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Autoras: Profa. Rita Cristina Chaim Profa. Bettina Gerken Brasil Colaboradoras: Profa Mônica Teixeira Profa. Carolina Kurashima Nutrição Materna da Criança e do Adolescente Professoras conteudistas: Rita Cristina Chaim / Bettina Gerken Brasil Rita Cristina Chaim Nutricionista formada pela Faculdade de Enfermagem do Sagrado Coração (1982), com mestrado em Ciência de Alimentos pela Universidade Estadual de Londrina (1989) e doutorado em Fisiopatologia em Clínica Médica pela Universidade Estadual Paulista (2003). Docente do curso de graduação de Nutrição e Enfermagem no Instituto Filadélfia de Londrina (1983 a 1989), da Universidade do Sagrado Coração (1986 a 2014) e do curso de Nutrição da UNIP desde 2016, ministrando as disciplinas Planejamento de Cardápios nos Ciclos da Vida e Nutrição Materna da Criança e do Adolescente. É também membro do Grupo de Apoio ao Aleitamento Materno Exclusivo (Gaame) de Bauru-SP. Bettina Gerken Brasil Nutricionista formada pela Universidade de São Paulo (1997), com mestrado (2000) e doutorado (2005) em Saúde Pública, pela Faculdade de Saúde Pública da mesma universidade, esse último versando sobre nutrição materna e infantil (mais especificamente, aleitamento materno). Desde então, está envolvida nessa área, no atendimento ambulatorial ou como docente responsável pela disciplina Nutrição Materna da Criança e do Adolescente na UNIP, onde atua como docente desde 2004. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) C434n Chaim, Rita Cristina. Nutrição Materna da Criança e do Adolescente / Rita Cristina Chaim, Bettina Gerken Brasil. – São Paulo: Editora Sol, 2021. 228 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Gestação. 2. Alimentação. 3. Desenvolvimento. I. Chaim, Rita Cristina. II. Brasil, Bettina Gerken. III. Título. CDU 613.2 U511.10 – 21 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcello Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Aline Ricciardi Ingrid Lourenço Talita Lo Ré Sumário Nutrição Materna da Criança e do Adolescente APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9 Unidade I 1 GESTANTE ........................................................................................................................................................... 11 1.1 Aspectos fisiológicos e metabólicos do período gestacional ............................................. 11 1.2 Principais hormônios e suas funções na gestação ................................................................. 13 1.3 Adaptações fisiológicas ...................................................................................................................... 14 1.4 Fatores epidemiológicos na gravidez: idade materna, estado nutricional, intervalo interpartal e paridade ............................................................................................................. 16 1.5 Fatores epidemiológicos na gestação .......................................................................................... 17 1.5.1 Ganho ponderal gestacional .............................................................................................................. 18 1.5.2 Peso e altura ............................................................................................................................................. 24 1.5.3 Acompanhamento pré-natal: cálculo da idade gestacional, calendário de consultas, procedimentos para consulta de nutrição ......................................................................... 26 1.5.4 Assistência pré-natal: cuidado nutricional .................................................................................. 29 1.5.5 Atenção à gestante e puérpera no SUS ......................................................................................... 33 2 NECESSIDADES NUTRICIONAIS DA GESTANTE .................................................................................... 37 2.1 Energia ...................................................................................................................................................... 37 2.2 Recomendações de nutrientes ....................................................................................................... 41 2.3 Gestantes gemelares ........................................................................................................................... 46 3 SINAIS E SINTOMAS DA GESTAÇÃO ......................................................................................................... 47 3.1 Constipação e flatulências ............................................................................................................... 47 3.2 Náuseas e vômitos ............................................................................................................................... 48 3.3 Sialorreia ou ptialismo ....................................................................................................................... 48 3.4 Pirose e sensação de plenitude ....................................................................................................... 49 3.5 Picamalácia ............................................................................................................................................. 49 3.6 Cafeína e edulcorantes ...................................................................................................................... 50 3.7 Gestação de risco ................................................................................................................................. 51 3.7.1 Gestante adolescente ............................................................................................................................ 51 3.7.2 Diabetes gestacional .............................................................................................................................. 53 3.7.3 Distúrbio hipertensivo específico da gestação ........................................................................... 56 3.7.4 Aids ............................................................................................................................................................... 57 3.7.5 Ganho excessivo de peso durante a gestação ............................................................................ 58 3.7.6 Desnutrição e anemia ........................................................................................................................... 58 4 O RECÉM-NASCIDO DE RISCO ................................................................................................................... 60 4.1 Classificação da prematuridade .....................................................................................................60 4.2 Terapia nutricional ............................................................................................................................... 64 4.3 Necessidades nutricionais ................................................................................................................. 64 4.4 Avaliação do crescimento ................................................................................................................. 65 4.5 Características morfofuncionais digestivas ............................................................................... 70 Unidade II 5 NUTRIZ E OS PRIMEIROS ANOS DE VIDA .............................................................................................. 76 5.1 Nutriz ........................................................................................................................................................ 76 5.1.1 Introdução à lactogênese .................................................................................................................... 76 5.1.2 Lactogênese .............................................................................................................................................. 77 5.1.3 Dieta materna no aleitamento materno ....................................................................................... 79 5.1.4 Peso pós-parto ......................................................................................................................................... 81 5.1.5 Avaliação nutricional da nutriz ......................................................................................................... 83 5.2 Aleitamento materno (AM) .............................................................................................................. 89 5.2.1 Situação do aleitamento materno no Brasil ................................................................................ 89 5.2.2 Fisiologia da lactação ............................................................................................................................ 93 5.2.3 Composição do leite materno, aspectos imunológicos ........................................................100 5.2.4 Técnicas de amamentação e relactação ......................................................................................108 5.2.5 Dificuldades, problemas e causas de desmame precoce.......................................................112 5.2.6 Vantagens da amamentação ...........................................................................................................115 5.2.7 Promoção, prevenção, apoio ao aleitamento materno e Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos ................................................................................................... 117 5.2.8 Promoção, proteção e apoio ao aleitamento: banco de leite humano ..........................121 5.2.9 Covid-19 e amamentação ................................................................................................................ 