Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
O que é e o que faz a Análise Textual dos Discursos Coleção O que é e o que se faz? Volume 2 Reitor José Daniel Diniz Melo Vice-Reitor Henio Ferreira de Miranda Diretoria Administrativa da EDUFRN Maria das Graças Soares Rodrigues (Diretora) Helton Rubiano de Macedo (Diretor Adjunto) Bruno Francisco Xavier (Secretário) Conselho Editorial Maria das Graças Soares Rodrigues (Presidente) Judithe da Costa Leite Albuquerque (Secretária) Adriana Rosa Carvalho Alexandro Teixeira Gomes Elaine Cristina Gavioli Euzébia Maria de Pontes Targino Muniz Everton Rodrigues Barbosa Fabrício Germano Alves Francisco Wildson Confessor Gleydson Pinheiro Albano Gustavo Zampier dos Santos Lima John Fontenele Araújo Josenildo Soares Bezerra Ligia Rejane Siqueira Garcia Lucélio Dantas de Aquino Marcelo de Sousa da Silva Márcia Maria de Cruz Castro Márcio Dias Pereira Martin Pablo Cammarota Nereida Soares Martins Roberval Edson Pinheiro de Lima Samuel Anderson de Oliveira Lima Tatyana Mabel Nobre Barbosa Secretária de Educação a Distância Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo Secretária Adjunta de Educação a Distância Ione Rodrigues Diniz Morais Coordenadora de Produção de Materiais Didáticos Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo Coordenação Editorial Mauricio Oliveira Jr. Gestão do Fluxo de Revisão Edineide Marques Gestão do Fluxo de Editoração Mauricio Oliveira Jr. Conselho Técnico-Científico – SEDIS Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo – SEDIS (Presidente) Aline de Pinho Dias – SEDIS André Morais Gurgel – CCSA Antônio de Pádua dos Santos – CS Célia Maria de Araújo – SEDIS Eugênia Maria Dantas – CCHLA Ione Rodrigues Diniz Morais – SEDIS Isabel Dillmann Nunes – IMD Ivan Max Freire de Lacerda – EAJ Jefferson Fernandes Alves – SEDIS José Querginaldo Bezerra – CCET Lilian Giotto Zaros – CB Marcos Aurélio Felipe – SEDIS Maria Cristina Leandro de Paiva – CE Maria da Penha Casado Alves – SEDIS Nedja Suely Fernandes – CCET Ricardo Alexsandro de Medeiros Valentim – SEDIS Sulemi Fabiano Campos – CCHLA Wicliffe de Andrade Costa – CCHLA Revisão Linguístico-textual Fabíola Gonçalves Revisão de ABNT Edineide Marques Revisão Tipográfica Maria das Graças Soares Rodrigues Diagramação Maria Clara Galvão Diagramação Victor Hugo Rocha Silva Maria das Graças Soares Rodrigues Sueli Cristina Marquesi Organizadoras O que é e o que faz a Análise Textual dos Discursos Coleção O que é e o que se faz? Volume 2 Prefácio Ana Lúcia Tinoco Cabral Rivaldo Capistrano Júnior Maria Das Graças Soares Rodrigues Tradução Maria das Graças Soares Rodrigues Maria Eduarda Giering Ana Lúcia Tinoco Cabral Rosalice Pinto Natal, 2023 Todos os direitos desta edição reservados à EDUFRN – Editora da UFRN Av. Senador Salgado Filho, 3000 | Campus Universitário Lagoa Nova | 59.078-970 | Natal/RN | Brasil e-mail: contato@editora.ufrn.br | www.editora.ufrn.br Telefone: 84 3342 2221 Rodrigues, Maria das Graças Soares. O que é e o que faz a Análise Textual dos Discursos [recurso eletrônico] / organizado por Maria das Graças Soares Rodrigues e Sueli Cristina Marquesi. – 1. ed. – Natal: EDUFRN, 2023. (O que é e o que faz..., v. 2). 1800 KB; 1 PDF. ISBN 978-65-5569-372-0 1. Análise do Discurso. 2. Discurso. 3. Sujeito. 4. Enunciação. 5. Interação. I. Marquesi, Sueli Cristina. II. Título. CDU 81 R969q Catalogação da publicação na fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte Secretaria de Educação a Distância Elaborada por Edineide da Silva Marques CRB-15/488. Publicação digital financiada com recursos do Fundo de Pós-graduação (PPg-UFRN). A seleção da obra foi realizada pela Comissão de Pós-graduação, com decisão homologada pelo Conselho Editorial da EDUFRN, conforme Edital nº 01/2023-PPG/EDUFRN/ SEDIS, para a linha editorial Técnico-científica. Fundada em 1962, a Editora da UFRN continua até hoje dedicada à sua principal missão: produzir impacto social, cultural e científico por meio de livros. Assim, busca contribuir, permanentemente, para uma sociedade mais digna, igualitária e inclusiva. Prefácio O Grupo de Trabalho Linguística de Texto e Análise da Conversação (GT LTAC), da Associação Nacional de Pós- Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística (Anpoll), foi criado em 1985 e conta com um grande número de pesqui- sadores, pertencente aos mais diversos Programas de Pós- Graduação e atuantes em grupos de pesquisa consolidados, que, sob perspectivas teórico-metodológicas variadas, elege como objeto empírico o texto, em diferentes modalidades e em diferentes contextos de interação. O grupo, marcado pela pelo caráter interdisciplinar desde a sua criação, tem como grandes temas i) processos discursivo-interacionais de negociação de sentido(s) e ii) estratégias de textualização em contextos de interação diversos. Em 2021, por iniciativa dos coordenadores Ana Lúcia Tinoco Cabral e Rivaldo Capistrano Júnior, procedeu-se ao mapeamento dos temas, das interfaces e das áreas de pesquisa de interesse dos membros do GT. O resultado, além de reiterar o interesse pelos grandes temas, apontou cinco áreas de atuação, a saber: Linguística Textual, Análise Textual dos Discursos, Análise da Conversação, Semiolinguística e Pragmática. Com base nesse mapeamento e com o apoio dos mem- bros do GT LTAC, da Pró-Reitoria de Pós-Graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPG/UFRN) e da Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (EDUFRN), deu-se o início do projeto de publicação eletrônica da coleção O que é e o que faz..., uma coletânea de entrevistas, coordenada pelos professores Ana Lúcia Tinoco Cabral, Rivaldo Capistrano Júnior e Maria das Graças Soares Rodrigues e organizada em cinco volumes, a saber: Volume 1: O que é e o que faz a Linguística Textual, organizado por Rivaldo Capistrano Júnior (Ufes) e Vanda Maria da Silva Elias (Unifesp); Volume 2: O que é e o que faz a Análise Textual dos Discursos, organizado por Maria das Graças Soares Rodrigues (UFRN) e Sueli Cristina Marquesi (PUC-SP); Volume 3: O que é e o que faz a Pragmática, organizado por Rodrigo Albuquerque (UnB), Ana Lúcia Tinoco Cabral (PUC-SP) e Maria da Penha Pereira Lins (UFES); Volume 4: O que é e o que faz a Análise da Conversação, organizado por Gil Roberto Costa Negreiros (UFSM) e Ana Rosa Ferreira Dias (PUC-SP; USP); Volume 5: O que é e o que faz a Semiolinguística, organizado por Aparecida Lino Pauliukonis (UFRJ), Lúcia Helena Martins Gouvêa (UFRJ) e Rosane Santos Monnerat (UFF). Os diferentes volumes têm, além de perguntas específicas, perguntas em comum, que objetivam manter o fio condutor da proposta da coleção. Em resposta às perguntas de entrevista, cada entrevistado tem a oportunidade de discorrer sobre o quadro e os avanços teórico-metodológicos de sua área, de apontar (novas) questões de investigação e de indicar apli- cações de suas pesquisas para o ensino, em seus diferentes níveis e em diversas modalidades. Desse modo, a coletânea tem como objetivos i) fomentar atividades vinculadas à implementação, à divulgação da produção científica e à formação e/ou consolidação de redes de pesquisa de membros do GT LTAC e de outros GTs da ANPOLL; ii) apresentar e promover temas fundamentais dos estudos sobre o texto; aumentar a visibilidade da produção do GT LTAC junto à comunidade científica nacional e interna- cional; iii) fomentar a discussão sobre diferentes perspectivas de análise e de investigação do texto; iv) promover a interface entre essas diferentes perspectivas; v) contribuir para a for- mação inicial e continuada de professores e de pesquisadores. Desejamos aos leitores que a pluralidade de perspectivas teórico-metodológicas presentes nos cinco volumes da coleção promova o intercâmbio entre pesquisadores e fomente novas pesquisas em Linguística de Texto e Análise da Conversação. Apresentação Este volume integra a coleção O que é e o que faz..., que se constitui de cinco coletâneas, as quais reúnem entrevistas com célebres professorese pesquisadores brasileiros e estrangeiros, dedicados aos estudos orientados pela Análise Textual dos Discursos (ATD) fundada por Jean-Michel Adam. Os pesquisadores brasileiros são professores universitários e membros do GT Linguística de Texto e Análise da Conversação da Associação Nacional de Pós-graduação em Letras e Linguística (ANPOLL), enquanto os entrevistados estrangeiros são professores e pesquisadores universitários de instituições dos seguintes países: França, Romênia e Suíça. Foram entrevistados nove professores e pesquisadores, os quais responderam as mesmas perguntas. As entrevistas são textos acadêmico-científicos, e, assim, certamente, con- tribuirão não só com os alunos da graduação mas também com mestrandos, doutorandos e demais pesquisadores que se interessam por questões linguísticas à luz das diferen- tes modalidades de manifestação da língua: falada, escrita, multimodal e digital. Além disso, a coleção também trará contributos para os professores de Língua Portuguesa do Ensino Básico. A ordem de colocação da entrevista neste volume seguiu dois critérios: (1) a primeira entrevista é com Jean-Michel Adam, fundador da Análise Textual dos Discursos (ATD), e (2) seguiu-se a ordem alfabética do primeiro nome dos oito entrevistados, que se encontram após Jean-Michel Adam. A primeira pergunta dirigida aos entrevistados é indutora de uma contextualização histórica acerca do envolvimento do pesquisador com a abordagem teórica focalizada neste volume. Nessa direção, o leitor terá acesso ao percurso dos convidados a partir do primeiro contato com a Análise Textual dos Discursos. Ressalta-se que o primeiro entrevistado deste volume, Jean- Michel Adam, professor emérito da Universidade Lausanne, socializa que seu ponto de partida nos anos 1970 se deveu à “tomada de consciência de um déficit de textualidade da análise de discurso (AD)”. Isso levou o autor a considerar, evidentemente, a anterioridade dos trabalhos dedicados à textualidade por outros grandes autores, de variados olhares teóricos, em diferentes países. Essa postura revela ética, res- peito, conhecimento, valorização do que já estava disponível em circulação acerca do tema. Para o autor, “o conceito de texto deve integrar os diferentes grandes regimes mediológi- cos: orais, escriturais, icônicos e digitais”. O autor é membro do Grupo de Pesquisa em Análise Textual dos Discursos (ATD) registrado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Diretório (CNPq), assim como do Center of Comparative Studies of Literatures in European Languages (CLE), da Universidade de Lausanne. O segundo entrevistado é Alexandro Teixeira Gomes, pro- fessor e pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. O autor relata que seu primeiro contato com a Análise Textual dos Discursos (ATD) foi com a obra A lin- guística textual: introdução à análise textual dos discursos, de Jean-Michel Adam. O ponto de vista do autor acerca dessa obra segue transcrito ipsis litteris: “Encantei-me completamente pela obra em função da riqueza de detalhes, da consistência teórica, da proposta analítica e do refinamento do texto. Senti como um divisor de águas na minha formação [...]”