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Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751 1 A FORMAÇÃO DE NOVOS SINAIS EM LIBRAS A PARTIR DO PARÂMETRO FONOLÓGICO “PONTO DE ARTICULAÇÃO” Josiane Junia FACUNDO 1 RESUMO: O ponto de articulação (ou locação) é definido como um dos parâmetros principais que constituem um sinal, nas línguas espaço- visuais. O fenômeno de formação de novos sinais, nas diferentes línguas de sinais tem sido objeto de estudos da linguística moderna, desde os estudos pioneiros de Stokoe (1957). Este artigo pretende apresentar critérios de formação de novos sinais em Libras, em especial o uso do parâmetro fonológico “ponto de articulação”como constituinte de base lexical para a criação desses sinais. As bases teóricas partem de pesquisas já realizadas na área sobre processos de formação de palavras (sinais) por meio de outros parâmetros fonológicos. As análises são precedidas de definições científicas relacionadas a processos de formação de palavras, destacando o fenômeno de derivação de modo geral, incluindo-se a definição para as línguas orais, e de modo restrito, para as línguas de sinais. Por fim, apresenta a análise do corpus, constituído por alguns sinais que evidenciam o processo de formação a partir do ponto de articulação. PALAVRAS CHAVE: Libras; Formação de sinais; Ponto de articulação. RESUMEN: El lugar de articulación (o lugares simétricos) se define como uno de los principales parámetros que constituyen una señal em las lenguas visual-espacial. El fenómeno de la formación de nuevas señales en distintas lenguas de signos ha sido objeto de estudios de la lingüística moderna, desde los estudios pioneros de Stokoe (1957). Este artículo presenta los criterios para la formación de nuevas señales en Libras, en particular el uso del parámetro fonológico “toponema” como componente léxico básico para la creación de estas señales. Las bases teóricas tienen su origen en estudios previos en el área de procesos de formación de palabras (señales) a través de otros parámetros fonológicos. Los análisis están precedidos por las definiciones científicas relacionadas con los procesos de formación de palabras, destacando el fenómeno de la deriva general, incluyendo la definición de las lenguas orales, y estrechamente a las lenguas de signos. Finalmente, se presenta el análisis del corpus, que comprende las señales que muestran el proceso de formación desde el punto de articulación. PALABRAS CLAVE: Libras, Formación de señales, Toponema. 1 Introdução Desde muito cedo a origem das palavras, bem como a relação que se estabelece entre os vocábulos de uma língua, estiveram presentes nas especulações linguísticas, sob a ótica da filosofia. Uma das questões que permearam os estudos acerca das palavras na 1 Mestre em Educação(UEL), Docente da Universidade Norte do Paraná, josiane.almeida@yahoo.com.br. mailto:josiane.almeida@yahoo.com.br Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751 2 língua foi a da regularidade entre termos, gerando controvérsias entre naturalistas e convencionalistas. Tal discussão se fez presente com bastante efervescência no século II a.C. e atravessou os séculos. Alguns estudos reforçaram o princípio de regularidade nas línguas por meio de mudanças fonéticas regulares, sendo que algumas exceções foram justificadas por empréstimos feitos a línguas de parentesco ou a um dialeto. O empréstimo linguístico é um dos recursos para formação de novas palavras, no entanto, a maioria dos recursos que atuam nesses processos são internos ao sistema. Com as línguas de sinais ocorrem os mesmos processos, visto que são guiadas por universais linguísticos para sua constituição, de outro modo, não seriam consideradas como língua, nem tampouco reconhecidas legalmente como tais, em diversos países. As pesquisas em línguas de sinais modernas iniciaram-se no século passado, mais precisamente em meados da década de 50 e suas publicações na década seguinte. O precursor desses estudos foi William