124 5.2.10 Código Internacional de Comercialização de substitutos do leite materno e Norma Brasileira para Comercialização de Alimentos para Lactentes (2006) ....................... 125 6 ALIMENTAÇÃO NO PRIMEIRO ANO DE VIDA ......................................................................................129 6.1 Aleitamento materno e desmame ...............................................................................................131 6.2 Utilização de fórmulas lácteas e leite de vaca .......................................................................132 6.3 Tipos de leite e indicações ..............................................................................................................132 6.4 Introdução da alimentação complementar .............................................................................135 6.5 Necessidades nutricionais durante a alimentação complementar ................................139 6.5.1 Técnicas de alimentação complementar .....................................................................................141 6.5.2 Cuidados com a higiene durante a alimentação complementar ..................................... 143 6.6 Técnicas de aconselhamento nutricional .................................................................................144 6.7 Orientações para a mãe que trabalha fora ..............................................................................145 6.8 Preparando-se para a volta ao trabalho ...................................................................................147 6.9 PNS 2013 e consumo alimentar de crianças menores de 2 anos ..................................148 6.10 Alimentação de crianças vegetarianas....................................................................................149 Unidade III 7 CRIANÇA E ADOLESCENTE .........................................................................................................................157 7.1 Transição nutricional em menores de 5 anos .........................................................................157 7.2 Alimentação do pré-escolar e do escolar .................................................................................159 7.2.1 Aspectos fisiológicos .......................................................................................................................... 159 7.2.2 Crescimento ........................................................................................................................................... 159 7.2.3 Desenvolvimento ................................................................................................................................. 162 7.2.4 Avaliação do crescimento ................................................................................................................ 163 7.2.5 Recomendações nutricionais .......................................................................................................... 166 7.2.6 Características de uma dieta adequada ..................................................................................... 167 7.2.7 Nutrição em condições clínicas especiais ...................................................................................170 7.2.8 Intolerância à lactose ..........................................................................................................................171 7.2.9 Alergia à proteína do leite de vaca (APLV) ................................................................................ 173 7.2.10 Diarreia aguda e persistente ......................................................................................................... 175 7.2.11 Obstipação intestinal ........................................................................................................................ 176 7.2.12 Erros inatos do metabolismo (EIM) ............................................................................................ 178 8 ALIMENTAÇÃO DO ADOLESCENTE ..........................................................................................................179 8.1 Necessidades nutricionais ...............................................................................................................180 8.2 Orientações nutricionais .................................................................................................................181 8.3 Transtornos alimentares na adolescência ................................................................................184 8.4 Prevalência de excesso de peso e obesidade...........................................................................185 8.5 Determinantes de excesso de peso e obesidade ....................................................................186 9 APRESENTAÇÃO O fenômeno da nutrição, considerado a capacidade do corpo de retirar nutrientes e energia dos alimentos, é um dos processos mais interessantes da fisiologia. Como o corpo utilizaesses nutrientes para subsidiar seus processos bioquímicos, genéticos e fisiológicos, trata-se do ponto central da ciência da nutrição. Quando pensamos no ciclo da vida, entendemos o quão importante são os nutrientes e a energia para garantir todo o processo. Quando olhamos um período em específico, no nosso caso o período materno-infantil, vemos o quão fantástica é a vida e a nutrição. Neste livro-texto abordaremos esses processos e o papel da nutrição na promoção, na prevenção e no tratamento da saúde do grupo materno-infantil. Para isso, passaremos por pontos como o diagnóstico nutricional de gestantes, feto, nutrizes, crianças e adolescentes, além de trabalhar a gestação de risco e o papel da nutrição nessa situação específica. A intervenção nutricional, através de esquemas alimentares que atendam às necessidades de gestantes, nutrizes, crianças e adolescentes, será trabalhada tendo como base o conhecimento anterior. Outro ponto importante a ser abordado é o aleitamento materno, tanto do ponto de vista da nutriz como da criança, atentando sobretudo à sua importância, fisiologia e técnicas relacionadas. INTRODUÇÃO O fenômeno da nutrição é um dos atributos biológicos mais importantes em todo o ciclo da vida. Não seria diferente nos processos de rápida multiplicação celular que acontecem na vida intrauterina, na fase de lactação, nos primeiros anos de vida da criança e na fase da adolescência. São as fases de crescimento humano e são essenciais para a saúde da fase adulta. Fisiologicamente falando, são caracterizadas pelo anabolismo do crescimento, e não por catabolismo; por processos de síntese, e não pelo desgaste de células e tecidos. Sabe-se que a nutrição pode resultar em vulnerabilidade, riscos e consequências muitas vezes irreversíveis para o binômio mãe-filho. Tendo tal fato em vista, nessa disciplina pretendemos compreender o diagnóstico de nutrição desse grupo, a saber: gestantes, nutrizes, lactentes, crianças e adolescentes, sadios ou enfermos. Também trabalharemos as necessidades nutricionais, a avaliação e a elaboração de esquemas alimentares para esse grupo, reconhecendo as gestantes de risco. A importância da prescrição de dietas adequadas nessa fase, para prevenção de complicações e promoção de saúde, é um dos pontos mais importantes de nossa disciplina. Outro ponto importante, que, além de ser uma questão clínica para o nutricionista, mostra-se uma questão de saúde pública, é o tema do aleitamento materno. No Brasil, as taxas de aleitamento são muito baixas e um dos diagnósticos para isso é a falta de preparo e apoio profissional para essa prática. Formar profissionais que saibam atuar nessa área é um dos pontos mais importantes para a saúde pública brasileira e para o SUS. Considerando ainda a alimentação, aleitamento materno e alimentação complementar, vamos discutir a Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e perceber como a indústria 10 é um ponto nevrálgico nesse momento, pois infelizmente provoca mais desmame precoce do que incentiva a boa nutrição e o aleitamento materno. Por fim, vale lembrar que esse momento do ciclo da vida é um dos mais importantes para a saúde pública e para o desenvolvimento do nosso país. Crianças saudáveis serão adultos saudáveis, com desenvolvimento cognitivo adequado para compor uma sociedade mais justa, humana e solidária. 11 NUTRIÇÃO MATERNA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE Unidade I 1 GESTANTE A gestação é considerada um estado fisiológico especial com duração de 40 semanas e com características heterogêneas nos seus aspectos fisiológicos, metabólicos e nutricionais. Além das adaptações orgânicas que geram mudanças no corpo, devem ser consideradas outras modificações de ordem psicológica (emoções, ansiedades), familiar e, por que não, sociais (ACCIOLY; SAUNDERS; LACERDA, 2009). O organismo materno deve adaptar-se às condições que a gestação impõe e a isso dá-se o nome de risco gravídico, ou seja, há uma maior oportunidade de ocorrerem agravos físicos, psíquicos e sociais. Essa suscetibilidade a adaptações leva a considerar a gestante vulnerável, além de ações a serem realizadas para que se estabeleça o binômio mãe-filho (ACCIOLY; SAUNDERS; LACERDA, 2009). O olhar da nutrição nessa fase relaciona-se ao fato de as condições maternas poderem exercer influência direta sobre o desenvolvimento fetal, e, por isso, a dieta durante a gestação, assim como o estado de saúde materno, é um importante elemento para o perfeito aproveitamento do potencial genético fetal, sabendo-se que uma alimentação deficiente pode predispor a doenças carenciais (ACCIOLY; SAUNDERS; LACERDA, 2009). 