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História - Livro 2-046-048

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Pouco falta para que se preencha o número dos Representantes da Nação requerido, a fim de que se forme a Assembleia
Geral. É dela que deveis esperar as medidas mais enérgicas, que a Pátria instantemente reclama. Os vossos delegados não
deixarão em esquecimento os vossos interesses; bem como a vós, esta terra lhes é cara. Este Brasil até hoje tão oprimido,
tão humilhado por ingratos, é o objeto do vosso, e do seu entusiasmo. Não sofrerão aqueles que o Brasil elegeu por livre
escolha, que a sua glória, o seu melindre passe pelo mínimo pesar. Do dia 7 de abril de 1831 começou a nossa existência
nacional; o Brasil será dos brasileiros, e livre.
Concidadãos! Já temos Pátria, temos um Monarca, símbolo da vossa união, e da integridade do Império, que educado
entre nós receba quase no berço as primeiras lições da Liberdade Americana, e aprenda a amar o Brasil, que o viu nascer,
o fúnebre prospecto da anarquia, e da dissolução das Províncias, que se apresentava aos nossos olhos, desapareceu de
um golpe, e foi substituído por cena mais risonha. Tudo, tudo se deve à resolução, e sonhos insensatos da tirania. Cumpre
que uma vitória tão bela não seja maculada; que prossigais em mostrar-vos dignos de vós mesmos, dignos da Liberdade, que
rejeita todos os excessos, e a quem só aprazem as paixões elevadas e nobres.
Brasileiros! Já não devemos corar deste nome: a Independência da nossa Pátria, as suas Leis vão ser desde este dia uma
realidade. O maior obstáculo, que a isso se opunha, retira-se do meio de nós; sairá de um país onde deixava o flagelo da
guerra civil, em troco de um Trono que lhe demos.
Tudo agora depende de nós mesmos, da nossa prudência, moderação, e energia; continuemos como principiamos, e
seremos apontados com admiração entre as Nações mais cultas.
Viva a Nação brasileira!
Viva a Constituição!
Viva o Imperador Constitucional o Senhor D. Pedro II!
Bispo Capelão-Mor, Presidente.
Luiz Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque, Secretário.
III. Cabanagem
Uma proclamação
Corajosos Paraenses, valentes defensores da Pátria e da Liberdade! Depois de nove dias de fogo mortífero com outras tantas
noites, estamos senhores da formosa Belém, capital da província! Os dois estrangeiros Manuel Jorge Rodrigues e João Taylor
lá se vão de fugida e duma maneira vergonhosa: o primeiro à frente de seus aguerridos e briosos batalhões de voluntários, e
o segundo à frente de sua esquadra de intrépidos marinheiros! Esta cidade, que ainda há poucos dias era governada por um
presidente rebelde, apresentava um quadro risonho e encantador. Girava o comércio, funcionavam todas as repartições pú-
blicas, havia sossego, paz e ordem. Hoje o que vemos nós? Com dor o digo, esta tão bela cidade, tão cheia de encantos, está
reduzida a um montão de ruínas! Para todas as partes, onde lançamos as nossas vistas, só vemos a imagem da dor e da tristeza!
Amados patrícios! Seremos nós os responsáveis perante Deus por tantos males que hoje pesam sobre o Pará? Certamente
que não. Os dois monstros e fugitivos estrangeiros Jorge e Taylor serão os únicos responsáveis diante do Ser Supremo e perante
a história, pelas grandes desgraças que hoje pesam sobre a inocente família paraense! Amparo e proteção para milhares
de famílias inocentes, que neste momento estão sob nossa guarda! Seja cada um de vós um pai, um protetor da inocência
desvalida! Procedendo assim bem teremos merecido da pátria e das gerações futuras.
