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Livro Eletrônico Aula 02 História Mundial p/ CACD 2018 (Primeira Fase) Diogo D´angelo, Pedro Henrique Soares Santos 18888189807 - Caio Danilo Sales Pヴラaく Dキラェラ Dげ;ミェWノラ W PWSヴラ “ラ;ヴWゲ Aula 02 Revoluções industriais e doutrinas sociais www.estrategiaconcursos.com.br 1 Sumário Apresentação .................................................................................................................... 2 Revoluções Industriais ....................................................................................................... 3 A Primeira revolução Industrial e o protagonismo inglês: ferro, carvão e lã................................................. 3 A Segunda Revolução Industrial: da locomotiva a vapor ao capitalismo organizado ................................... 5 O liberalismo: a polissemia de um conceito ....................................................................... 9 O liberalismo econômico e a Fisiocracia ........................................................................................................ 9 Liberalismo político ................................................................................................................................... 13 A crítica ao Capitalismo organizado: socialistas, marxistas e anarquistas ......................... 14 Os socialistas utópicos ................................................................................................................................. 14 O marxismo de Karl Marx............................................................................................................................. 21 A terceira via: a Doutrina Social da Igreja Católica ..................................................................................... 29 Exercícios apresentados ................................................................................................... 41 Livro Digital 18888189807 - Caio Danilo Sales Pヴラaく Dキラェラ Dげ;ミェWノラ W PWSヴラ “ラ;ヴWゲ Aula 02 Revoluções industriais e doutrinas sociais www.estrategiaconcursos.com.br 2 Apresentação Saudações caro aluno! É com muita satisfação que apresentamos mais uma de nossas aulas a você! Continuando nosso cronograma, apresentaremos agora nosso texto sobre as revoluções industriais e as ideias econômicas e políticas do século XIX: o liberalismo e o socialismo. A aula será organizada da seguinte forma: apresentaremos os principais desenvolvimentos das revoluções industriais e do capitalismo do século XIX, em seguida, abordarmos o liberalismo dos pontos de vista político e econômico para, então, avançarmos para as ideias de esquerda に marxismo e anarquismo. Depois passaremos para a resolução de questões. Todo vapor à frente! 18888189807 - Caio Danilo Sales Pヴラaく Dキラェラ Dげ;ミェWノラ W PWSヴラ “ラ;ヴWゲ Aula 02 Revoluções industriais e doutrinas sociais www.estrategiaconcursos.com.br 3 Revoluções Industriais A Primeira revolução Industrial e o protagonismo inglês: ferro, carvão e lã Entre a segunda metade do século XVIII (a partir de aproximadamente 1760) e a primeira metade do século XIX a produção manufatureira tradicional de tecidos (como o próprio nome diz, à base do trabalho 100% artesanal) foi radicalmente eclipsada, em um par de poucos anos, por algo fundamentalmente mais inovador: o aparecimento de máquinas de tear mecânicas, permitindo que poucos tecelões fossem capazes de produzir linhos de alta qualidade no lugar de dezenas. Particularmente importante para o estopim dessas mudanças foram os industriais britânicos. Não por uma capacidade inventiva peculiar em relação a outros povos, visto que alguns desses, como os próprios franceses, segundo Eric Hobsbawm, possuíam tecnologias mais avançadas do que suas contemporâneas inglesas1. Nem ainda por uma cultura letrada avançada, posto que, igualmente, alguns de seus vizinhos continentais possuíam escolas e universidades de melhor qualidade do que aquelas encontradas em solo britânico. Por quê, portanto, o protagonismo inglês? A resposta para este questionamento reside na história política da Inglaterra. Menos de um século antes do tear mecânico ou da primeira máquina à vapor ganharem vida em galpões improvisados das pequenas e pacatas cidades inglesas, a ilha britânica fora sacudida por ventos revolucionários. Entre 1640 e 1688 desenrolou-se na Inglaterra um agitado contexto de guerras entre diferentes grupos políticos, sob pretextos e com objetivos claramente diversos, que desencadearam o despertar de uma nova e igualmente ヴW┗ラノ┌Iキラミ=ヴキ;à aラヴマ;àSWàェラ┗WヴミラàWマàゲ┌;à┎ノデキマ;à a;ゲWがà IラミエWIキS;àIラマラàさRW┗ラノ┌N?ラàGノラヴキラゲ;ざà ふヱヶΒΒ-89): a monarquia parlamentar. Baseados na premissa de que o monarca não poderia, sozinho, continuar a guiar o interesse público mediante a sua exclusiva vontade, pouco-a-pouco, ao longo do século XVII, o Parlamento inglês assumiu a liderança governamental, centrando-a sobre seus membros. Guilherme III, que ascendeu ao trono depois da Revolução Gloriosa, enterrou de vez o gérmen do absolutismo monárquico britânico ao assinar a Declaração de Direitos (Bill of Rights). Muitos dos envolvidos diretamente ミラàWゲデラヮキマàS;àRW┗ラノ┌N?ラàIミェノWゲ;àWàミ;àさ┗キデルヴキ;ざàSラàP;ヴノ;マWミデラàWゲデ;┗;マà SキヴWデ;マWミデWà ノキェ;Sラゲà ;ラゲà ゲWデラヴWゲà エキゲデラヴキI;マWミデWà SWミラマキミ;Sラゲà SWà さH┌ヴェ┌Wゲキ;ゲざ2, em suma, banqueiros, capitães mercantes, donos de fábricas, produtores rurais da pequena nobreza (gentry) etc. Muitos de seus 1 HOBSBAWM, Eric. J. A Era das Revoluções. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2009, pág, 38. 2 áàデWヴマキミラノラェキ;àさH┌ヴェ┌Wゲキ;ざàWマàヴWaWヴZミIキ;à;ラゲàゲWデラヴWゲàSキヴWデ;マWミデWàノキェ;Sラゲà<àヮヴラS┌N?ラàキミS┌ゲデヴキ;ノàWàIラミI;デWミ;SラゲàIラマà;à liderança do sistema capitalista será aqui utilizado em concordância com parcela significante da historiografia tradicional de linha marxista, referencial para o certame. 18888189807 - Caio Danilo Sales Pヴラaく Dキラェラ Dげ;ミェWノラ W PWSヴラ “ラ;ヴWゲ Aula 02 Revoluções industriais e doutrinas sociais www.estrategiaconcursos.com.br 4 membros estiveram ligados aos puritanos, grupo religioso de base calvinista que primeiro se revoltou contra Carlos I no início do período revolucionário. Este é um ponto importante de se salientar, visto que serão essas mesmas burguesias as responsáveis pela condução, ao lado de uma nobreza em franca transformação, das novas políticas econômicas inglesas (e as principais interessadas na modernização da produção de itens em seu país). O século XVIII será, conforme Hobsbawm, o século do fortalecimento de uma original consciência burguesa sobre a sociedade inglesa, transformando honra e terras, os maiores bens de outrora, em valores menores perante a ascensão do capital (dinheiro) e do lucro. Gerar lucro, portanto, tornou-se a nova meta dos ricos britânicos (ainda que a nobreza tradicional, ao menos em sua cultura e consciência, tenha permanecido avessa à cultura da excessiva valorização do lucro). Para se aumentar os lucros era necessário que, primeiramente, se expandisse a produção. A expansão da produção se deu por meio de um processo violento conhecido como os Cercamentos que ocorreram do século XVII ao XVIII. Esse processo resultou no empobrecimento do campesinato que, buscando melhores condições de vida, saiu do campo e se dirigiu aos centros urbanos. Nesses locais, formaram uma massa de trabalhadores disponíveis para as manufaturas que estavam em plena fase de crescimento. O apogeu da indústria têxtil se daria durante a primeira metade do século XIX, graças à inserção da economia britânica ao redor do mundo mediante os conhecidos Tratado desiguais (dos quais tratamos no PDF de Neocolonialismo e Imperialismo) e por seu flagrante protagonismo diplomático sobre os interesses europeus após a queda de Napoleão Bonaparte e a definição do Concerto de Viena. Os ingleses, fosse por temperamentoparticular, fosse por necessidade pragmática, levavam em seus navios não somente caixas de tecidos e roupas manufaturadas, mas também os seus costumes, ideias e cultura. E seu capital! A partir de 1830, o movimento industrial iniciado pelos ingleses (e do qual permaneceria como líder até a Primeira Guerra Mundial) se expandiu para a Europa Continental e, atravessando o Atlântico, aportou nos Estados Unidos da América, território historicamente orgulhoso de sua cultura de liberdade econômica e protagonismo comercial, e ali prosperou. Na Europa, os principais focos de industrialização estiveram, assim como na Inglaterra, umbilicalmente ligados às zonas de extração de carvão (principal fonte de energia deste século) e de ferro (matéria-prima essencial para a produção de maquinário pesado) conhecidas. Dentre elas se destacaram o norte da França e o sul da Bélgica, na região do rio Sambre, que marca a divisa destes dois países, e o vale do Ruhr, na então Confederação Germânica. Igualmente se desenvolveram, em decorrência da produção industrial daquelas regiões acima mencionadas, as grandes zonas portuárias europeias, como os portos de Hamburgo e Bremen (Alemanha), Roterdã (atual Holanda) e Le Havre e Marselha (respectivamente localizados na Normandia e na Provença). 