Buscar

TEORIA PSICOSSEXUAL DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL TEL 4

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

04/03/24, 15:24 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 1/15
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TEORIA PSICOSSEXUAL DO
DESENVOLVIMENTO INFANTIL
AULA 4
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Raquel Berg
04/03/24, 15:24 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 2/15
CONVERSA INICIAL
Neste momento, trataremos primeiramente do caso Schreber, emblemático para a compreensão
do narcisismo intermediário. Também veremos o Homem dos Lobos, conhecido como história de uma
neurose infantil, e sua importância para a compreensão da metáfora paterna. Por fim, falaremos do
retorno do totemismo na infância e como a questão totêmica é emblemática para a compreensão da
importância do objeto sexual na constituição individual e social.
TEMA 1 – CASO SCHREBER
O caso Schreber foi, na verdade, uma análise de Freud com base em um texto intitulado
Memórias de um doente dos nervos. Ou seja, Freud nunca chegou a atender esse rapaz, e toda a
análise se dá em função da interpretação do livro de memórias de Daniel Paul Schreber. Como
referencia Strachey, Freud faz alusão à história clínica de Schreber baseado apenas na idade do rapaz
quando ele caiu enfermo e foi internado. Depois, Freud teve acesso aos relatórios médicos de
Schreber enquanto este esteve internado e muitas informações confirmaram suas hipóteses iniciais a
respeito da psicopatologia apresentada pelo paciente.
Aparentemente, Schreber teve uma vida saudável até o momento em que sua esposa ficou
doente, com uma crise de paralisia. Duas semanas mais tarde, ele foi internado. Pelo que se
compreende, esse livro de memórias teve o objetivo de apresentar uma série de contestações e
argumentos jurídicos para comprovar que Schreber poderia sair do asilo no qual se encontrava.
A cronologia abaixo pretende esclarecer a sequência dos fatos:
1842   Schreber nasce em Leipzig
1861   Seu pai morre aos 53 anos
1877   Seu irmão mais velho se suicida aos 38 anos
04/03/24, 15:24 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 3/15
1878   Schreber se casa
Aparecimento da primeira doença
1884   Apresenta-se como candidato ao Reichtag, sendo que já ocupava um importante cargo
judiciário, e é internado em um asilo
1885   Recebe alta do asilo
1886   É nomeado juiz em Leipzig
Aparecimento da segunda doença
1893   Recebe a notícia de que será nomeado no Tribunal de Apelação, toma posse como juiz
presidente e volta a ser internado
1894   É transferido para outros dois asilos
1900   Escreve o livro com o propósito de receber alta
1902   Recebe a alta esperada
1903   Publica seu livro de memórias
Schreber provinha de uma família instruída e, como podemos observar, de forma muito rápida se
tornou um importante jurista. No entanto, como ele próprio relata, seus distúrbios nervosos se deram
duas vezes: a primeira quando se apresentou como candidato a um importante cargo de juiz; a
segunda, quando foi nomeado presidente do senado, em 1893. Houve ainda uma terceira vez, depois
que ele escreveu o livro. Segundo Schreber, a doença o acometeu em função do grande fardo que
ambos os cargos representavam. Assim que recebeu a primeira proposta, foi internado e
diagnosticado com hipocondria. Depois da alta, conseguiu passar oito anos com a esposa, tendo
como única frustração a impossibilidade de ter filhos. Ao saber de sua possível indicação para o cargo
de presidente do senado, teve dois ou três sonhos de que sua doença poderia retornar. Certa manhã,
prestes a acordar, teve a ideia de que, “afinal de contas, deve ser realmente muito bom ser mulher e
submeter-se ao ato da cópula” (Freud, 1911, p. 24). Schreber escreve que certamente teria rejeitado a
ideia se estivesse plenamente consciente.