1.1 Aspectos fisiológicos e metabólicos do período gestacional O aparelho reprodutor feminino, durante os anos reprodutivos da mulher, se prepara para a gestação durante os ciclos sexuais (ciclos menstruais) a cada 28 dias (variações individuais entre 20 e 45 dias) (GUYTON, 1984a). Esse processo é comandado pelos hormônios hipotalâmicos, que induzem o ovário ao amadurecimento de um óvulo no folículo de Graaf e sua expulsão para a trompa de Falópio (GUYTON, 1984a). É na primeira porção da trompa de Falópio que ocorrerá a fecundação (pareamento dos cromossomos femininos e masculinos) e início da divisão celular mitótica, por aproximadamente três dias, até o óvulo chegar ao útero (GUYTON, 1984b). No início do processo, as células em divisão (denominadas blastômeros) constituem uma massa celular compacta denominada mórula e, continuando a multiplicar-se, formam uma estrutura cavitária de células chamada de blastocisto (GUYTON, 1984b). 12 Unidade I O blastocisto continua a ser transportado até o útero e, por volta do sétimo ou oitavo dia após a ovulação, haverá o processo de implantação no endométrio (nidificação) (GUYTON, 1984b). As células periféricas do blastocisto (trofoblastos) serão as responsáveis pela colocação do ovo em posição segura e sofrerão divisões e diferenciações para formar a placenta. Até que a diferenciação se complete, entre 8 e 12 semanas, a nutrição do feto será realizada pela utilização dos nutrientes da decídua (endométrio modificado por ação da progesterona). Ocorrida a nidificação, o ovo continua a dividir suas células, formando estruturas ramificadas, denominadas vilosidades do córion, que penetram no interior da parede uterina e formam o cordão umbilical (duas artérias e uma veia), a placenta e o embrião. Perto da 12ª semana gestacional, a placenta já estará apta para as trocas nutricionais até o final da gestação (GUYTON, 1984b). Estabelecidas as estruturas, o oxigênio e os nutrientes serão trazidos pela corrente sanguínea materna e serão transportados, via cordão umbilical, para o embrião. Figura 1 – Placenta, cordão umbilical e feto Perto da 12ª semana gestacional, fase onde há o predomínio de intensa multiplicação celular (hiperplasia), as células sanguíneas do embrião começam a se desenvolver, juntamente ao desenvolvimento dos vasos sanguíneos que formarão o precursor do coração (canal cardíaco) e outras estruturas que darão condições de o embrião iniciar seus processos metabólicos (GUYTON, 1984b). A partir da 12ª semana, tem início o predomínio da fase hipertrófica das células (crescimento celular), além da fase fetal com a aquisição de funções das estruturas formadas (GUYTON, 1984b). 13 NUTRIÇÃO MATERNA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE Com essas considerações, vê-se a importância de um estado nutricional adequado da mulher que pretende engravidar, pois no início da gestação (até por volta da 12ª à 14ª semana gestacional) ocorrem as diferenciações celulares e as necessidades embrionárias são supridas pelo organismo materno. Quando o feto tem suas estruturas diferenciadas e especializadas (órgãos com funções), ele passa a utilizar os nutrientes recebidos via alimentação materna e, então, a atenção deve ser dada para que não comprometa seu crescimento e desenvolvimento. 1.2 Principais hormônios e suas funções na gestação A gestaçãodepende de um sistema hormonal hipotalâmico e ovariano eficientes, pois eles controlam o amadurecimento do óvulo e, no caso da gestação, seu desenvolvimento (GUYTON, 1984a; VITOLO, 2008a; PEIXOTO, 2014). Ciclicamente, os hormônios hipotalâmicos agem nos ovários para que os folículos se desenvolvam. Os hormônios são o HLHFE (hormônio liberador do hormônio folículo estimulante) e o HLHL (hormônio liberador do hormônio luteinizante). O HLHFE age na adeno-hipófise para que essa libere o HFE (hormônio folículo estimulante), o HLHL age na adeno-hipófise para que essa libere o HL (hormônio luteinizante). O HFE e o HL, quando chegam ao ovário, estimulam o amadurecimento do óvulo no folículo de Graaf. Hipotálamo Adeno-hipófise Ovário Útero HFE HL HLHL HLHFE Estrogênio Progesterona Estrogênio Progesterona Figura 2 – Hierarquia do sistema hormonal feminino Uma vez maduro, o folículo se rompe e o óvulo é expelido para a cavidade pélvica/trompa de Falópio. O rompimento do folículo leva a alterações que promovem sua transformação em corpo-lúteo (ou amarelo), que passa, então, a secretar os hormônios estrogênio e progesterona. Essa produção se dá até aproximadamente as 12 primeiras semanas da gestação, quando, então, a placenta se torna responsável pela produção de estrogênio e progesterona (GUYTON, 1984a). 14 Unidade I Observação Se não ocorrer a fecundação, os níveis de estrogênio e progesterona diminuem, estimulando a adeno-hipófise a iniciar um novo ciclo de amadurecimento de óvulo. O estrogênio é responsável pelo aumento do útero (hipertrofia e hiperplasia das fibras musculares) e pelo aumento da elasticidade uterina, participando da mamogênese e também das modificações na genitália externa (ACCIOLY; SAUNDERS; LACERDA, 2009). A progesterona, entre outras funções, atua na parede uterina preparando-a para receber o ovo fecundado (processo conhecido como nidificação). Age, ainda, diminuindo a contração da musculatura lisa uterina, evitando a expulsão do ovo, e promove alterações na trompas de Falópio de modo que seu revestimento secrete nutrientes para o zigoto durante o período de divisão celular. Tem também ação nos alvéolos mamários para que esses adquiram a característica secretora (ACCIOLY; SAUNDERS; LACERDA, 2009). Quando ocorre a fecundação, tem início a fase de produção dos hormônios placentários (GUYTON, 1984a). Assim que a placenta é formada (próximo da 8ª e da 9ª semanas de gestação), entre outras funções, ela inicialmente produz pouco e aumenta gradativamente os hormônios estrogênio, progesterona, gonadotrofina coriônica humana (HCG) e lactogênio placentário humano (PEIXOTO, 2014). O estrogênio placentário, por ocasião do parto, é o responsável por promover o relaxamento dos ligamentos pélvicos para facilitar a expulsão do feto (ACCIOLY; SAUNDERS; LACERDA, 2009). A gonadotrofina coriônica humana é responsável pela prevenção da involução do corpo-lúteo e por induzi-lo a secretar maiores quantidades de estrogênio e progesterona. Quando a placenta produz esses hormônios em quantidades suficientes (por volta da 15ª semana gestacional), há uma diminuição na sua produção (PEIXOTO, 2014). O lactogênio placentário humano é responsável pelo crescimento fetal ao promover a deposição proteica (anabolismo), a glicogenólise e a lipólise, além de bloquear a gliconeogênese. A glicogenólise aumenta a glicemia materna, a lipólise faz com que os ácidos graxos livres sejam usados como fonte energética e isso permite maior disponibilidade de glicose para o feto (PEIXOTO, 2014). A somatomamotropina coriônica atua no metabolismo dos carboidratos e lipídios maternos, reduzindo sua utilização pela mãe para utilização fetal (PEIXOTO, 2014). 1.3 Adaptações fisiológicas O organismo materno sofre adaptações em suas funções fisiológicas e metabólicos para que a gestação se desenvolva adequadamente. Essas adaptações podem ser vistas externamente (peso) e também nos valores bioquímicos laboratoriais (plasma e urina) que apresentam valores diferentes dos de mulheres não grávidas (ACCIOLY; SAUNDERS; LACERDA, 2009). 15 NUTRIÇÃO MATERNA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE As principais modificações que ocorrem são devido ao crescimento e desenvolvimento do feto no útero, à sobrecarga fisiológica que acomete o organismo materno, aos hormônios secretados nesse período (pela placenta ou pelas glândulas endócrinas). As mudanças observadas são no ganho de peso, no metabolismo, no sistema cardiorrespiratório e no sistema renal, entre outros (ACCIOLY; SAUNDERS; LACERDA, 2009). As alterações no sistema circulatório ocorrem devido ao débito cardíaco materno, que se eleva em 30% a 40% acima do normal (devido ao metabolismo aumentado e ao maior fluxo sanguíneo). Há também um aumento do volume plasmático em 50%, o que leva a uma adaptação com aumento de 20% na concentração de eritrócitos e hemoglobina. Esse maior aumento plasmático e a menor concentração de massa são responsáveis pela diminuição nos valores da hemoglobina (perto de 20%) e nos valores do hematócrito (perto de 15%). Mesmo ocorrendo essas alterações, o volume corpuscular médio (VCM) e a concentração de hemoglobina (HCM) permanecem inalteradas se a paciente não estiver com quadro de anemia. Essa diminuição nos valores do hematócrito devido à hemodiluição estimula a medula óssea, e os valores tendem a se normalizar no final da gestação. Esse fato é responsável pelos valores diferenciados no hemograma de uma gestante (NEUHOUSER, 2010). As adaptações maternas (respiração, aumento de peso e produção hormonal) e o crescimento fetal elevam o metabolismo basal entre 15% e 20%, principalmente no final da gestação, sendo mantido pelos hormônios maternos (tiroxina, corticoides). Como há um aumento de peso, há maior gasto energético para a realização das atividades diárias (NEUHOUSER, 2010). Alguns ajustes no metabolismo materno ocorrem para que a glicose seja a principal fonte energética do feto (70%), seguida dos aminoácidos (20%) e muito pouco dos lipídios (NEUHOUSER, 2010). A respiração materna aumenta em cerca de 20% acima do normal (para captação de O2 para as funções metabólicas e excreção de CO2) e essa hiperventilação dos centros respiratórios é garantida pelos hormônios progesterona (ventilação) e estrogênio (vascularização). Essa hiperventilação garante o fornecimento de mais oxigênio, mas pode ser responsável por um desconforto nasal (ACCIOLY; SAUNDERS; LACERDA, 2009). Devido ao aumento no tamanho do feto, principalmente ao final da gestação, o diafragma pode sofrer compressão, o que faz com que consiga movimentar-se em menor profundidade, resultando em uma respiração dispneica/ofegante. O metabolismo também promove um aumento dos produtos de excreção, o que faz com que o sistema renal aumente o ritmo de formação de urina. Há ainda um aumento (perto de 50%) na taxa de filtração glomerular, o que faz com que haja aumento na excreção de água, eletrólitos e produtos do metabolismo, mas os hormônios esteroides produzidos pela placenta e pelo córtex da suprarrenal garantem a maior absorção de água, sódio e cloretos pelos túbulos renais. Verifica-se, assim, um relativo equilíbrio entre o aumento na filtração e na absorção (VITOLO, 2008a; PEIXOTO, 2014). 