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APG 17 - ALTERAÇÕES SENSOPERCEPÇÃO

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APG 17 – SENSOPERCEPÇÃO e suas alterações
OBJETIVOS:
1. Entender como substâncias psicoativas podem alterar qualitativamente a consciência
2. Listar as demais etiologias da alteração da consciência (qualitativa e quantitativa)
3. Delinear o diagnóstico e a conduta terapêutica 
definição de SENSOPERCEPÇÃO 
A sensopercepção constitui a primeira etapa da cognição, ou seja, do conhecimento do mundo externo. Este se refere aos objetos reais (àqueles que estão fora de nossa consciência). 
· SENSAÇÃO: é um fenômeno passivo, físico, periférico e objetivo, que resulta das alterações produzidas por estímulos externos sobre os órgãos sensoriais. 
Através da sensação, podemos distinguir as qualidades mais elementares dos objetos: cor, forma, peso, temperatura, consistência, textura, timbre, sabor etc. 
Exemplos: formas e cores em uma fotografia
· Classificação das qualidades sensoriais - podem ser classificadas em:
· Exteroceptivas: visuais, auditivas, gustativas, olfativas, cutâneas (táteis, térmicas, dolorosas)
· Interoceptivas (ou cenestésicas): bem-estar, mal-estar, fome, sede, sensibilidade visceral
· Proprioceptivas: cinestésicas (movimentos corporais), posição segmentar do corpo, equilíbrio, barestesia (sensibilidade à pressão), palestesia (sensibilidade para vibrações).
· PERCEPÇÃO: é um fenômeno ativo, psíquico, central e subjetivo. É um fenômeno consciente, que resulta da integração das impressões sensoriais parciais e da associação destas às representações. 
A percepção está relacionada a identificação, reconhecimento e discriminação dos objetos. É o que dá significação às sensações. 
Piéron – percepção é a tomada de conhecimento sensorial de objetos ou de fatos exteriores mais ou menos complexos.
Exemplos: um quadro-negro, carteiras, crianças uniformizadas (sentadas) e uma senhora de pé (apontando para o quadro).
DELIMITAÇÃO DOS CONCEITOS DE IMAGEM, REPRESENTAÇÃO E IMAGINAÇÃO
· IMAGEM SENSOPERCEPTIVA: O elemento básico do processo de sensopercepção é a imagem perceptiva real, ou simplesmente “imagem”. 
· Para Jaspers, se caracteriza pelas seguintes qualidades:
· Corporeidade: os objetos são tridimensionais (a imagem é viva, corpórea, tem luz, brilho e cores vivas);
· Extrojeção: os objetos estão localizados no espaço objetivo externo, isto é, fora da consciência
· Nitidez: os contornos dos objetos são precisos
· Frescor sensorial: a percepção é vívida. Por exemplo: as cores são brilhantes
· Estabilidade: a imagem é constante, não desaparece nem se modifica de uma hora para outra
· Ausência de influência pela vontade: a imagem é aceita passivamente pelo indivíduo, que não pode evocá-la nem modificá-la arbitrariamente.
· REPRESENTAÇÃO: (ou imagem representativa, ou mnêmica) se caracteriza por ser apenas uma revivescência de uma imagem sensoperceptiva determinada, sem que esteja presente o objeto original que a produziu.
Representação é, portanto, a reapresentação de uma imagem na consciência, sem a presença real, externa, do objeto que, em um primeiro momento, gerou uma imagem sensorial.
· São características da imagem representativa (ou mnêmica):
· pouca nitidez (os contornos, geralmente, são borrados);
· pouca corporeidade: a imagem é bidmensional (a representação não tem a vida de uma imagem real);
· instabilidade: a representação aparece e desaparece facilmente do campo de consciência;
· introjeção: é percebida no espaço interno, subjetivo, na mente;
· falta de frescor sensorial: a imagem não é vívida;
· incompletude: a representação demonstra um desenho indeterminado, apresentando-se geralmente incompleta e apenas com alguns detalhes.
· IMAGINAÇÃO: 
A imaginação é uma atividade psíquica, geralmente voluntária, que consiste na evocação de imagens percebidas no passado (imagem mnêmica) ou na criação de novas imagens (imagem criada). A imaginação, ou processo de produção de imagens, geralmente ocorre na ausência de estímulos sensoriais. 
A fantasia, ou fantasma, é uma forma de imaginação, uma produção imaginativa, produto minimamente organizado do processo imaginativo. No sentido psicanalítico, a fantasia pode ser consciente ou inconsciente. Ela se origina de desejos, temores e conflitos tanto conscientes como inconscientes.
alterações quantitativas da sensopercepção
Nas alterações quantitativas, as imagens perceptivas têm intensidade anormal, para mais ou para menos, configurando hiperestesias, hiperpatias, hipoestesias, anestesias e analgesias.
· AGNOSIA: 
Constitui um distúrbio do reconhecimento de estímulos visuais, auditivos ou táteis, na ausência de déficits sensoriais. As sensações continuam a ocorrer normalmente, porém não são associadas às representações e, assim, não se tornam significativas. Em outras palavras, há um comprometimento específico do ato perceptivo. 
Na agnosia visual, o doente é capaz de descrever a cor e a forma de um objeto, mas não o identifica. Ele não consegue dizer, por exemplo, que se trata de um guarda-chuva, nem dizer para que ele serve. Esse distúrbio está relacionado a lesões em áreas associativas corticais. 
