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Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 1 de 12 Filosofia – Caderno 3 SEMANA 1: Filosofia Medieval e Revolução Científica 1. Filosofia Medieval O surgimento da religião cristã, e seu decorrente crescimento no mundo ocidental, mudou os rumos da Filosofia. Se no início a cultura filosófica surgira justamente como um rompimento com a visão mitológica do mundo, ela agora irá lidar com a grande influência da religião dos cristãos. Teremos, então, posturas diferentes em relação a essa situação: por um lado aqueles pensadores que afirmarão que a Filosofia seria uma ferramenta importante para compreender a fé revelada por Cristo, sendo, inclusive, vista como uma preparação para os ensinamentos cristãos. Por outro lado, teremos aqueles que pensam que a Filosofia é simplesmente um pensamento pagão e que deve ser evitada. Nas tradições mais importantes medievais, a Patrística e a Escolástica, há uma evidente preocupação em conciliar a doutrina cristã com os pensamentos filosóficos clássicos. Santo Agostinho (354 – 430 d.C.) Aurélio Agostinho nasceu em Tagaste, uma pequena cidade no norte da África. Não aderiu ao Cristianismo no princípio de sua vida, mesmo com sua mãe sendo cristã. Lecionou retórica em sua cidade natal e em Cartago, Roma e Milão, ocupando posições de prestígio. Converteu-se ao Cristianismo após um momento de revelação e dedicou-se a escrever obras cristãs. Tornou-se bispo na cidade de Hipona, onde permaneceu até o fim de sua vida. Contexto histórico: fim do Império Romano e auge das invasões bárbaras. Os escritos de Agostinho demonstram uma forte influência da escola platônica, especialmente do neoplatonismo que adentra à era medieval por influência de Plotino. Para o Neoplatonismo, a filosofia platônica seria uma preparação para a alma e um conhecimento útil para que se possa ter uma compreensão da verdade revelada por Cristo. Um dos aspectos que demonstram a influência do platonismo na obra de Agostinho é sua reflexão sobre o mal, considerado não como uma força em si, mas como a ausência do Bem. O livre-arbítrio que os homens têm por consequência de serem racionais os faz poder escolher entre o bem e o mal (distanciar-se do bem). Escolher o caminho de Deus é a essência da sabedoria para Agostinho. Por isso, a verdadeira e legítima ciência é a Teologia: é na sabedoria das coisas divinas que os esforços do homem devem estar focados. Santo Agostinho desvaloriza, portanto, o conhecimento do mundo sensível. TEORIA DA ILUMINAÇÃO A verdade interior é a revelação divina. “Não aprendemos pelas palavras que repercutem exteriormente, mas pela verdade que ensina interiormente. Quem é consultado ensina verdadeiramente, e este é Cristo, que habita o homem interior”. Para compreender, a alma faz uso de seu aspecto divino, abrindo espaço para a fé na teoria do conhecimento. Os escritos filosóficos de Agostinho dão origem à Patrística: filosofia cristã dos primeiros séculos da Idade Média, que almejava legitimar os fundamentos dos ensinamentos cristãos, fazendo uso da filosofia grega, especialmente a filosofia platônica. Seu principal expoente é Santo Agostinho. São Tomás de Aquino (1225 – 1274) Nasceu na Itália, ingressou na Universidade de Nápoles e pertenceu à Ordem Dominicana, uma ordem religiosa recente na época cujos membros eram bastante intelectualizados. Especializou-se nos estudos de Teologia, tornando-se mestre e docente na área. Produziu várias obras por meio das quais buscava conciliar as referências aristotélicas à doutrina cristã. Por isso podemos dizer que sua filosofia propõe uma reinterpretação da teoria aristotélica com o intuito de adaptá-la ao pensamento cristão. Contexto histórico: desde o século X o sistema feudal começa a ser abalado por algumas mudanças significativas vinculadas à expansão das cidades e ao desenvolvimento do comércio. A criação de inúmeras universidades na Europa foi parte importante deste processo. ESCOLÁSTICA Filosofia Medieval de base aristotélica vinculada ao Cristianismo. A Patrística, de orientação neoplatônica e influenciada por Agostinho, predominou no mundo medieval até o século IX, quando a Escolástica começou a se fortalecer, vinculada ao surgimento das universidades, uma vez que seus representantes eram vinculados a tais escolas. Teve seu apogeu nos séculos XII e XIV e entrou em declínio ao longo do Renascimento. Tomás de Aquino é um dos expoentes mais significativos da Escolástica. Seguindo bases aristotélicas, busca provas racionais para a existência de Deus, perceptíveis e nosso mundo sensível, pois acredita, assim como Aristóteles, que todo conhecimento tem uma base sensível, muito embora as verdadeiras formas de conhecimento sejam fundadas na racionalidade da alma. As Cinco vias da Prova da Existência de Deus: Primeira via Primeiro motor imóvel: tudo o que se move é movido por alguém, é impossível uma cadeia infinita de motores provocando o movimento dos movidos, pois do contrário nunca se chegaria ao movimento presente, logo há que ter um primeiro motor que deu início ao movimento existente e que por ninguém foi movido. Segunda via Causa primeira: decorre da relação "causa-e- efeito" que se observa nas coisas criadas. É necessário que haja uma causa primeira que por ninguém tenha sido causada, pois a todo efeito é atribuída uma causa, do contrário não haveria nenhum efeito pois cada causa pediria uma outra numa sequência infinita. Terceira via Ser necessário: existem seres que podem ser ou não ser (contingentes), mas nem todos os seres podem ser desnecessários se não o mundo não Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 2 de 12 existiria, logo é preciso que haja um ser que fundamente a existência dos seres contingentes e que não tenha a sua existência fundada em nenhum outro ser. Quarta via Ser perfeito: verifica-se que há graus de perfeição nos seres, uns são mais perfeitos que outros, qualquer graduação pressupõe um parâmetro máximo, logo deve existir um ser que tenha este padrão máximo de perfeição e que é a causa da perfeição dos demais seres. Quinta via Inteligência ordenadora: existe uma ordem no universo que é facilmente verificada, ora toda ordem é fruto de uma inteligência, não se chega à ordem pelo acaso e nem pelo caos, logo há um ser inteligente que dispôs o universo na forma ordenada. Texto complementar: Neoplatonismo Por Ana Lúcia Santana Um dos movimentos filosóficos mais significativos da Antiguidade foi o neoplatonismo, assim denominado por beber na fonte da teoria platônica. Na verdade, só nos dias atuais os pesquisadores acrescentaram o prefixo neo, para marcar uma diferença em relação às duas correntes, as quais, apesar das aparências, eram bem distintas uma da outra. O filósofo mais importante desta escola foi Plotino, que se formou em Alexandria – centro urbano que era então o cenário da convergência entre o pensamento grego e o oriental - e posteriormente transferiu-se para Roma. Os textos por ele produzidos foram depois compilados por seu discípulo Porfírio em uma obra conhecida como as Seis Enéadas. Ao contrário de Platão, Plotino acreditava em uma espécie de monismo idealista. Para ele só existia mesmo Deus ou o Uno, de onde emana a fonte divina que irradia por toda a criação. Segundo este filósofo, as sombras nada mais eram que a carência de luz, a qual não conseguia atingi-las; mas não se podia dizer que elas tinham uma real existência. Desta forma, os neoplatônicos rejeitavam o conceito do mal, e acreditavam apenas em graus de imperfeição, na carência da prática do bem. Contrariamente aos ensinamentos cristãos, não era necessário transpor as fronteiras da morte, caminhar para estágios de uma vida na espiritualidade, a fim de se conquistar uma alma perfeita e feliz. Estas virtudes podiam ser obtidas através do exercício constante da meditação filosófica.Plotino tinha plena convicção de que a esfera material estava mergulhada nas sombras, mas ainda assim acreditava que as formas naturais refletiam um pouco da Luz do