C. Stokoe, que com a contribuição de dois amigos surdos da Gallaudet Univerity compilaram o primeiro dicionário de Língua de Sina is Americana (ASL). Por meio de análises linguísticas, Stokoe comprovou que a língua dos sinais apresentava características próprias de uma língua genuína, em relação à sua estrutura gramatical. Ao segmentar a língua para analisar suas partes constituintes, percebeu três partes independentes que davam origem a um sinal – a configuração de mãos, a locação e o movimento. As pesquisas de Stokoe e sua equipe contribuíram para novos olhares e direcionamentos no estudo das línguas de sinais. No Brasil, há poucos estudos relacionados ao léxico da Libras, tendo em vista que seu registro, até início da década de 1990, se restringia aos dicionários com ilustrações em desenhos ou fotos dos sinais, raros no país. A primeira publicação dessa natureza que se tem notícia, considerada como o documento mais importante encontrado até hoje sobre a Língua Brasileira de Sinais), é o “Iconographia dos Signaes dos Surdos-Mudos (1873), de autoria de Flausino José da Gama, um aluno surdo do Instituto Nacional de Surdos-Mudos (INSM). Trata-se de um livro de língua de sinais com ilustrações de sinais separados por categorias (animais, objetos, etc). Ramos (2003) observa que, de acordo com o que está impresso no prefácio do livro, a inspiração para o trabalho veio de um livro publicado na França e que se encontrava à disposição dos alunos na Biblioteca do instituto (atual INES). Embora já exista a possibilidade de registrar os sinais dessa língua por meio da escrita de sinais (sign writing) 2 atualmente, as análises lexicais têm se utilizado do modelo mais arcaico, devido ao desconhecimento dessa forma de representação escrita, o que dificultaria o entendimento das descrições. Um dos trabalhos mais elaborados de registro do léxico da Libras são os dicionários organizados por Fernando César Capovilla (2001; 2002; 2004; 2006; 2009; 2010; 2012), que contou com vários colaboradores de diversas partes do Brasil para sua composição (CAPOVILLA e RAPHAEL,2001). Outras produções (as mais comuns) partem de iniciativas independentes, de organizações públicas como Secretarias de Educação, instituições particulares de ensino que ofertam cursos de Libras e outras. 2 A Escrita de Sinais é um sistema gráfico de representação das línguas de sinais por meio do qual é possível descrever cada sinal a partir de seus parâmetros fonológicos. Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751 3 Essas obras são de grande riqueza, independentemente de seu reconhecimento no meio científico porque contém registros de sinais da Libras, utilizados por surdos de todo o país, ainda que representem sinais regionais, uma vez que, se comparados, são valiosos instrumentos de pesquisa linguística. Foi com base nesses materiais que essa pesquisa se fez possível, embora tenhamos conhecimento de fenômenos da língua, uma vez que estão presentes em nosso cotidiano e passam por nossas lentes de pesquisadores. Todavia, não é suficiente- necessitamos de algo palpável para que os pressupostos adquiram caráter científico. O corpus desse trabalho é constituído por sinais retirados do Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue de Capovilla e Raphael (2001); do material produzido pela Secretaria de Estadoda Educação do Paraná, intitulado “Falando com as mãos” (1998); do material didático produzido pelo Programa Nacional de Apoio à Educação de Surdos (PNAES,2001), do Ministério da Educação (MEC), com o título “Libras em contexto”; do dicionário “Aprenda LIBRAS com eficiência e rapidez”, de Maia e Veloso (2009) e imagens do Prolibras -2009, disponíveis no youtube. A forma de representação das Configurações de Mãos (CM), entre colchetes [] e os símbolos para se referirem a elas foram baseados na tabela de CM de Ferreira-Brito e Langevin (1995). 