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ROTEIRO DE AULA A SENSOPERCEPÇÃO E SUAS ALTERAÇÕES DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. Porto Alegre: Artes Médicas, 2008. _______________________________________________________________Definições Básicas. Sensopercepção é o processo pelo qual o cérebro interpreta e organiza informações sensoriais do ambiente externo e do corpo, incluindo sensações táteis, visuais, auditivas, olfativas e gustativas. A sensação é a detecção de estímulos sensoriais, enquanto a percepção é a interpretação e organização desses estímulos pelo cérebro. Juntos, sensação e percepção permitem que os indivíduos compreendam o mundo ao seu redor e respondam a ele de maneira adequada. A sensopercepção é uma função complexa que envolve a integração de informações sensoriais de diferentes sistemas sensoriais, bem como a influência de fatores cognitivos, emocionais e contextuais. Todas as informações do ambiente, necessárias à sobrevivência do indivíduo, chegam até o organismo por meio das sensações. A sensação é um fenômeno elementar que surge a partir de estímulos físicos, químicos ou biológicos, que podem ter origem tanto no ambiente externo como interno do organismo. Esses estímulos produzem alterações nos órgãos receptores, estimulando-os e gerando a sensação. A percepção é a tomada de consciência, pelo indivíduo, do estímulo sensorial. Ela se refere à dimensão neuropsicológica e psicológica do processo, na qual os estímulos sensoriais são transformados em fenômenos perceptivos conscientes. Vários psicopatólogos preferem não separar a sensação da percepção. (Sensopercepção). _______________________________________________________________A imagem perceptiva é um elemento básico da sensopercepção, que tem nitidez com contornos precisos, corporeidade vivida, estabilidade, extrojeção do espaço externo, ininfluenciabilidade voluntária e completude com todos os detalhes diante do observador. Os conceitos de imagem e representação se referem a diferentes formas de representar uma realidade. A imagem perceptiva real é a visualização direta da realidade, enquanto a representação é a revivescência de uma imagem na mente do indivíduo, uma forma de imagem mental. Subtipos de imagens representativas: A imagem eidética é a evocação extremamente precisa de uma imagem guardada na memória, com características semelhantes a uma percepção. É uma capacidade excepcional de "ver" um objeto com muita nitidez e clareza. As pareidolias são imagens que são visualizadas voluntariamente a partir de estímulos imprecisos do ambiente. A imaginação é uma atividade geralmente voluntária que consiste na evocação de imagens percebidas no passado ou na criação de novas imagens. Diferentemente da percepção, a imaginação ocorre na ausência de estímulos sensoriais. A fantasia é uma produção imaginativa minimamente organizada que surge a partir da imaginação e pode ter origem em desejos, temores e conflitos, tanto conscientes quanto inconscientes. É comum e intensa em crianças. _______________________________________________________________Alterações quantitativas da sensopecepção: Hiperestesia: Percepções anormalmente aumentadas. Hipoestesia: Percepções anormalmente diminuídas. Analgesia: Enfraquecimento da sensibilidade do tato. _______________________________________________________________Alterações qualitativas: São as alterações da sensopercepção mais importantes em psicopatologia: Ilusão, Alucinação, Alucinose. Ilusão: Percepção deformada, alterada de um objeto real e presente. Condições em que ocorrem as lusões: Os estados de rebaixamento do nível de consciência podem levar a uma percepção imprecisa. Em casos de fadiga grave, é possível ocorrer ilusões transitórias sem muita importância clínica. Já em estados afetivos intensos, podem surgir as chamadas ilusões catatímicas, que consistem em distorções do conteúdo das percepções, pensamentos e lembranças devido a experiências, angústias ou desejos carregados de emoções e afetos. Existem diferentes tipos de ilusões, como as visuais, que são caracterizadas por uma percepção visual deformada. E, as ilusões auditivas, por sua vez, surgem a partir de estímulos sonoros inespecíficos, levando o indivíduo a ouvir o seu nome ou chamamentos, mesmo que não tenham sido realmente proferidos. Alucinação: Uma alucinação é caracterizada como a percepção clara e definida de um objeto, como uma voz, ruído ou imagem, na ausência do objeto estimulante real. Alucinações Verdadeiras: As alucinações verdadeiras são aquelas que apresentam todas as características de uma imagem perceptiva real, incluindo nitidez, corporeidade, constância e projeção no espaço externo. Principais tipos de alucinações: Alucinações auditivas: Cada tipo de alucinação auditiva possui suas próprias características. As alucinações