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O medicamento mágico: SOMA Felizes e satisfeitos, os Ípsilon não ambicionam sua emancipação e liberdade. Programados artificialmente para serem pequenas formigas operárias no sistema de produção, esses indivíduos são incapazes de raciocinar sem tutelamento estatal, soberanos às escolhas alheias ao seu ser. Caso descontentes, nada que a pílula da felicidade “SOMA” não resolva, confortando o estado de inquietação presente e, consequentemente, o desejo de pensar de forma autônoma. Quem dera que o cenário contido no imaginário literário de “Admirável novo mundo" se restringisse apenas ao ideário distópico -ledo engano. Concomitantemente ao pressuposto “ápice do progresso" social, os Ipsilon's modernos permutam sua reflexão independente pela comodidade propiciada pela menoridade racional e o pensamento analítico é banalizado como a origem de frustrações e infelicidade que abrangem o coletivo atual. Nesse viés, há necessidade de reverberar os fatores que validam a menoridade existente na hodiernidade. Primordialmente, é evidente que, assim como as pílulas SOMA, o consumismo e capital garante que os indivíduos optem por intranscender para sua razão emancipacional, já que a satisfação fornecida pela aquisição de um produto ofusca a condição humana como formiga operária. Divergente do senso comum, o prazer permanente, ao garantir alegria constante, refuta a necessidade de deliberar o tutelamento consciente, visto que a lógica e reflexão só é analisada individualmente devido ao ideário revolucionário do coletivo. O Esclarecimento apenas se concretizou devido a percepção de causa-consequência de uma sociedade fragilizada pelas desigualdades sociais, fome e óbitos do período medieval. Todavia, com a bonificação disfarçada de mérito dada aos grupos coletivos que se alinham a ordem atual de produtividade e estabilidade, o complexo social solidifica sua inaptidão de se conscientizar das falhas dessa ordem em prol da monetização assalarial que futuramente será liquidada por mercadorias. Portanto, assim como produtos, as ideias e maioridade possuem valores mercantis e são facilmente manipuláveis através da sensação confortável das "pílulas SOMA" modificadas conforme o contexto atual. No entanto, além das cápsulas de insuficiência reflexiva, a sociedade pós-moderna convive com as pequenas relações de poder existentes na ditadura científica contemporânea. Assim como Fabiano, em "Vidas Secas”, considerava-se desqualificado para induzir seu senso crítico autônomo, as parcelas sociais subalternizadas são instigadas a acreditar que sua maturidade e conhecimento são insuficientes para se livrar das amarras da minoridade esclarecida. Dessa forma, Fabianos reais são manipulados por Soldados Amarelos, personagem de Graciliano Ramos na obra supracitada, que utilizam de seu monopólio de poder para sobrepor seus ideais e valores à tais indivíduos, mantendo-os cativos da hierarquização da racionalidade conforme o status social do manipulador, afim de que a maioridade seja validada pelos padrões da elite e as outras, descartadas como sinal de ignorância perante à comunidade. Enquanto a informação na atualidade é facilmente acessível, as consequências de uma era técnico -científica-informacional suprimiram o anseio natural da humanidade de se desprender da reflexão guiada, que se tornou sinônimo de felicidade e passividade. Portanto, caso o organismo social não desestruture sua ordem hodierna de poder e consumo, os indivíduos viverão eternamente através de seus vícios em genéricos e similares "SOMA".
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