Meus amados patrícios! Eu vos afiancei que o infame e opressor jugo estrangeiro havia de cair por terra e que seríamos
os vencedores. Realizaram-se os meus bons desejos e gratas esperanças. Vós sois dignos do nome paraense! Vós todos, sol-
dados da liberdade, estais coberto de glória pelo vosso patriotismo, valor e constância! Os nossos inimigos são os primeiros
a confessar o vosso valor e heroismo! Nos combates desesperados que sustentamos, eu fui o que menos fiz: porém sempre
me achei ao vosso lado e onde havia perigo. Era um dever de honra a cumprir. A nossa obra ainda não está concluída, ainda
resta muito a fazer. Antes de tudo, peço-vos que modereis o vosso ardor guerreiro, e amanhã ou depois teremos que aclamar
um presidente que mereça a nossa estima, confiança e respeito.
Dignos chefes de todas as colunas, vós todos sois merecedores dos maiores louvores e elogios pelo vosso valor, firmeza
de caráter e lealdade.
Vivam os descendentes dos Ajuricabas e Anagaíbas! Vivam os paraenses livres! Viva o Pará!
IV. Carta de demissão do Regente Feijó
19 de setembro de 1837
Ilmo. e Exmo. Sr.
Estando convencido de que a minha continuação na Regência não pode remover os males públicos, que cada dia se
agravam pela falta de Leis apropriadas; e não querendo de maneira nenhuma servir de estorvo a que algum Cidadão mais
feliz seja encarregado pela Nação de reger seus destinos, pelo presente me declaro demitido no Lugar de Regente do Império
para que V. Ex.ª, encarregando-se interinamente do mesmo Lugar, como determina a Constituição Política, faça proceder a
eleição de novo Regente, na forma por ela estabelecida.
Rogo a V. Ex.ª queira dar publicidade a este ofício e ao manifesto incluso.
Deus guarde a V. Ex.ª muitos anos, 19 de setembro de 1837.
Ilmo. e Exmo. Sr. Pedro d’Araújo Lima
Ass. Diogo Antônio Feijó
P. S. Acresce achar-se atualmente gravemente enfermo.
HISTÓRIA Capítulo 6 A montagem do Estado brasileiro46
A estruturação do Estado brasileiro foi um produto da herança colonial e do período em que o Brasil foi sede da monarquia portuguesa. Ainda que
pesem algumas tentativas separatistas, como o caso da Confederação do Equador ou da Farroupilha, ou populares, como a Balaiada, a Sabinada e
em alguns aspectos a Cabanagem, não houve com a independência uma ruptura significativa em relação às estruturas sociais, econômicas e mesmo políticas.
Salvo o período inicial da Regência, no qual se tentou certa modernização política que incluía a adoção de alguns princípios liberais (descentralização
política, eleição dos regentes pelo voto dos eleitores, mandato temporário para os regentes, maior autonomia jurídica aos municípios), o país independente
herdou muitas características de seu passado colonial. A opção por uma rígida centralização, por um modelo altamente elitista na atribuição de direitos
políticos, a manutenção da escravidão e mesmo a opção pelo regime monárquico foram as formas utilizadas pela aristocracia agrária para assegurar
a preservação de seus privilégios e o monopólio do poder. Tal fato fica claro quando, ante a instabilidade que marcou o período regencial, a solução
encontrada foi a antecipação da maioridade de D. Pedro II, de modo que possibilitasse a reedificação da ordem monárquica e assim restaurasse a ordem
perdida durante os nove anos da Regência.
Resumindo
Quer saber mais?
y FLORES, Moacyr. A Revolução Farroupilha. Porto Alegre: Editora
da UFRGS, 1985.
Livros
y FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1999.
y CHIAVENATO, Júlio José. Cabanagem: o povo no poder. São Paulo:
Brasiliense, 1984.
