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AO JUÍZO DE DIREITO DA __ VARA ÚNICA DA COMARCA DE MIRADOR, ESTADO DO MARANHÃO. PROCESSO Nº: XXXXXX REQUERENTE: TARSIS REQUERIDO: ELETRO TARSIS, nacionalidade, estado civil, profissão, portadora do RG sob o nº XX e CPF sob o nº XX, por seu advogado in fine assinados, procuração anexo, com endereço profissional na Rua XX, Nª XX, CEP XXX, local onde recebem as comunicações judiciais de praxe e estilo, vem à presença deste juízo, nos autos em epígrafe, inconformada com a sentença proferida nos autos referenciado na Ação de Indenização por Danos Morais e Estéticos que julgou improcedente, para (objeto da sentença), interpor: RECURSO DE APELAÇÃO Com arrimo no art. 1.009 do CPC, devendo este ser processado nos termos da lei. Requerendo também, na presente oportunidade, que o recorrido seja intimado de modo que, querendo, ofereça contrarrazões. Oportunamente, pugna-se que Vossa Excelência exerça o juízo de retratação e reconsidere a decisão impugnada, conforme preceitua o art. 485, parágrafo 7º. Termos em que, pede e espera deferimento. Mirador - MA, 26 de maio de 2023. Advogado(a) OAB/MA XX RAZÕES RECURSAIS Apelante: TARSIS Apelado: ELETRO Origem: _VARA ÚNICA DA COMARCA DE MIRADOR Processo nº XXXXXXXXX Egrégio Tribunal, Colenda Câmara, Eméritos Desembargadores. - I - DA SÍNTESE DO PROCESSO Trata-se a presente demanda de Ação de Indenização por Danos Morais e Estéticos, ajuizada por TARSIS em desfavor da marca ELETRO. Na qual, a srª. Tarsis, no ano de 2015, aos 13 anos de idade, perdeu a visão em decorrência de uma explosão ocorrida em seu aparelho celular, após o mesmo ficar carregando ininterruptamente por 24 horas. O celular em questão havia sido comprado pela mãe da vítima dois meses antes do acontecimento. Após sete anos do terrível acontecido, Tarsis entrou com a ação de dano moral e estético pelo acidente, contra a empresa ELETRO, em razão da relação de consumo, e da responsabilidade da empresa em reparar o dano, descartando a necessidade de prova de culpa. Desse modo, na exordial, a requerente pleiteou a títulos de danos morais o valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), e mais R $50.000,00 (cinquenta mil reais) pelos danos estéticos, juntando todas as provas documentais, bem como laudo pericial, descartando a dilação probatória. Após oferecimento da contestação, sem requerer produção de provas, o juiz decidiu por proferir julgamento antecipado, decretando a improcedência dos pedidos pleiteados na inicial, baseando-se na inexistência de relação de consumo, e prescrição autoral em razão do transcurso do prazo de três anos. Entretanto, não merece prosperar tais fundamentos, e desse modo, inconformado com a sentença, o apelante busca pela reforma da decisão para que seja garantido seu direito relativo ao dano sofrido, conforme razões e fundamentos expostos a seguir. -II- DOS PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE II.A DO PREPARO A guia de recolhimento das custas processuais e do porte de remessa e de retorno acompanham o presente recurso, em razão do que dispõe o artigo 1.007 do CPC, verbis: Art. 1.007. No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando exigido pela legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena de deserção. Além disso, anexa-se a cópia do comprovante do pagamento das custas do presente recurso. Portanto, não existe qualquer empecilho relacionado ao mencionado tema que se mostre digno de frustrar as boas e reais intenções da autora. II.B DA TEMPESTIVIDADE Dentro da redação dos Arts. 219 e 1.003, §5º do CPC, o prazo para inserir o presente recurso é de 15 dias úteis, sendo o mesmo contado da data em que os advogados são intimados da decisão, conforme vidência legal no Caput e Parágrafo 5º do artigo 1.003 do CPC/15. Por conseguinte, o atual apelo é tempestivo, uma vez que o peticionante tomou ciência da decisão em 05 de Maio de 2023. Desse modo, o presente recurso