Uno. Ao lado de Deus estão posicionadas as ideias eternas, as formas primitivas de todos os seres. A alma do Homem é um dos raios desta chama que emana de Deus. Tudo, portanto, é permeado pela fonte divina. Nos recantos mais distantes do Criador estão localizadas a terra, a água e as pedras. Por outro lado, o interior da alma humana é a esfera que se encontra mais perto de Deus. Só aí é possível ao Homem se reconectar com o Divino e até mesmo se sentir parte dele. O monismo do neoplatonismo contrasta com o dualismo de Platão, que distingue entre o universo das ideias e o dos sentidos. A fusão completa da alma humana com Deus, a qual pode ser vivenciada por algumas pessoas em determinados momentos da existência, dá origem ao que se chama de experiência mística, experimentada inclusive por Plotino. Esta vivência reafirma, portanto, que tudo existe em Deus, tudo é Deus, a plenitude. Outros neoplatônicos se destacam, ao lado de Plotino, entre eles Porfírio, Proclo, Jâmblico, Hipátia de Alexandria, e até mesmo Agostinho de Hipona, antes de sua rendição ao Catolicismo, religião na qual ele, posteriormente, é sagrado como Santo Agostinho. Embora esta teoria seja considerada um pilar do paganismo, vários cristãos foram inspirados por ela, que deixou marcas profundas na própria teologia cristã. É no Cristianismo que o Uno é considerado sinônimo de Deus. Na era medieval, os conceitos desenvolvidos pelos neoplatônicos se insinuaram no interior da mentalidade dos judeus adeptos da Cabala, os quais modelaram esta doutrina conforme suas inclinações ao monoteísmo. Estas ideias se infiltraram igualmente entre os filósofos islâmicos e sufis, nesta mesma época. O neoplatonismo encontrou abrigo no Oriente e, posteriormente, foi resgatado na esfera ocidental por Plethon, e ressuscitado durante o Renascimento. 2. Revolução Científica O Renascimento e a secularização do conhecimento Ao longo do período conhecido como Renascimento, as mudanças sociais, econômicas e políticas que marcam a Europa desde o século XIII começam a encontrar reflexos nas artes e no pensamento. Com o Humanismo, inicia-se uma revisão dos valores medievais escolásticos, pautados na centralidade da fé cristã e em bases aristotélicas. Os humanistas resgatam valores greco-romanos e constroem um conhecimento laico ou com menor interferência religiosa. Nesse contexto, temos um amplo processo de secularização, que marca justamente o afastamento entre religiosidade e ciência, o que se deflagra com a revolução científica. A busca pela construção de um conhecimento laico (ou secular) também se expressará nos campos da política e da filosofia de modo geral. Os novos pensadores, que expressam o novo ordenamento do mundo, buscam, por meio do resgate do antropocentrismo grego, consagrar a racionalidade humana como instância capaz de interpretar e conhecer a realidade. A Revolução Científica A revolução científica marca uma profunda mudança no sistema filosófico usado para se conhecer o mundo. O período do Renascimento deflagra uma crise na Escolástica vnculada ao fortalecimento de correntes como o Humanismo, que marcou uma renovação filosófica caracterizada por um interesse maior às questões humanas e um espaço reduzido às questões metafísicas. Houve uma reapropriação das obras clássicas greco- romanas, mas que abdicava de suas leituras medievais. Com isso, inciava-se um processo de expansão do Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 3 de 12 racionalismo e do antropocentrismo, fundamentais ao desenvolvimento da ciência e da filosofia modernas. Há, como vimos, um processo crecente de secularização: preocupação em se desligar das justificativas feitas pela religião, que exigem adesão pela crença, para só aceitar as verdades resultantes da investigação da razão mediante demonstração. Com isso, a razão passa a ser utilizada como principal instrumento de conhecimento do mundo. Aliada à experimentação, proposta pelos físicos e astrônomos da época, fornecerá bases sólidas à ciência moderna. A revolução cientíca deflagra, em seu curso, a quebra do paradigma geocêntrico, enraizado na ciência grega, sobretudonas obras de Aristóteles e Ptolomeu. Copérnico e Galileu apresentam, em seu lugar, o Heliocentrismo, apoiado por observaçãoe e cálculos matemáticos, mas condenado pelas autoridades escolásticas. Copérnico Defende, em 1543, um modelo matemático que considera o Sol como o centro do universo (Heliocentrismo). Galileu - busca comprovar empiricamente o modelo heliocêntrico; - defende que a linguagem do mundo é a matemática; - faz uso do telescópio e comprova que a Lua é montanhosa, derrubando a tese artistotélica do mundo supralunar; - afirma que é preciso interpretar a experiência empírica com o raciocínio; LEITURA COMPLEMENTAR “Embora Aristarco de Samos tenha proposto um modelo heliocêntrico, a tradição que recebemos dos gregos, confirmada por Aristóteles e mais tarde por Ptolomeu, baseia-se no modelo geocêntrico: a Terra se acha imóvel no centro do universo e em torno dela giram as esferas onde estão cravadas a Lua, os cinco planetas e o Sol. Na última esfera, as estrelas fixas fecham o mundo finito e esférico. (...) Outra característica marcante dessa astronomia é a hierarquização do cosmos, ou seja, o universo se acha dividido em dois mundos, sendo que um é considerado superior ao outro: o mundo sublunar, considerado inferior, corresponde à região da Terra que, embora imóvel, é local dos corpos perecíveis, corruptíveis, porque se encontram em constante movimento. Todas as coisas na Terra são constituídas pelos quatro elementos. O mundo supralunar, de natureza superior, corresponde aos Céus: Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter, Saturno e as estrelas fixas. São corpos constituídos por uma substância desconhecida, o éter (a quinta-essência), que faz com que os astros sejam incorruptíveis, perfeitos, inalteráveis. Mesmo o movimento das esferas é circular, característica do movimento perfeito.” (ARANHA e MARTINS – Temas de Filosofia) modelo inspirado no Geocentrismo de Ptolomeu Na Idade Média, a ciência herdada da tradição grega passa a ser vinculada aos interesses religiosos. Os pensadores cristãos medievais buscam conciliar o posicionamento filosófico com o religioso. O Geocentrismo, modelo científico herdado da ciência grega, é absorvido como verdade absoluta pela Igreja, uma vez que é considerado compatível com os ensinamentos cristãos. É desse modo que vemos uma hipótese filosófica consolidar-se como um paradigma que sustenta uma determinada visão de mundo, considerada legítima pelas instituições poderosas e detentoras do saber. Que visão de mundo é essa? A Terra é imperfeita em relação aos céus, o domínio de Deus, mas ocupa lugar privilegiado no universo. A Terra é o centro de tudo o que existe. O homem, portanto, é um ser especial na hierarquia do cosmos. A ciência, assim, incorporada como argumento de autoridade, legitima uma verdade religiosa, que se converte em ideologia dominante, sustentada por muitos séculos. “A partir do século XIV, a Escolástica – principal escola filosofia e teológica medieval – entra em decadência. Esse período foi muito prejudicial ao desenvolvimento da ciência porque novas ideias fermentavam nas cidades, mas os guardiões da velha ordem resistiam às mudanças de forma dogmática (presos às suas verdades como se fossem dogmas). Esterilizados pelo princípio da autoridade, aferravam-se às verdades dos “velhos livros”, fossem eles a Bíblia, Aristóteles ou Ptolomeu.” (...) “Em oposição ao modelo geocêntrico da astronomia de Ptolomeu, Copérnico, no século XV, propôs o modelo da teoria heliocêntrica. Mas sua hipótese não causou tanto impacto quanto adivulgação feita por Galileu no século seguinte, a ponto de as autoridades eclesiásticas obrigarem-no a se retratar, sob pena de ser condenado à morte. É bom lembrar que as reações contra Galileu partiram dos adeptos da Escolástica decadente e refletiam de maneira geral o temor daqueles que pertenciam à antiga ordem e não queriam a destruição