18888189807 - Caio Danilo Sales Pヴラaく Dキラェラ Dげ;ミェWノラ W PWSヴラ “ラ;ヴWゲ Aula 02 Revoluções industriais e doutrinas sociais www.estrategiaconcursos.com.br 5 Figura 1. Tear Mecânico do Século XVIII Demonstra-se assim a dinamicidade da produção industrial e dos capitais dela decorrentes, pois para que uma indústria viesse à luz eram necessários larga quantidade de ferro e outras matérias-primas de construção e um enorme contingente de trabalhadores braçais. Outrossim, a produção per si de nada valia se não houvesse compradores, e o caminho percorrido por uma camisa de lã a partir das fábricas têxteis do Ruhr, Lódz (Polônia) ou Moscou (Rússia) rumo à casa de um nobre português, por exemplo, era longo e árduo, necessitando de vias de escoamento rápidas e eficientes (time is money!) até os portos europeus. Como sabemos, a necessidade anda de mãos dadas com a ciência, o que há época, e para esse problema em específico (um veículo rápido e eficiente que servisse para o transporte de grande quantidade de mercadorias de um ponto A a B), significou o aparecimento da locomotiva a vapor e o estopim da Segunda Revolução Industrial. A Segunda Revolução Industrial: da locomotiva a vapor ao capitalismo organizado As primeiras locomotivas a vapor surgiram na Inglaterra já por volta de 1812. A lógica destas máquinas é bastante singela: um veículo atrelado a trilhos no chão movido por um motor a vapor, cuja energia é gerada a partir da queima de carvão. Tal simplicidade material foi o responsável pela abertura de portas para uma nova realidade industrial, ainda mais dinâmica e revolucionária do que a fase anterior. O caro estudante poderá se questionar sobre a validade desta afirmação, indagando-se de que modo uma locomotiva a vapor é de tal forma revolucionária. Explicamos: não entrando nas minúcias da engenhosidade envolvida em torno da criação do motor a vapor (o que por si só revolucionou a produção industrial), 18888189807 - Caio Danilo Sales Pヴラaく Dキラェラ Dげ;ミェWノラ W PWSヴラ “ラ;ヴWゲ Aula 02 Revoluções industriais e doutrinas sociais www.estrategiaconcursos.com.br 6 reflitamos que, para o funcionamento objetivo da locomotiva, far-se-ia necessário três fatores básicos, o trilho (pelo qual se move); a estação (o posto voltado à coleta de mercadorias e pessoas, bem como para o reabastecimento de carvão e para pequenos reparos) e, obviamente, a locomotiva (isto é, os vagões per se). A fabricação destes itens demandava a produção de vários itens, o que incentivou ainda mais a produção industrial. A pré-fabricação demandaria, é claro, fábricas bem equipadas e mão-de-obra qualificada. Ademais, para garantir os custos da produção e os salários dos funcionários eram necessários capitais, que por sua vez ascenderiam de centros bancários (como a City de Londres). Percebeu a quantidade de atividades envolvidas em torno da construção de uma simples estrada de ferro, cujo simples objetivo é o transporte de uma enorme locomotiva de um ponto A a um ponto B? Podemos resumir esse pensamento em um simples axioma: さP;ヴ; ラミSW aラゲゲW ラ デヴWマが ヮ;ヴ; ノ= ゲWェ┌キヴキ; ラ I;ヮキデ;ノざ. A expansão das linhas férreas por toda a Europa continental manteve ocupado, na clássica colocação da historiografia marxista, os bancos e os capitais industriais europeus, pelo menos entre 1830 e 1850. Neste contexto de rápido desenvolvimento industrial, a sociedade europeia, já há muito em transformação, encontrou o seu clímax. No curso de menos de um século, famílias inteiras de camponeses haviam buscado refúgio e sustento junto às fábricas surgidas nas cidades europeias. Pode-se entrever, diante de tal cenário, o inchaço urbano e a inadequação dos locais de habitação, em sua maioria sujos cortiços (geralmente grandes e velhos casarões abarrotados de famílias pobres) ou ainda (se houvesse sorte) em vilarejos insalubres nos entornos das fábricas. Figura 2. Locomotiva a vapor A incapacidade de absorção das cidades face ao êxodo rural em movimento (algo que o Brasil somente conheceria a partir de 1950) foi acompanhada do despreparo de industriais e operários (a nova máscara do velho camponês) para lidar com esta nova realidade de trabalho. Em suas antigas terras, camponeses e familiares viviam conforme o tempo da natureza, acordando ao cantar do galo, ainda de madrugada, 18888189807 - Caio Danilo Sales Pヴラaく Dキラェラ Dげ;ミェWノラ W PWSヴラ “ラ;ヴWゲ Aula 02 Revoluções industriais e doutrinas sociais www.estrategiaconcursos.com.br 7 trabalhando junto às suas famílias até o pôr-do-sol, e depois se recolhendo com seus pares para o aconchego de seu lar, onde dormiriam ainda cedo, conforme a vida útil de suas velas e lamparinas. Contudo, nas fábricas, o tempo que comanda não é o da natureza, mas sim o do relógio mecânico. Leve-se em conta que, antes, a exposição solar (diferente em cada estação do ano europeu) era o indicativo do tempo a ゲWàデヴ;H;ノエ;ヴがàヮラヴYマがàSWミデヴラàSWà┌マ;àa=HヴキI;がàさゲWマヮヴWàYàdiaざくàN?ラàマ;キゲàラàゲラノàキミSキI;ヴ=àラàヴキデマラàSWàデヴ;H;ノエラがà mas sim o constante e infindável tique-taque do relógio. Assim, no auge da Revolução Industrial, era comum um operário ou um minerador permanecer em seu posto de trabalho (sob péssimas condições) por até 16 horas seguidas, de segunda à sábado. O aparecimento da luz elétrica no último quartel do XIX, a par dos magníficos avanços tecnológicos que inaugurou, apenas colaborou com este exaustivo ritmo de produção. Mas não podemos observar a história sob uma luneta monocromática, pois cabe lembrar que também para os industriais (patrões e chefes) cuidava-se de uma realidade completamente nova e sem precedentes. Cidades mal planejadas e inchadas; serviços públicos precários e/ou inexistentes; ritmos de trabalho exaustivos, fatores que andaram lado-a-lado com o constante progresso material e científico, a ponto de se acreditar que a utopia da paz universal estava a se aproximar (cunhando-se assim, de forma auto referencial o termo Belle Époque に さBWノ;àÉヮラI;ざぶàヮ;ヴ;àWゲゲWàIラミデW┝デラぎàキマヮラゲゲケ┗Wノàミ?ラàヮWミゲ;ヴマラゲàWマàOs Miseráveis de Victor Hugo; no Germinal de Émile Zola, no clássico do cinema mudo Tempos Modernos de autoria do genial Charles Chaplin, ou porque não até mesmo no Frankenstein de Mary Shelley, nas clássicas ficções de Júlio Verne, como Viagem ao Centro da Terra e Vinte Mil Léguas Submarinas, ou nos romances sociais de Jane Austen (Orgulho e Preconceito) ou, quem sabe, até mesmo o realismo artístico de Manet e Courbet ou o realismo em O Cortiço de Aluísio de Azevedo. 18888189807 - Caio Danilo Sales Pヴラaく Dキラェラ Dげ;ミェWノラ W PWSヴラ “ラ;ヴWゲ Aula 02Revoluções industriais e doutrinas sociais www.estrategiaconcursos.com.br 8 Figura 3. Operários europeus em meados do Século XIX O rápido avanço de capitais e o fortalecimento dos centros bancário europeus passaram a coordenar o ritmo dos aglomerados industriais do continente. Logo este pacto traria à luz um tipo diferente e quase autônomo de capitalismo: o financeiro. O esgotamento do mercado europeu, repleto de competição industrial, fez com que o capital financeiro europeu (em especial britânico, francês, holandês e alemão) buscasse novos rumos. A América se tornou o primeiro alvo (à exceção dos EUA, que andava muito bem por si só, sem necessitar de capitais estrangeiros), especialmente a partir da década de 1880, levando muitas de suas nações, a exemplo de Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Peru e Colômbia, dentre outros, a se inserirem plenamente à lógica do capitalismo internacional, basicamente como exportadores de matérias-primas (carne, café, alimentos, etc) e importadores de itens industriais europeus. Mais tarde esta situação fomentaria o argumento dos nacional- SWゲWミ┗ラノ┗キマWミデキゲデ;ゲà ふIラマàH;ゲWàミラゲà Wゲデ┌SラゲàS;àCWヮ;ノà ミラà >マHキデラàS;àONUぶà SWà ケ┌Wà Wゲゲ;à さノルェキI;àヮWヴ┗Wヴゲ;ざà supostamente imposta pelos europeus teria atrasado a industrialização dos países latino-americanos e, por consequência, retardado o desenvolvimento econômico da região (ignorando que este enriquecimento afetou positivamente, ainda que com óbvias nuances, todos os setores sociais envolvidos na produção das matérias-primas). O rápido desenvolvimento do capitalismo e os consequentes impactos por ele gerado sobre a espectro social foram objeto de estudo de diversos autores, tanto os defensores de suas benesses, quanto os ferozes críticos de seus impactos negativos. O desenvolvimento destas análises se deu de forma especial na segunda metade do XIX, a Belle Époque, graças ao avanço das ciências humanas, especialmente em torno da História, Sociologia e Economia. Vejamos algumas destas linhas de pensamento e reflexão do Capitalismo na próxima parte, das quais se deゲデ;I;マàラàノキHWヴ;ノキゲマラがàラゲàゲラIキ;ノキゲマラゲàさ┌デルヮキIラゲざがàラà;ミ;ヴケ┌キゲマラàWàラàマ;ヴ┝キゲマラく 18888189807 - Caio Danilo Sales Pヴラaく Dキラェラ Dげ;ミェWノラ W PWSヴラ “ラ;ヴWゲ Aula 02 Revoluções industriais e doutrinas sociais www.estrategiaconcursos.com.br 9 O liberalismo: a polissemia de um conceito áà ヮヴキマWキヴ;à ケ┌Wゲデ?ラà ゲラHヴWà ;à ケ┌;ノà SW┗Wマラゲà ミラゲà ;デWミデ;ヴà ゲラHヴWà ラà IラミIWキデラà SWà さノキHWヴ;ノキゲマラざà Yà ケ┌Wà WノWà Yà polissêmico, isto é, possui muito significados e ramificações diferentes. Num primeiro nível, é necessário distinguir duas ramificações: pode-ゲWàa;ノ;ヴàSWàさノキHWヴ;ノキゲマラàヮラノケデキIラざàWàSWàさノキHWヴ;ノキゲマラàWIラミレマキIラざがàラ┌àゲWテ;がà conjuntos de ideias políticas e conjuntos de ideias econômicas, que, embora ligadas por alguns aspectos em comum, têm diferenças entre elas e dentro delas. Vamos iniciar nosso aprofundamento a partir do liberalismo econômico e suas ramificações e posteriormente para o político. Fique atento, no entanto, para o fato de que, por vezes, os processos dos liberalismos são, por vezes, sincrônicos. O liberalismo econômico e a Fisiocracia No século XVIII, análises sobre as economias dos países europeus se tornaram cada vez mais complexas e sistemáticas que resultaram em teorias de muita importância para o século seguinte. Estas análises surgiram como respostas aos vários problemas dos diferentes Estados, resultando, portanto, em diversas interpretações. Programas de política econômica não eram novos, isto é, já havia existido outras pessoas que haviam pensado e tentado sistematizar os problemas que seus países enfrentavam, conforme suas situações específicas. A diferença agora era o número, o alcance e a conexão entre as áreas econômicas, resultando numa linha de pensamento organizada, em oposição à intuição empírica que caracterizava as políticas econômicas até aquele período histórico. Por mais incrível que nos possa soar atualmente, estas ideias econômicas se derivaram dos campos de especulação filosófica, qual seja, a da teologia. Era parte do pensamento teológico a noção de que havia no mundo uma ordem natural que se autorregulava に a Providência divina. Esta ação da Providência era sempre vista como benigna に já que advinda dos céus に e que levaria ao bem dos homens (lembremos da passagem S;àI;ヴデ;àSWà“くàP;┌ノラà;ラゲàRラマ;ミラゲがàI;ヮケデ┌ノラàΒがà┗WヴゲケI┌ノラàヲΒぎàさT┌SラàIララヮWヴ;àヮ;ヴ;àラàHWマàS;ケ┌WノWゲàケ┌Wà;マ;マà ;àDW┌ゲざぶくàD;àデWラノラェキ;がàWゲゲ;àIラミIWヮN?