16 Unidade I Durante a gestação, são observadas ainda alterações no peso da mulher. Espera-se um aumento devido ao crescimento fetal e aos acúmulos maternos; entretanto, no início da gestação, devido à presença de náuseas e vômitos (que podem estar relacionados aos níveis aumentados de estrogênio aliados à menor ingestão alimentar), podem ocorrer perdas, bem como alteração dos estoques musculares e de reservas adiposas. Devido às alterações fetais, é esperado maior ganho de peso a partir da 12ª semana gestacional e, se a mulher não mantiver um nível de atividade física mínimo, o ganho pode ser muito acima do esperado (VITOLO, 2008a). Níveis aumentados de progesterona, além de relaxarem a musculatura uterina, também diminuem o trânsitointestinal, podendo levar à constipação intestinal, mas garantem maior tempo de absorção de nutrientes e reabsorção de água (NEUHOUSER, 2010). Devido ao aumento uterino/fetal e à necessidade de equilíbrio, há adaptação com alteração no centro de gravidade da gestante, o que predispõe à lordose da coluna lombar (ACCIOLY; SAUNDERS; LACERDA, 2009). Saiba mais Você pode entender melhor as alterações no organismo e no corpo de uma gestante acessando a obra indicada a seguir. OBER, W. C.; BARTHOLOMEW, E. F.; NATH, J. L. Anatomia e fisiologia humana. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014. 1.4 Fatores epidemiológicos na gravidez: idade materna, estado nutricional, intervalo interpartal e paridade Espera-se que o organismo materno consiga se adaptar às mudanças impostas pela gestação e evolua favoravelmente durante o período; entretanto, alguns fatores podem interferir e predispor a mãe e o feto a riscos (BRASIL, 2012a). A gravidez, se olhada sob o enfoque de risco, pode apresentar alguma probabilidade de ter intercorrências, com graus variáveis. A detecção precoce e a intervenção garantem “cuidados que vão desde o mínimo, para os indivíduos sem problemas ou com poucos riscos de sofrerem danos, até o máximo necessário para aqueles com alta probabilidade de sofrerem agravos à saúde” (BRASIL, 2012a, p. 9). Entre os principais fatores de risco estão a idade materna, o estado nutricional, o intervalo interpartal e a paridade, além da identificação precoce no decorrer do pré-natal e da atenção por parte da equipe da saúde, que em muito ajudam no prognóstico da gestação (BRASIL, 2012b). A idade materna, se menor que 15 anos, caracteriza a mulher como imatura biologicamente, pois o crescimento dos ossos longos (principalmente o pélvico) ainda está ocorrendo. Juntamente com a 17 NUTRIÇÃO MATERNA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE idade cronológica deve ser considerada a idade ginecológica (após a menarca), sendo que a literatura considera a ideal aquela maior que 5 anos. Esses fatores podem predispor o binômio mãe-bebê a risco de prematuridade, anemia e distúrbios hipertensivos específicos da gestação (DHEG). Alie-se à adolescência a possibilidade de erros alimentares próprios da fase (VITOLO, 2015c; BRASIL, 2012b). A idade ainda deve ser considerada nas gestantes com mais de 35 anos, uma vez que estão predispostas a riscos de abortos espontâneo, hipertensão arterial, DHEG, diabetes gestacional. Se a gestante tiver mais que 40 anos aumentam os riscos para síndrome de Down e outras doenças genéticas (ACCIOLY; SAUNDERS; LACERDA, 2009). Há que se considerar o peso pré-gestacional e o peso ganho durante a gestação. Baixo peso materno (inicial e perpetuado durante a gestação) pode predispor o feto a retardo no crescimento intrauterino (RCIU) devido ao menor transporte de nutrientes e oxigênio em decorrência da menor adaptação materna (expansão do volume plasmático e fluxo placentário). Uma criança que tem seu crescimento comprometido durante a fase gestacional tem piores prognósticos pós-natal (deficiência imunológica, problemas no crescimento físico, possível comprometimento neurológico e funções inadequadas de alguns órgãos) (QUEIRÓZ; NÓBREGA, 1998). Peso excessivo materno (inicial ou ganho durante a gestação) também não é desejável por aumentar os riscos de diabete e hipertensão maternas. Para o feto, pode levar a um aumento na lipogênese fetal e peso excessivo, o que não é benéfico para o feto e induz a mãe a risco obstétrico por predispor ao parto cesáreo (ACCIOLY; SAUNDERS; LACERDA, 2009). A paridade, se associada a outro fator como idade ou peso, pode levar ao aparecimento de DHEG (em primigestas) (VITOLO, 2015c) e, apesar de algumas controvérsias, há que se considerar que o estresse que a gestação impõe, se associado a uma alimentação deficiente, pode comprometer a recuperação do organismo materno (densidade mineral óssea e outras reservas) (BRASIL, 2012b). O intervalo interpartal considerado adequado é aquele compreendido entre 2 e 5 anos. Se menor que 2 anos, é considerado muito curto, sendo fator de risco para anemia, desnutrição, crescimento intrauterino restrito e incompatível com um tempo adequado para amamentação da criança (recomendado até 2 anos). Se o intervalo for maior que 5 anos, é considerado muito longo e o organismo materno se comporta novamente como primigesta (BRASIL, 2012b). 1.5 Fatores epidemiológicos na gestação A gestação é um estado fisiológico especial na vida da mulher, a qual envolve mudanças dinâmicas do olhar físico, social e emocional e deve ser tratada como uma experiência de vida saudável. O acompanhamento nesse período contribui para diminuir a morbimortalidade materno-infantil, o que está de acordo com a quinta meta dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) e, hoje, a terceira dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) (ROMA, 2019). A assistência pré-natal adequada na atenção primária à saúde permite que sejam detectadas situações de risco, possibilitando, assim, a intervenção precoce e melhorando os indicadores de saúde relacionados à mãe e ao bebê. 18 Unidade I Isso se faz necessário pois alguns fatores predispõem a gestante a riscos: idade menor que 15 ou maior que 35 anos; ocupação de risco químico, biológico, físico; estrutura familiar insegura; baixa escolaridade; antropometria (baixa estatura, peso muito baixo ou excessivo); presença de doenças crônicas ou debilitantes (BRASIL, 2012b). O Ministério da Saúde, dentro da Política Nacional de Humanização, recomenda que a gestante seja acolhida na rede pública e que os profissionais favoreçam a criação de vínculo pela construção de uma relação de confiança e compromisso entre a gestante e a equipe (BRASIL, 2012b). 1.5.1 Ganho ponderal gestacional O ganho de peso gestacional é um indicador de saúde importante, pois ganho inadequado nesse período, seja o excessivo ou o insuficiente, está associado a desfechos indesejáveis tanto para a mãe (como a retenção do peso pós-parto) quanto para o bebê (como prematuridade, baixo peso ao nascer e macrossomia fetal) (BRASIL, 2018a). O acompanhamento durante o pré-natal com registros, análises e interpretação correta dos dados permite verificar se o crescimento embriofetal está ocorrendo e resultará em um recém-nascido que expressou totalmente seu potencial genético (BRASIL, 2018a). O crescimento intrauterino pode ser modificado por alguns fatores, como nível socioeconômico e educacional, presença de enfermidades crônicas (hipertensão arterial, nefropatias, diabetes com vasculopatias) e agudas (anemias frequentes, infecções), ganho insuficiente de peso materno, intervalo entre as gestações menor que 2 anos, falta de acompanhamento no pré-natal, tabagismo, etilismo e consumo exagerado de cafeína (BRASIL, 2012b). Uma criança que nasce a termo e com um peso adequado tem melhores condições de continuar seu crescimento e desenvolvimento normais, contribuindo para isso com a realização das consultas do pré-natal o mais cedo possível, a fim de que, caso seja identificada alguma dificuldade no crescimento intrauterino, ainda haja tempo de revertê-la. Durante as consultas do pré-natal, para a identificação de possíveis agravos, é realizada a avaliação antropométrica que possibilita o diagnóstico e o risco nutricional, bem como planejar a orientação alimentar e nutricional para garantir uma evolução do peso satisfatória até o final do período. Apesar do aumento de peso ser bastante variável em diferentes mulheres, esse deve ocorrer como resposta aos processos fisiológicos da gestante (crescimento fetal e materno) (BRASIL, 2012b). Entre as medidas sugeridas para acompanhamento da evolução gestacional, recomenda-se a aferição de medidas antropométricas de peso e altura, uma vez que tem valor clínico para avaliação do ganho de peso gestacional. Medidas de dobras cutâneas são confiáveis, mas não são úteis clinicamente porque não existem equações adequadamente validadas que usem as espessurasdessas dobras para prever a composição corporal total das mulheres grávidas, nem existem padrões de referência para medidas de espessura das dobras cutâneas validadas em função dos resultados fetais (IOM, 1990). 