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RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA SP 3.1 – UM NÚMERO PARA NÃO ESQUECER... PROCESSOS CONSUPTIVOS / CAQUEXIA / SÍNDROME DO IDOSO FRÁGIL FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA 1. DEFINIR SARCOPENIA À medida que se envelhece, ocorrem várias modificações na composição corporal do indivíduo idoso. Entre essas alterações, a diminuição da massa muscular é a de maior importância clínica e funcional. O termo sarcopenia foi proposto pela primeira vez em 1989 por Irwin Rosenberg para descrever a perda de massa muscular relacionada com o envelhecimento. A palavra provém do grego (sarx (carne) + (penia (perda). Desde então, o conceito de sarcopenia tem sido modificado à medida que novos conhecimentos sobre o tema são publicados. O conceito atual define sarcopenia não apenas como o processo de perda de massa muscular relacionada com o envelhecimento, mas também inclui a perda da força e da função muscular. Contudo, ainda não temos na literatura uma definição amplamente aceita e que seja adequada para uso tanto em pesquisa científica quanto na prática clínica. EPIDEMIOLOGIA Dependendo da definição utilizada, a prevalência em indivíduos entre 60 e 70 anos de idade varia de 5 a 13%. Já entre os idosos com idade superior a 80 anos, a prevalência pode variar de 11 a 50%. Mesmo utilizando-se uma estimativa conservadora de prevalência da sarcopenia, essa condição acomete atualmente cerca de 50 milhões de pessoas no mundo e afetará mais de 200 milhões nos próximos 40 anos. O pico de massa muscular em um indivíduo saudável ocorre por volta dos 25 anos de idade. Assim como a força, a massa muscular é praticamente mantida entre os 25 e 50 anos, com redução de apenas 5% no número de fibras musculares e cerca de 10% no tamanho das fibras. Contudo, é entre os 50 e os 80 anos de idade que ocorre a maior perda de massa muscular. O número de fibras sofre uma redução de 35%, enquanto o tamanho das fibras é reduzido em cerca de 30%. É interessante notar que, ao contrário da redução do número de fibras, que ocorre na mesma proporção entre as fibras de contração lenta (tipo I) e as fibras de contração rápida (tipo II), a diminuição do tamanho das fibras ocorre predominantemente entre as do tipo II. Diversos estudos têm demonstrado ainda que entre as de contração rápida, a do tipo IIB é a que apresenta a maior porcentagem de redução, tanto no número quanto no tamanho das fibras, quando comparado à fibra tipo IIA. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS Apesar do aumento do número de pesquisadores interessados em estudar sarcopenia, ainda não há consenso em relação à definição clínica e aos critérios diagnósticos. Na lista da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID-10) ainda não há, até o momento, código que identifique a sarcopenia como doença. Tentando minimizar essas diferenças e reduzir as incertezas sobre o assunto, a Sociedade Europeia de Medicina Geriátrica decidiu criar, em 2009, um Grupo de Estudo em Sarcopenia, o (European Working Group on Sarcopenia in Older People, conhecido pela sigla EWGSOP, com a função de estabelecer definições e critérios diagnósticos com o objetivo de facilitar a identificação da síndrome na prática clínica e padronizar critérios para serem utilizados nas pesquisas. Sarcopenia é uma síndrome caracterizada por progressiva e generalizada perda de massa e força muscular com risco de eventos adversos, como incapacidade física, perda da qualidade de vida e morte. A recomendação do EWGSOP é que se utilize a diminuição da massa muscular e a diminuição da função muscular (força ou desempenho) como critérios para o diagnóstico da sarcopenia. A utilização do critério de avaliação da função muscular permite que o diagnóstico tenha maior valor clínico. Alguns autores têm argumentado que o termo dinapenia se encaixaria melhor para descrever a perda de força e função muscular associada ao envelhecimento, contudo o termo sarcopenia já é amplamente reconhecido e substituí-lo poderia levar a mais confusão. Quadro 90.2 RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA Critérios para diagnóstico da sarcopenia: → Diminuição da massa muscular → Diminuição da força muscular → Diminuição do desempenho físico Diagnóstico: documentação do critério 1 + critério 2 ou 3. ETIOLOGIA E PATOGÊNESE Múltiplos fatores de risco e vários mecanismos contribuem para o desenvolvimento da sarcopenia. Dentre os principais fatores de risco estão a falta de atividade física, a baixa ingesta calórica e proteica, assim como modificações hormonais e alterações nos níveis de citocina que ocorrem a partir do envelhecimento. Alterações no remodelamento do tecido muscular, perda de neurônios motores alfa, além de alterações no recrutamento de células musculares e apoptose são mecanismos que contribuem para a patogênese da sarcopenia. Fatores genéticos podem ter papel importante na explicação das diferenças entre força e desempenho muscular entre grupos de indivíduos. A sarcopenia é encontrada em outras síndromes que cursam com grande perda de massa muscular, como a caquexia. A diferenciação entre essas síndromes é importante para que identifique-se a abordagem diagnóstica e terapêutica apropriada para cada condição. 2. DIFERENCIAR SÍNDROME CONSUMPTIVA E CAQUEXIA. A síndrome consumptiva nada mais é do que um conjunto de sinais e sintomas que corroboram com a suspeita clínica de perda de peso não intencional. Dessa forma, a síndrome consumptiva se caracteriza por ser um diagnóstico sindrômico que o examinador pode utilizar quando se deparar com os achados semiológicos característicos da mesma. Por outro lado, a caquexia é uma perda de massa muscular não intencional, podendo apresentar perda de concomitante de gordura ou não. Paradoxalmente, os pacientes que apresentam caquexia apresentam um aumento significativo da taxa de síntese proteica, haja vista a grande quantidade de “matéria-prima”, os aminoácidos, disponível. Geralmente os pacientes que apresentam caquexia possuem algum tipo de doença orgânica como base. 2. ESTUDAR A SÍNDROME CONSUMPTIVA CONCEITO A Síndrome consumptiva é definida como um emagrecimento involuntário, na qual ocorre um desbalanço entre o consumo de energia e a perda energética. Além disso, considera-se emagrecimento involuntário se houver uma perda d e > 10% do peso basal em 6 a 12 meses. Dessa forma, existem alguns conceitos que devem ser diferenciados dentro da temática de emagrecimento involuntário: CAQUEXIA: é a perda de peso associada à perda de massa muscular, podendo haver ou não perda de gordura. É o estado mais grave de emagrecimento. DESNUTRIÇÃO: que é a deficiência de nutrientes específicos ou globais, associa da ou não à perda de peso. SARCOPENIA: que é uma síndrome geriátrica, caracterizada por perda de massa muscular, de força e de desempenho, gerando um déficit funcional no idoso. DESNUTRIÇÃO ENERGÉTICO-PROTÉICA: ocorre por aporte inadequado de energia, associado ou não ao déficit de proteínas. ____________________________________________ EPIDEMIOLOGIA A síndrome consumptiva possui uma incidência semelhante entre homens e mulheres e seus principais fatores de risco são o tabagismo, idade avançada, doenças crônicas e deficientes físicos. Dentre as principais causas relacionadas epidemiologicamente a essa perda involuntária de peso, temos as neoplasias malignas com o à causa RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA mais comum, seguida de causas gastrointestinais não malignas e causas psiquiátricas.