Depois de ser nomeado presidente, teve torturantes acessos de insônia e voltou para o asilo,
onde passou a ter ideias hipocondríacas, como a de que seu cérebro estava amolecendo e que
morreria cedo. Depois, começou a apresentar delírios persecutórios, sensibilidade à luz e ao barulho,
além de ilusões visuais e auditivas. Schreber acreditava que estava morto e em decomposição e que
seu corpo vinha sendo submetido a diversos horrores em nome do sagrado. O paciente ficava tão
preocupado com esses pensamentos e ilusões que permanecia paralisado por horas em estupor
04/03/24, 15:24 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 4/15
alucinatório e desejava estar morto para se livrar daquela condição. Por isso, pedia que lhe
ministrassem cianureto, que já estava prescrito para ele. Essas ideias delirantes foram gradativamente
assumindo um caráter místico e religioso, como se estivesse em comunicação direta com Deus, fosse
um joguete de demônios e possivelmente já estivesse vivendo em outro mundo. Após ser transferido
para outro asilo, a psicose aguda com caráter alucinatório se transformou na estrutura delirante da
paranoia.
Quando avaliado, Schreber mostrava que, apesar da paranoia, sua inteligência permanecia
intacta, calma e sua memória se mantinha excelente em diversos campos além do jurídico. Em um
relatório de 1900, o médico afirmou que, embora os assuntos relacionados a seus delírios não
pudessem ser tratados com o paciente, em todos os outros aspectos o senhor presidente se mostrava
perfeitamente saudável: convivia com outras pessoas em perfeita harmonia, gentileza, tato e decoro;
sabia debater sobre diversos tópicos como política, arte, literatura; mostrava ótimo discernimento e
julgamento sobre tópicos cotidianos; expunha um julgamento ético diferenciado e em momento
algum introduzia de forma inadequada tópicos relacionados a seus transtornos.
Nesse período, Schreber decidiu escrever seu livro de memórias com o objetivo de ser
readmitido no trabalho, pois, em sua argumentação, seus delírios e alucinações não interferiam em
nada em sua capacidade cognitiva para executar sua função. Com isso, ele conseguiu restaurar seus
direitos civis. A decisão que devolveu sua liberdade resumia o sistema delirante de Schreber da
seguinte forma: “Acreditava que tinha a missão de redimir o mundo e restituir-lhe o estado perdido
de beatitude” (Freud, 1911, p. 27). Ele argumentou que fora convocado pelo próprio Deus para essa
missão. Deus, ao se sentir atraído por seus nervos, lhe enviara mensagens que nenhum outro ser
humano haveria recebido antes.
A parte mais essencial de sua missão é que ele deveria se transformar em mulher. Não que
Schreber desejasse fazê-lo, mas ele deveria se tornar uma por uma missão divina, mesmo que
prezasse por sua masculinidade e repudiasse a ideia em um primeiro momento. Ele acreditava que
tinha sido escolhido por ser o humano mais notável que já estivera na Terra, pois vivera diversos
desafios, como a destruição de seus órgãos internos, que se reconstituíram, algo impossível a outro
ser humano. Ou seja, Schreber interpretou que Deus seria uma figura que se cativara por ele e,
portanto, tentava criar uma conexão, por meio de raios divinos que se instalaram em cada parte do
corpo de Schreber e restauraram as partes destruídas para que ele pudesse alcançar a imortalidade e
se tornar um Redentor. Essa conexão se confirmava por alguns fenômenos como árvores que
04/03/24, 15:24 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 5/15
possuíam antigas almas humanas e pássaros falantes, a interrupção de frases, a dificuldade de
defecação e outros fenômenos em seu corpo, como o crescimento de seios, a que ele chamava de
emasculação. Ao mencionar a emasculação, Schreber afirmava que Deus desejava se apoderar de seu
corpo e tomá-lo como o de uma prostituta, uma rameira.
TEMA 2 – DISCUSSÃO DO CASO SCHREBER
O tema da paranoia já fora discutido nos textos freudianos em 1895, no Rascunho H. Nessa carta,
Freud (1895) lança mão de sua hipótese e elenca dois pontos principais na análise da paranoia: 1) é
uma neurose de defesa; 2) seu mecanismo principal é a projeção, provocando assim os delírios e as
alucinações (diferente da histeria e da neurose obsessiva). Em outra carta, o Rascunho K, Freud(1895)
segue em sua análise sobre a paranoia e amplia a discussão ao introduzir a hipótese de que a
paranoia acarreta o retorno ao autoerotismo primitivo. Ao apresentar um estudo sobre a paranoia
feminina, em 1906, Freud associa esse transtorno a um homossexualismo passivo primitivo.
