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Conflito de interesse declarado: Nenhum 1 Mestrando pelo Departamento de Dermatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP - São Paulo (SP); Professor Substituto da Disciplina de Dermatologia da Universidade Federal de Goiás - UFG - Goiânia (GO), Brasil. 2 Doutor em Medicina pelo Departamento de Dermatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP - São Paulo (SP); Professor Doutor do Departamento de Dermatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP - São Paulo (SP), Brasil. ©2006 by Anais Brasileiros de Dermatologia 207 An Bras Dermatol. 2006;81(3):207-21. Educação Médica Continuada Resumo: Os sarcomas com apresentação cutânea primária são tumores raros e de grande heterogeneidade histológica. Com a evolução da oncologia cutânea e da cirurgia dermatoló- gica, os dermatologistas têm sido cada vez mais requisitados para o diagnóstico e orientação terapêutica de tumores menos freqüentes. Este artigo de revisão analisa os sarcomas cutâneos primários observando suas características clínicas, etiopatogênicas e histológicas, bem como aspectos do tratamento e evolução. Enfatiza os sarcomas de maior relevância para o derma- tologista, como angiossarcoma, dermatofibrossarcoma protuberans, fibroxantoma atípico, leiomiossarcoma, lipossarcoma, tumor maligno de bainha de nervo periférico e sarcoma epi- telióide. O sarcoma de Kaposi não é abordado devido a suas características individuais espe- cíficas. Palavras-chave: Dermatofibrossarcoma; Hemangiossarcoma; Leiomiossarcoma; Lipossarcoma; Neoplasias cutâneas; Sarcoma/diagnóstico Abstract: Soft tissue tumors represent a heterogeneous group of mesenchymal and neural lesions. The cutaneous presentation of these tumours is rare. With the evolution of derma- tologic surgery and cutaneous oncology, dermatologists have emerged as specialists for skin cancer management. This article reviews primary cutaneous sarcomas with particular emphasis on the epidemiologic, clinical, and histological features of diagnosis, as well as treatment modalities and prognosis. The most frequent cutaneous sarcomas were reviewed, including angiosarcoma, dermatofibrosarcoma protuberans, atypical fibroxanthoma, leiomyosarcoma, liposarcoma, malignant nerve sheath tumor, and epithelioid sarcoma. Kaposi’s sarcoma, due to specific characteristics, was omitted from this review. Keywords: Angiosarcoma; Dermatofibrosarcoma; Leiomyosarcoma; Liposarcoma; Sarcoma/diagnosis; Skin neoplasm Sarcomas cutâneos primários Primary cutaneous sarcomas Luiz Fernando Fróes Fleury Jr1 José Antonio Sanches Jr2 RevABDV81N3.qxd 12.06.06 10:12 Page 207 208 Fleury LFF Jr, Sanches JA Jr. An Bras Dermatol. 2006;81(3):207-21. INTRODUÇÃO Segundo dados do registro do Instituto Nacional do Câncer (INCA) as neoplasias da pele são responsáveis por 25% dos tumores malignos notifi- cados no Brasil.1 Existem cerca de 30 tipos diferen- tes de câncer da pele,2 sendo 70% carcinomas baso- celulares (CBC), 25% carcinomas espinocelulares (CEC), 4% melanomas cutâneos (MC) e 1% relacio- nados a tipos menos comuns, não especificados em dados epidemiológicos.1 Devido à maior prevalência de casos de CBC, CEC e MC, os dermatologistas estão mais familiarizados com o diagnóstico, prog- nóstico e tratamento dessas neoplasias. Entretanto, com a evolução da oncologia cutânea, cirurgia der- matológica e cirurgia micrográfica, os dermatologis- tas têm sido cada vez mais requisitados para a con- dução do diagnóstico e tratamento de tumores pouco freqüentes.3 Entre as neoplasias que fazem parte de um grupo não habitual na prática diária do dermatologis- ta estão os sarcomas. São denominados sarcomas os tumores malignos de partes moles,4 que constituem um grupo altamente heterogêneo de neoplasias clas- sificadas histologicamente de acordo com o tecido maduro com que se assemelham. Entre as várias cate- gorias histológicas, os tumores de partes moles são usualmente divididos em benignos e malignos. Os primeiros, que mais se assemelham ao tecido normal, são 100 vezes mais freqüentes. Possuem capacidade limitada de crescimento, pequena tendência de inva- são local e baixa taxa de recorrência local após trata- mento conservador. Os tumores malignos ou sarco- mas, por sua vez, são agressivos localmente e capazes de apresentar crescimento invasivo e destrutivo, reci- diva local e metástases.4,5 Os sarcomas manifestam-se geralmente como lesões profundas, mas podem acometer a pele e o tecido subcutâneo, apresentando-se ao dermatolo- gista como lesão superficial ou como nódulo subcu- tâneo. Esses tumores podem ocasionar lesões cutâ- neas por três maneiras distintas: 1- originando-se primariamente na pele e no tecido subcutâneo; 2- por extensão direta de lesões profundas; 3- por envolvimento metastático da pele, fenômeno extre- mamente raro.6 Considera-se sarcoma superficial todo aquele originado acima da fáscia, embora não exista na lite- ratura uma classificação que defina os sarcomas cutâneos. O quadro 1 sumariza os principais sarco- mas com possibilidade de manifestação cutânea pri- mária. No presente artigo serão abordados os sarco- mas primários da pele e subcutâneo, de maior inte- resse para o dermatologista. O sarcoma de Kaposi foi excluído por possuir características específicas bem definidas. ANGIOSSARCOMA Tumor maligno cujas células recapitulam as características morfológicas e funcionais do endotélio normal. Pode variar desde tumores altamente diferen- ciados que se assemelham a hemangiomas até aqueles em que o grau de anaplasia torna difícil a diferenciação com carcinomas ou melanomas.7 O