____________________________________________ FISIOPATOLOGIA A base fisiológica da perda de peso é explicada de 3 formas: ➔ Diminuição da ingesta de alimentos ➔ Metabolismo acelerado ➔ Aumento da perda de energia. Isso quer dizer que a perda de peso pode ter causas multifatoriais que inclui desde uma alteração da ingesta calórica, da absorção intestinal, da motilidade intestinal, do uso de medicamentos e abuso de drogas, da produção aumentada de substâncias endógenas, como o fator de necrose tumoral e interleucinas, bem como compressões tumorais ou dor oncológica. Também, é importante salientar que a regulação do apetite sofre alterações com o envelhecimento, a chama da “anorexia fisiológica da idade” , no qual, por exemplo, ocorre um aumento da colecistocinina (hormônio que estimula a digestão de carboidrato, gordura e proteínas), que associada à uma diminuição do metabolismo basal pode levar a uma perda de peso importante. Alguns estudos (Santa casa de são Paulo) ainda mostram que há um declínio natural da sensibilidade ao paladar e olfato com o aumento da idade, o que pode contribuir para a diminuição de peso. ____________________________________________ CLASSIFICAÇÃO A perca de peso pode ser classificada em 2 grandes grupos: 1. PERDA DE PESO INVOLUNTÁRIA COM AUMENTO DO APETITE Esta condição está associada com o aumento do gasto energético ou perda de calorias pelas fezes ou urina. Ou seja, a quantidade de calorias ingeridas é insuficiente para suprir o déficit energético. As principais causas dessa condição são: hipertireoidismo, diabetes mellitus descompensado, síndrome da má absorção, feocromocitoma, aumento importante de atividade física. No hipertireoidismo, essa perda de peso está associada c om um aumento do gasto energético basal associado com um déficit da absorção intestinal devido ao aumento da motilidade. Obs: Em pacientes idosos com apatia e emagrecimento, devemos sempre lembrar do Hipertireoidismo apatético. Essa é uma forma atípica do hipertireoidismo, que acomete pessoas idosas e pode culminar em fibrilação atrial de forma aguda, portanto deve sempre ser lembrado como uma hipótese diagnóstica diante de um quadro clínico sugestivo! No DM descompensado, a causa da perda de peso esta associada à deficiência de insulina, que é um hormônio anabólico (consome energia ) e a hiperglicemia com glicosúria, causando uma desidratação. 2. PERDA DE PESO INVOLUNTÁRIA COM DIMINUIÇÃO DO APETITE Neste grupo de doenças, incluem -se as doenças psiquiátricas como de pressão, distúrbio bipolar, distúrbio de personalidade, paranoia. Também o uso crônico de drogas, doenças como câncer, endocrinopatias, doenças crônicas, DPOC e doenças gastrointestinais. A perda de peso devido ao câncer (comumente chamada de síndrome anorexia-caquexia) é comum e pode acabar sendo a primeira manifestação (CA de estômago, CA pâncreas, CA intestinal, CA pulmonar) ou até uma manifestação tardia do tumor (Melanoma, CA de próstata, CA de fígado, Leucemia). Isso porque, devemos lembrar que o câncer é uma doença inflamatória, portanto vamos ter uma grande produção de citocinas (TNF, IL) que são anorexígenas e geram uma saciedade precoce. E, além disso, podem promover um aumento da lipólise e proteólise que cursa c om um aumento do gasto energético, levando ao emagrecimento. As doenças gastrointestinais, como úlceras pépticas, doença celíaca e doenças inflamatórias intestinais também geram o emagrecimento. Isso porque essas patologias podem causar dor durante a alimentação, disfagia, um estado inflamatório sistêmico e perda de nutrientes nas fezes. RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA Nos pacientes com HIV a perda de peso é um sintoma comum e está associada à diminuição da ingesta calórica, já que o gasto energético se mantem o mesmo. Já a perda de peso súbita no paciente com HIV geralmente esta relacionada com um a infecção secundaria. Pacientes com doenças psiquiátricas frequentemente apresentam perda de peso como um dos critérios diagnósticos, como é o caso da Depressão Maior. *Anorexia nervosa é um distúrbio psiquiátrico, porém é classificado como uma perda de peso voluntária. O uso crônico de álcool, nicotina, opiácios e estimulantes do SNC diminuem o apetite e causam perda de peso. No paciente alcoolista crônico, ele troca a grande maioria das suas refeições pela bebida e isso gera um déficit nutricional, levando ao emagrecimento. Nas doenças cardiopulmonares, a perda de peso relaciona-se à insuficiência cárdica ou caquexia cardíaca e a DPOC. No entanto, essa perda de peso pode ser ocultada pelo edema que aparece concomitantemente. Já as doenças neurológicas, como demências, esclerose múltipla, Parkinson podem estar associadas com a s alterações de motilidade gastrointestinal, bem como disfagia, alterações de olfato e paladar, constipação, disfunção esficteriana e falta de apetite. Os pacientes em situações de isolamento social tendem a apresentar redução do apetite. Nos idosos, esse isolamento não se refere somente ao ato de comer, como também da dificuldade de preparar os alimentos. ____________________________________________ QUADRO CLÍNICO No paciente com SC devemos caracterizar a perda de peso, avaliar o apetite e a presença de sintomas associados. As perdas ponderais associadas com malignidade usualmente se a presentam associados a suores noturnos, febre e fadiga excessiva. Já os sintomas associados a má absorção são a esteatorreia, perda muscular, diarreia e até hematomas, p ela perda de vitamina K, e consequentemente sangramentos espontâneos. Os sintomas associados aos transtornos psiquiátricos podem ser sintomas depressivos, perda do prazer nos hábitos diários, pensamentos e planejamentos suicidas, presença de desgaste nas pontas dos dedos (devido a vômitos forçados). A febre também é um sintoma importante relacionado a perda ponderal, que pode estar presente em quadros inflamatórios, como infecções, neoplasias, reumatologicos e outras doenças sistêmicas. ____________________________________________ DIAGNÓSTICO ANAMNESE Durante investigação etiológica de síndrome consumptiva, é necessário perguntar ao paciente sobre seu apetite, atividade física, como é o padrão da perda de peso (flutuante ou estável), por quanto tempo vem perdendo peso e se a perda é voluntária ou involuntária. Como auxílio no raciocínio diagnóstico para síndrome consumptiva, Robbins publicou regra mnemônica que consiste em nove “D”s de causas de perda de peso nesta população: 1. Dentição: alteração na cavidade oral 2. Disfagia 3. Distúrbio do paladar (Disgeusia) 4. Diarréia 5. Depressão 6. Doença crônica 7. Demência 8. Disfunção (física, cognitiva e psicossocial) ou dependência 9. Drogas RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA É importante também questionar quais medicamentos são usados por esse paciente, pois existem alguns que são capazes de causar perda de peso por diversos mecanismos. Vale a pena ainda utilizar alguns instrumentos que poderão auxiliar na avaliação da perda de peso, tais como o MNA que avalia o riscode desnutrição em idosos, e inclui a medida de circunferência do braço. ____________________________________________ Outra regra mnemônica para lembrar-se dos diagnósticos diferenciais para perda de peso é MEALS ON WHEELS. Medication: medicamentos Emotional problems: problemas emocionais, principalmente depressão, alcoolismo Anorexia nervosa Late Life: paranoia Swallowing: deglutição Oral factors: fatores orais No Money: problemas financeiros Wandering ou comportamentos alterados H: hipertireoidismo/hipotireoidismo, hiperparatireoidismo, hipoadrenalismo Enteric problems: problemas entéricos Eating: problemas para se alimentar sozinho Low salt, low