· HIPERESTESIA: ou hiperpercepção.
No sentido psicopatológico, é a condição na qual as percepções encontram-se anormalmente aumentadas em sua intensidade ou duração. Os sons são ouvidos de forma muito amplificada; um ruído parece um estrondo; as imagens visuais e as cores tornam-se mais vivas e intensas. 
A hiperestesia ocorre nas intoxicações por alucinógenos, como anfetaminas, dietilamida do ácido lisérgico (LSD) (eventualmente também após a ingestão de substâncias como cocaína, maconha, harmina e harmalina, estas duas últimas contidas na beberagem Ayahuasca, de uso ritual nas religiões Santo Daime e União do Vegetal), em algumas formas de epilepsia e na enxaqueca. 
Raramente pode surgir no hipertireoidismo, na esquizofrenia aguda e em certos quadros maníacos.
Alternativamente, a hiperestesia pode ser definida como uma hipersensibilidade a estímulos sensoriais comuns, que, patologicamente, se tornam desagradáveis. Nesse caso, por exemplo, ruídos de pequena intensidade tornam-se extremamente incômodos. Isso pode ocorrer na depressão, em estados de ansiedade, na enxaqueca, no autismo e na ressaca pós-intoxicação alcoólica. 
· HIPERPATIAS: 
No sentido neurológico, quando uma sensação desagradável (geralmente de queimação dolorosa) é produzida por um leve estímulo da pele. A hiperpatia costuma ocorrer nas síndromes talâmicas.
· HIPOESTESIA: ou hipopercepção.
Consiste em uma diminuição global da intensidade perceptiva. O mundo parece mais escuro e sem brilho, a comida é insossa, os sons são abafados etc.
No sentido psicopatológico, é observada em alguns pacientes com depressão grave, nos quais o mundo circundante é percebido como mais escuro; as cores tornam-se mais pálidas e sem brilho; os alimentos não têm mais sabor; e os odores perdem sua intensidade.
Observa-se principalmente em quadros estuporosos (com abolição da psicomotricidade), sejam relacionados a depressão, esquizofrenia ou delirium.
As hipoestesias táteis, com sentido neurológico, são alterações localizadas em territórios cutâneos de inervação anatomicamente determinada, compondo as chamadas síndromes sensitivas, de interesse à neurologia clínica. As mais comuns são decorrentes de lesões da medula, das raízes medulares dos nervos (hipoestesia em faixa) e dos neurônios periféricos (hipoestesias “em bota” e “em luva” das várias polineuropatias).
· ANESTESIA:
Consiste na abolição da sensibilidade. É encontrada nas mesmas situações que a hipoestesia, e ainda em quadros conversivos (amaurose ou surdez histérica, anestesias em bota ou em luva), na intoxicação alcoólica, no coma. 
As anestesias táteis implicam a perda da sensação tátil em determinada área da pele. 
Usa-se, com frequência, o termo “anestesia” para indicar também analgesias (perda das sensações dolorosas) de áreas da pele e partes do corpo. 
Anestesias, hipoestesias e analgesias em áreas que não correspondem a territórios de nervos anatomicamente definidos em geral são de causa psicogenética,com fatores emocionais em sua base. Tais alterações ocorrem mais em pacientes com transtornos histéricos (conversão histérica), em sujeitos com alto grau de sugestionabilidade e em alguns quadros depressivos e psicóticos graves.
· PARESTESIAS: 
São sensações táteis desagradáveis (embora não sentidas propriamente como dor), em geral espontâneas, descritas pelos pacientes como “formigamentos, adormecimentos, picadas, agulhadas ou queimação” mais ou menos intensas. 
Uma forma fisiológica (não patológica) de parestesia é a chamada parestesia de Berger, que ocorre quando um sujeito cruza as pernas por longo tempo e passa a sentir formigamento, adormecimento e fraqueza em parte do membro, por compressão transitória do nervo correspondente.
· DISESTESIAS TÁTEIS: 
São sensações anômalas, em geral dolorosas, desencadeadas por estímulos externos; assim, ao estimular a pele do paciente com calor, este refere sensação de frio, e, após um leve roçar sobre a pele, refere dor (aqui, a disestesia assemelha-se à hiperpatia). As parestesias diferem das disestesias pelo fato de aquelas ocorrerem de forma espontânea, e estas serem desencadeadas por estímulos externos.
Parestesias e disestesias ocorrem em doenças dos nervos, como neuropatia diabética periférica, mononeurite diabética, neuropatia por carências nutricionais ou outras neuropatias de natureza alcoólica, amiloide ou carcinomatosa. Também podem ocorrer na esclerose múltipla e na síndrome de Guillain-Barré.
Algumas disestesias e parestesias corporais, quando de origem não neurológica, podem acometer pacientes com transtornos conversivos, quadros hipocondríacos graves, quadros ansiosos com marcante somatização e, ocasionalmente, indivíduos submetidos a estados emocionais intensos.
· ALUCINAÇÃO NEGATIVA: 
É definida como uma aparente ausência de registro sensorial de determinado objeto presente no campo sensorial do paciente; como, por exemplo, não ver uma pessoa que esteja diante de seus olhos. 
Por definição, os órgãos sensoriais estão íntegros. Está relacionado a um mecanismo psicogênico, sendo observado em quadros conversivos. 