Exercícios complementares
1 FGV-SP Observe o quadro.
Poder Moderador
Imperador
+
Conselho de Estado
Poder Legislativo Poder Executivo
Câmara
dos
Deputados
Senado
Eleitorado
de 2° grau ou
de Paróquia
Presidentes
de Província
Conselhos
Provinciais
Conselhos
Municipais
Eleitorado
de 1° grau ou
de Paróquia
Imperador
+
Ministério
Poder Judiciário
Supremo Tribunal
de Justiça
Flavio de Campos e Miriam Dolhnikoff. Atlas História do Brasil.
O quadro apresenta:
A as transformações institucionais originárias da refor-
ma constitucional de 1834, chamada de Ato Adicional.
B a mais importante reforma constitucional do Brasil
monárquico, com a instituição da eleição direta a
partir de 1850.
C a reorganização do poder político, determinada
pela efetivação do Brasil como Reino Unido a Por-
tugal e Algarves, em 1815.
D a organização de um parlamentarismo às avessas,
em que as principais decisões derivavam do poder
legislativo.
E a organização do Estado brasileiro, segundo as
determinaçõesda Constituição outorgada de 1824.
2 Enem Após a Independência, integramo-nos como ex-
portadores de produtos primários à divisão internacional
do trabalho, estruturada ao redor da Grã-Bretanha. O
Brasil especializou-se na produção, com braço escravo
importado da África, de plantas tropicais para a Europa e
a América do Norte. Isso atrasou o desenvolvimento de
nossa economia por pelo menos uns oitenta anos. Éramos
um país essencialmente agrícola e tecnicamente atrasa-
do por depender de produtores cativos. Não se poderia
confiar a trabalhadores forçados outros instrumentos de
produção que os mais toscos e baratos.
O atraso econômico forçou o Brasil a se voltar para
fora. Era do exterior que vinham os bens de consumo que
fundamentavam um padrão de vida “civilizado”, marca
que distinguia as classes cultas e “naturalmente” dominan-
tes do povaréu primitivo e miserável. [...] E de fora vinham
também os capitais que permitiam iniciar a construção
de uma infraestrutura de serviços urbanos, de energia,
transportes e comunicações.
Paul Singer. “Evolução da economia e vinculação internacional”.
In: I. Sachs; J. Willheim; P. S. Pinheiro (Org.). Brasil: um século
de transformações. São Paulo: Cia. das Letras, 2001, p. 80.
Levando-se em consideração as armações ante-
riores, relativas à estrutura econômica do Brasil por
ocasião da independência política (1822), é correto
armar que o país:
F
R
E
N
T
E
 1
47
A se industrializou rapidamente devido ao desenvol-
vimento alcançado no período colonial.
B extinguiu a produção colonial baseada na escravi-
dão e fundamentou a produção no trabalho livre.
C se tornou dependente da economia europeia por
realizar tardiamente sua industrialização em relação
a outros países.
D se tornou dependente do capital estrangeiro, que
foi introduzido no país sem trazer ganhos para a
infraestrutura de serviços urbanos.
E teve sua industrialização estimulada pela Grã-
-Bretanha, que investiu capitais em vários setores
produtivos.
3 UFPE Uma análise das relações sociais de poder no
Brasil Império mostra mudanças importantes com
relação ao período colonial. Na época do Império, a
sociedade brasileira:
A tornou-se mais democrática, com o declínio acen-
tuado da escravidão depois de 1840, e com a vinda
de imigrantes europeus que traziam ideias moder-
nizadoras.
B manteve a escravidão como fonte de produção de
riqueza, embora restrita à cultura do café, no oeste
paulista e no interior do Rio de Janeiro.
C conseguiu livrar-se das influências europeias, afirman-
do uma matriz, respeitando as tradições seculares de
sua história.
D permaneceu marcada pelo escravismo, embora já
houvesse mudanças de muitos hábitos, por influên-
cia da modernização de alguns setores.
E conviveu com rebeliões políticas frequentes, lide-
radas pelos liberais radicais e movidas por ideias
abolicionistas e republicanas.
