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Uma das questões centrais para Décio Pignatari é a “armação plena da vida por meio da armação da razão, do sensível e do sexual, numa síntese feliz” (SIMON, Iumna Maria; DANTAS, Vinícius Literatura comentada: poesia concreta. São Paulo: Abril Educação, 1982. p. 18). Levando em consideração esse comentário, elabore uma proposta de leitura para o poema anterior. 50 PUC-Minas 2014 CAMPOS, Augusto de. “Pós-tudo”. 1984. Disponível em: <www2.uol.com.br/ augustodecampos/poemas.htm>. Acesso em: 19 ago. 2013. O poema de Augusto de Campos pertence à poesia concreta. Constitui uma característica desse movimento: A a busca por novas formas de expressão do sen- timento a negação dos valores estéticos do Modernismo. a valorização dos elementos gráficos do poema. d o envolvimento com os problemas políticos do país. 51 UEG 2012 Leia os poemas que seguem: CAMPOS, Augusto de. In: Poesia concreta. São Paulo: Abril Educação, 1982. O bicho Vi ontem um bicho Na imundície do pátio Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem. BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993. p. 201 2. Os poemas de Augusto de Campos e de Manuel Ban- deira tematizam A a miséria, que, muitas vezes, tem como contrapon- to a riqueza de muitos. a questão da fome e da violência que se verifica nos grandes centros urbanos o descaso social com relação aos menores aban- donados e às crianças de rua. d o desemprego, que ocorre sempre quando a de- manda é maior do que a oferta. Textos para a questão 52. Texto 1 Meu pai meu pai foi ao Rio se tratar de um câncer (que o mataria) mas perdeu os óculos na viagem quando lhe levei os óculos novos comprados na Ótica Fluminense ele examinou o estojo com o nome da loja dobrou a nota de compra guardou-a no bolso e falou: quero ver agora qual é o sacana que vai dizer que eu nunca estive no Rio de Janeiro (Ferreira Gullar) Texto 2 O mapa Olho o mapa da cidade Como quem examinasse A anatomia de um corpo... (E nem que fosse o meu corpo!) Sinto uma dor infinita Das ruas de Porto Alegre Onde jamais passarei... Há tanta esquina esquisita, Tanta nuança de paredes, Há tanta moça bonita Nas ruas que não andei (E há uma rua encantada Que nem em sonhos sonhei...) Quando eu for, um dia desses, Poeira ou folha levada No vento da madrugada, Serei um pouco do nada F R E N T E 2 121 Invisível, delicioso Que faz com que o teu ar Pareça mais um olhar, Suave mistério amoroso, Cidade de meu andar (Deste já tão longo andar!) E talvez de meu repouso... (Mário Quintana) Texto 3 Impressionista Uma ocasião, meu pai pintou a casa toda de alaranjado brilhante Por muito tempo moramos numa casa, como ele mesmo dizia, constantemente amanhecendo. (Adélia Prado) Texto 4 (Décio Pignatari) 52 UPE 2017 Considerando os Textos 1, 2, 3 e 4 bem como os autores e seus respectivos contextos históricos e literários, analise as proposições a seguir. I. O Texto 1 apresenta um eu lírico ligado ao cotidiano, pois Ferreira Gullar, poeta também neoconcretista, tem como um de seus temas a realidade social. II. No Texto 2, encontra-se um eu lírico que temati- za o cotidiano, situações corriqueiras, com uma percepção aguda das coisas simples da vida; no entanto, há um certo pessimismo em relação à cidade que o faz evadir-se, criando, em sonho, outra cidade. III Adélia Prado é dona de uma linguagem simples, e preocupada com uma temática feminina, ligada à fa- mília e à religiosidade No Texto 3, percebe-se um eu lírico que se mostra incompatível com o clima da imagem da casa desejada, a ponto de não se sentir bem com a cor alaranjada de suas paredes IV. Pignatari possui uma linguagem que valoriza os esquemas e diagramas, fazendo de seus versos um projeto de designer. No poema, há um texto duplo, uma fusão de imagens, cujos significados se revelam por essa duplicidade, como um espe- lho que projeta uma imagem invertida. Estão ORRETAS: A I, II e IV, apenas. I, II, III e IV. II e III, apenas d II, III e IV, apenas. E III e IV, apenas. 53 ITA 2011 Considere o poema a seguir, de Ronaldo Azeredo: Esse texto I. explora a organização visual das palavras sobre a página. II põe ênfase apenas na forma, e não no conteúdo da mensagem. III. pode ser lido não apenas na sequência horizontal das linhas. IV não apresenta preocupação social Estão corretas A I e II. I, II e III. I e III d II e IV. E todas. 