19 NUTRIÇÃO MATERNA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE O acompanhamento da evolução ponderal é realizado através de curvas de referência para o ganho de peso. Já foram utilizadas diversas curvas propostas por diversos estudos e diversas organizações (nomograma e curva de Rosso, curva de ganho de peso proposta pela OMS/OPAS, curva do Instituto de Medicina Americano – IOM). Entretanto, na atualidade, o Ministério da Saúde propõe o uso da curva proposta por Atalah, com estudos sendo realizados para reformulação e adequação de acordo com diferentes estados nutricionais (BRASIL, 2020a). A avaliação antropométrica nutricional deve ser realizada o mais cedo possível. Para gestantes com idade superior a 18 anos, a altura é aferida na primeira consulta e o peso em todas as outras. Para gestantes com idade inferior a 18 anos, a altura deve ser aferida pelo menos trimestralmente e o peso, em todas as consultas. A aferição das medidas antropométricas na primeira consulta subsidia a previsão de ganho de peso até o fim da gestação. Para essa avaliação são necessários o peso e a altura (obtidos segundo técnicas padronizadas), além da idade gestacional (em semanas) (BRASIL, 2012b). As recomendações são para que o diagnóstico antropométrico seja realizado com o peso pré-gestacional referido ou, então, a medição calculada preferencialmente com o peso até a 13ª semana gestacional. Entretanto, caso isso não seja possível, o diagnóstico antropométrico deve ser realizado na primeira consulta do pré-natal. O Caderno de Atenção ao Pré-Natal de Baixo Risco traz os procedimentos padronizados para aferição das medidas antropométricas no sistema de saúde e como é feito o cálculo do IMC (BRASIL, 2012b). O nutricionista, enquanto avaliador, pode ser o responsável pelas aferições, entretanto, dependendo de como é a rotina do local de trabalho, pode ser que a medida seja realizada por outra pessoa. Nesses casos, ele deve treinar a pessoa que realizará a medida e periodicamente verificar a fidedignidade do procedimento. Com os valores de peso e altura, faz-se o cálculo do IMC e localiza-se, na tabela a seguir, o diagnóstico antropométrico; ou seja, em qual faixa de adequação a gestante se encontra (baixo peso, peso adequado, sobrepeso ou obesidade). Tabela 1 – Avaliação do estado nutricional da gestante segundo o IMC por semana gestacional Semana gestacional Baixo peso: IMC menor do que Peso adequado: IMC entre Sobrepeso: IMC entre Obesidade: IMC maior do que 6 19,9 20,0 e 24,9 25,0 e 30,0 30,1 7 20,0 20,1 e 25,0 25,1 e 30,1 30,2 8 20,1 20,3 e 25,2 25,1 e 30,1 30,2 9 20,2 20,4 e 25,3 25,3 e 30,2 30,3 10 20,2 20,5 e 25,4 25,3 e 30,2 30,3 11 20,3 20,7 e 25,6 25,4 e 30,3 30,4 12 20,4 20,8 e 25,7 25,5 e 30,3 30,4 13 20,6 20,9 e 25,8 25,7 e 30,4 30,5 20 Unidade I Semana gestacional Baixo peso: IMC menor do que Peso adequado: IMC entre Sobrepeso: IMC entre Obesidade: IMC maior do que 14 20,7 21,1 e 25,9 25,8 e 30,5 30,6 15 20,8 21,2 e 26,0 25,9 e 30,6 30,7 16 21,0 21,3 e 26,1 26,0 e 30,7 30,8 17 21,1 21,5 e 26,2 26,1 e 30,8 30,9 18 21,2 21,6 e 26,3 26,2 e 30,9 31,0 19 21,4 21,8 e 26,4 26,3 e 30,9 31,0 20 21,5 21,9 e 26,6 26,4 e 31,0 31,1 21 21,7 22,1 e 26,8 26,5 e 31,1 31,2 22 21,8 22,3 e 26,9 26,7 e 31,2 31,3 23 22,0 22,5 e 27,0 26,9 e 31,3 31,4 24 22,2 22,7 e 27,2 27,0 e 31,5 31,6 25 22,4 22,8 e 27,3 27,1 e 31,6 31,7 26 22,6 23,0 e 27,5 27,3 e 31,7 31,8 27 22,7 23,2 e 27,6 27,4 e 31,8 31,9 28 22,9 23,4 e 27,8 27,6 e 31,9 32,0 29 23,1 23,5 e 27,9 27,7 e 32,0 32,1 30 23,3 23,7 e 28,0 27,9 e 32,1 32,2 31 23,4 23,9 e 28,1 28,0 e 32,2 32,3 32 23,6 24,0 e 28,3 28,1 e 32,3 32,4 33 23,8 24,2 e 28,4 28,2 e 32,4 32,5 34 23,9 24,3 e 28,5 28,4 e 32,5 32,6 35 24,1 24,5 e 28,7 28,5 e 32,6 32,7 36 24,2 24,6 e 28,8 28,6 e 32,7 32,8 37 24,4 24,8 e 28,9 28,8 e 32,8 32,9 38 24,5 25,0 e 29,1 28,9 e 32,9 33,0 39 24,7 25,0 e 29,2 29,0 e 33,0 33,1 40 24,9 25,1 e 29,2 29,2 e 33,1 33,2 41 25,0 29,3 e 33,2 33,3 42 25,0 29,3 e 33,2 33,3 Fonte: Brasil (2012b, p. 75-76). Mediante o diagnóstico apresentado pela gestante, estima-se o ganho até o final da gestação de acordo com a tabela proposta pelo IOM, pela OMS e adotada pelo Ministério da Saúde (tabela a seguir). Os ganhos de peso sugeridos variam de acordo com o estado nutricional inicial aferido por ocasião da primeira consulta do pré-natal e possibilitam que o nutricionista consiga realizar as orientações necessárias à gestante, estabelecendo quais as melhores estratégias para que ela tenha um ganho de peso adequado, orientando-a sobre a forma como a alimentação contribui para isso (BRASIL, 2012b). Para o primeiro trimestre, o ganho sugerido é para o período; para os demais meses, o ganho esperado é semanal. 21 NUTRIÇÃO MATERNA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE Tabela 2 – Ganho de peso recomendado (kg) na gestação segundo o estado nutricional inicial Estado nutricional inicial (IMC) Recomendação de ganho de peso (kg) semanal médio no 2º e 3º trimestres* Recomendação de ganho de peso (kg) total na gestação Baixo peso (< 18,5 kg/m2) 0,5 (0,44 e 0,58) 12,5 e 18,0 Adequado (18,5-24,9 kg/m2) 0,4 (0,35 e 0,50) 11,5 e 16,0 Sobrepeso (25,0-29,9 kg/m2) 0,3 (0,23 e 0,33) 7,0 e 11,5 Obesidade (> 30 kg/m2) 0,2 (0,17 e 0,27) 5,0 e 9,0 *ganho de peso no primeiro trimestre entre 0,5 e 2,0 kg Fonte: Brasil (2012b, p. 77). O acompanhamento da evolução do ganho ponderal nos meses subsequentes é feito pela curva proposta por Atalah, que estará no prontuário e também na carteira da gestante (deve ser preenchida nos dois lugares). A altura já aferida na primeira consulta e o peso aferido na visita permitem, novamente, o cálculo do IMC, além de possibilitar o peso acompanhado de acordo com a idade gestacional. O gráfico de acompanhamento fornece quatro possíveis diagnósticos: baixo peso (BP), peso adequado (A), sobrepeso (S) ou obesidade (O) e permite que se faça a evolução e, dependendo da localização, o diagnóstico nutricional. Observação Para anotação no gráfico, em algumas situações haverá necessidade de arredondamento da idade gestacional em semanas completas. Nesses casos, se a idade gestacional for apresentada em semanas e dias, o arredondamento deve ser feito da seguinte forma: se os valores forem 1, 2 ou 3 dias, considerar o número de semanas completas; no caso de 4, 5 ou 6 dias, considerar a semana seguinte (BRASIL, 2012b). Por exemplo: 18 semanas e 2 dias devem ser considerados 18 semanas, já 18 semanas e 5 dias constarão como 19 semanas. 22 Unidade I Figura 3 – Acompanhamento da evolução do peso gestacional segundo o IMC Uma vez preenchido o gráfico, faz-se a evolução do peso nas visitas e a interpretação serve para nortear a conduta nutricional. Espera-se que o ganho de peso seja ascendente e que a inclinação da curva esteja de acordo com o diagnóstico nutricional. O quadro a seguir sumariza, mediante o diagnóstico antropométrico nutricional, qual deve ser a interpretação esperada. Quadro 1 – Possíveis diagnósticos antropométricos e como deve ser o ganho ponderal Encontrado Estado nutricional O que se espera Baixo peso (BP) Deve apresentar uma curva ascendente com inclinação maior do que o que estabelece como referência (curva que delimita o BP de A). Espera-se que o ganho de peso seja suficiente para a gestante sair do BP e chegar ao A. 23 NUTRIÇÃO MATERNA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE Encontrado Estado nutricional O que se espera Adequado (A) Deve apresentar curva ascendente com inclinação semelhante à curva estabelecida (paralela às curvas que delimitam a área de estado nutricional adequado no gráfico), o que fará com que ela permaneça com o que se espera como sendo adequado. Sobrepeso (S) Deve apresentar inclinação ascendente, semelhanteà da curva que delimita a parte inferior da faixa de sobrepeso ou à da curva que delimita a parte superior dessa faixa, a depender do seu estado nutricional inicial. Por exemplo, se uma gestante de sobrepeso inicia a gestação com IMC próximo ao limite inferior dessa faixa, sua curva de ganho de peso deve ter inclinação ascendente semelhante à curva que delimita a parte inferior dessa faixa no gráfico. Obesidade (O) Deve apresentar inclinação ascendente, mas com inclinação semelhante ou inferior (desde que ascendente) à curva que delimita a parte inferior da faixa de obesidade. Fonte: Brasil (2012b, p. 79). Gestante adolescente Apesar dessa classificação de IMC ser para adultos, o Ministério da Saúde, declara que a curva de Atalah pode ser usada para adolescentes se elas engravidaram dois ou mais anos depois da menarca ou com idade superior a 15 anos, pois a interpretação dos achados é equivalente à das adultas (BRASIL, 2008b). Para gestantes que engravidaram com menos de dois anos após a menarca e idade inferior a 15 anos acompanhadas pela curva de Atalah, é provável que se observe que muitas serão classificadas como de baixo peso (BRASIL, 2008b). Nesses casos, sugere-se que as adolescentes sejam avaliadas em seu estado antropométrico usando os critérios de diagnóstico de adolescentes (anexo D). Após serem aferidos o peso e a estatura, deve-se preencher os gráficos de crescimento segundo os percentis ou os escores do IMC para a estatura, verificando qual o diagnóstico nutricional (quadro a seguir). Com o diagnóstico prévio, ao ser colocada na curva de Atalah, é possível individualizar a evolução de uma gestante sendo acompanhada numa curva elaborada com dados de mulheres adultas. 24 Unidade I Tabela 3 – IMC pré-gestacional de adolescentes do sexo feminino Percentil Escore Z Diagnóstico nutricional < 3 < -2 Magreza ≥ 3 e < 85 ≥ -2 e < +1 Eutrofia ≥ 85 e < 97 ≥ +1 e < +2 Sobrepeso ≥ 97 ≥ +2 Obesidade Fonte: Brasil (2008b, p. 26). 