Strachey também comenta que Freud apresentou outros artigos intitulados Um caso de paranoia que
contraria a teoria psicanalítica da doença, em 1915, a Seção B de Alguns mecanismos neuróticos no
ciúme, na paranoia e no homossexualismo, em 1922, e Uma neurose demonológica do século XVII, em
1923, porém nenhum deles será tratado neste texto porque apenas trazem a confirmação das
constatações feitas no artigo do caso Schreber.
Mas a grande relevância desse estudo está além da análise da paranoia em si, pois ele traz
também uma discussão sobre a construção metapsicológica de Freud a respeito do desenvolvimento
psicossexual infantil, como a questão do narcisismo. Nesse sentido, Freud (1911) apresenta, nos Três
Ensaios, um processo que seria intermediário entre o autoerotismo e o amor objetal: o narcisismo. No
narcisismo, o individuo reúne energias para conseguir um objeto de amor, começando por si próprio,
e somente depois migra para o amor por um objeto. Uma vez que o narcisismo implica o
homossexualismo, a paranoia de Schreber apenas confirma que o retorno ao self resultaria em uma
relação narcísica e uma suscetibilidade a essa fase de seu desenvolvimento.
Além disso, Freud (1911) traz o exame de como se formam os sintomas, algo que ele já fizera em
estudos anteriores. Assim, o processo de recalque acontece em três fases: o estabelecimento de um
ponto de fixação, o recalque propriamente dito e o retorno do recalcado ao ponto de fixação. O caso
é nomeado como psicose associada a esquizofrenia: em ambas há uma clivagem do ego e, segundo
[1]
04/03/24, 15:24 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 6/15
Freud (1911), a principal vantagem dos delírios é que, diferentemente das neuroses ‒ que escondem a
origem dos traumas sob a forma de sintomas ‒, nas psicoses o delírio apresenta de forma distorcida e
explícita a causa dos sintomas. Além disso, Freud interpreta esse caso dentro do viés do narcisismo,
no sentido de que a influência homossexual dos médicos que cuidaram de Schreber pode ter
favorecido a criação de fantasias, cuja origem primária seria a sedução pelo pai. A defesa a essa
ligação homossexual – o complexo paterno – se deu pelos delírios e pela negação deles.
TEMA 3 – O HOMEM DOS LOBOS
Intitulado como uma neurose infantil, o Homem dos Lobos se trata de um dos mais importantes
casos de Freud, muito embora ele tenha parado de atender o paciente. Em 1910, depois de passar
pelo psiquiatra Kraepelin (como o fez também Schreber), um jovem russo muito rico procurou Freud
para lhe ajudar com seus sintomas. Após pegar gonorreia aos 18 anos, ficou completamente
incapacitado e dependente de outras pessoas. Os 10 anos antes do início da doença foram saudáveis,
mas na infância (em torno dos 4 anos) o rapaz teve uma fobia de animal que depois se transformou
em uma neurose obsessiva de cunho religioso. Como ele desenvolvera uma característica de
“entrincheiramento” por trás de uma amável apatia, Freud precisou estabelecer um vínculo com o
paciente antes de dar início ao tratamento. Depois de algum tempo, Freud comunicou ao rapaz que o
atenderia por determinado tempo e, independentemente de ter ou não uma melhora, a terapia seria
encerrada. Logo que Freud informou sobre o prazo de término, houve uma aparente evolução e as
sessões tiveram início.
