados + apresenta diâmetro máximo que ocupa cerca de ⅗ do canal raquidiano ● irrigação da medula cervical: artéria vertebral (sistema arterial caudal e rostral) ● irrigação medular ○ superficial (periférico): círculo arterial perimedular (vasa corona) → anastomosa a artéria espinhal anterior com as artérias posteriores → ramos penetram nos setores superficiais da medula → irriga grande parte da substância branca e as extremidades dos cornos posteriores ○ profundo (central): artéria sulco comissural (ramo da artéria espinhal anterior)→ percorre o sulco mediano→ ramos direito e esquerdo→ distribuem-se por toda a substância cinzenta e irrigam os trato corticoespinais Articulação atlanto-occipital ● uno o crânio à coluna vertebral ● ocorre entre as faces articulares superiores do Atlas e o côndilo do occipital→ articulação sinovial condilar ● permite a flexão e a extensão e e um diminuto movimento de lateralidade ● meios de união ○ membrana atlanto-occipital anterior: ampla e constituída de fibras densas e entrelaçadas ○ membrana atlanto-occipital posterior: ampla porém delgada, apresenta uma abertura por onde passam a artéria vertebral e o nervo sub-occipital ○ ligamentos laterais: continuações das cápsulas articulares Articulação atlantoaxial ● articulação entre o Atlas e o Áxis ● ocorre em 2 pontos: (1) entre o Atlas e o dente do Áxis (articulação atlantoaxial mediana) + (2) entre os processos articulares dos dois ossos (articulação atlantoaxial lateral) Articulação atlantoaxial mediana ● entre o dente do Áxis e o anel formado pelo arco anterior do Atlas e o ligamento transverso ● cavidades sinoviais (2) ○ (1) entre a face posterior do arco anterior do Atlas e o dente do Áxis ○ (2) entre o ligamento transverso e face articular posterior do dente do Áxis → articulação sinovial (diartrose) trocoide que permite a rotação lateral e medial do Atlas e com ele o crânio→ extensão desse movimento é limitada pelos ligamento alares Articulação atlantoaxial lateral ● entre as faces articulares superiores do Áxis e as faces articulares inferiores do Atlas ● articulação sinovial (diartrose) plana que permite um pequeno deslizamento do Atlas e com ele o crânio sobre o Áxis ● ligamentos alares: aspecto de corda + se originam das partes laterais do dente do Áxis indo fixar-se nas faces medial do côndilo do occipital ● ligamento atlantoaxial anterior: fixado à borda inferior do arco anterior do Atlas e à face ventral do corpo do Áxis ● ligamento atlantoaxial posterior: + delgado que o anterior + estende-se do arco posterior do Atlas às lâminas do Áxis (substitui o ligamento amarelo) ● ligamento transverso: fixa o dente do Áxis ao arco anterior do Atlas→ vai de uma face medial da massa lateral do Atlas à outra ● músculo trapézio: origina-se na linha nucal superior e processos espinhosos das vértebras cervicais e torácicas + insere-se na clavícula, espinha da escápula e acrômio + dividido em porção rostral, média e caudal ● músculos supraespinais da cabeça e do pescoço + longuíssimo da cabeça + multífido → função principal: auxiliar a extensão cervical ● músculos retos posteriores e oblíquos profundos: localizados na região da 1ª e 2ª vértebras cervicais ● músculos do pescoço ○ flexores da cabeça: reto curto anterior e lateral + músculo longo da cabeça ○ extensores da cabeça: reto posterior maior e menor + oblíquo superior e inferior + longuíssimo da cabeça + esplênio da cabeça + semiespinhal da cabeça ○ flexores da coluna cervical: escaleno anterior, médio e posterior ○ extensores da coluna cervical: esplênio cervical + semiespinhoso cervical + longuíssimo cervical (+ esternoicleidomastoideo)→ responsáveis pela rotação ipsilateral do pescoço ● nervo occipital: componente medial da divisão posterior de C2 ● divisões anteriores primárias dos 4 nervos rostrais → formam o plexo cervical → emerge pelos forames → alças → emergem os ramos nervosos superficiais e profundos ○ ramos profundos: inervam os músculos da região cervical anterior + pode unir-se ao X, XI e XII