das hierarquias da Igreja Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 4 de 12 e da nobreza.” (ARANHA e MARTINS – Temas de Filosofia). A Revolução Científica marca – junto à emergência de uma nova classe burguesa, ao insipiente capitalismo e ao Renascimento Cultural – o surgimento da Idade Moderna. A razão passa a ser valorizada como instrumento de conhecimento do mundo, o que gradativamente reposiciona o papel da instituição religiosa, por meio de um processo histórico conhecido como secularização: preocupação em se superar as explicações religiosas para questões naturais e humanas; separação entre os campos científico, filosófico e religioso. A ciência tem papel fundamental na construção do homem moderno e do mundo moderno. A ruptura proporcionada pela mudança de paradigma científico, vinculada ao Heliocentrismo, assume gigantes proporções, uma vez que coloca em xeque a autoridade da religião ao contrapor uma de suas mais fundamentais verdades: a centralidade da Terra e, portanto, do homem (filho criado à imagem e semelhança de Deus). O posicionamento de Galileu é crucial: Parece-me que, nas discussões sobre os problemas naturais, não se deveria começar pela autoridade dos textos da Escritura, e sim pelas experiências sensíveis e pelas demonstrações necessárias, porque tanto a sagrada escritura quanto a natureza procedem do verbo divino; aquela, com inspiração do Espírito Santo, e a segunda, como fiel executora das ordens de Deus; porque, além disso, existe conformidade em que as Escrituras, para adaptar-se às possibilidade de compreensão da maioria, dizem, aparentemente, e circunscrevendo-nos ao significado literal das palavras, muitas coisas diferentes da verdade absoluta; e porque, ao contrário, a natureza é inexorável e imutável e jamais ultrapassa os limites das leis a ela impostas, ao não se preocupar em nada com que suas ocultas razões e modos de operar estejam ou não ao alcance da capacidade dos homens. Parece, pois, que o que concernente aos efeitos naturais que a experiência sensível colocando-nos diante dos olhos, ou que as necessárias demonstrações comprovam, não deva de nenhuma maneira ser colocado em dúvida nem condenado pelas passagens da Escritura que disserem aparentemente coisas contrárias, uma vez que nem todas as palavras da Escritura estão ligadas a obrigações severas como o está todo efeito da natureza. (Galileu, Carta a Cristina de Lorena). Ao afirmar a preponderância das leis da natureza em relação às palavras da Escritura, em matéria de conhecimento natural, Galileu abre caminhos para a ruptura com a ideologia dominante, o que é fundamental para a construção de novas concepções sobre o universo e sobre o homem. “Ao mundo geocêntrico, ordenado, hierarquizado e finito opõe-se o universo descentralizado e geométrico em que os espaços podem ser medidos.” (ARANHA e MARTINS – Temas de Filosofia). A grande novidade no desenvolvimento da física é a introdução da experimentação e matematização, grandes contribuições de Galileu para a ciência moderna. Exercícios 1.(Ufu 2011) Considere o seguinte texto sobre Tomás de Aquino (1226-1274). Fique claro que Tomás não aristoteliza o cristianismo, mas cristianiza Aristóteles. Fique claro que ele nunca pensou que, com a razão se pudesse entender tudo; não, ele continuou acreditando que tudo se compreende pela fé: só quis dizer que a fé não estava em desacordo com a razão, e que, portanto, era possível dar-se ao luxo de raciocinar, saindo do universo da alucinação. Eco, Umberto. “Elogio de santo Tomás de Aquino”. In: Viagem na irrealidade cotidiana, p.339. É correto afirmar, segundo esse texto, que: a) Tomás de Aquino, com a ajuda da filosofia de Aristóteles, conseguiu uma prova científica para as certezas da fé, por exemplo, a existência de Deus. b) Tomás de Aquino se empenha em mostrar os erros da filosofia de Aristóteles para mostrar que esta filosofia é incompatível com a doutrina cristã. c) o estudo da filosofia de Aristóteles levou Tomás de Aquino a rejeitar as verdades da fé cristã que não fossem compatíveis com a razão natural. d) a atitude de Tomás de Aquino diante da filosofia de Aristóteles é de conciliação desta filosofia com as certezas da fé cristã. 2.(Ufu 2011) Segundo o texto abaixo, de Agostinho de Hipona (354-430 d. C.), Deus cria todas as coisas a partir de modelos imutáveis e eternos, que são as ideias divinas. Essas ideias ou razões seminais, como também são chamadas, não existem em um mundo à parte, independentes de Deus, mas residem na própria mente do Criador, [...] a mesma sabedoria divina, por quem foram criadas todas as coisas, conhecia aquelas primeiras, divinas, imutáveis e eternas razões de todas as coisas, antes de serem criadas [...]. Sobre o Gênese, V Considerando as informações acima, é correto afirmar que se pode perceber: a) que Agostinho modifica certas ideias do cristianismo a fim de que este seja concordante com a filosofia de Platão, que ele considerava a verdadeira. b) uma crítica radical à filosofia platônica, pois esta é contraditória com a fé cristã. c) a influência da filosofia platônica sobre Agostinho, mas esta é modificada a fim de concordar com a doutrina cristã. d) uma crítica violenta de Agostinho contra a filosofia em geral. 3. (Ufu 2010) A filosofia de Agostinho (354 – 430) é estreitamente devedora do platonismo cristão milanês: foi nas traduções de Mário Vitorino que leu os textos de Plotino e de Porfírio, cujo espiritualismo devia aproximá-lo do cristianismo. Ouvindo sermões de Ambrósio, influenciados por Plotino, que Agostinho venceu suas últimas resistências (de tornar-se cristão). PEPIN, Jean. Santo Agostinho e a patrística ocidental. In: CHÂTELET, François (org.) A Filosofia medieval. Rio de Janeiro Zahar Editores: 1983, p. 77. Apesar de ter sido influenciado pela filosofia de Platão, por meio dos escritos de Plotino, o pensamento de Agostinho Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 5 de 12 apresenta muitas diferenças se comparado ao pensamento de Platão. Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, uma dessas diferenças. a) Para Agostinho, é possível ao ser humano obter o conhecimento verdadeiro, enquanto, para Platão, a verdade a respeito do mundo é inacessível ao ser humano. b) Para Platão, a verdadeira realidade encontra-se no mundo das Ideias, enquanto para Agostinho não existe nenhuma realidade além do mundo natural em que vivemos. c) Para Agostinho, a alma é imortal, enquanto para Platão a alma não é imortal, já que é apenas a forma do corpo. d) Para Platão, o conhecimento é, na verdade, reminiscência, a alma reconhece as Ideias que ela contemplou antes de nascer; Agostinho diz que o conhecimento é resultado da Iluminação divina, a centelha de Deus que existe em cada um. 4.(Enem 2018) Desde que tenhamos compreendido o significado da palavra “Deus”, sabemos, de imediato, que Deus existe. Com efeito, essa palavra designa uma coisa de tal ordem que não podemos conceber nada que lhe seja maior. Ora, o que existe na realidade e no pensamento é maior do que o que existe apenas no pensamento. Donde se segue que o objeto designado pela palavra “Deus”, que existe no pensamento, desde que se entenda essa palavra, também existe na realidade. Por conseguinte, a existência de Deus é evidente. TOMÁS DE AQUINO. Suma teológica. Rio de Janeiro: Loyola, 2002. O texto apresenta uma elaboração teórica de Tomás de Aquino caracterizada por a) reiterar a ortodoxiareligiosa contra os heréticos. b) sustentar racionalmente doutrina alicerçada na fé. c) explicar as virtudes teologais pela demonstração. d) flexibilizar a interpretação oficial dos textos sagrados. e) justificar pragmaticamente crença livre de dogmas. 5.