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INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Capítulo 7 Nível da expressão – relações entre linguagens 184 A prosa cubista é também caracterizada pela ausência dos nexos sintáticos, por uma linguagem cinematográfica à base de flashes. [...] Cristais joias couros lavrados marfins caíam com xales italianos de cores vivas nos canais de água suja. Gondolamos graciosamente na Ponte de Rialto e suspiramos na outra. [...] Oswald de Andrade. Memórias Sentimentais de João Miramar. São Paulo: Editora Globo, 2004. No excerto acima, nota-se a falta de pontuação e de nexos lógicos; há ainda antíteses, sinestesias (cores vivas nos canais de água suja) e metonímia em Gondolamos. O humor ocorre por meio de clichês sentimentais (graciosamente/ suspiramos) e a imagem da ponte aponta para um ícone cubista. Surrealismo Sa lv ad or D al í Fig. 61 Salvador Dalí. O sono, 1937. Óleo sobre tela. Col. Edward James, Sussex, Inglaterra. O Surrealismo foi um movimento artístico que investiu fortemente na representação do irracional e do subconsciente. Para o artista dessa escola, a imaginação deve se manifestar livremente, sem a opressão do ego e do superego; o impor- tante é o impulso psíquico. Os surrealistas deixam o mundo real para penetrarem no irreal; para esses artistas, as emoções do ser humano ex- pressam-se apenas com a aproximação do fantástico, quando a razão humana perde o controle. André Breton, um dos líderes do movimento, afirmava que o sonho pode ser também aplicado à solução das questões fundamentais da vida; no sonho, o inconsciente aflora, a criatividade é maior. Os surrealistas buscavam um automatismo psíquico que pudesse ser expresso pictoricamente ou verbalmente, de modo que a obra de arte revelasse o funcionamento real do pensamento. Os dois mais importantes pintores surrealistas foram Salvador Dalí e René Magritte; nos dois percebem-se associações que rompem a lógica, criando o fantástico. Re né M ag rit te Fig. 62 René Magritte. Castelo nos Pirineus, 1959. Museu de Israel, Israel, Jerusalém. PV_2021_LU_ITX_FU_CAP7_LA.INDD / 15-09-2020 (12:58) / VIVIAN.SANTOS / PROVA FINAL PV_2021_LU_ITX_FU_CAP7_LA.INDD / 15-09-2020 (12:58) / VIVIAN.SANTOS / PROVA FINAL FR EN TE Ú N IC A 185 No Brasil, o Surrealismo aparece na pintura Essencia- lismo, de Ismael Nery. Fig. 63 Ismael Nery. Essencialismo, 1931. Óleo sobre tela. Coleção Chaim José Hamer, São Paulo. Na literatura, os escritores surrealistas propunham a automatização da escrita, o texto devia ter como preocupação maior captar o funcionamento real do pensamento. Os pensamentos devem ser exprimidos caoticamente, tal como nos ocorrem, sem preocupação com o ordenamento lógico. Nos textos, há a presença do humor negro e, com a finalidade de escapar da ob- viedade e do lógico, os surrealistas associaram muitas vezes uma palavra logicamente adequada a uma outra absurda, produzindo imagens incoerentes. As realidades (fábula) Era uma vez uma realidade com as suas ovelhas de lã real a filha do rei passou por ali E as ovelhas baliam que linda que está a re a re a realidade. Na noite era uma vez uma realidade que sofria de insônia Então chegava a madrinha fada e realmente levava-a pela mão a re a re a realidade. [...] Louis Aragon. In: Franco Fortini. O movimento surrealista. Tradução de António Ramos Rosa. 2 ed. Barbacena: Editorial Presença, 1980. Os maiores representantes do Surrealismo na litera- tura são o poeta Paul Éluard, autor de Capital da dor; e André Breton, autor de O amor louco, Nadja e Os vasos comunicantes. O Surrealismo aparece ainda em certas canções da música popular brasileira como em “Chão de Estrelas”, de Sílvio Caldas e Orestes Barbosa; no quarto verso do excerto a seguir, a imagem criada é surreal. [...] A porta do barraco era sem trinco Mas a lua, furando nosso zinco Salpicava de estrelas nosso chão... Tu pisavas os astros, distraída, Sem saber que a ventura desta vida É a cabrocha, o luar e o violão [...] No cinema, os cineastas surrealistas romperam com o cinema tradicional, havia uma despreocupação com o enredo e com a história do filme; criticavam-se os ideais dos burgueses, dava-se vazão ao irracional. Os filmes mais representativos do cinema surrealista são Um cão andaluz (1928) e L’Âge D’Or (1930), de Luiz Buñuel em parceria com Salvador