ラàSWàマ┌ミSラàマキェヴラ┌àヮ;ヴ;à;àヮラノケデキI;àに ajudando a moldar a ideia de que a composição da sociedade é inspirada numa ordem natural, que por sua vez é inspirada na ordem divina, inalcançável に e, por fim, para o mundo econômico に que até o século XVIII era quase inseparável do universo político. A noção de uma ordem natural que correlacionava todo o mundo era um poderoso estímulo para a investigação dos fenômenos físicos, sociais, políticos e econômicos, na medida em que realizar estas 18888189807 - Caio Danilo Sales Pヴラaく Dキラェラ Dげ;ミェWノラ W PWSヴラ “ラ;ヴWゲ Aula 02 Revoluções industriais e doutrinas sociais www.estrategiaconcursos.com.br 10 pesquisas seria conhecer mais e melhor a Providência divina e seus planos. Esta noção, somada às análises dos problemas particulares de cada país levou a trabalhos de generalização das atividades humanas, particularmente da economia. Esse movimento intelectual ocorreu a muitas pessoas ao mesmo tempo no mesmo momento histórico. Uma linha mestra que guiava a todos neste aspecto era o de que os vários fenômenos econômicos eram relacionadas e que as decisões tomadas pelos indivíduos tendiam a estabelecer padrões. A ênfase, no entanto, nesta autorregulação e como ela ocorria variou conforme os pensadores. Os pensadores mais sistemáticos e os únicos a formarem uma escola de pensamento foram os fisiocratas franceses. A Fisiocracia foi uma linha de pensamento que propunha que a agricultura seria a única área da economia que realmente criava riquezas. Partindo das considerações que fizemos acima, acreditavam que, caso as produções fossem deixadas por conta própria, elas tenderiam a crescer sempre に laissez faire, laissez passer, le monde va de lui-même,3 frase síntese do movimento. Os fisiocratas chegaram em suas formulações teóricas a partir da análise de dois problemas práticos da França: a agricultura estagnada e o problema fiscal da Coroa, que estavam correlacionados. Na França a agricultura era a única atividade financeira capaz de produzir uma receita líquida, isto é, uma receita que superava os custos de produção. Daí provinha a defesa apaixonada, pelos fisiocratas, de uma agricultura de larga escala livre em vez de pequenas propriedades produtoras. Por esta razão igualmente, eles queriam o fim das restrições de movimentação de pessoal e de trabalhadores dentro do país に que ainda era restrita pela servidão em algumas partes do país. Livre movimentação permitiria mais braços para trabalhar onde fosse necessário. Vale lembrar que estamos falando de um momento histórico em que não havia máquinas nos campo para plantar ou colher a produção. Logo, grandes produções implicavam muitas pessoas trabalhando. Esses pensadores também se mostravam favoráveis ao fim dos privilégios fiscais dos nobres e do clero tanto quanto os monopólios das guildas. Os privilégios fiscais porque estes faziam com que as receitas do Estado fossem inadequadas para manter suas atividades, forçando-o a manter esses mesmo privilégios e monópolios para se refinanciar に num círculo econômico negativo. Os monopólios das guildas, por sua vez, impediam a livre movimentação e a competição que permitiria menores preços e produtos de maior qualidade. Adam Smith, por sua vez, analisava outras questões quando escreveu suas obras, afinal, estava imerso no contexto econômico escocês e inglês e, portanto, enfrentando várias outras problemáticas. Smith, comofilósofo moral, estava preocupado に espante-se に com a questão das virtudes e a construção de uma sociedade moral. Todas as suas obras tinham isso por objetivo quando as escreveu. Sua primeira, e que foi ┌マàゲ┌IWゲゲラàノラェラàSWヮラキゲàSWàノ;ミN;S;がàaラキà;àさTWラヴキ;àSラゲà“WミデキマWミデラゲàMラヴ;キゲざくàNWノ;がàWノWàIラマヮヴWWミSキ;à┌マ;àゲYヴキWà de processos intrapessoais e interpessoais que exortavam os leitores a uma atitude mais virtuosa, que levasse a uma autorreflexão de seu próprio comportamento em relação a si mesmo e aos demais. 3 さDWキ┝;キàa;┣WヴがàSWキ┝;ヴàヮ;ゲゲ;ヴがàラàマ┌ミSラàI;マキミエ;àヮラヴàゲキàマWゲマラくざ 18888189807 - Caio Danilo Sales Pヴラaく Dキラェラ Dげ;ミェWノラ W PWSヴラ “ラ;ヴWゲ Aula 02 Revoluções industriais e doutrinas sociais www.estrategiaconcursos.com.br 11 OàラHテWデキ┗ラàSWà“マキデエàミ?ラàWヴ;àSキaWヴWミデWàケ┌;ミSラàWノWàWゲIヴW┗W┌àゲW┌àノキ┗ヴラàマ;キゲàIラミエWIキSラàエラテWがàさáàRキケ┌W┣;àS;ゲà N;NロWゲざくàNWゲデWàゲW┌àデヴ;デ;SラàゲラHヴWà;àヮヴラS┌N?ラàSWàヴキケ┌W┣;ゲがàWノWàa;┣à┌マ;àゲYヴキWàSWà;aキヴマ;NロWゲàケ┌WàゲW tornariam cânon décadas depois para os defensores de um Estado pequeno e pouco interventor na economia e na sociedade. Para Smith, o Estado deveria ater-se às atividades da economia que não despertavam a vontade dos indivíduos de investir e sobre aquelas vitais para a sociedade, a justiça e a segurança em particular. Todo o resto, e o comércio em particular, deveria ser liberalizado para ação dos indivíduos. Isto é, os monopólios existentes deveriam ser quebrados e abertos à competição. Figura 4. Adam Smith Mas o que isso tem a ver com a construção de uma sociedade mais virtuosa? Para Smith, os monopólios davam a alguns poucos um poder exagerado sobre grupos muito grandes. Para ser bem específico, e que era uma das maiores preocupações dele quando escreveu sua obra: a restrição e o monopólio sobre a importação de grãos, que prejudicava seriamente os mais pobres. Na medida em que o dono do monopólio poderia estabelecer arbitrariamente seus preços, ele tinha em suas mãos o destino de muitas pessoas. Para Smith isto permitia muito facilmente a corrupção das virtudes, ou seja, a produção de vícios, que causava malefícios ao conjunto da sociedade. A competição, por sua vez, levava a uma diminuição dos preços dos produtos, melhorando a vida dos mais pobres. Por outro lado, ela também exortaria os homens às virtudes. Como, você pode se perguntar? Se pensarmos que naquele momento histórico não havia o sistema de crédito que hoje possuímos に bancos bem organizados e estruturados em que se pode financiar facilmente uma empreita に era necessário que os homens que emprestavam dinheiro confiassem nas pessoas que iriam 18888189807 - Caio Danilo Sales Pヴラaく Dキラェラ Dげ;ミェWノラ W PWSヴラ “ラ;ヴWゲ Aula 02 Revoluções industriais e doutrinas sociais www.estrategiaconcursos.com.br 12 pegar dinheiro emprestado. Logo, um comerciante desse período に que enfrentava a competição por crédito さミ;àヮヴ;N;ざà に deveria se mostrar alguém virtuoso e confiável para conseguir entrar na competição. Uma questão específica que resultou numa análise complexa, não?4 Estes pensamentos foram desdobrados em outras regiões, conforme as problemáticas específicas, como foi o caso espanhol e italiano. Uma região que permaneceu mais ligado ao pensamento mercantilista foi a Alemanha, cujos principados mantiveram as políticas protecionistas e de incentivo às produções manufatureiras por mais tempo に um conjunto de ideias econômicas conhecido como Cameralismo. Em suma, c;ヴラà;ノ┌ミラがà;ゲàキSWキ;ゲàさノキHWヴ;キゲざàS;àWIラミラマキ;àゲ┌ヴェキヴ;マàミ┌マàIラミデW┝デラàSWàケ┌Wゲデキラミ;マWミデラàS;ゲàH;ゲWゲà do Antigo Regime. Analisando as situações de cada um de seus países, os diversos intelectuais do período alcançaram respostas próximas que, em geral, abalavam a base econômica do Antigo Regime に o protecionismo mercantilista com seus monopólios. Suas respostas para os problemas eram: acabar com os monopólios de produção e de comercialização de bens; retirar o Estado das áreas não-essenciais da economia; incentivar a competição; diminuir os impostos de importação; acabar com os privilégios fiscais das castas sociais; racionalizar o fisco estatal. Estas ideias não seriam imediatamente aceitas e postas em prática pelos governantes. Progressivamente, algumas dessas concepções seriam adotadas. Alguns dos liberais franceses chegaram ao poder durante o reinado de Luís XVI e tentariam implementar seu programa liberal, com pouco sucesso naquele momento histórico. Outras monarquias absolutas também realizariam algumas reformas pontuais antes da revolução francesa, que se intensificariam depois に como o Zollverein alemão. Se percebeu, mencionamos que monarquias absolutas に ou seja, sistemas políticos não-liberais に adotaram algumas medidas da agenda liberal na economia. Então, pラSWマラゲà IラミIノ┌キヴがà ケ┌Wà ;ゲà S┌;ゲà さa;IWゲざà Sラà liberalismo de que falamos antes podem existir separadamente に embora, nesse período, o liberalismo econômico acabaria, numa interpretação marxista da história, a implodir o edifício do Antigo Regime e a instaurar o liberalismo político. Passemos agora para o liberalismo político, seus principais autores e seus princípios. 4 SANTOS, P. H. S.くàさáS;マà“マキデエàWà;àゲラIキWS;SWàIラマWヴIキ;ノくざàEマàデWマヮラàSWàHキゲデルヴキ;àふSキェキデ;ノぶがà┗くàヲヶがàヮくàヲヵ-37, 2015. 