(Ufu 2018) Agostinho, em Confissões, diz: "Mas após a leitura daqueles livros dos platônicos e de ser levado por eles a buscar a verdade incorpórea, percebi que 'as perfeições invisíveis são visíveis em suas obras' (Carta de Paulo aos Romanos, 1, 20)". Agostinho de Hipona. Confissões, livro VII, cap. 20, citado por: MARCONDES, Danilo. Textos Básicos de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2000. Tradução do autor. Nesse trecho, podemos perceber como Agostinho a) se utilizou da Bíblia para conhecer melhor a filosofia platônica. b) utiliza a filosofia platônica para refutar os textos bíblicos. c) separa nitidamente os domínios da filosofia e da religião. d) foi despertado para o conhecimento de Deus a partir da filosofia platônica. 6.(Enem 2018) Não é verdade que estão ainda cheios de velhice espiritual aqueles que nos dizem: “Que fazia Deus antes de criar o céu e a terra? Se estava ocioso e nada realizava”, dizem eles, “por que não ficou sempre assim no decurso dos séculos, abstendo-se, como antes, de toda ação? Se existiu em Deus um novo movimento, uma vontade nova para dar o ser a criaturas que nunca antes criara, como pode haver verdadeira eternidade, se n’Ele aparece uma vontade que antes não existia?” AGOSTINHO. Confissões. São Paulo: Abril Cultural, 1984. A questão da eternidade, tal como abordada pelo autor, é um exemplo da reflexão filosófica sobre a(s) a) essência da ética cristã. b) natureza universal da tradição. c) certezas inabaláveis da experiência. d) abrangência da compreensão humana. e) interpretações da realidade circundante. 7.(Unesp 2016) Não posso dizer o que a alma é com expressões materiais, e posso afirmar que não tem qualquer tipo de dimensão, não é longa ou larga, ou dotada de força física, e não tem coisa alguma que entre na composição dos corpos, como medida e tamanho. Se lhe parece que a alma poderia ser um nada, porque não apresenta dimensões do corpo, entenderá que justamente por isso ela deve ser tida em maior consideração, pois é superior às coisas materiais exatamente por isso, porque não é matéria. É certo que uma árvore é menos significativa que a noção de justiça. Diria que a justiça não é coisa real, mas um nada? Por conseguinte, se a justiça não tem dimensões materiais, nem por isso dizemos que é nada. E a alma ainda parece ser nada por não ter extensão material? (Santo Agostinho. Sobre a potencialidade da alma, 2015. Adaptado.) No texto de Santo Agostinho, a prova da existência da alma a) desempenha um papel primordialmente retórico, desprovido de pretensões objetivas. b) antecipa o empirismo moderno ao valorizar a experiência como origem das ideias. c) serviu como argumento antiteológico mobilizado contra o pensamento escolástico. d) é fundamentada no argumento metafísico da primazia da substância imaterial. e) é acompanhada de pressupostos relativistas no campo da ética e da moralidade. 8.(Enem PPL 2015) Se os nossos adversários, que admitem a existência de uma natureza não criada por Deus, o Sumo Bem, quisessem admitir que essas considerações estão certas, deixariam de proferir tantas blasfêmias, como a de atribuir a Deus tanto a autoria dos bens quanto dos males. Pois sendo Ele fonte suprema da Bondade, nunca poderia ter criado aquilo que é contrário à sua natureza. AGOSTINHO. A natureza do Bem. Rio de Janeiro: Sétimo Selo, 2005 (adaptado). Para Agostinho, não se deve atribuir a Deus a origem do mal porque a) o surgimento do mal é anterior à existência de Deus. b) o mal, enquanto princípio ontológico, independe de Deus. c) Deus apenas transforma a matéria, que é, por natureza, má. d) por ser bom, Deus não pode criar o que lhe é oposto, o mal. e) Deus se limita a administrar a dialética existente entre o bem e o mal. Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 6 de 12 9.(Ufu 2013) Com efeito, existem a respeito de Deus verdades que ultrapassam totalmente as capacidades da razão humana. Uma delas é, por exemplo, que Deus é trino e uno. Ao contrário, existem verdades que podem ser atingidas pela razão: por exemplo, que Deus existe, que há um só Deus etc. AQUINO, Tomás de. Súmula contra os Gentios. Capítulo Terceiro: A possibilidade de descobrir a verdade divina. Tradução de Luiz João Baraúna. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 61. Para São Tomás de Aquino, a existência de Deus se prova a) por meios metafísicos, resultantes de investigação intelectual. b) por meio do movimento que existe no Universo, na medida em que todo movimento deve ter causa exterior ao ser que está em movimento. c) apenas pela fé, a razão é mero instrumento acessório e dispensável. d) apenas como exercício retórico. 10.(Ufu 2018) Considere o trecho abaixo, extraído da Suma de Teologia de Tomás de Aquino (1224-1274), texto em que ele apresenta uma das célebres cinco vias pelas quais se pode provar a existência de Deus. “A quinta via é assumida a partir do governo das coisas. Vemos, com efeito, que aquilo que carece de inteligência, ou seja, os corpos naturais, opera em vista de um fim, o que se percebe pelo fato de sempre ou frequentemente operarem do mesmo modo a fim de atingir o que é o melhor. Daí fica claro que não é por acaso, e sim intencionalmente que atingem este fim. Mas o que não tem inteligência não tende a um fim se não for dirigido por algo cognoscente e inteligente, assim como a flecha pelo arqueiro. Portanto, há algo inteligente pelo qual todas as coisas naturais são ordenadas a seu fim, e este dizemos que é Deus.” AQUINO, Tomás de. Suma de Teologia, questão 2, artigo 3. a) Segundo Tomás de Aquino, a prova sobre a existência de Deus não é uma demonstração de fato (caso em que seria evidente), e sim uma prova a partir dos efeitos. Explique por que essa quinta via é uma prova a partir dos efeitos. b) Descreva como Tomás de Aquino se utiliza da filosofia de Aristóteles na elaboração dessa prova. 11.(Uel 2010) A ONU declarou 2009 o Ano Internacional da Astronomia pelos 400 anos do uso do telescópio nas investigações astronômicas por Galileu Galilei. Essas investigações desencadearam descobertas e, por sua vez, uma nova maneira de compreender os fenômenos naturais. Além de suas descobertas, Galileu também contribuiu para a posteridade ao desenvolver o método experimental e a concepção de uma nova ciência física. Com base nas contribuições metodológicas de Galileu Galilei, é correto afirmar: a) A experiência espontânea e imediata da percepção dos sentidos desempenha, a partir de Galileu, um papel metodológico, preponderante na nova ciência. b) A observação, a experimentação e a explicação dos fenômenos físicos da natureza desenvolvidos por Galileu aprimoram o método lógico-dedutivo da filosofia aristotélica. c) A observação controlada dos fenômenos na forma de experimentação, segundo o método galileano, consiste em interrogar metodicamente a natureza na linguagem matemática. d) A verificação metodológica da verdade das leis científicas pelos experimentos aleatórios, defendida por Galileu, fundamenta-se na concepção finalista do Universo. e) O método galileano reafirma o princípio de autoridade das interpretações teológico-bíblicas na definição do método para alcançar a verdade física. 12.(Unicentro 2010) “A filosofia encontra-se escrita neste grande livro que continuamente se abre perante nossos olhos (isto é, o Universo). Ele está escrito em língua matemática, os caracteres são triângulos, circunferências e outras figuras geométricas. Sem estesmeios, é impossível entender humanamente as palavras; sem eles nós vagamos perdidos dentro de um obscuro labirinto.” (GALILEU. Apud. COTRIM. Fundamentos da filosofia: história e grandes temas. 16ª Ed., São Paulo: Saraiva, 2006 - p.133.) De acordo com o texto acima, e com seus conhecimentos sobre a ciência da natureza em Galileu, assinale a alternativa correta. a) De acordo com os princípios de sua ciência, Galileu depositava grande crédito no método indutivo, pois este possuiria melhor alcance nos resultados da investigação da natureza. b) O passo decisivo da física galileana concentrava-se na realização de experimentos para comprovar uma tese, sem a necessidade de recorrer às elaborações do raciocínio matemático. c) Quanto ao “movimento”, Galileu seguiu as teorias de Aristóteles que distinguia o movimento qualitativo do movimento quantitativo, para considerar toda mudança apenas do ponto de vista qualitativo (corpos pesados ou leves). d) Um dos aspectos centrais da ciência da natureza em Galileu está na realização de experimentos com o auxílio indispensável da matemática, pois, para ele, a matemática é o meio instrumental capaz de enunciar e traduzir as regularidades observadas nos fenômenos naturais. e) O que dá validade científica aos processos intelectuais de Galileu é que os resultados de suas pesquisas jamais precisariam ser submetidos à comprovação empírica, bastando, apenas, se localizarem no campo da abstração. 