cholesterol: dieta sem gordura e sal Stones, social problems: problemas sociais ____________________________________________ EXAME FÍSICO O exame físico do paciente com perda de peso deve ser detalhado e incluir exame de pele (observar sinais de desnutrição, deficiência de vitamina), cavidade oral, avaliação de tireoide, avaliação cardiovascular, pulmonar e abdominal, toque retal, palpação de linfonodos, exame neurológico, incluindo o Mini Exame de Estado Mental e as medidas antropométricas para o cálculo de IMC e sinais vitais. • Peso e altura (IMC) • Pele: sinais de desnutrição • Cavidade oral: dentição, articulação temporomandibular, testar paladar • Palpação tireóide • Propedêutica cardiovascular, respiratório e abdominal: doença crônica • Toque retal: neoplasias palpáveis • Palpação de linfonodos • Exame neurológico: incluindo mini mental ____________________________________________ EXAMES COMPLEMENTARES Nos casos em que a história e o exame físico não forem indicativos da causa, os seguintes exames são sugeridos: 1) Hemograma 2) Eletrólitos 3) Glicemia 4) Função renal e hepática 5) TSH 6) Sorologia para HIV 7) Proteína C reativa 8) Parasitológico de fezes 9) Raio X de tórax 10) Urina 1 11) PPD Embora as concentrações de albumina sérica, transferrina, colesterol e contagem de leucócitos possam ajudar a estabelecer o diagnóstico de desnutrição, suas determinações não contribuem para determinar a causa do problema. Na ausência de alteração nesses exames complementares iniciais, deve-se seguir a investigação de exames de rastreamento para câncer, conforme sexo e idade. RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA ____________________________________________ TRATAMENTO O tratamento da síndrome consumptiva é sempre multidisciplinar. O primeiro passo sempre é tratar a causa base, pois melhorando isso garante ao paciente o retorno do ganho de peso. Entretanto, deve-se realizar uma avaliação psicossocial, em busca de patologias psiquiátricas que causam emagrecimento. O tratamento pode envolver ainda uma avaliação com odontologia, fonoaudiologia, fisioterapia, nutricionista e educadores físicos. 3. CARACTERIZAR A CAQUEXIA CONCEITO A denominação “caquexia” deriva do grego, “kakos”, má e “hexis”, condição. Embora a síndrome venha sendo mais estudada no câncer, não está a esse restrito, atingindo também pacientes com falência cardíaca congestiva, com moléstias digestivas, defeitos tubulares renais, queimaduras, sepses e AIDS. O caráter multifatorial e sistêmico da caquexia dificulta sobremaneira a elaboração de critérios que a definam de forma indiscutível. A síndrome da caquexia é definida como “uma síndrome metabólica complexa associada à doença e caracterizada pela perda de massa muscular, com ou sem perda de tecido adiposo, que não pode ser totalmente revertida pela terapia nutricional convencional, conduzindo ao comprometimento funcional progressivo do organismo, e frequentemente associada a anorexia, inflamação e resistência à insulina. A perda de tecido adiposo é decorrente do aumento na lipólise, devido à expressão aumentada de lipase hormônio-sensível. A perda de peso na caquexia é diferente da que ocorre por jejum, na depressão primária, no envelhecimento e na síndrome de má absorção. A caquexia cursa com níveis elevados de citocinas inflamatórias e proteínas de fase aguda e resistência à insulina. Lipólise acelerada, em vez de diminuição na lipogênese, tem sido aceita como o fator mais importante na perda de tecido adiposo do paciente caquético. A caquexia produz uma depleção marcante da musculatura esquelética, com queda de 75% da massa proteica e 30% de perda de peso, sendo que o compartimento de proteínas não musculares permanece relativamente preservado. ____________________________________________ EPIDEMIOLOGIA No câncer, está presente mais frequentemente em pacientes com tumores sólidos (é a mais comum manifestação do câncer avançado em pacientes com tumores gástricos, do pâncreas, de pulmão, de próstata e de cólon, com a exceção de tumores de mama. O grau de manifestação da síndrome varia entre pacientes com o mesmo tipo histológico e estágio de progressão tumoral, não apresentando associação evidente com o tamanho da massa do tumor, ou a localização. A caquexia ocorre em 80% ou mais dos pacientes com câncer avançado, sendo responsável pela diminuição, em torno de 60%, da massa corporal em relação ao peso ideal. Está associada também à morbimortalidade e à redução da qualidade de vida desses doentes. Em torno de 20% de todas as mortes por câncer são causadas por caquexia, devido à imobilidade ou falência cardiorrespiratória. A incidência de caquexia depende do tamanho do tumor, sendo bastante frequente em tumores pulmonares e de trato gastrintestinal. Entretanto, metade de todos os pacientes oncológicos sofre alguma perda de peso, aumentando para 86% tal fato, nas duas últimas semanas de vida do doente. Perda de peso maior do que 2,75% ao mês é um fator independente de mau prognóstico. Revisões mais recentes demonstram que a fadiga é o sintoma de maior prevalência, atingindo 74% dos pacientes, seguida por perda de apetite (53%), perda de peso (46%), modificações na percepção de sabor, vômito e saciedade precoce (entre 20% e 23%). Concomitantemente, há alteração no perfil hormonal plasmático e reduzida atividade de hormônios anabólicos, bem como disfunção hipotalâmica. Não é possível o estabelecimento de políticas de tratamento e gastos por parte de autoridades RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA competentes frente à exiguidade de dados epidemiológicos concretos. ____________________________________________ FISIOPATOLOGIA Os mecanismos que levam à caquexia são obscuros e, provavelmente, multifatoriais. Os aspectos que favorecem o aparecimento da caquexia são anorexia e alterações metabólicas: estado inflamatório exacerbado, aumento da proteólise muscular, resistência à insulina e metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídios prejudicados. As anormalidades metabólicas são causadas por mediadores inflamatórios do hospedeiro (como as citocinas) e do tumor. A síndrome anorexia-caquexia (SAC) fundamenta-se, primordialmente, na redução do apetite e nas alterações metabólicas desencadeadas no paciente. Observa-se, em resposta à inflamação crônica, síntese hepática de proteínas de fase aguda, a saber, proteína C-reativa (PCR), proteína amiloide sérica A, β2- macroglobulina e α1-antitripsina. A depleção de aminoácidos essenciais e o balanço nitrogenado negativo encontram-se evidentes, com redução da imunidade humoral em relação à celular, pela diminuição de anticorpos. Classicamente pensava-se que a síndrome anorexia- caquexia, na doença maligna, fosse condição acompanhada por alto consumo energético induzido pelo câncer e estímulo à produção de fatores capazes de promoveranorexia. Propunha-se terapia nutricional agressiva. No entanto, a definição atual da SAC reflete diversas modificações metabólicas associadas à liberação de substâncias pelo hospedeiro, como Fator de Necrose Tumoral (TNF-α), Interleucina-6 (IL-6), Interleucina-1 (IL-1) e fator inibidor de leucemia, ao lado de produtos catabólicos gerados pelo tumor, como o fator mobilizador de lipídeos (LMF) e o fator indutor de proteólise (PIF). Estes dois últimos possuem ação direta sobre os tecidos do hospedeiro e são responsáveis pela lipólise e pelo catabolismo protéico, respectivamente. Atrofia muscular decorre da diminuição da síntese proteica, com aumento de sua degradação. Estudos com camundongos têm implicado dois fatores catabólicos como importantes na perda muscular do