18888189807 - Caio Danilo Sales Pヴラaく Dキラェラ Dげ;ミェWノラ W PWSヴラ “ラ;ヴWゲ Aula 02 Revoluções industriais e doutrinas sociais www.estrategiaconcursos.com.br 13 Liberalismo político OàIラミテ┌ミデラàSWàキSWキ;ゲàヮラノケデキI;ゲà;àケ┌WàIエ;マ;マラゲàSWàさノキHWヴ;ノキゲマラàヮラノケデキIラざàゲ┌ヴェキ┌àSWàIラミゲキSWヴ;NロWゲàSWà┗=ヴキラゲà ;┌デラヴWゲà;ラàノラミェラàSラàデWマヮラがàaラヴマ;ミSラàさI>ミラミWゲざàケ┌WàゲWヴキ;マà┌デキノキ┣;Sラゲàミ;àヮヴ=デキI;àS;ゲàキミゲデキデ┌キNロWゲàミラàゲYI┌ノラà XIX. OàIエ;マ;Sラàさヮ;キàSラàノキHWヴ;ノキゲマラざàaラキàJラエn Locke. Ele viveu no século XVII e estava vivo quando da Revolução Gloriosa na Inglaterra. Seus principais textos foram reflexões sobre a natureza do governo civil, isto é, uma teoria do porquê do surgimento dos governos. Para ele, os governos vieram a surgir para guardar e proteger as propriedades dos indivíduos. Sendo assim, o Estado deveria ser responsável somente pela segurança dos povos, evitando agir em qualquer outra área da sociedade. Isto implicava, limitar drasticamente os poderes dos soberanos, garantindo os direitos dos indivíduos e proprietários. Figura 5. John Locke Outro autor significativo para a criação desse core de ideias do liberalismo foi Montesquieu, filósofo iluminista francês. Sua ideia mais importante seria aquela da separação dos poderes, ou seja, de que os poderes do Estado に de executar, de legislar e de julgar に deveriam ser separados da figura do soberano que, na sua época, acumulava-os todos. Essa concepção dos poderes do Estado teria um imenso impacto sobre os países ocidentais depois da Revolução Francesa e seria, sem dúvida, uma das mais importantes e práticas noções sobre política. 18888189807 - Caio Danilo Sales Pヴラaく Dキラェラ Dげ;ミェWノラ W PWSヴラ “ラ;ヴWゲ Aula 02 Revoluções industriais e doutrinas sociais www.estrategiaconcursos.com.br 14 Em terceiro lugar, podemos ainda elencar as contribuições de Benjamin Constant para encorpar o ideário liberal. Para Constant, para além da divisão de poderes e da restrição da atuação do governo em relação aos indivíduos, os governos deveriam ser representativos, ou melhor, deveriam ser conduzidos por pessoas que representassem a população. Constant acreditava que o modelo de democracia direta tal qual criado na Grécia já não era possível pela dimensão dos países, a quantidade de pessoas/eleitores e pelas características mesmas das novas economias, que não permitiam uma dedicação exclusiva à política. Assim sendo, seria necessário que o povo に eミデWミSWミSラàさヮラ┗ラざàIラマラà;ケ┌WノWゲàケ┌WàSWデキミエ;マàラゲàSキヴWキデラゲàヮラノケデキIラゲàに elegesse um grupo de pessoas que pudesse representar a vontade nacionalnuma Assembleia e decidir sobre os processos políticos. Cosntant também ganha um papel importante na história de nosso país porque ele foi o criador do さPラSWヴàMラSWヴ;Sラヴざàミラàケ┌;ノàゲWヴキ;àキミゲヮキヴ;Sラàラàケ┌;ヴデラàヮラSWヴàSWàミラゲゲ;àCラミゲデキデ┌キN?ラàキマヮWヴキ;ノàSWàヱΒヲヴく OàノキHWヴ;ノキゲマラàデ;マHYマàゲWヴキ;àWゲデヴWキデ;マWミデWàノキェ;Sラà;ラàIラミゲデキデ┌Iキラミ;ノキゲマラがàキゲデラàYがà<àキSWキ;àSWàケ┌WàゲWヴàさノキHWヴ;ノざà era defender uma constituição escrita para seu país. O porquê de se defender uma constituição relacionava- se à ideia de que com na constituição に a lei maior に se estabeleceriam as divisões dos poderes e as relações entre o Estado e os indivíduos, marcando os direitos civis e políticos destes últimos, os quais o Estado não poderia retirar. Este impulso para a criação de constituições e eleições para os parlamentos seria dada com a Revolução Francesa. Em suma, aluno, o liberalismo político refere-se a um conjunto de ideias que defendia: as garantias e direitos dos indivíduos contra a ação do Estado; constituições escritas; representação política; divisão dos poderes. A crítica ao Capitalismo organizado: socialistas, marxistas e anarquistas Os socialistas utópicos Assim Iラマラà ラHゲWヴ┗;マラゲà ミラà I;ゲラà Sラà LキHWヴ;ノキゲマラがà デ;マHYマà ラà デWヴマラà さゲラIキ;ノキゲマラざà Wゲデ=à I;ヴヴWェ;Sラà SWà polissemias e nuances internas. Isto, aliás, decorre de uma peculiaridade própria da segunda metade do ゲYI┌ノラàXIXぎà;à┗ラI;N?ラàヮWノラゲàさ-キゲマラゲざàWàヮWノ;àヮ;Sヴラミキ┣;N?ラàI;ヴデWゲキ;ミ; dos mais ínfimos aspectos da vida em ゲラIキWS;SWがàゲWミSラがàミ?ラàヮラヴà┌マà;I;ゲラがàラàIラミデW┝デラàSラàSWゲヮWヴデ;ヴàS;ゲàIエ;マ;S;ゲàさIキZミIキ;ゲàゲラIキ;キゲざがàSWミデヴWà;ゲà quais se destaca a Sociologia, a mais proeminente das áreas de conhecimento a se debruçar sobre o estudo das ideias socialistas. Mas ao historiador não cabe apenas a busca pela ideia, mas também pelo seu contexto, isto é, pelo seu encaixe em um espaço temporal próprio. Conforme já vimos, as Revoluções Industriais tiveram grande impacto sobre o meio social europeu, especialmente após 1815 e o desenvolvimento do capitalismo 18888189807 - Caio Danilo Sales Pヴラaく Dキラェラ Dげ;ミェWノラ W PWSヴラ “ラ;ヴWゲ Aula 02 Revoluções industriais e doutrinas sociais www.estrategiaconcursos.com.br 15 industrial nas regiões continentais, tendo por modelo o que já estava se sucedendo havia um século no Reino Unido. Tal como ocorrera na Inglaterra, também no restante da Europa houve o crescimento dos grandes centros urbanos, por consequência das migrações maciças de camponeses oriundos das regiões rurais em busca de empregos e melhores condições de vida nos centros industriais. A forjadura desse mundo industrial esteve umbilicalmente ligada ao que posデWヴキラヴマWミデWàゲWヴキ;àWゲデ┌S;SラàIラマラàラàヮWヴケラSラàSWàエWェWマラミキ;àS;ゲàさH┌ヴェ┌Wゲキ;ゲà ミ;Iキラミ;キゲざくà “┌;à キミaノ┌ZミIキ;à aラキà ;キミS;à マ;キゲà マ;ヴI;ミデWà ミ;à E┌ヴラヮ;à IラミデキミWミデ;ノがà ヮラゲデラà ケ┌Wがà ;ラà Iラミデヴ=ヴキラà S;à pragmática relação de interesses entre aristocracia rural e burguesias mercantis ocorrida na Inglaterra pós- Revolução Gloriosa, ali pouco caso fez os setores aristocráticos tradicionais da perspectiva burguesa de economia e política. Não obstante, fosse por meios revolucionários (a exemplo da Revolução Francesa) fosse a partir de reformas políticas, o século XIX pertenceu não mais à velha classe dominante aristocrática, mas sim a uma nova e pujante classe burguesa. O desenrolar de um novo ethos さH┌ヴェ┌Zゲざà ミ;à E┌ヴラヮ;à Sラà ゲYI┌ノラà XIXà aラキà ヮラゲゲケ┗Wノà ミ?ラà ゲラマWミデWà ヮWノラà apossamento das economias dos grandes Estados-nações europeus, mas principalmente pelo crescente ganho de poder político verificado entre membros das burguesias ao longo deste século. Isto posto, os pressupostos ideológicos que levaram ao enfraquecimento da velha classe aristocrática face aos seus sucessores entre o fim do século XVIII e a primeira metade do XIX logo se tornaram a regra do jogo. Podemos enumerar alguns destes pressupostos, que, ainda que parte da consciência política dos europeus desde ao menos a Idade Média, somente agora se consolidariam à nível de políticas públicas: a defesa da propriedade privada (não somente à nível de terras, como também à nível de consciência e liberdades individuais), de uma economia alheia às regulações dos governantes, de uma sociedade regida pelo ideal liberal de um さキマヮYヴキラàS;ゲàLWキゲざがàヮWノ;àSキ┗キゲ?ラàSラàデヴ;H;ノエラàIラマàH;ゲWàミ;àヮヴラS┌N?ラがàIラマYヴIキラàWàノ┌IヴラがàSWミデヴWàラ┌デヴラゲく Foi neste contexto de forte industrialização e estopim da consciência burguesa de mundo que surgiu, sobretudo em torno do eixo França-Reino Unido, uma série de ideologias de fundo social que se ;┌デラSWミラマキミ;ヴ;マàさゲラIキ;ノキゲデ;ゲざくà“Wェ┌ミSラàBラHHキラぎ Em geral, o Socialismo tem sido historicamente definido como programa político das classes trabalhadoras que se foram formando durante a Revolução Industrial. A base comum das múltiplas variantes do Socialismo pode ser identificada na transformação do ordenamento jurídico e econômico fundado na propriedade privada dos meios de produção e troca, numa organização social na qual: a) o direito de propriedade seja fortemente limitado; b) os principais recursos econômicos estejam sob o controle das classes trabalhadoras; c) a sua gestão tenha por objetivo promover a igualdade social (e não somente jurídica e política), através da intervenção dos poderes públicos.5 Apesar de possuírem linhas de pensamento em geral (conforme apresentada na citação acima), a perspectiva acerca do papel a ser desempenhado pelos mais pobres no ganho de visibilidade e direitos e da própria noção que tinham de si próprios foi diferente ao longo do tempo. Basicamente, podemos considerar, afim de melhor compreender as diferenças de ideias e propósitos entre os diferentes ramos socialistas, dois períodos 5 Socialismo In BOBBIO, Norberto (org.) Dicionário de Política. v. 2. Brasília: Editora UnB, 2007, pp. 1196-1197. 18888189807 - Caio Danilo Sales Pヴラaく Dキラェラ Dげ;ミェWノラ W PWSヴラ “ラ;ヴWゲ Aula 02 Revoluções industriais e doutrinas sociais www.estrategiaconcursos.com.br 16 diferentes: o primeiro se refere ao contexto 1789-1848, momento compreendido entre o início da Revolução Francesa e o desenrolar da Primavera dos Povos, enquanto o segundo corte cronológico se refere à segunda metade do XIX. Durante o primeiro momento se desenvolveu na Europa aquilo que mais tarde seria conhecido como socialismo utópico, termo cunhado pelos alemães Karl Marx e Friedrich Engels em suas obras, que aliás deram suporte e vida à vertente socialista presente na segunda metade do XIX, o autodenominado socialismo científico. Engana-se quem por ventura pensar que se trata de uma diferença de cunho meramente semântico, posto que a cisão entre estes socialistas se refere a tópicos bastante profundos. Primeiramente, a visão acerca das conquistas sociais, encarada pelos utópicos como benesses a serem angariadas mediante reformas sociais pacíficas, enquanto que para os antagonistas científicos tratava-se de direitos a serem Iラミケ┌キゲデ;Sラゲ < aラヴN; ヮWノラゲ デヴ;H;ノエ;SラヴWゲが ゲWマ IラミIWゲゲロWゲ ヮ;ヴ; Iラマ ;ゲ さH┌ヴェ┌Wゲキ;ゲ Sラマキミ;ミデWゲざ. A primeira vertente, utópica, do socialismo é deveras heterogênea (o que é um dos seus mais marcantes contrastes em relação aos socialistas científicos). Ali encontramos diversos autores, destacando-se Robert Owen, Saint-Simon, Charles Fourier, Louis Blanc, dentre outros. Robert Owen (1771-1858), o primeiro de nosso rol, foi um rico industrial galês do setor de tecidos, cujas origens humildes lhe providenciaram uma aguçada ação assistencial juntos aos operários de sua fábrica, localizada na região de New Lanark na Escócia (local que mais tarde se tornaria uma espécie de Meca para socialistas reformistas no final do XIX). Suas ideias foram prioritariamente testadas em sua própria fábrica. Indo na contramão das práticas vigentes entre industriais de toda a Europa, Owen tratou de diminuir a jornada de trabalho de seus operários para 10 horas diárias (face às costumeiras12 a 16 horas de trabalho comuns à época), também construiu um bairro operário com boas condições de infraestrutura para atender às famílias de seus funcionários, onde se encontrava até mesmo uma escola primária. Suscitou a formação de uma cooperativa dentro da fábrica, que mediaria as negociações entre superiores e operários, que serviria não somente para propor programas em comum, como também (e este é o ponto crucial) a gestão comum dos meios de produção6. Por isto, Owen também é comumente conhecido como um dos primeiros cooperativistas europeus. O┘Wミà Wà ゲW┌ゲà ゲWェ┌キSラヴWゲà aラヴ;マà ラゲà ヮヴキマWキヴラゲà ;┌デラヴWゲà ;à ┌デキノキ┣;ヴà ラà デWヴマラà さゲラIキ;ノキゲマラざà Iラマà ;à ゲキェミキaキI;N?