· MACROPSIA: 
Os objetos parecem, ao paciente, aumentados de tamanho. 
O distúrbio da autoimagem corporal que ocorre na anorexia nervosa – no qual o paciente, mesmo estando extremamente emagrecido, se vê como gordo – poderia ser classificado como macropsia.
· MICROPSIA:
Os objetos parecem menores do que realmente são. 
· DISMEGALOPSIA:
Os objetos parecem deformados, algumas partes estão aumentadas ou diminuídas.
Ocorre mais em quadros de delirium, na epilepsia temporal, na esquizofrenia e na intoxicação por alucinógenos.
ALTERAÇÕES QUALITATIVAS DA SENSOPERCEPÇÃO
As alterações qualitativas da sensopercepção são as mais importantes em psicopatologia. Compreendem as ilusões, as alucinações, a alucinose e a pseudoalucinação.
· ILUSÃO: vem do latim, illusionem, que significa engano, fantasia, miragem, logro, ludíbrio.
Se caracteriza pela percepção deformada, alterada, de um objeto real e presente. Na ilusão, há sempre um objeto externo real, gerador do processo de sensopercepção, mas tal percepção é deformada, adulterada, por fatores patológicos diversos.
· As ilusões ocorrem basicamente em três condições:
1. Estados de rebaixamento do nível de consciência - Por turvação da consciência, a percepção torna-se imprecisa, fazendo os estímulos sensoriais reais serem percebidos de modo deformado.
2. Estados de fadiga grave ou de inatenção marcante - Podem ocorrer ilusões transitórias e sem muita importância clínica.
3. Alguns estados afetivos - Por sua acentuada intensidade, o afeto pode deformar o processo de sensopercepção, gerando as chamadas ilusões catatímicas.
· TIPOS DE ILUSÕES:
· Ilusões Visuais – são as mais comuns. O paciente geralmente vê pessoas, monstros, animais, entre outras coisas, a partir de estímulos visuais como móveis, roupas, objetos ou figuras penduradas nas paredes.
· Ilusões Auditivas - a partir de estímulos sonoros inespecíficos, o paciente ouve seu nome, palavras significativas ou chamamentos. 
As ilusões são encontradas, com maior frequência, nos quadros de delirium, em que há rebaixamento do nível de consciência e consequente distorção do processo perceptivo. Há, nessa síndrome, uma perturbação da capacidade de perceber com clareza, ficando o indivíduo mais suscetível a experimentar as ilusões dos sentidos. 
Em quadros marcantes de alterações do humor e da afetividade, como estados intensos de medo e ansiedade (mais frequentes em pessoas com quadros de depressão e ansiedade e em transtornos da personalidade), o sujeito pode experimentar as chamadas ilusões catatímicas.
· Ilusão Por Desatenção - elementos representativos são introduzidos para completar ou corrigir estímulos externos escassos ou incorretos, respectivamente. É o que ocorre quando, sem nos darmos conta, completamos uma frase ouvida apenas de forma fragmentária, ou corrigimos as falhas de impressão na leitura de um livro. Quando se presta mais atenção, em um segundo momento, a ilusão desaparece.
· Ilusão Catatímica - a deformação do objeto tem origem em um afeto intenso, relacionado a desejo ou a temor. Um exemplo seria o de um indivíduo apaixonado falsamente reconhecer a pessoa amada nos diversos estranhos com os quais cruza rapidamente andando pela rua. Um outro seria o de, à noite, passando por um lugar sabidamente perigoso, confundir-se uma árvore com a figura de um assaltante. Essa forma de ilusão também desaparece com a atenção.
· Ilusão Oniroide - está relacionada a um quadro de rebaixamento do nível de consciência. No delirium, as ilusões são predominantemente visuais e se associam, com frequência, a fenômenos alucinatórios. Pode acontecer, por exemplo, de um paciente obnubilado, internado em uma unidade de tratamento intensivo, ao olhar para um médico que se aproxima, ver no pescoço deste uma cobra, quando na verdade trata-se de um estetoscópio.
· PAREIDOLIA - vem do grego para (ao lado) + eidos (figura).
Esse fenômeno consiste em uma imagem (fantástica e extrojetada) criada intencionalmente a partir de percepções reais de elementos sensoriais incompletos ou imprecisos. Por exemplo: ver figuras humanas, cenas, animais, objetos etc., em nuvens, em manchas ou relevos de paredes, no fogo, na Lua etc.; ou “ouvir” sons musicais com base em ruídos monótonos. Nesses casos, o objeto real passa para um segundo plano.
A pareidolia não é patológica; ocorre em pessoas normais. Trata-se de um fenômeno bastante relacionado à atividade imaginativa.
Apesar de a pareidolia ser incluída por diversos autores, como Jaspers, entre as formas de ilusão, diferencia-se desta pelo fato de o indivíduo estar todo o tempo consciente da irrealidade da imagem e de sua influência sobre esta. Exceto por ser projetada para o espaço objetivo externo, a pareidolia possui as características da imagem representativa, como a possibilidade de influenciamento voluntário.
· ALUCINAÇÕES: tem origem no latim, alucinare, que significa dementado, enlouquecido, privado da razão.
Define-se alucinação como a percepção clara e definida de um objeto (voz, ruído, imagem) sem a presença de objeto estimulante real. 