se faz tempestivo, vez que protocolado no prazo de 15 de (quinze) dias úteis, que finaliza em 26 de Maio de 2023. -III- RAZÕES DA REFORMA III. A - LEGITIMIDADE ATIVA Em face à decisão proferida pela ação do processo n° XXX, sendo alvo do presente Recurso apresentado ao Egrégio Tribunal da Vara Única de Mirador-MA, trata-se da existência de uma hipótese de Ilegitimidade Ativa da reclamante, pela inexistência de relação de consumo, em razão da nota fiscal do celular está em nome da mãe do reclamante. À vista disso, a decisão do magistrado determina que a autora é parte ilegítima para ingressar em juízo para peticionar o pleito. Todavia, a presente decisão recorrida não seguiu a fundamentação da normativa consumerista, se fazendo contrário ao artigo 17°, caput, do CDC, que assim dispõe: Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento. Vejamos ainda, a dicção do art. 2º do mesmo Código: Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações Nesta direção, podemos apresentar o entendimento que considera correta a equiparação de uma vítima de acidente a consumidor, por conseguinte, pessoa legítima ativamente para propor a ação. Em consideração a tudo isso, foi que o CDC ampliou para fins de tutela de acidentes de consumo o conceito de que para abranger qualquer vítima, mesmo que ela nunca tenha contratado ou mantido a relação com o fornecedor do produto ou serviço. Associando ao exposto, é pacificado o entendimento dos Tribunais Superiores, veja: AGRAVO DE INSTRUMENTO. ENERGIA ELÉTRICA. INDEFERIMENTO DA INICIAL EM RELAÇÃO AO DANO MORAL. AUTORA QUE NÃO FIGURA COMO TITULAR DA FATURA. LEGITIMIDADE ATIVA. CONSUMIDOR POR EQUIPARAÇÃO. INCIDÊNCIA DO ART. 17 DO CDC. REFORMA DA DECISÃO. 1. Cuida-se de agravo de instrumento interposto em face da decisão que, em ação declaratória de inexistência de débito, indeferiu a petição inicial, na forma do art. 330, III, do CPC, no tocante ao pedido de indenização por dano moral, em virtude de ilegitimidade ativa. (...) 3. O consumidor não é apenas aquele que adquire, mas também aquele que utiliza produto ou serviço como destinatário final, sendo certo que a caracterização do consumidor não depende da existência de um contrato, bastando a utilização do produto ou serviço para que se possua legitimidade para ajuizar demanda por eventual falha cometida pelo fornecedor. 4. Na hipótese, ainda que a fatura de energia elétrica tenha sido emitida no nome da falecida avó da autora, deverá a demandante ser equiparada à condição de consumidor, nos termos do artigo 17 da Lei nº 8.078/90. 5. Assim, a parte autora apresenta-se como destinatária final do serviço prestado pela concessionária. Precedentes. 6. Provimento do recurso. (TJ-RJ - AI: 00074058720208190000, Relator: Des(a). MÔNICA MARIA COSTA DI PIERO, Data de Julgamento: 11/03/2020, OITAVA CÂMARA CÍVEL). (grifo nosso) Outrossim, entende-se que quem utiliza determinado produto, ainda que não o tenha adquirido, tem legitimidade para demandar judicialmente aplicando as normas do Código de Defesa do Consumidor por equiparação, independente de nota fiscal em nome do autor, principalmente, por ser vítima do consumo deste produto. Assim, tal decisão recorrida merece reforma porque não houve a atenção quanto à utilização correta da interpretação da norma do Código de Defesa do Consumidor e pelo entendimento jurisprudencial. -III.B- DA CONTAGEM INCORRETA DO PRAZO PRESCRICIONAL Inicialmente, a decisão referente à açãodo processo n° XXXXX, alvo do presente Recurso, fundamentado na prescrição da pretensão autoral em razão do transcurso do prazo de três anos, com fulcro no Art. 206, § 3º, inciso V, do Código Civil, reconhecendo, portanto, a presença da prescrição do direito de Tarsis em propor a ação. Contudo, não ocorre a prescrição contra absolutamente incapazes, tendo em vista, que o fato ocorreu quando a apelante tinha apenas 13 anos de idade, assim, estando amparada pelo direito de suspensão da prescrição, pelo