Em seu histórico familiar, consta que os pais se casaram jovens, sua mãe passou a ter dores
abdominais e o pai entrou em depressão, o que o fez se ausentar de casa. O rapaz tinha uma irmã e
uma babá, uma mulher simples que cuidava dele como se fosse seu próprio filho. Em dado momento,
o menino sentiu um terrível medo de uma borboleta, o que lhe fez sair correndo, assustado. Passou a
ter medo também de besouros e lagartos, embora também gostasse de matá-los e cortá-los em
pedaços. Essa mesma ambiguidade ocorria com cavalos, pois o menino gostava dos equinos, mas
tinha medo quando eles batiam as patas no chão. Isso se evidenciava até na sua relação com o
sagrado, pois ora rezava, fazia o sinal da cruz diversas vezes e beijava os santos, ora recordava
blasfêmias e pensamentos que, para ele, eram inspiração do diabo.
04/03/24, 15:24 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 7/15
Em recordação da sua infância, desenvolvendo assim as fantasias primárias, ele dizia se lembrar
de quando sua irmã sugeriu que eles mostrassem seus traseiros; em outro momento, ela teria
segurado o pênis dele e dito estar fazendo o mesmo que a babá fazia com o jardineiro. Apaixonou-se
pela irmã, que rejeitou a relação incestuosa. Passou, então, a se envolver com criadas. A irmã, que se
destacara muito intelectualmente, viajou. Depois de experiências que davam a entender que ela
estava entrando em um processo de demência precoce, envenenou-se e morreu.
O paciente demonstrava falta de ânimo, depressão, ficara internado em sanatórios e fora
diagnosticado com insanidade maníaco-depressiva. Quando melhorou, voltou para a Rússia, mas com
a Revolução de 1917 ele perdeu tudo, adoeceu e voltou para Berlim. Surgiu, então, o relato do sonho
que deu o título a essa história:
Sonhei que era noite e que eu estava deitado na cama (Meu leito tem o pé da cama voltado para
a janela: em frente da janela havia uma fileira de velhas nogueiras. Sei que era inverno quando tive o
sonho, e de noite). De repente, a janela abriu-se sozinha e fiquei aterrorizado ao ver que alguns lobos
brancos estavam sentados na grande nogueira em frente da janela. Havia seis ou sete deles. Os lobos
eram muito brancos e pareciam-se mais com raposas ou cães pastores, pois tinham caudas grandes,
como as raposas, e orelhas empinadas, como cães quando prestam atenção a algo. Com grande
terror, evidentemente de ser comido por lobos, gritei e acordei. (Freud, 1914, p. 41)
No momento, o sonho parecia muito real e a babá precisou acalmá-lo até que pudesse voltar a
dormir. O desenho a seguir é a representação do Homem dos Lobos, no livro de Freud (1914, p. 42):
04/03/24, 15:24 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 8/15
Crédito: Jefferson Schnaider.
O paciente se perguntou por que tivera essa ideia: se tinha sido motivada pela história de
Chapeuzinho Vermelho, por causa das ovelhas que viviam nas vizinhanças; por uma história contada
por seu avô; ou pela história do lobo e dos sete cabritinhos. Em determinado momento, o rapaz
associou a árvore com lobos à árvore de Natal, na qual os lobos ocupavam o lugar dos presentes.
Depois, ao saber que teria um novo tutor, imaginou-o na figura de um leão que poderia devorá-
lo. Na adolescência, reviveu o sonho dos lobos com um professor que o censurara de sobrenome
Wolf (“lobo”, em inglês e alemão).
