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DESIGN THINKING E INOVAÇÃO DOS MODELOS DE NEGÓCIO UNIDADE 4 - Aula 4 TÓPICOS ESPECIAIS SOBRE INOVAÇÃO • Cadeia de valor da inovação. • Gestão de talentos, ladder de carreira e performance (follow-up orientado a resultados). • Estudo sobre o mercado de trabalho brasileiro e as diferentes gerações. INTRODUÇÃO A cadeia de valor da inovação é composta por três grandes etapas: geração de ideias, conversão de ideias e difusão. Para fomentar a inovação, portanto, a empresa deve assegurar o funcionamento de todas as etapas. Para isso, há ferramentas e boas práticas para capturar ideias e elencá-las em backlog, como também existem metodologias que impulsionam a conversão de difusão dessas ideias, após experimentos, testes e implementações. A gestão de pessoas e processos em meio a essa cadeia é de suma importância para garantir o seu sucesso. Identificar diferentes perfis e competências para alocação estratégica de pessoas em diferentes projetos e escopos é uma das principais atribuições da liderança. Nesta aula, você entenderá a relação entre todos os pontos mencionados acima e poderá enxergá-los em sua própria experiência profissional. Vamos lá? ENTENDA O QUE É CADEIA DE VALOR DA INOVAÇÃO Na prática, a inovação pode ser de produto, de processo, modelos de negócio ou de marketing (OECD, 2005). Ou seja, novas formas de apresentar qualquer proposta dentro dessas quatro esferas referem-se a uma inovação. No tocante a negócios, a viabilidade, a escalabilidade e o valor entregue também contribuem para a noção de inovação dentro do contexto tecnológico atual (JARVIS, 2010). A proposta deve, portanto, ser viável, resolver um problema real e, para ser considerada uma startup, deve apresentar a capacidade de ser escalável. Além disso, a inovação depende de pessoas, processos e recursos. A primeira refere-se à especialização e diversidade, bem como à tolerância ao erro arraigada na cultura da empresa. A segunda já diz respeito ao tempo alocado em inovações (incremental e disruptiva) e à capacidade de tracionar sinergias. A terceira, por sua vez, representa o recurso financeiro disponível e a resiliência das pessoas de se fazer o melhor com o que há disponível. A cadeia de valor da inovação, na concepção de Hansen e Birkinshaw (2007), é composta por três etapas: geração de ideias, conversão das ideias (aplicação em produtos, serviços, processos, modelos de negócio ou marketing) e, por fim, difusão. O fracasso da cadeia de inovação pode se dar em qualquer das etapas mencionadas acima. No caso da Sony (década de 1990), por exemplo, a empresa já contava com um alto volume de ideias geradas todos os meses. Mas a liderança constatou que pouco era feito em termos de inovação e, por isso, passou a promover sessões de brainstorming, o que aumentou mais ainda o rol de ideias geradas. No entanto, perceba que devido à negligência da alta administração em reconhecer o gargalo na etapa de convergência de ideias e promover a já operante etapa de geração de ideias, acabou frustrando os colaboradores que começaram a esbarrar em falta de orçamento e alta competição interna (SUROWIECKI, 2005). Perceba que não adianta capturar feedbacks dos clientes e fomentar ideias da equipe sem ter a capacidade de processar esse conhecimento e transformá-lo em resultados de alto impacto, sejam eles produtos, serviços, formas de comunicar diferente ou mesmo para encorajar pivotar o negócio. Para que a empresa não caia nesse tipo de armadilha, é de suma importância que a estratégia e o posicionamento do negócio sejam bem comunicados a todos. Com isso, as pessoas podem compartilhar a mesma visão e tracionar esforços no mesmo sentido. Uma das metodologias mais utilizadas para garantir isso é o OKR. Objectives and Key Results (OKR) significa, do inglês, objetivos e resultados-chave. Trata-se de um framework dedicado à definição e ao acompanhamento de metas atreladas a objetivos. O OKR pode tanto ser estratégico como também tático. Geralmente