· ALUCINAÇÕES VERDADEIRAS - são aquelas que têm todas as características de uma imagem perceptiva real (nitidez, corporeidade, projeção no espaço exterior, constância). As alucinações, na grande maioria dos casos, são percebidas pelos dois ouvidos, dois olhos, duas narinas. 
As alucinações em populações não clínicas podem, dessa forma, implicar formas atenuadas, ainda sem expressão clínica, de psicoses, fases pré-clínicas que precedem o eclodir de psicoses. Entretanto, podem, ainda, não estar no continuum com a psicose clínica, mas associadas a ansiedade e depressão, ou, ainda, não ter qualquer significado clínico, e sim significados culturais. 
As diferenças das alucinações entre as populações clínicas (sobretudo de pacientes psicóticos) e não clínicas incluem: Em populações clínicas, ocorrem com mais intensidade e duração do que nas populações nãoclínicas; as alucinações verbais ocorrem com mais frequência, sobretudo nas psicoses esquizofrênicas, e são percebidas como algo fora do controle e desprazeroso. 
Nas populações não clínicas, predominam as alucinações visuais em relação às audioverbais; as pessoas sentem que têm mais controle sobre as alucinações; e elas não são tão desprazerosas como nas psicoses.
· Tipos de alucinações mais importantes na clínica:
· ALUCINAÇÕES AUDITIVAS - são o tipo de alucinação mais frequente nos transtornos mentais (mas não nos transtornos neurológicos, nos quais preponderam as alucinações visuais). Elas podem ser divididas em simples e complexas (estas de maior interesse à psicopatologia). 
Alucinações auditivas simples são aquelas nas quais se ouvem apenas ruídos primários. Elas são menos frequentes que as alucinações auditivas complexas.
SIMPLES: o tinnitus – principal forma de alucinação auditiva simples (audição de ruídos primários).
Corresponde à sensação subjetiva de ouvir ruídos (em um ou nos dois ouvidos), mais frequentemente zumbidos, mas também, eventualmente, burburinhos, cliques e estalidos. Podem ser contínuos, intermitentes ou pulsáteis (nesse caso, o ruído pode ocorrer em sincronia com os batimentos cardíacos).
O tinnitus, em geral, é decorrente de doenças ou alterações do sistema auditivo (ouvido externo ou médio, cóclea, nervo acústico) e de conexões auditivas centrais, sendo com frequência acompanhado de perda auditiva (hipoacusia) sensório-neural ou de condução. 
COMPLEXAS – a mais frequente e significativa em psicopatologia é a alucinação audioverbal, na qual o paciente escuta vozes sem qualquer estímulo real. São vozes que geralmente o ameaçam ou insultam. Muito frequentemente, a alucinação audioverbal é de conteúdo depreciativo e/ou de perseguição. Deve-se chamar atenção para o fato de que, sobretudo na esquizofrenia, as alucinações audioverbais com frequência impõem determinada convicção nos pacientes, deixando-os intrigados e assustados, a procurar a fonte daquela “voz invisível”.
O insight em relação às alucinações audioverbais, na esquizofrenia, geralmente é pequeno ou ausente; os pacientes tendem a acreditar que tais vozes não são o produto de um transtorno mental, mas uma realidade apavorante que se lhes impõe, bem como que elas devem ser produzidas pelo demônio, por máfias ou por grupos que estão contra ele e querem destruí-lo.
Alucinações schneiderianas - são alucinações audioverbais em que as vozes comandam a ação ou comentam a ação e as atividades corriqueiras do paciente – por exemplo, “olha, agora o João está indo beber água, agora ele vai lavar a mão...”. Vozes que comandam são aquelas que mandam o indivíduo fazer coisas, como, por exemplo: “Lave as mãos!”, “Ponha fogo em suas roupas!”, “Dê uma facada em sua barriga!”.
Erkwoh e colaboradores (2002) identificaram, em pacientes que obedecem às vozes de comando (muitas vezes com implicações gravíssimas, com risco de suicídio e/ou homicídio), que isso ocorre quando:
1. a voz tem a sonoridade de uma pessoa já conhecida pelo indivíduo;
2. o paciente tem envolvimento emocional com a voz;
3. o indivíduo percebe a alucinação como uma voz real que está ouvindo.
· ALUCINAÇÕES MUSICAIS - é descrita como a audição de tons musicais, melodias, ritmos e harmonias sem o correspondente estímulo auditivo externo. Esse tipo de alucinação é pouco frequente, sendo menos observado que os outros tipos de alucinação ou de tinnitus. Tais alucinações podem ser contínuas ou intermitentes e, em geral, são acompanhadas de consciência clara e crítica por parte do paciente. 
As alucinações musicais são classificadas como alucinações por deaferentação, ou seja, ocorrem frequentemente como resposta do cérebro à privação sensorial. Um circuito que inclui o giro temporal superior esquerdo, o córtex posteromedial e o córtex motor estaria implicado nesse tipo de alucinações. 
· ALUCINAÇÕES VISUAIS - são visões, muitas vezes nítidas, que o paciente experimenta, sem a presença de estímulos visuais. Podem ser simples ou complexas. 
SIMPLES: também são denominadas fotopsias. Nelas, o indivíduo vê cores, bolas e pontos brilhantes. 
