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Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 1 de 24 Filosofia – Caderno 2 Aristóteles e a teleologia ARISTÓTELES (384 – 322 a.C.) Nasce em Estagira, na Macedônia, e aos dezoito anos muda-se para Atenas para estudar na Academia fundada por Platão. Torna-se tutor de Alexandre, o Grande, e funda sua própria instituição de ensino, chamada de Liceu. Assim como Platão, Aristóteles valoriza a razão como atributo fundamental do homem, mas sua filosofia distingue-se em muitos aspectos da de seu professor. O principal ponto contraditório entre ambos diz respeito ao fato de Aristóteles não apresentar uma concepção dualista sobre a realidade. Para Aristóteles, o mundo das coisas sensíveis, ou a natureza, não é um mundo aparente ou ilusório. Por isso propõe uma nova metafísica, na qual rejeita o plano inteligível. Ou seja, as essências estão nas próprias coisas, nos homens, nas ações e é tarefa da filosofia conhecê-las. Aristóteles desenvolve, então, um pensamento sistemático sobre a realidade, abrangendo os mais diversos campos de estudo: Metafísica, Ética, Política, Arte, Física, Astronomia e Lógica. METAFÍSICA ARISTOTÉLICA Como conhecer a verdade, interpretar de modo seguro a realidade? Uma vez que as essências – conhecimentos verdadeiros sobre o Ser – não se encontram em uma dimensão superior tal qual o plano inteligível de Platão, Aristóteles empreende uma tarefa filosófica de tentar conhecer as essências no mundo físico, considerando que este mundo está em constante mudanças. Conciliar as essências (sentido pleno do ser) com o movimento (transformações do mundo sensível) é grande missão filosófica de Aristóteles. Ao fazê-la, o filósofo abre precedentes para uma compreensão mais empírica do mundo e deixará um imenso legado na história do pensamento ocidental. Seu raciocínio para compreender o mundo de modo mais pleno estrutura-se a partir de alguns pilares importantes: 1. Deve-se partir da sensação até alcançar a intelecção, buscando captar as propriedades essenciais dos seres, sem as quais eles não seriam o que são. Graus de conhecimento: sensação – memória – experiência – arte/técnica – teoria Mesmo o conhecimento sensorial sendo básico e superficial, ele é a base para que possamos conhecer o mundo de modo mais complexo. 2. É importante podermos distinguir os atributos essenciais dos atributos acidentais: Essência é o que faz uma substância ser o que é; sua matéria (aquilo de que o ser é constituído) e sua forma (aquilo que o define). A essência revela-se, segundo o filósofo, por meio do conhecimento das causas fundamentais de uma substância; por isso, além da forma e da matéria, conecta-se também à origem e ao propósito daquele ser. Já os acidentes seriam as propriedades da substância que poderiam ser diferentes sem alterar quem ou o que ela é; particularidades de cada ser, tais como quantidade, qualidade, relação, tempo, posição, lugar, estado, paixão e hábito. Uma das formas de se distinguir os atributos essenciais dos acidentais se dá por meio do Silogismo, base do raciocínio que fundamenta a lógica aristotélica: Todo homem é mortal. Sócrates é homem. Logo, Sócrates é mortal. A conclusão é verdadeira se a lógica for mantida e se as premissas iniciais forem confirmadas. Para isso, não se pode partir de atributos acidentais. 3. Distinguir ato de potência: Aristóteles não exclui o movimento da essência do ser. Os seres da natureza são seres em devir. Todos os seres que existem em ato (instante, forma atual) carregam uma virtualidade contida neles mesmos, um conjunto de mudanças previstas em sua própria natureza substancial. Aristóteles chama essa forma necessária, mas ainda não manifesta, de potência, mostrando que as mudanças acontecem dentro de um processo ordenado, que não descaracteriza a essência do ser. Devir é o movimento de atualização da matéria, a realização de sua potência: a matéria recebe a forma e muda de forma. Esse movimento é sempre impulsionado por uma força anterior, que Aristóteles chama de causa. Existem, segundo o filósofo, quatro causas fundamentais que explicam as substâncias em seus aspectos essenciais: Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 2 de 24 Causa formal – o que é? Causa material – do que é feito? Causa eficiente – quem o criou? Causa final – qual é seu propósito? Para concluir suas reflexões metafísicas, Aristóteles busca entender e explicar o porquê das coisas se movimentarem incessantemente, ou seja, o sentido mais profundo do devir. A partir disso conclui que o devir, sendo uma condição essencial de tudo o que existe na natureza, também tem uma origem e uma causa. Para Aristóteles, a hipótese mais provável é a de que exista um ser pleno e imóvel, que impulsiona o movimento de toda a realidade. Este ser, o primeiro motor, seria a causa final (ou o propósito) de tudo o que existe. Assim, os seres vivos estariam em devir justamente porque desejam encontrar sua essência total e perfeita. Mas como as coisas naturais nunca poderão alcançar a perfeição imutável, uma vez que são de matéria perecível, tudo constantemente se renova, num fluxo sem fim. As mudanças do mundo, portanto, remetem à concepção teleológica que o filósofo assume para interpretá-lo. Tudo tende à realização de seu propósito (telos), por isso o devir se encaminha. Para Aristóteles, é como se tudo na natureza buscasse à sua realização mais plena. ÉTICA E POLÍTICA Para Aristóteles há uma relação direta entre ética e política. O ser humano necessariamente experimenta a vida coletivamente, o que leva o filósofo a definir o homem como “um animal político”. Política é a arte de governar a Polis, ou seja, organizar a vida pública, coletiva. A política é a busca pelo bem comum, por isso seria o propósito maior da vida prática dos seres humanos. Assim como é a forma de poder que modera e organiza todos os outros poderes, próprios da esfera privada. A ética, por sua vez, é a conduta consciente do indivíduo, apto a controlar seus impulsos e desejos e agir de forma orientada para o bem. Segundo o filósofo, a tarefa da ética é educar nosso desejo para que este não se torne vício e colabore com o desenvolvimento da virtude. A felicidade (eudaimonia), finalidade única da existência humana, só pode ser alcançada por meio da conduta virtuosa. Todos os homens orientam sua vida para alcançar um estado de menos sofrimento e perturbação. Para Aristóteles, porém, esse estado não é consequência de um acúmulo de sensações de prazer, mas do desenvolvimento de uma vida virtuosa. As virtudes não são inatas, mas aprendidas ao longo da vida, dependem, portanto, do fortalecimento da consciência ética, o que é uma habilidade racional. “O sujeito ético ou moral não se submete aos acasos da sorte, nem à vontade e aos desejos de um outro, nem à tirania das paixões (ou sentimentos e desejos incontroláveis), mas obedece apenas à sua consciência – que conhece o bem e as virtudes – e à sua vontade racional – que conhece os meios adequados para chegar aos fins morais. A busca do bem e da felicidade são a essência da vida ética.” Marilena Chauí. Convite à Filosofia As virtudes não estão nos excessos, mas no equilíbrio entre as qualidades. Elas requerem uma conduta racional, orientada por premissas éticas e caracterizadas pela moderação. Além disso, as virtudes humanas podem ser morais (éticas) ou intelectuais (dianoéticas). As primeiras, que o filósofo denomina de areté, possuem um caráter mais prático e determinam aptidão para a convivência e para o reconhecimento do bem comum. As segundas voltam-se para a vida contemplativa e para o exercício da filosofia. A liderança política, para Aristóteles, não requer necessariamente as virtudes dianoéticas, pois prescinde das habilidades morais, vinculadas à convivência na Polis. Com isso, Aristóteles confrontaa perspectiva de Platão de que o filósofo deve administrar a cidade por ser dotado de uma alma racional. Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 3 de 24 Em sua Política, Aristóteles defende que o governo, independente da forma, é bom se puder alcançar seu propósito, que é o bem comum, por isso o filósofo apresenta as formas de governo organizadas em relação à sua finalidade. As formas puras são justas e as corrompidas devem ser evitadas. A democracia, para Aristóteles, seria uma forma corrompida da Politeia, o governo constituído de modo justo entre as diferentes parcelas que ocupam a sociedade. ESTÉTICA Aristóteles não condena a arte, tal como Platão, mas busca resgatar o valor arcaico tradicional das artes literárias, o que as atrela à sabedoria e verdade. A mímesis para ele não é falsidade, mas representação. A catarse, emoções ou comoções suscitadas pelas ações representadas, possui uma função educativa: motivação para ações mais elevadas (tragédia); vergonha e autorreflexão (comédia). Ambas trabalham com aspectos morais da formação do caráter (virtude). Além disso, as representações poéticas tendem a captar o universal, revelando elementos essenciais da realidade. EXERCÍCIOS 1. (Uel 2011) Leia o texto a seguir. A virtude é, pois, uma disposição de caráter relacionada com a escolha e consiste numa mediania, isto é, a mediania relativa a nós, a qual é determinada por um princípio racional próprio do homem dotado de sabedoria prática. (Aristóteles. Ética a Nicômaco. Trad. de Leonel Vallandro e Gerd Bornheim. São Paulo: Abril Cultural, 1973. Livro II, p. 273.) Com base no texto e nos conhecimentos sobre a ética em Aristóteles, pode-se dizer que a virtude ética a) reside no meio termo, que consiste numa escolha situada entre o excesso e a falta. b) implica na escolha do que é conveniente no excesso e do que é prazeroso na falta. c) consiste na eleição de um dos extremos como o mais adequado, isto é, ou o excesso ou a falta. d) pauta-se na escolha do que é mais satisfatório em razão de preferências pragmáticas. e) baseia-se no que é mais prazeroso em sintonia com o fato de que a natureza é que nos torna mais perfeitos. 2. (Ufu 2009) Leia atentamente o texto a seguir. “Logo, o que é primeiramente, isto é, não em sentido determinado, mas sem determinações, deve ser a substância. Ora, em vários sentidos se diz que uma coisa é primeira, e em todos eles o é a substância: na definição, na ordem de conhecimento, no tempo.” ARISTÓTELES. Metafísica. (1028a 30-35). Leonel Vallandro. De acordo com o pensamento de Aristóteles, marque a alternativa incorreta. a) Para Aristóteles, o conhecimento somente é possível tendo por objeto as substâncias, pois dos acidentes não é possível se fazer ciência. b) A substância, ao contrário do acidente, é a categoria por meio da qual sabemos o que uma coisa é, pois é a partir da substância que definimos uma coisa. c) Pode-se dizer que, para a metafísica aristotélica, a substância é a característica necessária de uma coisa, uma vez que nos indica em que sentido uma coisa é. d) Segundo a metafísica aristotélica, a definição de cada ser é apreendida pela ordenação e classificação de suas características acidentais. 3. (Uel 2009) Para Aristóteles, Só julgamos que temos conhecimento de uma coisa quando conhecemos sua causa. E há quatro tipos de causa: a essência, as condições determinantes, a causa eficiente desencadeadora do processo e a causa final. (ARISTÓTELES. Analíticos Posteriores. Livro II. Bauru: Edipro. 2005. p. 327.) Com base no texto e nos conhecimentos sobre a metafísica aristotélica, é correto afirmar. a) A existência de um plano superior constituído das ideias e atingido apenas pelo intelecto permite a Aristóteles a compreensão objetiva dos fenômenos que ocorrem no mundo físico. b) A realidade, para Aristóteles, sendo constituída por seres singulares, concretos e mutáveis, pode ser conhecida indutivamente pela observação. c) Para a compreensão das transformações e da mutabilidade dos seres, Aristóteles recorre ao princípio da criação divina. d) Na metafísica aristotélica, a compreensão do devir de todas as coisas está vinculada à determinação da causa material e da causa formal sobre a causa final. e) Para Aristóteles, todas as coisas tendem naturalmente para um fim (telos), sendo esta concepção teleológica da realidade a que explica a natureza de todos os seres. Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 4 de 24 4. (Uff 2009) Na célebre pintura A escola de Atenas, o artista renascentista italiano Rafael reuniu os principais nomes da filosofia grega, tendo ao centro do quadro as figuras de Platão e de Aristóteles. Na figura, Platão aponta com sua mão para o alto e Aristóteles aponta para baixo. Deste modo, com estes gestos, Rafael estava ilustrando a distinção entre a filosofia de Platão e a filosofia de Aristóteles. Indique e discorre sobre a principal diferença entre a filosofia de Platão e a de Aristóteles. 