2 Processos de formação de palavras e sinais As línguas faladas e sinalizadas são constituídas por elementos lexicais, providos de semantemas, e, conforme a presença da língua em meio sociolinguístico, existirá a capacidade de ampliação do léxico, enriquecendo o vocabulário dessa língua. Assim, se a língua é viva numa comunidade linguística, será dinâmica, sofrendo modificações constantes no decorrer do tempo, considerando que as mudanças linguísticas são um processo natural. Um dos processos internos, responsáveis pela formação ou modificação de palavras nas línguas é a analogia. O princípio analógico parte do pressuposto de que o sistema busca uniformizar a linguagem seguindo parâmetros fonológicos, morfológicos, sintáticos e semânticos. De acordo com Bréal (1987) a analogia está relacionada ao próprio instinto imitativo do homem. Embora houvesse resistências pelos Neogramáticos à formação de alguns vocábulos novos, oriundos de fenômenos analógicos, considerados pelos mesmos como “falsas analogias”; as quais deveriam ser corrigidas nos falantes (Lyons, 1979); hoje, reconhecemos que as línguas vivas nunca deixam de ser produtivas, contando com fenômenos diversos na incorporação de neologismos. A mente humana possui mecanismos de organização para informações novas, excluindo da memória informações menos úteis, retendo as mais importantes. Basílio (2009, p. 10-11) explica que, por a língua constituir-se em um sistema de comunicação, não cabe ao léxico expandir-se de tal forma a exigir dos falantes a memorização de todos os símbolos, visto que, desse modo, a memória ficaria sobrecarregada, impedindo a comunicação automática. Desse modo, refere-se ao processo de produção de novas palavras como um esquema geral de reciclagem em que o sistema se torna mais eficiente quando utilizamos fragmentos de material para novas construções. Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751 4 Os recursos mais atuantes na produção de novas palavras são a derivação e a composição. Existem outros recursos, mas, com baixa produtividade, como a reduplicação, a abreviação e a lexicalização de siglas e onomatopeias (Carone,1986). A composição é um processo que resulta na junção de dois termos independentes originando uma palavra. Para Borba (1991, p.271), “O sentimento da unidade pode resultar simplesmente do fato de que os componentes são habitualmente agrupados no uso comum. O vocábulo é composto quando duas ideias se unem para formar uma terceira que deve ter forma gráfica também fundida”. Carone (1986) explica que a composição é realizada com no mínimo duas palavras portadoras de radical, sendo que estas podem conservar sua identidade como vocábulos fonológicos, o que se conhece por justaposição ou pode ocorrer a incorporação de uma palavra em outra, caracterizando o processo de aglutinação. A autora elucida que: [...] justaposição e aglutinação não são duas formas diferentes de composição, mas dois estágios de um mesmo processo. Um composto pode formar-se já aglutinado, como é o caso de vogal átona final suprimida diante da vogal inicial de outra palavra: plan(o)alto, agu(a)ardente. Nem sempre, porém. Ainda assim hesita entre as formas hidroelétrico e hidrelétrico, ambas dicionarizadas. (CARONE, 1986, p.37, grifo do autor). Se nas línguas orais é comum encontrarmos palavras compostas, na língua de sinais não seria diferente. Mais uma prova de que a Libras possui mecanismos semelhantes à língua portuguesa para expandir-se lexicalmente e manter seu status linguístico, é a existência de sinais compostos, que podem coincidir ou não com palavras compostas da língua portuguesa. Para nos situarmos melhor, exemplificaremos três casos de compostos, que podem ocorrer na língua portuguesa e não ocorrer em Libras e vice-versa ou que podem ocorrer em ambas; são os seguintes: a) em casos de palavras da língua portuguesa como guarda- chuva, por exemplo; enquanto na língua portuguesa são formadas por dois vocábulos, na Libras equivale a um único sinal; b) a palavra anticoncepcional, em língua portuguesa forma um vocábulo único, enquanto na Libras são necessários três sinais (PÍLULA^EVITAR^GRAVIDEZ); c) as palavras ou sinais couve-flor e batata-doce são compostos em ambas as línguas. Liddel (1984, apud Quadros e Karnopp, 2004), realizou pesquisas com sinais compostos da Língua de Sinais Americana (ASL) e identificou três regras no processo de criação desses compostos, sendo a regra do contato, da sequência única e da antecipação da mão dominante. No entanto não entraremos em detalhes acerca dessas regras, visto que nosso foco está no processo de derivação, do qual nos ocuparemos a seguir. A derivação ocorre quando há formação de uma palavra a partir de uma raiz ou de outra palavra já existente na língua. Segundo Borba (1991) a derivação é meio mais frutífero de formação de palavras. Há, normalmente, a adição de sufixos à raiz ou radical. Os sufixos podem ser caracterizados pela significação externa, contudo possui valor conceitual, que se manifesta no processo de derivação. A derivação é, também, responsável pelo enriquecimento da língua, visto que é por meio desse processo que se originam famílias de palavras (Borba, 1991; Carone,1986), consequentemente, ampliando o léxico. Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751 5 Borba (1991) traz a classificação dos derivados, que, segundo o autor, podem ser primários ou secundários, progressivos ou regressivos. Conceitua e exemplifica: a) PRIMÁRIOS- raiz+ sufixo. Ex.: jogo- jogador; esp. carta- cartera. b) SECUNDÁRIOS- palavra derivada+ sufixo. Ex.: port. ferrugem- ferruginoso; esp. villa> villanó> villanía. c) PROGRESSIVOS- quando há adição de sufixos. Ex.: port. cavalo- cavaleiro; esp. caballo- caballero; fr. cheval- chevalier; it. cavallo- cavaliere; ingl. friend- friendship; al. Friede –friedlich (pacífico), trennen- trennbar (separável). d) REGRESSIVOS- pela supressão de sufixos. São mais raros. Ex.: port.- aço< aceiro (<lat.aciariu-), legislar< legislador; esp.-asco< asqueroso, dérmis< epidermis; fr.- appel <appeler; it. – baccano < bacchanal. (BORBA, 1991, P.275). A derivação, contudo, não se restringe ao acréscimo de sufixos, visto que existe a chamada derivação prefixal, em que se acrescentam formas presas que precedem o lexema. De acordo com Cunha e Cintra (2007, p.96), “os prefixos são mais independentes que os SUFIXOS, pois se originam, em geral, de advérbios ou de preposições que têm ou tiveram vida autônoma na língua.” Para Carone (1986, p.39) “o emprego de afixos é uma decisão do falante: ele quer usar aquela palavra derivada, que lhe convém para exprimir seu pensamento”. Um dos processos derivacionais corresponde à produção de vocábulos de uma classe gramatical a partir de vocábulos de outra classe gramatical. Como exemplos da língua portuguesa temos a formação de substantivos a partir de adjetivos como infantil/infantilidade; de advérbios a partir de adjetivos como comum/comumente; de adjetivos a partir de substantivos,como festa/festeiro; de verbos a partir de substantivos como escova/escovar, pente/pentear, etc. Quadros e Karnopp (2004, p.97) analisam processos de formação de sinais a partir da derivação entre nomes e verbos, como no exemplo das figuras A e B, a seguir: Figura A Figura B As análises de Quadros e Karnopp demonstram um processo relativamente comum no que diz respeito à formação de novas palavras/sinais- a mudança de classe. Basílio (2004) apresenta dois motivos principais para a mudança de classe, os quais se justificam pela dupla função do léxico de designar entidades fornecendo elementos de base à construção de enunciados: Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751 6 Um deles é a necessidade de usar palavras de uma classe em estruturas gramaticais que exigem palavras de outra; o segundo é a necessidade de aproveitar conceitos ocorrentes em palavras de uma classe em palavras de outra classe. O primeiro caso corresponde à motivação gramatical, o segundo à motivação semântica.