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História - Livro 4-070-072

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HISTÓRIA Capítulo 12 O Brasil contemporâneo (1985-2018)70
da Casa Civil e, posteriormente, tendo seu mandato de
deputado cassado Em seu lugar no ministério, assumiu a
então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff.
Fig. 18 O deputado Roberto Jefferson depõe no Conselho de Ética da Câmara
Federal, em 2005, após suas denúncias sobre o “mensalão”.
Também o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, não
resistiu às denúncias de corrupção. Ainda no ano de 2005,
Palocci foi acusado de envolvimento em um esquema de
arrecadação de propina voltada ao financiamento do PT.
Mesmo negando as acusações, Palocci afastou-se do car
go em 2006, sendo substituído por Guido Mantega, então
presidente do BNDES.
As denúncias tiveram também o efeito de minar politi
camente o governo e o PT, gerando uma cisão no partido
governista, com o surgimento do PSOL (Partido Socialismo
e Liberdade), formado, em grande parte, por ex-militantes
do PT inconformados com as evidências de corrupção pa-
trocinada pelo partido
Fig. 19 José Dirceu, então ministro-chefe da Casa Civil, e Antonio Palocci, ministro
da Fazenda. Os dois não resistiram às denúncias de corrupção no governo Lula
e caíram.
No rastro do “mensalão”, outros escândalos ainda surgi-
riam. Em plena campanha eleitoral, na qual Lula buscava sua
reeleição, militantes do PT foram presos em flagrante, em
setembro de 2006, sob a acusação de portarem dinheiro
ilegal destinado à compra de um suposto dossiê contra
José Serra, então candidato do PSDB ao governo do esta
do de São Paulo. O plano seria prejudicar Serra e destruir
em nível nacional o PSDB. Os acusados foram taxados de
“aloprados” pelo presidente, termo que acabou designando
mais esse escândalo político sobre o governo.
Mesmo com essas denúncias, o sucesso da política
econômica de Lula e seu carisma pessoal ainda tornavam-
-no imbatível em termos eleitorais. Nas eleições de 2006,
Lula esteve muito próximo de derrotar o candidato do
PSDB, Geraldo Alckmin, ainda no primeiro turno. Ao longo
da campanha, incapaz de fazer frente à popularidade da
política econômica de Lula, Alckmin teve como tema central
a defesa da ética política, trazendo para o centro dos de-
bates as constantes denúncias de corrupção no governo,
o que não foi suficiente para alavancar sua candidatura,
possibilitando apenas levá-lo para o segundo turno.
No segundo turno das eleições, apenas com os dois
candidatos e já tendo refluído o escândalo dos “aloprados”,
Lula obteve uma vitória ainda maior Em um caso raríssimo
nas democracias ocidentais, Geraldo Alckmin obteve me-
nos votos do que havia obtido no primeiro turno, pouco
mais de 37 milhões contra quase 40 milhões no primeiro
turno, enquanto Lula pulou de aproximadamente 46 milhões
para quase 59 milhões, correspondendo a mais de 60%
do eleitorado.
Fig. 20 Lula e Alckmin cumprimentam-se em debate durante a campanha pre-
sidencial de 2006.
O segundo mandato de Lula manteve as característi
cas do primeiro, acentuadas em alguns aspectos por uma
conjuntura internacional já não tão favorável.
No plano econômico, o grande componente foi a crise
devastadora que marcou a economia mundial a partir de
2008. Tendo como origem o colapso do sistema financeiro
nos Estados Unidos, a crise gerou uma recessão interna-
cional comparável à que se seguiu à quebra da Bolsa de
Nova Iorque em 1929. Apesar de seu alcance, a crise aca-
bou sendo politicamente benéfica ao governo Lula. Ante
os índices mundiais alarmantes, Lula pôde alardear o fato,
verdadeiro, de que o Brasil foi o último país a entrar na crise
e o primeiro a sair dela. Com efeito, a crise não teve maiores
efeitos sobre o Brasil, exceto um ligeiro aumento na taxa
de juros interna e uma insegurança que se refletiu em uma
redução de investimentos, notadamente do setor privado
Em termos de política externa, Lula procurou fixar
uma posição de destaque como uma liderança capaz de
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garantir trânsito entre os vários campos internacionais.
Ao mesmo tempo que mantinha uma postura moderada,
capaz de garantir o diálogo com nomes como George W
Bush e depois Barack Obama, Lula manteve uma políti-
ca de proximidade com nomes como Hugo Chávez, da
Venezuela; Evo Morales, da Bolívia; e mesmo Mahmoud
Ahmadinejad, o polêmico presidente do Irã, país acusa
do de intensas violações dos direitos humanos, mas que
mantinha ainda uma postura de enfrentamento com os
Estados Unidos e Israel.