TEMA 4 – DISCUSSÃO DO CASO DOS LOBOS
Em diversos textos posteriores, Freud (1914) faz menções a esse caso clínico, trazendo, por
exemplo, que o psicanalista deveria publicar sonhos ocorridos na infância de seus pacientes,
principalmente daqueles que foram testemunhas de um ato sexual. O caso do Homem dos Lobos é
apresentado no texto A ocorrência, em sonhos, do material oriundo dos contos de fada”, de 1913;
04/03/24, 15:24 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 9/15
depois, em Fausse reconnaissance [‘déjà raconté’] no tratamento psicanalítico e em Recordar, repetir e
elaborar, ambos de 1914; no artigo metapsicológico Repressão, de 1915; em Inibições, sintomas e
ansiedade, de 1926, em que o autor inclusive compara a fobia de Hans por cavalos com a fobia do
jovem russo por lobos; e em Análise terminável e interminável, em 1937. Algumas contribuições desse
texto dizem respeito à primitiva organização oral da libido, incluindo o comportamento de
incorporação e de identificação para a constituiçãode um ideal do ego, além do sentimento de culpa
e a disposição à depressão. O ideal do ego, em um primeiro momento na constituição da segunda
tópica, é apresentado como uma espécie de sinônimo do superego. No entanto, no texto do
narcisismo Freud introduz uma diferenciação para explicar que o ideal do ego é uma instância
narcísica, resultante da convergência entre o narcisismo e a identificação paterna, e posteriormente da
convergência entre os substitutos dos ideais internos e os ideais coletivos, associados a um
verdadeiro delírio de grandeza.
Freud retoma novamente os impulsos femininos primários e sua tese sobre a ocorrência da
bissexualidade em ambos os sexos, como um Complexo de Édipo “invertido”. Na verdade, o que ele
apresenta nesse texto é a ideia do recalque ocorrendo em diversos momentos (trazendo aqui a noção
da temporalidade psíquica como distinta da temporalidade cronológica), com a cena originária como
o ponto inicial da formação do trauma, juntamente com as fantasias originárias que remontam à
própria história. Essa teoria da sedução, ou seja, a fantasia do coito constitui a base do amor edipiano:
quando não há a transferência do amor para o objeto, esse amor retorna sob a forma de
autoerotismo e reinvestimento no ego. Posteriormente, esse investimento é projetado para fora,
criando assim as ilusões. O momento em que o sintoma deixa de ser uma fobia e uma neurose
obsessiva e passa a apresentar delírios e alucinações, isso acompanha o próprio desenvolvimento do
indivíduo, seu amadurecimento psicossexual, por isso Freud vai revendo o diagnóstico à medida que
acompanha o Homem dos Lobos.
Nesse caso, ao tomar conhecimento da história dos lobos na árvore, Freud conclui que
possivelmente esse sonho tenha relação com seu pai, que o organiza e o ameaça e que pode copular
com ele por trás, como fizera com a mãe, com uma ameaça de castração: “uma ocorrência real –
datando de um período muito prematuro – olhar – imobilidade – problemas sexuais – castração – o
pai – algo terrível” (Freud, 1914, p. 46).
TEMA 5 – O RETORNO DO TOTEMISMO NA INFÂNCIA
04/03/24, 15:24 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 10/15
Esse tópico faz parte do item 4 do texto Totem e tabu, de 1914. De modo geral, aplica-se ao
contexto porque em todas as sociedades há regras e proibições, como é o caso do tabu do incesto.
Além disso, o surgimento do totem se relaciona com o modelo do sagrado, que em muitas
sociedades está diretamente associado à religião, estabelecendo costumes e regras que as tornam
mais avançadas do que os agrupamentos animais. A maioria das pessoas se depara com essas regras
já na infância e aprende, nas aulas que recebem de seus pais, familiares ou líderes religiosos, como se
portar em sociedade. Assim, esse tópico visa explicitamente tratar não do desenvolvimento
psicossexual do ponto de vista do amadurecimento biológico, mas da construção de valores a que as
crianças são submetidas desde que nascem.
O modelo do totemismo, segundo Freud (1914), envolve a crença de que há algo de
supersticioso em uma classe de objetos eleitos para representarem crenças e costumes e em uma
figura (ou algumas figuras) que estabelece com o homem um vínculo mutuamente benéfico (pois o
totem não mata o ser humano e este, em troca, reconhece e enaltece a grandeza desse totem). Além
disso, essa relação é íntima e inteiramente especial. Freud (1914) traz seu exemplo de totemismo para
a religião católica, mas é possível derivá-lo, em diferentes graus, para outras religiões além da cristã,
como a judaica, a muçulmana e a budista. Mesmo as religiões politeístas indígenas e africanas e a
antiga Grécia possuíam modelos de deuses fortes, poderosos, mas benevolentes com os homens
enquanto se mantivessem seguidores e fiéis.