angiossarcoma é um dos raros sarcomas que se desenvolve, na maioria das vezes, como tumor cutâneo primário. Cerca de 50% dos angiossarcomas cutâneos ocorrem na cabeça e no pescoço, principalmente no couro cabeludo do homem idoso. São tumores agressivos, de difícil deter- minação de margens cirúrgicas, alta tendência à recor- rência local e metástase a distância.7-10 Epidemiologia e Patogenia Este tumor pode acometer a pele de três maneiras distintas: angiossarcoma cutâneo associado a linfedema crônico (também chamado de linfangios- sarcoma), angiossarcoma cutâneo induzido por radia- ção e angiossarcoma cutâneo propriamente dito (não associado a linfedema ou radioterapia).7 O angiossarcoma originado sobre linfedema crônico ocorre predominantemente nos braços de mulheres submetidas a mastectomia radical com esva- ziamento axilar. Essa síndrome foi descrita por Stewart e Treves em 1948, sendo comumente referida por esse epônimo (Figura 1). Alguns casos são descri- tos em pacientes com linfedema congênito, traumáti- co ou infeccioso.9 O angiossarcoma pós-radioterapia também é encontrado com maior freqüência em mulheres sub- metidas à radioterapia para tratamento do carcinoma mamário. Contudo, parece ser um fenômeno raro, tendo cerca de 58 casos relatados na literatura.11 Habitualmente é sarcoma de alto grau com compor- tamento extremamente agressivo. Os casos de angiossarcoma cutâneo primário que se originam na ausência de irradiação prévia ou lin- fedema geralmente acometem homens idosos, tendo predileção por cabeça e pescoço, em especial couro cabeludo e região frontal12 (Figura 2). Exposição exces- siva aos raios ultravioletas tem sido atribuída como fator de risco para o desenvolvimento do tumor, embora existam argumentos contrários a essa idéia.10,12,13 Apresentação Clínica Clinicamente, apresenta-se como máculas, pápulas, placas ou nódulos eritematosos mal defini- dos, de crescimento expansivo rápido, em alguns casos assemelhando-se a hematomas. As lesões habi- tualmente são equimóticas e edematosas, e, em sua evolução, podem ulcerar. A maioria dos pacientes apresenta história de poucos meses de evolução com dor e sangramento.7,12 Os casos associados a linfede- RevABDV81N3.qxd 12.06.06 10:12 Page 208 An Bras Dermatol. 2006;81(3):207-21. Sarcomas cutâneos primários 209 �� Tumores fibrosos Intermediários Fibromatose do adulto Superficial ( incluindopalmar, plantar, peniana e knuckle pads) Fibrossarcoma infantil Malignos Fibrossarcoma do adulto �� Tumores fibro-histiocíticos Intermediários Fibroxantoma atípico Dermatofibrossarcoma protuberante (incluindo a forma pigmentada de Bednar) Fibroblastoma de células gigantes Fibro-histiocitoma angiomatóide Tumores fibro-histiocíticos plexiformes Tumor de células gigantes de baixo potencial de malignidade Malignos Fibro-histiocitoma maligno �� Tumores lipomatosos Intermediários Lipoma atípico (lipossarcoma bem diferenciado superficial/tumor lipomatoso atípico) Malignos Lipossarcoma bem diferenciado Lipossarcoma mixóide – células redondas Lipossarcoma pleomórfico Lipossarcoma desdiferenciado �� Tumores de músculo liso Malignos Leiomiossarcoma �� Tumor de músculo esquelético Maligno Rabdomiossarcoma �� Tumores de vasos sangüíneos e linfóides Intermediários Hemangioendotelioma Malignos Angiossarcoma Sarcoma de Kaposi �� Tumores perivasculares Malignos Tumor glômico maligno Hemangiopericitoma maligno/tumor fibroso solitário maligno �� Tumores de bainha neural periférica Malignos Tumor maligno de bainha perineural (TMBNP) �� Tumor neuroectodérmico primitivo (TNEP) e lesões relacionadas Malignos Neuroblastoma Ganglioneuroblastoma Sarcoma de Ewing extra-ósseo/tumor neuroectodérmico primitivo �� Tumores paraganglionares Maligno Paraganglioma maligno �� Tumores ósseos e cartilaginosos extra-esqueléticos Malignos Condrossarcoma Osteossarcoma extra-esquelético �� Tumores miscelânea Malignos Sarcoma sinovial Sarcoma alveolar de partes moles Sarcoma epitelióide Tumor desmoplásico de células redondas pequenas Tumor rabdóide extra-renal maligno QUADRO 1: Classificação histológica dos sarcomas de partes moles Adaptado de: Enzinger FM, Weiss SW. Soft tissue tumors. 4th ed. St Louis: Mosby; 2001, p. 7-8. RevABDV81N3.qxd 12.06.06 10:12 Page 209 210 Fleury LFF Jr, Sanches JA Jr. An Bras Dermatol. 2006;81(3):207-21. ma manifestam-se geralmente com nódulos eritêma- to-violáceos únicos ou múltiplos sobre o membro acometido, em média cerca de 10 anos após mastec- tomia. As lesões podem coalescer e formar tumoração polipóide. Ulceração acompanhada de secreção serossanguinolenta é comum nas lesões mais antigas. O angiossarcoma cutâneo associado à radioterapia ocorre habitualmente no local irradiado, em média cinco anos após o tratamento radioterápico, na maio- ria das vezes após cirurgia conservadora para o carci- noma mamário.7,9,11,12 Diagnóstico Histologicamente, os três grupos de lesões são indistinguíveis, compostos por rede de canais vascula- res dérmicos variando em tamanho de pequenos capi- lares a espaços sinusoidais entremeados por endotélio normal. O endotélio mostra grau variável de pleomor- fismo e atipia (Figura 3). As mitoses são em geral raras ou focais. O tumor pode também assumir um padrão sólido epitelial fusiforme com presença de ilhas ou blo- cos de células epitelióides ou fusiformes sem formação de espaços sinusoidais ou vasculares, bem como apre- sentar padrão misto. O diagnóstico diferencial histoló- gico do angiossarcoma deve ser feito principalmente com o sarcoma de Kaposi, hemangiomas benignos, hemangiopericitoma, e em alguns casos até com carci- noma espinocelular e melanoma.7 Embora o exame