nervos cranianos→ contribuir para invernar as vísceras dessa região ○ ramos superficiais: têm fibras sensitivas cutâneas que constituem o nervo occipital menor (C2-C3) + articular maior (C2-C3) + cutâneo anterior (C2-C3) + supraclaviculares (C3-C4) ● divisões anteriores primárias dos nervos caudais→ formam o plexo braquial ○ plexo neurovegetativos simpático: situado ao redor da artéria vertebral + oriundo dos gânglios cervicais → ramos comunicantes profundos→canais de conjugação→ raízes C4-C7 ● região cervical: parte do esôfago + laringe + glândula tireoide + traqueia + artérias carótidas e vertebrais + veias jugulares → também podem ser causa de dor Etiologia ● maioria: idiopática ● síndromes dolorosas miofasciais: + prevalentes ○ 25-30% recebem um diagnóstico anatomopatológico fechado Causas mecânico-degenerativas ● alterações da biomecânica na unidade funcional espinhal (menor unidade de movimento vertebral que é formada por 1 par de vértebras adjacentes + 2 articulações sinoviais (zigoapofisárias ou facetárias) e o complexo disco-ligamentar-muscular) Cervicalgia idiopática ● cervicalgia comum, inespecífica ● origem estrutural mecânica mas sem alterações específicas nos exames de imagem ● exame clínico: podem ser identificados pontos miofasciais na musculatura (pontos-gatilho) ou contraturas ● forma inicial das causas de natureza mecânico-degenerativas Alterações discais ● discopatias: 70% das causas mecânicas de cervicalgia ● disco: absorve os impactos e as pressões sofridas pela coluna ○ mau funcionamento → pressões recebidas se deslocam para outros pontos e estruturas não habilitadas → lesões permanentes, inflamação e dor ● desidratação discal, fissuras e rupturas discais ○ desidratação discal: causada pelas alterações dos níveis de proteoglicanos e diminuição de água no núcleo pulposo ○ fissuras: lacerações concêntricas do ânulo fibroso ○ rupturas: lacerações radiais ● abaulamentos e herniações: alterações do contorno discal ○ se globais→ abaulamentos ○ se focais→ hérnias Alterações osteocartilaginosas e capsuloligamentares ● acomete: face intervertebral (platô vertebral) + articulações zigoapofisárias + complexo capsuloligamentar vertebral ● devem-se mais comumente à osteoartrite ● osteoartrite vertebral ○ inicialmente: lesão cartilaginosa e de osso subcondral ○ estágios mais avançados: formação de osteófitos nos platôs vertebrais ou nas articulações zigoapofisárias→ pode haver distensão da cápsula articular, sinovite ou derrame articular, formação de cistos sinoviais e espessamento com pregueamento do ligamento amarelo → podem levar à redução do canal medular ou dor forames de conjugação e a manifestações de estenose de canal vertebral ou a radiculopatias ● osteoartrite + discopatias→ degeneração ligamentar e óssea→ pode levar ao desalinhamento vertebral ● espondilólise: deslizamento vertebral anterior ○ pode vir acompanhado de espondilolistese (fratura) das parsinterarticularis (istmo entra as articulações interapofisárias que mantêm a estabilidade vertebral no plano sagital) Causas não mecânicas Doenças inflamatórias ● espondiloartropatias: tipo de doença autoimune inflamatória que afeta o esqueleto axial nas ênteses (pontos de inserção de ligamentos e tendões ao esqueleto) ○ também podem afetar as articulações sacroilíacas e as grandes articulações dos membros inferiores ● artrite reumatoide: doença autoimune sistêmica que também pode acometer a coluna cervical no segmento C1-C2 em 34-42% dos casos→ determina subluxação atlantoaxial Processos infecciosos ● normalmente: origem no disco vertebral→ chamados de espondilodiscites ○ pode se estender para as vértebras e tecidos subjacentes ● microrganismos podem atingir a coluna vertebral por via hematogênica, linfática ou por contiguidade (inoculação direta) Tumores ● mais comum: metástases nos corpos vertebrais de carcinomas de pulmão, mama, próstata, rins, tireoide e cólon ○ mieloma e leucemia também podem envolver vértebras ● normalmente: todos levam a sintomas por compressão neurológica