Fig. 21 Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, cumprimenta Lula em
foto de 2009.
Essa atitude colocou sempre o governo Lula em uma
posição de equilíbrio bastante precário, que por vezes afe
tou os interesses brasileiros. É o caso, por exemplo, da
invasão da refinaria da Petrobras na Bolívia por tropas do
Exército boliviano, ato que não teve uma resposta veemen-
te por parte do governo do Brasil
De qualquer modo, o governo Lula foi responsável,
mais que qualquer outro governo anterior, por promover a
imagem internacional do Brasil Essa nova condição, como
um país respeitável internacionalmente, pode ser bem
exemplificada por duas conquistas internacionais do país
no campo esportivo: o direito de sediar a Copa do Mundo
de Futebol em 2014 e, acima de tudo, as Olimpíadas em
2016, no Rio de Janeiro.
Ao mesmo tempo, o segundo mandato de Lula teve
como componente importante a preparação de sua su
cessão. A escolha de Lula recaiu sobre sua ministra-chefe
da Casa Civil, Dilma Rousseff. Mesmo obscura em termos
eleitorais ( jamais havia disputado uma eleição antes), Dilma
tinha a seu favor a reputação de excelente técnica (secretá-
ria de Minas e Energia no Rio Grande do Sul e ministra da
mesma área durante o início do governo Lula), ótima admi
nistradora (fora secretária da Fazenda do governo gaúcho),
além de uma enorme capacidade de articulação política,
comprovada em seus anos como chefe da Casa Civil Em-
bora não fosse uma petista histórica (toda sua trajetória
política após a anistia fora dentro do PDT), Dilma conseguiu
silenciar setores do PT ainda fiéis às velhas lideranças do
partido, entre elas José Dirceu, a quem ela substituiu na
Casa Civil.
Fig. 22 Dilma, quando ministra-chefe da Casa Civil.
Em sua busca por projetar a figura de Dilma como a
sua candidata, Lula fez dela a “mãe do PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento)”.
O PAC é um programa voltado à realização de obras
capazes de promover o crescimento econômico, notada-
mente no setor de infraestrutura, do qual a ministra seria a
grande gestora. As dificuldades econômicas do segundo
mandato de Lula, fruto da crise mundial, reduziram sensivel-
mente a capacidade de financiamento dessas obras, as quais
não chegaram sequer próximas de seus objetivos. Lançado
em 2007, o PAC previa investimentos da ordem de R$ 504
bilhões em obras ligadas ao saneamento, à habitação, ao
transporte, à energia e aos recursos hídricos. De acordo com
dados da própria Casa Civil, o PAC havia atingido até junho
de 2009 apenas 15% dos objetivos programados.
Mesmo assim, a popularidade de Lula fortalecia sua
candidata. O PSDB lançou como candidato à presidên-
cia José Serra, então governador de São Paulo. Em uma
campanha na qual os índices de popularidade de Lula che-
gavam a 80% de aprovação, Serra optou por uma postura
em que sua condição de opositor ao governo aparecia de
forma extremamente tímida Seu horário gratuito na televi-
são iniciou-se, inclusive, com cenas nas quais aparecia ao
lado de Lula, enquanto seu slogan de campanha, “O Brasil
pode mais”, em momento algum representava uma crítica
ao governo que se encerrava
Ao mesmo tempo, Dilma Rousseff aproveitava se de
sua condição como candidata de Lula e crescia acentua-
damente na intenção de voto dos eleitores. De 11% de
preferência do eleitorado em março de 2009, em pesquisa
divulgada pelo Datafolha, Dilma chegou a contar com uma
perspectiva de 55% dos votos em outubro de 2010, em
pesquisa do mesmo instituto.
Mesmo com novas denúncias de escândalo de tráfegode influência e lobby, envolvendo sua sucessora na Casa
Civil, Erenice Guerra, a eleição no primeiro turno trouxe a
vitória de Dilma, com cerca de 47% dos votos, contra apro-
ximadamente 32% dados a José Serra.
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HISTÓRIA Capítulo 12 O Brasil contemporâneo (1985-2018)72
No segundo turno, a candidata petista confirmou as
perspectivas de vitória, obtendo 56% dos votos, contra 44%
de José Serra. Dilma tornava se, assim, a primeira mulher a
chegar à presidência da República, coroando os esforços
de Lula em elegê-la.