. Destaca-se que o entrevistado adotou essa abordagem teórica em suas várias publicações. É pesquisador do Grupo de Pesquisa em Análise Textual dos Discursos. Lidera o Grupo de Pesquisa Laboratório de Estudos Linguísticos da UFRN. O terceiro entrevistado é o professor e pesquisador da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), Ananias Agostinho da Silva. O autor ressalta que seu “encontro com a Análise Textual dos Discursos (ATD) ocorreu durante o curso de doutorado, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no início de 2012, sobretudo pelo ingresso no Grupo de Pesquisa em Análise Textual dos Discursos [...]”. O entrevistado publicou inúmeros trabalhos, ancorando-se teoricamente na ATD, contribuindo, pois, para a difusão dessa abordagem teórica e o desenvolvimento de análises que se interessem pelo texto e pelo discurso. É pesquisador do Grupo de Pesquisa em Análise Textual dos Discursos, do Grupo de Pesquisa Protexto, Grupo de Pesquisa Texto, Escrita e Leitura e lidera o Grupo de Pesquisa em Estudos Linguísticos do Texto. A quarta entrevistada é a professora e pesquisadora da Universidade Stefan cel Mare, na Romênia, Corina Iftimia. A professora explica que seu envolvimento com a Análise Textual dos Discursos teve início com a tradução para o romeno da obra Linguística Textual: introdução à análise textual dos discursos, de Jean-Michel Adam. Expressa seu ponto de vista concernente à contemporaneidade da ATD, comentando que “quanto aos desafios, creio que a ATD tem tudo para se dedicar ao campo das produções textuais digitais”. Sublinha-se que a entrevistada desenvolve pesquisa nos campos da tradução, do discurso político, entre outros. A quinta entrevistada é a professora e pesquisadora da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Maria Eliete de Queiroz. A entrevistada relata que seu primeiro contato com a Análise Textual dos Discursos foi em um evento realizado na Universidade Federal do Ceará, por ocasião do lançamento da tradução do livro Linguística Textual: introdução à análise textual dos discursos, de Jean-Michel Adam, em 2008. A autora destaca como um ponto de diferença entre a ATD e outras teorias “o tratamento discursivo que é dado a suas categorias de análise”. Ademais, aponta como “grande desafio para os estudiosos do texto e do discurso [...] as discussões sobre o texto digital, o texto digital nativo e seus regimes de textualidade”. A professora desenvolve seus trabalhos com ancoragem teórica na ATD. É pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Análise Textual dos Discursos e do Grupo de Pesquisa em Produção e Ensino de Texto, respectivamente, da UFRN e da Uern. O sexto entrevistado é o professor e pesquisador da Universidade de Lorraine, Guy Achard-Bayle. Esse autor des- taca que foi a partir das diferentes obras de Jean-Michel Adam que ele se envolveu com a Análise Textual dos Discursos. Relata que seguiu e estudou “as reedições de sua obra Introdução à Análise Textual dos Discursos [...] a evolução de seu percurso na linguística textual até a ATD”. Considera que a “linguística textual de corpus e comparativa permitiu avanços significativos em matéria de ATD”. O autor é renomado por seus trabalhos sobre língua, texto, discurso. Integra o Grupo de Pesquisa Praxiteste, da Universidade de Lorraine. O sétimo entrevistado é o professor titular e pesquisador, Luis Passeggi, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Integra a equipe da UFRN de tradutores das seguintes obras de Jean-Michel Adam, publicadas individualmente ou em coautoria: Jean-Michel Adam (2008/2011) - A lin- guística textual: introdução à análise textual dos discursos; Jean-Michel Adam; Ute Heidmann (2011) - O texto literário, por uma abordagem interdisciplinar; Jean-Michel Adam; Ute Heidmann; Dominique Maingueneau (2010) - Análises textuais e discursivas. Metodologia e aplicações; Jean-Michel Adam (2022) - A noção de texto. Seu envolvimento com a Análise Textual dos Discursos começou com a obra de Jean- Michel Adam; Jean-Pierre Goldenstein (1975) - Linguistique et discours littéraire: théorie et pratique des textes (Larousse). É vice-líder do Grupo de Pesquisa em Análise Textual dos Discursos, da UFRN. A oitava entrevistada é a professora emérita e pesquisadora da Universidade de Toulon, Michèle Monte. Seu envolvimento com a Análise Textual dos Discursos está ligado aos traba- lhos de Jean-Michel Adam, assim como de outros autores e os próprios trabalhos que a autora desenvolve com textos poéticos. A autora propõe “uma análise enunciativa que se aplica tanto ao poema como à narrativa ou à argumentação”. Ela distingue “o enunciador textual responsável pelo textodo autor social e do locutor (identificado pelas marcas dêiticas)”. Ademais, a pesquisadora propõe “a análise de qualquer texto como a conjunção de três dimensões: semântica, estética e enunciativa”. A autora integra o Laboratoire Babel, em que se desenvolvem pesquisas sobre linguagens, literaturas, civilizações e sociedades. A nona entrevistada é a professora e pesquisadora Rodica- Marioara Nagy, da Universidade Stefan cel Mare. Recebeu influência de vários autores orientais, assim como ocidentais que focalizam o texto e o discurso em seus estudos. Nessa direção, relata que “as pesquisas científicas da segunda metade do século XX, distinguem-se particularmente das que tratam dos problemas de linguagem e de comunicação [...] das que têm como objeto as estruturas que ultrapassam o nível da frase”. Explica, ainda, a “análise textual do discurso tem por objeto as produções transfrásticas com certa significação social”. Espera-se que este conjunto de entrevistas contribua com os interlocutores interessados pela Análise Textual dos Discursos. Ressalta-se que essa abordagem teórica é inter- disciplinar, transdisciplinar e multidisciplinar, oferecendo, assim, contributos para várias áreas do conhecimento. Junho de 2023. Maria das Graças Soares Rodrigues (UFRN) Sueli Cristina Marquesi (PUC-SP) Organizadoras Sumário Jean-Michel Adam ..............................................................................18 Alexandro Teixeira Gomes ...............................................................56 Ananias Agostinho da Silva ..............................................................68 Corina Iftimia ......................................................................................98 Maria Eliete de Queiroz ...................................................................110 Guy Achard-Bayle .............................................................................116 Luis Passeggi .......................................................................................147 Michèle Monte ...................................................................................157 Rodica-Mărioara Nagy .....................................................................172 18 JEAN-MICHEL ADAM Universidade de Lausanne - Suíça Tradução – Maria das Graças Soares Rodrigues Questões gerais 1) Como você chegou à Análise Textual dos Discursos (ATD)? Quais autores lhe serviram de inspiração? A tomada de consciência de um déficit de textualidade da análise de discurso (AD) é o ponto de partida de minhas pesquisas, no início dos anos 1970. Essa constatação me levou a focalizar as teses, introduzidas na França por Denis Slakta e Bernard Combettes, do Segundo Círculo de Praga (Mathesius, Firbas, Danes) sobre a dinâmica tema-rema da frase, as progressões temáticas e os encadeamentos interfrás- ticos. Interessei-me muito cedo pelas “gramáticas de texto” anglo-saxônicas e, em particular pelos trabalhos de Teun A. JEAN-MICHEL ADAM 19 van Dijk, Harald Weinrich, Michael A. K. Halliday e Ruqaiya Hasan, Robert E. Longacre e Eugenio Coseriu. A linguística da enunciação de Émile Benveniste e seu programa de “translinguística dos textos e das obras”, for- mulado na “Semiologia da língua” (1969), serviram-me de referência para articular as pesquisas da textualidade e a questão da discursividade. Benveniste apresenta a semântica do discurso como uma superação intralinguística da semió- tica saussuriana e a superação “translinguística” como uma “metassemântica” construída ancorada na “semântica da enunciação”. A linguística da enunciação assegura a conti- nuidade do dispositivo entre a subjetivação enunciativa da língua e a produção de um texto. A finalidade da “Semiologia da língua” é inseparável das pesquisas que Benveniste fazia sobre “A língua de Baudelaire”1. Benveniste teorizou progra- maticamente a abertura do campo da linguística no discurso (abertura fundada na enunciação) e em uma linguística dos textos que não excluía as obras da arte verbal. Os trabalhos dinamarqueses de Lita Lundquist sobre a linguística textual (LT) me permitiram avançar epistemologi- camente, no diálogo permanente com meus amigos Bernard Combettes e Michel Charolles, bem como com Jean-Paul 1 LAPLANTINE, Chloé (ed.). Emile Benveniste: Baudelaire. Limoges: Lambert-Lucas, 2011. JEAN-MICHEL ADAM 20 Bronckart e sua teoria do interacionismo sociodiscursivo. Essas trocas me levaram a desenvolver uma concepção da LT enunciada pela primeira vez em Éléments de linguistique textuelle (1990) e, em 1992, na primeira exposição do conjunto de minha teoria das sequências textuais: Les Textes: types et prototypes. Minha pesquisa da unidades textuais transfrásticas identificáveis se desenvolveu a partir dos anos 1960 sobre a narrativa: trabalhos de Roland Barthes, Tzvetan Todorov, Gérard Genette, Algirdas J. Greimas, Paul Larivaille e Gérard Genot, na França, de William Labov e Joshua Waletzky nos Estados Unidos, de Umberto Eco na Itália, mas também os de psicologia cognitiva e de psicolinguística textual desen- volvidos, em particular, nos laboratórios de Dijon (Michel Fayol) e de Poitiers, com os quais tive a chance de dialogar muito ativamente nos anos 1980. Quase ao mesmo tempo, interessei-me pela descrição (devo muito aos trabalhos de poética de Philippe Hamon e à sua consideração da tradição retórica). Em seguida, trabalhei sobre a argumentação, em contato com os pesquisadores da Escola de Bruxelas, suces- sores de Chaïm Perelman (Marc Dominicy, Emmanuelle Danblon e Michel Meyer), e sobretudo com os pesquisadores do Centro de pesquisas semiológicas de Neuchâtel. Em diálogo com Jean-Blaise Grize e Marie-Jeanne Borel, que era minha JEAN-MICHEL ADAM 21 colega na Universidade de Lausanne, teorizei a questão da explicação e da sequência explicativa, depois a do diálogo e da sequência dialogal, estimulado pelas pesquisas realizadas em Genebra por Eddy Roulet e, em Lyon, por Catherine Kerbrat-Orecchioni. Ao lado desses trabalhos de LT, minha abordagem da ques- tão dos gêneros discursivos se desenvolveu em diálogo com os trabalhos de Dominique Maingueneau e sob a influência dos Genres du discours, de Tzvetan Todorov2 (Seuil, 1978). Isso me permitiu superar a problemática dos “tipos de textos” considerando que as regulações de alto nível são antes de tudo discursivas e genéricas. Os trabalhos de William Labov sobre piadas ou insultos rituais (LABOV, 1972), esse gênero próprio de um grupo sociolinguístico (o inglês vernacular dos jovens dos guetos americanos) se tornou para mim um modelo de análise de fatos linguísticos estreitamente relacionados e determinados pelos gêneros de discurso. Pude, assim, verificar microlinguisticamente a justeza das proposições teóricas de Mikhaïl M. Bakhtine e de Valentin N. Vološinov sobre a aprendizagem conjunta da língua e dos gêneros de discurso (ver meu artigo traduzido para o português: O contínuo da linguagem: língua e discurso, gramática e estilística. In. Estudios linguísticos/Linguistic studies, n. 9, 2014, p. 15-25). 2 N.T. Traduções brasileiras. JEAN-MICHEL ADAM 22 2) Quais de suas produções em revistas e/ou em livros impressos ou eletrônicos você destacaria? Sou muito apegado ao meu primeiro livro sobre LT (Éléments de linguistique textuelle. Bruxelles: Mardaga, 1990.) e ao meu último, sobre a questão do parágrafo (Le Paragraphe: entre phrases et texte. Paris: Armand Colin, 2018.), bem como ao meu texto na Encyclopédie grammaticale du français sobre A noção de texto (2019), que acabou de ser traduzido por Maria das Graças Soares Rodrigues, João Gomes da Silva Neto e Luis Passeggi (A noção de texto. Natal: EDUFRN, 2022). Dos meus trabalhos, os mais lidos, citados, inclusive, traduzidos no Brasil, são A linguística textual: introdução à análise textual dos discursos, tradução Maria das Graças Soares Rodrigues, João Gomes da Silva Neto, Luis Passeggi e Eulália Vera Lúcia FragaLeurquin. São Paulo, Cortez, 2008/2011, e Textos: tipos e protótipos, tradução Mônica Magalhães Cavalcante et al. São Paulo: Editora Contexto, 2019. 3) Considerando a ATD como um campo de estudos situ- ado na Linguística textual, discursiva e enunciativa, quais procedimentos teórico-analíticos você destacaria? Participei da introdução na França da LT, porque a AD apresentava um déficit na definição do conceito de texto. A JEAN-MICHEL ADAM 23 prioridade, portanto, por um tempo, foi dar um lugar à LT ao lado da AD. Hoje se admite que os analistas de discurso devem se apoiar nos aportes da LT, quando estudam textos reunidos em um corpus. Assumo, de minha parte, o papel auxiliar do trabalho sobre as unidades dos diferentes níveis e etapas da análise e de desenvolvimento de uma LT a serviço da análise da diversidade das práticas discursivas. Com as edições sucessivas de La Linguistique textuelle. Introduction à l’analyse textuelle des discours (1.ed., em 2005), desenvolvi progressivamente uma teoria global dos níveis de estruturação: no nível microtextual, distingo o plano frástico e os diferentes planos interfrásticos de estruturação (microligações e fatos de segmentação); no nível mesotextual, considero as sequências textuais e os parágrafos como unidades transfrásticas de estruturação: no nível macrotex- tual, interesso-me pelas organizações composicionais globais: planos de textos e fenômenos peritextuais, agrupamentos de textos em uma unidade superior como as hiperestrutu- ras jornalísticas e que a gente encontra nos manuais e nas enciclopédias, composições textuais semioticamente mistas (textos icônicos publicitários e literários). A ATD torna-se discursiva a partir do momento em que o texto estudado é colocado em relação com outros tex- tos, no seio de um corpus constituído para a análise. Fiquei JEAN-MICHEL ADAM 24 interessado, há alguns anos, pelo fato de que não conheço texto literário ou político que apresente um só estado tex- tual. Estamos sempre lidando com vários estados textuais, manuscritos principalmente, editoriais, mas também com diferentes traduções para os textos literários, com estados frequentemente orais e escritos para os discursos políticos. A comparação desses estados textuais é muito interessante e se trata mesmo de uma introdução filológica, frequente- mente negligenciada e que tem como consequência o fato de considerar o texto como um objeto natural, uma evidência, quando ele é o resultado de uma construção, que é necessário descrever as etapas e as razões. É isso que proponho nas páginas de Linguística textual (Capítulo 7) nas quais coloco em relação o Apelo de 18 de junho de 1940 e a alocução de capitulação do Marechal Pétain de 17 de junho; faço também no estudo do cartaz da França Livre e de sua tradução inglesa em Problèmes du texte. Leçons d’Aarhus3 (2013). Para dar apenas mais um exemplo, estudei o célebre discurso proferido pelo general de Gaulle, na sacada da Prefeitura de Montreal, em 24 de julho de 1967, procedendo à comparação dos estados 3 ADAM, Jean-Michel. Problèmes du texte. Leçons d’Aarhus. Pré-Publications, n. 200, Aarhus Universitet, Fransk Institut for Æstetik og Kommunikation, 2013. Disponível em: https://docplayer.fr/8410133-Problemes-du-texte-la- -linguistique-textuelle-et-la-traduction.html. Acesso em: 8 jun. 2023. https://docplayer.fr/8410133-Problemes-du-texte-la-linguistique-textuelle-et-la-traduction.html https://docplayer.fr/8410133-Problemes-du-texte-la-linguistique-textuelle-et-la-traduction.html JEAN-MICHEL ADAM 25 textuais escritos e audiovisuais dessa célébre gafe diplomática do presidente francês4. 4) Quais são os objetivos específicos da ATD que a dife- renciam de outras teorias do texto? A análise textual dos discursos deve ser situada em rela- ção “a vários campos disciplinares: uns literários, outros mais linguísticos”. Competindo com a estilística literária, a análise textual literária foi desenvolvida na Bélgica (Cahiers d’analyse textuelle fundados em 1959 e muito ativos até os anos 1970). Em 1979, Michel Riffaterre se posiciona contrário em A Produção do texto, no qual ele considera que “o texto é único em seu gênero” e, querendo explicar, ele opõe a AT à estilística do desvio, à retórica e à poética, por considerá-las muito gerais. Roland Barthes também situou dois dos seus estudos no campo da análise textual: análise textual de um texto bíblico, em 1972, e análise textual de um conto de Edgar Poe, em 1973. Ele opôs, então, a análise textual à análise estrutural, em que ele empreendeu a desconstrução com o que se tornou a “semiologia negativa”. No campo linguístico, 4 ADAM, Jean-Michel. L’analyse textuelle des discours. L’exemple de “Vive le Québec libre !”. In : CORCUERA, J. Fidel; GALAN, Antonio Gaspar; DIJAN, Mónica; VICENTE, Javier; BERNAL, Chesús (dir.). Les discours politiques. Paris: L’Harmattan, 2016. p. 11-31. JEAN-MICHEL ADAM 26 Lafont e Gardès-Madray fizeram da Introduction à l’analyse textuelle (LAROUSSE, 1976) uma introdução à praxemática (desenvolvida pelos linguistas da Universidade Paul Valéry, de Montpellier). A linguista dinamarquesa Lita Lundquist, próxima da Textanalyse alemã (PLETT 1975; TITZMANN 1977), publicou em forma de livro, em 1983, o conteúdo de sua tese sobre A coerência textual: sintaxe, semântica, pragmática (1980) falando, ela também, de análise textual. Teun A. van Dijk definiu a dupla tarefa da análise textual como ao mesmo tempo teórica (definir as propriedades de todos os textos) e descritiva (estudar um só texto ou determinado corpus). É preciso acrescentar que o termo “análise textual” toma hoje um sentido novo e dominante: o da análise dos dados textuais ou análise textual utilizada pelos cientistas da computação. Quando falo, de minha parte, sobre a ATD, estou próximo de van Dijk, Lundquist e da Textlinguistik anglo-saxônico no que concerne às pesquisas de linguística textual (LT), mas coloco esse domínio em relação com a AD. Distingo a ATD da LT, que tem por objetivo propor uma teoria do conjunto das unidades e dos níveis de análise microtextual, mesotextual (parágrafos e sequências textuais) e macrotextual (problemas de composição e planos e textos, plurissemioticidade dos textos icônicos e questões de coletâneas de textos). Essa des- crição geral dos procedimentos de textualização, articulada JEAN-MICHEL ADAM 27 com a diversidade das práticas discursivas e dos gêneros de discurso, tem por objetivo viabilizar a análise linguística de textos precisos constituídos em corpus pelo pesquisador. Trata-se, pois, como um último recurso, de dar conta com a ATD do que importa prioritariamente: a produção co(n) textual de sentido. 5) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de con- ceitos e de procedimentos analíticos mas também saber as possibilidades de seu campo de investigação. Poderia ressaltar delimitações bem como interfaces de sua abor- dagem teórico-analítica? Vocês têm razão, a ATD deve ser situada em relação à lin- guística do discurso geral, em relação à análise conversacional e às interações sociodiscursivas, à sociolinguística, à psicologia cognitiva, às ciências da informação e da comunicação, à semiologia da imagem e a todas as pesquisas linguísticas que focalizam as unidades da discursividade (anáforas, correfe- rências conectores, tempos verbais etc.). 6) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar contribuições para o ensino? JEAN-MICHEL ADAM 28 Sei que meus trabalhos são muito usados no domínio da aprendizagem das línguas, mas sou incapaz de responder precisamente a sua questão. Meus trabalhos permitem ter consciência do fato de que a passagem da língua como sistema ao discurso é uma operação complexa que vem quase de duas linguísticas complementares (tese de Benveniste). Em meus trabalhos, o conceito de texto torna-se de primeira ordem da linguística, em conformidade com o princípio enunciado por Saussure, em1984, e comentado por Benveniste5 em um artigo em que ele reconstitui o ensinamento do linguista suíço na Escola dos Altos estudos: “Antes de tudo, não devemos nos afastar desse princípio que o valor de uma forma está completamente no texto de onde ele é extraída, quer dizer, no conjunto das circunstâncias morfológicas, fonéticas, ortográ- ficas, que a circundam e a esclarecem”6. Weinrich o disse com outras palavras na sua última edição de Tempus: “Os textos de uma língua não se encontram nem no fim, nem além da 5 BENVENISTE, Emile. Ferdinand de Saussure à l’École des Hautes Études. Annuaire 1964-1965, de l’École Pratique des Hautes Études, 4ème section, 1965. p. 20-34. 6 SAUSSURE, Ferdinand de. Sur le nominatif pluriel et le génitif singulier de la déclinaison consonnantique en lithuanien. Recueil des publications scientifiques de Ferdinand de Saussure, 1922 [1894]. p. 514. JEAN-MICHEL ADAM 29 gramática, mas no seu ponto de partida”7. O que ilustra seus trabalhos sobre os tempos verbais: “[...] as formas temporais nos chegam principalmente – e nos revisitam – através dos textos. É isso que elas exprimem com outros signos, e também com outros tempos, um complexo de determinações, uma rede de valores textuais”. Mais recentemente, Franck Neveu considera o texto como “um observatório da língua”8 e ele atribui a esse conceito uma tripla função definidora “de esta- belecimento, de atestação e de instituição dos acontecimentos linguísticos”. 7) A quais avanços da ATD na contemporaneidade daria destaque e como vê os desafios de seu futuro? Respondo essa questão mais adiante: questões 10 e 11. 7 « Die Texte einer Sprache stehen also nicht am Ende oder gar weit jenseits der Grammatik, sondern an ihrem Anfang » (Tempus, Stuttgart-Belin-Köln, Kohlhammer, 1994 [1964/1971]. p. 308; trad. Française, Le Temps. Paris: Seuil, 1973, p. 13). 8 NEVEU, Franck. Critique du concept d’homonymie textuelle. Langages, n. 163, 2006, p. 86. JEAN-MICHEL ADAM 30 8) Que leituras você indicaria para quem está iniciando seus estudos na ATD? Os livros que citei em resposta à questão 2 bem como o livro escrito com Ute Heidmann e Dominique Maingueneau: Análises textuais e discursivas, no qual colaboraram Maria das Graças Soares Rodrigues, João Gomes da Silva Neto, Luis Passeggi (São Paulo, Cortez editora, 2010). Devo acrescen- tar, todavia, os mais importantes e interessantes trabalhos brasileiros de Ingedore Koch e de Luiz Antônio Marcuschi: KOCH, Ingedor G. Villaça. Introdução à Lingüística Textual. São Paulo: Martins Fontes, 2004. KOCH, Ingedor G. Villaça; FÁVERO, Leonor. Lingüística Textual: Introdução. São Paulo: Cortez, 1983. MARCUSCHI, Luiz A. A Lingüística de texto: o que é e como se faz. Recife: EDUFPE, 1983. 31 JEAN-MICHEL ADAM Questões específicas 9) Levando em conta que a ATD tem suas origens na Linguística de Texto e na Enunciação, como você a carac- teriza hoje? Na minha opinião, a ATD tem dois objetivos principais: a teorização precisa de três níveis de textualização (micronível, mesonível e macronível) e da articulação da textualidade com a genericidade (os gêneros de discurso e o que se chama hoje as “tradições discursivas”). Para uma descrição dos três níveis de textualização, remeto ao número 27 de Letra Magna: “Micronível, mesonível e macronível da estrutura textual” (Letra Magna, ano 17, n. 27, 1. sem. 2021. Disponível em: http://www.letramagna.com/artigos.html). Para a articulação com a enunciação, disse acima (questão 1) que meu programa de trabalho se situava no desenvolvi- mento da “translinguística dos textos, das obras” de Émile Benveniste, e remeto, por isso à primeira parte do capítulo 1 de A linguística textual (páginas 39 e 40 e Esquema 2). A consideração da ancoragem enunciativa garante a inscrição da LT na AD e é, para mim, todo o sentido da ATD: descrever a singularidade de uma ancoragem contextual (enunciativa e discursiva) que transforma a língua (sistema “semiótico”) em discurso (“língua discursiva” do próprio Saussure). http://www.encyclogram.fr/notx/039/039_Notice.php JEAN-MICHEL ADAM 32 Remeto, por exemplo, ao ponto 2.4. do capítulo 3 de A linguística textual (páginas 156-161) em que mostro como os signos da língua do Século XVII, os adjetivos “bela” e “bonita”, adquirem um novo sentido na língua discursiva dos contos em prosa de Charles Perrault. A enunciação é essa operação de transformação dos lexemas da língua em vocábulos de dado texto. Igualmente, no ponto 6.2 desse mesmo capítulo (páginas 199-203), descrevo o posicionamento enunciativo de Charles de Gaulle em um cartaz da Segunda Guerra mundial (1940). A forma como uma cena de enunciação é construída a fim de tornar possível e de legitimar a fala, com o objetivo último de tornar possível um ato de discurso (aqui “O Apelo de 18 de junho de 1940”), é o objeto da análise textual e discursiva. Quanto aos gêneros de discurso, meu trabalho trata sobre os gêneros instrucionais e programadores9 ou sobre os gêneros de contos10, para tomar apenas esses dois exemplos, que tiveram claramente por objetivo articular ATD e AD acerca dessa questão, que só foi reconhecida como central na AD nos anos 1980. É por isso que trabalhei muito sobre 9 Ver as páginas 253 a 297 de Textos. Tipos e protótipos. Coordenadora da tradução, Mônica Magalhães Cavalcante. Tradução Mônica Magalhães Cavalcante et al., São Paulo: Contexto, 2019, p. 253-297. 10 Remeto, em particular, ao livro escrito com Ute Heidmann: O texto literário. Por uma abordagem interdisciplinar. Organizador da tradução, João Gomes da Silva Neto; coordenadora da tradução Maria das Graças Soares Rodrigues; tradução Maria das Graças Soares Rodrigues et al. São Paulo: Cortez, 2011. JEAN-MICHEL ADAM 33 os gêneros da mídia escrita e, antes de explorar os gêneros de contos, sobre dois grandes gêneros da retórica – o epidítico e o deliberativo –, aplicando-os no discurso publicitário e no discurso político. Em Genres de récits. Narrativité et généricité des textes (Louvain-la-Neuve, Academia, 2011), tomo o exemplo dos usos de uma das grandes formas de textualização, a narrativa, definida como um gênero textual atualizado em diferentes gêneros de discursos: no discurso literário com os casos da narrativa no teatro e na poesia, os usos da narrativa no discurso publicitário e nos diferentes gêneros da mídia escrita (fait divers, breve e anedota) e nos vários gêneros do discurso político (face a face, televisado, entrevista, discurso de campanha). O mesmo trabalho falta ser feito com os gêneros textuais da descrição, da argumentação, da explicação e do diálogo. 10) Considerando as novas textualidades do mundo digital, quais procedimentos analíticos da ATD você indica para os que se dedicam à pesquisa de textos digitais? Respondo a essa questão em uma conferência on-line: Por uma teoria modular do texto que integra os regimes semiomediológicos de textualidad. Ciclo de conferências: Cartografia dos gêneros discursivos, FELCS-UFRN You Tube, JEAN-MICHEL ADAM 34 Université Fédérale du Rio Grande do Norte, Brésil, 30 novem- bre 2021 https://www.youtube.com/watch?v=ol611X9ED-A. Na minha opinião, o conceito de texto deve integrar os diferentes grandes regimes mediológicos: orais, escriturais, icônicos e digitais. Esses quatro regimes semiomediológicos determinam as formas de textualidade, algumas vezes dife- rentes e entrecruzadas. Assim, a codificação digital possui uma propriedade particular: todo i-Phone ou i-Pad reúne os regimes mediológicos da escrita e da fala, da imagem fixa e móvel, da navegação na internet, da ecrileitura digital. As formas mistas são, portanto, de um grande interesse para a linguística do texto e do discurso. Reinvesti nesse sentido em meus trabalhos sobre a ico- notextualidade publicitária e jornalística (com a questão das hiperestruturas na mídia escrita) e sobre as variações escriturais e audiovisuais do domínio textual. A comple- xidadedos problemas do texto exige cruzar as fronteiras e, portanto, deve-se dar uma grande atenção aos trabalhos desenvolvidos em outras disciplinas. Isso implica muita modéstia e, parece-me, a necessidade de não se rejeitarem rapidamente os trabalhos desenvolvidos, no início, a partir de corpus prioritariamente escritos. Jack Goody, especialista na interface entre o oral e o escrito, sublinhou, já em 1987, que as propriedades da escritura não foram abolidas pelo https://www.youtube.com/watch?v=ol611X9ED-A JEAN-MICHEL ADAM 35 mundo digital. Não deixamos, dizia ele, o mundo da escrita, que se tornou simplesmente mais complicado. É isso que a ATD deve tentar descrever com muita precisão e modéstia: não é somente acumulando as análises e os estudos de textos digitais que poderemos avançar. 