ou por fraturas patológicas ● tumores primários benignos mais comuns da coluna: hemangiomas, cistos ósseos aneurismáticos, osteomaosteoide, osteoblastoma e osteocondroma ● tumores primários malignos: osteossarcoma, condrossarcoma, sarcoma de Ewing, linfoma, plasmocitoma e cordoma ● tumores intradurais extramedulares cervicais mais comuns: meningiomas, neurinomas ○ maior incidência: ependimomas e astrocitomas Doenças metabólicas ou repercussão de outras doenças sistêmicas ● doenças osteometabólicas (osteoporose e hiperparatireoidismo) ● normalmente são dolorosas por acometeram estruturas intra ou extrarraquidianas adjacentes ou por levarem a fraturas Causas psicogênicas ou psicossomáticas e dores referidas Causas psicogênicas e psicossomáticas ● dor percebida no córtex cerebral, sem estar associada à alteração anatômica local ou sistêmica, geralmente de caráter difuso, descrição imprecisa ou punitiva e forte associação com desencadeantes emocionais ● ex.: fibromialgia, depressão ● anamnese: principal arma diagnóstica ● exames complementares e físicos: inocentes Dores referidas ● lesão em sítios que não a coluna ● ex.: dor referida neurogênica de um infarto do miocárdio, dor viscerogênica (vasculite de carótidas), espasmo esofágico ou somática (herpes-zóster) Fisiopatologia ● complexa e pouco compreendida ● causas mecânico-degenerativas e não mecânicas: desenvolvimento ocorre primariamente por meio da instalação de forças anormais sobre a coluna (alterações discais, alterações osteocartilaginosas e alterações capsuloligamentares) ○ biomecânica alterada → novas lesões locais → liberam mediadores de inflamação (esp. dos discos vertebrais) → estimulam nociceptores (articulações sinoviais, núcleo fibroso do disco intervertebral, ligamentos paravertebrais ou vasos e nervos protegidos pela estrutura óssea da coluna ● causas psicogênicas ou psicossomáticas: fisiopatologia ainda menos clara e o que se infere até agora é que a dor é percebida no córtex cerebral Resultados clínicos ● avaliação clínica detalhada + anamnese + exame físico Caracterização do paciente ● idade, sexo, raça, peso corpóreo, situação ocupacional (profissão/situação trabalhista), hábitos e vícios (atividade física, tabagismo), perfil psíquico, estado civil→ pesquisar grupo de risco ○ > 60 anos: estenoses da coluna vertebral ○ 20-60 anos: hérnias discais ● depressão é muito prevalente em pacientes com cervicalgia crônica comum ● outros fatores de risco: obesidade e fumo Caracterização da dor Tempo ● aguda: < 3 meses ● crônica: > 3 meses e recidivante ● cervicalgia mecânica: normalmente tem início súbito, após esforço inadequado ou sobrecarga de trabalho ou exercícios físicos ● maior parte dos episódios de dor na coluna não incapacita os pacientes ● + 50% dos episódios melhora em uma semana ● 90% melhora em 2 semanas ● 7-10% continua a apresentar sintomas por + de 6 meses ● a partir da 7ª a 12ª semana de dor: cervicalgia crônica Ritmo ● mecânico: intimamente relacionada às atividades físicas e posturais do indivíduo → dor desencadeado pela atividade/exercício e melhora com o repouso ● inflamatório (não mecânico): pode aparecer ou piorar com o repouso e melhoras com o movimento ○ pode apresentar dor noturna, ao acordar e a dor estar acompanhada de rigidez matinal ○ ex.: espondiloartropatias Pesquisas de sinais de alerta (red flags) Pesquisas de sintomas neurológicos ● irradiações típicas: indica envolvimento de raízes nervosas (ex.: cervicobranquialgias) ○ seguem o dermátomo característico de uma raíz nervosa ● irradiações atípicas: sem envolvimento neuronal ○ dor referida da lesão da coluna ou a pontos miofasciais da musculatura paravertebral ○ pontos miofasciais (pontos-gatilho): áreas de contratura muscular capazes de reproduzir a dor do paciente ● se há irradiação típica para membros→ determinar qual a posição da coluna desencadeia a dor irradiada (extensão, flexão ou inclinação lateral) ● hérnias discais: dor geralmente aparece no dia seguinte a um esforço maior que gerou a ruptura