COMPLEXAS OU CONFIGURADAS: incluem figuras e imagens de pessoas (vivas ou mortas, familiares ou desconhecidas), de partes do corpo (órgãos genitais, caveiras, olhos assustadores, cabeças disformes, etc.), de entidades (o demônio, uma santa, um fantasma), de objetos inanimados, animais ou crianças. Podem, eventualmente, incluir visões de cenas completas (p. ex., o quarto pegando fogo), sendo então denominadas alucinações cenográficas.
· ALUCINAÇÕES TÁTEIS - o paciente sente espetadas, choques ou insetos ou pequenos animais correndo sobre sua pele. As alucinações táteis com pequenos animais ou insetos geralmente ocorrem associadas ao delírio de infestação. Essa síndrome também foi chamada de acarofobia ou parasitofobia. 
Também são relativamente frequentes as alucinações táteis sentidas nos genitais, sobretudo em pacientes com esquizofrenia, que sentem de forma passiva que forças estranhas tocam, cutucam ou penetram seus genitais. 
As alucinações táteis são frequentes na esquizofrenia, no delirium tremens e nas psicoses tóxicas, sobretudo naquelas produzidas pelo uso de cocaína (até 15% dos usuários dessa droga podem ter tais alucinações). 
· ALUCINAÇÕES OLFATIVAS E GUSTATIVAS - são relativamente pouco comuns. 
ALUCINAÇÕES OLFATIVAS: em geral, manifestam-se como o “sentir” o odor de coisas podres, de cadáver, de fezes, de pano queimado, gás, gasolina, etc. Lembranças ou sensações olfativas normalmente vêm acompanhadas de forte impacto emocional. 
Ocorrem principalmente na esquizofrenia e em epilepsia do lobo temporal, geralmente precedendo as crises epilépticas generalizadas (auras com alucinações olfativas), em crises parciais complexas (crises uncinadas) ou precedendo crises de enxaqueca (auras da enxaqueca com cheiro de carne podre, de cigarro, de gás). 
ALUCINAÇÕES GUSTATIVAS (FANTAGEUSIAS): os pacientes sentem, na boca, o sabor de ácido, de sangue, de urina, etc., sem qualquer estímulo gustativo presente. Elas ocorrem, muitas vezes, associadas a alucinações olfativas. Elas ocorrem na epilepsia do lobo temporal (geralmente precedendo as crises), na esquizofrenia e após o uso do antidepressivo bupropiona. Também podem ocorrer em tumores cerebrais. 
· ALUCINAÇÕES CENESTÉSICAS (SOMÁTICAS) E CINESTÉSICAS - ocorrem principalmente na esquizofrenia. 
ALUCINAÇÕES CENESTÉSICAS, OU SOMÁTICAS: ocorrem como sensações incomuns e claramente anormais em diferentes partes ou órgãos do corpo, como sentir o cérebro encolhendo, o fígado despedaçando, ou as mãos se esfarelando. Esse tipo de alucinação é característico da síndrome de Cotard, que ocorre nas depressões graves, geralmente associadas a marcante ansiedade. Outro tipo de alucinação somática ou cenestésica ocorre quando o paciente percebe uma víbora dentro do abdome, que se move para lá e para cá. 
ALUCINAÇÕES CINESTÉSICAS: são vivenciadas pelo paciente como sensações alteradas de movimentos do corpo, como sentir o corpo afundando, as pernas encolhendo ou um braço se elevando. 
· ALUCINAÇÕES FUNCIONAIS OU REFLEXAS - quando verdadeiras alucinações (e não ilusões perceptivas) são desencadeadas por estímulos sensoriais. A alucinação funcional difere da ilusão, pois, enquanto esta é a deformação de uma percepção de um objeto real e presente, aquela é uma alucinação (ausência do objeto) apenas desencadeada por um estímulo real. 
Alguns pacientes relatam, por exemplo, que, quando abrem o chuveiro ou a torneira da pia, começam a ouvir vozes. 
Essas alucinações são encontradas na esquizofrenia e no transtorno esquizoafetivo. 
· ALUCINAÇÕES COMBINADAS, MULTIMODAIS OU POLIMODAIS - São experiências alucinatórias nas quais ocorrem alucinações de várias modalidades sensoriais (auditivas, visuais, táteis, etc.) ao mesmo tempo ou sucessivamente. Por exemplo, o indivíduo vê uma pessoa (inexistente) que fala com ele e toca em seu corpo. 
AS ALUCINAÇÕES COMBINADAS: ocorrem com maior frequênciaem síndromes com alteração do nível de consciência, mas também podem aparecer na esquizofrenia e em uma forma curiosa de alucinação, a chamada síndrome de Alice no país das maravilhas (condição neuropsiquiátrica em que há desorientação e alterações sensoperceptivas da visão e da percepção do movimento). 
· ALUCINAÇÕES EXTRACAMPINAS - São alucinações experimentadas fora do campo sensoperceptivo habitual, como quando o indivíduo vê nitidamente uma imagem às suas costas ou atrás de uma parede. Além de ver ou ouvir, inclui sentir a presença de uma pessoa, bem como seus movimentos fugazes, atrás ou ao lado de si mesmo. 
As alucinações extracampinas são descritas na esquizofrenia, na doença de Parkinson, na epilepsia, na doença cerebrovascular, na paralisia do sono e no trauma craniencefálico. Em indivíduos sem transtornos neurológicos ou psicopatológicos, as alucinações extracampinas são descritas naqueles que passam por situações de grave risco à vida, como navegadores, alpinistas e exploradores polares. 