imuno-histoquímico seja útil no estabelecimento do diagnóstico de neoplasia vascu- lar, não diferencia o angiossarcoma de outros tumores vasculares.11 Apesar de amplamente utilizado como marcador vascular, o anticorpo contra fator VIII mostra- se pouco sensível no diagnóstico do angiossarcoma.7,11 O anticorpo contra CD31 (molécula de adesão “plaque- ta – célula endotelial”) apresenta-se altamente sensível e específico para diferenciação endotelial. Praticamente todos os tumores vasculares expressam essa proteína de membrana. O CD34 (antígeno das células hemato- poiéticas humanas), apesar de presente em grande parte dos angiossarcomas, também é positivo em vários outros tumores de partes moles.7 Tratamento O tratamento deve ser conduzido por equipe multidisciplinar e individualizado de acordo com a extensão da lesão, localização anatômica e consenti- mento do paciente. Cirurgia isolada ou em combina- ção com radioterapia é utilizada para as lesões ini- ciais, apesar de a retirada cirúrgica com margens ade- FIGURA 1: Angiossarcoma sobre linfedema crônico (síndrome de Stewart-Treves). Nódulo violáceo no membro superior FIGURA 2: Angiossarco ma cutâneo. Placa eritê- mato-vio- lácea ulcera- da no couro cabeludo FIGURA 3: Angiossarcoma cutâneo. Células fusiformes envolvendo fendas vasculares e células epitelióides atípicas com lume intracelular contendo hemácias (HE 400x) RevABDV81N3.qxd 12.06.06 10:12 Page 210 Sarcomas cutâneos primários 211 An Bras Dermatol. 2006;81(3):207-21. quadas nem sempre ser possível. A quimioterapia está indicada para os tumores disseminados, associada à radioterapia para o trata- mento loco-regional de lesões extensas ou como tera- pia neoadjuvante. Os agentes quimioterápicos usados mais freqüentemente são doxorrubicina, ciclofosfami- da, metotrexate e vincristina.12 O uso combinado de interferon alfa e ácido 13-cis-retinóico, na doença avançada, tem sido relatado como efetivo.14 O tratamento das lesões originadas em áreas previamente irradiadas deve ser agressivo, indicando- se freqüentemente mastectomia total. Retirada em bloco da parede torácica pode ser necessária. Linfadenectomia axilar não está indicada, pois metás- tases linfonodais são raras. Mesmo com tratamento agressivo recorrências são freqüentes, e o prognósti- co é reservado.11 O angiossarcoma com origem sobre linfedema crônico também apresenta comportamen- to agressivo, com maior sobrevida relatada após amputação radical do membro afetado.7 Prognóstico Apesar das remissões clínicas alcançadas com os tratamentos propostos, o prognóstico do angios- sarcoma é reservado, com alta taxa de recorrência local, 84% em cinco anos, e tendência à disseminação sistêmica. A maioria dos pacientes morre devido à doença, com metástases pulmonar, cardíaca ou cere- bral. As taxas de sobrevida em cinco anos estão com- preendidas entre 10 e 35%.7,12 DERMATOFIBROSSARCOMA PROTUBERANTE O dermatofibrossarcoma protuberante (DFSP) é tumor fibro-histiocítico de malignidade intermediá- ria, representando a maioria dos sarcomas cutâneos. Apresenta crescimento local agressivo, alta taxa de recorrência, mas baixo potencial metastático.15 Epidemiologia e Patogenia Estima-se que a incidência desse tumor varie de 0,8 a cinco casos por milhão a cada ano.16 Ocorrem mais freqüentemente na faixa de 20 a 50 anos de idade, embora sejam relatados casos desde o nasci- mento até os 80 anos de idade. Apresenta distribuição igual entre os sexos, com alguns trabalhos eviden- ciando ligeira predominância no masculino.17 Antecedente de trauma como fator desencadean- te é descrito entre 10 e 20% dos casos. Vários relatos, todavia, descrevem o tumor desenvolvendo-se em cica- triz prévia de cirurgia, queimadura, imunização para varicela ou BCG,18-20 bem como seu crescimento rápido durante a gravidez, fato atribuído a receptores para pro- gesterona no tumor.21 Associações com exposição pro- longada ao arsênico,22 acantose nigricante e acroderma- tite enteropática23 também têm sido relatadas. É característica do DFSP a presença de alteração citogenética específica envolvendo os cromossomos 17 e 22, t(17;22)(q22;q13), resultando, habitualmente, em anomalia cromossômica com fusão do gene do colágeno tipo-1 alfa-1 (COL1A1) do cromossomo 17 com o gene do fator de crescimento derivado de pla- quetas cadeia β do cromossomo 22 (PDGFβ ).24-26 Apresentação Clínica O tronco é a região mais acometida pelo DFSP, incluindo entre 50 e 60% dos tumores (Figura 4), seguido pelas extremidades proximais (20%) e por cabeça e pescoço (10 a 15%).27 Dermatofibrossarcoma acral e genital são incomuns.27,28 Em sua fase inicial apresenta-se como placa endurecida, assintomática, violácea, marrom-averme- lhada ou levemente hipercrômica,semelhante a que- lóide. O comportamento indolente do DFSP e suas características imprecisas freqüentemente levam a demora em sua percepção pelos pacientes, ocasio- nando atraso no diagnóstico. Entretanto, quando a lesão está evoluída, o dermatofibrossarcoma não é tumor de difícil diagnóstico devido a sua aparência clínica característica (Figura 5). Variantes atípicas como o DFSP pigmentado (tumor de Bednar) e a forma atrófica são raras. O diagnóstico diferencial faz- se com linfomas, sarcoidose, melanoma, metástases cutâneas, quelóides, tumor desmóide, fibrossarcoma, tumores de anexos e dermatofibroma.15,28 Diagnóstico O DFSP origina-se na derme como um arranjo denso de células com núcleos fusiformes.29 As células tumorais são organizadas em fascículos irregulares, entrelaçados, resultando em padrão estoriforme.30 FIGURA 4: Dermatofibrossarcoma protuberante. Nódulo eritematoso ulcerado no dorso RevABDV81N3.qxd 12.06.06 10:12 Page 211 212 Fleury LFF Jr, Sanches JA Jr. An Bras Dermatol. 