de fibras do anel fibroso do disco intervertebral ○ flexão da coluna: normalmente o mecanismo de lesão e o movimento que desencadeia a dor, com irradiação característica da raiz nervosa comprimida pelo disco ● estenose de canal medular: patologia típica do idoso ○ sintoma: claudicação neurogênica (presença de dor irradiada para membros (nem sempretípica) ao esforço físico + normalmente acompanhada de fraqueza muscular + necessidade de interrupção da caminhada + melhora dos sintomas após alguns minutos de repouso ○ causa desconhecida porém admite-se a participação de isquemia radicular ou aumento da pressão liquórica em decorrência da aderência da pia-máter e osteoartrite ○ quadro clínico melhora com flexão da coluna + piora com extensão por mais de 30s Exame físico ● síndrome dolorosa miofascial: causa mais comum da cervicalgia crônica ● história presente e pregressa + antecedentes individuais e familiares + hábitos (medicamentos, atividades físicas, posturas, condições dos ambientes do trabalho, padrão do sono) ● exame físico do aparelho locomotor e do sistema nervoso ● inspeção + palpação das estruturas cervicais (esp. vísceras e músculos) + percussão dos processos espinhosos + movimentação passiva e ativa do pescoço + avaliação da dinâmica e da arquitetura da região cervical em relação ao resto do corpo ● exame da sensibilidade superficial e profunda, motricidade voluntária, automática, involuntária e reflexa, e avaliação da coordenação dos movimentos e das anormalidades neurovegetativas e tróficas → fundamental para aferir ocorrência de neuropatias Exames complementares ● algum sinal de alerta (red flag) presente ou não houver melhora clínica após 1 mês de dor→ exames complementares Radiografia ● radiografia simples de coluna em posição ereta e nas incidências anteroposterior, perfil e oblíqua ● permite a avaliação das estruturas ósseas da coluna, alinhamento das estruturas, presença de fraturas ósseas, calcificações, formação de osteófitos ou sindesmófitos, listeses e espondilolisteses ● partes moles + estruturas adjacentes→ não são facilmente visualizadas em radiografias Tomografia computadorizada ● indicada para avaliar desarranjos discais, alterações degenerativas facetárias e intervertebrais, canal medular, recessos laterais e forames intervertebrais ● exame de escolha para avaliar a parte óssea (ex.: fraturas vertebrais e estudo de sangramento agudos) Ressonância magnética ● indicada para demonstrar afecção espinhal oculta + avaliar elementos neuronais e estruturas paravertebrais (inclui partes moles) Eletroneuromiografia ● se houver dúvidas do acometimento radicular e de sua causa Exames laboratoriais ● importantes quando há sinais de alerta para que sejam feitos diagnósticos diferenciais ● hemograma, eletroforese de proteínas, provas de atividade inflamatória (VHS e proteína C reativa), etc Diagnóstico diferencial Síndromes dolorosas miofasciais ● causas mais comuns: traumatismos, anormalidades degenerativas e/ou inflamatórias primárias da coluna cervical, atividades ocupacionais, posturas anormais, estresses psíquicos, ansiedade e depressão ● pode acompanhar outras afecções como hérnias discais, traumatismos, tumores, infecções regionais e/ou sistêmicas ● dor ocorre geralmente em paciente que são propensos a lesões traumáticas cervicais, ocupacionais ou não costuma ser precipitada por fadiga ou estresses psicológicos e outros fatores Fibromialgia ● exame físico: dor sediada nos músculos suboccipitais, processos transversos de C5 a C7, borda superior do trapézio, músculo supraespinhoso e 2 cm abaixo do epicôndilo lateral do cotovelo + ocorrência de dor em outros locais e outras condições associadas Traumatismos ● lesões por hiperflexão e hiperextensão, mesmo sem fraturas, podem causar micro-hemorragias, edema, estiramento e lacerações das estruturas do aparelho locomotor, dor e espasmo muscular ● fraturas vertebrais, deslocamento das facetas articulares, compressão e irritação de estruturas nervosas ● diagnóstico: história do