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Aula 3: Parede Celular e outras estruturas Livia Seno Ferreira Camargo livia.camargo@ufabc.edu.br Parede celular de bactérias e arqueias Fonte: http://faculty.ccbcmd.edu/~gkaiser/SoftChalk%20BIOL%20230/Prokaryotic%20Cell%20Anatomy/nucleoid/nucleoid/nucleoid2.html • Proteção contra lise osmótica e mecânica. • Presente em todos os procariotos, exceto micoplasmas e algumas arqueias, dando forma e rigidez às células. h ttp s ://b ra s ile s c o la .u o l.c o m .b r/q u im ic a /p re s s a o -o s m o tic a .h tm • Serve como ponto de ancoragem para flagelos e pili de bactérias; • Composição da parede é utilizada para identificação (coloração de Gram) e serve como alvo para antibióticos. • Moléculas de sua superfície são reconhecidas por outras moléculas; Parede celular - funções Parede de bactérias Peptideoglicano (mureína): polímeros de dissacarídeos repetitivos (N- acetilglicosamina – NAG e ácido N-acetilmurâmico – NAM) ligados por polipetídeos (L-alanina, ácido D-glutâmico, L-lisina ou ácido diaminopimélico – DAP e D-alanina). Fonte: Madigan et al., Microbiologia de Brock – Cap. 3 – 13ª edição. Ligações covalentes (tipo β-1,4) entre os açúcares + ligações peptídicas (pontes cruzadas) conferem rigidez à parede. Quanto mais ligações cruzadas , maior a rigidez da parede. Glicinas formam ponte interpeptídica: no. de aa. varia de sp. para sp. São ligação cruzada em gram + Fonte: Madigan et al., Microbiologia de Brock – Cap. 3 – 13ª edição. ligação cruzada DAP: ácido diaminopimélico Fonte: Madigan et al., Microbiologia de Brock – Cap. 3 – 13ª edição. 90 % - peptideoglicano Parede de bactérias Gram-positivas Possuem ácidos teicoicos e lipoteicoicos embebidos na parede. Fonte: Madigan et al., Microbiologia de Brock – Cap. 3 – 13ª edição. Fonte: Brown et al., Nature Reviews Microbiology, setembro 2015 (Modificada) Fonte: Brown et al., Annual Review Microbiology, 2013 Os ácidos teicoicos (AT) são polímeros aniônicos compostos por unidades repetidas de poliois ligados covalentemente ao ácido N-acetilmurâmico do peptideoglicano. ● Até 60% da massa total da parede de Gram +; ● Varia entre as espécies. Ácido teicoico (AT) Glicerol-3-fosfato Poliois que compõem os ácidos teicoicos Ribitol-5-fosfato https://pubs.rsc.org/en/content/articlehtml/2017/cs/c6cs00270f Fonte: Brown et al., Nature Reviews Microbiology, setembro 2015 (Modificada) Ácidos lipoteicoicos têm estrutura idêntica a dos AT, porém com um componente lipídico que o ancora na membrana plasmática. Fonte: Madigan et al., Microbiologia de Brock – Cap. 3 – 13ª edição. Parede de bactérias Gram-negativas Membrana externa, peptideoglicano e espaço periplasmático. Fonte: Madigan et al., Microbiologia de Brock – Cap. 3 – 13ª edição. Membrana externa • Bicamada lipídica que contém fosfolipídeos, proteínas, lipoproteínas, lipopolissacarídeos. • Barreira entre o ambiente externo e o periplasma; • Impede que proteínas externas se difundam para longe da célula. Fonte: https://www.slideserve.com/kelvin/gram-negative-outer-membrane Lipopolissacarídeo (LPS) predomina na face externa da bicamada da membrana externa. Fonte: http://simbac.gatech.edu/outer-membrane-proteins/ LPS Face externa Face interna - periplasma Membrana externa - LPS Molécula complexa composta por 3 componentes: lipídeo A, polissacarídeo cerne e polissacarídeo O-específico. Estrutura do LPS LPS – lipídeo A • Ancora o LPS na região hidrofóbica da membrana externa; • Estrutura difere dos lipídeos que compõe a bicamada da membrana plasmática (glicosamina em vez de glicerol); • Responsável pela toxicidade do LPS (endotoxina) – febre, dilatação de vasos, distúrbios gastrointestinais, choque séptico. Fonte: https://www.beilstein-journals.org/bjoc/articles/14/3 LPS – cerne polissacarídeo • Mantém a estrutura do LPS – composto por açúcares incomuns contendo 7 carbonos (heptoses); • Constante em todas as bactérias Gram-negativas. LPS –polissacarídeo O-específico • Composto por hexoses e outros açúcares; • Varia entre as espécies de bactérias Gram-negativas; • Usada para identificação de espécies e linhagens dentro das espécies. Proteínas de membrana externa (OMP) Fonte: http://scienceforlife.altervista.org/blog/batteri-parete-dei-gram-negativi/?doing_wp_cron=1536839272.9800560474395751953125 