1.5.2 Peso e altura A aferição de peso e altura durante a gestação é essencial para uma correta avaliação antropométrica e a segurança no diagnóstico e evolução depende da realização correta dos procedimentos para aferição. O ganho ponderal feito de maneira imprecisa pode levar a diagnóstico errôneo e comprometer toda a conduta da equipe. As mulheres adultas não têm ganho na estatura, e mesmo a mulher tendo a aferição da altura na primeira visita, não pode, em situação alguma, caso seja aferida numa outra vez, ter uma medida diferente. No caso de gestantes adolescentes, dependendo da idade, pode ser necessário aferir a altura para verificar possível crescimento, e uma aferição malfeita pode mostrar uma altura menor do que a aferida anteriormente. Devido à necessidade de medidas confiáveis, as técnicas de aferição antropométrica devem ser conhecidas e periodicamente conferidas. Aferição do peso Feita pelo uso de balança eletrônica ou mecânica, mas certificando-se de que estejam calibradas e em bom funcionamento. As gestantes devem ser pesadas sem sapatos e com o mínimo de roupas possível, sendo que em alguns locais é fornecido um avental para que sejam minimizadas as interferências das roupas. Se a balança for eletrônica, a gestante deverá subir e permanecer parada, com os braços estendidos ao longo do corpo, fazendo-se, na fixação do valor no visor da balança, a leitura. Para a aferição em balança tipo plataforma, cabe verificar se está zerada (A) e destravada (B). Pede-se, então, para a gestante subir na plataforma, ficando ereta, com os braços estendidos ao longo do corpo, sem se apoiar em qualquer lugar ou se mexer, mantendo-se de costas para o medidor. O avaliador deverá mover o marcador maior (C) do zero da escala até o ponto em que o braço da balança se incline para baixo (isso significa que o peso da gestante ultrapassou o valor). Deve-se, então, voltar o marcador para o nível imediatamente anterior (e, como o peso é inferior ao da gestante, 25 NUTRIÇÃO MATERNA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE o braço da balança irá se inclinar para cima). Procede-se o movimento do marcador menor (D), que deverá estar no zero da escala, até o ponto em que haja equilíbrio entre o peso da escala e o peso da gestante (o braço da balança fica em linha reta e o cursor aponta para o ponto médio da escala) (E). AA BB CC DD Figura 4 – Cursores da balança tipo plataforma EE Figura 5 – Cursores com peso aferido de forma correta Deve-se fazer a leitura do peso em quilogramas e gramas, obedecendo a graduação da escala, que geralmente é de 100 g. Caso o cursor esteja entre os valores inteiros, deve-se fazer a leitura do menor valor (por exemplo, se estiver entre 200 g e 300 g, o valor a ser considerado será de 200 g). Aferição da altura Trata-se da medida feita utilizando a haste vertical da balança, medida feita com a gestante descalça, no centro da plataforma da balança, com os braços relaxados e estendidos ao longo do corpo. 26 Unidade I A gestante deverá estar com os calcanhares, as nádegas e a face posterior da cabeça encostadas na haste. Os olhos deverão estar olhando para frente (borda inferior da órbita ocular no mesmo plano horizontal que o meato do ouvido externo). O avaliador posicionará a haste vertical da balança pressionando suavemente os cabelos da gestante, até que a haste encoste no couro cabeludo. Segura-se a haste, para não mover, e faz-se a leitura do valor, aproximando para o valor inferior (por exemplo, 165,7 m deverá ser considerado 165,5 m). Figura 6 – Haste vertical da balança e antropômetro afixado na parede 1.5.3 Acompanhamento pré-natal: cálculo da idade gestacional, calendário de consultas, procedimentos para consulta de nutrição O acompanhamento no pré-natal é fundamental para a prevenção e/ou detecção precoce de patologias, tanto maternas como fetais, permitindo um desenvolvimento saudável do bebê e reduzindo os riscos da gestante (BRASIL, 2018a). Durante as consultas deverão ser coletadas informações para que seja possível a realização de ações que permitam conhecer e acompanhar de modo individual a evolução da gestação em todos os seus aspectos e pelos componentes da equipe, propondo ações e condutas adequadas. Para tanto, na primeira consulta realizam-se questionamentos que permitam caracterizar a gestante sob os aspectos socioepidemiológico, de antecedentes pessoais gerais, ginecológicos, obstétricos (pregressos e atual), história clínica (possíveis sintomas e sinais), situação alimentar e aspectos psicológicos (ansiedade, dúvidas). No início do pré-natal, preferencialmente na primeira consulta, é realizada uma anamnese detalhada com a história clínica pregressa, fazendo-se exame físico, exames bioquímicos complementares e determinação correta da idade gestacional, com posterior acompanhamento da evolução do crescimento fetal, da altura uterina e do aumento do peso materno (BRASIL, 2012b). 27 NUTRIÇÃO MATERNA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE Os exames bioquímicos (BRASIL, 2012b) solicitados são: • hemograma; • tipagem sanguínea e fator Rh; • Coombs indireto (se for Rh negativo); • glicemia de jejum; • teste rápido de triagem para sífilis e/ou VDRL/RPR; • teste rápido diagnóstico anti-HIV; • anti-HIV; • toxoplasmose IgM e IgG; • sorologia para hepatite B (HBsAg); • exame de urina e urocultura; • ultrassonografia obstétrica (não é obrigatório), com a função de verificar a idade gestacional; • citopatológico de colo de útero (se necessário); • exame da secreção vaginal (se houver indicação clínica); • exame parasitológico de fezes (se houver indicação clínica); • eletroforese de hemoglobina (se a gestante for negra, tiver antecedentes familiares de anemia falciforme ou apresentar história de anemia crônica). Os dados são coletados em impressos próprios que devem ser preenchidos para compor o prontuário para também alimentar o banco de dados do Ministério da Saúde (SisPreNatal), a fim de auxiliar na avaliação das políticas públicas (BRASIL,2008b; BRASIL, 2012b). Cálculo da idade gestacional Para a avaliação da evolução do ganho ponderal, é imprescindível que a idade gestacional esteja correta. Ela deverá vir expressa no prontuário (anotada por outro membro da equipe que não o nutricionista que realizou o cálculo) ou confirmada por exame de ultrassonografia obstétrica (ACCIOLY; SAUNDERS; LACERDA, 2009). 28 Unidade I Quando esse dado não está disponível, é possível fazer o cálculo. Nesses casos, se a mulher conhece a data da última menstruação (DUM), toma-se essa data e, com o auxílio de um calendário, conta-se o número de dias do primeiro dia de sangramento e do último ciclo menstrual e a data da consulta, dividindo-se o valor por 7 (ACCIOLY; SAUNDERS; LACERDA, 2009). Exemplo de aplicação Para calcularmos o período de gestação de uma mulher, dispomos dos seguintes dados: DUM (Data da última menstruação) = 25 de março Data da consulta = 29 de abril Seguindo o cálculo dado anteriormente, temos: Intervalo = 35 dias/7 = 5 semanas Outra maneira é usar um gestograma, colocando-se a seta sobre o primeiro dia de sangramento do último ciclo menstrual para ter mostrada a idade gestacional. O gestograma está disponível para compra, impressão e montagem, e também como aplicativo. Pode acontecer de a mulher desconhecer a DUM, mas saber o período. Nesses casos, se ela apontar como ocorrido no começo, meio ou final do mês, serão considerados os dias 5, 15 e 25, respectivamente, para a realização dos cálculos (ACCIOLY; SAUNDERS; LACERDA, 2009). Caso a mulher não tenha noção da data ou do período menstrual, é necessário realizar exame físico da altura uterina ou do solicitar uma ultrassonografia obstétrica. Figura 7 – Gestograma 29 NUTRIÇÃO MATERNA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE Calendário de consultas A OMS recomenda que sejam realizadas seis ou mais consultas de pré-natal, sendo que, para as mulheres de baixo risco, esse número pode ser reduzido; da mesma forma, pode haver mais acompanhamentos para as pacientes de maiores riscos. A recomendação é para que as consultas sejam mensais até a 28ª semana, quinzenais entre as 28ª e 36ª semanas e semanais até o termo (BRASIL, 2012b). Procedimentos para consulta de nutrição O estado nutricional é importante durante a vida toda, mas, na gestação, o bebê dependerá da mãe para receber os nutrientes necessários para garantir seu crescimento e desenvolvimento (ACCIOLY; SAUNDERS; LACERDA, 2009). A identificação das características de alimentação na gestação permite realizar ações de motivação para hábitos alimentares saudáveis, garantir nutrientes para as necessidades da mãe e do bebê e ganho de peso de acordo com as recomendações, além de prevenção e tratamento de possíveis carências nutricionais (ACCIOLY; SAUNDERS; LACERDA, 2009). Para a realização da consulta de nutrição, alguns locais disponibilizam o prontuário da gestante com dados antropométricos coletados; entretanto, caso isso não seja a rotina do local, inicialmente deverá ser realizada a aferição (VITOLO, 2015d). O nutricionista deve ainda fazer a leitura cuidadosa dos dados já coletados (não existe nada pior para o paciente do que perceber que todos perguntam a mesma coisa, tendo que repetir informações que já foram dadas) e, caso tenha dúvida, refazer a medição, mas mostrando que está apenas complementando o prontuário. Uma vez conhecida a história da gestante, deverá proceder com a coleta dos dados referentes à alimentação e, para isso, recomenda-se que seja realizada uma anamnese alimentar com uso de inquéritos alimentares (História Dietética, Recordatório de 24h, Questionário de Frequência Alimentar, Registro ou Diário Alimentar) que se adéquem à realidade e à viabilidade do atendimento, mas com profundidade de dados necessária para que seja possível conhecer os hábitos, as preferências e as possibilidades de consumo. Isso é necessário pois atividades de educação alimentar e nutricional implicam mudanças de comportamento, e orientações realizadas superficialmente, sem considerar a realidade do paciente, não garantem isso. Não é porque a gestante sabe que um alimento é nutritivo que fará uso dele (ACCIOLY; SAUNDERS; LACERDA, 2009). 1.5.4 Assistência pré-natal: cuidado nutricional A assistência tem como objetivo evitar alterações de saúde e garantir que a alimentação supra as adequações fisiológicas impostas pela gestação, como prevenir anemia, deficiência de vitamina A, inadequação do ganho de peso gestacional ou ainda outras intercorrências gestacionais (BRASIL, 2012b). 