ラà マラSWヴミ;がàラàケ┌WàゲWàW┝WマヮノキaキI;àヮWノラàラヮ┎ゲI┌ノラàさOàケ┌WàYàラà“ラIキ;ノキゲマラざがàヮラヴàWノWàWscrito e editado em 1841, que o tornaria um dos mais ferrenhos opositores do sistema capitalista regido sob a égide do individualismo liberal7 e da ética cristã. Seu pensamento, no entanto, não foi de todo original, pois do outro lado do Canal da Mancha um contemporâneo seu levaria a ideia de cooperativismo ao extremo. 6 Idem. 7 Idem. 18888189807 - Caio Danilo Sales Pヴラaく Dキラェラ Dげ;ミェWノラ W PWSヴラ “ラ;ヴWゲ Aula 02 Revoluções industriais e doutrinas sociais www.estrategiaconcursos.com.br 17 Figura 6. Robert Owen Trata-se do francês Charles Fourier (1772-1837), outro grande oponente do liberalismo e da economia capitalista. Tornou-se famoso pela criação dos utópicos falanstérios (ou falanges), unidades de produção cooperativistas e autossuficientes, que serviriam ao mesmo tempo como lar e local de trabalho daqueles que ali viessem a residir. Para Fourier, assim como para Rousseau, o homem, sendo intrinsecamente bom, deveria vencer determinados obstáculos sociais de modo a conseguir alcançar suas plenas capacidades individuais. Fourier acreditava que estes obstáculos estavam cristalizados na forma capitalista de organização econômica, no individualismo egoístico e pela imposição SWà┗;ノラヴWゲàIラミゲキSWヴ;SラゲàさラヮヴWゲゲラヴWゲざà WàさヴWゲデヴキデキ┗ラゲざàヮラヴàヮ;ヴデWàSラゲàIラゲデ┌マWゲàIヴキゲデ?ラゲàふSWミデヴWàWノWゲà;àキSWキ;àSWà┌マàマ;デヴキマレミキラàマラミラェ>マキIラがàヮラヴàWノWà desprezado). A resolução destes obstáculos se daria em locais afastados do meio social, onde homens e mulheres fossem capazes de autogerir suas próprias vidas e satisfazer, deste modo, suas paixões e vocações ヮWゲゲラ;キゲがàゲWマàラゲàWマヮWIキノエラゲàキミWヴWミデWゲà<àさエキヮルIヴキデ;ざàゲラIキWS;SWàIヴキゲデ?-ocidental burguesa de seu tempo. O fourienismo se espalhou pelo mundo por meio de imigrantes franceses adeptos de suas ideias, que levaram a experiência dos falanstérios para diversos países, incluso o próprio Brasil, onde se fundou, por volta de 1841 o Falanstério de Saí em Santa Catarina. Não obstante, à exceção de alguns poucos casos relativamente exitosos nos Estados Unidos, nenhum dos falanstérios, nem as ideias de seu idealizador, alcançaram notoriedade com o passar dos anos. 18888189807 - Caio Danilo Sales Pヴラaく Dキラェラ Dげ;ミェWノラ W PWSヴラ “ラ;ヴWゲ Aula 02 Revoluções industriais e doutrinas sociais www.estrategiaconcursos.com.br 18 Figura 7. Charles Fourier Figura 8. Um dos projetos de Falanstérios Outros franceses que se destacaram entre os utópicos foram Claude-Henri de Rouvroy, o Conde de Saint- Simon (1760-1825) e Louis Blanc (1811-1882). Saint-Simon (como veio a ser conhecido pelos seus seguidores) destacou-ゲWàヮWノ;àヮラ┌I;àさ┗Wキ;ざàゲラIキ;ノキゲデ;àSWàゲ┌;ゲàキSWキ;ゲがàゲWàIラマヮ;ヴ;S;ゲàIラマà;ケ┌Wノ;ゲàSラゲà;┌デラres anteriores. Em realidade, muito se discute na atualidade se é verdadeiramente justo incluí-lo no rol dos socialistas, visto 18888189807 - Caio Danilo Sales Pヴラaく Dキラェラ Dげ;ミェWノラ W PWSヴラ “ラ;ヴWゲ Aula 02 Revoluções industriais e doutrinas sociais www.estrategiaconcursos.com.br 19 que seus ideais mais se assemelhavam com os dos pais do liberalismo econômico (dentre eles Adam Smith, autor de cabeceira de Saint-Simon) do que com os de seus contemporâneos socialistas. Fato é, no entanto, que o Conde de Saint-Simon (título a que mais tarde renunciaria em prol de seus ideais) foi largamente estudado por socialistas de todo o XIX, incluso Marx e Engels, que analisaria o pensamento do francês com certas honrarias na obra A evolução do socialismo da utopia à ciência, de 18888. Saint-Simon acreditava que os pontos principais a serem levados em consideração na promoção de indivíduos e nas interações sociais seriam a meritocracia e a fraternidade. Pensava ser possível a construção de uma sociedade regida com base nestes princípios, o que ganhou contornos em sua ideia de classe industrial, isto é, um conjunto de pessoas ligadas à cadeia produtiva industrial (vista, aliás, com bons olhos pelo pensador) que, devido às suas capacidades de liderança e mérito, tornar-se-iam as lideranças naturais do corpo social. Assim, bons líderes industriais teriam por objetivo guiar toda a sociedade, especialmente os mais pobres, a um estado de prosperidade e progresso perpétuo, baseados nas benesses intrínsecas ao capitalismo. Ao Estado (entidade que tenderia a praticamente inexistir no futuro utópico de Saint-Simon) caberia tão somente garantir o interesse social das medidas propugnadas pela classe industrial e impedir a ;N?ラàさヮ;ヴ;ゲキデ=ヴキ;ざàS;ケ┌WノWゲàケ┌WàIラノラI;ゲゲWマàWマàヴキゲIラàラàHWマàIラマ┌マくàPWヴIWH;àケ┌Wがà;ヮWゲ;ヴàSラàゲW┌àヴ;SキI;ノà apoio aos pontos positivos da sociedade industrial, Saint-Simon não deixava de ressaltar que o fim último de toda a ação política e econômica deveria ser os mais pobres e desprovidos de direitos. Figura 9. Saint-Simon 8 Idem, pág. 1198. 18888189807 - Caio Danilo Sales 1 Pヴラaく Dキラェラ Dげ;ミェWノラ W PWSヴラ “ラ;ヴWゲ Aula 02 Revoluções industriais e doutrinas sociais www.estrategiaconcursos.com.br 20 O último socialista pertencente ao ramo dos utópicos a ser abordado é o também francês Louis Blanc. Figura proeminente no meio político francês a partir de 1848, e contemporâneo dos socialistas científicos, Blanc idealizou a construção de associações profissionais operárias, divididas por ramos produtivos, financiadas pelo Estado. Teve a oportunidade de colocar o seu projeto em andamento durante a II República, surgida durante os tumultos revolucionários de 1848 que levaram à queda da Monarquia de Julho. Não obstante, tendo sido veementemente combatido por opositores, viu seu ideal de sociedade ser desfigurado quando fora relativamente posto em prática por poucos meses, e ser definitivamente derrotado com a ascensão de Napoleão III. Figura 10. Louis Blanc O socialismo dito utópico se baseou largamente em ideais de emancipação social dos mais pobres, de igualdade de condições entre as diferentes classes sociais e, sobretudo, na busca pela concordância entre industriais e operários, que resultaria, fosse por meio de reformas pacíficas (como defendiam Owen, Saint- Simon e Blanc), fosse a partir da criação de organizações fechadas regidas por regras próprias (como os falanstérios de Fourier), na consolidação de uma sociedade mais fraterna e justa. Note, entretanto, que a despeito de se tratarem de intelectuais que basearam suas ideias em fontes em comum, houve pouca homogeneidade de interesses entre os utópicos. A partir da década de 1840, o jovem filósofo e economista alemão Karl Marx buscou ampliar e refinar a crítica aos problemas sociais presentes na sociedade industrial de seu tempo, iniciada por seus predecessores. Não obstante, e apesar de render elogios às motivações daqueles intelectuais, Marx seria para sempre conhecido IラマラàラàヮヴキマWキヴラàゲラIキ;ノキゲデ;à;àさIラマヮヴラ┗;ヴàIキWミデキaキI;マWミデWざà;ゲàゲ┌;ゲàキSWキ;ゲàWà;àデラヴミ;ヴàデヴキ┌ミa;ミデWà;àヮWヴゲヮWIデキ┗;à do dito socialismo científico na posteridade, afastando a realidade inerente às contradições internas do meio SWàヮヴラS┌N?ラàI;ヮキデ;ノキゲデ;àS;ゲàさa=H┌ノ;ゲà┌デルヮキI;ゲざàSラゲàヮヴキマWキヴラゲàゲラIキ;ノキゲデ;ゲく 18888189807- Caio Danilo Sales 0 Pヴラaく Dキラェラ Dげ;ミェWノラ W PWSヴラ “ラ;ヴWゲ Aula 02 Revoluções industriais e doutrinas sociais www.estrategiaconcursos.com.br 21 O marxismo de Karl Marx O marxismo é comumente abordado como um sinônimo ou mesmo uma espécie de síntese do pensamento socialista. Refere-se aqui ao marxismo como a vertente política triunfante que levou a cabo, no primeiro quartel do século XX, uma interpretação bastante específica do pensamento de seu criador, Karl Marx, e de seu fiel escudeiro, o rico descendente de industriais Friedrich Engels. Antes, contudo, de adentrarmos os ;ゲヮWIデラゲà Sラà キミデヴキI;Sラà ヮWミゲ;マWミデラà SWà M;ヴ┝à Wà S;ゲà ミ┌;ミIWゲà ヮヴWゲWミデWゲà Wマà マWキラà ;ラゲà さマ;ヴ┝キゲマラゲざがà apresentemos o personagem em questão. Karl Marx (1818-1883), nasceu na região da Prússia e ali desenvolveu os seus primeiros estudos em Direito, disciplina que mais tarde abandonaria em favor da Filosofia. Seus primeiros escritos significativos foram tratados de caráter interpretativo e revisório das obras de Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831). Foi na Universidade de Berlim, durante a década de 1830, que Marx teve contato com a meticulosa dialética hegeliana. Hegel, no curso de sua vida intelectual, participara de intensos embates intelectuais com outros proeminentes filósofos alemães de seu tempo, e concebera um sistema de pensamento fundamentalmente embasado na tradição idealista alemã. Sua abordagem filosófica primava pela busca do todo, isto é, pelo encontro de uma verdade universal. Esta verdade, para Hegel, se encontrava no transcurso da história. Pela história, o mundo assume formas diferentes, concebidas ao longo de um processo de transformações. Isto posto, é correto afirmar, portanto, que na base da dialética hegeliana se apresenta o pressuposto de uma universalidade da mudança, que se contrapõe a um tempo estático. Não obstante, algo faz com as rodas do mundo estejam em constante movimento, ao que Hegel apresenta como o Weltgeist ふさEゲヮケヴキデラàSラàM┌ミSラざぶく Compreendamos, da forma mais didática possível, o desencadeamento do Weltgeist para a filosofia