2006;81(3):207-21. Em algumas áreas parecem originar-se de um foco central de colágeno acelular denominado “em roda de carroça ou redemoinho”31 (Figura 6). O DFSP apre- senta baixo a moderado número de mitoses.5 O tumor pode alcançar a epiderme ou deixar área de derme subjacente não envolvida. A epiderme sobreja- cente pode ser atrófica, normal ou ulcerada, depen- dendo do grau de invasão epidérmica pelas células neoplásicas. Casos recorrentes podem invadir fáscia, músculos e ossos.16,29 A imuno-histoquímica pode ser útil no diagnós- tico diferencial do DFSP, no qual a maioria das células é positiva para marcação com CD34 (antígeno das célu- las hematopoiéticas humanas), embora negativas para o fator XIIIa (fator estabilizador de fibrina). Por outro lado, os dermatofibromas geralmente expressam fator XIIIa e são negativos para imunomarcação com CD34. A positividade para a proteína S100 é característica dos neurofibromas. Na diferenciação do DFSP com invasão subcutânea, a marcação para desmina ou miosina per- mite fácil distinção entre DFSP e tumores de origem muscular com morfologia estoriforme.15 Tratamento O tratamento do DFSP é fundamentalmente cirúrgico. A primeira intervenção é de extrema impor- tância, uma vez que a disseminação tumoral após a primeira ressecção inadequada pode levar a cresci- mento local descontrolado ou a metástase. O DFSP caracteriza-se por crescimento lento, infiltrativo. A taxa de recorrência após cirurgia convencional é de cerca de 60%, diminuindo para 20% quando da utili- zação de margens superiores a 4cm.10 A cirurgia micro- gráfica de Mohs proporciona taxas de cura significati- vamente maiores (1,6% de recidiva).32-37 O papel da radioterapia para o tratamento desses tumores não está bem estabelecido. A quimioterapia tem sido indi- cada apenas para os casos com metástases.15,18 Estudos recentes mostram resposta tumoral do DFSP ao inibidor de tirosina-quinase (Imatinib), usado tanto para doença metastática como para doença local avançada. O Imatinib bloqueia o efeito da proteína de fusão COL1A1-PDGFβ ao ligar-se ao receptor PDGFβ.38-43 Prognóstico A disseminação microscópica do tumor por pro- jeções de células tumorais semelhantes a tentáculos sob pele clinicamente normal torna difícil a remoção cirúr- gica completa da lesão.27 A maioria das recorrências locais (entre 50 e 75%) é notada três anos após a exci- são. Recorrências tardias, superiores a 10 anos, apesar de raras têm sido descritas.15,18,29,31 Conseqüentemente, os pacientes têm que ser examinados a cada três ou seis meses durante os três primeiros anos após cirurgia e anualmente por toda a vida. Apesar de sua agressividade local o DFSP rara- mente metastatiza-se, o que ocorre em cerca de 1% para linfonodos e 4% para órgãos distantes. O pul- mão, por disseminação hematogênica, é o principal local de acometimento metastático. Entretanto, lesões cerebrais, ósseas e traqueais foram descritas. Os relatos de metástases a distância foram precedidos por múltiplas recorrências locais após excisão inicial inadequada.44 FIBROXANTOMA ATÍPICO O fibroxantoma atípico (FXA) é neoplasia fibro- histiocítica maligna que acomete predominantemen- te superfícies fotoexpostas de indivíduos idosos. Possui tendência à recorrência local e apresenta baixo FIGURA 5: Dermatofibrossarcoma protuberante. Nódulo eritematoso sobre cicatriz FIGURA 6: Dermatofibrossarcoma protuberante. Neoplasia fusocelular com padrão microestoriforme envolvendo difusa- mente o tecido adiposo com aspecto em favo de mel (HE 400x) RevABDV81N3.qxd 12.06.06 10:12 Page 212 Sarcomas cutâneos primários 213 An Bras Dermatol. 2006;81(3):207-21. potencial de metástase,45 tendo sido considerado lesão pseudo-sarcomatosa benigna. Relatos de metás- tases estabeleceram sua verdadeira natureza maligna. Epidemiologia e Patogenia Alguns autores acreditam que o fibroxantoma atípico represente forma superficial do fibro-histioci- toma maligno pleomórfico (FHM), que acomete estruturas mais profundas.46 Entretanto, diferenças na apresentação clínica justificam a distinção entre essas lesões, e diferenças em seus perfis imuno-histoquími- cos já são descritas. Possíveis fatores de risco incluem exposição crônica à radiação ultravioleta e radioterapia prévia. O fibroxantoma atípico ocasionalmente origina-se em áreas cobertas associadas a radiodermatite e em indi- víduos jovens ou em crianças com xeroderma pig- mentoso.5,45 Descreve-se maior incidência em trans- plantados renais.6 Apresentação Clínica O FXA difere do FHM por ser tumor superfi- cial mais bem delimitado que não invade extensiva- mente o subcutâneo ou estruturas profundas como fáscia e músculo.47 O FXA apresenta-se como nódu- lo assintomático solitário, comumente ulcerado, em pele fotolesada. Tipicamente não ultrapassa dois centímetros de diâmetro. Acomete preferen- cialmente as regiões nasal, malar e auricular de adultos idosos (média de 70 anos). Cerca de um quarto dos casos ocorre no tronco ou extremida- des de indivíduos mais jovens. Esses tumores geral- mente são maiores e menos delimitados.5,47 O diag- nóstico diferencial é feito com os carcinomas espi- nocelular e basocelular, cisto epidermóide e granu- loma piogênico. Diagnóstico Histopatologicamente, o FXA é caracterizado por células bizarras distribuídas ao acaso, algumas vezes assumindo padrão fascicular ou estoriforme. As células são redondas ou fusiformes, multinucleadas, pleomórficas, apresentando numerosas mitoses típi- cas ou atípicas. Células inflamatórias podem estar pre- sentes. É