5. (Uem 2018) “Por natureza, todos os homens desejam o conhecimento. [...] a ciência que investiga causas é mais instrutiva do que uma que não o faz, pois é aquela que nos diz as causas de qualquer coisa particular que nos instrui. Ademais, o conhecimento e o entendimento desejáveis por si mesmos são mais alcançáveis no conhecimento daquilo que é mais cognoscível. Pois o homem que deseja o conhecimento por si mesmo vai desejar sobretudo o conhecimento mais perfeito, que é o conhecimento do mais cognoscível, e as coisas mais cognoscíveis são os princípios e causas primeiros; porque é através e a partir destas que outras coisas vêm a ser compreendidas.” (ARISTÓTELES, Metafísica - livro I. In: MARCONDES, D. Textos básicos de Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2012, p. 46-51). A partir do texto citado, assinale o que for correto. 01) As coisas cognoscíveis não podem ser conhecidas pelo ser humano. 02) O homem deseja o conhecimento mais perfeito, e isso só é possível pela ciência que investiga as causas. 04) A ciência que investiga a causa das coisas e a ciência dos princípios das coisas são contraditórias. 08) O conhecimento não é natural nos seres humanos, mas um desejo que alguns têm, e outros, não. 16) O conhecimento científico fundamenta-se no conhecimento das causas e dos princípios das coisas. 6. (Unesp 2017) Sendo, pois, de duas espécies a virtude, intelectual e moral, a primeira gera-se e cresce graças ao ensino – por isso requer experiência e tempo –, enquanto a virtude moral é adquirida em resultado do hábito. Não é, pois, por natureza, que as virtudes se geram em nós. Adquirimo-las pelo exercício, como também sucede com as artes. As coisas que temos de aprender antes de poder fazê-las, aprendemo-las fazendo; por exemplo, os homens tornam-se arquitetos construindo e tocadores de lira tocando esse instrumento. Da mesma forma, tornamo-nos justos praticando atos justos, e assim com a temperança, a bravura etc. Aristóteles. Ética a Nicômaco, 1991. Adaptado. Responda como a concepção de Aristóteles sobre a origem das virtudes se diferencia de uma concepção inatista, para a qual as virtudes seriam anteriores à experiência pessoal. Explique a importância dessa concepção aristotélica no campo da educação. 7. (Enem 2017) Se, pois, para as coisas que fazemos existe um fim que desejamos por ele mesmo e tudo o mais é desejado no interesse desse fim; evidentemente tal fim será o bem, ou antes, o sumo bem. Mas não terá o conhecimento, porventura, grande influência sobre essa vida? Se assim é, esforcemo-nos por determinar, ainda que em linhas gerais apenas, o que seja ele e de qual das ciências ou faculdades constitui o objeto. Ninguém duvidará de que o seu estudo pertença à arte mais prestigiosa e que mais verdadeiramente se pode chamar a arte mestra. Ora, a política mostra ser dessa natureza,pois é ela que determina quais as ciências que devem ser estudadas num Estado, quais são as que cada cidadão deve aprender, e até que ponto; e vemos que até as faculdades tidas em maior apreço, como a estratégia, a economia e a retórica, estão sujeitas a ela. Ora, como a política utiliza as demais ciências e, por outro lado, legisla sobre o que devemos e o que não devemos fazer, a finalidade dessa ciência deve abranger as das outras, de modo que essa finalidade será o bem humano. ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. In: Pensadores. São Paulo: Nova Gunman 1991 (adaptado). Para Aristóteles, a relação entre o sumo bem e a organização da pólis pressupõe que a) o bem dos indivíduos consiste em cada um perseguir seus interesses. b) o sumo bem é dado pela fé de que os deuses são os portadores da verdade. c) a política é a ciência que precede todas as demais na organização da cidade. d) a educação visa formar a consciência de cada pessoa para agir corretamente. e) a democracia protege as atividades políticas necessárias para o bem comum. Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 5 de 24 8. (Uem 2017) “Portanto, quem possua a noção sem a experiência, e conheça o universal ignorando o particular nele contido, enganar-se-á muitas vezes no tratamento, porque o objeto da cura é, de preferência, o singular. No entanto, nós julgamos que há mais saber e conhecimento na arte do que na experiência, e consideramos os homens de arte mais sábios que os empíricos, visto a sabedoria acompanhar em todos, de preferência, o saber. Isto porque uns conhecem a causa, e os outros não. Com efeito, os empíricos sabem o ‘quê’, mas não o ‘porquê’; ao passo que os outros sabem o ‘porquê’ e a causa. ARISTÓTELES. Metafísica, livro I, cap. 1. Col. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 12. A partir do texto citado, assinale o que for correto. 01) Segundo Aristóteles, o conhecimento do singular, adquirido pela experiência, não pode ser tomado como um conhecimento universal sobre algo determinado. 02) Segundo Aristóteles, o conhecimento do universal independe dos entes particulares ou singulares. 04) Segundo Aristóteles, conhecer algo é conhecer as suas causas e não apenas constatar “que” algo existe. 08) Segundo Aristóteles, os empíricos, ou pessoas que possuem um conhecimento calcado na experiência, conhecem o porquê e a causa das coisas. 16) Segundo Aristóteles, o conhecimento do sábio é superior ao do empírico porque engloba este, sem que isso signifique desprezo do conhecimento empírico ou das coisas particulares. 9. (Enem 2ª aplicação 2016) Ninguém delibera sobre coisas que não podem ser de outro modo, nem sobre as que lhe é impossível fazer. Por conseguinte, como o conhecimento científico envolve demonstração, mas não há demonstração de coisas cujos primeiros princípios são variáveis (pois todas elas poderiam ser diferentemente), e como é impossível deliberar sobre coisas que são por necessidade, a sabedoria prática não pode ser ciência, nem arte: nem ciência, porque aquilo que se pode fazer é capaz de ser diferentemente, nem arte, porque o agir e o produzir são duas espécies diferentes de coisa. Resta, pois, a alternativa de ser ela uma capacidade verdadeira e raciocinada de agir com respeito às coisas que são boas ou más para o homem. ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Abril Cultural, 1980. Aristóteles considera a ética como pertencente ao campo do saber prático. Nesse sentido, ela difere-se dos outros saberes porque é caracterizada como a) conduta definida pela capacidade racional de escolha. b) capacidade de escolher de acordo com padrões científicos. c) conhecimento das coisas importantes para a vida do homem. d) técnica que tem como resultado a produção de boas ações. e) política estabelecida de acordo com padrões democráticos de deliberação. 10. (Enem PPL 2016) Enquanto o pensamento de Santo Agostinho representa o desenvolvimento de uma filosofia cristã inspirada em Platão, o pensamento de São Tomás reabilita a filosofia de Aristóteles – até então vista sob suspeita pela Igreja –, mostrando ser possível desenvolver uma leitura de Aristóteles compatível com a doutrina cristã. O aristotelismo de São Tomás abriu caminho para o estudo da obra aristotélica e para a legitimação do interesse pelas ciências naturais, um dos principais motivos do interesse por Aristóteles nesse período. MARCONDES, D. Textos básicos de filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. A Igreja Católica por muito tempo impediu a divulgação da obra de Aristóteles pelo fato de a obra aristotélica a) valorizar a investigação científica, contrariando certos dogmas religiosos. b) declarar a inexistência de Deus, colocando em dúvida toda a moral religiosa. c) criticar a Igreja Católica, instigando a criação de outras instituições religiosas. d) evocar pensamentos de religiões orientais, minando a expansão do cristianismo. e) contribuir para o desenvolvimento de sentimentos antirreligiosos, seguindo sua teoria política. 11. (Uel 2015) Leia os textos a seguir. A arte de imitar está bem longe da verdade, e se executa tudo, ao que parece, é pelo facto de atingir apenas uma pequena porção de cada coisa, que não passa de uma aparição. Adaptado de: PLATÃO. A República. 7.ed. Trad. de Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1993. p.457. O imitar é congênito no homem e os homens se comprazem no imitado. Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 6 de 24 Adaptado de: ARISTÓTELES. Poética. 4.ed. Trad. De Eudoro de Souza. São Paulo: Nova Cultural, 1991. p.203. Coleção “Os Pensadores”. Com base nos textos, nos conhecimentos sobre estética e a questão da mímesis em Platão e Aristóteles, assinale a alternativa correta. a) Para Platão, a obra do artista é cópia de coisas fenomênicas, um exemplo particular e, por isso, algo inadequado e inferior, tanto em relação aos objetos representados quanto às ideias universais que os pressupõem. b) Para Platão, as obras produzidas pelos poetas, pintores e escultores representam perfeitamente a verdade e a essência do plano inteligível, sendo a atividade do artista um fazer nobre, imprescindível para o engrandecimento da pólis e da filosofia. c) Na compreensão de Aristóteles, a arte se restringe à reprodução de objetos existentes, o que veda o poder do artista de invenção do real e impossibilita a função caricatural que a arte poderia assumir ao apresentar os modelos de maneira distorcida. d) Aristóteles concebe a mímesis artística como uma atividade que reproduz passivamente a aparência das coisas, o que impede ao artista a possibilidade de recriação das coisas segundo uma nova dimensão. e) Aristóteles se opõe à concepção de que a arte é imitação e entende que a música, o teatro e a poesia são incapazes de provocar um efeito benéfico e purificador no espectador. 12. (Enem PPL 2014) Ao falar do caráter de um homem não dizemos que ele é sábio ou que possui entendimento, mas que é calmo ou temperante. No entanto, louvamos também o sábio, referindo-se ao hábito; e aos hábitos dignos de louvor chamamos virtude. ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova CuIturaI, 1973. Em Aristóteles, o conceito de virtude ética expressa a a) excelência de atividades praticadas em consonância com o bem comum. b) concretização utilitária de ações que revelam a manifestação de propósitos privados. c) concordância das ações humanas aos preceitos emanados da divindade. d) realização de ações que permitem a configuração da paz interior. e) manifestação de ações estéticas, coroadas de adorno e beleza. 13. (Enem 2013) A felicidade é portanto, a melhor, a mais nobre e a mais aprazível coisa do mundo, e esses atributos não devem estar separados como na inscrição existente em Delfos “das coisas, a mais nobre é a mais justa, e a melhor éa saúde; porém a mais doce é ter o que amamos”. Todos estes atributos estão presentes nas mais excelentes atividades, e entre essas a melhor, nós a identificamos como felicidade. ARISTÓTELES. A Política. São Paulo: Cia. das Letras, 2010. Ao reconhecer na felicidade a reunião dos mais excelentes atributos, Aristóteles a identifica como a) busca por bens materiais e títulos de nobreza. b) plenitude espiritual a ascese pessoal. c) finalidade das ações e condutas humanas. d) conhecimento de verdades imutáveis e perfeitas. e) expressão do sucesso individual e reconhecimento público. 14. (Enem PPL 2012) Pode-se viver sem ciência, pode-se adotar crenças sem querer justificá-las racionalmente, pode- se desprezar as evidências empíricas. No entanto, depois de Platão e Aristóteles, nenhum homem honesto pode ignorar que uma outra atitude intelectual foi experimentada, a de adotar crenças com base em razões e evidências e questionar tudo o mais a fim de descobrir seu sentido último. ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da filosofia. São Paulo: Odysseus, 2002. Platão e Aristóteles marcaram profundamente a formação do pensamento Ocidental. No texto, é ressaltado importante aspecto filosófico de ambos os autores que, em linhas gerais, refere-se à a) adoção da experiência do senso comum como critério de verdade. b) incapacidade de a razão confirmar o conhecimento resultante de evidências empíricas. c) pretensão de a experiência legitimar por si mesma a verdade. d) defesa de que a honestidade condiciona a possibilidade de se pensar a verdade. e) compreensão de que a verdade deve ser justificada racionalmente. Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 7 de 24 15. (Ufu 2012) Em primeiro lugar, é claro que, com a expressão “ser segundo a potência e o ato”, indicam-se dois modos de ser muito diferentes e, em certo sentido, opostos. Aristóteles, de fato, chama o ser da potência até mesmo de não-ser, no sentido de que, com relação ao ser-em-ato, o ser-em-potência é não-ser-em-ato. REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. Vol. II. Trad. de Henrique Cláudio de Lima Vaz e Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 1994, p. 349. A partir da leitura do trecho acima e em conformidade com a Teoria do Ato e Potência de Aristóteles, assinale a alternativa correta. a) Para Aristóteles, ser-em-ato é o ser em sua capacidade de se transformar em algo diferente dele mesmo, como, por exemplo, o mármore (ser-em-ato) em relação à estátua (ser-em-potência). b) Segundo Aristóteles, a teoria do ato e potência explica o movimento percebido no mundo sensível. Tudo o que possui matéria possui potencialidade (capacidade de assumir ou receber uma forma diferente de si), que tende a se atualizar (assumindo ou recebendo aquela forma). c) Para Aristóteles, a bem da verdade, existe apenas o ser-em-ato. Isto ocorre porque o movimento verificado no mundo material é apenas ilusório, e o que existe é sempre imutável e imóvel. d) Segundo Aristóteles, o ato é próprio do mundo sensível (das coisas materiais) e a potência se encontra tão-somente no mundo inteligível, apreendido apenas com o intelecto. Gabarito: 1. A 2. D 3. E 4. Será corrigida em sala 5. 2 + 16 = 18 6. Será corrigida em sala 7. C 8. 1 + 4 + 16 = 21 9. A 10. A 11. A 12. A 13. C 14. E 15. B AULA 3 – A filosofia helênica Helenismo As filosofias que seguiram Aristóteles, a partir do século IV a.C., relacionam-se ao contexto histórico de conquista das cidades-Estado gregas pela Macedônia, sob o império comandado por Alexandre. Dois séculos depois, há a conquista romana sobre toda a região. Esse período marca, por um lado, o declínio da autonomia de cidades que estavam habituadas a se autogerir, mas, por outro lado, a expansão dos valores da cultura helênica, dispersa agora pelo Oriente próximo e por uma vasta área do Mar Mediterrâneo. A arte e a filosofia gregas tornam-se referência nos impérios desse período, tanto o Macedônio quanto o Romano. As escolas filosóficas no contexto helenista buscam se afastar de problemas metafísicos mais clássicos e se debruçam sobre questões relacionas à virtude, à ética e à felicidade. As principais escolas que se destacam são: Cinismo, Ceticismo, Epicurismo e Estoicismo. Apesar das diferenças entre as quatro vertentes, podemos afirmar que há uma preocupação comum com a ATARAXIA, palavra grega que significa serenidade, quietude ou paz de espírito. Cinismo Diógenes. Jean-Léon Gérôme (1824-1904) Corrente fundada por Antísitines, discípulo de Sócrates, e que teve Diógenes de Sínope (404 – 323 a.C.) como seu principal representante. A escola cínica busca acima de tudo a simplicidade como caminho à ataraxia. Para isso, deve-se afastar das convenções sociais e dos confortos materiais. Uma vida serena e feliz é aquela em que os desejos são controlados e as necessidades reduzidas. Em sua busca por uma vida virtuosa, Diógenes acreditava ser preciso afastar-se das restrições externas causadas pela sociedade e do descontentamento interno causado pelo desejo e pelo medo. Por isso, optou por uma vida de pobreza e passou a se abrigar dentro de um barril. Para ele, a pessoa mais virtuosa e feliz é aquela que vive em consonância com o mundo natural, assim como um cão que precisa apenas de alimento, água e descanso para sentir-se bem, daí a origem do nome Cinismo, que remete ao grego kynikos (como um cão). Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 8 de 24 Ceticismo Corrente relacionada ao pensamento de Pirro de Élia (360 – 270 a.C.), também conhecida como Pirronismo, e que teve várias vertentes e vários expoentes no universo da Filosofia. Para Pirro, a atitude coerente do sábio, diante da impossibilidade de se conhecer a verdade em termos absolutos, é a suspensão do juízo. Assim, assume-se a imperturbabilidade como o principal caminho à busca pela felicidade. Esses pensamentos foram disseminados pelo filósofo Sexto Empírico, que viveu no século II depois de Cristo. Ele propagou o Pirronismo no contexto do Império Romano. O ceticismo pirrônico afirma que é impossível decidir sobre a verdade ou falsidade de uma proposição qualquer. Sexto Empírico definiu rigorosamente essa doutrina: “a toda razão opõe-se uma razão de igual valor”. Trataremos aqui, resumidamente, da doutrina cética, não sem antes declarar que, daquilo que será apresentado, nada afirmamos que será exatamente da maneira como; cada coisa será exposta em nossa crônica segundo se manifesta agora (...). Diferentemente do dogmático, que tem por existente aquilo sobre o qual dogmatiza, o cético anuncia suas próprias fórmulas de modo tal que elas mesmas se anulam. O cético, que prescinde de valorar essas situações (frio, sede, inquietação) como más por natureza, passa por elas com temperança. (Sexto Empírico – Hipotiposes Pirrônicas I) Epicurismo O sentido do hedonismo (o bem encontra-se no prazer) grego surgiu com Epicuro de Samos (341 – 270 a. C.). Porém, para Epicuro, os prazeres do corpo são as causas de todo o sofrimento. Para que se possa alcançar a ataraxia, é preciso gozar o prazer com moderação. Para Epicuro, em sua filosofia, a paz de espírito figura como o objetivo fundamental da vida: “é impossível viver de maneira agradável sem viver de maneira sábia, honrada e justa, e é impossível viver de maneira sábia, honrada e justa sem viver uma vida agradável”. Na linguagem comum, o epicurismo é sinônimo de uma vida exageradamente ligada ao desfrute incontrolável dos prazeres carnais. Contudo, isso não está de acordo com a escola de Epicuro, visto que o exagero não proporciona prazer à alma e ao corpo, sendo, portanto, pelo Epicurismo, considerado um vício e não uma virtude. A ética epicurista prega moderação nos prazeres, mas não sua supressão. Sentir esse prazer é uma expressão de nossa natureza e devemos respeitá-la. A virtudeé a prudência na busca do prazer, pois “só o desfrute prudente das sensações proporciona paz de espírito”. Para Epicuro, o maior prazer só é alcançado por meio do conhecimento (reflexão filosófica), da independência (que proporciona tempo livre), da amizade (boa companhia) e de uma vida moderada, livre do medo e da dor. “O prazer é o início e o fim de uma vida feliz. Com efeito, nós o identificamos como o bem primeiro e inerente ao ser humano, em razão dele praticamos toda a escolha e toda a recusa, e a ele chegamos escolhendo todo o bem de acordo com a distinção entre prazer e dor. (...) Embora o prazer seja o nosso bem primeiro e inato, nem por isso escolhemos qualquer prazer: há ocasiões em que evitamos muitos prazeres, enquanto deles nos advém efeitos o mais das vezes desagradáveis; ao passo que consideramos muitos sofrimentos preferíveis aos prazeres, se um prazer maior advier de suportarmos essas dores por muito tempo” (Epicuro – Carta sobre a felicidade) Epicuro também escreveu sobre a morte, afirmando que o sábio não deve temê-la: A Morte Não É Nada Para Nós Habitua-te a pensar que a morte não é nada para nós, pois que o bem e o mal só existem na sensação. Donde se segue que um conhecimento exato do fato de a morte não ser nada para nós permite-nos usufruir esta vida mortal, evitando que lhe atribuamos uma idéia de duração eterna e poupando-nos o pesar da imortalidade. Pois nada há de temível na vida para quem compreendeu nada haver de temível no fato de não viver. É pois, tolo quem afirma temer a morte, não porque sua vinda seja temível, mas porque é temível esperá-la. Tolice afligir-se com a espera da morte, pois trata-se de algo que, uma vez vindo, não causa mal. Assim, o mais espantoso de todos os males, a morte, não é nada para nós, pois enquanto vivemos, ela não existe, e quando chega, não existimos mais. Não há morte, então, nem para os vivos nem para os mortos, porquanto para uns não existe, e os outros não existem mais. Mas o vulgo, ou a teme como o pior dos males, ou a deseja como termo para os males da vida. O sábio não teme a morte, a vida não lhe é nenhum fardo, nem ele crê que seja um mal não mais existir. Assim como não é a abundância dos manjares, mas a sua qualidade, que nos delicia, assim também não é a longa duração da vida, mas seu encanto, Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 9 de 24 que nos apraz. Quanto aos que aconselham os jovens a viverem bem, e os velhos a bem morrerem, são uns ingênuos, não apenas porque a vida tem encanto mesmo para os velhos, como porque o cuidado de viver bem e o de bem morrer constituem um único e mesmo cuidado. (Epicuro, in "A Conduta na Vida") Estoicismo O Estocismo é a principal escola filosófica do período helenístico, que adentrou o Império Romano e que teve grande influência sobre o Crisitanismo. O principal representante do Estoicismo foi Zenão de Cítio (332 – 265 a. C.). Duas escolas importantes de pensamento filosófico surgiram depois da morte de Aristóteles: a ética hedonista e agnóstica de Epicuro, e o mais popular e duradouro Estoicismo de Zenão de Cítio. Zenão estudou com um discípulo de Diógenes e compartilhou do Cinismo sua abordagem singela. Ele tinha pouca paciência com especulações metafísicas e chegou a acreditar que o cosmos era governado por leis naturais estabelecidas por um legislador supremo (LOGOS ou razão universal). O homem é completamente impotente para mudar essa realidade. Além de desfrutar seus inúmeros benefícios, tem de aceitar sua crueldade e injustiça. (O Livro da Filosofia – Ed. Globo) O Estoicismo considerava o prazer a fonte de todos os males e valorizava atributos como disciplina e resistência ao sofrimento. A virtude do sábio seria eliminar as paixões e viver de acordo com a natureza e com a razão universal. A razão, uma espécie de força divina, estaria impregnada em todos os elementos da natureza. Não se deve, portanto, lutar contra alguns eventos naturais, como morte e envelhecimento, pois são inevitáveis. A melhor maneira de se encontrar a paz de espírito se dá, para os estóicos, por meio da aceitação serena do destino. Para os estoicos, assim, a única coisa que está sob nosso controle somos nós mesmos: nossos pensamentos, nossas paixões e ações. Desse modo, podemos moldá-los para vivermos da maneira mais virtuosa e feliz. A virtude seria justamente compreender como o universo funciona e agir em consonância com suas leis. A ferramenta que proporciona a virtude, portanto, é a razão, que nos permite desenvolver habilidades como inteligência, disciplina e resignação. Assim, a condição essencial para se ter uma vida feliz é agir com virtude, o que depende de um estado de harmonia com o Logos, a razão universal ou divina, da qual não temos controle. A aproximação do Estoicismo com o Cristianismo se dá justamente pelo cultivo de atitudes como autocontrole, austeridade (negação dos prazeres e desejos) e submissão perante a razão divina. Texto complementar: Neoplatonismo Por Ana Lúcia Santana Um dos movimentos filosóficos mais significativos da Antiguidade foi o neoplatonismo, assim denominado por beber na fonte da teoria platônica. Na verdade, só nos dias atuais os pesquisadores acrescentaram o prefixo neo, para marcar uma diferença em relação às duas correntes, as quais, apesar das aparências, eram bem distintas uma da outra. O filósofo mais importante desta escola foi Plotino, que se formou em Alexandria – centro urbano que era então o cenário da convergência entre o pensamento grego e o oriental - e posteriormente transferiu-se para Roma. Os textos por ele produzidos foram depois compilados por seu discípulo Porfírio em uma obra conhecida como as Seis Enéadas. Ao contrário de Platão, Plotino acreditava em uma espécie de monismo idealista. Para ele só existia mesmo Deus ou o Uno, de onde emana a fonte divina que irradia por toda a criação. Segundo este filósofo, as sombras nada mais eram que a carência de luz, a qual não conseguia atingi-las; mas não se podia dizer que elas tinham uma real existência. Desta forma, os neoplatônicos rejeitavam o conceito do mal, e acreditavam apenas em graus de imperfeição, na carência da prática do bem. Contrariamente aos ensinamentos cristãos, não era necessário transpor as fronteiras da morte, caminhar para estágios de uma vida na espiritualidade, a fim de se conquistar uma alma perfeita e feliz. Estas virtudes podiam ser obtidas através do exercício constante da meditação filosófica. Plotino tinha plena convicção de que a esfera material estava mergulhada nas sombras, mas ainda assim acreditava que as formas naturais refletiam um pouco da Luz do Uno. Ao lado de Deus estão posicionadas as ideias eternas, as formas primitivas de todos os seres. A alma do Homem é um dos raios desta chama que emana de Deus. Tudo, portanto, é permeado pela fonte divina. Nos recantos mais distantes do Criador estão localizadas a terra, a água e as pedras. Por outro lado, o interior da alma humana é a esfera que se encontra mais perto de Deus. Só aí é possível ao Homem se reconectar com o Divino e até mesmo se sentir parte dele. Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 10 de 24 O monismo do neoplatonismo contrasta com o dualismo de Platão, que distingue entre o universo das ideias e o dos sentidos. A fusão completa da alma humana com Deus, a qual pode ser vivenciada por algumas pessoas em determinados momentos da existência, dá origem ao que se chama de experiência mística, experimentada inclusive por Plotino. Esta vivência reafirma, portanto, que tudo existe em Deus, tudo é Deus, a plenitude. Outros neoplatônicos se destacam, ao lado de Plotino, entre eles Porfírio, Proclo, Jâmblico, Hipátia de Alexandria, e até mesmo Agostinho de Hipona, antes de sua rendição ao Catolicismo, religião na qual ele, posteriormente, é sagrado como Santo Agostinho. Embora esta teoria seja considerada um pilar do paganismo, vários cristãosforam inspirados por ela, que deixou marcas profundas na própria teologia cristã. É no Cristianismo que o Uno é considerado sinônimo de Deus. Na era medieval, os conceitos desenvolvidos pelos neoplatônicos se insinuaram no interior da mentalidade dos judeus adeptos da Cabala, os quais modelaram esta doutrina conforme suas inclinações ao monoteísmo. Estas ideias se infiltraram igualmente entre os filósofos islâmicos e sufis, nesta mesma época. O neoplatonismo encontrou abrigo no Oriente e, posteriormente, foi resgatado na esfera ocidental por Plethon, e ressuscitado durante o Renascimento. Exercícios 1. (ENEM) Alguns dos desejos são naturais e necessários; outros, naturais e não necessários; outros, nem naturais nem necessários, mas nascidos de vã opinião. Os desejos que não nos trazem dor se não satisfeitos não são necessários, mas o seu impulso pode ser facilmente desfeito, quando é difícil obter sua satisfação ou parecerem geradores de dano. EPICURO DE SAMOS. Doutrinas principais. In: SANSON, V. F. Textos de filosofia. Rio de Janeiro: Eduff, 1974. No fragmento da obra filosófica de Epicuro, o homem tem como fim a. alcançar o prazer moderado e a felicidade. b. valorizar os deveres e as obrigações sociais. c. aceitar o sofrimento e o rigorismo da vida com resignação. d. refletir sobre os valores e as normas dadas pela divindade. e. defender a indiferença e a impossibilidade de se atingir o saber. 2. (Enem 2016) Pirro afirmava que nada é nobre nem vergonhoso, justo ou injusto; e que, da mesma maneira, nada existe do ponto de vista da verdade; que os homens agem apenas segundo a lei e o costume, nada sendo mais isto do que aquilo. Ele levou uma vida de acordo com esta doutrina, nada procurando evitar e não se desviando do que quer que fosse, suportando tudo, carroças, por exemplo, precipícios, cães, nada deixando ao arbítrio dos sentidos.LAÉRCIO, D. Vidas e sentenças dos filósofos ilustres. Brasília: Editora UnB, 1988. O ceticismo, conforme sugerido no texto, caracteriza-se por: a) Desprezar quaisquer convenções e obrigações da sociedade. b) Atingir o verdadeiro prazer como o princípio e o fim da vida feliz. c) Defender a indiferença e a impossibilidade de obter alguma certeza. d) Aceitar o determinismo e ocupar-se com a esperança transcendente. e) Agir de forma virtuosa e sábia a fim de enaltecer o homem bom e belo. 3. (Uem 2008) O Período Helenístico inicia-se com a conquista macedônica das cidades-Estado gregas. As correntes filosóficas desse período surgem como tentativas de remediar os sofrimentos da condição humana individual: o epicurismo ensinando que o prazer é o sentido da vida; o estoicismo instruindo a suportar com a mesma firmeza de caráter os acontecimentos bons ou maus; o ceticismo de Pirro orientando a suspender os julgamentos sobre os fenômenos. Sobre essas correntes filosóficas, assinale o que for correto. 01) Os estoicos, acreditando na ideia de um cosmo harmonioso governado por uma razão universal, afirmaram que virtuoso e feliz é o homem que vive de acordo com a natureza e a razão. 02) Conforme a moral estoica, nossos juízos e paixões dependem de nós, e a importância das coisas provém da opinião que delas temos. 04) Para o epicurismo, a felicidade é o prazer, mas o verdadeiro prazer é aquele proporcionado pela ausência de sofrimentos do corpo e de perturbações da alma. 08) Para Epicuro, não se deve temer a morte, porque nada é para nós enquanto vivemos e, quando ela nos sobrevém, somos nós que deixamos de ser. 16) O ceticismo de Pirro sustentou que, porque todas as opiniões são igualmente válidas e nossas sensações não são verdadeiras nem falsas, nada se deve afirmar com certeza absoluta, e da suspensão do juízo advém a paz e a tranquilidade da alma. Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 11 de 24 4. (Uff 2010) Filosofia O mundo me condena, e ninguém tem pena Falando sempre mal do meu nome Deixando de saber se eu vou morrer de sede Ou se vou morrer de fome Mas a filosofia hoje me auxilia A viver indiferente assim Nesta prontidão sem fim Vou fingindo que sou rico Pra ninguém zombar de mim Não me incomodo que você me diga Que a sociedade é minha inimiga Pois cantando neste mundo Vivo escravo do meu samba, muito embora vagabundo Quanto a você da aristocracia Que tem dinheiro, mas não compra alegria Há de viver eternamente sendo escrava dessa gente Que cultiva hipocrisia. Assinale a sentença do filósofo grego Epicuro cujo significado é o mais próximo da letra da canção “Filosofia”, composta em 1933 por Noel Rosa, em parceria com André Filho. a) É verdadeiro tanto o que vemos com os olhos como aquilo que apreendemos pela intuição mental. b) Para sermos felizes, o essencial é o que se passa em nosso interior, pois é deste que nós somos donos. c) Para se explicar os fenômenos naturais, não se deve recorrer nunca à divindade, mas se deve deixá-la livre de todo encargo, em sua completa felicidade. d) As leis existem para os sábios, não para impedir que cometam injustiças, mas para impedir que as sofram. e) A natureza é a mesma para todos os seres, por isso ela não fez os seres humanos nobres ou ignóbeis, e, sim suas ações e intenções. 5. (Ufsj 2012) Sobre a ética na Antiguidade, é CORRETO afirmar que a) o ideal ético perseguido pelo estoicismo era um estado de plena serenidade para lidar com os sobressaltos da existência. b) os sofistas afirmavam a normatização e verdades universalmente válidas. c) Platão, na direção socrática, defendeu a necessidade de purificação da alma para se alcançar a ideia de bem. d) Sócrates repercutiu a ideia de uma ética intimista voltada para o bem individual, que, ao ser exercida, se espargiria por todos os homens. 6. (Enem 2018) A quem não basta pouco, nada basta. EPICURO. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural,1985. Remanescente do período helenístico, a máxima apresentada valoriza a seguinte virtude: a) Esperança, tida como confiança no porvir. b) Justiça, interpretada como retidão de caráter. c) Temperança, marcada pelo domínio da vontade. d) Coragem, definida como fortitude na dificuldade. e) Prudência, caracterizada pelo correto uso da razão. Gabarito: 1.A 2. C 3. 01 + 02 + 04 + 08 + 16 = 31. 4. B 5. A 6. C Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 12 de 24 AULA 4 – A filosofia na Idade Média 1. Filosofia Medieval O surgimento da religião cristã, e seu decorrente crescimento no mundo ocidental, mudou os rumos da Filosofia. Se no início a cultura filosófica surgira justamente como um rompimento com a visão mitológica do mundo, ela agora irá lidar com a grande influência da religião dos cristãos. Teremos, então, posturas diferentes em relação a essa situação: por um lado aqueles pensadores que afirmarão que a Filosofia seria uma ferramenta importante para compreender a fé revelada por Cristo, sendo, inclusive, vista como uma preparação para os ensinamentos cristãos. Por outro lado, teremos aqueles que pensam que a Filosofia é simplesmente um pensamento pagão e que deve ser evitada. Nas tradições mais importantes medievais, a Patrística e a Escolástica, há uma evidente preocupação em conciliar a doutrina cristã com os pensamentos filosóficos clássicos. Santo Agostinho (354 – 430 d.C.) Aurélio Agostinho nasceu em Tagaste, uma pequena cidade no norte da África. Não aderiu ao Cristianismo no princípio de sua vida, mesmo com sua mãe sendo cristã. Lecionou retórica em sua cidade natal e em Cartago, Roma e Milão, ocupando posições de prestígio. Converteu-se ao Cristianismo após um momento de revelação e dedicou-se a escrever obras cristãs. Tornou-se bispo na cidade de Hipona, onde permaneceu até o fim de sua vida. Contexto histórico: fim do Império Romano e auge das invasões bárbaras. Os escritos de Agostinho demonstram uma forte influência da escola platônica, especialmente do neoplatonismo que adentra à era medieval porinfluência de Plotino. Para o Neoplatonismo, a filosofia platônica seria uma preparação para a alma e um conhecimento útil para que se possa ter uma compreensão da verdade revelada por Cristo. Um dos aspectos que demonstram a influência do platonismo na obra de Agostinho é sua reflexão sobre o mal, considerado não como uma força em si, mas como a ausência do Bem. O livre-arbítrio que os homens têm por consequência de serem racionais os faz poder escolher entre o bem e o mal (distanciar-se do bem). Escolher o caminho de Deus é a essência da sabedoria para Agostinho. Por isso, a verdadeira e legítima ciência é a Teologia: é na sabedoria das coisas divinas que os esforços do homem devem estar focados. Santo Agostinho desvaloriza, portanto, o conhecimento do mundo sensível. TEORIA DA ILUMINAÇÃO A verdade interior é a revelação divina. “Não aprendemos pelas palavras que repercutem exteriormente, mas pela verdade que ensina interiormente. Quem é consultado ensina verdadeiramente, e este é Cristo, que habita o homem interior”. Para compreender, a alma faz uso de seu aspecto divino, abrindo espaço para a fé na teoria do conhecimento. Os escritos filosóficos de Agostinho dão origem à Patrística: filosofia cristã dos primeiros séculos da Idade Média, que almejava legitimar os fundamentos dos ensinamentos cristãos, fazendo uso da filosofia grega, especialmente a filosofia platônica. Seu principal expoente é Santo Agostinho. São Tomás de Aquino (1225 – 1274) Nasceu na Itália, ingressou na Universidade de Nápoles e pertenceu à Ordem Dominicana, uma ordem religiosa recente na época cujos membros eram bastante intelectualizados. Especializou-se nos estudos de Teologia, tornando-se mestre e docente na área. Produziu várias obras por meio das quais buscava conciliar as referências aristotélicas à doutrina cristã. Por isso podemos dizer que sua filosofia propõe uma reinterpretação da teoria aristotélica com o intuito de adaptá-la ao pensamento cristão. Contexto histórico: desde o século X o sistema feudal começa a ser abalado por algumas mudanças significativas vinculadas à expansão das cidades e ao desenvolvimento do comércio. A criação de inúmeras universidades na Europa foi parte importante deste processo. Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 13 de 24 ESCOLÁSTICA Filosofia Medieval de base aristotélica vinculada ao Cristianismo. A Patrística, de orientação neoplatônica e influenciada por Agostinho, predominou no mundo medieval até o século IX, quando a Escolástica começou a se fortalecer, vinculada ao surgimento das universidades, uma vez que seus representantes eram vinculados a tais escolas. Teve seu apogeu nos séculos XII e XIV e entrou em declínio ao longo do Renascimento. Tomás de Aquino é um dos expoentes mais significativos da Escolástica. Seguindo bases aristotélicas, busca provas racionais para a existência de Deus, perceptíveis e nosso mundo sensível, pois acredita, assim como Aristóteles, que todo conhecimento tem uma base sensível, muito embora as verdadeiras formas de conhecimento sejam fundadas na racionalidade da alma. As Cinco vias da Prova da Existência de Deus: Primeira via Primeiro motor imóvel: tudo o que se move é movido por alguém, é impossível uma cadeia infinita de motores provocando o movimento dos movidos, pois do contrário nunca se chegaria ao movimento presente, logo há que ter um primeiro motor que deu início ao movimento existente e que por ninguém foi movido. Segunda via Causa primeira: decorre da relação "causa-e-efeito" que se observa nas coisas criadas. É necessário que haja uma causa primeira que por ninguém tenha sido causada, pois a todo efeito é atribuída uma causa, do contrário não haveria nenhum efeito pois cada causa pediria uma outra numa sequência infinita. Terceira via Ser necessário: existem seres que podem ser ou não ser (contingentes), mas nem todos os seres podem ser desnecessários se não o mundo não existiria, logo é preciso que haja um ser que fundamente a existência dos seres contingentes e que não tenha a sua existência fundada em nenhum outro ser. Quarta via Ser perfeito: verifica-se que há graus de perfeição nos seres, uns são mais perfeitos que outros, qualquer graduação pressupõe um parâmetro máximo, logo deve existir um ser que tenha este padrão máximo de perfeição e que é a causa da perfeição dos demais seres. Quinta via Inteligência ordenadora: existe uma ordem no universo que é facilmente verificada, ora toda ordem é fruto de uma inteligência, não se chega à ordem pelo acaso e nem pelo caos, logo há um ser inteligente que dispôs o universo na forma ordenada. Exercícios 1. (Ufu 2011) Considere o seguinte texto sobre Tomás de Aquino (1226-1274). Fique claro que Tomás não aristoteliza o cristianismo, mas cristianiza Aristóteles. Fique claro que ele nunca pensou que, com a razão se pudesse entender tudo; não, ele continuou acreditando que tudo se compreende pela fé: só quis dizer que a fé não estava em desacordo com a razão, e que, portanto, era possível dar-se ao luxo de raciocinar, saindo do universo da alucinação. Eco, Umberto. “Elogio de santo Tomás de Aquino”. In: Viagem na irrealidade cotidiana, p.339. É correto afirmar, segundo esse texto, que: a) Tomás de Aquino, com a ajuda da filosofia de Aristóteles, conseguiu uma prova científica para as certezas da fé, por exemplo, a existência de Deus. b) Tomás de Aquino se empenha em mostrar os erros da filosofia de Aristóteles para mostrar que esta filosofia é incompatível com a doutrina cristã. c) o estudo da filosofia de Aristóteles levou Tomás de Aquino a rejeitar as verdades da fé cristã que não fossem compatíveis com a razão natural. d) a atitude de Tomás de Aquino diante da filosofia de Aristóteles é de conciliação desta filosofia com as certezas da fé cristã. Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 14 de 24 2. (Ufu 2011) Segundo o texto abaixo, de Agostinho de Hipona (354-430 d. C.), Deus cria todas as coisas a partir de modelos imutáveis e eternos, que são as ideias divinas. Essas ideias ou razões seminais, como também são chamadas, não existem em um mundo à parte, independentes de Deus, mas residem na própria mente do Criador, [...] a mesma sabedoria divina, por quem foram criadas todas as coisas, conhecia aquelas primeiras, divinas, imutáveis e eternas razões de todas as coisas, antes de serem criadas [...]. Sobre o Gênese, V Considerando as informações acima, é correto afirmar que se pode perceber: a) que Agostinho modifica certas ideias do cristianismo a fim de que este seja concordante com a filosofia de Platão, que ele considerava a verdadeira. b) uma crítica radical à filosofia platônica, pois esta é contraditória com a fé cristã. c) a influência da filosofia platônica sobre Agostinho, mas esta é modificada a fim de concordar com a doutrina cristã. d) uma crítica violenta de Agostinho contra a filosofia em geral. 3. (Ufu 2010) A filosofia de Agostinho (354 – 430) é estreitamente devedora do platonismo cristão milanês: foi nas traduções de Mário Vitorino que leu os textos de Plotino e de Porfírio, cujo espiritualismo devia aproximá-lo do cristianismo. Ouvindo sermões de Ambrósio, influenciados por Plotino, que Agostinho venceu suas últimas resistências (de tornar-se cristão). PEPIN, Jean. Santo Agostinho e a patrística ocidental. In: CHÂTELET, François (org.) A Filosofia medieval. Rio de Janeiro Zahar Editores: 1983, p. 77. Apesar de ter sido influenciado pela filosofia de Platão, por meio dos escritos de Plotino, o pensamento de Agostinho apresenta muitas diferenças se comparado ao pensamento de Platão. Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, uma dessas diferenças. a) Para Agostinho, é possível ao ser humano obter o conhecimento verdadeiro, enquanto, para Platão, a verdade a respeito do mundo é inacessível ao ser humano. b) ParaPlatão, a verdadeira realidade encontra-se no mundo das Ideias, enquanto para Agostinho não existe nenhuma realidade além do mundo natural em que vivemos. c) Para Agostinho, a alma é imortal, enquanto para Platão a alma não é imortal, já que é apenas a forma do corpo. d) Para Platão, o conhecimento é, na verdade, reminiscência, a alma reconhece as Ideias que ela contemplou antes de nascer; Agostinho diz que o conhecimento é resultado da Iluminação divina, a centelha de Deus que existe em cada um. 4. (Enem 2018) Desde que tenhamos compreendido o significado da palavra “Deus”, sabemos, de imediato, que Deus existe. Com efeito, essa palavra designa uma coisa de tal ordem que não podemos conceber nada que lhe seja maior. Ora, o que existe na realidade e no pensamento é maior do que o que existe apenas no pensamento. Donde se segue que o objeto designado pela palavra “Deus”, que existe no pensamento, desde que se entenda essa palavra, também existe na realidade. Por conseguinte, a existência de Deus é evidente. TOMÁS DE AQUINO. Suma teológica. Rio de Janeiro: Loyola, 2002. O texto apresenta uma elaboração teórica de Tomás de Aquino caracterizada por a) reiterar a ortodoxia religiosa contra os heréticos. b) sustentar racionalmente doutrina alicerçada na fé. c) explicar as virtudes teologais pela demonstração. d) flexibilizar a interpretação oficial dos textos sagrados. e) justificar pragmaticamente crença livre de dogmas. 5. (Ufu 2018) Agostinho, em Confissões, diz: "Mas após a leitura daqueles livros dos platônicos e de ser levado por eles a buscar a verdade incorpórea, percebi que 'as perfeições invisíveis são visíveis em suas obras' (Carta de Paulo aos Romanos, 1, 20)". Agostinho de Hipona. Confissões, livro VII, cap. 20, citado por: MARCONDES, Danilo. Textos Básicos de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2000. Tradução do autor. Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 15 de 24 Nesse trecho, podemos perceber como Agostinho a) se utilizou da Bíblia para conhecer melhor a filosofia platônica. b) utiliza a filosofia platônica para refutar os textos bíblicos. c) separa nitidamente os domínios da filosofia e da religião. d) foi despertado para o conhecimento de Deus a partir da filosofia platônica. 6. (Enem 2018) Não é verdade que estão ainda cheios de velhice espiritual aqueles que nos dizem: “Que fazia Deus antes de criar o céu e a terra? Se estava ocioso e nada realizava”, dizem eles, “por que não ficou sempre assim no decurso dos séculos, abstendo-se, como antes, de toda ação? Se existiu em Deus um novo movimento, uma vontade nova para dar o ser a criaturas que nunca antes criara, como pode haver verdadeira eternidade, se n’Ele aparece uma vontade que antes não existia?” AGOSTINHO. Confissões. São Paulo: Abril Cultural, 1984. A questão da eternidade, tal como abordada pelo autor, é um exemplo da reflexão filosófica sobre a(s) a) essência da ética cristã. b) natureza universal da tradição. c) certezas inabaláveis da experiência. d) abrangência da compreensão humana. e) interpretações da realidade circundante. 7. (Unesp 2016) Não posso dizer o que a alma é com expressões materiais, e posso afirmar que não tem qualquer tipo de dimensão, não é longa ou larga, ou dotada de força física, e não tem coisa alguma que entre na composição dos corpos, como medida e tamanho. Se lhe parece que a alma poderia ser um nada, porque não apresenta dimensões do corpo, entenderá que justamente por isso ela deve ser tida em maior consideração, pois é superior às coisas materiais exatamente por isso, porque não é matéria. É certo que uma árvore é menos significativa que a noção de justiça. Diria que a justiça não é coisa real, mas um nada? Por conseguinte, se a justiça não tem dimensões materiais, nem por isso dizemos que é nada. E a alma ainda parece ser nada por não ter extensão material? (Santo Agostinho. Sobre a potencialidade da alma, 2015. Adaptado.) No texto de Santo Agostinho, a prova da existência da alma a) desempenha um papel primordialmente retórico, desprovido de pretensões objetivas. b) antecipa o empirismo moderno ao valorizar a experiência como origem das ideias. c) serviu como argumento antiteológico mobilizado contra o pensamento escolástico. d) é fundamentada no argumento metafísico da primazia da substância imaterial. e) é acompanhada de pressupostos relativistas no campo da ética e da moralidade. 8. (Enem PPL 2015) Se os nossos adversários, que admitem a existência de uma natureza não criada por Deus, o Sumo Bem, quisessem admitir que essas considerações estão certas, deixariam de proferir tantas blasfêmias, como a de atribuir a Deus tanto a autoria dos bens quanto dos males. Pois sendo Ele fonte suprema da Bondade, nunca poderia ter criado aquilo que é contrário à sua natureza. AGOSTINHO. A natureza do Bem. Rio de Janeiro: Sétimo Selo, 2005 (adaptado). Para Agostinho, não se deve atribuir a Deus a origem do mal porque a) o surgimento do mal é anterior à existência de Deus. b) o mal, enquanto princípio ontológico, independe de Deus. c) Deus apenas transforma a matéria, que é, por natureza, má. d) por ser bom, Deus não pode criar o que lhe é oposto, o mal. e) Deus se limita a administrar a dialética existente entre o bem e o mal. Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 16 de 24 9. (Ufu 2013) Com efeito, existem a respeito de Deus verdades que ultrapassam totalmente as capacidades da razão humana. Uma delas é, por exemplo, que Deus é trino e uno. Ao contrário, existem verdades que podem ser atingidas pela razão: por exemplo, que Deus existe, que há um só Deus etc. AQUINO, Tomás de. Súmula contra os Gentios. Capítulo Terceiro: A possibilidade de descobrir a verdade divina. Tradução de Luiz João Baraúna. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 61. Para São Tomás de Aquino, a existência de Deus se prova a) por meios metafísicos, resultantes de investigação intelectual. b) por meio do movimento que existe no Universo, na medida em que todo movimento deve ter causa exterior ao ser que está em movimento. c) apenas pela fé, a razão é mero instrumento acessório e dispensável. d) apenas como exercício retórico. 10. (Ufu 2018) Considere o trecho abaixo, extraído da Suma de Teologia de Tomás de Aquino (1224-1274), texto em que ele apresenta uma das célebres cinco vias pelas quais se pode provar a existência de Deus. “A quinta via é assumida a partir do governo das coisas. Vemos, com efeito, que aquilo que carece de inteligência, ou seja, os corpos naturais, opera em vista de um fim, o que se percebe pelo fato de sempre ou frequentemente operarem do mesmo modo a fim de atingir o que é o melhor. Daí fica claro que não é por acaso, e sim intencionalmente que atingem este fim. Mas o que não tem inteligência não tende a um fim se não for dirigido por algo cognoscente e inteligente, assim como a flecha pelo arqueiro. Portanto, há algo inteligente pelo qual todas as coisas naturais são ordenadas a seu fim, e este dizemos que é Deus.” AQUINO, Tomás de. Suma de Teologia, questão 2, artigo 3. a) Segundo Tomás de Aquino, a prova sobre a existência de Deus não é uma demonstração de fato (caso em que seria evidente), e sim uma prova a partir dos efeitos. Explique por que essa quinta via é uma prova a partir dos efeitos. b) Descreva como Tomás de Aquino se utiliza da filosofia de Aristóteles na elaboração dessa prova. Gabarito: 1. D 2. C 3. D 4. B 5. D 6. D 7. D 8. D 9. B 10. dissertativa AULA 5 – O Renascimento e a revolução científica Revolução Científica Contexto histórioco: Renascimento A revolução científica marca uma profunda mudança no sistema filosófico usado para se conhecer o mundo. O período do Renascimento deflagra uma crise na Escolásticavnculada ao fortalecimento de correntes como o Humanismo, que marcou uma renovação filosófica caracterizada por um interesse maior às questões humanas e um espaço reduzido às questões metafísicas. Houve uma reapropriação das obras clássicas greco-romanas, mas que abdicava de suas leituras medievais. Com isso, inciava-se um processo de expansão do racionalismo e do antropocentrismo, fundamentais ao desenvolvimento da ciência e da filosofia modernas. Há um processo crecente de secularização: preocupação em se desligar das justificativas feitas pela religião, que exigem adesão pela crença, para só aceitar as verdades resultantes da investigação da razão mediante demonstração. Com isso, a razão passa a ser utilizada como principal instrumento de conhecimento do mundo. Aliada à experimentação, proposta pelos físicos e astrônomos da época, fornecerá bases sólidas à ciência moderna. A revolução cientíca deflagra, em seu curso, a quebra do paradigma geocêntrico, enraizado na ciência grega, sobretudonas obras de Aristóteles e Ptolomeu. Copérnico e Galileu apresentam, em seu lugar, o Heliocentrismo, apoiado por observaçãoe e cálculos matemáticos, mas condenado pelas autoridades escolásticas. Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 17 de 24 Copérnico Defende, em 1543, um modelo matemático que considera o Sol como o centro do universo (Heliocentrismo). Galileu - busca comprovar empiricamente o modelo heliocêntrico; - defende que a linguagem do mundo é a matemática; - faz uso do telescópio e comprova que a Lua é montanhosa, derrubando a tese artistotélica do mundo supralunar; - afirma que é preciso interpretar a experiência empírica com o raciocínio; Parece-me que, nas discussões sobre os problemas naturais, não se deveria começar pela autoridade dos textos da Escritura, e sim pelas experiências sensíveis e pelas demonstrações necessárias, porque tanto a sagrada escritura quanto a natureza procedem do verbo divino; aquela, com inspiração do Espírito Santo, e a segunda, como fiel executora das ordens de Deus; porque, além disso, existe conformidade em que as Escrituras, para adaptar-se às possibilidade de compreensão da maioria, dizem, aparentemente, e circunscrevendo-nos ao significado literal das palavras, muitas coisas diferentes da verdade absoluta; e porque, ao contrário, a natureza é inexorável e imutável e jamais ultrapassa os limites das leis a ela impostas, ao não se preocupar em nada com que suas ocultas razões e modos de operar estejam ou não ao alcance da capacidade dos homens. Parece, pois, que o que concernente aos efeitos naturais que a experiência sensível colocando-nos diante dos olhos, ou que as necessárias demonstrações comprovam, não deva de nenhuma maneira ser colocada em dúvida nem condenada pelas passagens da Escritura que disserem aparentemente coisas contrárias, uma vez que nem todas as palavras da Escritura estão ligadas a obrigações severas como o está todo efeito da natureza. (Galileu, Carta a Cristina de Lorena) ESTUDO COMPLEMENTAR A Filosofia da Ciência: da ciência grega às proposições contemporâneas Parte 1: Apresentando a problemática filosófica direcionada à ciência A abordagem deste tema tem como intuito problematizar as questões ideológicas que circundam o universo do conhecimento científico e que motivaram, ao longo dos séculos XIX e XX, a formação do mito do cientificismo, uma ideia que relaciona o conhecimento científico às noções de verdade e progresso das sociedades e que permeia nosso cotidiano, absorvida pelo senso comum. “Apesar de suas diferenças, o problema da oposição extremada entre senso comum e ciência se deu a partir do Positivismo (A. Comte), que valorizou exageradamente o saber científico em detrimento de outras formas de conhecimento, como o mito, a religião, a arte e até a filosofia. O positivismo criou o mito do cientificismo, a ideia de que o conhecimento científico é perfeito, a ciência caminha sempre em direção ao progresso e a tecnologia desenvolvida pela ciência pode responder a todas as necessidades humanas.” (COTRIM, Gilberto – Fundamentos da Filosofia; 2008) A análise epistemológica contemporânea (Epistemologia: área da filosofia que estuda o conhecimento, as formas de obtê- lo e seus limites) nos leva à compreensão da atividade científica como um procedimento que admite falhas. Apesar de buscar conhecimentos precisos, que muitas vezes se encontram muito além daquilo que o senso comum poderia alcançar, e que geralmente são assumidos como verdade, as teorias científicas são normalmente transitórias. Muitas teorias que moldaram sólidos paradigmas foram, com o passar dos anos, refutadas e substituídas por outros modelos teóricos. Será que a transitoriedade das teorias científicas coloca esse conhecimento em uma situação vulnerável e até mesmo questionável? Ou será que a ciência cumpre sua função em “fornecer explicações dignas de confiança, bem fundadas e sistemáticas para numerosos fenômenos?” (Morgen Besser, Filosofia da Ciência). Para refletirmos sobre tais questões, é importante retomarmos o debate filosófico acerca do posicionamento do indivíduo em relação ao conhecimento, em suas vertentes: Inatismo, Empirismo, Ceticismo e, posteriormente, o Criticismo. O conhecimento verdadeiro é algo inato, é fruto de nossas experiências ou é algo impossível de ser alcançado, dados os limites que a condição humana impõe? Na perspectiva de Kant – que absorveu certo grau de ceticismo da filosofia de David Hume – nunca conheceremos a realidade plena, ou, como ele chamava, a “coisa em si”, mas isso não impede a ciência de nos fornecer modelos satisfatórios dentro de nosso campo fenomenológico. Outra questão significativa é pensarmos na relação de um saber consolidado e assumido como verdade com o poder de grupos, classes e certos segmentos da sociedade. Nesse sentido – e lembrando a máxima de Francis Bacon: “saber é poder” – vale pensarmos sobre o papel do cientista na sociedade contemporânea, a disseminação democrática dos saberes e o discurso ideológico que se relaciona à ciência nas sociedades moderna e contemporânea. Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 18 de 24 Parte 2: As primeiras hipóteses científicas e a primeira “verdade” científica As bases do conhecimento científico remetem à problematização filosófica no campo da Cosmologia encabeçada por alguns pensadores dos séculos VII, VI e V a. C., conhecidos como pré-socráticos. Vale destacar que a filosofia insipiente é também uma ciência em formação, dada a natureza dos problemas investigados: o que é o universo? Como surgiu o universo? Como surgiu a vida? Por que as coisas se transformam, perecem, morrem? Uma postura comum: buscavam na natureza – não mais, portanto, em questões sobrenaturais (religião) ou narrativas fantásticas (mito) – os fundamentos necessários e que explicassem o princípio de tudo, que chamavam de phyis (fazer surgir; fazer brotar) ou arché (substância primordial, presente em tudo o que existe). Compartilhavam a ideia de que talvez o universo não tivesse sido criado, mas surgido motivado por fatores naturais e, portanto, observáveis na própria natureza. Essa postura contemplativa e racional, normalmente desligada de questões mitológicas, possibilitou o surgimento das primeiras hipóteses cosmológicas para explicar o universo: “A água é o princípio de tudo” – Tales de Mileto “Tudo no universo se conforma às regras e relações matemáticas” – Pitágoras “Tudo no universo é composto por partículas minúsculas, indivisíveis e imutáveis, os átomos” – Demócrito “O universo é constituída por 4 elementos: terra, fogo, água e ar” – Empédocles Tais teorias influenciaram as gerações de filósofos que se seguiram, e esses continuaram firmando hipóteses para explicar questões de natureza cosmológica. O auge do pensamento grego se deu nos séculos V e IV a. C., período em que viveram Sócrates, Platãoe Aristóteles. A Filosofia passa a abranger questões preponderantemente humanas, mas os estudos cosmológicos persistem na obra de alguns desses pensadores. “Embora Aristarco de Samos tenha proposto um modelo heliocêntrico, a tradição que recebemos dos gregos, confirmada por Aristóteles e mais tarde por Ptolomeu, baseia-se no modelo geocêntrico: a Terra se acha imóvel no centro do universo e em torno dela giram as esferas onde estão cravadas a Lua, os cinco planetas e o Sol. Na última esfera, as estrelas fixas fecham o mundo finito e esférico. (...) Outra característica marcante dessa astronomia é a hierarquização do cosmos, ou seja, o universo se acha dividido em dois mundos, sendo que um é considerado superior ao outro: o mundo sublunar, considerado inferior, corresponde à região da Terra que, embora imóvel, é local dos corpos perecíveis, corruptíveis, porque se encontram em constante movimento. Todas as coisas na Terra são constituídas pelos quatro elementos. O mundo supralunar, de natureza superior, corresponde aos Céus: Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter, Saturno e as estrelas fixas. São corpos constituídos por uma substância desconhecida, o éter (a quinta-essência), que faz com que os astros sejam incorruptíveis, perfeitos, inalteráveis. Mesmo o movimento das esferas é circular, característica do movimento perfeito.” (ARANHA e MARTINS – Temas de Filosofia) modelo inspirado no Geocentrismo de Ptolomeu Na Idade Média, a ciência herdada da tradição grega passa a ser vinculada aos interesses religiosos. Os pensadores cristãos medievais buscam conciliar o posicionamento filosófico com o religioso. O Geocentrismo, modelo científico herdado da ciência grega, é absorvido como verdade absoluta pela Igreja, uma vez que é considerado compatível com os ensinamentos cristãos. É desse modo que vemos uma hipótese filosófica consolidar-se como um paradigma que sustenta uma determinada visão de mundo, considerada legítima pelas instituições poderosas e detentoras do saber. Que visão de mundo é essa? A Terra é imperfeita em relação aos céus, o domínio de Deus, mas ocupa lugar privilegiado no universo. A Terra é o centro de tudo o que existe. O homem, portanto, é um ser especial na hierarquia do cosmos. Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 19 de 24 A ciência, assim, incorporada como argumento de autoridade, legitima uma verdade religiosa, que se converte em ideologia dominante, sustentada por muitos séculos. “A partir do século XIV, a Escolástica – principal escola filosofia e teológica medieval – entra em decadência. Esse período foi muito prejudicial ao desenvolvimento da ciência porque novas ideias fermentavam nas cidades, mas os guardiões da velha ordem resistiam às mudanças de forma dogmática (presos às suas verdades como se fossem dogmas). Esterilizados pelo princípio da autoridade, aferravam-se às verdades dos “velhos livros”, fossem eles a Bíblia, Aristóteles ou Ptolomeu.” (...) “Em oposição ao modelo geocêntrico da astronomia de Ptolomeu, Copérnico, no século XV, propôs o modelo da teoria heliocêntrica. Mas sua hipótese não causou tanto impacto quanto a divulgação feita por Galileu no século seguinte, a ponto de as autoridades eclesiásticas obrigarem-no a se retratar, sob pena de ser condenado à morte. É bom lembrar que as reações contra Galileu partiram dos adeptos da Escolástica decadente e refletiam de maneira geral o temor daqueles que pertenciam à antiga ordem e não queriam a destruição das hierarquias da Igreja e da nobreza.” (ARANHA e MARTINS – Temas de Filosofia). Parte 3: A ciência moderna e a construção da modernidade A Revolução Científica marca – junto à emergência de uma nova classe burguesa, ao insipiente capitalismo e ao Renascimento Cultural – o surgimento da Idade Moderna. A razão passa a ser valorizada como instrumento de conhecimento do mundo, o que gradativamente reposiciona o papel da instituição religiosa, por meio de um processo histórico conhecido como secularização: preocupação em se superar as explicações religiosas para questões naturais e humanas; separação entre os campos científico, filosófico e religioso. A ciência tem papel fundamental na construção do homem moderno e do mundo moderno. A ruptura proporcionada pela mudança de paradigma científico, vinculada ao Heliocentrismo, assume gigantes proporções, uma vez que coloca em xeque a autoridade da religião ao contrapor uma de suas mais fundamentais verdades: a centralidade da Terra e, portanto, do homem (filho criado à imagem e semelhança de Deus). O posicionamento de Galileu é crucial: Parece-me que, nas discussões sobre os problemas naturais, não se deveria começar pela autoridade dos textos da Escritura, e sim pelas experiências sensíveis e pelas demonstrações necessárias, porque tanto a sagrada escritura quanto a natureza procedem do verbo divino; aquela, com inspiração do Espírito Santo, e a segunda, como fiel executora das ordens de Deus; porque, além disso, existe conformidade em que as Escrituras, para adaptar-se às possibilidade de compreensão da maioria, dizem, aparentemente, e circunscrevendo-nos ao significado literal das palavras, muitas coisas diferentes da verdade absoluta; e porque, ao contrário, a natureza é inexorável e imutável e jamais ultrapassa os limites das leis a ela impostas, ao não se preocupar em nada com que suas ocultas razões e modos de operar estejam ou não ao alcance da capacidade dos homens. Parece, pois, que o que concernente aos efeitos naturais que a experiência sensível colocando-nos diante dos olhos, ou que as necessárias demonstrações comprovam, não deva de nenhuma maneira ser colocado em dúvida nem condenado pelas passagens da Escritura que disserem aparentemente coisas contrárias, uma vez que nem todas as palavras da Escritura estão ligadas a obrigações severas como o está todo efeito da natureza. (Galileu, Carta a Cristina de Lorena). Ao afirmar a preponderância das leis da natureza em relação às palavras da