13.(Uel 2010) A obra de Galileu Galilei está indissoluvelmente ligada à revolução científica do século XVII, a qual implicou uma “mutação” intelectual radical, cujo produto e expressão mais genuína foi o desenvolvimento da ciência moderna no pensamento ocidental. Neste sentido, destacam-se dois traços entrelaçados que caracterizam esta revolução inauguradora da modernidade científica: a dissolução da ideia greco-medieval do Cosmos e a geometrização do espaço e do movimento. (KOYRÉ, A. Estudos Galilaicos. Lisboa: Dom Quixote, 1986. pp. 13-20; KOYRÉ, A. Estudos de História do Pensamento Científico. Brasília, Editora UnB, 1982. pp. 152-154.). Com base no texto e nos conhecimentos sobre as características que marcam revolução científica no pensamento de Galileu Galilei, assinale a alternativa correta. Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 7 de 12 a) A dissolução do Cosmos representa a ruptura com a ideia do Universo como sistema imutável, heterogêneo, hierarquicamente ordenado, da física aristotélica. b) A crença na existência do Cosmos, na física aristotélica, se situa na concepção de um Universo aberto, indefinido e até infinito, unificado e governado pelas mesmas leis universais. c) Contrária à concepção tradicional de ciência de orientação aristotélica, a física galilaica distingue e opõe os dois mundos do Céu e da Terra e suas respectivas leis. d) A geometrização do espaço e do movimento, na física galilaica, aprimora a concepção matemática do Universo cósmico qualitativamente diferenciado e concreto da física aristotélica. e) A física galilaica identifica o movimento a partir da concepção de uma totalidade cósmica, em cuja ordem cada coisa possui um lugar próprio conforme sua natureza. 14.(Unesp 2019) Galileu tornou-se o criador da física moderna quando anunciou as leis fundamentais do movimento. Formulando tais princípios, ele estruturou todo o conhecimento científico da natureza e abalou os alicerces que fundamentavam a concepção medieval do mundo. Destruiu a ideia de que o mundo possui uma estrutura finita, hierarquicamente ordenada e substituiu-a pela visão de um universo aberto, infinito. Pôs de lado o finalismo aristotélico e escolástico, segundo o qual tudo aquilo que ocorre na natureza ocorre para cumprir desígnios superiores; e mostrou que a natureza é fundamentalmente um conjunto de fenômenos mecânicos. (José Américo M. Pessanha. Galileu Galilei, 2000. Adaptado.) A importância da obra de Galileu para o surgimento da ciência moderna justifica-se porque seu pensamento a) resgatou uma concepção medieval de mundo. b) baseou-se em uma visão teológica sobre a natureza. c) fundamentou-se em conceitos metafísicos. d) fundou as bases para o desenvolvimento da alquimia. e) atribuiu regularidade matemática aos fenômenos naturais. 15.(Enem 2014) A filosofia encontra-se escrita neste grande livro que continuamente se abre perante nossos olhos (isto é, o universo), que não se pode compreender antes de entender a língua e conhecer os caracteres com os quais está escrito. Ele está escrito em língua matemática, os caracteres são triângulos, circunferências e outras figuras geométricas, sem cujos meios é impossível entender humanamente as palavras; sem eles, vagamos perdidos dentro de um obscuro labirinto. GALILEI, G. “O ensaiador”. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978. No contexto da Revolução Científica do século XVII, assumir a posição de Galileu significava defender a a) continuidade do vínculo entre ciência e fé dominante na Idade Média. b) necessidade de o estudo linguístico ser acompanhado do exame matemático. c) oposição da nova física quantitativa aos pressupostos da filosofia escolástica. d) importância da independência da investigação científica pretendida pela Igreja. e) inadequação da matemática para elaborar uma explicação racional da natureza. 16. (Unesp 2017) A revolução científica não consiste somente em teorias novas e diferentes sobre o universo astronômico, sobre o corpo humano ou sobre a composição da Terra. A revolução científica é uma revolução da ideia de saber e de ciência. Trata-se de um processo complexo que encontra seu resultado mais claro na autonomia da ciência em relação às proposições de fé e às concepções filosóficas. A ciência é ciência experimental (baseada em experiências concretas). É a ideia de ciência metodologicamente regulada e publicamente controlável que exige as novas instituições científicas, como as academias e os laboratórios. E é com base no método experimental que se funda a autonomia da ciência, que encontra as suas verdades independentemente da filosofia e da fé. Giovanni Reale e Dario Antiseri. História da filosofia, vol. 2, 1990. Adaptado. A relação da revolução científica com os dogmas religiosos foi de concordância ou de ruptura? Explique qual foi o papel do método experimental para a autonomia da ciência em relação à fé religiosa. Gabarito: 1.D 2.C 3.D 4.B 5.D 6.D 7.D 8.D 9.B 10. Diss. 11.C 12.D 13.A 14.E 15.C 16.Diss. Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 8 de 12 SEMANA 2: Maquiavel e Teorias Contratualistas 1. Nicolau Maquiavel (1469 – 1527) Político, diplomata e intelectual italiano. Pesquisador das práticas políticas, tinha como principais objetivos: entender a crise italiana e promover a unificação do país. Atuou como consultor político na República de Florença. Sua principal obra, “O Príncipe”, é escrita entre os anos de 1513 e 1514, porém somente é publicada no ano de 1532, após a morte de Maquiavel. Obra inaugural do pensamento político moderno, consiste em uma espécie de manual criado para orientar a ação do líder político, uma vez que assume como valor central a eficácia da prática política. Maquiavel a dedica aos monarquistas da família Médicis, que haviam tomado o poder em Florença. DEDICATÓRIA DO LIVRO O PRÍNCIPE Ao Magnífico Lorenzo, filho de Piero de Médicis As mais das vezes, costumam aqueles que desejam granjear as graças de um príncipe, trazer-lhes os objetos que lhes são mais caros, ou com os quais o veem deleitar- se; assim, muitas vezes, eles são presenteados com cavalos, armas, tecidos de ouro, pedras preciosas e outros ornamentos dignos de sua grandeza. Desejando eu oferecer a Vossa Magnificênciaum testemunho qualquer de minha obrigação, não achei, entre os meus cabedais, coisa que me seja mais cara ou que tanto estime quanto o conhecimento das ações dos grandes homens apreendido por uma longa experiência das coisas modernas e uma contínua lição das antigas; as quais tendo eu, com grande diligência, longamente cogitado, examinando-as, agora a mando a Vossa Magnificência, reduzidas a um pequeno volume. E conquanto julgue indigna esta obra da presença de Vossa Magnificência, não confio menos em que, por sua humanidade, deva ser aceita, considerado que não lhe posso fazer maior presente que lhe dar a faculdade de poder em tempo muito breve aprender tudo aquilo que, em tantos anos e à custa de tantos incômodos e perigos, hei conhecido. Não ornei esta obra e nem a enchi de períodos sonoros ou de palavras empoladas e floreadas (…); porque não quis que coisa alguma seja seu ornato e a faça agradável senão a variedade da matéria e a gravidade do assunto. Nem quero que se repute presunção o fato de um homem de baixo e ínfimo estado discorrer e regular sobre o governo dos príncipes, pois os que desejam os contornos dos países se colocam na planície para considerar a natureza dos montes, e para considerar a das planícies ascendem aos