11) Considerando os avanços da era digital, qual seu conceito de texto hoje? Respondo longamente a essa questão complementar da precedente em A noção de texto (Natal, EDUFRN, 2022). Insisto somente aqui no fato de que ampliei minha definição do conceito de texto, incorporando o que era o objetivo de um dos maiores linguistas do texto: o linguista húngaro János Sándor Petöfi. Como disse em resposta à questão precedente, “a maior parte dos textos é de textos multimidiáticos [...] a linguística orientada para o texto deve pesquisar os mais vastos fundamentos interdisciplinares”11. 11 PETÖFI, János S. La textologie sémiotique et la méthodologie de la recherche linguistique. Cahiers de l’ILSL, n. 6, p. 213, 1995. 36 JEAN-MICHEL ADAM Universidade de Lausanne Versão em francês Questions générales 1) Comment êtes-vous arrivés à l’Analyse Textuelle des Discours (ATD) ? Quels auteurs vous ont-ils inspirés ? La prise de conscience d’un déficit de textualité de l’analyse de discours (AD) est le point de départ de mes recherches, au début des années 1970. Ce constat m’a amené à me tourner vers les thèses, introduites en France par Denis Slakta et Bernard Combettes, du Second Cercle de Prague (Mathesius, Firbas, Danes) sur la dynamique thème-rhème de la phrase, les progressions thématiques et les enchaînements inter- phrastiques. Je me suis intéressé très tôt aux « grammaires de texte » anglo-saxonnes et, en particulier aux travaux de JEAN-MICHEL ADAM 37 Teun A. van Dijk, Harald Weinrich, Michael A. K. Halliday & Ruqaiya Hasan, Robert E. Longacre et Eugenio Coseriu. La linguistique de l’énonciation d’Émile Benveniste et son programme de « translinguistique des textes et des œuvres », formulé dans « Sémiologie de la langue » (1969), m’ont servi de repère pour articuler les recherches sur la textualité et la question de la discursivité. Benveniste présente la sémantique du discours comme un dépassement intra-linguistique de la sémiotique saussurienne et le dépassement « translinguis- tique » comme une « métasémantique » construite sur la « sémantique de l’énonciation ». La linguistique de l’énon- ciation assure le continu du dispositif, entre subjectivation énonciative de la langue et production d’un texte. La fin de « Sémiologie de la langue » est inséparable des recherches que Benveniste menait sur « La langue de Baudelaire ». Benveniste a théorisé programmatiquement l’ouverture du champ de la linguistique au discours (ouverture fondée sur l’énonciation) et à une linguistique des textes qui n’excluait pas les œuvres d’art verbal. Les travaux danois de Lita Lundquist sur la linguistique textuelle (LT) m’ont permis d’avancer épistémologiquement, dans un dialogue permanent avec mes amis Bernard Combettes et Michel Charolles, ainsi qu’avec Jean-Paul Bronckart et sa théorie de l’interactionnisme socio-discursif. Ces échanges JEAN-MICHEL ADAM 38 m’ont poussé à développer une conception de la LT énoncée pour la première fois dans Éléments de linguistique textuelle (1990) et, en 1992, dans le premier exposé d’ensemble de ma théorie des séquences textuelles : Les Textes : types et prototypes. Ma recherche d’unités textuelles transphrastiques identi- fiables s’est développée à partir des travaux des années 1960 sur le récit : travaux de Roland Barthes, Tzvetan Todorov, Gérard Genette, Algirdas J. Greimas, Paul Larivaille et Gérard Genot, en France, de William Labov et Joshua Waletzky aux États-Unis, d’Umberto Eco en Italie, mais aussi ceux de psychologie cognitive et de psycholinguistique textuelle développés, en particulier, dans les laboratoires de Dijon (Michel Fayol) et de Poitiers, avec lesquels j’ai eu la chance de dialoguer très activement dans les années 1980. Je me suis, presque en même temps, intéressé à la description (je dois beaucoup aux travaux de poétique de Philippe Hamon et à sa prise en compte de la tradition rhétorique). J’ai ensuite travaillé sur l’argumentation, en contact avec les chercheurs de l’École de Bruxelles, successeurs de Chaïm Perelman (Marc Dominicy, Emmanuelle Danblon et Michel Meyer), et surtout avec les chercheurs du Centre de recherches sémiologiques de Neuchâtel. En dialogue avec Jean-Blaise Grize et Marie- Jeanne Borel, qui était ma collègue à l’université de Lausanne, JEAN-MICHEL ADAM 39 j’ai théorisé la question de l’explication et de la séquence explicative, puis celle du dialogue et de la séquence dialogale, stimulé par les recherches menées, à Genève autour d’Eddy Roulet et, à Lyon, autour de Catherine Kerbrat-Orecchioni. À côté de ces travaux de LT, mon approche de la question des genres discursifs s’est développée en dialogue avec les travaux de Dominique Maingueneau et sous l’influence des Genres du discours de Tzvetan Todorov (Seuil 1978). Cela m’a permis de dépasser la problématique des « types de textes » en considérant que les réglages de haut niveau sont avant tout discursifs et génériques. Les travaux de William Labov sur les vannes ou insultes rituelles (LABOV, 1972), ce genre propre à un groupe socio-linguistique (l’anglais vernaculaire des jeunes des ghettos américains) est devenu pour moi un modèle d’analyse de faits linguistiques en rapport étroit de détermination par les genres de discours. J’ai ainsi pu vérifier micro-linguistiquement la justesse des propositions théo- riques de Mikhaïl M. Bakhtine et Valentin N. Vološinov sur l’apprentissage conjoint de la langue et des genres de discours (voir mon article traduit en portugais : « O contínuo da lin- guagem : língua e discurso, gramática e estilística », Estudios linguísticos/Linguistic studies, 9, Lisboa, Edições Colibri & Revista do CNUL, 2014, p. 15-25). JEAN-MICHEL ADAM 40 2) Parmi vos publications dans des revues, des livres impri- més et des livres numériques, quelles sont celles que vous considérez les plus remarquables ? Je suis très attaché à mon premier livre sur la LT (Éléments de linguistique textuelle, Bruxelles, Mardaga, 1990) et à mon dernier, sur la question du paragraphe (Le Paragraphe : entre phrases et texte, Paris, Armand Colin, 2018), ainsi qu’à ma notice de l’Encyclopédie grammaticale du français sur La notion de Texte (2019), qui vient d’être traduit par Maria das Graças Soares Rodrigues, João Gomes da Silva Neto & Luis Passeggi (A noção de texto, Natal, EDUFRN, 2022). Mes travaux les plus lus, cités et d’ailleurs traduits au Brésil, sont A lingüística textual (São Paulo, Cortez editor; trad. Maria das Graças Soares Rodrigues, João Gomes da Silva Neto & Luis Passeggi, 2008 & 2011) et Textos. Tipos e protó- tipos (São Paulo, Editora Contexto, trad. Mônica Magalhães Cavalcante et al., 2019). JEAN-MICHEL ADAM 41 3) Si l’on considère l’ATD comme un champ d’études situé dans la Linguistique textuelle, discursive et énonciative, quelles démarches théoriques-analytiques pourrez-vous mettre en relief ? J’ai participé à l’introduction en France de la LT parce que l’AD présentait un déficit de définition du concept de texte. La priorité a donc été, un temps, de donner une place à la LT à côté de l’AD. Il est aujourd’hui admis que les analystes de discours doivents’appuyer sur les apports de la LT, quand ils étudient des textes réunis dans un corpus. J’assume, pour ma part, ce rôle auxiliaire de travail sur les unités des différents niveaux et paliers d’analyse et de développement d’une LT au service de l’analyse de la diversité des pratiques discursives. Avec les éditions successives de La Linguistique textuelle. Introduction à l’analyse textuelle des discours (1ère édition en 2005), j’ai progressivement développé une théorie globale des paliers de structuration : au palier micro-textuel, je dis- tingue le plan phrastique et différents plans interphrastiques de structuration (micro-liages et faits de segmentation) ; au palier méso-textuel, je considère les séquences textuelles et les paragraphes comme des unités transphrastiques de structuration ; au palier macro-textuel, je m’intéresse aux organisations compositionnelles globales : plans de textes et phénomènes péri-textuels, groupements de textes dans une JEAN-MICHEL ADAM 42 unité supérieure comme les hyperstructures journalistiques et celles que l’on trouve dans les manuels et les encyclopédies, compositions textuelles sémiotiquement mixtes (icono-textes publicitaires et littéraires). L’ATD ne devient discursive qu’à partir du moment où le texte étudié est mis en relation avec d’autres textes, au sein d’un corpus constitué pour l’analyse. Je me suis intéressé, depuis quelques années, au fait que je ne connais pas de texte littéraire ou politique qui présente un seul état textuel. On a toujours affaire à plusieurs états textuels, manuscrits d’abord, éditoriaux ensuite, mais aussi à différentes traductions pour les textes littéraires, à des états très souvent oraux et écrits pour les discours politiques. La comparaison de ces états textuels est très intéressante et il s’agit même d’un préalable philologique trop souvent négligé et qui a pour conséquence le fait de prendre le texte pour un objet naturel, une évidence, alors qu’il est le résultat d’une construction dont il faut décrire les étapes et les raisons. C’est ce que je mets en œuvre dans les pages de Linguistique textuelle (Chapitre 7) où je mets en relation l’Appel du 18 juin 1940 et l’allocution de capitulation du maréchal Pétain du 17 juin. Je le fais aussi dans l’étude de l’affiche de la France Libre et de sa traduction anglaise dans Problèmes du texte. Leçons d’Aarhus (2013). Pour ne prendre qu’un autre exemple, j’ai JEAN-MICHEL ADAM 43 étudié le célèbre discours prononcé par le général de Gaulle au balcon de l’Hôtel de ville de Montréal, le 24 juillet 1967, en procédant à la comparaison des états textuels écrits et audio-visuels de cette célèbre gaffe diplomatique du président français. 