· ALUCINAÇÕES AUTOSCÓPICA - é uma alucinação visual (que também pode apresentar componentes táteis e cenestésicos) na qual o indivíduo enxerga a si mesmo, vê seu corpo, como se estivesse fora dele, contemplando-o. 
A sensação de uma presença ocorre em síndromes psico-orgânicas, epilepsia, esquizofrenia, enxaqueca e intoxicações por substâncias alucinógenas. 
· ALUCINAÇÕES HIPNAGÓGICAS E HIPNOPÔMPICAS - São alucinações visuais (86% dos casos), auditivas (8-34% dos casos) ou somáticas e cenestésicas (25-44% dos casos), relacionadas à transição sonovigília (adormecimento e despertar). 
ALUCINAÇÕES HIPNOPÔMPICAS: ocorrem na fase em que o indivíduo está despertando. 
ALUCINAÇÕES HIPNAGÓGICAS: se manifestam quando ele está adormecendo. 
Essas alucinações são frequentemente desprazerosas, associadas a sentimentos de medo ou ameaça. Nas alucinações visuais, veem-se imagens caleidoscópicas, padrões geométricos e luzes em forma de flash. Também são vistos animais, pessoas, faces e cenas, que podem ser detalhadas e coloridas. 
Essas alucinações ocorrem de forma frequente (em cerca de 50% dos casos) na narcolepsia, onde podem ocorrer na sequência de episódios de cataplexia (relaxamento profundo dos músculos esqueléticos, com queda ao chão) ou de paralisia do sono (sensação de paralisia motora marcante na transição sono-vigília).
· PSEUDOALUCINAÇÕES - Diferenciam-se das alucinações verdadeiras pela ausência de corporeidade e localização no espaço subjetivo interno. Quanto aos demais aspectos (nitidez/imprecisão, presença ou ausência de frescor sensorial, constância/instabilidade e possibilidade ou impossibilidade de influenciamento pela vontade), podem se parecer tanto com a imagem perceptiva quanto com a imagem representativa. Assim como nas alucinações verdadeiras, há plena convicção quanto à realidade do fenômeno.
Só foram descritas pseudoalucinações nas modalidades visual e auditiva. Os pacientes percebem com os “olhos (ou ouvidos) internos” com o termo interno referindo-se a dentro da mente (e não dentro do corpo ou da cabeça).
As pseudoalucinações parecem ser especialmente frequentes na esquizofrenia, mas podem ocorrer também nos quadros em que há alteração do estado da consciência, como no delirium (rebaixamento) e nos estados crepusculares histéricos e epilépticos (estreitamento).
· ALUCINOSE - é o fenômeno pelo qual o paciente percebe a experiência alucinatória como estranha a sua pessoa. Assim, os psicopatólogos franceses Henri Claude e Henri Ey, afirmavam que a característica das alucinoses é serem adequada e imediatamente criticadas pelo sujeito, reconhecendo seu caráter patológico.
Nessa condição, embora o paciente veja a imagem ou ouça a voz ou o ruído, está ausente a crença, muito frequente nas psicoses, que o alucinado tem em sua alucinação, na realidade plena dela. O indivíduo permanece consciente de que aquilo é um fenômeno estranho, patológico, não tem nada a ver com sua pessoa, estabelecendo distanciamento entre seu self e o sintoma. Diz-se que a alucinose é um fenômeno periférico ao Eu (é como se o indivíduo assistisse a uma cena de uma peça terrorífica, como se estivesse na plateia), enquanto a alucinação verdadeira é central ao Eu (o indivíduo é “ator” que participa, vive e sofre na trama terrorífica).
A alucinose ocorre com maior frequência em quadros psico-orgânicos (alucinação neurológica).
Em sua modalidade visual, a alucinose ocorre com maior frequência em pacientes com intoxicações por substâncias alucinógenas, como LSD, psilocibina, mescalina, anticolinérgicos, Ayahuasca, etc.
· ALUCINOSE PEDUNCULAR DE LHERMITTE - Trata-se de uma experiência alucinatória de natureza em geral visual ou visuoacústica, tipicamente vívida e brilhante, parecendo ser algo muito real. Pode incluir cenas, pessoas, animais e figuras geométricas, e surge geralmente em ambientes escuros, com duração de muitos minutos. Costuma ocorrer mais no fim do dia, associada a sonhos vívidos, podendo haver turvação da consciência.
Na maioria dos casos, a alucinose peduncular é causada por lesões vasculares, vasoespasmo ou lesões tumorais, com compressões, nas porções superiores do tronco cerebral (principalmente nos pedúnculos cerebrais). Localizações frequentes também são áreas do mesencéfalo próximas aos núcleos da rafe, ao tálamo, à ponte e ao diencéfalo basal.
· ALUCINOSE AUDITIVA - Uma forma não rara de alucinose auditiva é a denominada alucinose alcoólica. Em geral, ela ocorre em indivíduos com dependência crônica de álcool e consiste em vozes que falam do paciente na terceira pessoa (“Olha como o João está sujo hoje” ou “a Maria é mesmo uma covarde”).
Essa forma de alucinose aparece com preservação do nível de consciência, e, muitas vezes, o paciente apresenta crítica em relação à vivência alucinatória, reconhecendo seu aspecto patológico. O indivíduo pode estar embriagado ou sóbrio quando ouve as vozes.