montes, assim também para conhecer bem a natureza dos povos é necessário ser príncipe, e para conhecer a dos príncipes é necessário ser povo. (Nicolau Maquiavel. O Príncipe, p. 9-10) Contexto Histórico: EUROPA RENASCENTISTA – transição do sistema feudal para o capitalismo; início do processo de centralização política em alguns países, sob o comando dos príncipes (Espanha, Portugal, França e Inglaterra). ITÁLIA – vários centros dispersos de poder (reinos, ducados, repúblicas). Não ocorre a unificação política. Novas rotas marítimas acabam com a hegemonia do comércio Mediterrâneo. Características da obra de Maquiavel: - Método Empírico: Maquiavel não toma como base a Bíblia, o direito romano ou a obra dos filósofos gregos para construir suas teorias políticas, mas parte da experiência real de seu tempo. Busca observar a realidade factual, sem juízos de valor e atem-se a feitos históricos realizados pelos líderes políticos. Assim, assume a política em sua dimensão mais prática: a eficácia ou o resultado. - Cálculo Racional: A finalidade da política é a tomada e manutenção do poder. O líder político (príncipe) deve orientar racionalmente suas ações visando determinados fins e avaliando os custos e benefícios de cada atitude. Isso implica em uma responsabilidade para com os RESULTADOS. - Separação entre política e religião: Não é a moral que orienta a análise de Maquiavel, mas a coerência a um princípio. A política tem sua própria moral e esta deve se basear na eficácia de determinadas ações. Ao estadista é permitido fazer coisas que não são permitidas aos súditos, portanto, a ética política não deve ser regulada por preceitos morais ou valores difundidos pela religião. A lógica política nada tem a ver com as virtudes éticas dos indivíduos em sua vida privada. O que poderia ser moral na vida privada pode ser fraqueza na vida pública, assim como o que pode ser imoral na vida privada pode ser virtude política. Dessa maneira, Maquiavel inaugura a ideia de valores políticos medidos pela eficácia prática e pela utilidade social, afastando a política dos padrões que regulam a moralidade privada dos indivíduos. O Príncipe: Maquiavel considera que seja melhor, ao príncipe, ser temido do que amado, mas jamais odiado. O líder deve possuir Virtú, habilidades racionais relacionadas à liderança que sintetizam o que Maquiavel descreve como virtude política. A virtú é componente essencial para que o príncipe possa lidar com a Fortuna, que representa a imprevisibilidade do destino, adversidades que podem acontecer mesmo com a máxima eficácia do líder político. Texto complementar: O Príncipe - Maquiavel CAPÍTULO XV DAQUELAS COISAS PELAS QUAIS OS HOMENS, E ESPECIALMENTE OS PRÍNCIPES, SÃO LOUVADOS OU VITUPERADOS Resta ver agora quais devam ser os modos e o proceder de um príncipe para com os súditos e os amigos e, por que sei que muitos já escreveram a respeito, duvido não ser considerado presunçoso escrevendo ainda sobre o mesmo assunto, máxime quando irei disputar essa matéria à orientação já por outros dada aos príncipes. Mas, sendo minha intenção escrever algo de útil para quem por tal se interesse, pareceu-me mais conveniente ir em busca da verdade extraída dos fatos e não à imaginação dos mesmos, pois muitos conceberam repúblicas e principados jamais vistos ou conhecidos como tendo realmente existido. Em verdade, há tanta diferença de como se vive e como se Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 9 de 12 deveria viver, que aquele que abandone o que se faz por aquilo que se deveria fazer, aprenderá antes o caminho de sua ruína do que o de sua preservação, eis que um homem que queira em todas as suas palavras fazer profissão de bondade, perder-se-á em meio a tantos que não são bons. Donde é necessário, a um príncipe que queira se manter, aprender a poder não ser bom e usar ou não da bondade, segundo a necessidade. Deixando de parte, assim, os assuntos relativos a um príncipe imaginário e falando daqueles que são verdadeiros, digo que todos os homens, máxime os príncipes por situados em posição mais preeminente, quando analisados, se fazem notar por alguns daqueles atributos que lhes acarretam ou reprovação ou louvor. Assim é que alguns são havidos como liberais, alguns miseráveis (usando um termo toscano, porque "avaro" em nossa língua é ainda aquele que deseja possuir por rapina, enquanto "miserável" chamamos aquele que se abstém em excesso de usar o que possui); alguns são tidos como pródigos, alguns rapaces; alguns cruéis, alguns piedosos; um fedífrago, o outro fiel; um efeminado e pusilânime, o outro feroz e animoso; um humano, o outro soberbo; um lascivo, o outro casto; um simples, o outro astuto; um duro, o outro fácil; um grave, o outro leviano; um religioso, o outro incrédulo, e assim por diante. Sei que cada um confessará que seria sumamente louvável encontrarem-se em um príncipe, de todos os atributos acima referidos, apenas aqueles que são considerados bons; mas, desde que não os podem possuir nem inteiramente observá-los em razão das contingências humanas não o permitirem, é necessário seja o príncipe tão prudente que saiba fugir à infâmia daqueles vícios que o fariam perder o poder, cuidando evitar até mesmo aqueles que não chegariam a pôr em risco o seu posto; mas, não podendo evitar, é possível tolerá-los, se bem que com quebra do respeito devido. Ainda, não evite o príncipe de incorrer na má faina daqueles vícios que, sem eles, difícil se lhe torne salvar o Estado; pois, se bem considerado for tudo, sempre se encontrará alguma coisa que, parecendo virtude, praticada acarretará ruína, e alguma outra que, com aparência de vício, seguida dará origem à segurança e ao bem-estar. 2. Teorias Contratualistas Hipóteses filosóficas para o surgimento do Estado, baseadas no conceito de contrato ou pacto social. DEFINIÇÃO Contrato social (ou contratualismo) indica uma classe de teorias que tentam explicar os caminhos que levam as pessoas a formarem Estados e/ou manterem a ordem social. Essa noção de contrato traz implícito que as pessoas abrem mão de certos direitos para um governo ou outra autoridade a fim de obter as vantagens da ordem social. Nesse prisma, o contrato social seria um acordo entre os membros da sociedade, pelo qual reconhecem a autoridade, igualmente sobre todos, de um conjunto de regras, de um regime político ou de um governante. O ponto inicial da maior parte dessas teorias é o exame da condição humana na ausência de qualquer ordem social estruturada, normalmente chamada de "estado de natureza". Nesse estado, as ações dos indivíduos estariam limitadasapenas por seu poder e sua consciência. Desse ponto em comum, os proponentes das teorias do contrato social tentam explicar, cada um a seu modo, como foi do interesse racional do indivíduo abdicar da liberdade que possuiria no estado de natureza para obter os benefícios da ordem política. As teorias sobre o contrato social se difundiram entre os séculos XVI e XVIII[1] como forma de explicar ou postular a origem legítima dos governos e, portanto, das obrigações políticas dos governados ou súditos. Thomas Hobbes (1651), John Locke (1689) e Jean-Jacques Rousseau (1762) são os mais famosos filósofos do contratualismo. https://pt.wikipedia.org/wiki/Contrato_social Thomas Hobbes (1588 – 1679) “O homem é o lobo do homem” Concepção negativa da natureza humana. Predomínio das paixões. Estado de natureza como guerra permanente de todos contra todos. Predomínio da lei do mais forte. Há absoluta liberdade, mas não há qualquer segurança. Contrato Social: buscando garantir paz e segurança, é estabelecido um pacto entre todos os indivíduos, que consentem em abrir mão de suas liberdades individuais e garantir o estabelecimento de um poder supremo, responsável por reger a vida social. O contrato social marca, assim, a transferência de poder de cada indivíduo singular ao Estado (Leviatã). Estado ou corpo político: representa a vontade de todos. Sua soberania é inquestionável e seu poder é ilimitado (Absolutismo). John Locke (1632 – 1683) Estado de Natureza: os homens são todos livres e racionais, organizam-se socialmente, trabalham a terra e existe propriedade privada. Reconhecem três direitos naturais: vida, liberdade e propriedade. Contrato Social: visa garantir os direitos naturais do homem; firmar a lei e estabelecer um juiz imparcial. Estado: soberania limitada, o governo pode ser revogado. Princípio do Estado Liberal. Rousseau (1712 – 1778) Estado de Natureza: o homem é livre, bom e há igualdade (bom selvagem); vive em harmonia com os outros homens e com a natureza. Propriedade Privada: corrompe o homem e estabelece a desigualdade, gerando competição e vaidade. Contrato social: ILEGÍTIMO, surge para manter a propriedade privada. Soberania popular: propor a transição entre um Estado ilegítimo e uma sociedade civil legítima, ancorada em valores como liberdade e igualdade e correspondendo com a vontade geral. Princípio do Estado Democrático. Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 10 de 12 Exercícios 1. (Ufu 2011) A Itália do tempo de Nicolau Maquiavel (1469 – 1527) não era um Estado unificado como hoje, mas fragmentada em reinos e repúblicas. Na obra O Príncipe, declara seu sonho de ver a península unificada. Para tanto, entre outros conceitos, forjou as concepções de virtú e de fortuna. A primeira representa a capacidade de governar, agir para conquistar e manter o poder; a segunda é relativa aos “acasos da sorte” aos quais todos estão submetidos, inclusive os governantes. Afinal, como registrado na famosa ópera de Carl Orff: Fortuna imperatrix mundi (A Fortuna governa o mundo). Por isso, um príncipe prudente não pode nem deve guardar a palavra dada quando isso se lhe torne prejudicial e quando as causas que o determinaram cessem de existir. MAQUIAVEL, N. “O príncipe”. Coleção os Pensadores. São Paulo: Abril Cultura, 1973, p. 79 - 80. Com base nas informações acima, assinale a alternativa que melhor interpreta o pensamento de Maquiavel. a) Trata-se da fortuna, quando Maquiavel diz que “as causas que o determinaram cessem de existir”; e de virtú, quando Maquiavel diz que o príncipe deve ser “prudente”. b) Trata-se da virtú, quando Maquiavel diz que as “causas mudaram”; e de fortuna quando se refere ao príncipe prudente, pois um príncipe com tal qualidade saberia acumular grande quantidade de riquezas. c) Apesar de ser uma frase de Maquiavel, conforme o texto introdutório, ela não guarda qualquer relação com as noções de virtú e fortuna. d) O fragmento de Maquiavel expressa bem a noção de virtú, ao dizer que o príncipe deve ser prudente, mas não se relaciona com a noção de fortuna, pois em nenhum momento afirma que as “circunstâncias” podem mudar. 2.(Uem 2009) Maquiavel inaugura o pensamento político moderno. Seculariza a política, rejeitando o legado ético- cristão. Maquiavel tem uma visão do homem e da política como elas são e não como deveriam ser. A política deve ater-se ao real, deve preocupar-se com a eficiência da ação e não teorizar, como fazia Platão, sobre a forma ideal de governo. Assinale o que for correto. 01) Para Maquiavel, o príncipe virtuoso é aquele que governa com justiça, estabelecendo, entre seus súditos, a igualdade social e uma participação político- democrática. 02) Maquiavel redefine as relações entre ética e política, não julga mais as ações políticas em função de uma hierarquia de valores dada de antemão, mas em função da necessidade dos resultados que as ações políticas devem alcançar. 04) Maquiavel faz a apologia da tirania, pois considera ser a forma mais eficiente de o príncipe manter-se no poder e garantir a segurança da ordem social e política para seus súditos. 08) Na concepção política de Maquiavel, não há uma exclusão entre ética e política, todavia a primeira deve ser entendida a partir da segunda. Para ele, as exigências da ação política implicam uma ética cujo caráter é diferente da ética praticada pelos indivíduos na vida privada. 16) Para Maquiavel, a sociedade é dividida entre polos distintamente separados, isto é, os que possuem o poder político e econômico, e o povo oprimido. A sociedade é cindida por lutas sociais, não pode, portanto, ser vista como uma comunidade ideal e homogênea voltada para o bem comum. 3.(Unesp 2011) “Três maneiras há de preservar a posse de Estados acostumados a serem governados por leis próprias; primeiro, devastá-los; segundo, morar neles; terceiro, permitir que vivam com suas leis, arrancando um tributo e formando um governo de poucas pessoas, que permaneçam amigas. Sucede que, na verdade, a garantia mais segura da posse é a ruína. Os que se tornam senhores de cidades livres por tradição, e não as destroem, serão destruídos por elas. Essas cidades costumam ter por bandeira, em suas rebeliões, tanto a liberdade quanto suas antigas leis, jamais esquecidas, nem com o passar do tempo, nem por influência dos favores que receberam. Por mais que se faça, e sejam quais forem os cuidados, sem promover desavença e desagregação entre os habitantes, continuarão eles a recordar aqueles princípios e a estes irão recorrer em quaisquer oportunidades e situações”. (Nicolau Maquiavel. Publicado originalmente em 1513. Adaptado.) Partindo de uma definição de moralidade como conjunto de regras de conduta humana que se pretendem válidas em termos absolutos, responda se o pensamento de Maquiavel é compatível com a moralidade cristã. Justifique sua resposta, comentando o teor prático ou pragmático do pensamento desse filósofo. 4.(Ifsp 2011) Reconhecido por muitos como fundador do pensamento político moderno, Maquiavel chocou a sociedade de seu tempo ao propor, em O Príncipe, que a) a soberania do Estado é ilimitada e que o monarca, embora submetido às leis divinas, pode interpretá-las de forma autônoma, sem a necessidade de recorrer ao Papa. b) a autoridade do monarca é sagrada, ilimitada e incontestável, pois o príncipe recebe seu poder diretamente de Deus. c) o Estado é personificado pelo monarca, que encarna a soberania e cujo poder não conhece outros limites que não aqueles ditados pela moral. d) a autoridade do príncipe deriva do consentimento dos governados, pois a função do Estado é promover e assegurar a felicidade dos seus súditos. e) a política é autonormativa, justificando seus meios em prol de um bem maior, que é a estabilidade do Estado. 5.(Enem2013) Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado que temido ou temido que amado. Responde-se que ambas as coisas seriam de desejar; mas porque é difícil juntá-las, é muito mais seguro ser temido que amado, quando haja de faltar uma das duas. Porque dos homens se pode dizer, duma maneira geral, que são ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ávidos de lucro, e enquanto lhes fazes bem são inteiramente teus, oferecem- te o sangue, os bens, a vida e os filhos, quando, como acima disse, o perigo está longe; mas quando ele chega, revoltam-se. MAQUIAVEL, N. O príncipe. Rio de Janeiro: Bertrand, 1991. Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 11 de 12 A partir da análise histórica do comportamento humano em suas relações sociais e políticas, Maquiavel define o homem como um ser a) munido de virtude, com disposição nata a praticar o bem a si e aos outros. b) possuidor de fortuna, valendo-se de riquezas para alcançar êxito na política. c) guiado por interesses, de modo que suas ações são imprevisíveis e inconstantes. d) naturalmente racional, vivendo em um estado pré-social e portando seus direitos naturais. e) sociável por natureza, mantendo relações pacíficas com seus pares. 6.