traumatismo + exame clínico ○ palpação muscular: área com espasmo e contração muscular ○ pode haver: espasmo muscular e torcicolo + nos casos mais graves: lesão radicular e/ou medular ● exame radiológico: pode evidenciar retificação da lordose cervical ○ deve descartar ocorrência de luxação ou instabilidade vertebral com radiografias na incidência anteroposterior, perfil e perioral (visibilização do processo odontoide) e estudo dinâmico (em perfil em flexão e extensão para pesquisa de luxação) ○ projeção oblíqua: visualizar forames intervertebrais ● traumatismos graves: podem causar lesões ligamentares e de cápsulas articulares, fraturas, deslocamentos e subluxações vertebrais ● luxação e/ou fratura cervical→ prontamente tratadas ○ imobilização da coluna com colar cervical, tração, estabilização e/ou enxertia óssea Disfunções intervertebrais ● decorrentes da degeneração do disco intervertebral, fenômeno associado ao avanço da idade, ou de traumatismo que reduzem a capacidade amortecedora discal e causam sobrecarga do corpo vertebral, uncus vertebral e facetas articulares → instalam-se osteófitos reacionais ou hérnias discais → compressão da medula espinhal ou das raízes nervosas ● hérnias discais e/ou osteófitos localizados no plano posterolateral → podem causar compressão ou distorção da raiz nervosa e radiculopatias ● estenoses dos canais de conjugação: determinadas geralmente por saliências do anel fibroso, hérnias discais ou osteófitos ○ canais de conjugação: raízes nervosas + artérias radiculares que irrigam a própria raiz + medula espinhal + veias satélites das artérias ○ é amplo em relação à raiz (fixada pelo tecido fibroadiposo perirradicular→ pequenas estenoses reduzem seu “espaço vital”) ○ mecanicamente: estenoses comprimem + tracionam as raízes → acentuado pelos movimentos do pescoço ○ compressão vagarosa → congestão + edema da raiz e do tecido perirradicular + compressão da artéria radicular→ isquemia radicular ○ modificações na posição do pescoço influenciam os efeitos da estenose ○ hiperextensão angustia ainda mais os forames de conjugação→ piora do quadro clínico com essa manobra ● instala-se insidiosamente, sem causa aparente ● raramente: de início súbito ● melhora com repouso ● piora com aumento da pressão liquórica ou compressão dos processos espinhosos ● frequentemente associada à contratura muscular e à ocorrência de pontos-gatilho miofasciais ● comprometimento radicular→ anormalidades sensitivas e motoras ● radiculopatia: dor cervical e/ou nos membros superiores + alterações sensitivas e/ou motoras dos dermátomos correspondentes ○ espaços discais mais acometidos: C5-C6 e C6-C7 ○ anormalidades sensitivas + comuns: irradiação da dor cervical para membro superior e/ou tórax ○ frequentemente: associada com parestesias no lugar em que há dor ● hérnias ou osteófitos posterocentrais: podem causar mielopatia devido à compressão da medula espinhal e/ou comprometimento da artéria espinhal anterior → estenose atua por fatores mecânicos (artrito, compressão, tração) e biológicos (isquemia consequente à compressão arterial e/ou venosa) ● compressão de artérias radiculares→ isquemia da subst. cinzenta e dos tratos piramidais ○ saliências posterolaterais ou grandes hérnias→ acometimento da artéria radicular ● compressão radicular por hérnia discal/ artrose cervical→ pode ser confirmada pela RM, TC e/ou PMG Tumores ● ósseos, extradurais, intradurais, extramedulares, intramedulares → cervicalgia insidiosa (às vezes mal localizada) que se acentua à noite ou ao amanhecer ou durante a execução de atividades físicas Doenças infecciosas ● infecções das estruturas musculoesqueléticas cervicais geralmente cursam com dor ● radiculopatia ou mielopatia quando a infecção progride ● história + palpação + percussão das processos espinhosos das vértebras→ possibilitam diagnóstico ● exames de imagem: possibilitam o diagnóstico Endocrinopatias e metabolopatias ● hiperparatireoidismo, raquitismo, alterações metabólicas decorrentes do metabolismo anormal do