hegeliana, para que assim possamos retornar às elucubrações acerca de seus usos dentro do pensamento マ;ヴ┝キ;ミラくàPヴキマWキヴ;マWミデWがàYàWゲゲWミIキ;ノàIラミIWHWヴàケ┌Wがàヮ;ヴ;àHWェWノがàラàさEゲヮケヴキデラàSラàM┌ミSラざàY a ideia máxima que serve de eixo para as mudanças do mundo ao longo da História. Assim, chegamos a uma parte crucial de seu pensamento: são as ideias, portanto, o conceito que nós homens fazemos da natureza, que concebem a universalidade do mundo. O espírキデラà Sラàマ┌ミSラà デヴ;ミゲIWミSWà ラà エラマWマがà ヮラヴケ┌Zà ヮWミゲ;à さ;デヴ;┗Yゲざà SWゲデWがà ganhando exterioridade e assumindo formas próprias, e deste modo impactando o mundo e transformando- o. No entanto, a ideia é, ela mesma, o resultado de um encontro intercambiável entre o conceito subjetivo humano do mundo (sua consciência e seu espírito) e da natureza objetiva deste mundo (as leis da física e da matemática, por exemplo). Segundo Hegel, o conceito subjetivo nos leva, em um primeiro momento, a uma tese individual daquilo que nos circunda, o que se choca com a veracidade dos fatos objetivos, a antítese. O resultado desta intersecção gera a ideia (Logos), que por sua vez é a síntese, o devir de nosso intercâmbio com o mundo. Podemos resumir essa intricada teoria da seguinte forma: eu sinto o real para poder entende- lo, e assim eu o transformo, por meio de minhas ideias. Essa constante (tese -> antítese = síntese) é nomeada 18888189807 - Caio Danilo Sales b Pヴラaく Dキラェラ Dげ;ミェWノラ W PWSヴラ “ラ;ヴWゲ Aula 02 Revoluções industriais e doutrinas sociais www.estrategiaconcursos.com.br 22 por Hegel como dialética, segundo ele a melhor forma de se compreender todas as coisas que compõem o universo, posto que estão sob a direção do Weltgeist, uma força inerentemente dialética. Marx, no entanto, ainda jovem se tornou um forte crítico da dialética hegeliana, conforme fora concebida originalmente. Sua principal crítica se devia ao papel das ideias no transcurso da história (e consequentemente ao protagonismo de um espírito universal que tudo e direciona). Marx divisava que, ao contrário do que concebera Hegel em seu idealismo, não são as ideias que moldam e transformam o mundo e o homem, mas sim as condições materiais de sobrevivência do homem. Vide, portanto, que Marx não discordava da dialética per si, pois se tornou parte indissolúvel de sua teoria da história, mas sim à concepção hegeliana de que as ideias sobrepõem ao homem. Assim, defende, são as condições matérias que moldam os homens e suas ideias. Marx fundiu, portanto, a dialética hegeliana (em seus aspectos estruturais) à filosofia materialista de Ludwig Feuerbach, outro importante filósofo, também de tradição hegeliana, que conhecera junto ao um grupo de jovens estudantes de esquerda em Berlim. Deste modo, passou a conceber que o mundo de fato se encontra em constante movimento graças ao constante choque de forças oposta que conferem dinamicidade ao curso da história. Todavia, este movimento não se explicava pela ação das ideias, mas sim da ação material dos sujeitos históricos, ou seja, todos nós humanos. Mais tarde, marxistas sob a influência de Engels se refeririam a este conceito inaugural do pensamento do jovem Marx como um materialismo dialético. 18888189807 - Caio Danilo Sales 5 Pヴラaく Dキラェラ Dげ;ミェWノラ W PWSヴラ “ラ;ヴWゲ Aula 02 Revoluções industriais e doutrinas sociais www.estrategiaconcursos.com.br 23 Figura 11. Marx e Engels, respectivamente M┌キデラゲà;┌デラヴWゲがàSWミデヴWàWノWゲàR;┞マラミSàáヴラミàWマàゲ┌;àラHヴ;àさOàM;ヴ┝キゲマラàSWàM;ヴ┝ざがàゲ┌ゲデWミデ;マàケ┌WàWゲデWàテラ┗Wマà Marx filósofo (muito diferente do vivido e experiente economista de mais tarde) ainda não era filósofo. Mas o curso inexorável do movimento histórico trataria de resolver este impasse. Tendo se tornado doutor em filosofia no ano de 1841, Marx se dirigiu para a cidade alemã de Colônia, onde passou a integrar a frente de um jornal ferozmente crítico ao governo prussiano. Suas críticas foram correspondidas à fogo e chumbo, levando Marx, junto a sua jovem esposa de família aristocrática, a se mudar para Paris em 1843, afim de fugir das autoridades prussianas. Ali continuou a sua carreira de redator, desta vez em um pequeno jornal franco- prussiano também crítico ao governo prussiano, o que lhe rendeu a expulsão de França, rumando então para a Bélgica. Antes, contudo, de se retirar (ou ser retirado) de Paris, Marx foi apresentado a Engels e entre surgiu uma forte amizade intelectual que atravessaria o século. Não obstante, foi Engels, que se encantara com a sagacidade de seu companheiro quanto aos escritos dos socialistas franceses (dos quais falamos no tópico anterior), quem finalizou o processo de conversão de Marx para o socialismo, após leva-lo a uma série de reuniões secretas de revolucionários socialistas parisienses. Em Bruxelas, junto a Engels, Marx assistiu atônito ao rápido alastrar das brasas revolucionárias de 1848, e ali escreveu, em meio a um mundo revolto em pólvora e cinzas, o primeiro (e mais popular) de seus escritos revolucionários: o Manifesto do Partido Comunista (Manifest der Kommunistischen Partei), originalmente 18888189807 - Caio Danilo Sales 9 Pヴラaく Dキラェラ Dげ;ミェWノラ W PWSヴラ “ラ;ヴWゲ Aula 02 Revoluções industriais e doutrinas sociais www.estrategiaconcursos.com.br 24 concebido como um panfleto de ideias sob a égide da Liga dos Comunistas, órgão criado por seus antigos camaradas de Colônia, considerado por muitos como a semente da qual germinaria a I Internacional Comunista mais tarde. Enquanto defendia em seu manifesto radicais transformações sociais nas nações industrializadas europeias, Marx abria o caminho para a defesa de uma futura ordem mundial de base proletária (o termo é aqui entendido como o operário urbano mantenedor, com base unicamente em seu saláriラがàSWà┌マ;àさヮヴラノWざぶくApesar da publicação do Manifesto ser atualmente entendida por muitos como a concretização de um Marx Iラマ┌ミキゲデ;がàミ;àヴW;ノキS;SWàミ?ラàヮ;ゲゲ;ヴ;àSWà;ヮWミ;ゲà┌マàWミゲ;キラàキミaノ;マ;Sラàふマ;ゲàヮラ┌IラàさIキWミデケaキIラざがàキゲデラàYがàH;ゲW;Sラà em análises racionais da realidade objetiva). E ele compreendia essa realidade: era necessário esmiuçar o seu pensamento e sua crítica da realidade exploratória do sistema capitalista, caso contrário se transformaria, ao seu ver, em mais um utópico idealizador de uma ordem futura intangível e inalcançável. Fator importante para o amadurecimento de seu pensamento foi a expulsão que sofrera dos governos belga e prussiano (pois retornara brevemente para Colônia), o que acarretaria em seu exílio em Londres, que se tornaria a morada definitiva até a sua morte. Em Londres, além de publicar para o New York Tribune, Marx passou a conviver diariamente com os escritos dos renomados economistas clássicos britânicos, dedicando-se especialmente ao pensamento de David Ricardo e Adam Smith. De seus estudos e interpretações das ideias destes dois grandes pensadores, decorreu o papel primário da relação sujeito-trabalho no pensamento marxista, bem como tantas outras influências, tais como a concepção de valor, divisão social do trabalho e mais-valia. Compreendamos! Para Marx, conforme vimos, as ideias se submetem à realidade material dos homens (e não o contrário, como para Hegel). A relação do homem com o mundo, portanto, gera, como síntese, aquele que é o principal fio condutor de transformação do mundo e de auto realização do Homem: o trabalho (olha a dialética aqui pessoal!). O homem interage com o mundo a sua volta por meio de seus trabalhos, e deste modo, de forma dialética, compreende a natureza e nela se insere. Sendo o homem um ser essencialmente social, conclui- se, portanto, que o trabalho é um ato social, e, assim, desenvolve-se em sociedade. Perceba, caro estudante, o que Marx quer nos falar aos berros: AS RELAÇÕES SOCIAIS ESTÃO INTERCONECTADAS COM AS RELAÇÕES DE PRODUÇÃO! Marx compreendera que, para entender as bases fundantes do capitalismo industrial, deveria transcender aos sistemas filosóficos (dos quais já apreendera o essencial) e recorrer aos estudos da história econômica do capitalismo e das relações de produção anteriores, visto que estes, como tudo no mundo, estão em Iラミゲデ;ミデWàマラ┗キマWミデラくàEマàゲW┌ゲàノラミェラゲàWゲデ┌SラゲがàSラゲàケ┌;キゲàゲラHヴWゲゲ;ケヴ;マàキマヮラヴデ;ミデWゲàラHヴ;ゲàIラマラàさCrítica da Economia PolíticaざàWàさO C;ヮキデ;ノざ, Marx defendera que, no transcurso do movimento histórico, as sociedades sempre estiveram ligadas a Modos de produção muito próprios de seu tempo, os quais, por força da dialética histórica, se viam, após um longo progresso, inexoravelmente determinados a serem superados, dadas as suas contradições internas, por novos modos de produção mais avançados. Mas cada modo de produção subsiste a partir da posse de determinados meios de produção que tornam possível a efetivação do trabalho e a produção e troca de mercadorias, das quais oriunda o lucro do proprietário destes meios. Logo, eis a lei máxima da teoria da história segundo a concepção marxista: cada Modo de produção é concebido com base 18888189807 - Caio Danilo Sales 3 Pヴラaく Dキラェラ Dげ;ミェWノラ W PWSヴラ “ラ;ヴWゲ Aula 02 Revoluções industriais e doutrinas sociais www.estrategiaconcursos.com.br 25 no controle por parte de uma classe dominante, controladora dos meios de produção que torna possível o trabalho humano, submetendo, deste modo, um grupo de indivíduos ao seu domínio, sendo esta a antagonista classe dominada. Todavia, é próprio do movimento histórico que o crescente antagonismo entre classe dominante e classe dominada (a contradição interna inerente a todos os meios de produção existentes) leve a uma síntese lógica: o surgimento de um novo modo de produção e de uma nova dialética entre dominadores-dominados. Para Marx, assim, é parte do motor da história que a classe dominante seja sempre superada, pois, conforme テ=à;aキヴマ;ヴ;àミラàM;ミキaWゲデラàSラàP;ヴデキSラàCラマ┌ミキゲデ;àさA エキゲデルヴキ; S; エ┌マ;ミキS;SW Y ; エキゲデルヴキ; S; ノ┌デ; SW Iノ;ゲゲWゲざ. Assim chegamos, ao longo dos séculos, ao capitalismo. Em seus estudos históricos, percebeu que o modo de produção capitalista (sistema baseado em torno dos lucros crescentes gerados pela produção e acúmulo de capital) surgira a partir da primeira grande classe revolucionária da história: a própria burguesia. Mas esta burguesia, tendo derrotado a antiga nobreza feudal, tornou-se, no lugar daquela, a nova classe dominante, e assim gerou a sua antítese, o proletariado, o qual tem o seu trabalho explorado para que o burguês possa obter lucros crescentes. O que o proletariado deveria fazer para vencer a burguesia que lhe explorava? Eis a resposta de Marx: aguardar e se preparar! Aguardar que as contradições internas levassem à imediata superação do sistema capitalista e à tomada dos meios de produção pelos proletários, os quais, sendo a classe social definitiva e さ┗WヴS;SWキヴ;マWミデWàIキWミデWざàSWàゲW┌àヮ;ヮWノàエキゲデルヴキIラがàミ?