54 UPE 2018 Paulo Leminski, Décio Pignatari e os irmãos Campos, Haroldo e Augusto, conseguiram desenvol- ver poemas visuais, que associam o lirismo a um tom plurissignificativo e, às vezes, crítico leve. Observe os poemas a seguir: Poema 1 Décio Pignatari LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 15 Século XX: novas identidades literárias122 Poema 2 Analise as armativas a seguir e coloque V nas verda deiras e F nas falsas J No poema 1, a linguagem visual e a verbal criam um todo inseparável, uma vez que as próprias palavras formam o símbolo de infinito, sendo possível realizar a leitura em, pelo menos, duas direções J Há duas possibilidades de leitura no poema 1, o que caracteriza a plurissignificação da poesia concreta. J Trata-se de dois poemas concretos em que, no primeiro, predomina a linguagem verbal e, no se- gundo, a linguagem visual. J No poema 2, o título repete o primeiro verso, razão pela qual se deduz tratar-se de prática exclusiva- mente do Concretismo. J Há certa ironia no tema do poema 2, quando o eu lírico admite, no último dístico, que, só aos setenta, vai chegar à consciência plena. Assinale a alternativa que indica a sequência ORRETA. A V F F F F V V V V F F F F V V d V – F – V – F – F E V – V – F – F – V Textos para as questões de 55 a 57 Texto 1 Disponível em: <www.antoniomiranda.com.br/poesia_visual/ ferreira_gullar2_formigueiiro.html>. Acesso em: 30 abr. 2012. Texto 2 Nasce o poema Não vou discutir se o que escrevo, como poeta, é bom ou ruim. Uma coisa, porém, é verdade: parto sempre de algo, para mim inesperado, a que chamo de espanto. E é isso que me dá prazer, me faz criar o poema. E, por isso mesmo, também, copiar não tem graça Um dos poemas mais inesperados que escrevi foi O formigueiro, no comecinho do movimento da poesia concreta. É que, após os últimos poemas de A luta corporal (1953), entrei num impasse, porque, inadvertidamente, implodira mi- nha linguagem poética Não podia voltar atrás nem seguir em frente. Foi quando, instigado por três jovens poetas paulistas, tentei reconstruir o poema Havíamos optado por trocar o discurso pela sintaxe visual. Já em alguns poemas de A luta corporal, havia explorado a materialidade da palavra escrita, percebendo o branco da pági- na como parte da linguagem, como o seu contrário, o silêncio. Por isso, diferentemente dos paulistas que exploravam o grafismo dos vocábulos, desintegrando-os em letras –, eu desejava expor o “cerne claro” da palavra, materializado no branco da página. Daí por que, nesse poema, busquei um modo de grafar as palavras, não mais como uma sucessão de letras, e sim como construção aberta, deixando à mostra seu núcleo de silêncio. Mas não podia grafá-las pondo as letras numa ordem arbitrária. Por isso, tive de descobrir um meio de superar o arbitrário, de criar uma determinação necessária. Ocorre, porém, que essas eram questões latentes em mim, mas era necessário surgir a motivação poética para pô-las em prática. E isso surgiu das próprias letras, que, de repente, me pa- receram formigas, o que me levou a uma lembrança mágica, de minha infância, em nossa casa, em São Luís do Maranhão. A casa tinha um amplo quintal, em que surgiu, certa manhã, um formigueiro: eram formigas ruivas que brotavam de dentro da terra Eu ouvira dizer que “onde tem formiga tem dinheiro en- terrado” e convenci minhas irmãs a cavarem comigo o chão do quintal de onde brotavam as formigas. E cavamos a tarde inteira àprocura do tesouro que não aparecia, até que caiu uma tempestade e pôs fim à nossa busca Foi essa lembrança que abriu o caminho para o poema, mas não sabia como realizá-lo. Basicamente, eu tinha as letras, que me lembravam formigas, mas isso era apenas o pretexto-tema para explorar a linguagem em sua ambiguidade de som e silêncio, matéria e significado Que fazer então? Como encontrei a solução, não me lembro, mas sei que não surgiu pronta, e sim como possibilidades a explorar. Tinha a palavra formiga, que era o elemento cerne. Expe- rimentei desintegrá-la numa explosão que dispersou as letras F R E N T E 2 123
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