(BASÍLIO, 2004, p.28) O outro caso se refere ao que Basílio (2004) chama de “nomes de agente” que corresponde a substantivos que designam um ser de acordo com uma atividade, a qual o verbo especifica. Os exemplos dados pela autora são: jogador (devido à atividade de jogar); varredor (pela atividade de varrer), entre outros. Essa relação é concebida como motivação semântica pela autora e facilitam a produzir novas palavras, visto que as propriedades do sufixo formador já estão previamente no léxico. Esses processos derivacionais ocorrem também na Libras, inclusive esse último, mas de forma bastante peculiar. 3 O Ponto de Articulação como critério de formação de sinais em Libras O ponto de articulação é considerado como um parâmetro fonológico, que combinado com outros dá origem a sinais da Libras. Esse parâmetro está entre os três parâmetros principais, sendo que os outros dois correspondem à Configuração de Mãos (CM) e o Movimento (M). A configuração de mãos se refere à forma que a mão assume durante a realização de um sinal Os exemplos de Quadros e Karnopp (figuras A e B), anteriormente, evidenciam a formação de pares mínimos que se opõem apenas quanto ao movimento, coincidindo-se na configuração de mão e no ponto de articulação. As autoras consideram que a formação de sinais novos podem derivar de formas já existentes. Mantem-se, neste caso alguns parâmetros fonológicos, alterando apenas um. No corpus a seguir apresentamos sinais relacionados à educação, visto que muitos deles passaram a ser utilizados com mais frequência a partir da década de 90, e ainda assim alguns podem ser considerados neologismos. É do conhecimento de pessoas surdas sinalizantes de Libras que o sinal de PROFESSOR sofreu mudanças no decorrer do tempo. Mas, o que importa é o sinal atual que tem motivado a criação de outros sinais relacionados a profissionais do contexto educativo. Um exemplo claro são os sinais de INSTRUTOR e MONITOR. O sinal de INSTRUTOR, em especial, vem sendo utilizado com bastante frequência para designar o profissional que ministra cursos de Libras, antes de ser considerado “professor de Libras”. O que difere esses dois profissionais, atualmente, é o grau de instrução. Nas figuras 1, 2 e 3, pode-se observar o sinal de PROFESSOR, retirado de fontes distintas: Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751 7 Figura 1(CAPOVILLA,2001) Figura 2(PNAES-MEC,2001) Figura 3(SEED-PR, 1998) Embora as formas de ilustrá-lo sejam diferentes, o sinal é o mesmo, podendo sofrer variações na prática, de sinalizante a sinalizante, em relação ao movimento, o que seria análogo às variantes alofônicas. Os sinais que se seguem nas ilustrações 4 e 5, se referem respectivamente aos sinais de INSTRUTOR e MONITOR em Libras. Figura 4 (CAPOVILLA,2001) Figura 5(SEED-PR, 1998) As figuras 4 e 5 demonstram, claramente a proximidade entre si, no que diz respeito ao movimento (M) e a coincidência no ponto de articulação (PA) entre o sinal de PROFESSOR, (figuras 1,2 e 3); o sinal de INSTRUTOR (figura 4) e o sinal de MONITOR (figura 5). O sinal utilizado em Libras para CURSO também teria motivado a criação do sinal PEDAGOGIA, sendo o segundo derivado do primeiro, uma vez que o primeiro é de uso mais geral. Nesse caso observa-se novamente o ponto de articulação como critério análogo para o surgimento do sinal PEDAGOGIA. Utiliza-se movimentos semelhantes, com configurações diferentes [c] e [k], no dorso da mão de base. Figura 6 (CAPOVILLA,2001) Figura 7 (CAPOVILLA,2001) Para demonstrar a atuação ponto de articulação em questão (braço) como constituinte de base lexical para a formação de novos sinais, analisaremos sinais criados no Estado do Paraná para designar órgãos públicos de Educação. É importante considerar as variantes regionais em relação ao ponto de articulação para os sinais PEDAGOGIA e CURSO. Os sinais da enciclopédia de Capovilla (2001) foram coletados em Estados diferentes. Tomando como parâmetro o Estado do Paraná, temos o dicionário da SEED (1998), que expressa a forma mais utilizada no Estado. Tanto o sinal CURSO quanto o sinal PEDAGOGIA são realizados desde o início do braço, deslizando até o final do antebraço. Nos sinais utilizados na região do Paraná para designar sinais relacionados à Educação é evidente a criação de sinais por analogia a outros já existentes no mesmo campo semântico. Pode-se verificar certa regularidade entre os sinais EDUCAÇÃO, CURSO, PEDAGOGIA, DEE (Departamento de Educação Especial) e MAGISTÉRIO. Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751 8 Todos esses sinais utilizam o mesmo Movimento e o mesmo Ponto de Articulação, distinguindo-se apenas na Configuração de Mãos. As figuras a seguir se referem aos sinais CURSO (figura8), realizado com a Configuração de Mão[C]; SECRETARIA^DE^ EDUCAÇÃO (figura 9)sendo o sinal EDUCAÇÃO realizado com a Configuração de Mão[L]; DEE (figura 10), realizado com as configurações[Gd] e [E] e MAGISTÉRIO (figura 11) , com a configuração [W]. Figura8(SEED-PR,1998) Figura9(SEED-PR,1998) Figura10(SEED-PR,1998) Figura11(MAIA;VELOSO,2009) A figura 8 representa um sinal composto (Secretaria de Educação), utilizando o sinal EDUCAÇÃO, que não diz respeito exatamente à educação escolar, mas que é mais utilizado para qualificar um sujeito com as atribuições “educado”, “honesto”, “comportado”, entre outras, dependendo do contexto. Contudo, esse sinal, por ser uma polissemia da Língua Portuguesa, foi introduzido na língua de sinais da mesma forma, na década de 90. Atualmente, para se referir a Educação escolar, utiliza-se o sinal ENSINAR, mas muitos sinais do campo educacional, como se pode observar, foram criados a partir da forma primitiva utilizada para Educação. Os sinais PEDAGOGIA, CURSO, DEE, MAGISTÉRIO, seguem o seguinte parâmetro: Configuração relacionada à letra inicial em português, movimento retilíneo, com início no braço e término no antebraço. Poderíamos acrescentar a esse grupo de sinais, ainda, o sinal ESTÁGIO, utilizado em regiões do Paraná, porém, por ausência de registro não foi possível ilustrá-los. Os processos analógicos que motivam essas formações em Libras, talvez possam ser melhor compreendidas secomparadas a processos semelhantes da língua portuguesa. Sendo assim, tomemos como exemplo, algumas formações do campo educacional na língua portuguesa. O vocábulo “Educação” tem sido muito utilizado para referir-se à educação formal, institucionalizada. O morfema lexical “educa” em LP deu origem a outras, também recentes, se considerarmos o vocábulo “educação” como o termo primitivo que motivou tais formações. Trata-se de palavras como “Educador”, “Educando” e “Educandário”. Se comparados aos sinais da Libras derivados da mesma base (ou morfema lexical), constituída pelo ponto de articulação “braço” acompanhado do movimento “retilíneo” também tem-se sinais de uma mesma classe gramatical (CURSO, PEDAGOGIA, MAGISTÉRIO, DEE). Em especial pode-se comparar as formações “Educandário” ( em LP) e “DEE” (em Libras), visto que ambas se referem à locais específicos relacionados à Educação. Para finalizar essa análise, será apresentado um neologismo na língua de sinais- o sinal ALUNO. Este sinal era representado pelos sinais PESSOA^ESTUDAR, pela soletração A-L-U-N-O, ou mesmo pela soletração rítmica, representada pelas configurações [A],[3],[O]. Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751 9 Por se tratar de um neologismo, houve a dificuldade de encontrar nos dicionários de Libras que utilizamos neste corpus o sinal ALUNO, salvo o dicionário de Veloso e Maia (2009). Desse modo, recorreu-se a vídeos mais atuais disponíveis no youtube. Optou-se por vídeos do Prolibras, Exame Nacional de Proficiência em Libras, promovido pelo Ministério da Educação (MEC) em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), por se tratar de instrumento reconhecido, o que dá legitimidade ao sinal analisado, visto que o Prolibras é destinado a pessoas surdas e ouvintes de todas as regiões brasileiras, fluentes em Libras. Além do mais observou-se a ocorrência do neologismo ALUNO mais de uma vez, nas questões 10 e 13 do exame. A figura 11, a seguir, mostra