4 UFPel Art. 91 - Têm voto nestas eleições primárias:
1. os cidadãos brasileiros que estão no gozo de seus
direitos políticos. [...]
Art. 92 - São excluídos de votar nas assembleias pa-
roquiais: [...]
5. os que não tiverem de renda líquida anual cem
mil-réis por bens de raiz, indústria, comércio ou em-
pregos. [...]
Art. 94 - Podem ser eleitores e votar nas eleições dos depu-
tados senadores e membros dos conselhos de Província,
todos os que podem votar na assembleia paroquial.
Excetuam-se:
1. os que não tiverem de renda líquida anual duzentos
mil-réis por bens de raiz, indústria, comércio ou em-
prego. [...].
Art. 95 - Todos os que podem ser eleitores são hábeis
para serem nomeados deputados.
Excetuam-se:
1. os que não tiverem quatrocentos mil-réis de renda
líquida, na forma dos artigos 92 e 94. [...]
3. os que não professarem a religião do Estado.
BRASIL. Constituição Política do Império do Brasil.
Rio de Janeiro, RJ: 1824.
De acordo com o texto e seus conhecimentos, é cor-
reto armar que a constituição:
I. era democrática, considerando-se que os cargos
para o poder Legislativo eram ocupados através
do voto universal e secreto.
II. adotava o chamado “voto censitário”.
III. garantia a liberdade religiosa a todos os resi-
dentes no Brasil, inclusive para os candidatos a
cargos eletivos.
IV. foi outorgada por D. Pedro I.
Estão corretas apenas:
A I e II.
B II e III.
C I e IV.
D II e IV.
E III e IV.
5 Mackenzie 2018 “A cena de uma rua é, a um só tem-
po, a mesma de todo o quarteirão. Os pés de chumbo
(portugueses) deixam que a cabralhada (brasileiros) se
aproxime o mais possível. E inesperadamente, de todas
as portas, chovem garrafas inteiras e aos pedaços sobre
os invasores. O sangue espirra, testas, cabeças, canelas...
Gritos, gemidos, uivos, guinchos.
É inverossímil.
E a raça toda, de cacete em punho, vai malhando...
E os corpos a cair ensanguentados sobre os cacos nava-
lhantes das garrafas ”
Correia, V., 1933, p.42.
O episódio, descrito acima, relata o enfrentamento
entre portugueses e brasileiros, em 13/03/1831, no Rio
de Janeiro, conhecido como Noite das Garrafadas.
Essa manifestação assemelhava-se às lutas liberais
travadas na Europa, após as decisões tomadas pelo
Congresso de Viena.
A respeito dessa insatisfação popular, presente tanto
na Europa, após 1815, quanto nos conitos nacionais,
durante o I Reinado, é correto armar que:
A D. Pedro II adota a mesma política praticada por
monarcas europeus; quando, ao outorgar uma
carta constitucional, contrariou os interesses, tan-
to da classe oligárquica, fiel ao trono, quanto das
classes populares, as quais permaneceram sem
direito ao voto.
B o governo brasileiro também se utilizou de emprésti-
mos junto à Inglaterra, aumentando a dívida externa
e fortalecendo a economia inglesa, a fim de sanar o
déficit orçamentário e suprir os gastos militares em
campanhas contra os levantes populares.
C D. Pedro I, buscando recuperar sua popularidade,
iniciou uma série de visitas às províncias revoltosas
do país, adotando a mesma estratégia diplomática
que alguns regentes europeus, nessa época, pra-
ticaram, sem contudo, lograrem nenhum sucesso
político.
D as guerras travadas contra o exército napoleônico,
na Europa, e o envolvimento do Brasil, na Guerra
da Cisplatina, provocaram, em ambos os casos, a
enorme insatisfação popular e revolta, diante do
elevado número de combatentes mortos.
HISTÓRIA Capítulo 6 A montagem do Estado brasileiro48

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