paciente caquético: fator indutor de proteólise (PIF) e angiotensina II. Níveis de PCR têm sido correlacionados com um prognóstico adverso em tumores gastrintestinais, pulmonares, mieloma múltiplo, melanoma, linfomas, tumores de ovário e rins. Tal elevação tem sido associada com hipermetabolismo, anorexia e maior perda de peso em pacientes com câncer. PCR, o protótipo da proteína de fase aguda, pode ser usada como um marcador indireto da atividade de citocinas pró-inflamatórias. Diversos mediadores inflamatórios são produzidos por animais submetidos a modelo experimental de caquexia, tais como fator de necrose tumoral alfa (TNF- a), IL-6, óxido nítrico e prostaglandina E (PGE2). Níveis séricos de IL-1, IL-6, IL-8, TNF-a, fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) se mostraram elevados em pacientes caquéticos. O tumor primário foi demonstrado como a fonte principal de tais mediadores, já que esses achados não foram completamente explicados pelo grau de infiltrado celular inflamatório no tumor, sugerindo que o próprio tecido tumoral contribuía significativamente para a produção de resposta inflamatória sistêmica. Ademais, linfócitos T citotóxicos tumor-específicos e anticorpos IgG específicos para epítopos do tumor são encontrados no sangue periférico de indivíduos com câncer. CLASSIFICAÇÃO A síndrome anorexia-caquexia (SAC) em câncer classifica-se em: 1) primária: consequências metabólicas da presença do câncer gerando alterações inflamatórias. Ocorre consumo progressivo e frequentemente irreversível de proteína visceral, musculatura esquelética e tecido adiposo, além de anorexia, saciedade precoce e astenia; 2) secundária: resultante da diminuição na ingestão e absorção de nutrientes por obstruções tumorais do trato gastrintestinal (TGI), anorexia por efeito do tratamento e ressecções intestinais maciças. As duas condições, em geral, podem aparecer concomitantemente no mesmo indivíduo. RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA _________________________________________ ETIOLOGIA NEOPLASIAS A caquexia foi bem melhor estudada quando a mesma está relacionada ao câncer, tanto que o termo caquexia do câncer é bastante utilizado. Tal fato foi justificado devido aos enormes fatores associado a essa malignidade que colaboram para a perda de peso ou o hipermetabolismo. Tal fator é explicado através da enorme circulação de citocinas e polipeptídios oriundos do sistema imunológico que resultam em uma resposta inflamatória intensa, justificando o estado hipermetabólico. Além do câncer as lesões, infecções e doenças crônicas apresentam mecanismos semelhantes que induzem esse estado. A hipótese que justifica a indução de um estado hipermetabólico na presença de uma gama de citocinas circulantes derivam da introdução sistemática desses agentes em um organismo. Além disso, não podemos desconsiderar o papel da predisposição genética a qual algumas substâncias derivadas de tumor são potencialmente indutoras da caquexia, pois elas interagem com genes do músculo esquelético. De forma sintética o câncer é um estado de consumo de energia associado ao um hipercatabolismo (aumento da concentração dos hormônios catabólicos, com o adrenalina e cortisol , e redução dos anabólicos, in sulina). Desse modo, estabelece um estado de depleção de massas magra que culmina em um emagrecimento involuntário. DOENÇAS GASTROINTESTINAIS As doenças gastrointestinais formam um grupo importante para a síndrome consumptiva, pois elas agem localmente no TGI promovendo danos à fisiologia do sistema. As principais doenças envolvidas são: a úlcera péptica (como sabemos é a formação de um a lesão na mucosa gastrointestinal que resulta em processo inflamatório e sintomas anorexígenos), doença celíaca (um a hipersensibilidade ao glúten que resulta em um mecanismo imunológico que pode causar uma síndrome absortiva, através da atrofia das vilosidades) e a doença inflamatória intestinal (responsáveis por alterar o hábito intestinal). Lembrar de falar de pancreatite aguda e síndrome da mesentérica superior (angina mesentérica). Todo esse grupo de patologias resultam em dor, disfagia, na presença de um estado inflamatório sistêmico e perda de nutrientes pelas fezes. A clínica dos pacientes que possuem essas afecções intestinais é marcada pela presença de anorexia, dor abdominal , disfagia, saciedade precoce, diarreia, esteatorreia ou sangramento crônico. Quanto aos pacientes que possuem a doença inflamatória intestinal podem apresentar sinais e sintom as extraintestinais. São eles: atrites, lesões nas mucosas, danos metabolismo hepático, uveíte e retardo no crescimento. TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS Esse grupo abrange cerca de 10 -23% dos casos de perda de peso de forma não intencional . As principais etiologias são a depressão e os transtornos alimentares. A depressão induz a perda de peso decorrente a todo seu processo fisiopatológico o qual ocorre de forma multifatorial e sobreposta. Sendo assim, seus sinais e sintomas corroboram para esses mecanismos: isolamento social, demência, disfagia e uso de medicamentos. Quanto aos transtornos psiquiátricos são marcados pela diminuição da ingesta de nutrientes, compulsão alimentar e uso de medicamentos para perda de peso. O DSM-5 traz com o critério diagnóstico dois conceitos: a anorexia nervosa (incapacidade ou falta de desejo de manter um peso corporal adequado – medo de engordar) e bulimia nervosa (com pulsão alimentar com perda do controle da quantidade de alimentos que ingere, seguido de comportamentos compensatórios, com o jejum prolongado e autoindução de vômitos – pontas dos dedos e unhas desgastados pelo contato com o ácido clorídrico). Além disso, a perda de peso se encontra presente em pacientes que possuem transtornos psiquiátricos: portadores de transtorno bipolar, hiperatividades e ansiedade podem causar padrões anormais de alimentação. RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA ENDOCRINOPATIAS Hipertireoidismo: resulta em um estado de hipermetabolismo que culmina no aumento da concentração sérica de hormônio tireoidiano circulante. O paciente apresenta uma hiperfagia (aumento da ingesta de alimentos), mas, paradoxalmente, a presença de emagrecimento. A perda de peso é justificada pelo aumento da taxa metabólica basal, pelo aumento da motilidade gastrointestinal, hiperdefecação e má absorção de alimentos. Pacientes que possuem tal afecção apresenta um a incidência maior de possuir doença celíaca. Geralmente, o hipertireoidismo em jovens cursa com o aumento da ingesta de alimentos, enquanto que emidosos ocorre anorexia. Diabetes Mellitus: na diabetes ocorre o que se chama de “forme celular” a qual traduz a pouca concentração de glicose dentro das células. Tal fato pode ser explicado pela redução da sensibilidade à insulina (principalmente em portadores de diabetes descontrolada), ou redução da concentração da insulina. Desse modo, o paciente pode apresentar o apetite preservado ou até m esmo aumentado, na tentativa de manter o nível glicêmico alto. DOENÇAS NEUROLÓGICAS Várias doenças neurológicas, incluindo acidente vascular cerebral, demência, doença de Parkinson e esclerose lateral amiotrófica, podem levar à perda de peso. A perda de peso pode ser decorrente de um ou mais déficits, com o cognição alterada, disfunção motora e disfagia, as sociados a esses distúrbios. Em um estudo de coorte prospectivo com 1.900 pessoas, um declínio do peso da meia-idade foi associado a um risco aumentado de comprometimento cognitivo leve. Uma atenção aos pacientes com demência: devemos pesá-los rotineiramente, e solicitar um acompanhamento