Escritura, em matéria de conhecimento natural, Galileu abre caminhos para a ruptura com a ideologia dominante, o que é fundamental para a construção de novas concepções sobre o universo e sobre o homem. “Ao mundo geocêntrico, ordenado, hierarquizado e finito opõe-se o universo descentralizado e geométrico em que os espaços podem ser medidos.” (ARANHA e MARTINS – Temas de Filosofia). A grande novidade no desenvolvimento da física é a introdução da experimentação e matematização, grandes contribuições de Galileu para a ciência moderna. A discussão filosófica acompanha os avanços da ciência, fornecendo respaldo conceitual às transformações do mundo. René Descartes, buscando contrapor-se ao ceticismo vigente (que reage às mudanças assumindo a impossibilidade de qualquer verdade sobre o mundo), assume a importância de um método para guiar a atividade racional do homem. Em sua obra “Meditações”, usa a dúvida metódica para buscar respaldar filosoficamente a matemática, assumindo critérios para um conhecimento seguro. A busca pelo conhecimento seguro também impulsiona os filósofos da tradição empirista a reconhecerem, por meio do método indutivo, a importância da experimentação para que se possa chegar aos padrões de funcionamento da natureza (as leis naturais). Desse modo, podemos perceber que a filosofia moderna fornece respaldo à ciência e legitima a valorização da razão, abrindo caminhos para que no século XVIII dissemine-se uma contundente guinada de atitude. A razão, luz interior do Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 20 de 24 homem, há de acabar com as trevas da ignorância e da superstição, instrumentos que alimentam o poder das instituições políticas e religiosas: eis a crença do homem no Iluminismo. Razão e ciência são instrumentos de libertação do homem. Kant defende que a razão será capaz de gerar mais autonomia ao indivíduo, dando início a um processo de rompimento com certasamarras históricas: O Iluminismo é a saída do homem de um estado de menoridade que deve ser imputado a ele próprio. Menoridade é a incapacidade de servir-se do próprio intelecto sem a guia de outro. Imputável a si próprios é esta menoridade se a causa dela não depende de um defeito da inteligência, mas da falta de decisão e da coragem de servir-se do próprio intelecto sem ser guiado por outro. Sapere aude! Tem a coragem de servires de tua própria inteligência! (Immanuel Kant, 1784) Para Voltaire, a Igreja representa a opressão e ausência de liberdade do homem e o esclarecimento é uma forma de se combater as superstições que mantinham a humanidade aprisionada numa crença de que as religiões, por representarem a palavra de Deus, eram detentoras da verdade. A validação da ciência e o reconhecimento da filosofia (atividade do pensamento racional) como argumentos de autoridade tornam-se símbolos da liberdade humana: a grande bandeira do século XVIII. Tal bandeira sustenta, por sua vez, uma série de rupturas da classe burguesa, que irão revolucionar o mundo. O clima do século XVIII é de combate às tiranias. A promessa é de um mundo de maiores liberdade e igualdade. A democracia moderna, necessariamente atrelada ao capitalismo, começa a ser filosoficamente concebida no pensamento de Rousseau, que defende que o governo deve ser determinado pela vontade geral. Contudo, no pensamento de Rousseau também materializam-se as primeiras críticas à propriedade privada, matriz do capitalismo. No século XIX, vemos dois fenômenos filosóficos bastante peculiares deflagrarem-se. Em um primeiro momento, o discurso de valorização da ciência assume um viés evolucionista na obra de Comte, que defende ser a ciência o estágio mais avançado de conhecimento produzido pelo homem. Em suas teses a respeito do positivismo, Comte hierarquiza os saberes científicos, distinguindo-os em diferentes áreas com propósitos também distintos, ao mesmo tempo em que hierarquiza as civilizações humanas numa escala de progresso. As sociedades que desenvolveram as ciências são as mais evoluídas e colhem os frutos do progresso da técnica; as sociedades não ocidentais são inferiorizadas (o que inclusive alimenta ideologicamente as novas ondas de colonialismo). Além disso, os outros saberes são diminuídos em relação à magnitude da ciência. E, mais uma vez, vemos que saber é poder: é construir máquinas que otimizam a produção, embarcações, armamentos e, posteriormente, aeronaves, antibióticos, computadores... A ciência moderna revoluciona o mundo. Por outro lado, despontam, no discurso filosófico do século XIX, as primeiras teses que criticam o mundo que os filósofos de século XVIII conceberam com tanto otimismo. Entre esses pensadores podemos citar: Karl Marx, Schopenhauer e Nietzsche. Parte 4: As críticas ao cientificismo O cientificismo O cientificismo é a crença infundada de que a ciência pode e deve conhecer tudo; que, de fato, conhece tudo e é a explicação causal das leis da realidade tal como esta é em si mesma. Ao contrário dos cientistas, que não cessam de enfrentar obstáculos epistemológicos, problemas e enigmas, o senso comum cientificista redunda numa ideologia e numa mitologia da ciência. Ideologia da ciência: crença no progresso e na evolução dos conhecimentos científicos que, um dia, explicarão totalmente a realidade e permitirão manipulá-la tecnicamente, sem limites para a ação humana. Mitologia da ciência: crença na ciência como se fosse magia e poderio ilimitado sobre as coisas e os homens, dando-lhe o lugar que muitos costumam dar às religiões, isto é, um conjunto doutrinário de verdade intemporais, absolutas e inquestionáveis. A ideologia e a mitologia cientificistas encaram a ciência não pelo prisma do trabalho do conhecimento, mas pelo prisma dos resultados (apresentados como espetaculares e miraculosos) e sobretudo como uma forma de poder social e controle do pensamento humano. Por este motivo, aceitam a ideologia da competência,isto é, a ideia de que há, na sociedade, os que sabem e os que não sabem, que os primeiros são competentes e têm o direito de mandar e exercer poderes, enquanto os demais são incompetentes, devendo obedecer e ser mandados. Em resumo, a sociedade deve ser dirigida pelos que “sabem” e os demais devem executar as tarefas que lhes são ordenadas. (Marilena Chauí, Convite à Filosofia, p. 235) Críticas ao cientificismo e ao capitalismo industrial marcam a produção filosófica e sociológica no século XX. O sociólogo Max Weber, na obra “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, mostra que a acumulação de capital torna-se, no século XX, um valor absoluto e perde qualquer revestimento ético, algo que outrora a vinculava a um valor protestante que santificava o trabalho. Desencantamento do Mundo Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 21 de 24 Max Weber critica a sociedade capitalista moderna. Para ele, ao longo de século XIX e sobretudo nos primórdios do século XX, a sociedade torna-se extremamente racionalizada e burocratizada. O indivíduo moderno (apesar dos avanços da ciência e da tecnologia) tem um conhecimento menor sobre o seu próprio cotidiano e também não exerce controle sobre os meios que utiliza. O indivíduo depende extremamente de toda uma rede de operações que mantém a complexidade de sua vida, a qual ele não domina, pois não detém os conhecimentos necessários. Ele não sabe construir a casa, o carro e as ferramentas que utiliza; não sabe produzir a eletricidade que chega à sua casa e nem as tubulações de água e esgoto, por exemplo. Tudo isso é consequência da especialização das funções em uma sociedade cada vez mais complexa. Em um determinado momento, Weber se questiona: será que a ciência trouxe concretamente maiores conhecimentos práticos ao indivíduo? Há um processo que o autor nomeia de “desencantamento do mundo”, caracterizado por um acúmulo de explicações racionais para os fenômenos, fruto da especialização dos saberes, e que diminui o espaço das religiões e do sobrenatural na vida cotidiana das pessoas. Esse processo, contudo, não torna o indivíduo menos alienado na visão de Weber, uma vez que o submete a outra forma de dominação: a racionalidade técnica. A crítica à razão instrumental Já os filósofos frankfurteanos questionam o papel da racionalidade no mundo moderno. Segundo tais autores, o projeto de progresso e desenvolvimento social evocado pelos iluministas não se concretizou. A razão que seria emancipatória torna-se totalitária. O esclarecimento é totalitário, pois tem como base o controle da natureza. Nas mãos da classe dominante, passa a ser um instrumento de controle do ser humano. A razão instrumental legitima a autoridade do mundo burguês, tendo como respaldo o discurso científico. “Na medida em que a razão se torna instrumental, a ciência vai deixando de ser uma forma de acesso aos conhecimentos seguros sobre a realidade para torna-se um instrumento de dominação, poder e exploração. Para que não seja percebida como tal, passa a ser sustentada pela ideologia cientificista, que, através dos meios de comunicação de massa, consolidam a mitologia cientificista.” (Marilena Chauí, Convite à Filosofia, p. 237) A ciência para os frankfurteanos encontra-se desprovida de ética, as invenções e descobertas são legitimadas pelos critérios de utilidade, ou seja, pelo seu caráter técnico. O discurso racional científico permite a criação da bomba atômica e é respaldo ao evolucionismo e ao fascismo. Não há democratização do saber em prol da liberdade humana, mas um discurso que legitima as diferenças a partir da noção de mérito. “Através da identificação antecipatória do mundo totalmente matematizado com a verdade, o esclarecimento acredita estar a salvo do retorno mítico. Ele confunde o pensamento e a matemática. (...) O procedimento matemático tornou-se, por assim dizer, o ritual do pensamento. Apesar da autolimitação axiomática, ele se instaura comonecessário e objetivo: ele transforma o pensamento em coisa, em instrumento, como ele próprio domina. Mas, com essa mimese, na qual o pensamento se iguala ao mundo, o factual tornou-se agora a tal ponto a única referência, que até mesmo a negação de Deus sucumbe ao juízo sobre a metafísica. Para o positivismo que assumiu a magistratura da razão esclarecida, extravagar em mundos inteligíveis é não apenas proibido, mas é tido como um palavreado sem sentido. O pensamento coisificado não pode sequer colocar a questão de natureza metafísica.” (Theodor Adorno e Max Horkheimer. Dialética do Esclarecimento) Parte 5: A Filosofia da Ciência e suas proposições contemporâneas O modelo contemporâneo de ciência, chamado por muitos de construtivismo, acredita que o conhecimento nunca é algo acabado. Com isso, quebra a relação ideológica que se estabelece entre ciência e verdade, uma vez que considera a ciência uma construção de modelos explicativos para a realidade e não uma representação da própria realidade. Não espera, portanto, encontrar uma verdade absoluta e sim uma verdade aproximada, que pode ser corrigida, modificada e abandonada por outra mais adequada aos fenômenos. Os filósofos da ciência Karl Popper e Thomas Khun contribuíram para o amadurecimento desta visão. Karl Popper Uma ciência formula hipóteses para resolver problemas e as conserva até que sejam refutadas por algum fato. Essas hipóteses são verdades provisórias mantidas até que sejam contestadas ou não consigam explicar novos problemas. “Uma ciência não é meramente um “corpo de fatos”. Será, no mínimo, uma coleção e como tal depende dos interesses do colecionador, de um ponto de vista. Em ciência, esse ponto de vista é determinado por uma teoria científica; isto é, escolhemos dentre a infinita variedade de fatos e dentre a infinita variedade de aspectos dos fatos aqueles fatos e aspectos que são mais interessantes porque ligados a alguma teoria mais ou menos preconcebida. (...) O método da ciência reside na procura de fatos que possam refutar a teoria. É a isso que chamamos comprovar uma teoria – ver se podemos ou não encontrar brechas nela. Mas embora os fatos sejam coligidos com vista à teoria, e a confirmem enquanto a teoria se Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 22 de 24 mantiver de pé em face dessas comprovações, são eles mais do que simplesmente uma espécie de repetição vazia de uma teoria preconcebida. Apenas confirmarão a teoria se forem os resultados de tentativas mal sucedidas para derrubar suas predições e, portanto, uma testemunha que fale em seu favor. Sustento, assim, que é a possibilidade de derrubá-la, ou sua falsificabilidade, o que constitui a possibilidade de pô-la a prova e, portanto, de comprovar o caráter científico de uma teoria; e o fato de que todas as provas de uma teoria são tentativas de desmentir as predições que se deduzem com sua ajuda