(Ufu 2013) Porque as leis de natureza (como a justiça, a equidade, a modéstia, a piedade, ou, em resumo, fazer aos outros o que queremos que nos façam) por si mesmas, na ausência do temor de algum poder capaz de levá-las a ser respeitadas, são contrárias a nossas paixões naturais, as quais nos fazem tender para a parcialidade, o orgulho, a vingança e coisas semelhantes. HOBBES, Thomas. Leviatã. Cap. XVII. Tradução de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p. 103. Em relação ao papel do Estado, Hobbes considera que: a) O seu poder deve ser parcial. O soberano que nasce com o advento do contrato social deve assiná-lo, para submeter-se aos compromissos ali firmados. b) A condição natural do homem é de guerra de todos contra todos. Resolver tal condição é possível apenas com um poder estatal pleno. c) Os homens são, por natureza, desiguais. Por isso, a criação do Estado deve servir como instrumento de realização da isonomia entre tais homens. d) A guerra de todos contra todos surge com o Estado repressor. O homem não deve se submeter de bom grado à violência estatal. 7.(Uel 2005) “O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer isto é meu e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não pouparia ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: ‘Defendei-vos de ouvir esse impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não pertence a ninguém!’”. (ROUSSEAU, Jean- Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. Trad. de Lourdes Santos Machado. São Paulo: Nova Cultural, 1997. p. 87.) Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamento político de Rousseau, é correto afirmar: a) A desigualdade é um fato natural, autorizada pela lei natural, independentemente das condições sociais decorrentes da evolução histórica da humanidade. b) A finalidade da instituição da sociedade e do governo é a preservação da individualidade e das diferenças sociais. c) A sociabilidade tira o homem do estado de natureza onde vive em guerra constante com os outros homens. d) Rousseau faz uma crítica ao processo de socialização, por ter corrompido o homem, tornando-o egoísta e mesquinho para com os seus semelhantes. e) Rousseau valoriza a fundação da sociedade civil, que tem como objetivo principal a garantia da posse privada da terra. 8.(Uel 2005) “Se todos os homens são, como se tem dito, livres, iguais e independentes por natureza, ninguém pode ser retirado deste estado e se sujeitar ao poder político de outro sem o seu próprio consentimento. A única maneira pela qual alguém se despoja de sua liberdade natural e se coloca dentro das limitações da sociedade civil é através do acordo com outros homens para se associarem e se unirem em uma comunidade para uma vida confortável, segura e pacífica uns com os outros, desfrutando com segurança de suas propriedades e melhor protegidos contra aqueles que não são daquela comunidade”. (LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo civil. Trad. de Magda Lopes e Marisa Lobo da Costa. Petrópolis: Vozes, 1994. p.139.) Com base no texto e nos conhecimentos sobre o contrato social em Locke, considere as afirmativas a seguir. I. O direito à liberdade e à propriedade são dependentes da instituição do poder político. II. O poder político tem limites, sendo legítima a resistência aos atos do governo se estes violarem as condições do pacto político. III. Todos os homens nascem sob um governo e, por isso, devem a ele submeter-se ilimitadamente. IV. Se o homem é naturalmente livre, a sua subordinação a qualquer poder dependerá sempre de seu consentimento. Estão corretas apenas as afirmativas: a) I e II. b) I e III. c) II e IV. d) I, III e IV. e) II, III e IV. 9. (Uel 2006) “O direito de natureza, a que os autores geralmente chamam de jus naturale, é a liberdade que cada homem possui de usar seu próprio poder, da maneira que quiser, para a preservação de sua própria natureza, ou seja, de sua vida; e consequentemente de fazer tudo aquilo que seu próprio julgamento e razão lhe indiquem como meios adequados a esse fim.” (HOBBES, Thomas. Leviatã. Trad. João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Abril Cultural, 1974. p. 82.) Com base no texto e nos conhecimentos sobre o Estado de natureza em Hobbes, considere as afirmativas a seguir. I. Todos os homens são igualmente vulneráveis à violência diante da ausência de uma autoridade soberana que detenha o uso da força. II. Em cada ser humano há um egoísmo na busca de seus interesses pessoais a fim de manter a própria sobrevivência. III. A competição e o desejo de fama passam a existir nos homens quando abandonam o Estado de natureza e ingressam no Estado social. Prof. Maria Helena Filosofia & Sociologia Página 12 de 12 IV. O homem é naturalmente um ser social, o que lhe garante uma vida harmônica entre seus pares. Estão corretas apenas as afirmativas: a) I e II. b) I e IV. c) III e IV. d) I, II e III. e) II, III e IV. 10.(Uem 2009) Thomas Hobbes explica a origem da sociedade e do Estado mediante a ideia de um pacto ou acordo entre os indivíduos para regulamentar o convívio social e garantir a paz e a segurança de todos. Sobre a teoria política de Thomas Hobbes, assinale o que for correto. 01) Segundo Thomas Hobbes, no estado de natureza, o comportamento dos homens é pacífico, o que é condição para instauração do pacto de respeito mútuo às liberdades individuais. 02) Segundo Thomas Hobbes, no estado de natureza, o homem dispõe de toda liberdade e poder para realizar tudo quanto sua força ou astúcia lhe permitir. 04) Segundo Thomas Hobbes, o Estado é a unidade formada por uma multidão de indivíduos que concordaram em transferir seu direito de governarem a si mesmos à pessoa ou à assembleia de pessoas que os represente e que possa assegurar a paz. 08) Na obra Leviatã, para caracterizar o Estado, Thomas Hobbes utiliza a figura do Novo Testamento, o Leviatã, cuja função é salvar os homens do poder despótico dos reis. 16) Segundo Thomas Hobbes, o Estado não dispõe de poder absoluto algum. É ilegítimo o uso da força pelo soberano para constranger os súditos, pois o controle do poder instituído, como o próprio poder, deve assentar-se no acordo e no convencimento. 11.(Uff 2011) Desde a Idade Moderna,quase todas as sociedades enfrentaram o dilema de optar entre duas concepções distintas e opostas sobre o poder. Dois filósofos ingleses Thomas Hobbes e John Locke foram responsáveis por sintetizarem essas concepções. Segundo Thomas Hobbes, o ser humano em seu estado natural é selvagem e cada um é inimigo do outro; mas, quando o ser humano abre mão de sua própria liberdade e a autoridade plena do Estado é estabelecida, passam a predominar a ordem, a paz e a prosperidade. Para John Locke, o ser humano já é dotado em seu estado natural dos direitos de vida, liberdade e felicidade e, assim, a autoridade do Estado só é legítima quando reconhece e respeita esses direitos e, para que isso se concretize, é necessário limitar os poderes do Estado. Assinale a alternativa que apresenta as duas concepções políticas associadas, respectivamente, a esses filósofos. a) Mercantilismo e Fisiocracia. b) Classicismo e Barroco. c) Absolutismo e Liberalismo. d) Subjetivismo e Objetivismo. e) Nacionalismo e Internacionalismo. 12. (Unesp 2011) Enquanto os homens se contentaram com suas cabanas rústicas, enquanto se limitaram a costurar com espinhos ou com cerdas suas roupas de peles, a enfeitarem-se com plumas e conchas, a pintar o corpo com várias cores, a aperfeiçoar ou embelezar seus arcos e flechas, a cortar com pedras agudas algumas canoas de pescador ou alguns instrumentos grosseiros de música – em uma palavra: enquanto só se dedicavam a obras que um único homem podia criar e a artes que não solicitavam o concurso de várias mãos, viveram tão livres, sadios, bons e felizes quanto o poderiam ser por sua natureza. O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer isto é meu e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não teria poupado ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: “Defendei-vos de acreditar nesse impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não pertence a ninguém”. (Jean-Jacques Rousseau. Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens. Adaptado.) Cite a principal diferença estabelecida por Rousseau entre a vida em estado de natureza e a vida na sociedade civil, e explique o significado dessa diferença no âmbito da filosofia política. Gabarito: 1.A 2. (26) 3. Diss 4.E 5.C 6.B 7.D 8.C 9.A 10. (6) 11.C 12. Diss