mais próximo desse paciente, pois eles normal mente não reportam os sintomas, pois acabam não se lembrando no momento da consulta. MEDICAMENTOS / SUBSTÂNCIAS Medicamentos de venda livre, prescritos e ilícitos podem levar à perda de peso. A perda de peso é um efeito adverso conhecido de vários medicamentos prescritos com uns, incluindo anticonvulsivantes, medicamentos para diabetes e medicamentos para tireoide. É importante ressaltar que os inibidores anticolinesterásicos (IAChE) usados para tratar a demência podem contribuir para a perda de peso. Perda de peso acentuada pode ocorrer após redução ou retirada de alguns medicamentos antipsicóticos. Os pacientes que apresentam perda de peso geralmente são tratados por muitos anos com altas doses. A perda de peso com a retirada de agentes antipsicóticos mais recentes ocorre com pouca frequência. ____________________________________________ QUADRO CLÍNICO Na clínica, os sintomas e sinais registrados variam consideravelmente entre os pacientes e a heterogeneidade das manifestações é aceita como a própria característica intrínseca à síndrome. Por essa razão, ao longo da última década, muitas propostas têm sido apresentadas e aos poucos, é possível vislumbrar pontos de congruência entre as mesmas, proporcionando o embrião de uma definição consensual. Sintomas clínicos: → Exacerbada perda de peso involuntária (massa magra) → Anorexia → Alterações no paladar RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA → Vômito → Saciedade precoce → Má absorção intestinal → Astenia → Fadiga → Perda de habilidades motoras e físicas → Apatia → Perda da imuno-competência → Caos metabólico → Desequilíbrio iônico → Alteração no perfil hormonal plasmático → Disfunção hipotalâmica A perda de peso e de apetite são normalmente os primeiros sintomas percebidos pelo paciente. No momento do diagnóstico, entre 54% e 70% dos pacientes relatam redução involuntária do peso. Diferentemente do que se observa no jejum, pacientes caquéticos perdem massa gorda e magra de forma similar. Contudo, as recentes tentativas de definição da síndrome consideram que a caquexia está associada à espoliação de massa magra, em concomitância ou não, à perda de massa gorda. A perda de massa magra envolve a perda de proteínas não só a partir da musculatura esquelética, mas também da cardíaca, resultando em alterações da função do coração ___________________________________________ ESTÁGIOS Os parâmetros para determinar a inclusão do paciente em cada um dos estágios abrangem a determinação da concentração de proteína C-reativa no soro, avaliação da anorexia e fatores correlatos (redução do apetite, alterações na percepção gustativa e olfativa, motilidade gastrointestinal reduzida, constipação, dor, entre outros), metabólitos indicadores de catabolismo, massa e força muscular (dinamometria dos membros superiores), bem como manifestações psicossociais. PS.: alerta-se a possíveis variações decorrentes da especificidade da população analisada, como por exemplo, idade, sexo, etnicidade. Essa classificação é feita segundo a gravidade, e garante que o paciente receba o tratamento mais adequado às suas necessidades: PRÉ-CAQUEXIA: definido como aquele no qual, o paciente apresenta perda de peso igual ou superior a 5%, anorexia e alterações metabólicas. CAQUEXIA: considera-se perda de peso igual ou superior a 5%, ou de 2%, com IMC < 20kg/m2, ou sarcopenia acompanhada de perda de peso corporal equivalente ou superior a 2%. Referem ainda presença frequente de redução da ingestão e de inflamação sistêmica. CAQUEXIA REFRATÁRIA: inclui os pacientes com diferentes graus de caquexia, mas nos quais há intenso catabolismo e que não respondem ao tratamento anti- câncer. Ainda nesse estágio, pacientes com baixo escore de desempenho e sobrevida esperada inferior a três meses devem ser incluídos. ___________________________________________ DIAGNÓSTICO Novos conceitos de diagnóstico e de avaliação propostos como fadiga, força muscular reduzida e estresse oxidativo auxiliam na compreensão e identificação da SAC. O diagnóstico para caquexia em adultos deve incluir perda de peso (≥ 5% em 12 meses ou menos) e, no mínimo, três dos seguintes critérios: • reduzida força muscular • fadiga • anorexia • baixo índice de massa magra • bioquímica diferenciada (marcadores inflamatórios aumentados: PCR >5,0 mg/L, IL-6 >4,0 pg/mL; anemia (<12 g/dL); baixa albumina sérica (< 3,2 g/dL). Segundo os critérios da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), a caquexia é descrita quando há: → Perda de peso superior a 5% nos últimos 6 meses; ou → IMC < 20 kg/m² com perda de peso contínua (> 2%); ou → Depleção de massa muscular (sarcopenia) e perda de peso > 2%. ____________________________________________ RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL SÍNDROME DA FRAGILIDADE A caquexia apresenta várias semelhanças, em sua fisiopatologia e apresentação clínica, com a síndrome da fragilidade, como a perda de peso, redução da força e fadiga; no entanto, a caquexia é, como a própria definição deixa claro, induzida por uma doença crônica, como o câncer, a insuficiência cardíaca, a doença pulmonar obstrutiva crônica e outras, enquanto a síndrome da fragilidade incide de maneira independente destes diagnósticos. Além disso, aspectos fisiopatológicos da síndrome da fragilidade não estão, necessariamente, envolvidos no desenvolvimento da caquexia. DESNUTRIÇÃO É necessário distinguir desnutrição e caquexia neste contexto. Na primeira, há mobilização preferencial de gordura ao tecido muscular e na segunda, mobilização semelhante dos dois tecidos. Caquexia é considerada o resultado da interação entre a doença de base e a diminuída disponibilidade de nutrientes. A má nutrição é um estado no qual o desequilíbrio (deficiência ou excesso) de energia, proteínas e outros nutrientes provoca efeitos adversos mensuráveis sobre a forma do corpo, tamanho, composição, função e evolução clínica. A redução da disponibilidade de nutrientes, no entanto, pode ser um componente que desempenha papel na patogênese da caquexia. Salienta-se que nem todos os pacientes desnutridos são caquéticos, mas todos os pacientes caquéticos são invariavelmente desnutridos. ____________________________________________ TRATAMENTO Há controvérsias na literatura sobre a reversão da caquexia. Diferente da desnutrição que poderia ser revertida com a oferta adequada de energia e nutrientes,a caquexia seria uma condição irreversível, mesmo diante de oferta adequada de substrato. Pacientes com caquexia e em cuidados paliativos necessitam de abordagem que permita a melhora da qualidade de vida. O tratamento da caquexia deve ser precoce, tratando preferencialmente a causa. O melhor tratamento para a síndrome da caquexia/ anorexia é a cura do câncer. No entanto, esta não é a realidade de um paciente com doença oncológica avançada. Outras opções destinam-se ao aumento da ingestão alimentar. Muitas vezes, deve-se associar ou até mesmo garantir o aumento dessa ingestão pelo tratamento farmacológico. Como a maioria dos estudos controlados e randomizados não demonstrou benefícios da intervenção nutricional isolada no ganho de peso e na qualidade de vida, o tratamento da caquexia passa a ser associado ao uso de grande variedade de agentes farmacológicos, cujo objetivo principal é obter melhora na qualidade de vida do paciente oncológico. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO Os tratamentos ‘potenciais’, sugeridos pela literatura, podem incluir estimulantes de apetite, treinamento de exercícios e agentes anabolizantes, incluindo testosterona, em combinação com a aplicação de suplementos nutricionais e intervenções anticatabólicas, porém nenhuma destas estratégias tem eficácia comprovada. Dentre os medicamentos de maior evidência destacam-se: A. Estimulantes de Apetite: 1) Progestágenos: Medicamentos de primeira linha para o tratamento da caquexia tumoral. Estudos prospectivos controlados e randomizados evidenciam o benefício do uso de acetato de megestrol e acetato de medroxiprogesterona na síndrome caquexia- anorexia. São fármacos sintéticos derivados da progesterona. O acetato de megestrol apresenta eficácia superior quando comparado com outras classes. • Categoria farmacológica: agente antineoplásico, hormônio, estimulante de apetite • Solução oral: 40mg/mlL solução com 240 mL pode ser administrada com água, suco. • Dose: Iniciar com 160 mg VO e progredir conforme resposta clínica para 400-1200mg/dia. • Dose ideal: 800 mg/dia • Indicação: tratamento paliativo para o câncer de mama e endométrio, tratamento da caquexia e anorexia ou perda inexplicável de peso. • Mecanismos de ação: Agente progestacional e antiinflamatório, atua como inibidor do neuropeptídeo Y (Neuropeptídeo orexígeno) no RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA hipotálamo, modula os canais de cálcio no núcleo ventro medial (NVM) do hipotálamo conhecido como centro da saciedade. Age também na inibição de citocinas pró-inflamatórias IL-1, IL-6 e TNF. Os estudos com megestrol evidenciam melhora do peso, apetite e qualidade de vida. Apesar do favorável efeito para imagem corporal os derivados de progesterona promovem maior aumento de massa gorda e não de massa magra. Altas doses de acetato de megestrol produzem aumento de peso e apetite, enquanto que doses baixas 300mg produzem apenas aumento do apetite. • Excreção: urinária e fezes • Metabolismo: Hepático • Meia vida: 13-105 horas com pico de ação em 1-3 horas • Interações medicamentosas: as aminoglutetimidas podem aumentar o metabolismo dos progestágenos. Monitorar o uso combinado com ervas e alimentos ex: mandioca, planta medicinal raiz vermelha (bloodroot), erva de damiana e álcool. • Monitorar: pressão arterial, peso, glicemia, fenômenos tromboembólicos. • Efeitos colaterais: Fenômenos tromboembólicos, hiperglicemia, hipertensão, sangramento uterino supressão e insuficiência adrenal, retenção hídrica (se retirado abruptamente), impotência, ansiedade e insônia. • Contra indicação: antecedentes de trombose venosa profunda (TVP) e embolia pulmonar • Nível de evidência: B para tratamento da anorexia e caquexia do câncer. 2) Corticóides: Fármacos previamente utilizados como primeira linha para síndrome caquexia/anorexia. Podem ser utilizadas dexametasona, prednisolona e metilprednisolona. Mecanismo de ação: O mecanismo de ação dos corticóides sobre o apetite deve-se à inibição das proteínas pró inflamatórias IL-1 e TNF-∂. Essas diminuem a ingestão e atuam sobre os receptores anorexígenos como a leptina, o fator de liberação de corticotropina e a serotonina.em também aumentando o nível do neuropeptídeo Y que é responsável pelo aumento de apetite. A ação que gera o bem estar e o aumento de apetite (diminuem a náusea e melhoram a astenia) é limitante em período de quatro semanas. Melhoram, portanto, em curto prazo, o apetite e a ingestão alimentar sem assegurar ganho de peso. Devido à ação limitada e aos efeitos colaterais é o medicamento de escolha para pacientes em fase avançada da doença oncológica, gerando melhora na qualidade de vida, porém sem efeito na diminuição da mortalidade. Efeitos colaterais: Imunossupressão, hiperglicemia, osteoporose, fraqueza muscular, delírios, insônia, irritabilidade, cushing, candidíase oral. Fármacos/doses: a. Dexametasona (Decadron®, Decadronal®, Duodecadrom®) 2-8mg /dia: via oral EV ou SC Formas de apresentação: Comprimidos: 0,5 mg/cp/;0,75mg/cp; 4mg/cp Elixir: 0,5mg/5mL; 0,1mg/1mL Injetável: 2mg/1mL; 10mg/2mL; 16mg/2mL Preferir dar o medicamento pela manhã e no início da tarde para evitar insônia b. Prednisolona: (Predisin®, Prednisolon®, Prelone®) ação intermediiária, 5 mg/cp VO 8/8hs Formas de apresentação: Comprimidos: 5mg/cp, 20mg/cp Solução oral: 3mg/mL; 6,7mg/Ml c. Metilperdnisolona: 125 mg IM (Solumedrol®) 3. Anabolizantes: O termo esteroides anabólicos se refere à testosterona e derivados. 3.a) Testosterona: Classificação: Anabolizante esteróide, derivado sintético Modo de ação e metabolismo: promove acúmulo de proteína e impede a perda progressiva de nitrogênio associada à caquexia. O benefício potencial em aumentar a massa corporal não é persistente. A testosterona liga-se aos receptores androgênicos. Sofre modificação para dihidrotestoterona, que também age no receptor androgênico. Sofre depois processo de aromatização para estrógeno. Outros mecanismos incluem efeito anticatabólico por interferir na expressão de receptores glIcocorticóides e ainda por gerar alterações de comportamento. Indicações clínicas: disfunções hipogonadais em homens, atraso da puberdade, promoção do crescimento e em doenças crônicas associadas ao catabolismo, anorexia e caquexia. RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA Efeitos colaterais: masculinização, retenção de fluidos e hepatotoxicidade 4. Cloridrato De Ciproeptadina: Antihistamínico piperimídico e antagonista forte do receptor histamínico H1. Importante bloqueador serotoninérgico (5HT) na musculatura lisa, fraca ação anticolinérgica e média atividade como depressor do sistema nervoso central. É efetivo no controle de fenômenos alérgicos na pele, particularmente quando acompanhados de prurido. Útil em condições como cefaléia e anorexia devido ao bloqueio 5HT. Atua como antagonista serotoninérgico no centro do apetite hipotalâmico, com o aumento do apetite. 5. Anti-inflamatórios Não Hormonais: Os fármacos antiinflamatórios não hormonais (AINEs) de uso terapêutico geral são vários. Também são muito utilizados para tratamento da febre em pacientes com câncer. Mecanismo de ação: inibidores da síntese de prostaglandinas2. O Ibuprofeno, na dose de 400mg, três vezes ao dia, foi demonstrado que diminui os níveis de proteínas de fase aguda, de interleucina-6 e cortisol e normalizou a cinética das proteínas totais corporais em alguns pacientes com câncer colorretal. Em estudo envolvendo pacientes com neoplasia de pâncreas, estabilizou o peso e melhorou a qualidade de vida, talvez por diminuição do gasto energético. A indometacina, na dose de 50mg, duas vezes ao dia, em extenso estudo duplo mascarado, compacientes portadores de tumores sólidos, obteve impacto no estado geral dos pacientes e na sobrevida geral. Estas medicações podem ter algum papel no tratamento paliativo da febre e da caquexia em pacientes com câncer, apesar dos efeitos colaterais gastrointestinais. Os AINEs agem pela inibição da produção de prostaglandinas pelas enzimas COX-1 e COX-2. Os inibidores seletivos de COX-2, como o celecoxibe, apresentam menor toxicidade gastrointestinal e menor inibição da atividade das plaquetas. por esse motivo, são alternativas terapêuticas em relação aos AINEs. Os inibidores de COX-2, em modelos experimentais, demonstraram atividade antiangiogênica e anti-tumoral. 