cálcio e da vit. D ou da insuficiência renal→ perda de massa óssea, fraturas e dor cervical ● calcificação/espessamento do ligamento amarelo → compressão medular + cervicalgia durante flexão/ extensão do pescoço + comprometimento motor tipo neurônio motor superiorProcessos inflamatórios ● lúpus eritematoso, artrite reumatoide, espondilite anquilosante e polimiosite → quadros álgicos devido ao comprometimento das articulações, ligamentos, músculos e vísceras cervicais ● diagnóstico facilitado devido ao comportamento sistêmico destas afecções Artrite reumatoide ● acomete a articulação occipito-C1 e atlanto-occipital Espondilite anquilosante ● artropatia inflamatória que predomina no esqueleto axial ● pode causar cervicalgia e rigidez de nuca matinal ● maioria dos doentes: antígeno HLA-B27, dor e rigidez sacroilíaca ● imobilidade cervical e redução da expansibilidade torácica: comum Polimiosite e dermatomiosite ● afecções inflamatórias dos músculos esqueléticos com etiologia desconhecida ● fraqueza dos músculo proximais dos membros (cintura pélvica e escapular, MMII, MMSS e pescoço, nesta sequência) ● disfonia, disartria, disfagia, artralgias, exantemas, doenças malignas e outras artropatias Neuropatias ● acidente vascular encefálico e medular ● neuralgias (esp. nervo glossofaríngeo, trigêmeo, laríngeo superior, nervo occipital e dor facial atípica) ○ dor em queimor ou choque nos nervos acometidos Síndrome do processo estiloide ou síndrome de Eagle ● dor na fossa tonsilar referiada na orelha e disfalgia, em doenças com processo estiloide alongado Dor visceral cervical ● decorrente do comprometimento tireoidiano, esofágico, laríngeo e/ou traqueal por afecções inflamatórias, tumorais e/ou infecciosas Tratamento Cervicalgias mecânicas agudas ● alívio da dor Tratamento farmacológico inicial ● AINES ○ inibidores seletivos da COX-2: maiores riscos CV porém menos sintomas digestórios ○ ● analgésicos não opioides: ○ paracetamol 500mg de 4-6x/dia, máximo 4g/dia ○ dipirona 500 mg a 1g ou 40 gotas até 4x/dia ○ AAS 500 mg a 1g, 3-4x/dia ● analgésicos opioides ○ fosfato de codeína 30-60mg 4-6x/dia ○ cloridrato de tramadol 50-100mg/dose 4-6x/dia (máx. 400mg) ○ oxicodona 10-40 mg/dose 2x/dia ○ mordida 10-30 mg/dose até 6x/dia ● relaxantes musculares ○ carisoprodol 150 mg 3-4x/dia ○ ciclobenzaprina 5mg 3-4x/dia (máx 40mg/dia) ○ baclofeno 5mg 3x/dia (máx. 80mg/dia) ○ tizanidina 2-4 mg/dose 3x/dia (máx. de 36 mg/dia) ● paracetamol, relaxantes musculares, AINES, opioides, benzodiazepínicos e gabapentina para radiculopatia → boa evidência de efetividade no tratamento da dor na lombalgia aguda ○ não há evidências claras para o uso de corticosteroides sistêmicos Outros tratamentos ● volta à atividade habitual sempre deve ser estimulada ● fisioterapia com alongamento da musculatura paravertebral + fortalecimento de musculatura abdominal ou cervical Bloqueio de pontos-gatilho (PG) ● síndrome da dor miofascial: distúrbio musculoesquelético doloroso comum caracterizado pela presença de PG ● estratégia mais importante no tratamento: identificar a lesão etiológica que causa a ativação dos pontos-gatilho e tratar a patologia subjacente ● injeções nestes pontos ainda são comumente praticadas ● localização de um PG: frequentemente baseada no exame do médico ○ EF não é confiável muitas vezes→ depende muito da experiência subjetiva do médico ● algometria de pressão: utilizada para quantificar a sensibilidade dos PG ● dor local pode ser explicada pela isquemia tecidual resultante da contração prolongada do músculo com acúmulo de ácidos e produtos químicos como serotonina, histamina, cininas e PG ● patogênese dos PG está provavelmente relacionada a fibras nervosas sensoriais sensibilizadas (nociceptores) associadas a placas terminais disfuncionais Mecanismo de ação das injeções de pontos gatilho ● medidas não invasivas para tratamento de PG: pulverização e alongamento, estimulação elétrica transcutânea, fisioterapia e massagem ● tratamento invasivos: anestésicos locais, corticosteroides, ou