raro observar-se necrose; entretanto, quando presente e significante, o diagnóstico de fibro-histioci- toma maligno deve ser fortemente considerado.5,47 O estudo imuno-histoquímico é útil na difícil distinção histológica entre o FXA, o carcinoma espi- nocelular fusiforme e o melanoma fusiforme. O FXA é habitualmente negativo para citoqueratinas, dife- renciando do carcinoma espinocelular fusiforme, e negativo para proteína S100, diferenciando do mela- noma fusocelular.48,30 Tratamento O tratamento do FXA é cirúrgico. Como o tumor pode estender-se ao tecido subcutâneo super- ficial, excisão com controle de margens é aconselhá- vel. Margem de 1cm, englobando tecido subcutâneo até a fáscia muscular, deve ser empregada caso não seja disponível o controle histológico das margens no momento da cirurgia.49 Prognóstico Metástases são raras. Fatores prognósticos rela- cionados com metástase incluem: maior profundida- de da invasão ou invasão de músculo esquelético pelo tumor primário, invasão vascular ou linfática, necrose tumoral ou recorrência.5,50 Outros fatores prognósticos desfavoráveis são irradiação prévia do local de origem do tumor e imunossupressão. LEIOMIOSSARCOMA Os leiomiossarcomas representam cerca de 7% de todos os sarcomas de partes moles. Mais comu- mente são de ocorrência intra-abdominal e retroperi- tonial. O leiomiossarcoma superficial é neoplasia rara, não perfazendo 3% dos sarcomas superficiais.51 Epidemiologia e PatogeniaQuando acometem a pele, esses tumores podem ser subdivididos em três categorias principais: cutâneo (dérmico), subcutâneo e secundário. A forma cutânea primária deriva dos músculos dos pêlos e glândulas sudoríparas; já o leiomiossarcoma subcutâ- neo deriva da camada muscular dos vasos. A diferen- ciação entre esses dois subtipos nem sempre é eviden- te. Entretanto, para fins prognósticos essa distinção é de extrema importância, pois o leiomiossarcoma cutâ- neo é considerado tumor agressivo apenas localmen- te, enquanto a forma subcutânea relaciona-se com maior tendência à metástase. O leiomiossarcoma cutâ- neo tem alto potencial de recorrência local (de 30 a 50%), não tendo sido publicado até o momento caso de metástase a distância. O leiomiossarcoma subcutâ- neo apresenta taxas de recorrências mais altas (de 50 a 70%) e possibilidade de metastatização.5,52 A maioria desses tumores (75%) é relatada em brancos, acometendo três vezes mais mulheres do que homens. Pode ocorrer em qualquer idade, com maior incidência entre 40 e 60 anos.52 Apresentação Clínica Os leiomiossarcomas superficiais podem ocor- rer em qualquer parte do corpo, com maior predile- ção pelos membros inferiores, principalmente coxa. De 50 a 75% das lesões ocorrem nos membros infe- riores, de 20 a 30 %, nos superiores, de 10 a 15%, no tronco, raramente afetando a face (de um a 5%).53,54 RevABDV81N3.qxd 12.06.06 10:12 Page 213 Apresentam-se clinicamente como nódulos solitários bem circunscritos, em geral de consistência macia, podendo ocasionalmente peduncular-se ou umbilicar-se. Menos freqüentemente apresentam-se multinodulares ou multifocais. A pele sobre o leio- miossarcoma cutâneo costuma ser eritematosa ou acastanhada e, na forma subcutânea, ter aspecto nor- mal. Os tumores dérmicos em geral se encontram aderidos à epiderme, enquanto os subcutâneos são móveis. Ulceração sem ou com crostas associa-se mais freqüentemente às formas cutâneas. Os tumores cutâ- neos são menores, não ultrapassando dois centíme- tros, e crescem mais lentamente do que os subcutâ- neos. Dor à compressão é sintoma relatado por per- centual que varia de 80 a 95% dos pacientes. Prurido, parestesia e sangramento também são freqüentes. O diagnóstico diferencial deve ser feito com o dermato- fibroma, lipoma, neurofibroma, cisto epidermóide, carcinoma basocelular, carcinoma espinocelular e papiloma benigno.51,52 Diagnóstico Os leiomiossarcomas cutâneos são sarcomas moderadamente ou bem diferenciados que se origi- nam na derme e tendem a se estender ao tecido celu- lar subcutâneo. São compostos classicamente por fei- xes de músculo liso com células fusiformes apresen- tando núcleo volumoso e alongado (“em charuto”). As áreas bem diferenciadas do tumor mostram maior concentração dessas células, enquanto áreas menos diferenciadas mostram células com núcleos mais irre- gulares, anaplásicas e células gigantes atípicas com núcleos bizarros.52-55 As formas subcutâneas são geral- mente mais circunscritas e delimitadas por anel de fibras colágenas comprimidas.30,55 Ao exame histopato- lógico, é necessário identificar mais de uma mitose por campo e anaplasia de células de músculo liso para estabelecer o diagnóstico. As bandas de músculo liso podem ser identificadas com a coloração de tri- cromo de Masson.30,53 Histopatologicamente, o diag- nóstico diferencial inclui fibrossarcoma, neurofibros- sarcoma, fibro-histiocitoma maligno, neurilemoma, fibroxantoma atípico e dermatofibrossarcoma.23,54 Os leiomiossarcomas expressam, em sua totali- dade, desmina e vimentina, e freqüentemente actina muscular. As formas cutâneas apresentam expressão difusa da proteína S100. A actina de músculo liso é tida por alguns autores como o marcador imuno-his- toquímico mais sensível para diferenciação muscular lisa.53,56 Tratamento O tratamento do leiomiossarcoma superficial é a excisão ampla, com margens laterais variando de três a 5cm, e profunda, incluindo tecido subcutâneo até a fáscia.52,54 Excisão local sem margens adequadas leva a recidivas, que tendem a ser mais agressivas com envolvimento de estruturas mais profundas e maior risco de metástase. A cirurgia micrográfica de Mohs tem sido