ラàデラマ;ヴキ;àヮ;ヴ;àゲキàラàヮ;ヮWノàSWàミラ┗;àIノ;ゲゲWàSラマキミ;ミデWがàマ;ゲà destruiria, de uma vez por todas, o sistema de classes sociais e tornaria igualitário, passado o primeiro momento de controle do Estado e expurgo da burguesia, os meios de produção a todos os indivíduos espalhados pelo globo. Portanto, segundo Marx, o socialismo não é somente uma ideia utópica saída das mentes de poucos intelectuais, regidos por pretensões próprias, mas sim a natural e definitiva forma de produção a ser imposta pelo próprio movimento da história. M;ヴ┝àミ?ラàSWaキミキ┌àW┝;デ;マWミデWàラàケ┌WàラIラヴヴWヴキ;à;ヮルゲà;àゲ┌ヮWヴ;N?ラàSラàI;ヮキデ;ノキゲマラがàマ;ゲàヴWェキゲデヴラ┌àWマàさOàI;ヮキデ;ノざà que, passada uma primeira fase de tomada de controle dos meios de produção pelo proletariado, denominada mais tarde como a ditadura do proletariado9, e de completa reorganização social, em um ゲWェ┌ミSラàマラマWミデラàエ;┗Wヴキ;à;àさIラマヮノWデ;àW┝デキミN?ラàS;àSキ┗キゲ?ラàSWàIノ;ゲゲWゲàWàS;àaラヴマ;àマWヴI;デルヴキ;がàデラSラàラàSラマケミキラà político desaヮ;ヴWIWヴキ;à ミ;à ゲ;ミゲキラマラミキ;ミ;à さ;Sマキミキゲデヴ;N?ラà S;ゲà Iラキゲ;ゲざà Wà ;à ヴWヮ;ヴデキN?ラà Sラà ヮヴラS┌デラà ゲラIキ;ノà ゲWà ヴW;ノキ┣;ヴキ;à ゲWェ┌ミSラà ;ゲà ミWIWゲゲキS;SWゲざ10. A primeira fase foi mais tarde denominada de sistema socialista, enquanto que a segunda e última fase foi denominada como a consolidação do sistema comunista. Após o relativo fracasso das revoltas de 1848 e a desintegração da Liga dos Comunistas de Colônia, bem como a perseguição de órgãos de polícia de países continentais aos grupos organizados de operários, uma nova estratégia passou a ser traçada pelos socialistas europeus. Cabe ressaltar que neste período o termo さ“ラIキ;ノキゲマラざàゲWàヴWaWヴキ;à;à┌マ;àゲYヴキWàSWà┗WヴデWミデWゲàキミデWヴミ;ゲくàN;àマWゲマ;àマWSキS;がàミ?ラàヮラSWマラゲàI;キヴàミ;àIラミa┌ゲ?ラà de considerar que o pensamento de Marx já se fazia preponderante neste período, posto que suas ideias 9 Termo cunhado por Lênin. 10 Idem, pág. 1198. 18888189807 - Caio Danilo Sales Pヴラaく Dキラェラ Dげ;ミェWノラ W PWSヴラ “ラ;ヴWゲ Aula 02 Revoluções industriais e doutrinas sociais www.estrategiaconcursos.com.br 26 somente se tornarão a coluna vertebral da ortodoxia comunista a partir do triunfo de Lênin na Revolução Russa. EマàヴWゲヮラゲデ;à;ラàケ┌;ゲWàヮヴラaYデキIラàIエ;マ;SラàSWàM;ヴ┝àWマàゲW┌àM;ミキaWゲデラàSWàヱΒヴΒàふさoperários de todo o mundo, uni-vラゲぁざぶàWマàヱΒヶヴàゲ┌ヴェキ┌がàIラマàゲWSWàWマàLラミSヴWゲがà;àさáゲゲラIキ;N?ラàキミデWヴミ;Iキラミ;ノàSラゲàデヴ;H;ノエ;SラヴWゲざがàケ┌WàaキI;ヴキ;à conhecida mais tarde somente como a I Internacional. Essa associação marcou a história do movimento operário europeu, pois 1) rompeu as fronteiras nacionais e, ao menos no plano teórico, as fidelidades aos governos nacionais, sendo, desse modo, um movimento essencialmente internacionalizante, 2) reuniu sob ┌マàさマWゲマラàデWデラざàラゲàヮヴキミIキヮ;キゲàミラマWゲàS;ゲàSキ┗Wヴゲ;ゲà┗WヴデWミデWゲàゲラIキ;ノキゲデ;ゲàW┌ヴラヮWキ;ゲがàHWマàIラマラàSWàラ┌デヴラゲà movimentos de caráter operário ainda não suficientemente adeptos do ideário socialista e 3) criou linhas gerais para aação operária mundo afora (o que gerou, por consequência, as primeiras cisões dentro do movimento). A I Internacional durou apenas 8 anos, de 1864 a 1872, sendo realizados no período 5 congressos gerais, nos quais se debateram os objetivos a serem alcançados universalmente pelos trabalhadores. A liderança da Internacional, o Conselho Geral, era composto de figuras proeminentes, como o próprio Karl Marx. As principais vertentes que assumiram forma durante os congressos gerais foram os socialistas, subdivididos entre blanquistas; sansimonianos; lassalianos e marxistas (que se autodenominavam comunistas), além dos anarquistas proudhonianos e bakuninistas, sindicalistas reformistas democratas e radicais, dentre outros. Em seu auge, pouco antes de seu fim, a Internacional chegou a ter algo próximo de 150 mil membros filiados, espalhados pelos grandes centros industriais europeus (Inglaterra, França, Bélgica, norte da Espanha e Prússia) e também no nordeste industrializado estadunidense. Dentre os pontos de conciliação alcançados pela Internacional e aprovados em seus congressos destacam- se o sentimento de solidariedade operária, a defesa do fim da propriedade privada e da coletivização dos parques industriais e das ferramentas úteis ao trabalho industrial (no vocabulário marxista, os meios de produção). No entanto, rixas pessoais e discordâncias doutrinárias elevaram o tom de cisma dentro da associação já em seu nascimento. É o caso das disputas intelectuais entre Karl Marx e Pierre-Joseph Proudhon. Deixe-me esclarecer, primeiramente, uma verdade factual essencial: Proudhon não participou da Internacional, pois faleceu no ano de sua inauguração, no entanto, as velhas rusgas entre ele e seu antigo amigo Marx vieram novamente à tona durante os Congressos da associação por meio dos seus seguidores. Na década de 1840, portanto antes mesmo da publicação do Manifesto do Partido Comunista e da guinada economicista de seu pensamento, Karl Marx participara de diversas discussões teóricas com Proudhon. Os SラキゲàIエWェ;ヴ;マà;àゲWヴàさI;マ;ヴ;S;ゲざàヮラヴà┌マàIWヴデラàデWマヮラがà<àYヮラI;àWマàケ┌WàM;ヴ┝àヴWゲキSキ┌àWマàP;ヴキゲくàN?ラàラHゲデ;ミデWがà com o tempo, as diferentes visões acerca da mudança da ゲキデ┌;N?ラàラヮWヴ=ヴキ;àa;IWà<àさW┝ヮノラヴ;N?ラざàI;ヮキデ;ノキゲデ;à os afastou. O principal ponto de discórdia, exposto por Proudhon em seu livro Sistemas de contradições econômicas ou Filosofia da Miséria de 1846, era relativo à forma com que o capitalismo deveria ser superado, se por meios individuais ou por meios revolucionários. Proudhon, em franca discordância à Marx (ao qual critica diretamente neste livro), defendia a via individual, pela qual, primeiramente, os indivíduos deveriam se libertar de qualquer forma de opressão (fosse econômica, espiritual ou cultural) mediante a auto 18888189807 - Caio Danilo Sales Pヴラaく Dキラェラ Dげ;ミェWノラ W PWSヴラ “ラ;ヴWゲ Aula 02 Revoluções industriais e doutrinas sociais www.estrategiaconcursos.com.br 27 iluminação. Somente assim, de forma autônoma, os próprios indivíduos seriam capazes de se rebelar face ao sistema11. Proudhon foi o primeiro intelectual a assumir para si a alcunha de anarquista, termo por muitos encarado como algo pejorativo. Sua firme defesa do indivíduo em oposição às classes (algo tão caro para o pensamento de Marx) e, sobretudo, às organizações que visassem representa-los, posicionou-o entre duas fronteiras internas ao anarquismo do XIX: o anarquismo individualista e o comunista (representado pelos bakuninistas)12. Outrossim, o separou definitivamente de qualquer possível laço ideológico que o unisse à tradição marxista. A resposta de Marx à provocativa obra de Proudhon veio apenas um ano depois, em 1847, sob o nome de Miséria da Filosofia (uma ironia escancarada para com o título da obra de seu adversário). Neste livro, que permaneceu desconhecido até o seu renascimento sob a I Internacional, Marx critica a visão utópica de Proudhon acerca do proletariado e despreza o modelo de federações trabalhistas autônomas propostas por este. Por esse motivo, Marx e Engels engendrariam mais tarde Proudhon no rol dos socialistas utópicos (o que era negado por seus seguidores, no entanto). As rixas entre Marx e proudhonianos, com o acréscimo de Bakunin e seus seguidores bakuninistas (especialmente espanhóis adeptos do anarquismo coletivista, que permaneceu firme na tradição anarquista daquele país até o século XX) que desferiam críticas para ambos os lados, levou à definitiva cisão dos ;ミ;ヴケ┌キゲデ;ゲàIラマラà┌マàデラSラàヮ;ヴ;àIラマà;àIミデWヴミ;Iキラミ;ノがàケ┌Wà;ラàゲW┌à┗WヴàI;マキミエ;┗;àヮ;ヴ;à;àさ┗キ;à;┌デラヴキデ=ヴキ;ざàSWà seus principais líderes, como o próprio Marx. Assim, com o expurgo dos anarquistas em 187213, a Internacional deixaria de existir por um longo período. Apenas em 1889, sob a iniciativa de Engels, marxistas e outros socialistas voltaram a se reunir em torno de uma Associação operária internacional, que ficou conhecida como a II Internacional. Viria a durar até 1916, ケ┌;ミSラがàヮラヴàヮヴWゲゲ?ラàSWàゲ┌;ゲàさIラミデヴ;SキNロWゲàキミデWヴミ;ゲざがàゲラHヴWデ┌SラàWミデヴWàWゲヮ;ヴデ;ケ┌キゲデ;ゲà;ノWマ?WゲがàゲラHàノキSWヴ;ミN;à de Rosa Luxemburgo, e leninistas, liderado pelo próprio Lênin. Além daquela rusga definitiva que definiria o fim da II Internacional durante a Grande Guerra, outras questões basilares cimentaram o curso das ações dos internacionalistas. Após a sua abertura, o primeiro grande ato da associação seria a proclamação, em 1º de maio daquele mesmo ano, do Dia Internacional dos Trabalhadores. Mas o clima de festa teria data contada. Vale recordar que, entre 1872 e 1889, os diferentes movimentos socialistas espalhados pelo continente (como os socialdemocratas alemães e os reformistas ingleses) continuaram a agir de forma autônoma com diferentes metas traçadas. Era essa questão que agitava a associação na virada do século. É digno de nota que, ao contrário da baixa popularidade de suas ideias na I Internacional, agora, sob clara influência de Engels, a II Internacional seguia 11 Anarquismo In Bobbio, Norberto (org.) Dicionário de Política, v. 1. Brasília: Ed. UnB, 2007, pág. 24. 