4) Quelles sont les objectifs spécifiques de l’ATD, qui la rendent différente d’autres théories du texte? L’analyse textuelle des discours doit être située par rapport à plusieurs champs disciplinaires : les uns littéraires, les autres plus linguistiques. En concurrence avec la stylistique littéraire, l’analyse textuelle littéraire a été développée en Belgique (Cahiers d’analyse textuelle fondés en 1959 et très actifs jusque dans les années 1970). Opposition sur laquelle revient Michael Riffaterre, en 1979, dans La Production du texte où il considère que « le texte est unique en son genre » et, voulant expliquer l’unique, il oppose l’AT à la stylistique de l’écart, à la rhé- torique et à la poétique, qu’il trouve trop générales. Roland Barthes a, lui aussi, situé deux de ses études dans le champ de l’analyse textuelle : analyse textuelle d’un texte biblique, en 1972, et analyse textuelle d’un conte d’Edgar Poe, en 1973. Il opposait alors l’analyse textuelle à l’analyse structurale dont il entreprenait la déconstruction avec ce qui allait devenir la « sémiologie négative ». Dans le champ linguistique, Lafont JEAN-MICHEL ADAM 44 et Gardès-Madray ont fait de leur Introduction à l’analyse textuelle (Larousse, 1976) une introduction à la praxématique (développée par les linguistes de l’université Paul Valéry de Montpellier). La linguiste danoise Lita Lundquist, proche de la Textanalyse allemande (Plett 1975 et Titzmann 1977), a manuélisé, en 1983, le contenu de sa thèse sur La cohérence textuelle : syntaxe, sémantique, pragmatique (1980) en parlant, elle aussi, d’analyse textuelle. Teun A. van Dijk définissait quant à lui la double tâche de l’analyse textuelle comme à la fois théorique (définir les propriétés de tous les textes) et descriptive (étudier un seul texte ou un corpus précis). Il faut ajouter que le terme « analyse textuelle » a pris aujourd’hui un sens nouveau et dominant : celui de l’analyse des données textuelles ou analyse textuelle outillée des informaticiens. Quand je parle, pour ma part, d’ATD, je suis proche de van Dijk, Lundquist et de la Textlinguistik anglo-saxonne pour ce qui concerne les recherches de linguistique textuelle (LT), mais je mets ce domaine en relation avec l’AD. Je distingue l’ATD de la LT, qui a pour but de fournir une théorie d’ensemble des unités et des paliers d’analyse micro-textuel, méso-tex- tuel (paragraphes et séquences textuelles) et macro-textuel (problèmes de composition et plans de textes, plurisémio- ticité des icono-textes et questions des recueils de textes). Cette description générale des procédures de textualisation, JEAN-MICHEL ADAM 45 articulée à la diversité des pratiques discursives et des genres de discours, a pour but de permettre l’analyse linguistique de textes précis constitués en corpus par le chercheur. Il s’agit bien, en dernier recours, avec l’ATD, de rendre compte de ce qui importe prioritairement : la production co(n)textuelle de sens. 5) Faire de la recherche ne signifie pas seulement avoir la connaissance des concepts et des procédures analytiques spécifiques, mais aussi connaître les possibilités de son champ de recherche. Dans cette perspective, quelles seraient, selon vous, les délimitations et aussi quelles seraient les interfaces de votre approche théorique-analytique ? Vous avez raison, l’ATD doit être située par rapport à la linguistique du discours en général, par rapport à l’analyse conversationnelle et des interactions socio-discursives, à la socio-linguistique, à la psychologie cognitive, aux sciences de l’information et de la communication, à la sémiologie de l’image et à toutes les recherches linguistiques portant sur les unités de la mise en discours (anaphores, co-référence, connecteurs, temps verbaux, etc.). JEAN-MICHEL ADAM 46 6) A partir des résultats de vos travaux, est-ce que vous pourriez indiquer des contributions pour l’apprentissage d’une langue ? Je sais que mes travaux sont beaucoup utilisés dans le domaine de l’apprentissage des langues, mais je suis inca- pable de répondre précisément à votre question. Mes travaux permettent de prendre conscience du fait que le passage de la langue comme système au discours est une opération complexe qui relève presque de deux linguistiques complémentaires (thèse de Benveniste). Dans mes travaux, le concept de texte devient un concept premier de la linguistique, conformément au principe énoncé par Saussure en 1894 et commenté par Benveniste dans un article où il retrace l’enseignement du linguiste suisse à l’École des Hautes Études : « Avant tout on doit ne pas se départir de ce principe que la valeur d’une forme est tout entière dans le texte où on la puise, c’est-à-dire dans l’ensemble des circonstances morphologiques, phonétiques, orthographiques, qui l’entourent et l’éclairent ». Weinrich le dit autrement dans la dernière édition de Tempus : « Les textes d’une langue ne se trouvent pas à la fin ni même au-delà de la grammaire, mais à son point de départ ». Ce qu’illustrent ses travaux sur les temps verbaux : « […] les formes temporelles viennent d’abord à nous – et nous reviennent – à travers des textes. C’est là qu’elles dessinent avec d’autres signes, et aussi JEAN-MICHELADAM 47 avec d’autres temps, un complexe de déterminations, un réseau de valeurs textuelles ». Plus récemment, Franck Neveu considère le texte comme « un observatoire de la langue » et il assigne à ce concept une triple fonction définitoire « d’établissement, d’attestation et d’institution des événements linguistiques ». 7) Quels sont les progrès de l’ATD qu’aujourd’hui vous aimeriez souligner et comment envisagez-vous les enjeux de son avenir ? Je réponds à cette question plus loin : questions 10 et 11. 8) Quelles lectures pourriez-vous suggérer pour quelqu’un qui vient de débuter dans le domaine de l’ATD ? Les livres que je citais en réponse à votre question 02, ainsi que le livre écrit avec Ute Heidmann & Dominique Maingueneau : Análises textuais e discursivas, auquel ont collaboré Maria das Graças Soares Rodrigues, João Gomes da Silva Neto, Luis Passeggi (São Paulo, Cortez editora, 2010). Je dois ajouter toutefois les très importants et intéressants travaux brésiliens d’Ingedore Koch et de Luiz A. Marcuschi : Koch, Ingedor G. Villaça. Introdução à Lingüística Textuale, São Paulo, Martins Fontes, 2004. JEAN-MICHEL ADAM 48 Koch, Ingedor G. Villaça; Fàvero, Leonor. Lingüística Textuale. Introdução, São Paulo, Cortez, 1983. Marcuschi, Luiz A. A Lingüística de texto: o que é e como se faze. Recife: UFPE, 1983. Questions spécifiques 9) Compte tenu du fait que l’ATD a ses origines dans la Linguistique textuelle et dans l’Énonciation, comment la caractériseriez-vous aujourd’hui ? Selon moi, l’ATD a deux objectifs principaux : la théorisa- tion précise des trois niveaux de textualisation (microtextuel, mésotextuel et macrotextuel) et de l’articulation de la textualité avec la généricité (les genres de discours et ce que l’on appelle aujourd’hui les « traditions discursives »). Pour une description des trois niveaux de textualisation, je renvoie au numéro 27 de Letra Magna : « Micronível, mesonível e macronível da estrutura textual » (Letra Magna, Ano 17-n°27. 1er semestre 2021. http://www.letramagna.com/artigos.html). Pour l’articulation à l’énonciation, j’ai déjà dit plus haut (question 01) que mon programme de travail se situait dans le développement de la « translinguistique des textes, des œuvres » d’Émile Benveniste, et je renvoie, pour cela à la http://www.encyclogram.fr/notx/039/039_Notice.php JEAN-MICHEL ADAM 49 première partie du chapitre 1 de A lingüística textual (pages 39 et 40 et Esquema 2). La prise en compte de l’ancrage énonciatif assure l’inscription de la LT dans l’AD et c’est, pour moi, tout le sens de l’ATD : décrire la singularité d’un ancrage contextuel (énonciatif et discursif) qui transforme la langue (système « sémiotique ») en discours (« langue discursive » de Saussure lui-même). Je renvoie, pour exemple, au point 2.4 du chapitre 3 de de A lingüística textual (pages 156-161) où je montre comment des signes de la langue du XVIIe siècle, les adjectifs « belle » et « jolie », prennent un sens nouveau dans la langue discursive des contes en prose de Charles Perrault. L’énonciation est cette opération de transformation des lexèmes de la langue en vocables d’un texte donné. De même au point 6.2 de ce même chapitre (pages 199-203), je décris le positionnement énonciatif de Charles de Gaulle dans l’affiche de la seconde guerre mondiale (1940). La façon dont une scène d’énonciation est construite afin de rendre possible et de légitimer la parole, dans le but ultime de rendre possible un acte de discours (ici « l’Appel du 18 juin 1940 »), est l’objet d’une analyse textuelle et discursive. Pour ce qui est des genres de discours, mes travaux sur les genres instructionnels et programmateurs ou sur les genres de contes, pour ne prendre que ces deux exemples, ont eu JEAN-MICHEL ADAM 50 clairement pour but d’articuler ATD et AD autour de cette question qui n’a été reconnue comme centrale dans l’AD que dans les années 1980. C’est pour cela que j’ai beaucoup travaillé sur les genres de la presse écrite et, avant d’explorer les genres de contes, sur deux grands genres de la rhéto- rique – l’épidictique et le délibératif –, en les appliquant au discours publicitaire et au discours politique. Dans Genres de récits. Narrativité et généricité des textes (Louvain-la-Neuve, Academia, 2011), je prends l’exemple des usages d’une des grandes formes de textualisation, le récit, défini comme un genre textuel actualisé dans différents genres de discours : dans le discours littéraire avec les cas du récit au théâtre et dans la poésie, les usages du récit dans le discours publicitaire et dans différents genres de la presse écrite (fait divers, brève et anecdote) et dans plusieurs genres du discours politique (face-à-face télévisé, entretien, discours de campagne). Le même travail reste à faire à propos des genres textuels de la description, de l’argumentation, de l’explication et du dialogue. 