usada com sucesso para o tratamento de casos de leiomios- sarcoma, obtendo menores taxas de recorrência com maior preservação tecidual.47 Prognóstico O leiomiossarcoma, assim como outros sarco- mas quando restritos aos tecidos superficiais, não é tumor agressivo e está associado com baixa mortali- dade. Contudo, taxa de 25% de mortalidade é relata- da, embora amplamente atribuída ao leiomiossarco- ma subcutâneo.54,55 A taxa de recorrência local é de cerca de 30% para os tumores dérmicos e de 50% para os tumores subcutâneos. Nas formas subcutâneas, 30% dos pacientes apresentam metástases. Ainda é questão controversa a capacidade metastatizante dos leio- miossarcomas dérmicos.55 LIPOSSARCOMA Trata-se do sarcoma de partes moles mais comum do adulto; sua apresentação superficial, entretanto, é rara.57 Epidemiologia e Patogenia A classificação mais recente da OMS para tumo- res de partes moles reconhece cinco categorias de lipossarcoma: bem diferenciado (lipoma atípico), indiferenciado, mixóide, de células redondas e pleo- mórfico.57-59 A biologia molecular e a citogenética têm cola- borado para melhor categorização das neoplasias mesenquimais. Têm sido demonstradas alterações cariotípicas características em determinados lipomas e lipossarcomas.60 Apresentação Clínica A maioria dos casos de lipossarcomas superfi- ciais origina-se no tecido celular subcutâneo, apre- sentando-se como nódulo com consistência e densi- dade de gordura, geralmente não aderido aos planos superficiais.58 Apesar de raro, esse tumor pode ter ori- gem dérmica primária (aproximadamente 1%) com tendência para crescimento exofítico, apresentando- se como lesão polipóide ou pedunculada.57 Diagnóstico Os casos de lipossarcoma que acometem o subcutâneo são com freqüência do subtipo lipoma- símile (lipoma atípico). Morfologicamente são com- postos sobretudo por adipócitos maduros, com varia- 214 Fleury LFF Jr, Sanches JA Jr. An Bras Dermatol. 2006;81(3):207-21. RevABDV81N3.qxd 12.06.06 10:12 Page 214 ção de forma e tamanho dessas células e presença de estroma com células de núcleos hipercromáticos e atípicos com ou sem presença de lipoblastos.57,58 As expressões lipoma atípico e lipossarcoma bem dife- renciado devem ser consideradas morfologicamente sinônimas. A escolha de uma delas baseia-se pura- mente na localização tumoral, se superficial ou pro- funda, e não em critérios histológicos. A OMS preco- niza que a denominação lipoma atípico seja usada apenas para tumores subcutâneos, que exibem baixa morbidade e potencial de indiferenciação quase ine- xistente, mas recomenda a manutenção da expressão lipossarcoma bem diferenciado para lesões profun- das.59,61 Tratamento A maioria das lesões cutâneas e subcutâneas de lipossarcoma é passível de tratamento cirúrgico com excisão completa da lesão.62 O papel da radioterapia para tratamento das lesões profundas é bem estabelecido. Sua importân- cia no tratamento do lipossarcoma cutâneo ou subcu- tâneo está restrita aos casos de lesões inoperáveis.5 Prognóstico As lesões de lipossarcoma bem diferencia- do/lipoma atípico apresentam excelente prognóstico, com baixas taxas de recorrência local e ausência de relatos de metástase a distância.58,61 Mesmo quando apresentam características morfológicas de alto grau, o lipossarcoma cutâneo apresenta melhor prognóstico quando comparado com as lesões profundas. Recidiva local pode ocorrer, porém metástases a distância são extremamente raras. Apesar do bom prognóstico, devido à pequena casuística, os pacientes com lipossarcoma cutâneo devem ser seguidos por longo período de tempo.57 TUMOR MALIGNO DE BAINHA DE NERVO PERIFÉRICO O tumor maligno de bainha neural periférica (TMBNP) é sarcoma que se origina em nervo periféri- co ou em neurofibroma.62 Tumor raro, costuma desenvolver-se nos tecidos mais profundos de partesmoles. Apresenta geralmente comportamento agres- sivo com taxa de mortalidade de cerca de 50%.63 Várias expressões têm sido usadas para deno- miná-lo, como schwanoma maligno, neurofibrossar- coma, sarcoma neurogênico e neurofibroma malig- no.64 Epidemiologia e Patogenia Cerca da metade desses tumores desenvolve-se de neurofibromas em pacientes com ou sem neurofi- bromatose tipo I (doença de von Recklinghausen). Entretanto, menos de 5% dos portadores de neurofi- bromatose tipo I (NF tipo 1) desenvolvem TMBNP. Análises de genética molecular sugerem que o NF1, o produto do gene implicado na patogênese da neurofibromatose tipo I, é um gen supressor de tumor cuja inativação pode contribuir na patogênese das neoplasias neurais associadas ao NF tipo I.65 Apresentação Clínica Assim como outras variantes cutâneas dos sarco- mas de partes moles, o TMBPN cutâneo é extremamen- te raro quando comparado com a forma profunda clás- sica. Os TMBPNs cutâneos que se originam em pacien- tes com ou sem NF tipo 1 são tumores com propensão de recorrência local, ainda que com menor tendência à metastastatização. Os TMBPNs cutâneos acometem mais freqüentemente indivíduos adultos entre 20 e 50 anos. Nos pacientes com NF tipo I, esses tumores apre- sentam-se mais precocemente, com média de idade de 30 anos.55 Acometem tronco e segmento cefálico, ape- sar de poder desenvolverem-se em qualquer região cor- poral.66 Quando não relacionados a neurofibromas, com mais freqüência surgem de nervos periféricos do tronco.55 Clinicamente são nódulos subcutâneos de crescimento lento, em geral observados meses antes da confirmação diagnóstica. Dor é sintoma variável, sendo mais prevalente nos pacientes com NF tipo I. Relato de dor ou de crescimento de neurofibromas preexistentes pode ser indicativo de malignização.62 