FISIOPATOLOGIA: 
· TEORIA IRRITATIVA OU DISFUNCIONAL CORTICAL - Lesões destrutivas produziriam déficits motores e sensoriais (plegias, paralisias, hipoestesias, anestesias, surdez ou cegueira), quando ocorressem em áreas motoras ou sensitivas primárias. 
Por sua vez, lesões irritativas ou disfuncionais, nessas mesmas áreas, poderiam produzir fenômenos novos, anômalos, como convulsões, movimentos anormais (em áreas motoras), parestesias e hiperestesias (em áreas sensoriais primárias). Entretanto, quando a lesão destrutiva ou irritativa ocorresse em áreas sensoriais secundárias ou em regiões associativas relacionadas com linguagem, memória ou percepção complexa, ocorreriam, então, as alucinações. 
As vozes do alucinado, ou seja, as alucinações auditivas verbais, seriam, por exemplo, o produto de hipotéticas áreas hiperativadas ou descargas irritativas em regiões associativas da linguagem e da memória semântica. 
Estudos que indicam haver um estado de hipervigilância (hyperarousal) em pessoas com quadros psicóticos agudos e alucinações reforçam a ideia de que, nos quadros alucinatórios, uma hiperexcitabilidade geral do sistema nervoso parece ser fator relevante para o surgimento ou o desencadeamento de alucinações. 
· FENÔMENO DE DEAFERENTAÇÃO/LIBERAÇÃO NEURONAL - A base dessa linha de hipótese causal se relaciona ao fato de as alucinações ocorrerem com maior frequência em indivíduos com déficits sensoriais (p. ex., déficit auditivo, visual ou olfativo) e se atenuarem ou desaparecerem com estímulos sensoriais externos, como o som do rádio e da televisão ou luzes fortes. 
Assim, ocorreria um fenômeno de liberação neuronal associado à deaferentação (redução das aferências, de estímulos que chegam ao cérebro), por privação de estímulos sensoriais. Nessa linha de raciocínio, seria plausível o sistema nervoso, ao ser privado de estímulos externos, produzir, ele próprio, algum fenômeno sensorial, para manter o equilíbrio, a homeostase, ou seja, um certo nível de ativação e funcionamento básico. 
Os quadros alucinatórios de deaferentação mais típicos são as alucinações auditivas musicais em pessoas comdéficits auditivos, as vívidas alucinações visuais, na síndrome de Charles Bonnet, em pessoas com déficits visuais, e as desagradáveis alucinações olfativas em pessoas com hiposmia ou anosmia. 
· TEORIA DA DESORGANIZAÇÃO GLOBAL DO FUNCIONAMENTO CEREBRAL E MENTAL - Alterações globais e amplas do funcionamento cerebral produziriam a perda das inibições mais desenvolvidas filogeneticamente e complexas do ponto de vista funcional, permitindo a eclosão de circuitos em geral inibidos. 
A perda das inibições superiores favoreceria o surgimento de fenômenos patológicos, como as alucinações, as ilusões e outros automatismos mais simples e filogeneticamente mais antigos do sistema nervoso central (SNC). 
Além disso, haveria, nesse processo global de desorganização do cérebro, crescente indiferenciação entre o mundo e os perceptos internos e externos. As alucinações seriam tentativas de suplantar os déficits em estruturas mentais mais sofisticadas. 
· TEORIAS NEUROBIOQUÍMICAS - Diversas substâncias podem produzir alucinações em indivíduos sadios. 
Os mais importantes alucinógenos indólicos, agonistas da serotonina, são o LSD, a psilocibina, a harmina (presente na Ayahuasca), a dimetiltriptamina e a mescalina. As substâncias dopaminérgicas usadas rotineiramente na prática clínica e que produzem alucinações como efeito colateral são a levodopa e a bromocriptina (utilizadas na doença de Parkinson). De modo geral, as substâncias com ação anticolinérgica (atropínicas), quando usadas em doses altas, podem produzir alucinações. 
As alucinações induzidas por agentes serotonérgicos e dopaminérgicos geralmente aparecem com preservação do nível de consciência, ocorrendo alucinações claras e bem formadas. Já as alucinações por anticolinérgicos surgem associadas a quadro de rebaixamento do nível de consciência e confusão mental, e as alucinações são pouco precisas e de contornos pouco nítidos. Em função desses achados, postulase que a alucinação em indivíduos com transtornos mentais esteja relacionada possivelmente à hiperativação de circuitos serotonérgicos e/ou dopaminérgicos. 
As hipóteses glutamatérgicas e gabaérgicas para a gênese das alucinações formulam, entre outros aspectos, que as alucinações auditivas se iniciariam com uma hiperativação dos lobos temporais (sobretudo áreas relacionadas à linguagem), que geraria o foco atencional para processos mentais internos do indivíduo, não sendo tal processo refreado por hipoativação do lobo frontal. Haveria, assim, um desbalanço excitatório-inibitório mediado por disfunções em processos neuronais relacionados ao glutamato e ao GABA.
· TEORIA DA ALUCINAÇÃO COMO TRANSTORNO DA LINGUAGEM INTERNA - Nesse modelo, as alucinações auditivas verbais, as “vozes” que o alucinado ouve, são explicadas como pensamentos verbais do próprio paciente, que falsamente os percebe como de origem externa, como se fossem vozes de terceiros (e não o que seriam de fato, ou seja, vozes internas, pensamentos próprios). 