30 Unidade I A assistência nutricional às gestantes é realizada através de atendimentos individuais e em grupos. Nos atendimentos em grupo, depois do acolhimento, o nutricionista deve nortear a participação das mulheres nas dúvidas e queixas para nortear orientações nutricionais gerais para uma alimentação saudável e equilibrada segundo o contexto do momento. Caso alguma dúvida necessite de suporte de material educativo, poderá ser respondida na próxima reunião ou, então, no atendimento individual. No atendimento individual, devem ser avaliados o prontuário e os dados coletados anteriormente (histórias sociodemográfica, clínica, obstétrica, funcional, antropométrica, dietética e exames complementares), para então fazer as orientações alimentares levando em consideração o diagnóstico antropométrico, as recomendações energéticas e de nutrientes e possíveis alterações, sejam fisiológicas ou patológicas (BRASIL, 2012b). Atendimento individual É importante sempre lembrar que o atendimento nutricional deve ser individualizado e o mais detalhado possível, além de adequado às condições socioeconômicas e às variáveis coletadas no prontuário. Sugere-se que as orientações sobre alimentação sejam realizadas com base nas recomendações do Ministério da Saúde (texto a seguir). Em conjunto com a alimentação, deve ser incentivada a prática de atividade física (dentro da condição obstétrica). Orientações para alimentação saudável da gestante • Fracionar a dieta/alimentação diária, ou seja, realizar um número maior de refeições (5 a 6 ao dia) com menor volume. Preferencialmente três grandes refeições (café da manhã, almoço e jantar) e 2 a 3 lanches saudáveis por dia. Evitar ficar mais de três horas sem comer. • Entre as refeições beber de 6 a 8 copos de água (cerca de 2 litros). • Incluir na alimentação leite e derivados, além de uma porção de carne, peixe ou ovos. Retirar a pele e a gordura da carne antes da preparação, tornando esse alimento mais saudável. • Consumir diariamente legumes, verduras e frutas da época, que, além de terem custo menor, têm melhor valor nutricional. • Diminuir o consumo de gorduras. Esforçar-se para consumir, no máximo, uma colher (sopa) de óleos vegetais ou azeite ou meia colher (sopa) de manteiga ou margarina por dia. • As farinhas integrais, além de serem fontes de carboidratos, são boas fontes de fibras, vitaminas e minerais. 31 NUTRIÇÃO MATERNA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE • Preferir o consumo de arroz com feijão, pois se trata de uma combinação equilibrada de nutrientes. • Diminuir a quantidade de sal na alimentação e retirar o saleiro da mesa. Evitar o consumo de alimentos industrializados, como hambúrguer, charque, salsicha, linguiça, presunto, salgadinhos, conservas de vegetais, sopas prontas, molhos e temperos prontos. • Utilizar temperos naturais, como cheiro-verde, alho, cebola, ervas frescas ou secas e limão para temperar e valorizar o sabor natural dos alimentos. • Preferir alimentos em sua forma mais natural, evitando, ao máximo, o consumo de ultraprocessados . • Para prevenir ou tratar um quadro de anemia, deve-se minimizar ao máximo o consumo de café, chá, mate, refrigerante, leite e derivados e alimentos ricos em fibras (farelos ou integrais) junto às grandes refeições. Deve-se ainda consumir diariamente alimentos ricos em ferro, como carnes, miúdos, feijão, lentilha, grão-de-bico, soja, folhas verde-escuras, grãos integrais, castanhase outros. Lembrar que, junto com esses alimentos, devem ser consumidas fontes de vitamina C, como acerola, goiaba, laranja, caju, limão e outras. • Diminuir o consumo de açúcar, evitar refrigerantes e sucos industrializados, chocolates, doces, biscoitos recheados e outras guloseimas. • Os adoçantes devem ser utilizados apenas pelas mulheres que precisam controlar o ganho de peso e para as diabéticas. • Fazer sempre a leitura dos rótulos dos alimentos e preferir aqueles livres de gorduras trans. Fonte: Brasil, 2017. Tabagismo O tabagismo durante a gestação é contraindicado devido aos malefícios que pode causar para a saúde da mulher e para o desenvolvimento saudável do feto. O período da gestação motiva a mulher a mudar esse hábito e, apesar de ser difícil, algumas conseguem diminuir o consumo ou parar (LEOPÉRCIO; GIGLIOTTI, 2004). Estudos mostram que o tabagismo está associado à redução da fertilidade, ao aumento das complicações da gravidez, como placenta prévia e descolamento prematuro da placenta, e uma variedade de efeitos adversos fetais. Pode comprometer o feto, levando ao baixo peso ao nascer (BPN) e peso pequeno para a idade gestacional (PIG), bem como a mortes perinatais e risco maior de síndrome da morte súbita infantil, redução da função pulmonar, aumento da incidência de distúrbios neurocognitivos e aumento do risco de tabagismo e obesidade (MURIN; RAFII; BILELLO, 2011). 32 Unidade I As alterações no crescimento se devem aos efeitos da nicotina, que promove a vasoconstrição, diminuindo a disponibilidade de oxigênio para o feto, e também ao CO (monóxido de carbono) que se liga à hemoglobina, comprometendo o transporte do oxigênio (O2). O CO liga-se à hemoglobina materna e fetal em uma ligação 200 vezes mais forte que com o O2, formando a carboxihemoglobina (COHb), a qual tem uma meia-vida de eliminação de cinco a seis horas (TACON; AMARAL; TACON, 2018). Deve-se considerar ainda que a hemoglobina fetal faz uma ligação com o CO mais forte que a materna e essa hipóxia tecidual estimula a eritropoiese, que eleva o hematócrito da gestante fumante e de seu feto, resultando em hiperviscosidade sanguínea, o que aumenta o risco de infarto cerebral no neonato e mau desempenho da placenta (LEOPÉRCIO; GIGLIOTTI, 2004). O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (Center for Disease Control and Prevention – CDC), uma agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos responsável por informações para nortear decisões de saúde, orienta sobre os efeitos do tabagismo na gravidez, tanto para complicações maternas quanto para o feto e a criança – figura a seguir (CDC, 2020). Figura 8 – Mensagem do CDC afirmando que fumar durante a gestação coloca o bebê sob risco de apresentar prejuízos ao nascer Esclarece que monóxido de carbono da fumaça do cigarro compromete o recebimento de oxigênio pelo feto e pode comprometer seu desenvolvimento. Deve ser considerado ainda que outras substâncias tóxicas estão presentes no tabaco e essas substâncias podem prejudicar não só durante a gravidez, mas também depois do nascimento, uma vez que, recebendo passivamente os componentes da fumaça, pode haver comprometimento nos pulmões (CDC, 2020). O uso de tabaco durante a gravidez predispõe o bebê a apresentar maiores riscos de problemas no nascimento (LEOPÉRCIO; GIGLIOTTI, 2004). Parar de fumar ajuda a diminuir o risco de doenças; portanto, o uso dessa substância deve ser desestimulado, pois os riscos, tanto para a gestante quanto para a criança, podem ser reduzidos se o uso for interrompido durante a gestação. Estudos mostram que, se o tabagismo é cessado no primeiro trimestre da gestação, os efeitos no peso e na estatura do feto desaparecem, por isso é indicado que a gestante pare de fumar logo que for diagnosticada a gravidez (BRASIL, 2015a). 33 NUTRIÇÃO MATERNA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE Uso abusivo de álcool Assim como outras substâncias, o álcool pode causar danos ao feto e isso faz com que as gestantes sejam encorajadas a evitar seu consumo em toda a gestação, mas principalmente na fase embrionária, quando é intensa a divisão e a diferenciação celular (ou seja, nos três primeiros meses) (BRASIL, 2012b). A recomendação do não uso de bebidas alcoólicas está no fato de o etanol e seus metabólitos (acetaldeído) atravessarem a barreira placentária e exporem o feto às ações de seus componentes, pois, como o metabolismo e o sistema de eliminação fetal são mais lentos, os efeitos são prolongados. Acrescente-se a isso que o líquido amniótico fica também impregnado de etanol e acetaldeído. É desconhecida a existência de uma quantidade segura para a ingestão de álcool durante a gestação, sabendo-se, por outro lado, que o consumo pode predispor a baixo peso, malformações e hipotonicidade no recém-nascido (BRASIL, 2012b). A ingestão em excesso pelas gestantes pode trazer como consequência a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), que se manifesta com algumas alterações mais sutis na morfologia da face (microcefalia, nariz curto, queixo fino, bochechas planas, anomalias nas orelhas) e sinais de irritação, tremores e a característica do bebê de mamar e dormir pouco. Nos casos mais graves, são observados problemas físicos e mentais, que variam de intensidade de acordo com a gravidade do caso. Estudos mostram que cerca de um terço dos bebês de mães dependentes do álcool que fizeram uso excessivo dessa substância durante a gravidez foram afetados pela SAF (BRASIL, 2012b). Outras drogas Estudos sobre o uso de maconha, cocaína e crack durante a gestação têm sido realizados devido ao aumento no consumo que, além de consequências de ordem social, mostram que podem provocar efeitos deletérios no feto. A preocupação em conhecer os efeitos deve-se ao fato de essas drogas atravessarem a barreira placentária e comprometerem o desenvolvimento em alguma de suas fases. Apesar de não terem sido encontrados resultados conclusivos, que mostrem quais são os riscos a que os fetos são expostos e por qual motivo algumas pessoas, mesmo expostas aos riscos, possuem fetos normais, alguns dados mostram que pode haver malformação, prematuridade, baixo peso, diminuição do perímetro cefálico, morte súbita, sofrimento fetal, convulsões e parada cardiorrespiratória. Para as gestantes, pode aumentar a incidência de complicações como deslocamento de placenta, isquemias, infarto e morte (TACON; AMARAL; TACON, 2018). Esses fatos mostram que é importante empreender ações que protejam o feto e a gestante dos efeitos dessas substâncias (TACON; AMARAL; TACON, 2018). 