possuem, no primeiro caso, um ano de duração, enquanto no segundo caso acumula três meses de acompanhamento para atingimento do objetivo previamente fixado. Grandes empresas utilizam a metodologia OKR para apoiar os seus processos, a exemplo: Intel, Google, LinkedIn, GoPro, Twitter e Dropbox. A metodologia atrai cada vez mais adeptos por conta da simplicidade na aplicação e visibilidade que traz para o trabalho realizado. Voltando para as etapas da cadeia de valor da inovação, a etapa de conversão pode ser empreendida sob a perspectiva lean de atuação. Segundo o 13º Annual State Of Agile Report, a metodologia ágil mais utilizada em todo o mundo é a Scrum. Essa metodologia traz diversos ritos que garantem o giro mais rápido entre as fases de concepção- construção-testagem-adoção. O QUE O CONCEITO DE CADEIA DE INOVAÇÃO TEM A VER COM VOCÊ? "Quando as pessoas descobrem seus talentos e paixões, elas descobrem sua verdadeira energia criativa e concretizam seu potencial", escreveu Ken Robinson em seu livro Somos todos criativos (2019, p. 141). Essa descoberta, no entanto, depende do investimento em tempo e energia em prol do autoconhecimento e da experimentação, individualmente. Na mesma esteira, Marty Neumeier identificou que existem diferentes tipos de trabalho, a saber: • Criativo: único, imaginativo, não rotineiro e autônomo. • Especializado: padronizado, voltado para o talento, profissional e dirigido. • Rotineiro: intercambiável, rotinizado, terceirizável e gerenciado. • Robótico: algorítmico, informatizado, eficiente e comprado. Os dois primeiros tipos são intelectuais, enquanto o rotineiro e robótico são passíveis de automação via emprego da tecnologia. O processo de contratação e desenvolvimento de competências dentro da organização deve levar em conta tais perfis, promovendo a gestão de talentos para que o turnover seja mitigado. “Um dos indicadores de desempenho empresarial, talvez o mais importante no atual contexto de mercado, é sua capacidade de atrair, desenvolver e reter pessoas talentosas” (GRAMIGNA, 2007, p. 14). E para realizar a manutenção da relação empresa-talento, a gestão de pessoas precisa considerar a jornada do colaborador, desde o processo seletivo até o desligamento. Isso exige a formatação clara e explícita do ladder de carreira, definindo parâmetros, métricas e resultados que pautam a ascensão de cargos dentro da empresa, fornecendo clareza sobre o plano de desenvolvimento individual que a pessoa deve percorrer para atingir seus objetivos profissionais. Para a liderança, gerir competências também é uma forma de promover a valorização das pessoas da equipe. À medida que cada pessoa do time é alocada para exercer um escopo e projetos aderentes ao seu perfil, competências e habilidades, há maior satisfação e, como consequência, maior retorno sobre o investimento, no caso, de capital intelectual. Não obstante, do ponto de vista individual, as pessoas são mais criativas quando a motivação é endógena ou motivadas intrinsecamente, ao invés de motivadas por avaliações, competição ou promessas de recompensa (AMABILE, 1997). Nesse ponto, vale ressaltar a importância de os valores organizacionais ressoarem com os individuais – é importante que você conheça sua estrutura de valores e ganhe familiaridade com a estrutura de valores da empresa em que trabalha. Para fomentar a criatividade, a organização precisa necessariamente contar com pessoas curiosas e criativas, capazes de enxergar as coisas sob um ângulo diferente do usual. É possível tanto contratar pessoas com esse perfil para oxigenar a cultura como também treinar o time existente para que a criatividade seja arraigada (TAVARES, 2020). Figura 1 | Técnicas de geração de ideias. Fonte: Tavares (2020). Brainstorming Brainwriting Fantasias dirigidas Lista de atributos a obtenção de alto volumede ideias, eliminando inicialmente o julgamento acerca de sua viabilidade. estimula o trabalho em equipe, elencando ideias por escrito para poder aprimorá- las. exercícios