10) Compte tenu de la réalité des nouvelles textualités des textes numériques, quelles procédures analytiques de l’ATD pourriez-vous suggérer à ceux qui se dédient à la recherche dans le domaine des textes numériques ? Je réponds à cette question dans une conférence en ligne : JEAN-MICHEL ADAM 51 Por uma teoria modular do texto que integra os regimes semiomediológicos de textualidad. Ciclo de conferências : Cartografia dos gêneros discursivos, FELCS-UFRN You Tube, Université Fédérale du Rio Grande do Norte, Brésil, 30 novem- bre 2021 https://www.youtube.com/watch?v=ol611X9ED-A. Selon moi, le concept de texte doit intégrer les différents grands régimes médiologiques : oraux, scripturaux, iconiques et numériques. Ces quatre régimes sémio-médiologiques déterminent des formes de textualité à la fois différentes et entrecroisées. Ainsi, le codage numérique possède une pro- priété particulière : tout i-Phone ou i-Pad réunit les régimes médiologiques de l’écrit et de la parole, de l’image fixe et mobile, de la navigation internet, de l’écrilecture numérique. Les formes mixtes sont donc d’un très grand intérêt pour la linguistique du texte et du discours. Je réinvestis dans ce sens mes travaux sur l’icono-textualité publicitaire et journalistique (avec la question des hyperstuc- tures dans la presse écrite) et sur les variations scripturales et audio-visuelles d’un même discours politique. Comme le disent les spécialistes du domaine du textiel, la complexité des problèmes du texte exige un dépassement des frontières et donc une très grande attention aux travaux menés dans d’autres disciplines. Cela implique beaucoup de modestie et, me semble-t-il, la nécessité de ne pas trop rapidement rejeter https://www.youtube.com/watch?v=ol611X9ED-A JEAN-MICHEL ADAM 52 les travaux développés, au départ, sur des corpus prioritai- rement écrits. Jack Goody, spécialiste de l’interface entre l’oral et l’écrit, soulignait déjà, en 1987, que les propriétés de l’écriture n’ont pas été abolies par le monde numérique. Nous n’avons pas quitté, disait-il, le monde de l’écriture, qui est simplement devenu beaucoup plus compliqué. C’est ce que l’ATD doit tenter de décrire avec beaucoup de précision et de modestie : ce n’est qu’en accumulant les analyses et études de textes numériques que nous pourrons avancer. 11) Compte tenu du progrès de l’ère numérique, quel est votre concept de texte aujourd’hui ? Je réponds longuement à cette question complémentaire de la précédente dans A noção de texto (Natal, EDUFRN, 2022). J’insiste seulement ici sur le fait que j’ai élargi ma définition du concept de texte, en rejoignant ce qui était l’objectif d’un des plus grands linguistes du texte : le linguiste hongrois János Sándor Petöfi. Comme je le dis en réponse à la précédente question, « la plupart des textes sont des textes multimédiaux […] la linguistique orientée vers le texte a dû rechercher de plus vastes fondements interdisciplinaires ». JEAN-MICHEL ADAM 53 Références bibliographiques des travaux deJ.-M. Adam concernant l’ATD 2022. A noção de texto, trad. Maria das Graças Soares Rodrigues, João Gomes da Silva Neto e Luis Passeggi, Natal, EDUFRN. 2021. « Micronível, mesonível e macronível da estrutura textual », Letra Magna, Ano 17-n°27. 1er semestre 2021. http://www.letramagna. com/artigos.html 2020 [2005]. La Linguistique textuelle. Introduction à l’analyse textuelle des discours, 4ème édition, Paris, Armand Colin. Tradução : A lingüística textual, São Paulo, Cortez editor; trad. Maria das Graças Soares Rodrigues, João Gomes da Silva Neto & Luis Passeggi, 2008 & 2011. 2020. La notion de Paragraphe. Notice de l’Encyclopédie Grammaticale du Français http://www.encyclogram.fr/notx/039/039_Notice.php 2020. Le texte est-il soluble dans le textiel ? Corela, HS-33 | 2020, http://journals.openedition.org/corela/11938 2019. La notion de Texte. Notice de l’Encyclopédie Grammaticale du Français, http://www.encyclogram.fr/notx/026/026_Notice.php 2018. Le Paragraphe: entre phrases et texte, Paris, Armand Colin. 2017 [1992]. Les Textes: types et prototypes, 4ème édition, Paris, Armand Colin. Tradução : Textos. Tipos e protótipos, São Paulo, Editora Contexto, trad. Mônica Magalhães Cavalcante et al., 2019. http://www.encyclogram.fr/notx/039/039_Notice.php http://www.encyclogram.fr/notx/039/039_Notice.php http://www.encyclogram.fr/notx/039/039_Notice.php http://journals.openedition.org/corela/11938 http://www.encyclogram.fr/notx/026/026_Notice.php JEAN-MICHEL ADAM 54 2017. « O que é Linguística Textual ? », in Linguística textual. Interfaces e delimitações, Edson Rosa Francisco de Souza, Eduardo Penhavel & Marcos Rogério Cintra, dir., Sao Paulo, Cortez editora, p. 23-57. 2016. « Uma abordagem textual da argumentação : “esquema”, sequência e período », ReVEL, edição especial vol. 14, n°12, p. 297-319. Tradução Georgiana Miranda e Camile Maria Botelho Tanto. [http://www.revel.inf.br/files/72c08a41ab6fd277b1be53924f0b19e9. pdf]. 2014. « O contínuo da linguagem : língua e discurso, gramática e estilística », Estudios linguísticos/Linguistic studies, 9, Lisboa, Edições Colibri & Revista do CNUL, p. 15-25. 2009. Le texte littéraire. Pour une approche interdisciplinaire, Jean- Michel Adam & Ute Heidmann, Louvain-la-Neuve, Academia- Bruylant. Tradução : O texto literário. Por uma abordagem interdisciplinar, São Paulo, Cortes, trad. Maria das Graças Soares Rodrigues et al., 2011. 2010. Análises textuais e discursivas, Jean-Michel Adam, Ute Heidmann, Dominique Maingueneau, Maria das Graças Soares Rodrigues, João Gomes da Silva Neto, Luis Passeggi, São Paulo, Cortez editora. 1999. Linguistique textuelle. Des genres de discours aux textes, Paris, Nathan. 1996. L’analyse des récits, Jean-Michel Adam & Françoise Revaz, Paris, Seuil, coll. Mémo n°22. Tradução : A análise da Narrativa, Lisboa, Gradiva, trad. Maria Adelaide Coelho da Silva e Maria de Fátima Aguiar, 1997. http://www.revel.inf.br/files/72c08a41ab6fd277b1be53924f0b19e9.pdf http://www.revel.inf.br/files/72c08a41ab6fd277b1be53924f0b19e9.pdf JEAN-MICHEL ADAM 55 1990. Éléments de linguistique textuelle, Bruxelles, Mardaga. Deux conférences en ligne : Por uma teoria modular do texto que integra os regimes semiome- diológicos de textualidad. Ciclo de conferências : Cartografia dos gêneros discursivos, FELCS-UFRN You Tube, Université Fédérale du Rio Grande do Norte, Brésil, 30 novembre 2021 https://www.youtube.com/watch?v=ol611X9ED-A Faire texte : os níveis de análise linguística. Do interfrástico ao transfrástico / Les paliers d’analyse linguistique. De l’interphras- tique au transphrastique. Conférence donnée en français dans le cadre de l’association brési- lienne des linguistes ABRALIN ao Vivo-Linguist Online, le 20 juillet 2020 https://www.youtube.com/watch?v=5Ae3GOox4Ss https://www.youtube.com/watch?v=ol611X9ED-A https://www.youtube.com/watch?v=5Ae3GOox4Ss 56 ALEXANDRO TEIXEIRA GOMES Universidade Federal do Rio Grande do Norte Perguntas Gerais 1) Como você chegou à Análise Textual dos Discursos (ATD)? Quais autores lhe serviram de inspiração? Meu primeiro contato com a Análise Textual dos Discursos, doravante ATD, se deu ao tomar conhecimento da tradução da obra A linguística textual: introdução à análise textual dos discursos, de Jean-Michel Adam, realizada por Maria das Graças Soares Rodrigues, João Gomes da Silva Neto, Luis Passeggi e Eulália Vera Lúcia Fraga Leurquin, em 2008. Encantei-me completamente pela obra em função da riqueza de detalhes, da consistência teórica, da proposta analítica e do refinamento do texto. Senti como um divisor de águas na minha formação, no sentido de que me deu ALEXANDRO TEIXEIRA GOMES 57 muitas respostas a perguntas que até o momento eu não conseguia responder com as demais teorias. Importante dizer que, após a leitura de Adam (2008), formulei um projeto de doutoramento sob a égide da ATD resultando na tese intitulada A responsabilidade enunciativa na sentença judicial condenatória, defendida em agosto de 2014. 2) Quais de suas produções em revistas e/ou em livros impressos ou eletrônicos você destacaria? Desde 2010, minhas pesquisas têm se ancorado no âmbito da ATD. Foram livros, capítulos de livros, artigos em perió- dicos publicados, dentre os quais destaco os seguintes: 1- Organização do dossiê especial do periódico Letra Magna intitulado “Interlocuções no âmbito da Análise Textual dos Discursos”, em parceira com a Profa. Dra. Maria das Graças Soares Rodrigues; 2- Organização do livro intitulado Análise Textual dos Discursos: perspectivas teóricas e metodológicas, em parceria com o Prof. Dr. Luiz Álvaro Sgadari Passeggi e com a Profa. Dra. Maria das Graças Soares Rodrigues; 3- Publicação do artigo intitulado “A responsabilidade enunciativa no texto jurídico: uma análise dos conectores ALEXANDRO TEIXEIRA GOMES 58 no gênero discursivo sentença judicial condenatória”, em parceria com o Prof. Dr. Lucélio Dantas de Aquino; 4- Publicação do capítulo de livro intitulado “A responsa- bilidade enunciativa na denúncia contra a presidente Dilma Rousseff: uma análise da seção conclusão do parecer emitido pelo relator do processo na câmara dos deputados”, em par- ceria com a Profa. Dra. Maria das Graças Soares Rodrigues; 5- Publicação do capítulo de livro intitulado “A categoria do mediativo: noções básicas”, em parceria com a Profa. Dra. Maria das Graças Soares Rodrigues. 