A necessidade de criação de tabus, conforme explicado no texto, se dá porque algumas
condições, como comer e beber ou não colocar a mão no fogo, não precisam ser explicadas para as
pessoas. O comportamento inicial sobre uma fruta é comê-la, assim como a reação inicial ao sentir o
calor do fogo queimando é retirar a mão. No entanto, o incesto não faz parte do modo natural luta-
fuga-acasalamento. Pelo contrário, é bastante comum que o abuso sexual de crianças (meninos e
meninas) se dê principalmente pelo pai, depois por outros membros da família e por fim por
estranhos e pessoas distantes. Quando uma pessoa como essas é presa, a “lei dos presídios” então
submete o estuprador, pedófilo e incestuoso aos mais variados graus de degradação e violência, para
deixar claro que, embora a maioria daquelas pessoas esteja fora da lei, o incesto e o abuso de
vulneráveis precisam ser mantidos como comportamentos inaceitáveis e passíveis de punição com
violência e morte.
No desenvolvimento psicossexual infantil, vemos com frequência as crianças se sentirem mais
semelhantes aos animais que aos adultos mais velhos. Isso porque as crianças ainda não apresentam
04/03/24, 15:24 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 11/15
sinais de arrogância ou escrúpulo (de modo geral), são desinibidas e curiosas. Quando a criança
começa a desenvolver sua concepção de mundo e absorver as regras, ela se afasta do universo
animal, podendo desenvolver fobias de animais que até então despertavam interesse e simpatia. Os
contos infantis auxiliam no surgimento dessas fobias, como pudemos observar anteriormente no caso
do Homem dos Lobos, e é esse medo que se combina com as fantasias originárias para o complexo
de castração. Em um exemplo apresentado no texto, Freud comenta que um menino, Arpad, tentou
urinar no galinheiro e uma galinha tentou bicar seu pênis. Um ano depois, quando o menino retornou
ao galinheiro, sentiu-se transformado em uma galinha, cacarejando e interessado apenas no próprio
galinheiro. Precisou de tempo até recuperar a fala, mas seguiu interessado apenas em assuntos sobre
galinhas e apresentava um comportamento ambivalente em relação a elas: desejava matá-las todas,
dançava com prazer em volta dos corpos representados por brinquedos, mas depois se abaixava e as
beijava, em uma demonstração de intenso afeto. Portanto, a relação ambígua com a galinha se deu
em reação ao medo de castração, ao medo de que a galinha comesse o pênis do menino.
A história da relação totêmica remonta à ideia da horda primeva, na qual antigamente o homem
mais forte possuía todas as mulheres. Uma vez que outro homem se tornasse o mais forte, ele
rapidamente matava o anterior e assumia a posição de líder e responsável por todas as mulheres. A
criação do totem se deu a partir do momento em que todos os filhos se juntaram e mataram seu pai,
tomaram-lhe juntos o lugar de líderes e decidiram que a regra mudaria. Na sequência, surgiu o tabu
do incesto e a figura do totem, simbolizando a figura do pai morto que não deve ser esquecido como
uma referência a um tempo que não deve, sob hipótese nenhuma, retornar.
04/03/24, 15:24 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 12/15
Crédito: Tomacco/Shutterstock.
Com o passar do tempo, a força deu lugar à inteligência, estabelecendo aqui uma analogia entre
os neuróticos e os primitivos: os primeiros são, acima de tudo, inibidos em suas ações e seu
pensamento é substituto constante do ato; já os homens primitivos, de pouco ou nenhum
conhecimento, são desinibidos e seu pensamento se transforma rapidamente em ação. “No princípio
04/03/24, 15:24 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 13/15
foi ato”, diz Freud (1914), e com essa frase concluímos que a formação da neurose ainda segue como
um processo mais adaptado que a resposta comportamental ao desejo, a falta de reflexão e o
bloqueio que são tão prezados e cultivados nas sociedades modernas.