Fig. 23 Lula transfere a faixa presidencial a Dilma Rousseff.
O governo Dilma Rousseff (2011-2016)
Em seu primeiro ano de governo, Dilma Rousseff ga-
nhou destaque internacional por ser a primeira mulher a
assumir a presidência do Brasil e, também, por ter sido
a primeira mulher a fazer o discurso de abertura da As
sembleia Geral da ONU Além disso, Dilma foi cercada por
controvérsias em sua gestão, a começar pelo uso do ter
mo “presidenta” (como se fazia na Argentina de Cristina
Kirchner), em vez de “presidente”, evidenciando o debate
do período.
No Brasil, o destaque veio pelo que ficou conhecido
como “faxina ética”; a presidente, após escândalos de cor
rupção envolvendo seis ministérios, agiu de forma enfática,
substituindo ministros e consolidando, desde o início, uma
imagem de combate à corrupção. O Partido dos Traba-
lhadores (PT), que até então tinha o apoio da maioria no
Congresso, ainda colhia os frutos do capital político deixado
pelo ex presidente Lula, uma vez que sua aprovação, à
época, chegou a expressivos 59%.
Fig 24 Dilma Rousseff (PT) em fotografia de 2016
Em contrapartida, a forma de governo de Dilma Rou
sseff, de caráter mais autônomo e independente, foi
considerada pela oposição como autoritária. Em muitos
momentos, ela foi acusada de governar “por decretos”, e a
economia, ainda em crescimento, dava os primeiros sinais
de desaceleração. O desemprego, no âmbito formal, man
teve taxas baixíssimas, mas o PIB brasileiro crescia abaixo
do esperado.
Em junho de 2013, a tensão se intensificou – começava
o maior movimento social já visto desde o impeachment de
Fernando Collor Os protestos se iniciaram durante a Copa
das Confederações, um ano antes da Copa do Mundo, que
seria sediada no Brasil. Segundo cálculos do historiador
Osvaldo Coggiola, na primeira manifestação, no dia 6 de
junho, duas mil pes soas reuniram-se na Avenida Paulista,
em São Paulo; dez dias depois, os jornais avaliavam subes
timados 230 mil manifestantes em doze capitais; no dia 20
de junho, os protestos já alcançavam milhões de pessoas,
das quais um milhão se concentrou só no Rio de Janeiro.
Calcula-se, assim, que o movimento cresceu aproximada-
mente 100.000% em 15 dias A Copa das Confederações
acabou recebendo o apelido de “Copa das Manifestações”,
devido aos protestos que foram realizados em praticamente
todos os jogos do torneio.
O que explica tais manifestações? Em primeiro lugar,
as redes sociais, como meio de comunicação ativo, facili
taram o debate político e a mobilização. Tais movimentos
sociais, vale lembrar, ocorreram junto às mobilizações na
praça Taksim, na Turquia, contra o governo de Erdogan, à
criação coletiva da constituição da Islândia, aos Indignados
na Espanha, ao Occupy Wall Street nos Estados Unidos e à
Primavera Árabe movimentos sem lideranças definidas e
desligados de partidos políticos específicos; “são movimen-
tos que podem ter saído das ruas, mas não desapareceram.
Eles continuam on-line. Quando vem a repressão física, eles
se retiram das ruas, rediscutem on-line. Não têm líderes
nem programa, mas têm a capacidade de resistir e de re
nascer a qualquer momento. Isso só acontece porque há a
capacidade de autocomunicação de massa que os permitiu
existir”, conclui o sociólogo espanhol Manuel Castells.
O estopim das manifestações, no Brasil, foi o aumen
to das tarifas do transporte público em São Paulo e em
diversas outras cidades brasileiras, o que representava a
deterioração do serviço público no país. Nas palavras de
Coggiola, “o aumento das tarifas de transporte foi o estopim
de uma situação social degradada (e, em muitos aspectos,
piorada nos últimos anos), mas não qualquer coisa nem
qualquer reivindicação podem ser um estopim. Os trans-
portes e suas tarifas eram e são o resumo cotidiano da
miséria brasileira”. O autor também aponta alguns dados:
andar de ônibus em São Paulo custa, medido em tempo
de trabalho, 1.000% a mais do que em Buenos Aires, 120%
a mais do que em Paris, 110% a mais do que em Londres e
até 50% a mais do que em Tóquio, uma das cidades mais
caras do planeta. O trabalhador paulista gasta entre 25%
e 30% de sua renda para passar um mês por ano (três ho
ras por dia) em conduções, muitas vezes, superlotadas. O
lucro das (poucas e monopolizadas) empresas do serviço
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