a representação do sinal ALUNO, em 1998, quando era ainda representada por sinal composto (PESSOA^ESTUDAR). Figura 12(SEED-PR, 1998) A figura 13, traz o sinal relacionado a séries escolares, do qual teria dado origem ao neologismo ALUNO, demonstrado nas figuras 14 e 15. Figura 13(SEED-PR, 1998) Figura 14(PROLIBRAS-2009)3 Figura 15(VELOSO; MAIA, 2009) Como se pode observar, o sinal para designar aluno, utilizado atualmente é realizado no braço, próximo ao ombro, com a configuração de mão [A], que por sua vez coincide com a letra inicial do vocábulo “aluno” em português. Não apenas o sinal ALUNO, como muitos outros apresentados neste trabalho, utilizam o empréstimo linguístico da língua portuguesa, referente à utilização da configuração da mão com a letra do alfabeto manual correspondente à inicial da palavra em português. No entanto, o Ponto de Articulação (braço) com movimento repetido, é mais uma vez formador de base lexical para a criação do neologismo ALUNO, tendo como base analógica os sinais relacionados às séries escolares. 4 Considerações Finais 3 Ver : http://www.youtube.com/watch?v=Cp0shj-6sCg http://www.youtube.com/watch?v=sxA_QSSHXAc http://www.youtube.com/watch?v=Cp0shj-6sCg http://www.youtube.com/watch?v=sxA_QSSHXAc Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751 10 Buscou-se neste artigo demonstrar que a Língua Brasileira de Sinais, assim como a língua portuguesa e outras, seja de modalidade oral-auditiva ou espaço-visual, possui mecanismos semelhantes de produção de novos léxicos. Verificou-se que muitos sinais são formados por analogia a outros do mesmo campo semântico e que o critério Ponto de Articulação, neste caso é muito produtivo, embora muitos sinais coincidam também no movimento. Foi possível observar que um mesmo sinal pode sofrer variações em relação ao Ponto de Articulação, dependendo das variantes regionais. No entanto, considerando a região em que é produzido fica evidente a regularidade entre os sinais derivados da forma mais primitiva na mesma localidade. O corpus utilizado partiu de sinais do campo semântico relacionado à educação, visto que é uma área que vem sendo amplamente explorada por profissionais surdos, o que motiva a criação de muitos sinais, ou seja, rica em neologismos. Por não haver grande empenho no que diz respeito à produção científica relacionada ao léxico da Libras, partiu-se de conceituações mais gerais, que abrangem as línguas orais também. Espera-se que esta produção motive a análise de outros neologismos de campos semânticos ainda não explorados. Referências BASILIO, Margarida. Formação e Classes de Palavras no Português do Brasil. São Paulo: Contexto, 2009. BORBA, F.S. Introdução aos estudos lingüísticos. Campinas: Pontes, 1991. BRÉAL, M. Ensaio de Semântica. São Paulo: Pontes/Educ, 1992 [1ª ed.1987] CAPOVILLA, F. C.; RAPHAEL, W. D. Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue da Língua de Sinais Brasileira. São Paulo, SP: EDUSP, 2009. v. 1. CARONE, F. B. Morfossintaxe. São Paulo: Ática, 1986. CUNHA, C.; CINTRA, L. Nova gramática do Português contemporâneo. RJ: Lexikon, 2007. FELIPE, T. A. MONTEIRO, M. S. LIBRAS em Contexto: Curso Básico. Livro do professor/instrutor. Programa Nacional de Apoio à Educação dos Surdos. Brasília: MEC/SEE, 2001. FERREIRA-BRITO, L.; LANGEVIN, R. Sistema Ferreira Brito-Langevin de Transcrição de Sinais. In: Por uma Gramática de Língua de Sinais. Tempo Brasileiro UFRJ. Rio de Janeiro,1995. LYONS, J. Introdução à Lingüística Teórica. São Paulo: Ed. Nacional/Ed. da USP. 1979. QUADROS, R. M.; KARNOPP, L. B. Língua de sinais brasileira: estudos lingüísticos. 1ª. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2004. RAMOS, C. R. LIBRAS: A Língua dos Sinais dos Surdos Brasileiros. E-BOOKS, 2003. STROBEL, K. L. et all. Falando com as mãos. Curitiba: Secretaria de estado de Educação. 1998. VELOSO, E.; MAIA, V. Aprenda LIBRAS com eficiência e rapidez. Curitiba: Mãos Sinais, 2009.
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