OMP – outer membrane protein Proteínas de membrana externa (OMP) • 50% da massa total da membrana externa; • Porinas e lipoproteínas; • Função na permeabilidade seletiva; • Produção regulada por fatores ambientais, favorecendo a adaptação da bactéria. Porinas • Transmembrânicas; • Atuam como canais que permitem a entrada e saída de solutos (moléculas pequenas e também hidrofílicas); • Podem ser específicas ou inespecíficas; Fonte: https://www.iycr2014.org/learn/crystallography365/articles/20140527 OmpF de E. coli Lipoproteínas da membrana externa Fazem a ligação entre a membrana externa e o peptideoglicano, dando estabilidade à membrana. Fonte: http://upendrats.blogspot.com/2013/01/the-bacterial-cell-wall-structure-and.html Periplasma • Espaço entre a membrana plasmática e a membrana externa das bactérias Gram-negativas; • Semelhante a um gel, com alta concentração de proteínas (enzimas hidrolíticas, proteínas envolvidas no transporte de substratos e quimiorreceptores). https://www.researchgate.net/figure/Peptidoglycan-chain-synthesis-of-the-E-coli-cell- wall-D-D-carboxypeptidases-delete-the_fig1_328886030 Contém enzimas, componentes para biossíntese de peptideoglicano, membrana externa, estruturação de proteínas para secreção. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S016748891 3003595 Periplasma Fonte: Madigan et al., Microbiologia de Brock – Cap. 3 – 13ª edição. Bactérias Gram-positivas e Gram-negativas Coloração de Gram 1884 – Hans Christian Gram: método de escolha para identificação de bactérias. 1. Corante primário: solução de cristal violeta. 2. Mordente: lugol (solução de iodo-iodeto de potássio). 3. Descorante: etanol 95%. 4. Contracorante: solução de safranina. Coloração de Gram • Corante cristal violeta forma um complexo com o iodo no citoplasma das bactérias - coloração roxa; • O complexo cristal-violeta/iodo (CV-I) fica retido nas bactérias Gram- positivas, após a lavagem com álcool, devido à espessa camada de peptideoglicano; • No caso das bactérias Gram-negativas, o álcool rompe a membrana externa e o CV-I é removido, pois consegue atravessar a fina camada de peptídeoglicano; • Para visualizar as bactérias Gram-negativas, utiliza-se um segundo corante. Coloração de Gram Bactérias sem parede ou com composição atípica Bactérias do gênero Mycoplasma: menores bactérias conhecidas (0,1 a 0,25 µm). Não possuem parede e sua membrana plasmática é rica em esteróis que oferecem rigidez à membrana. Mycoplasma pneumoniae Fonte: https://www.cdc.gov/pneumonia/atypical/mycoplasma/hcp/disease-specifics.html Bactérias com parede de composição atípica Bactérias do gênero Mycobacterium (M. tuberculosis) e espécies patogênicas de Nocardia: alta concentração de ácido micólico em sua parede, que forma uma camada externa ao seu peptideoglicano. Altamente resistente Fonte: https://www.researchgate.net/figure/The-structure-of-the-Mycobacterium-tuberculosis-cell-wall-This-figure-shows-a-schematic_fig1_51156793 Parede celular de arqueias • Não possui peptideoglicano; • Vários tipos de parede; • Composição variada de polissacarídeos ou proteínas; • Previne lise osmótica e dá forma à célula. Parede celular de arqueias • Presente em espécies de arqueias metanogênicas e halófilos (moléculas sulfatadas - Na+); • Parede é composta por uma molécula semelhante ao peptideoglicano: polímero de ácido N-acetilglicosamina (NAG) e ácido N- acetiltalosaminurônico. • As ligações glicosídicas são do tipo 𝛃-1,3 (bactéria é 𝛃-1,4); • Não possui D-aminoácidos em suas pontes peptídicas. • Pseudopeptideoglicano(pseudomureína) Fonte: http://www.wikiwand.com/en/S-layer Parede celular de arqueias • Camada S (Surface layer) • Mais comum entre as arqueias; • Camada formada por subunidades idênticas de proteínas ou glicoproteínas em arranjos simétricos. • Ocorre em espécies de bactérias também. https://en.wikipedia.org/wiki/Methanosarcinales_S-layer_Tile_Protein Aplicações biotecnológicas Fonte: Brown et al., Nature Reviews Microbiology, setembro 2015 (Modificada) Outras estruturas de superfície Fonte: https://basicmedicalkey.com/structure-of-bacterial-cells/ Cápsula e Camada limosa Outras estruturas de superfície • Cápsulas e camada limosa são revestimentos de polissacarídeos (glicocálice) externos à parede celular. • Funções: • Os açúcares de superfície auxiliam na adesão dos microrganismos à superfícies - tecidos de hospedeiros, superfícies sólidas (desenvolvimento e manutenção de biofilmes); • Fatores de virulência: cápsulas evitam que patógenos invasores sejam reconhecidos por células do sistema imune; • Protegem células contra desidratação pois retém moléculas de água. Cápsulas e camada limosa são estruturalmente diferentes. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cryptococcus_gattii Fungo Cryptococcus gattii Cápsulas: matriz compacta que exclui partículas pequenas; visíveis ao microscópio óptico quando as células são tratadas com tinta nanquim; • Forte adesão à parede celular. Camada limosa: menos rígida, facilmente deformável. Substâncias atravessam facilmente essa camada e é de difícil visualização. camada limosa https://pt.khanacademy.org/science/biology/bacteria-archaea/prokaryote-structure/a/prokaryote-structure Fímbrias e pili • Estruturas proteicas filamentosas que se projetam a partir da superfície celular; • Comprimento varia de 1-2 µm e diâmetro de 2-8 µm; • Envolvidas em processos de adesão a tecidos ou superfícies, conjugação, receptores para vírus e motilidade pulsante (Vários tipos de pili); • Importância na patogenicidade. Neisseria gonorrhoeae Auxílio das fímbrias no processo de adesão às células do epitélio do trato genitourinário. Escherichia coli Pili no processo de conjugação de E. coli Pili tipo I (encontrados em espécies uropatogências de E. coli e outras enterobactérias) Montagem e secreção para a membrana externa do Pili tipo I Inserido na membrana externa da parede. Membrana externa Membrana citoplasmática Periplasma Movimento de contração/retração Além da patogenicidade e mobilidade, também é importante para auto- agregação das células e formação de biofilmes. Flagelos Flagelos de bactérias • Estrutura responsável pelo movimento natatório que muitos procariotos (bactérias e arqueias) apresentam; • O flagelo atua por movimento de rotação; • São apêndices longos e delgados (15-20 nm), não flexíveis, helicoidais em ancorados no envelope celular; • Encontrados em vários arranjos e localizações. Arranjo utilizado para classificação Arranjos: ✔ um único flagelo, geralmente na extremidade da célula - polar; ✔ dois ou mais flagelos, em uma ou nas duas extremidades da célula; ✔ um único flagelo nas duas extremidades da célula; ✔Flagelo em toda a superfície da célula. Vibrio cholerae, Pseudomonas aeruginosa, Idiomarina loihiensis. Vibrio fischeri e Spirillum spp. Escherichia coli e Salmonella enterica Gram- negativa Gram-positiva Filamento espiral (proteína flagelina) Gancho Membrana externa Peptídeoglicana Membrana plasmática Espaço periplasmático v C o rp o B as al Anel L Anel M Anel P Anel S Anel MS Estrutura do flagelo Junção flexível Anéis conectam o flagelo ao envelope celular (porção motora). Motor Proteínas MOT: canal de prótons H+ (energia para rotação do flagelo). Localizadas ao redor dos anéis MS e C. Flagelina: cópias dessa proteína compõem o filamento do flagelo. Proteína conservada em bactérias. Gancho: base do flagelo. Proteína conservada em bactérias. Conecta o filamento à porção motora do flagelo. Anel C (localizado em contato com o citoplasma) Proteínas Fli: receptores que determinam mudança de direção do flagelo em resposta a sinais intracelulares. Como ocorre o movimento flagelar? Funciona como um motor rotatório – rotor (bastão central e anéis) e estator (proteínas Mot que geram energia para o movimento através da força próton- motiva). Corpo basal • Movimento de prótons ao longo das proteínas Mot permite a rotação do flagelo (1000 prótons são translocados a cada rotação); • Velocidade não é constante; • Gira até 300 revoluções/segundo em líquidos (60 comprimentos celulares/segundo). Modelo de “turbina de prótons” • Interações entre os prótons H+ atraem as cargas negativas nos anéis, o que faz o motor girar Síntese do flagelo • Mais de 50 genes envolvidos (E. coli e Salmonella entérica); • O filamento flagelar cresce a partir de sua ponta e não da base; • Flagelinas sintetizadas no citoplasma passam por um canal do filamento e são adicionadas à sua ponta com o auxílio de proteínas cap. Flagelos