toxina botulínica, ou agulhamento seco → interrupção desses pontos pelo efeito mecânico da agulha ou o efeito químico dos agentes injetados → relaxamento + alongamento da fibra muscular ○ efeito pode incluir vasodilatação local, diluição e remoção dos substratos nociceptivos acumulados ○ toxina botulínica A: usada para bloquear a liberação de acetilcolina a partir da terminação do nervo motor e subsequentemente aliviar a banda tensa Bloqueio do nervo occipital maior ● envolvimento do nervo occipital maior: frequentemente implicado como a causa da cefaleia cervicogência ● cefaleia occipital característica pode ser reproduzida pela pressão do dedo sobre o nervo occipital correspondente sobre o rebordo occipital→ coincide com as propriedades de um PG→ poderia explicar o mecanismo de dor referida ● aprisionamento + subsequente relaxamento do músculo semiespinhal→ efeito da injeção do nervo occipital é maior Bloqueio facetário cervical ● indicações: bloqueio facetário cervical (utilização da técnica do ramo medial) → útil no diagnóstico e tratamento de condições dolorosas que envolvam traumatismo, artrite ou inflamação das articulações facetárias cervicais ● anatomia clinicamente relevante ○ articulações facetárias cervicais → formadas pela articulação das facetas articulares superior e inferior de vértebras adjacentes ○ exceção das articulações atlanto-occipital e atlantoaxial: demais articulações facetárias cervicais são verdadeiras → envolvidas por sinóvia e possuem cápsula articular verdadeira (ricamente inervada) ○ articulação facetárias: gerador de dor + sujeita às alterações artríticas e aos traumatismos causados por lesões de aceleração - desaceleração → danos causam dor secundária à inflamação da articulação sinovial + formação de aderências Rizotomia cervical ● indicada quando o quadro álgico melhorou temporariamente bloqueio ● lesão por radiofrequencia (RF) cervical: amplamente focada na coluna posterior (inervação pelos ramos medial dos ramos cervicais dorsais) ● contraindicações absolutas: infecção bacteriana sistêmica ou localizada na região da punção; possíveis gravidez; distúrbios de coagulação (doença hematológica ou uso de anticoagulante) ● contraindicações relativas: alergia a meios de contraste; alergia a anestésicos locais; necessidade de tratamento contínuo com antiagregantes plaquetários ● complicações: raras Tratamento da cervicalgia crônica comum ● exercícios físicos reduzem a dor + melhoram a função da coluna ● antidepressivos: úteis para ⅓ dos pacientes com dor cervical crônica, esp. naqueles associados a alterações psicológicas e com depressão→ tricíclicos são os + efetivos ● opioides: mais efetivos que AINES no alívio sintomático porém sem ganhos funcionais ● abordagem multidisciplinar: planos de terapia comportamental, fisioterapia de proteção articular, exercícios supervisionados e educação do paciente Tratamento das hérnias discais ● paciente com sintomas de dor com irradiação típica + ausência de déficit neurológicos progressivo → tratados de forma conservadoras por pelo menos 6 semanas ● farmacológico ○ analgésicos + AINES ○ corticosteroides: podem oferecer vantagens adicionais devido à inibição + efetiva do processo inflamatório ○ relaxantes musculares ○ opioides: alívio da dor mas devem ser usados apenas por períodos limitados ○ infiltração peridural com corticosteroides, analgésicos e opioides: opção após falha do tratamento conservador ● cirúrgico: se dor grave e persistente + déficit progressivo→ considerar cirúrgia Tratamento da estenose espinhal ou canal estreito ● poucas evidência científicas para o uso de terapia não cirúrgica (exercícios de bicicleta ou caminhadas, com breves paradas quando acontece a dor) ● AINES, anagésicos e infiltração com corticosteroide peridural→ podem ser benéficos ● cirurgia de descompressão: resultados melhores no alívio da dor por pelo menos alguns anos ● após 4 anos→ 30% dos pacientes podem voltar a ter dor grave
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