que envolvem trabalhos com o inconsciente e subconsciente, feitas muitas vezes em estado de relaxamento. instrumento no qual uma ideia é dissecada em partes menores para que os participantes a alterem. Pensamento lateral Metáforas Design Thinking associação de uma ideia outra sobre assuntos diversos, possibilitando a aplicação de um mesmo modo de pensar em situações diferentes. técnica que transporta uma ideia para outro contexto, estabelecendo comparações. sugere a incorporação de papis e a apresentação de ideias sobre determinado tema, as quais vão sendo avaliadas conforme sua evolução no processo. Lembre-se de que após gerar ideias, você deve submetê-las a um processo de screening, capaz de identificar aquelas que merecem ser testadas/experimentadas em busca de maior geração de valor e impacto para os clientes e o negócio. O papel da empresa é fornecer um ambiente com alta confiabilidade, autonomia, liberdade científica, intercâmbio entre equipes, riqueza e diversidade (TROTT, 2012). Agora, o seu papel enquanto profissional inovador é manter-se atualizado, curioso, crítico e autônomo para trazer ineditismo através das ideias. RELAÇÃO ENTRE PERFIL PESSOAL E O MERCADO DE TRABALHO Compartilhar o mesmo cenário (país, situação econômica, cultura, classe social) promove a formação de perfis específicos de pessoas. Ao longo dos anos, as variáveis mudam e os perfis também ficam diferentes. Essa informação é de suma importância para tanto entender o público que a empresa serve, como também subsidiar a gestão de talentos dentro das organizações. Na segunda esfera, não somente para quebrar preconceitos, como também para dirimir vieses inconscientes no processo de contratação. Além disso, à medida que a liderança tem clareza do que é importante para cada perfil, de diferentes gerações, as estratégias implementadas para motivar e engajar as pessoas podem ser mais efetivas. Figura 2 | Características das gerações X, Y e Z. Fonte: Colégios Marista (2019). Geração Baby Boomers – pessoas nascidas entre 1940 e 1960, que começam a se aposentar. Esse nome foi dado justamente pela explosão demográfica causada com o fim da Segunda Guerra Mundial. Geração X – Filhos dos Baby Boomers, a Geração X nasceu entre 1960 e 1980. A formação foi muito influenciada pela programação da televisão. São conhecidos por serem autossuficientes, por priorizar trabalhar com flexibilidade e criatividade, do que somente por dinheiro ou status, e buscam através do trabalho a realização dos desejos materiais e pessoais. Geração Y – Também chamados de Millennials (por nascerem próximo a mudança do milênio), a Geração Y cresceu em meio ao avanço econômico dos anos 1990 e é apontada como realista e por ter um interesse maior pela autonomia no trabalho. Geração Z – Esta geração nasceu usando a internet. É extremamente conectada, mais realista e tão exigente quanto geração anterior. Tem um grande senso de responsabilidade social e ambiental. A gestão por competências apresenta-se como uma estratégia para melhor gerir pessoas. A metodologia consiste em um conjunto de ferramentas, instrumentos e processos voltados para a gestão estratégica de pessoas (GRAMIGNA, 2007). O primeiro passo para implementar essa gestão é mapear as competências necessárias para executar a estratégia do negócio e, depois, identificar esses perfis de profissionais. Perceba que tais informações podem, inclusive, embasar o ladder de carreira em prol do desenvolvimento dos talentos, como também da perenidade dos negócios – uma vez que essa depende diretamente da aplicação dos conhecimentos dos profissionais internos que fazem a ponte com o mercado e outros agentes do ecossistema de inovação. Não obstante, uma das atribuições da liderança é garantir um ambiente mais diverso e inclusivo. Para isso, as expectativas devem ser gerenciadas e as diferentes opiniões, respeitadas. Tal aspecto figura entre as práticas recomendadas pela agenda ESG. ESG é uma sigla em inglês que significa environmental, social and governance e corresponde às práticas ambientais, sociais e de governança de uma organização. Mas, por que isso é importante? 