12 Idem. 13 Os anarquistas, sob a liderança de Bakunin, formariam a sua própria associação, por eles nomeada como a Internacional de Saint-Imier, que durou de 1872 a 1877. 18888189807 - Caio Danilo Sales Pヴラaく Dキラェラ Dげ;ミェWノラ W PWSヴラ “ラ;ヴWゲ Aula 02 Revoluções industriais e doutrinas sociais www.estrategiaconcursos.com.br 28 um rumo claramente marxista, privilegiando o conceito de luta de classes e de revolução proletária como forma de obtenção do poder político. Não obstante, representantes contrários à via revolucionária, sobretudo ingleses, insistiam em outra meta a ser traçada pelo operariado. Em sua visão, o capitalismo pós- 1880 sofrera radicais transformações em relação àquele praticado entre 1850 e 1872. Acreditavam que o ganho de conquistas sociais na Inglaterra, por exemplo, somente fora possível graças à mobilização dos trabalhadores em torno da defesa de seus direitos por meios democráticos, sobretudo por meio da ação parlamentar. Portanto, defendiam a via reformista e o completo abandono do ideário revolucionário como melhor estratégia a ser tomada pelos trabalhadores. Para os marxistas, e em bom linguajar marxista, a proposta reformista dos trabalhistas ingleses significava ceder à burguesia e trair o movimento operário. O ヴWゲ┌ノデ;Sラàヮ;ヴ;àWゲゲ;à さデヴ;キN?ラざà aラキàラà;H;ミSラミラà;ラゲà ヴWaラヴマキゲデ;ゲがàケ┌Wàヮラヴà ゲ┌; vez, se auto alienaram da via marxista e passaram a integrar, de vez, a recém-criada Fabian Society (Sociedade Fabiana)14, cujas pilares teóricos estão resumidos na obra Fabian Essays in Socialism, publicado por George Shaw em 1889. Após a exclusão dos reformistas ingleses outra cisão ocorreu, uma que se mostraria muito mais dolorosa do que a primeira em relação ao futuro político alemão. A partir de 1904, ganharia forma nos congressos da II IミデWヴミ;Iキラミ;ノà┌マ;à デWミSZミIキ;à さIキミ┣;ざà WミデヴWà ラゲà デラミゲà SWà Hヴ;ミIラà Wà ヮヴWデo de reformistas e marxistas. Essa tendência intermediária foi encabeçada pela maioria da socialdemocracia alemã, e foram considerados ┗WヴS;SWキヴラゲà さデヴ;キSラヴWゲざàヮWノ;à;ノ;àラヴデラSラ┝;àS;à ゲラIキ;ノSWマラIヴ;Iキ;à;ノWマ?がàWミI;HWN;àヮラヴàRラゲ;àL┌┝WマH┌ヴェラ15. Eゲゲ;àミラ┗;àデWミSZミIキ;àさヴW┗キゲキラミキゲデ;ざàヮヴWェ;┗;àケ┌Wà┌マ;àヴW┗ラノ┌N?ラàキマWSキ;デ;àゲWヴキ;àキマヮラゲゲケ┗WノがàSW┗キSラà<àa;ノデ;àSWà recursos e de consciência de classe devidamente formadas entre os trabalhadores. No entanto (e isso os difere dos reformistas) continuavam a pregar a superação do Estado de Classes por meio de um rebento revolucionário, ainda que o momento exato para esse estouro revolucionário se daria com o passar do tempo, na medida em que os operários e suas lideranças conseguissem conquistar espaço na sociedade (e conquistar os meios necessários) a partir de representação partidária e de conquistas de direitos pelas vias liberal-SWマラIヴ=デキI;ゲくà áà SWaWゲ;à SWゲデ;à ┗キ;à さヴWデ;ヴS;デ=ヴキ;ざà Wミa┌ヴWIW┌à ラゲà マ;ヴ┝キゲデ;ゲà マ;キゲà ortodoxos, e abriu uma ferida que não viria a cicatrizar no futuro. Após o fim da II Internacional, em 1916, marxistas (agora entendidos como leninistas) e socialdemocratas (aqueles que haviam rachado com Rosa Luxemburgo durante a Grande Guerra) nunca mais voltariam a cooperar, o que se mostraria, anos mais tarde, fundamental para a ascensão do nazismo na década de 1930. A última rusga a ser averiguada em nosso estudo sobre a II Internacional se refere às divergências ideológicas entre Rosa Luxemburgo e Lênin. Ambos concordavam em linhas interpretativas gerais: havia um Estado de Classes liberal-burguês a ser superado mediante a ação revolucionária organizada dos proletários. No entanto, Luxemburgo defendia que a via revolucionária deveria subsistir em face das organizações de base dos proletários, na Rússia conhecidos como sovietes, e deveria surgir em momentos de aguda crise econômica do capitalismo industrial (onde as contradições internas preconizadas por Marx atingiriam o seu ápice). Por outro lado, Lênin defendia que toda a ação dos sovietes e demais organismos de classes operários 14 O fabianismo ainda consiste em doutrina socialista majoritária sobretudo entre os trabalhistas históricos britânicos. Alguns de seus mais proeminentes membros foram H.G. Wells, Leonard Woolf, Virginia Woolf e Bertrand Russell. 15 BOBBIO, v.2, Idem, pág. 1200. 18888189807 - Caio Danilo Sales Pヴラaく Dキラェラ Dげ;ミェWノラ W PWSヴラ “ラ;ヴWゲ Aula 02 Revoluções industriais e doutrinas sociais www.estrategiaconcursos.com.br 29 deveriam se submeter à suprema liderança de um Partido geral e de seu comitê, composto de さヴW┗ラノ┌Iキラミ=ヴキラゲà Wマà デWマヮラà キミデWェヴ;ノざà ケ┌Wà ゲWヴキ;マà I;ヮ;┣Wゲà SWà ゲWà SWSキI;ヴà W┝Iノ┌ゲキ┗;マWミデWà <à ヴW┗ラノ┌N?ラà comunista. Assim, Lênin, ao contrário de Luxemburgo, defendia que a Revolução somente seria possível sob a liderança de uma vanguarda revolucionária. Essa cisão atingiu a sua máxima forma após 1917, quando, por ventura da exitosa revolução armada levada à cabo por Lênin e seus bolcheviques contra o regime czarista russo, a teoria leninista passaria a imperar sobre a visão de Luxemburgo (que por sua vez, seria derrotada e morta durante uma fracassada tentativa revolucionária na Alemanha em 1919). Assim, o leninismo seria pouco-a-pouco elevado ao nível de ortodoxia dogmática dos Partidos Comunistas, especialmente após a ascensão de Stálin na União Soviética e definição S;ゲàSラ┌デヴキミ;ゲàIWミデヴ;キゲàSラàIエ;マ;Sラàさマ;ヴ┝キゲマラ-ノWミキミキゲマラざく A terceira via: a Doutrina Social da Igreja Católica A segunda metade do século XIX observou a ascensão da radical oposição ideológica entre adeptos do liberalismo, tendentes ao apoio às classes industriais e à sociedade capitalista, e as levas de operários que buscaram em sindicatos anarquistas e associações operárias de cunho socialista o amparo social de que necessitavam. Mais do que isto, se utilizarmos um termo essencialmente marxista, perceberemos que a divisão de classe estava próxima do limite. Diante deste cenário, a Igreja Católica decidiu fazer ecoar a sua visão, com base nos evangelhos e em sua Tradição e Magistério, acerca da crise social galopante no continente europeu, que levava cada vez mais pessoas para o apoio às doutrinas revolucionárias. A primeira grande manifestação da Igreja neste sentido se deu por meio da publicação da encíclica Rerum Novarum ふさD;ゲàCラキゲ;ゲàNラ┗;ゲざぶがàWゲIヴキデ;àヮWノラàP;ヮ;àLW?ラàXIIIà e publicada em 15 de maio de 1891. Nesta encíclica, o papa definiu as bases para a Doutrina Social da Igreja, e defendendo as reivindicações dos operários desprovidos de direitos básicos frente ao sistema capitalista. Leão XIII resume a perspectiva da Igreja sobre a situação então vigente: é necessário, com medidas prontas e eficazes, vir em auxílio dos homens das classes inferiores, atendendo a que eles estão, pela maior parte, numa situação de infortúnio e de miséria imerecida. O século passado destruiu, sem as substituir por coisa alguma, as corporações antigas, que eram para eles uma protecção; os princípios e o sentimento religioso desapareceram das leis e das instituições públicas, e assim, pouco a pouco, os trabalhadores, isolados e sem defesa, têm-se visto, com o decorrer do tempo, entregues à mercê de senhores desumanos e à cobiça duma concorrência desenfreada. A usura voraz veio agravar ainda mais o mal. Condenada muitas vezes pelo julgamento da Igreja, não tem deixado de ser praticada sob outra forma por homens ávidos de ganância, e de insaciável ambição. A tudo isto deve acrescentar-se o monopólio do trabalho e dos 18888189807 - Caio Danilo Sales Pヴラaく Dキラェラ Dげ;ミェWノラ W PWSヴラ “ラ;ヴWゲ Aula 02 Revoluções industriais e doutrinas sociais www.estrategiaconcursos.com.br 30 papéis de crédito, que se tornaram o quinhão dum pequeno número de ricos e de opulentos, que impõem assim um jugo quase servil à imensa multidão dos proletários.16 áà ┗ラヴ;┣à IヴケデキI;à ノ;ミN;S;à ヮWノラà “┌マラàPラミデケaキIWà <à さ┌ゲ┌ヴ;ざà Sラゲà さエラマWミゲà =┗キSラゲà SWà ェ;ミ>ミIキ;ざà ふIノ;ヴ;マWミデWà ラゲà grandes capitalistas de seu tempo) não pode ser, no entanto, confundida por um apoio discreto à crítica socialista. Pois prossegue o texto: Os Socialistas, para curar este mal, instigam nos pobres o ódio invejoso contra os que possuem, e pretendem que toda a propriedade de bens particulares deve ser suprimida, que os bens dum indivíduo qualquer devem ser comuns a todos, e que a sua administração deve voltar para os Municípios ou para o Estado. Mediante esta transladação das propriedades e esta igual repartição das riquezas e das comodidades que elas proporcionam entre os cidadãos, lisonjeiam-se de aplicar um remédio eficaz aos males presentes. Mas semelhante teoria, longe de ser capaz de pôr termo ao conflito, prejudicaria o operário se fosse posta em prática. Pelo contrário, é sumamente injusta, por violar os direitos legítimos dos proprietários, viciar as funções do Estado e tender para a subversão completa do edifício social. Assim, fica claro que a encíclica busca oferecer aos operários europeus uma espécie de terceira via face ao capitalismo liberal e ao radicalismo das esquerdas, ao lançar base pela defesa integral da propriedade privada e da liberdade individual segundo os valores cristãos como o melhor caminho de defesa da integridade e dignidade humana em um tempo de laicização e reversão de costumes. Defendia também a ação de grupos organizados de trabalhadores católicos, tais quais os sindicatos já existentes, desprovidos, porém, de influências ideológicas contrárias à fé. A Rerum Novarum agitou os meios sociais e possibilitou a existência de uma alternativa clara para os trabalhadores insatisfeitos. Após a sua publicação, diversos países, na Europa e em outros continentes, de base católica romana perceberam o aparecimento de diversas associações de trabalhadores católicos,
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