6. Anti-fator De Necrose Tumoral (Anti-tnfα): A pentoxifilina é uma metilxantina e pode inibir a produção de TNF-alfa pelos monócitos e linfócitos. ____________________________________________ TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO Medidas Dietéticas No câncer avançado, os objetivos da intervenção nutricional têm como ênfase promoção da qualidade de vida e alívio dos sintomas do paciente. Especialmente neste caso, o plano de cuidado nutricional proposto deve envolver a discussão ética entre os profissionais, o paciente e sua família. Nessa etapa, é importante conhecer as preferências e os hábitos alimentares do paciente a fim de desenvolver estratégias que favoreçam manutenção ou melhor qualidade de vida. A prescrição médica de dieta via oral para conforto pode ser uma estratégia utilizada. As alterações no paladar e olfato, frequentemente presentes em pacientes com caquexia e câncer avançado, limitam o consumo alimentar via oral. O controle desses sintomas, bem como da saciedade precoce e do funcionamento intestinal, tornam-se importantes para favorecer a aceitação alimentar. RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA Estratégias são úteis neste sentido e incluem a oferta de refeições menores e mais frequentes ao longo do dia, incentivo para alimentação em ambiente agradável e, em especial, boa apresentação da refeição. Além disso, é necessário evitar o isolamento dos pacientes durante as suas refeições e tornar esse momento uma ocasião social. Incluem-se também nas recomendações para manejo da caquexia evitar agredir o paladar/odor, evitar refeições de alto conteúdo de gordura, que atrasa o esvaziamento gástrico, sendo percebida como saciedade precoce. 4. CARACTERIZAR A SÍNDROME DO IDOSO FRÁGIL CONCEITO Há cerca de 30 anos é reconhecida, por diferentes autores, a existência de um quadro de fragilização que acomete parte dos idosos, e cujo conceito vem se modificando ao longo do tempo. Em suas definições iniciais, o conceito de fragilidade era de natureza basicamente funcional, sendo classificados como frágeis aqueles idosos com dependências em variados graus. Assim, Woodhouse (1988) definiu como frágil o idoso dependente de outros para as atividades da vida diária e Gillick (1989) classificou como frágeis as pessoas debilitadas, que não podiam sobreviver sem o auxílio de outros. Com o passar do tempo, e especialmente na última década, o conceito de fragilidade do idoso evoluiu para proposições de natureza não mais exclusivamente funcionais, mas, agora, de base fisiopatológica. Estudos de diversos grupos mostraram, em idosos fragilizados, a redução da reserva funcional e a disfunção de diversos sistemas orgânicos, o que reduziria, acentuadamente, a capacidade de restabelecimento das funções após agressões de várias naturezas, a eficiência de medidas terapêuticas e de reabilitação, a resposta dos sistemas de defesa, a interação com o meio e, em última análise, a capacidade de sobrevida. Em resumo, foi definido a fragilidade como uma síndrome de declínio espiral de energia, embasada por um tripé de alterações relacionadas com o envelhecimento, composto por sarcopenia, desregulação neuroendócrina e disfunção imunológica. Os idosos portadores desta tríade estariam propensos à redução acentuada da massa muscular e a um estado inflamatório crônico que, se associados a fatores extrínsecos como a incidência de doenças agudas ou crônicas, a imobilidade, a redução da ingestão alimentar e outros, levariam a um ciclo vicioso de redução de energia e aumento da dependência e suscetibilidade a agressores. A grande importância desta mudança de paradigma, passando-se de uma abordagem puramente funcional para a proposição de um mecanismo fisiopatológico comum aos estados de fragilidade do idoso, é que, a partir desta nova perspectiva, torna-se possível investir em pesquisas que identifiquem vias finais comuns que levem à fragilidade e intervenções que as modifiquem. Isto vem claramente acontecendo e diversos autores estudam, atualmente, os diferentes fatores de gênese da fragilidade do idoso, sendo que além da confirmação dos já relatados, outros fatores como resiliência psicológica, estrutura de apoio social, cognição e genéticos vêm sendo propostos. ____________________________________________ EPIDEMIOLOGIA A incidência e a prevalência da síndrome da fragilidade variam, em diferentes estudos, em função da definição adotada para a síndrome. Segundo os critérios diagnósticos propostos por Fried e Walston, a prevalência, reproduzida por vários autores de localidades diferentes, varia de 2,5%, entre os idosos com idade entre 65 e 70 anos, a mais de 30% entre os idosos com 90 anos ou mais. Resultados preliminares de estudos realizados no Brasil, ainda em fase de publicação, sugerem níveis de incidência e prevalência semelhantes, quando adotados os mesmos critérios. Na cidade de Ribeirão Preto, a prevalência de fragilidade entre 385 idosos com média de idade de 74 anos, segundo os critérios de Fried (et al., foi de 7,3% entre os homens e 10% entre as mulheres. Em diversos estudos, idosos classificados como frágeis apresentam maior taxa de hospitalização, sofrem mais quedas, apresentaram piora nas atividades de vida diária e maior mortalidade, ou seja, estudos RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA epidemiológicos confirmam que a presença da fragilidade, conforme sua definição mais aceita atualmente, implica desfechos negativos – o que é elemento essencial para sua classificação como síndrome. ____________________________________________ FISIOPATOLOGIA E FATORES PREDISPONENTES O estudo da fisiopatologia da fragilidade é dificultado pela complexidade dos sistemas envolvidos e pela coexistência frequente de doenças agudas, crônicas e incapacidades. Segundo a teoria proposta por Fried (et al., a síndrome seria embasada na redução da atividade de eixos hormonais anabólicos, na instalação da sarcopenia e na presença de um estado inflamatório crônico subliminar. Estas três alterações, quando intensas o suficiente, interagiriam de maneira deletéria (p. ex., a inflamação e as alterações hormonais induzindo a sarcopenia; esta, por sua vez, diminuindo a atividade física e promovendo mais inflamação e alterações hormonais), precipitando a ocorrência de um ciclo autossustentado de redução de energia, perda de peso, inatividade, baixa ingestão alimentar e sarcopenia. Diversos fatores, como doenças agudas e crônicas, alterações próprias do envelhecimento, efeito de medicamentos, quedas e outras contribuiriam para que uma pessoa idosa entrasse no ciclo de fragilidade. Ciclo da fragilidade, conforme proposto por Fried et al. Observa-se a existência de um ciclo central, em que a redução da massa e da força muscular se associam a redução da atividade física e redução da ingestão alimentar que, por sua vez, precipitam a piora da massa e da força muscular. Vários fatores (“entradas”) se precipitam e perpetuam esse círculo vicioso. Esta teoria tem recebido boa aceitação na comunidade científica, porémdiversos autores têm proposto o envolvimento de outros fatores na gênese da fragilidade. Como exemplos, Bortz propôs a importância da carga genética, estilo de vida e doenças ou lesões; Morley propôs como fatores etiológicos da síndrome idade, genética e nível educacional prévio, além de prejuízo cognitivo. São ainda citados como envolvidos na patogênese da fragilidade a carga alostática ao longo da vida, o acúmulo de lesões oxidativas do DNA, o declínio na capacidade de reparo, anormalidades na transcrição, deleções e mutações no DNA mitocondrial, encurtamento telomérico e alterações proteicas como glicação e oxidação. Estudo realizado por nosso grupo, ainda em fase de publicação, verificou, pela análise da expressão gênica em larga escala de idosos frágeis e grupo controle, uma série de genes diferencialmente modulados, quando comparados pacientes idosos frágeis com sadios. Diversas vias de processos biológicos foram RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA demonstradas comprometidas, em especial as de reparo de lesões no DNA, sistemas