de arqueias • Amplamente disseminado entre os principais gêneros de metanógenos, halófilos extremos, termoacidófilos e hipertermófilos; • São mais delgados (10-13 nm); • Os filamentos são formados por diferentes tipos de flagelinas não relacionadas à flagelina de bactérias; • Estudos com a halófila extrema do gênero Halobacterium indicam que o diâmetro menor do flagelo reduz o seu torque e a potência de seu motor em relação ao flagelo de bactérias. • O motor flagelar alimentado por ATP e não pela força próton-motiva. Flagelos peritríquios: movimentação para frente ocorre com todos os flagelos girando no sentido anti-horário, formando um feixe. A rotação no sentido horário gera oscilação e o retorno ao sentido anti-horário muda a direção (E. coli). Flagelos polares mudam a direção apenas revertendo do sentido horário para anti-horário (Pseudomonas). Quimiotaxia Muito estudado em bactérias natatórias, com flagelo. Modelo de quimiotaxia de peritríqueos Quimiotaxia – percepção do ambiente • Informação sensorial é transmitida por uma cascata de proteínas que culmina na na alteração da rotação do flagelo, essas proteínas são denominadas quimiorreceptores. • Estão presentes na membrana citoplasmática e no periplasma; • Tipo de resposta análogo às respostas sensoriais do sistema nervoso de animais Imersão de um pequeno capilar de vidro contendo um agente atrativo em uma suspensão de bactérias móveis Endósporos Endósporos • Induzido por condições ambientais desfavoráveis; • Bactéria metabolicamente inativas por longos períodos de tempo; • Espécies que esporulam são bactérias principalmente Gram-positivas de hábitats diversos, metabolicamente heterogêneas e filogeneticamente não relacionadas (Principais estudos com os gêneros Bacillus e Clostridium); • São resistentes ao calor, desidratação, valores extremos de pH, radiação ionizante e ultravioleta, condições nutricionais inadequadas, ação de enzimas e agentes químicos. • Os endósporos também são uma forma de dispersão para ambientes mais favoráveis; • Tamanho, forma e posição são utilizados para diferenciar uma espécie da outra; • Impermeáveis a maioria dos corantes. Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Endospore#/media/File:Paenibacillus_alvei_endospore_microscope_image.tif Endósporo de Paenibacillus alvei Bacillus subtilis: endósporos corados com verde malaquita; em vermelho, células vegetativas. Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Endospore#/media/File:Bacillus_subtilis_Spore.jpg Estrutura e composição dos endósporos Capa do esporo Capa e exospório - Composição • Camadas concêntricas formadas por 1-25 tipos de proteínas, maioria rica em pontes de dissulfeto. O no de camadas difere de espécie para espécie; • Proteção mecânica, resistência a enzimas proteolíticas e agentes químicos; • Exclui moléculas tóxicas, mas permite a entrada de moléculasque poderão ativar a germinação. Córtex – Composição e função • Localização abaixo da capa; • Composta por uma grossa camada de peptideoglicano com menos pontes cruzadas; • A camada mais interna do córtex tem uma camada de peptideoglicano com mais pontes cruzadas - será a base da parede da célula vegetativa após a germinação. Cerne (core) – Estrutura e função • Conteúdo semelhante ao da célula vegetativa: membrana citoplasmática, citoplasma, nucleoide, ribossomos e componentes metabólicos. • O cerne é desidratado, altamente mineralizado (Ca2+, Mg2+ e Mn2+) e resistente ao calor. • Predominam proteínas solúveis em ácido (PSA), que ocupam 30-50% do cerne e ligam-se ao DNA protegendo-o contra dissecação, calor e radiação, além de servirem de fonte de energia na germinação. • Contém ácido dipicolínico associado ao Ca2+, complexo auxilia na desidratação. Esporulação • Processo de diferenciação celular desencadeado pela escassez de nutrientes, irreversível, dura cerca 8 horas; • Mudança no padrão de expressão gênica que permitirá a expressão de moléculas importantes no processo. Estágio 0 Crescimento Normal Estágio I Formação do filamento axial Estágio II Formação do septo Estágio III Engolfamento Estágio IV Síntese do Cortex Estágio V Síntese da Capa Estágio VI Lise da célula mãe Estágio VII Liberação do espóro Germinação v
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