57% dos ativos de fundos mútuos na Europa estarão, até 2025, em fundos que consideram os critérios ESG. Esse montante representa US$ 8,9 trilhões, em relação a 15,1% no fim do ano passado. No Brasil, fundos ESG captaram R$ 2,5 bilhões em 2020 – mais da metade da captação veio de fundos criados nos últimos 12 meses (PACTO GLOBAL, [s. d.]). Figura 3 | Princípios do Pacto Global relacionados ao trabalho. Fonte: Pacto Gobal Rede Brasil. Atenção para o sexto princípio “estimular práticas que eliminem qualquer tipo de discriminação no emprego”. A criação de espaços de diálogo, revisão de práticas e políticas da gestão de pessoas e a própria convivência na organização são alguns possíveis caminhos para iniciar tal estímulo, mas nada disso fará sentido sem diversidade logo na contratação das pessoas (diferentes gerações, raças, credos, gêneros, etnias, etc.). Nenhuma inovação ou mudança é possível sem pessoas. Você pode fazer parte do grupo que apoia e promove a mudança através de atitudes e ações práticas do dia a dia. O ambiente complexo de cada organização demanda autonomia e crítica para tornar a inovação realidade. Saiba mais Nesse sentido, o Manual de Oslo é a principal referência quando falamos de inovação. Nele, há definições, métodos de análise de desempenho, classificações e outros procedimentos dedicados às atividades de inovação que garantem o padrão de especialização necessário para fins de comparação em diferentes cenários. OECD. Manual de Oslo. 3. ed. 2005. Disponível em: https://www.finep.gov.br/images/apoio-e-financiamento/manualoslo.pdf. Acesso em: 26 dez. 2019. Conheça o Pacto Global que relaciona a agenda ESG com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e a captura de investimentos no mercado financeiro. Disponível em: https://www.pactoglobal.org.br/pg/esg. Acesso em: 26 dez. 2019. REFERÊNCIAS 15th Annual State Of Agile Report. Digital.ai. 2021. Disponível em: https://stateofagile.com/?_ga=2.5815219.1237387806.1595965249- 1754493880.1595965249#ufh-i-613553418-13th-annual-state-of-agile-report/7027494. Acesso em: 10 dez. 2021. AMABILE, T. M. Motivating Creativity in Organizations: on Doing What You Love and Loving What You Do. California Management Review, vol. 40, n. 1. 1997. COLÉGIOS MARISTA. O que são as gerações X, Y e Z e como lidar com cada perfil. Onde os jovens estão. G1. 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/pr/parana/especial- publicitario/colegios-maristas/onde-os-jovens-estao/noticia/2019/08/27/o-que-sao-as- geracoes-x-y-e-z-e-como-lidar-com-cada-perfil.ghtml. Acesso em: 13 jan. 2022. GRAMIGNA, M. R. Modelo de competências e gestão dos talentos. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. HANSEN, M. T.; BIRKINSHAW, J. The Innovation Value Chain. Harvard Business Review, junho/2007. Disponível em: https://hbr.org/2007/06/the-innovation-value-chain. Acesso em: 10 dez. 2021. JARVIS, J. O que a Google faria? – Como atender às novas exigências do mercado. Barueri, SP: Manole, 2010. OECD. Manual de Oslo. 3. ed. 2005. Disponível em: https://www.finep.gov.br/images/apoio-e-financiamento/manualoslo.pdf. Acesso em: 26 dez. 2019. PACTO GLOBAL. Disponível em: https://www.pactoglobal.org.br/. Acesso em: 10 dez. 2021. ROBINSON, K. Somos todos criativos: os desafios para desenvolver uma das principais habilidades do futuro. São Paulo: Benvirá, 2019. SILVA, F. P. et al. Gestão da inovação. Porto Alegre: SAGAH, 2018. TAVARES,J. C. Gestão da inovação e geração de valor em pequenas e médias empresas. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2020. TROTT, Paul. Gestão da inovação e desenvolvimento de novos produtos; tradução Patrícia Lessa Flores da Cunha et al. 4ª ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. 621 p. SUROWIECKI, J. All together now. The Financial Page – The New Yorker, April 3, 2005
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