de processamento e degradação de proteínas e as vias relacionadas com a resposta ao estresse. Fica evidente, portanto, que, embora existam pontos de concordância fundamentais acerca da fisiopatologia da síndrome da fragilidade, diferentes fatores envolvidos na sua patogênese ainda se encontram em investigação. _______________________________________ QUADRO CLÍNIICO As manifestações da síndrome da fragilidade propostas por Fried são: → Perda de peso não intencional → Fraqueza muscular → Fadiga → Redução da velocidade da marcha → Redução do nível de atividade física. Ainda que não determinantes da presença da fragilidade, são frequentes, entre os seus portadores: • Anormalidades da marcha e balanço • Ocorrência de quedas • Sintomas depressivos • Redução da massa óssea • Alterações cognitivas • Déficits sensoriais • Vulnerabilidade a processos infecciosos ou traumáticos • Má resposta às terapêuticas instituídas ____________________________________________ DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ATENÇÃO! A incapacidade e a fragilidade apresentam similaridades óbvias, o que promove algum grau de confusão entre seus conceitos. No entanto, enquanto a fragilidade é um quadro necessariamente multissistêmico de instalação lenta e que promove vulnerabilidade da regulação homeostática, a incapacidade pode se instalar de maneira aguda e comprometer um único sistema, como em um acidente vascular cerebral que evolua para a permanência de sequelas e que, não necessariamente, implica instabilidade homeostática de seu portador. Neste caso, o portador da incapacidade pode não ser portador de fragilidade, exemplo que diferencia as duas condições. Do mesmo modo, a fragilidade deve ser diferenciada da presença de comorbidades! ATENÇÃO! Outros dois conceitos, de emprego cada vez mais frequente, e que também devem ser diferenciados de fragilidade são a sarcopenia e a caquexia. Recentemente, foi publicado um consenso europeu que define a sarcopenia como a redução da massa muscular, relacionada com o envelhecimento, associada à redução da força e/ou função. Na verdade, este é um conceito em evolução e ainda em disputa: pesquisadores mais “puristas” da sarcopenia insistem que esta seja definida exclusivamente pela redução da massa muscular, sendo que a perda de função ou força seriam mais bem definidas como “dinapenia”. De qualquer maneira, a sarcopenia pode estar presente sem os outros comemorativos da síndrome de fragilidade, sendo, quando coexistente, apenas um dos componentes de um processo muito mais complexo. Já a síndrome da caquexia é definida como “uma síndrome metabólica complexa associada à doença e caracterizada pela perda de músculo, com ou sem a perda de massa gorda”. A caquexia apresenta várias semelhanças, em sua fisiopatologia e apresentação clínica, com a síndrome da fragilidade, como a perda de peso, redução da força e fadiga; no entanto, a caquexia é, como a própria definição deixa claro, induzida por uma doença crônica, como o câncer, a insuficiência cardíaca, a doença pulmonar obstrutiva crônica e outras, enquanto a síndrome da fragilidade incide de maneira independente destes diagnósticos. Além disso, aspectos fisiopatológicos da síndrome da fragilidade não estão, necessariamente, envolvidos no desenvolvimento da caquexia. ____________________________________________ RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS CRITÉRIOS CLÍNICOS Diversos autores propuseram, nas últimas décadas, critérios próprios para a definição de fragilidade, o que impede a definição de critérios universalmente aceitos ou empregados. Os critérios mais frequentemente empregados em estudos internacionais são adaptados a partir dos estudos de Fried e Walston, compondo cinco diferentes critérios. Idosos portadores de três ou mais: FRÁGEIS Idosos com um ou dois critérios: PRÉ-FRÁGEIS Idosos sem a presença destes critérios: NÃO FRÁGEIS CRITÉRIOS DE FRAGILIDADE: → Redução da força de preensão palmar: Abaixo do percentil 20 da população, corrigido por gênero e índice de massa corporal → Redução da velocidade de marcha: Abaixo do percentil 20 da população, em teste de caminhada de 4,6 m, corrigido por gênero e estatura. > 7 segundos para 4 m. → Perda de peso não intencional: Acima de 4,5 kg referidos ou 5% do peso corporal, se medido, no último ano → Sensação de exaustão: Autorreferida (Questões do questionário CES-D) → Atividade física baixa: Abaixo do percentil 20 da população, em kcal/semana. Gasto calórico < 383 kcal/semana em homens, ou < 270 kcal/semana em mulheres. CRITÉRIOS LABORATORIAIS Mesmo que, dada a fisiopatologia da fragilidade, diversos exames laboratoriais possam estar alterados (marcadores de aumento da atividade inflamatória, redução da creatinina sérica, redução da albumina sérica, anemia, alterações hormonais), nenhum destes testes, empregados isolados ou em conjunto, possibilita o diagnóstico de fragilidade ou para ele contribui de modo definido. ____________________________________________ TRATAMENTO Diversas modalidades de tratamento vêm sendo propostas para a síndrome da fragilidade, mas ainda não estão disponíveis tratamentos específicos para a síndrome como um todo. Tratamentos medicamentosos embasados na fisiopatologia desta condição (p. ex., anti-inflamatórios, reposição hormonal, anabolizantes para reduzir a perda de massa muscular), embora ainda em fase de estudos, não se mostraram, isoladamente, eficazes para a terapêutica. As intervenções atualmente propostas se baseiam especificamente em: • Atividade física, para promover o aumento da massa muscular • Suplementação alimentar, para reduzir a perda de massa magra e promover a melhoria do estado energético • Suplementações hormonais, buscando quebrar o ciclo da fragilidade em seus componentes relacionados com a desregulação neuroendócrina • Medicações de diversas naturezas, com atuação em componentes da fisiopatologia da síndrome (anti-inflamatórios, miostáticos, anabolizantes etc.). A intervenção mais bem estudada em relação à síndrome da fragilidade é a prática de atividade física. A literatura evidencia, em seu conjunto, que o treinamento de força isolado pode melhorar este parâmetro mas, no conjunto, aumenta o risco de lesões e não promove a melhora global do paciente. A combinação de treinamento de força com exercícios para flexibilidade, equilíbrio e capacidade aeróbica mostra mais benefícios nos estudos realizados até o momento que, ressalte-se, ainda são escassos. A suplementação alimentar isolada, conquanto importante para a manutenção do estado nutricional e promoção de sua melhoria,não apresenta benefícios bem demonstrados. Sua associação à atividade física, por outro lado, apresenta evidências de benefícios. Suplementações com hormônio de crescimento, DHEA, RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA progestágenos e outros tratamentos hormonais não se mostraram benéficas, os efeitos colaterais suplantando, de uma maneira geral, os benefícios. A exceção relativa que se apresenta é a suplementação de testosterona, em homens frágeis que apresentam deficiência deste hormônio. Alguns estudos demonstram que, quando não contraindicada, a suplementação, associada à atividade física, apresenta efeitos benéficos para a fragilidade e a qualidade de vida. No entanto, mais estudos são necessários em uma gama mais ampla de pacientes com fragilidade. Outras medicações para o tratamento da fragilidade ainda se encontram em estudo, não estando indicadas, no momento, para o emprego na prática clínica. RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA
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