Dalí. D iv ul ga çã o Fig. 64 Um cão andaluz e A idade do ouro são filmes que representam o cinema surrealista. No teatro, o maior representante foi o dramaturgo, poeta, ator e escritor francês Antonin Artaud; sua obra O teatro e seu duplo é um dos principais escritos surrealis- tas, que serviu de referência a grandes diretores de cinema como Peter Brook, Jerzy Grotowski e Eugenio Barba. Nessa obra de Artaud, o dramaturgo apresenta um conjunto de ideias que constituíram o teatro da crueldade, o qual defen- dia uma linguagem que pudesse expressar “as verdades secretas”. O teatro da crueldade é apresentado como um ritual, que valoriza o gestual e o objeto. Nesse tipo de ence- nação, muda-se a concepção de espaço da representação e de espaço da plateia. Nas décadas de 1940 e 1950, as ideias do Surrealismo influenciaram o teatro do absurdo de Samuel Beckett, Arthur Adamov, Eugène Ionesco e Jean Genet. Dadaísmo Parafins gatins alphaluz sexonhei la guerrapaz Ouraxé palávoras driz okê cris espacial Projeitinho imanso ciumortevida vivavid Lambetelho frúturo orgasmaravalha-me Logun Homenina nel paraís de felicidadania: [...] Caetano Veloso. "Outras Palavras". In: Outras Palavras. Rio de Janeiro: Polygram/Philips, 1981. Faixa 1. PV_2021_LU_ITX_FU_CAP7_LA.INDD / 15-09-2020 (12:58) / VIVIAN.SANTOS / PROVA FINAL INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Capítulo 7 Nível da expressão – relações entre linguagens 186 O Dadaísmo foi o mais radical dos movimentos de van- guarda. A corrente ganhou força em Zurique, na Suíça, por meio do manifesto do romeno Tristan Tzara, lido em 1916. Envolvia artistas de várias partes da Europa, que fugiam da Primeira Guerra Mundial e buscavam refúgio na Suíça. Entre esses artistas destacam-se Hans Arp, Marcel Janco e Hugo Ball. Fr an ci s Pi ca bi a Fig. 65 Francis Picabia. Parade Amoureuse, 1917. Óleo sobre tela. Coleção par- ticular. Para os dadaístas, a guerra refletia a crise da socieda- de, cujos valores morais e espirituais estavam deteriorados. Decorrente dessa visão, rejeitavam teorias e modelos: “Não reconhecemos nenhuma teoria. Basta de academias cubis- tas e futuristas: laboratórios de ideias formais”. Fig. 66 Kurt Schwitters. Das Undbild, 1919. Pintura e colagem. Centre Georges Pompidou, Paris, França. O nome do movimento, Dadaísmo, é explicado por Tristan Tzara: Encontrei o nome por casualidade, inserindo uma espátula num tomo fechado do Petit Laorousse e lendo imediatamente, ao abri-lo, a primeira linha que me chamou a atenção: Dada. Meu propósito foi criar apenas uma palavra expressiva que através de sua magia fechasse todas as portas à compreensão e não fosse apenas mais um –ISMO. O termo “dada” possui muitos sentidos; em romeno significa “sim”; em italiano, mãe; em determinadas regiões africanas, o rabo da vaca sagrada. O fato de haver uma plurissignificação implica improvisação, desordem, dese- quilíbrio. Eis uma receita de poesia dadaísta: Pegue um jornal. Pegue uma tesoura. Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema. Recorte o artigo. Em seguida, recorte com atenção cada palavra que forma esse artigo, e coloque-as num saco. Agite suavemente. A seguir, retire cada pedaço, um após o outro. Copie conscienciosamente na ordem em que elas foram retiradas do saco. O poema se parecerá com você. Tristan Tzara. Para fazer um poema dadaísta. Os dadaístas tinham por finalidade denunciar as fra- quezas pelas quais a Europa passava; opunham-se aos valores burgueses; negavam a lógica (nesse sentido, o Surrealismo sofre forte influência dadaísta), a linguagem, a arte e a ciência. Re pr od uç ão Fig. 67 Na foto, Hugo Ball,poeta e escritor alemão, um dos principais artistas do Dadaísmo. Os dadaístas criaram a técnica dos ready-made: retira- va-se um objeto do uso corrente de seu ambiente normal para a invenção de máquinas que não possuíam utilização social. Marcel Duchamp, um dos mais geniais criadores do ready-made, pintor e escultor francês (que também atuou como artista expressionista, impressionista e cubista), expôs uma roda de bicicleta cravada em um banco e um urinol como objetos artísticos. PV_2021_LU_ITX_FU_CAP7_LA.INDD / 15-09-2020 (12:58) / VIVIAN.SANTOS / PROVA FINAL PV_2021_LU_ITX_FU_CAP7_LA.INDD / 15-09-2020 (12:58) / VIVIAN.SANTOS / PROVA FINAL
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