1.5.5 Atenção à gestante e puérpera no SUS O Ministério da Saúde, dentro da proposta de atenção obstétrica e neonatal, tem como objetivo qualificar a rede de assistência, a capacitação profissional e a normalização das práticas de saúde em busca de uma atenção pré-natal e puerperal de qualidade e humanizada, capaz de “acolher com dignidade a mulher e o recém-nascido, enfocando-os como sujeitos de direitos” (BRASIL, 2005a, p. 9). 34 Unidade I Desde 2003, a Política Nacional de Humanização busca efetivar os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) nos serviços de saúde, estimulando a comunicação entre gestores, trabalhadores e usuários nos processos de gestão e de cuidado (BRASIL, 2005a). As ações da Política Nacional de Humanização tomam o acolhimento como postura prática nas ações de atenção e gestão das unidades de saúde, o que favorece a construção de uma relação de confiança e compromisso dos usuários com as equipes e os serviços, contribuindo para a promoção da cultura de solidariedade e para a legitimação do sistema público de saúde (BRASIL, 2005a). A atenção pré-natal e puerperal deve acolher a mulher desde o início da gravidez e realizar ações de promoção e prevenção da saúde, além de diagnóstico e tratamento adequado dos problemas que possam vir a ocorrer nesse período de modo a garantir tanto a gestação como o nascimento saudável (BRASIL, 2005a). Para isso, a rede de assistênciadeve considerar que a mulher e sua família devem ser informadas dos procedimentos que serão realizados e das condutas que serão tomadas, sempre pautados nos princípios éticos (BRASIL, 2015a). O cuidado com as gestantes e puérperas deve ter o envolvimento dos profissionais de saúde, garantindo o acesso a cuidado e qualidade da atenção oferecida (GUIMARÃES; SILVA, 2003). A atenção pré-natal e puerperal de qualidade e humanizada é fundamental para a saúde materna e neonatal, e, para sua humanização e qualificação, deve-se: • construir um novo olhar sobre o processo saúde/doença, que compreenda a pessoa em sua totalidade corpo/mente e considere o ambiente social, econômico, cultural e físico no qual vive; • estabelecer novas bases para o relacionamento dos diversos sujeitos envolvidos na produção de saúde – profissionais de saúde, usuários(as) e gestores; • empreender a construção de uma cultura de respeito aos direitos humanos, entre os quais estão incluídos os direitos sexuais e os direitos reprodutivos, com a valorização dos aspectos subjetivos envolvidos na atenção (BRASIL, 2005a). A Unidade Básica de Saúde (UBS) é a porta de entrada preferencial da gestante no sistema de saúde. É nela que é possível a acolhida das necessidades, permitindo acompanhamento longitudinal e continuado (BRASIL, 2005a). Quando se faz uma avaliação da necessidade de cada usuária, levando em consideração as orientações e os protocolos preestabelecidos, garante-se às gestantes uma linha de cuidado materno-infantil. Muitas vezes, o local de acolhida da gestante dispõe de uma equipe suficiente para o atendimento básico, e, na necessidade de outras redes assistenciais (de média ou alta complexidade, de urgência e emergência, entre outras) ou de equipamentos do sistema de saúde (exames de imagem, laboratoriais, entre outros), há um fluxo preestabelecido que permite a assistência integral. 35 NUTRIÇÃO MATERNA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE No acolhimento humanizado e integral à mulher, devem ser realizadas ações que possibilitem: • recepção da usuária e escuta qualificada; • favorecimento do vínculo; • olhares de avaliação de vulnerabilidades; • momentos que permitam que a gestante expresse suas preocupações e angústias; • participação do parceiro nas ações do pré-natal; • conhecimento ao direito de acompanhante no parto e pós-parto. Observação A Lei n. 11.108, de 7 de abril de 2005, garante às parturientes o direito à presença de alguém da família, amigo(a) ou doula durante o trabalho de parto e pós-parto imediato (BRASIL, 2005b). Pode-se, portanto, afirmar que um parto e um nascimento saudáveis têm como antecessor uma assistência pré-natal realizada por equipe treinada e engajada dentro dos princípios da humanização (BRASIL, 2005a). A síntese do pré-natal pode ser observada nos 10 passos propostos pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2012b). 10 Passos para o Pré-Natal de Qualidade na Atenção Básica 1° passo: Iniciar o pré-natal na Atenção Primária à Saúde até a 12ª semana de gestação (captação precoce). 2° passo: Garantir os recursos humanos, físicos, materiais e técnicos necessários à atenção pré-natal. 3° passo: Toda gestante deve ter assegurado a solicitação, realização e avaliação em termo oportuno do resultado dos exames preconizados no atendimento pré-natal. 4° passo: Promover a escuta ativa da gestante e de seus(suas) acompanhantes, considerando aspectos intelectuais, emocionais, sociais e culturais, e não somente um cuidado biológico: “rodas de gestantes”. 36 Unidade I 5° passo: Garantir o transporte público gratuito da gestante para o atendimento pré-natal, quando necessário. 6° passo: É direito do(a) parceiro(a) ser cuidado (realização de consultas, exames e ter acesso a informações) antes, durante e depois da gestação: “pré-natal do(a) parceiro(a)”. 7° passo: Garantir o acesso à unidade de referência especializada, caso seja necessário. 8° passo: Estimular e informar sobre os benefícios do parto fisiológico, incluindo a elaboração do “Plano de Parto”. 9° passo: Toda gestante tem direito de conhecer e visitar previamente o serviço de saúde no qual irá dar à luz (vinculação). 10º passo: As mulheres devem conhecer e exercer os direitos garantidos por lei no período gravídico-puerperal. Fonte: Brasil (2018a, p. 12-13). Saiba mais Existe um programa denominado 1000 dias, período compreendido desde a concepção até os 2 anos de idade (270 dias de gestação + 730 dias, até que o bebê complete 2 anos). O programa está voltado para a promoção da saúde das gestantes, do aleitamento materno e de uma alimentação equilibrada. Os cuidados nessa etapa, a qual tem início no período gestacional, contribuem para potencializar características biológicas, intelectuais e sociais da criança. Vale a pena conhecer melhor essa proposta. Para isso, consulte os textos indicados a seguir. CUNHA, A. J. L. A. da; LEITE, A. J. M.; ALMEIDA, I. S. de. Atuação do pediatra nos primeiros mil dias da criança: a busca pela nutrição e pelo desenvolvimento saudáveis. Jornal de Pediatria, Porto Alegre, v. 91, n. 6, supl. 1, p. S44-S51, 2015. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/jped/ v91n6s1/0021-7557-jped-91-06-s1-0s44.pdf. Acesso em: 28 jan. 2021. PRIMEIROS mil dias de vida são cruciais para desenvolvimento do cérebro. ONU News, Nova York, 10 jan. 2017. Disponível em: https:// news.un.org/pt/story/2017/01/1573791-primeiros-mil-dias-de-vida-sao- cruciais-para-desenvolvimento-do-cerebro. Acesso em: 28 jan. 2021. 37 NUTRIÇÃO MATERNA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 2 NECESSIDADES NUTRICIONAIS DA GESTANTE Durante a gestação, para garantir o crescimento e o desenvolvimento fetal e da placenta, o organismo materno sofre uma série de ajustamentos fisiológicos e metabólicos, preservando sua homeostasia (VITOLO, 2015a). Os nutrientes são responsáveis por muitos desses ajustes e devem ser fornecidos por adequações da dieta, segundo as recomendações das DRI (Dietary Reference Intake) (anexo A). 2.1 Energia O cálculo da necessidade energética leva em consideração o peso pré-gestacional, a composição corporal, como está o ganho de peso, a idade gestacional e o nível de atividade física diária realizada (GUIMARÃES; SILVA, 2003). Para o cálculo correto, esses fatores devem ser considerados pois, se o suprimento de energia for inadequado, as proteínas, as vitaminas e os minerais não podem ser usados nas funções metabólicas. O desvio da proteína para função energética pode comprometer a síntese proteica pelo feto e pelos tecidos maternos (GUIMARÃES; SILVA, 2003). As recomendações energéticas, bem como o acréscimo para o período gestacional, são sugeridas pela OMS, pelo National Research Council/Recommended Dietary Allowance (NRC/RDA) e atualizadas pelo Institute of Medicine (IOM) (IOM, 2005). Para isso, calcula-se o valor energético total (VET) e acrescentam-se as calorias suficientes para suprir as necessidades do período. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) – 1985 A OMS sugere que o cálculo das necessidades da gestante seja feito utilizando as equações propostas para mulheres e, ao resultado encontrado, seja acrescentada a quantidade 250 kcal/dia durante toda a gestação (entretanto, caso a gestante diminua a atividade física, o acréscimo deve ser de 200 kcal/dia) (OMS, 1998). Assim, para o cálculo da recomendação de energia diária, primeiramente calcula-se a taxa metabólica basal (TMB) ou gasto energético basal (GEB) segundo a faixa etária e, posteriormente, faz-se o acréscimo para a realização das atividades. O resultado encontrado corresponde à necessidade de uma mulher sem estar gestante, portanto, faz-se, então, o acréscimo das calorias sugeridas (250 kcal/dia ou 200 kcal/dia). Tabela 4 – Equação para cálculo da TMB/GEB Faixa etária (anos) TMB/GEB 10 a 18 (12,2 x peso) + 746 18 a 30 (14,7 x peso) + 496 30 a 60 (8,7 x peso) + 829 Fonte: Report of a Joint FAO/WHO/UNU Expert Consultation (1985, p. 78). 38 Unidade I Tabela 5 – Equação para cálculo
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