fornece a chave do método científico. Essa concepção do método científico é confirmada pela história da ciência, que mostra que as teorias científicas são muitas vezes derrubadas por experimentações e que a derrubada da teoria é, na verdade, o veículo do progresso científico.” (POPER, Karl. A sociedade aberta e seus inimigos. São Paulo, EDUSP, 1987). Thomas Khun O filósofo da ciência Thomas Kuhn considera que a história da ciência é feita de descontinuidades e rupturas radicais. Kuhn designa os momentos de ruptura e de criação e de criação de novas teorias com a expressão revolução científica, como, por exemplo, a revolução copernicana, que substitui a explicação geocêntrica de Ptolomeu pela heliocêntrica de Copérnico. Segundo Kuhn, um campo científico é criado quando métodos, tecnologias, formas de observação e experimentação, conceitos e demonstrações formam um todo sistemático, uma teoria que permite o conhecimento de inúmeros fenômenos. A teoria se torna um modelo de conhecimento ou um paradigma científico. O paradigma se torna o campo no qual uma ciência trabalha normalmente, sem crises. Kuhn usa a expressão ciência normal para referir-se ao trabalho científico no interior de um paradigma estabelecido. Em tempos normais, um cientista, diante de um fato ou de um fenômeno ainda não estudado, o explica usando o modelo ou o paradigma científico existente. Em contraposição à ciência normal, ocorre a revolução científica. Uma revolução científica acontece quando o cientista descobre que o paradigma disponível não consegue explicar um fenômeno ou um fato novo, sendo necessário produzir um outro paradigma, até então inexistente e cuja necessidade não era sentida pelos investigadores. Numa revolução científica, não só novos fenômenos são descobertos e conhecimentos antigos são abandonados, mas há uma mudança profunda na maneira de o cientista ver o mundo, como se passasse a trabalhar num mundo completamente diferente. A ciência, portanto, não caminha numa via linear contínua e progressiva, mas por saltos ou revoluções. Assim, quando a ideia de próton-elétron-nêutron entra na física, a de vírus entra na biologia, a de enzima entra na química ou a de fonema entra na linguística, os paradigmas existentes são incapazes de alcançar, compreender e explicar esses objetos ou fenômenos, exigindo a criação de novos modelos científicos. Por que, então, temos a ilusão de progresso e de evolução. Por dois motivos principais: 1. do lado do cientista, porque este sente que sabe mais e melhor do que antes, já que o paradigma anterior não lhe permitia conhecer certos objetos ou fenômenos. Como trabalhava com uma tradição científica e a abandonou, tem o sentimento de que o passado estava errado, era inferior ao presente aberto por seu novo trabalho. Não é ele, mas o filósofo da ciência que percebe a ruptura e a descontinuidade e, portanto, a diferença temporal. Do lado do cientista, o progresso é uma vivência subjetiva; 2. do lado dos não-cientistas, porque vivemos sob a ideologia do progresso e da evolução, do “novo” e do “fantástico”. Além disso, vemos os resultados tecnológicos das ciências: naves espaciais, computadores, satélites, telefones celulares, curas de doenças julgadas incuráveis, objetos plásticos descartáveis, e esses resultados são apresentados pelos governos, pelas empresas e pela propaganda como “signos do progresso” e não da diferença temporal. Do lado dos não- cientistas, o progresso é uma crença ideológica. Há, porém, uma razão mais profunda para nossa crença no progresso. Desde a Antiguidade, conhecer sempre foi considerado o meio mais precioso e eficaz para combater o medo, a superstição e as crendices. Ora, no caso da modernidade, o vínculo entre ciência e aplicação prática dos conhecimentos (tecnologias) fez surgirem objetos que não só facilitaram a vida humana (meios de transporte, de iluminação, de comunicação, de cultivo do solo, etc.), mas aumentaram a esperança de vida (remédios, cirurgias, etc.). Do ponto de vista dos resultados práticos, sentimos que estamos em melhores condições que os antigos e por isso falamos em evolução e progresso. Entretanto, Kuhn não recusa totalmente a ideia de um progresso científico, julga que, evidentemente, não se pode aceitar a velha ideia do progresso em que se supunha que, com o passar do tempo e o acúmulo de conhecimentos, a ciência se aproximava cada vez mais da verdade; mas pode-se falar em progresso toda vez que um novo paradigma ou uma nova teoria se mostram capazes de resolver um maior número de problemas do que os anteriores e de fazer mais e melhores previsões do que eles. CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2003 – pp. 224 – 225. Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 23 de 24 Exercícios 1. (Uel 2010) A ONU declarou 2009 o Ano Internacional da Astronomia pelos 400 anos do uso do telescópio nas investigações astronômicas por Galileu Galilei. Essas investigações desencadearam descobertas e, por sua vez, uma nova maneira de compreenderos fenômenos naturais. Além de suas descobertas, Galileu também contribuiu para a posteridade ao desenvolver o método experimental e a concepção de uma nova ciência física. Com base nas contribuições metodológicas de Galileu Galilei, é correto afirmar: a) A experiência espontânea e imediata da percepção dos sentidos desempenha, a partir de Galileu, um papel metodológico, preponderante na nova ciência. b) A observação, a experimentação e a explicação dos fenômenos físicos da natureza desenvolvidos por Galileu aprimoram o método lógico-dedutivo da filosofia aristotélica. c) A observação controlada dos fenômenos na forma de experimentação, segundo o método galileano, consiste em interrogar metodicamente a natureza na linguagem matemática. d) A verificação metodológica da verdade das leis científicas pelos experimentos aleatórios, defendida por Galileu, fundamenta-se na concepção finalista do Universo. e) O método galileano reafirma o princípio de autoridade das interpretações teológico-bíblicas na definição do método para alcançar a verdade física. 2. (Unicentro 2010) “A filosofia encontra-se escrita neste grande livro que continuamente se abre perante nossos olhos (isto é, o Universo). Ele está escrito em língua matemática, os caracteres são triângulos, circunferências e outras figuras geométricas. Sem estes meios, é impossível entender humanamente as palavras; sem eles nós vagamos perdidos dentro de um obscuro labirinto.” (GALILEU. Apud. COTRIM. Fundamentos da filosofia: história e grandes temas. 16ª Ed., São Paulo: Saraiva, 2006 - p.133.) De acordo com o texto acima, e com seus conhecimentos sobre a ciência da natureza em Galileu, assinale a alternativa correta. a) De acordo com os princípios de sua ciência, Galileu depositava grande crédito no método indutivo, pois este possuiria melhor alcance nos resultados da investigação da natureza. b) O passo decisivo da física galileana concentrava-se na realização de experimentos para comprovar uma tese, sem a necessidade de recorrer às elaborações do raciocínio matemático. c) Quanto ao “movimento”, Galileu seguiu as teorias de Aristóteles que distinguia o movimento qualitativo do movimento quantitativo, para considerar toda mudança apenas do ponto de vista qualitativo (corpos pesados ou leves). d) Um dos aspectos centrais da ciência da natureza em Galileu está na realização de experimentos com o auxílio indispensável da matemática, pois, para ele, a matemática é o meio instrumental capaz de enunciar e traduzir as regularidades observadas nos fenômenos naturais. e) O que dá validade científica aos processos intelectuais de Galileu é que os resultados de suas pesquisas jamais precisariam ser submetidos à comprovação empírica, bastando, apenas, se localizarem no campo da abstração. 3. (Uel 2010) A obra de Galileu Galilei está indissoluvelmente ligada à revolução científica do século XVII, a qual implicou uma “mutação” intelectual radical, cujo produto e expressão mais genuína foi o desenvolvimento da ciência moderna no pensamento ocidental. Neste sentido, destacam-se dois traços entrelaçados que caracterizam esta revolução inauguradora da modernidade científica: a dissolução da ideia greco-medieval do Cosmos e a geometrização do espaço e do movimento. (KOYRÉ, A. Estudos Galilaicos. Lisboa: Dom Quixote, 1986. pp. 13-20; KOYRÉ, A. Estudos de História do Pensamento Científico. Brasília, Editora UnB, 1982. pp. 152-154.). Com base no texto e nos conhecimentos sobre as características que marcam revolução científica no pensamento de Galileu Galilei, assinale a alternativa correta. a) A dissolução do Cosmos representa a ruptura com a ideia do Universo como sistema imutável, heterogêneo, hierarquicamente ordenado, da física aristotélica. b) A crença na existência do Cosmos, na física aristotélica, se situa na concepção de um Universo aberto, indefinido e até infinito, unificado e governado pelas mesmas leis universais. c) Contrária à concepção tradicional de ciência de orientação aristotélica, a física galilaica distingue e opõe os dois mundos do Céu e da Terra e suas respectivas leis. d) A geometrização do espaço e do movimento, na física galilaica, aprimora a concepção matemática do Universo cósmico qualitativamente diferenciado e concreto da física aristotélica. e) A física galilaica identifica o movimento a partir da concepção de uma totalidade cósmica, em cuja ordem cada coisa possui um lugar próprio conforme sua natureza. Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 24 de 24 4. (Unesp 2019) Galileu tornou-se o criador da física moderna quando anunciou as leis fundamentais do movimento. Formulando tais princípios, ele estruturou todo o conhecimento científico da natureza e abalou os alicerces que fundamentavam a concepção medieval do mundo. Destruiu a ideia de que o mundo possui uma estrutura finita, hierarquicamente ordenada e substituiu-a pela visão de um universo aberto, infinito. Pôs de lado o finalismo aristotélico e escolástico, segundo o qual tudo aquilo que ocorre na natureza ocorre para cumprir desígnios superiores; e mostrou que a natureza é fundamentalmente um conjunto de fenômenos mecânicos. (José Américo M. Pessanha. Galileu Galilei, 2000. Adaptado.) A importância da obra de Galileu para o surgimento da ciência moderna justifica-se porque seu pensamento a) resgatou uma concepção medieval de mundo. b) baseou-se em uma visão teológica sobre a natureza. c) fundamentou-se em conceitos metafísicos. d) fundou as bases para o desenvolvimento da alquimia. e) atribuiu regularidade matemática aos fenômenos naturais. 5. (Enem 2014) A filosofia encontra-se escrita neste grande livro que continuamente se abre perante nossos olhos (isto é, o universo), que não se pode compreender antes de entender a língua e conhecer os caracteres com os quais está escrito. Ele está escrito em língua matemática, os caracteres são triângulos, circunferências e outras figuras geométricas, sem cujos meios é impossível entender humanamente as palavras; sem eles, vagamos perdidos dentro de um obscuro labirinto. GALILEI, G. “O ensaiador”. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978. No contexto da Revolução Científica do século XVII, assumir a posição de Galileu significava defender a a) continuidade do vínculo entre ciência e fé dominante na Idade Média. b) necessidade de o estudo linguístico ser acompanhado do exame matemático. c) oposição da nova física quantitativa aos pressupostos da filosofia escolástica. d) importância da independência da investigação científica pretendida pela Igreja. e) inadequação da matemática para elaborar uma explicação racional da natureza. 6. (Unesp 2017) A revolução científica não consiste somente em teorias novas e diferentes sobre o universo astronômico, sobre o corpo humano ou sobre a composição da Terra. A revolução científica é uma revolução da ideia de saber e de ciência. Trata-se de um processo complexo que encontra seu resultado mais claro na autonomia da ciência em relação às proposições de fé e às concepções filosóficas. A ciência é ciência experimental (baseada em experiências concretas). É a ideia de ciência metodologicamente regulada e publicamente controlável que exige as novas instituições científicas, como as academias e os laboratórios. E é com base no método experimental que se funda a autonomia da ciência, que encontra as suas verdades independentemente da filosofia e da fé. Giovanni Reale e Dario Antiseri. História da filosofia, vol. 2, 1990. Adaptado. A relação da revolução científica com os dogmas religiosos foi de concordância ou de ruptura? Explique qual foi o papel do método experimental para a autonomia da ciência em relação à fé religiosa. Gabarito 1. C 2. D 3. A 4. E 5. C 6. Dissertativa