NA PRÁTICA
Propomos uma análise do filme Uma mente brilhante. Lançado em 2001, conta a biografia de
John Nash, desde seu ingresso na universidade. De início, Nash decide se isolar dos amigos e colegas
em busca de uma ideia original. Após um companheirosugerir que ele o fizesse fora do quarto, o
cientista vai então buscar respostas no movimento dos pombos de um parque, de uma equipe de
futebol e no roubo de uma carteira. Depois, durante uma conversa em um bar, Nash encontra a
inspiração de que precisava, iniciando o que mais tarde ele chamou de Teoria dos Jogos. O
reconhecimento de seu trabalho só ocorre depois que ele consegue ajudar o Pentágono a decifrar
códigos russos. Torna-se então professor e conhece uma aluna com quem se casa e vem a ter um
filho. Depois de a família ser perseguida por estranhos, Nash começa a desenvolver paranoia e entra
em um quadro esquizofrênico. No fim do filme, Nash conquista o Nobel em Economia e aprende a
lidar com seu transtorno.
Nem sempre é possível que o paciente conquiste o mesmo resultado de Nash, pois o
prognóstico depende da idade quando o transtorno surgiu e das características associadas. No livro
Memórias de uma esquizofrênica, de Sechehaye (1950), a personagem apresenta o primeiro sintoma
muito mais cedo que Nash, o que representa uma dificuldade extra no sentido de compreender o
desafio entre ilusão e realidade. É bem verdade que as crianças, até determinada idade, têm
dificuldade em distinguir sonho e realidade e não é incomum ouvir relatos de crianças que dizem ter
brincado por horas quando, na verdade, estavam apenas dormindo. Além disso, ocorre também a
existência de amigos imaginários e personagens fantásticos que as crianças garantem ver e interagir e
por isso a dificuldade em se trabalhar o “ponto de virada”, quando deixamos de confundir ilusão e
fato e passamos a compreender o entorno ou nos deixar levar por delírios e alucinações.
FINALIZANDO
Nesta etapa, trouxemos inicialmente o caso Schreber, uma história baseada no livro de memórias
do próprio paciente e que trouxe uma mudança significativa na metapsicologia freudiana ao
04/03/24, 15:24 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 14/15
introduzir o conceito de narcisismo, uma etapa que ficaria entre o autoerotismo e o amor objetal.
Depois, falamos do Homem dos Lobos, um caso que representou uma grande dificuldade diagnóstica
para Freud, com seu complexo de castração associado a delírios com lobos e com a cena primeva,
além da presença particular de lendas e mitos nos contos de fada infantis, nos sonhos e nos temores.
Por fim, trouxemos o texto sobre o totemismo na infância.
Esperamos que tenham aproveitado as discussões apresentadas aqui para conhecer um pouco
mais das origens da psicanálise e convidamos a todos a continuar acompanhando o conteúdo para
saber mais sobre esse campo do saber tão envolvente que é a psicanálise.
Leitura complementar
BIRMAN, J. Freud e a interpretação psicanalítica. Rio de Janeiro: Relumé-Dumará, 1991.
MEZAN, R. Freud: a trama dos conceitos. São Paulo: Perspectiva, 1980.
REFERÊNCIAS
FREUD, S. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud
(1886-1899) – livro I, XII, XIII e XVII. Rio de Janeiro: Imago, 1977.
GARCIA-ROZA, L.A. Introdução à metapsicologia freudiana. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995.
v1-3.
LAPLANCHE, J & PONTALIS, J.B. Vocabulário da psicanálise. 4.ed. São Paulo: Martins Fontes,
2001.
ROUDINESCO, E.; PLON, M. Dicionário de psicanálise. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 1998.
SECHEHAYE, M. A. Memórias de uma esquizofrênica. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1950.
 O termo está sendo utilizado com o sufixo "ismo" conforme o uso do próprio autor em seus
textos, pois a homossexualidade foi considerada, até a década de 1980, como uma doença (ou seja,
posterior à publicação dos "Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade") sendo caracterizada por
Freud como perversão.
[1]
04/03/24, 15:24 UNINTER
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 15/15

Outros materiais