3) Considerando a ATD como um campo de estudos situ- ado na Linguística textual, discursiva e enunciativa, quais procedimentos teórico-analíticos você destacaria? A ATD caracteriza-se por uma proposta teórica, metodoló- gica, descritiva e empírica pautada, sobretudo, por uma sólida consistência teórica e por uma rica proposta analítica. Nesse sentido, destacamos como procedimentos teórico-analíticos mais salientes, no âmbito da ATD, os seguintes: I. a criação de uma unidade textual elementar de análise; II. a proposição de que o estudo do texto e do discurso ocorra a partir de determinados níveis de análise, ALEXANDRO TEIXEIRA GOMES 59 funcionando como teorias parciais no âmbito da ATD; III. a orientação de que as análises sejam sempre pau- tadas em textos e/ou discursos empíricos; IV. a prescrição de que a relação entre texto e dis- curso ocorre de maneira sempre contextualizada e articulada; V. a compreensão de que os gêneros textuais/discur- sivos ocorrem como elemento de intersecção entre texto e discurso. 4) Quais são as preocupações específicas da ATD que a diferenciam de outras teorias do texto? Considero que os procedimentos teórico-analíticos propostos pela ATD são as preocupações específicas que a diferenciam de outras teorias do texto, com destaque para i) a proposição de uma unidade textual elementar de análise; ii) a orientação de que o estudo do texto e do discurso ocorra a partir de determinados níveis de análise; iii) a prescrição de que a relação entre texto e discurso ocorre de maneirasempre contextualizada e articulada, tendo os gêneros textuais/dis- cursivos como elemento de intersecção entre texto e discurso. ALEXANDRO TEIXEIRA GOMES 60 5) Pesquisar implica não só ter o conhecimento de con- ceitos e de procedimentos analíticos mas também saber as possibilidades de seu campo de investigação. Poderia ressaltar delimitações bem como interfaces de sua abor- dagem teórico-analítica? No âmbito da ATD, nossas investigações têm considerado, sobretudo, o nível 7, que focaliza o fenômeno da respon- sabilidade enunciativa, entendido por Adam (2008) como o fenômeno que permite aferir o grau de engajamento do locutor em um ato de enunciação. No seio dos estudos enunciativos da linguagem, as dis- cussões sobre a responsabilidade enunciativa podem e devem realizar interfaces com diferentes quadros teóricos, a exemplo da teoria da polifonia, da teoria dos atos de fala, da teoria das operações enunciativas, da teoria do ponto de vista, da teoria do quadro mediativo, entre outras. Importante destacar que essa possibilidade de interface é uma das grandes contribuições da ATD no sentido de assegu- rar aos pesquisadores condições para o desenvolvimento de pesquisas articuladas do ponto de vista teórico, metodológico e analítico. ALEXANDRO TEIXEIRA GOMES 61 6) Dos resultados de seus trabalhos, seria possível indicar contribuições para o ensino? Evidentemente. As investigações que realizamos sob a ótica da ATD buscam analisar/explicar o discurso com base nas marcas/pistas textuais. Em Gomes e Araújo (2005), nós já destacávamos que, ao usar a abordagem teórica, metodológica e descritiva de estudo do texto, conforme proposto pela ATD, o professor poderá oferecer ferramentas para uma melhor compreensão de inúmeros aspectos do ensino de línguas no âmbito do ensino de gramática, de leitura, de produção de texto, de convenções gráficas e ortográficas, além de poder considerar os elementos de ordem cultural, bem como questões voltadas para identificação de crenças, valores, variações linguísticas, níveis de formalidade e de polidez, entre outros. Isso permite uma reorientação do ensino, deixando de lado práticas pautadas no paradigma puramente formal para se realizar um trabalho com os elementos linguísticos sob uma ótica discursiva. O resultado, compreendemos, fará com que os alunos consigam aprender melhor e, consequentemente, usar adequadamente os recursos linguísticos nos textos produzidos com vista a alcançar seus propósitos argumentativos. Isso por- que “se trata de uma abordagem diferente da visão tradicional, uma vez que aqui a materialidade do texto é entendida como ‘detalhes semiolinguísticos das formas-sentido mediadoras ALEXANDRO TEIXEIRA GOMES 62 dos discursos’” (ADAM, 2010, p. 9), ou seja, não diz respeito a analisar os signos linguísticos apenas do ponto de vista formal, dissociados dos seus contextos de uso, mas, sim, de estudar tais elementos a partir de seu entendimento textual e discursivo (GOMES, 2014). 7) A quais avanços da ATD na contemporaneidade daria destaque e como vê os desafios de seu futuro? Acredito que o maior avanço da ATD na atualidade é sua consolidação como teoria enunciativa de estudo do texto e do discurso. Frente a isso, penso que seu maior desafio seja o de explicar mais algumas questões que ainda carecem de melhor sistematização, a exemplo do conceito e da abrangência de proposição-enunciada e da discussão sobre em que medida os procedimentos analíticos de corpora do off-line podem ser empregados, usando as mesmas ferramentas, em corpora do on-line, considerando as textualidades digitais. 8) Que leituras você indicaria para quem está iniciando seus estudos na ATD? ADAM, J-M. A. Linguística textual: introdução à análise textual dos discursos. São Paulo: Cortez, 2011. ALEXANDRO TEIXEIRA GOMES 63 GOMES, A. T.; PASSEGGI, L.; RODRIGUES, M. G. S. (org.). Análise Textual dos Discursos: perspectivas teóricas e meto- dológicas. Coimbra: Grácio Editor, 2018. GOMES, A. T.; RODRIGUES, M. G. S. Interlocuções no âmbito da Análise Textual dos Discursos. Letra Magna, v. 17, 2021. JUAN, H. C. Teorías de pragmática, de lingüística textual y de análisis del discurso.Z Cuenca: Ediciones de la Universidad de Castilla la Mancha, 2006. RODRIGUES, M. das G. S.; NETO, J. G. da S.; PASSEGGI, L. Análises textuais e discursivas: metodologia e aplicação. São Paulo: Cortez, 2010. Perguntas Específicas: 9) Levando em conta que a ATD tem suas origens na Linguística de Texto e na Enunciação, como você a carac- teriza hoje? Caracterizo a ATD, hoje, como uma teoria enunciativa de estudo do texto e do discurso. ALEXANDRO TEIXEIRA GOMES 64 10) Considerando as novas textualidades do mundo digital, quais procedimentos analíticos da ATD você indica para os que se dedicam à pesquisa de textos digitais? Em Gomes e Rodrigues (2021), já havíamos comentado que A grandeza da ATD é ser dinâmica, é ser adequada ao tratamento linguístico de dados tanto lineares como multilineares, é, também, prestar-se à análise de textos multimodais, conseguindo, assim, desvelar a singularidade de cada texto e de cada discurso, ou seja, recobre os mais variados dispositivos enunciativos que constituem os textos concretos e dos quais subjazem múltiplos discursos. Nesse sentido, entendo que todos os procedimentos ana- líticos da ATD podem ser usados em qualquer modalidade de texto, incluindo, obviamente, os textos digitais ou textos on-line. De todo modo, entendo, outrossim, que é preciso que nós pesquisadores do âmbito da ATD nos debrucemos na discussão sobre em que medida os procedimentos analíticos de corpora do off-line podem ser empregados, usando as mesmas ferramentas, em corpora do on-line, considerando as textualidades digitais. É um grande desafio que temos, cuja discussão não pode ser prescindida pela ATD. ALEXANDRO TEIXEIRA GOMES 65 11) Considerando os avanços da era digital, qual seu conceito de texto hoje? Com base em Cavalcante (2016) e Adam (2022), compre- endemos o texto como um evento comunicativo dialógico e negociável de sentido completo, determinado por formas de textualidade oral, escritural, multimodal e digital, que podem ser, ao mesmo tempo, diferentes e entrecruzadas, lineares e multilineares. Trata-se de uma abstração única e irrepetível, marcada pela coerência e por propósitos comunicativos claros a partir de suas condições de produção histórica, social e cultural. 66 ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA Universidade Federal Rural do Semi-Árido Perguntas Gerais 1) Como você chegou à Análise Textual dos Discursos (ATD)? Quais autores lhe serviram de inspiração? Essa questão possui, pelo menos, dois percursos de res- posta, os quais não se excluem. No primeiro deles, posso dizer que o meu encontro com a Análise Textual dos Discursos (ATD) ocorreu durante o curso de doutorado, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no início de 2012, sobretudo pelo ingresso no Grupo de Pesquisa em Análise Textual dos Discursos, coordenado pela professora Maria das Graças Soares Rodrigues e pelo professor Luis Passeggi. Naquele momento, o grupo começava a se consolidar como centro ANANIAS AGOSTINHO DA SILVA 67 de pesquisa especializado em análises textuais do discurso, com a publicação de alguns trabalhos de referência, como: I. a tradução de A linguística textual: introdução à análise textual dos discursos, de Adam (2008); II. a organização e tradução do livro Análises textuais e discursivas: metodologia e aplicações, por Rodrigues, Silva Neto e Passeggi (2010); III. a publicação de um capítulo sobre análise textual dos discursos no livro de celebração dos vinte e cinco anos do Grupo de Trabalho Linguística de Texto e Análise da Conversação, da Associação Nacional de Pós-Graduação em Letras e Linguística (ANPOLL), Linguística de texto e análise da conver- sação: panorama das pesquisas no Brasil, organizado por Bentes e Leite (2010); IV. o artigo
Compartilhar