auditivas simples consistem em ruídos primários e são menos comuns. Já as alucinações áudio verbais são mais frequentes e envolvem vozes que emitem comandos, especialmente observadas em casos de psicose esquizofrênica. Os conteúdos habituais das "vozes" variam de acordo com o quadro clínico. Em casos de depressão grave, é comum que as vozes apresentem conteúdo negativo, como ruína, culpa e doença. Já em casos de quadros maníacos, o conteúdo das vozes pode ser relacionado a grandiosidade, poder e misticismo. Outros tipos de alucinações auditivas: A sonorização do pensamento é uma experiência na qual o pensamento é vivenciado como uma sensação auditiva. Já as alucinações musicais se referem à audição de tons e melodias musicais sem um estímulo auditivo externo correspondente. Essas alucinações podem ser contínuas ou intermitentes e geralmente são acompanhadas por uma consciência clara e uma crítica por parte do paciente. Essas experiências são frequentemente associadas a déficits auditivos, doenças neurológicas e transtornos psiquiátricos. Alucinações visuais: As alucinações visuais são caracterizadas pela percepção nítida de imagens sem a presença de estímulos visuais reais. Elas podem ser simples, como alucinações simples fotopsias, em que o indivíduo vê cores, bolas, pontos, entre outros. Também podem ser alucinações complexas ou configuradas, em que o indivíduo vê figuras, imagens de pessoas, partes do corpo, entidades, objetos, entre outros. Outro tipo é a alucinação cenográfica, na qual o indivíduo vê um cenário ou ambiente, também chamada de alucinações liliputianas. Esse tipo de alucinação é comum em casos de delirium e em psicoses desencadeadas por substâncias psicoativas. Alucinações táteis: As alucinações táteis são caracterizadas pela sensação de espetadas, choques ou pequenos animais correndo sobre a pele, sem a presença de um estímulo externo real. São mais comuns em quadros como o delirium tremens e as psicoses tóxicas. Em casos específicos, pode ocorrer a alucinação tátil com pequenos animais ou insetos, conhecida como delírio de infestação (Síndrome de Ekbom). Além disso, também são frequentes as alucinações sentidas nas genitais, geralmente apresentadas em quadros esquizofrênicos. Alucinações olfativas e gustativas: As alucinações olfativas são incomuns. O indivíduo pode sentir o cheiro de coisas podres, cadáveres, fezes, tecidos queimados, entre outros. Essas alucinações podem ter um forte impacto emocional e podem estar relacionadas a interpretações delirantes, como sentir cheiro de veneno de rato na comida. As alucinações gustativas se referem à percepção de sabores na boca, como ácido, sangue, urina, entre outros. Elas geralmente ocorrem em conjunto com alucinações olfativas e são comuns em casos de esquizofrenia e crises epiléticas. Outros tipos de alucinações: Alucinações cenestésicas e cinestésicas: Cenestésicas se refere a alterações incomuns e anormais em diferentes partes do corpo, como sensações de peso, pressão, inchaço ou diminuição da sensação cerebral. São um conjunto de sensações internas ou orgânicas. Cinestésicas se refere a sensações alteradas de movimentos do corpo, como sentir o corpo afundando, as pernas encolhendo ou um braço se elevando. O indivíduopercebe movimentos dos músculos e alterações de peso corporal. Alucinações funcionais são desencadeadas por estímulos sensoriais e diferem das ilusões, como, por exemplo, ouvir vozes na torneira. Essas alucinações são geralmente observadas em quadros de esquizofrenia. Alucinações combinadas envolvem várias modalidades sensoriais e o indivíduo pode interagir com o conteúdo, conversando ou enxergando, por exemplo. Essas alucinações são frequentes em quadros de alteração de consciência e em esquizofrenia. Alucinações extracampinais são experimentadas fora do campo habitual de percepção sensorial. O indivíduo pode ver através de paredes e costas, o que é prevalente em diversas psicoses. Alucinações autoscópicas ocorrem quando o indivíduo enxerga a si mesmo, vendo o seu próprio corpo como se estivesse fora dele, contemplando-o. Essas alucinações são comuns em quadros de intoxicação por alucinógenos. A estranheza do mundo percebido é caracterizada pelo mundo como um todo ser percebido como alterado, bizarro e difícil de definir pelo paciente. Essa sensação é comum nas fases iniciais de psicose. Alucinose é quando o indivíduo tem consciência e crítica em relação à sua alucinação, não acreditando nela como algo real. Existe um distanciamento entre o indivíduo e o sintoma. Alucinose visual ou auditiva são comuns em casos de intoxicação alcoólica e outros tipos de intoxicação por substâncias. _______________________________________________________________ REFERÊNCIA: CAPÍTULO 14 DO LIVRO PSICOPATOLOGIA E SEMIOLOGIA DOS TRANSTORNOS MENTAIS DO AUTOR PAULO DALGALARRONDO.