Diagnóstico Ao exame histológico o tumor apresenta-se em geral como neoplasia de células fusiformes de padrão infiltrativo e destrutivo, composto predominante- mente por feixes de células fusiformes, com citoplas- ma claro e núcleo ondulado. Mostra variações focais na densidade celular com áreas hipocelulares mixói- des, alternando com áreas mais celulares, principal- mente perivasculares. Mitoses são raras, e necrose tumoral é comum. Quando apresenta diferenciação rabdomiossarcomatosa focal é denominado tumor de Triton maligno.55,62 A análise imuno-histoquímica é útil para o diagnóstico diferencial entre os tumores de células fusiformes. Positividade para a proteína S-100 é observada em percentual que varia de 50 a 90% apro- ximadamente dos TMBNPs.5 O diagnóstico diferencial do TMBNP cutâneo é estabelecido com schwannoma celular, melanoma desmoplásico e sarcomas metastáticos. Nos casos cutâneos o principal desafio diagnóstico relaciona-se ao melanoma desmoplásico (neurotrópico), e a con- firmação diagnóstica demanda evidência de diferen- ciação neural e exclusão de diferenciação melanocíti- ca, o que a rigor só pode ser realizado por microsco- Sarcomas cutâneos primários 215 An Bras Dermatol. 2006;81(3):207-21. RevABDV81N3.qxd 12.06.06 10:12 Page 215 pia eletrônica (ausência de melanossomos e presença de elementos compatíveis com diferenciação neu- ral).62 Na ausência desse método, características histo- lógicas e imuno-histoquímicas, como ausência de proliferação melanocítica intra-epidérmica e negativi- dade para marcação com HMB-45, podem sugerir o diagnóstico de TMBNP cutâneo.5,63 Tratamento Apesar de os casos de TMBNP da pele apresen- tarem comportamento clínico benigno, esses tumo- res devem ser excisados com margens amplas e pro- fundas, atingindo a fáscia, posto que possuem alto potencial de recidiva local. As recidivas geralmente apresentam-se com piora do grau histológico ou como lesões maiores e mais profundas.62,63 Prognóstico O TMBNP cutâneo tem melhor prognóstico quando comparado a sua forma profunda, entretanto cerca de 40% deles recorrem localmente. Metástases, apesar de raras, são descritas. Tumores associados ao NF tipo I têm pior prognóstico, provavelmente por serem maiores e mais profundos.62,63,67 SARCOMA EPITELIÓIDE É o sarcoma mais comum das extremidades distais (mãos e punhos). Foi caracterizado como enti- dade clinicopatológica distinta apenas em 1970 quan- do Enzinger o descreveu como um sarcoma simulan- do granuloma ou carcinoma.68,69 Epidemiologia e Patogenia Sua origem geralmente é dérmica ou subcutâ- nea, podendo também originar-se na fáscia profunda ou no tecido teno-sinovial. Dados referentes às altera- ções genômicas no sarcoma epitelióide são escassos. Estudos sugerem que alterações nos cromossomos 8 e 22 podem desempenhar papel na gênese desse tumor.70,71 Apresentação Clínica Apresenta-se como nódulo indolor de cresci- mento lento localizado, habitualmente nas extremi- dades distais de adultos jovens, embora haja descri- ção de casos acometendo crianças e idosos (Figura 7). Apesar de crescer lentamente, pode ser tumor extre- mamente agressivo com curso clínico caracterizado por taxas elevadas de recorrência local e potencial metastático, principalmente para linfonodos e pul- mões.69,71 Diagnóstico A forma clássica é constituída por células epi- telióides pleomórficas e células fusiformes organiza- das em agregados nodulares que freqüentemente exibem necrose central68 (Figura 8). A aparência microscópica de alguns casos de sarcoma epitelióide clássico assemelha-se a processo granulomatoso benigno. Mais recentemente outras variantes histo- lógicas menos comuns do tumor foram descritas. Esses subtipos incluem o “tipo proximal” ou sarco- ma epitelióide rabidóide/grandes células, a variante “fibroma- símile” e a variante sarcoma epitelióide angiomatóide.71-73 Devido a sua característica de tumor mesenqui- mal com fenótipo epitelióide, imuno-histoquimica- mente o sarcoma epitelióide reage a ampla gama de anticorpos epiteliais, como citoqueratinas e antígeno de membrana epitelial (EMA) (Figura 9), e mesenqui- mais, como vimentina e CD 34.71 216 Fleury LFF Jr, Sanches JA Jr. An Bras Dermatol. 2006;81(3):207-21. FIGURA 8: Sarcoma epitelióide. Neoplasia constituída por células epitelióides atípicas organizadas em torno de área de necrose geográfica (HE 100x) FIGURA 7: Sarcoma epitelióide. Nódulo solitário palmar RevABDV81N3.qxd 12.06.06 10:12 Page 216 Sarcomas cutâneos primários 217 An Bras Dermatol. 2006;81(3):207-21. Tratamento Excisão radical com margens amplas é a terapia de escolha para esse tumor, podendo ser acompanha- da de quimioterapia ou radioterapia adjuvante. A uti- lização de amplas margens de ressecção demonstra menor taxa de recidiva local; entretanto, não existe relação significativa entre margens cirúrgicas e proba- bilidade de metástase.69,71 Prognóstico As taxas de recorrência local e mestastatização são de 40% e 50% respectivamente. O local mais fre- qüente de envolvimento metastático é a região pul- monar, seguida por linfonodos e cérebro.69,71 CONCLUSÃO Sarcomas cutâneos são tumores raros, e os der- matologistas são os profissionais que têm a oportuni- dade de fazer um diagnóstico mais precoce dessas neoplasias, melhorando suas taxas de cura. É de fun- damental importância que o dermatologista aprenda a reconhecer esses tumores. O tratamento inicial bem selecionado e conduzido, sobretudo do ponto de vista cirúrgico, baseando-se no diagnóstico e estadia- mento corretos, é extremamente importante para o prognóstico dos pacientes. A condução dos casos deve ser realizada por equipe multidisciplinar envol- vendo dermatologistas, patologistas, clínicos e cirur- giões oncologistas, cirurgiões plásticos e radiotera- peutas. Em futuro próximo, investigações molecula- res e citogenéticas auxiliarão na classificação dessas neoplasias permitindo individualização diagnóstica e terapêutica mais acurada. � FIGURA 9: Sarcoma epitelióide. Positividade para o antígeno de membrana epitelial (EMA) na superfície das células neoplásicas (IHQ 400x) REFERÊNCIAS 1. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer (INCA). Câncerno Brasil. Dados dos registros de base populacional. [acesso 12 mar 2006] Disponível em: http://www.inca.gov.br/regpop/2003. 2. Glenn Jerry. Overview of soft tissue sarcomas. In: Miller SJ, Maloney ME. Cutaneous oncology: pathophysiology, diagnosis and management. Malden (MA): Blackwell Science; 1998. p.816-21. 3. Demetrius RW, Randle HW. High-risk non-melanoma skin cancer. 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Qual alternativa melhor relata a apresentação usual do fibroxantoma atípico: a) paciente com 50 anos, do sexo masculino, apresentando nódulo no dorso, de aproximada- mente 3cm, semelhante a quelóide b) paciente com 65 anos, do sexo feminino, apre- sentando nódulo no dorso nasal, de aproximada- mente 1cm c) paciente com 65 anos, do sexo masculino, apre- sentando placa violácea ulcerada no couro cabelu- do, com aproximadamente 6cm d) paciente com 50 anos, do sexo feminino, apre- sentando nódulo violáceo no membro superior direito, ipsilateral à mastectomia 11. Qual alternativa representa característica imuno- histoquímica do dermatofibroma útil na distinção com o DFSP? a) CD34 + S100 – b) CD34 + fator XIIIa – c) CD34 - S100+ d) CD34 - fator XIIIa+ 12. Segundo a literatura atual, qual a melhor opção terapêutica para o dermatofibrossarcoma? a) Cirurgia com margens amplas (> 3cm) b) Cirurgia associada à radioterapia c) Cirurgia micrográfica d) Inibidor de tirosina-quinase (Imatinib) 13. Os casos de lipossarcoma que acometem o sub- cutâneo são do tipo a) mixóide b) pleomórfico c) bem diferenciado/lipoma-símile d) de células redondas Questões e resultados das questões 1. O dermatofibrossarcoma protuberante habitual- mente localiza-se: a) na cabeça e no pescoço b) nas extremidades distais c) no períneo d) no tronco 2. Qual sarcoma pode desenvolver-se a partir de uma lesão benigna? a) Dermatofibrossarcoma b) Tumor maligno de bainha de nervo periférico c) Angiossarcoma d) Sarcoma epitelióide 3. Qual lesão apresenta maior semelhança clínica com o DFSP? a) Queratoacantoma b) Quelóide c) Micose fungóide d) Lipoma 4. Quanto ao prognóstico do DFSP, esperam-se geral- mente: a) recorrências locais freqüentes evoluindo com metástase para linfonodos b) recorrências locais freqüentes raramente evoluindo com metástases c) recorrências locais freqüentes com a maioria dos pacientes evoluindo para óbito por metátases hematogênicas para pulmões e ossos da pelve d) recorrências locais infreqüentes e metástases raras 5. O fibroxantoma atípico (FXA) afeta mais freqüente- mente qual grupo etário? a) 0 a 15 anos b) 15 a 30 anos c) 25 a 50 anos d) > que 50 anos 6. Qual sarcoma faz diagnóstico diferencial com o FXA? a) Sarcoma eptelióide b) Mixofibrossarcoma c) Fibro-histiocitoma maligno d) Fibrossarcoma 7. Qual a principal localização do angiossarcoma? a) Cabeça e pescoço b) Membro superior com linfedema crônico c) Membros inferiores d) Tórax RevABDV81N3.qxd 12.06.06 10:12 Page 220 Sarcomas cutâneos primários 221 An Bras Dermatol. 2006;81(3):207-21. 14. De hábito, o lipossarcoma apresenta-se clinica- mente como: a) nódulo subcutâneo aderido à derme ulcerando-se freqüentemente b) nódulo subcutâneo não aderido aos planos superficiais c) nódulo cutâneo em área fotoexposta d) nódulo dérmico exofítico polipóide ou pedunculado 15. Qual a localização preferencial dos leiomiossarcomas? a) Membros inferiores b) Face c) Membros superiores d) Tronco 16. Qual destes tumores apresenta melhor prognóstico? a) Leiomiossarcoma de músculo profundo afetando a pele por extensão b) Leiomiossarcoma dérmico c) Leiomiossarcoma subcutâneo d) Rabdomiossarcoma 17. Qual grupo de pacientes têm maior propensão para o desenvolvimento de sarcoma do tipo tumor maligno de bainha de nervo periférico (TMBNP)? a) Pacientes com xeroderma pigmentoso b) Pacientes com síndrome de Rothmund Thomson c) Pacientes com síndrome de Gorlin d) Pacientes com doença de Von Recklinghausen 18. Células tumorais organizadas em fascículos irreg- ulares entrelaçados resultando em padrão estori- forme com algumas áreas apresentando aspecto de “roda de carroça” ou “redemoinho”. Essa descrição histológica refere-se ao: a) DFSP b) sarcoma epitelióide c) fibrossarcoma d) angiossarcoma 19. Quanto ao sarcoma epitelióide, é correto afirmar: a) asrecorrências são freqüentes, porém ele apresenta baixo potencial para metátases b) é tumor agressivo que acomete o couro cabeludo de homens idosos c) seu crescimento é lento, podendo originar-se de neurofibroma d) tem alto potencial de recorrência e metástase, acometendo extremidades distais do adulto jovem 20. O diagnóstico diferencial histológico do sarcoma epitelióide pode ser feito com: a) dermatofibroma b) neurofibroma c) granuloma anular d) carcinoma basocelular GABARITO 1. b 2. d 3. c 4. d 5. b 6. d 7. a 8. c 9. c 10. d 11. b 12. c 13. a 14. c 15. b 16. c 17. b 18. c 19. d 20. b Sífilis: diagnóstico, tratamento e controle. An Bras Dermatol. 2006;81(2):111-126. Como citar este artigo: Fleury LFF Jr, Sanches JA Jr. Sarcomas cutâneos primários. An Bras Dermatol. 2006;81(3):207-21. RevABDV81N3.qxd 12.06.06 10:12 Page 221