O processo patológico básico das alucinações residiria, então, na incapacidade do paciente de discriminar e monitorar suas próprias produções mentais, sua linguagem interna (inner speech), em contraposição às percepções vindas do meio externo. Essa postulação, apesar de baseada na teoria cognitivista, apresenta interessante semelhança com as concepções psicodinâmicas sobre a alucinação.
DIAGNÓSTICO:
· EXAME FÍSICO - sugere indícios de uma ou mais condições neurológicas, transtornos clínicos gerais, efeitos de medicação ou substância no SNC (ou sua abstinência) que possam estar implicados no quadro de alucinação. 
Um adulto jovem que apresente um quadro de agitação psicomotora, impressão subjetiva de estar sendo perseguido (persecutoriedade), hipertensão arterial e taquicardia pode estar apresentando um quadro psicótico agudo secundário ao uso de cocaína. 
Um idoso com achados sugestivos de doença de Parkinson ao exame físico, o qual estivesse de fato em uso de medicações antiparkinsonianas, poderia apresentar quadro alucinatório após aumento recente da dosagem daquela medicação. 
· EXAME MENTAL - compreende a avaliação das funções psíquicas: consciência, atenção, orientação, sensopercepção, memória, afeto, volição, psicomotricidade, pensamento, juízo, linguagem e inteligência. Entretanto, cabe destacar que as quatro primeiras funções constituem um grupo de especial interesse para se investigar causas neurológicas, clínicas e farmacológicas implicadas em sintomas psicóticos antes que se chegue ao diagnóstico diferencial de uma síndrome psicótica não associada à condição médica geral. 
Particularmente, a alteração do nível da consciência com possíveis oscilações dessa alteração ao longo do dia, a tendência à inversão do ciclo sono-vigília, a incapacidade de focar a atenção numa tarefa simples e a perda recente da capacidade de fornecer dados de sua orientação pessoal, acompanhando alucinação, indicam a necessidade de se descartar causas clínico-neurológicas que possam estar associadas à alteração comportamental. 
· EXAMES COMPLEMENTARES 
TRATAMENTO:
Existem várias opções de tratamento para a alucinação, mas o fator principal a ser analisado para definição do tratamento é a doença, condição ou transtorno que está a ocasionado. 
Sendo preciso tratar do fator de origem e da doença (se houver) que está proporcionando a ocorrência de alucinações.
A SENSOPERCEPÇÃO NOS PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS
· ESQUIZOFRENIA - apresenta grande riqueza alucinatória, especialmente na forma paranoide. Predominam as alucinações cenestésicas e auditivas. As alucinações visuais são raras. As pseudoalucinações parecem ser mais frequentes que as alucinações verdadeiras, mas, na prática, a distinção pode ser difícil.
A sonorização do pensamento, vozes que dialogam entre si, vozes que tecem comentários sobre o comportamento do doente e sensações corporais (cenestésicas) impostas foram os sintomas sensoperceptivos incluídos por K. Schneider entre os de primeira ordem para o diagnóstico de esquizofrenia. Os quadros apático-abúlicos cursam com hipoestesia.
· TRANSTORNOS DO HUMOR - podem ocorrer hiperestesia (na mania) ou hipoestesia (na depressão) e ilusões catatímicas. Nos quadros afetivos com sintomas psicóticos, as alucinações auditivas são as mais frequentes.
· DELIRIUM - predominam as ilusões e alucinações visuais, sendo difícil, na prática, diferenciar umas das outras. Alucinações auditivas e táteis não são raras. Na conceituação de Jaspers, seriam na verdade pseudoalucinações, em função da perda da lucidez de consciência. Pode haver hipoestesia, micropsia, macropsia e dismegalopsia. No delirium tremens, são comuns as zoopsias (visões de pequenos animais) e as alucinações liliputianas, além de alucinações táteis.
· ALUCINOSE ALCOÓLICA - predominam as alucinações auditivas, que possuem as características de uma alucinação verdadeira, e não de alucinose.
· INTOXICAÇÃO POR ALUCINÓGENOS - Durante o uso de mescalina, LSD etc., ocorrem hiperestesia, micropsia, macropsia e sinestesia. As alucinações são basicamente visuais, com um conteúdo muitas vezes de formas geométricas. Essas vivências alucinatórias poderiam ser classificadas como alucinoses, em função da preservação da crítica.
· EPILEPSIA - Nas crises parciais, como na aura epiléptica, podem ocorrer alucinoses. Nas crises parciais complexas, em que há estreitamento da consciência, muitas vezes são vivenciadas pseudoalucinações.
· DEMÊNCIA - A demência cortical pode cursar com agnosia.
· TRANSTORNO CONVERSIVO E TRANSTORNOS DISSOCIATIVOS – 
Nos quadros conversivos, podem ocorrer hiperestesia, anestesia e alucinações negativas. 
Já nos quadros dissociativos, podem ser encontradas pseudoalucinações. Nestas costumam estar combinadas mais de uma modalidade sensorial ao mesmo tempo. Por exemplo, o paciente “vê” uma pessoa que na verdade não está presente e ainda “ouve” a voz dela.
Na histeria de conversão, podem ocorrer hiperestesia, anestesia e alucinações negativas.

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