fundamento contido no artigo 198, inciso I do código Civil, in verbis: Art. 198. Também não corre a prescrição: I - contra os incapazes de que trata o art. 3º; (...) Conectado aos fundamentos apresentados, dispõe entendimento jurisprudencial, vejamos: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL. SENTENÇA QUE JULGOU IMPROCEDENTE O PEDIDO FACE A PRESCRIÇÃO. RECURSO APENAS DO ENTE ESTATAL. RECONHECIMENTO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO DA INCAPACIDADE ABSOLUTA DE UMA DAS AUTORAS, SENDO ESTA MENOR DE DEZESSEIS ANOS NA OCORRÊNCIA DOS FATOS E NA PROPOSITURA DA AÇÃO. INEXISTÊNCIA DE PRESCRIÇÃO EM RELAÇÃO A ESTA. (...). RECURSO CONHECIDO. SENTENÇA ANULADA. ANÁLISE DAS RAZÕES DO RECURSO PREJUDICADA. (TJ-AL - AC: 07048177620168020001 Maceió, Relator: Des. Klever Rêgo Loureiro, Data de Julgamento: 18/05/2023, 1ª Câmara Cível, Data de Publicação: 19/05/2023) Deste modo a autora, ora apelante, efetivou- se para a vida civil apenas em 2018, quando completou 16 (dezesseis) anos, tornando-se relativamente capaz. Dessa forma, a prescrição de sua pretensão ocorreria conforme previsão ao artigo 27 do CDC, veja: Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria. Por fim Meritíssimo(a), a presente decisão recorrida merece reforma pela razão de não seguir corretamente o cálculo correto e a devida análise aos dispositivos acima citados, prazo este que ainda está em conexão ao determinado pela norma consumerista, portanto, inexiste a prescrição do direito de Tarsis para postular a devida ação. -IV- TEORIA DA CAUSA MADURA A Teoria da Causa Madura, que trata da atuação deste Tribunal para decidir de imediato o julgamento, tem como escopo a promoção da celeridade para o processo, com base nas hipóteses específicas determinadas pela norma processual cível. Sendo prevista a aplicabilidade da Teoria da Causa Madura, está disposta no § 3°, I, do artigo 1.013, do CPC: “Art. 1.013. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada. [...] § 3º Se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal deve decidir desde logo o mérito quando: I - reformar sentença fundada no art. 485”; Portanto, o juízo a quo acolheu a ilegitimidade ativa arguida em contestação, sem resolver em sua totalidade o mérito do feito, como constatado na Ação do Processo n° XXXXXX. Porém, a partir da inteligência desse dispositivo e da razão acima citada, conecta-se a regular aplicação da Teoria da Causa Madura para que o presente Egrégio Tribunal do Estado Maranhão, apresente o imediato julgamento acerca da decisão proferida no juízo de instância inferior, que trata da Ilegitimidade Ativa da apelante, para que haja uma reforma nesta decisão e que seja reconhecida a Legitimidade Ativa, pois a Apelante é caracterizada como consumidora por equiparação, com fundamentado na norma do Código de Defesa do Consumidor, caso do artigo 7°,assim como está de acordo com o parâmetro do Código Civil, em específico com fulcro no artigo 198 e seu inciso I, sobre a não prescrição para a ação. Aliado a isso, com fulcro em Jurisprudência: “APELAÇÃO. EXTINÇÃO DO FEITO POR ILEGITIMIDADE ATIVA E FALTA DE INTERESSE DE AGIR. CONDIÇÕES DA AÇÃO. PRESENÇA. ERROR IN JUDICANDO. TEORIA DA CAUSA MADURA. 1-Constata-se a ocorrência de error in judicando quando o Juiz aprecia os fatos de forma equivocada ou empresta interpretação jurídica errônea sobre a questão debatida. 2-Neste aspecto, cumpre reformar a sentença que, equivocadamente, extinguiu o processo por ilegitimidade ativa e falta de interesse de agir. 3-Por outro lado, o ordenamento processual, diante do princípio da efetividade, quando do exame do recurso, autoriza ao Tribunal a realizar o julgamento imediato da demanda em caso de extinção do feito sem apreciação do mérito com fundamento no artigo 485 (CPC, art. 1.013, § 3º). 4- Contudo, a ausência de prova de fato constitutivo do direito do autor, qual seja, a rescisão do contrato, enseja a improcedência do pedido”. (TJ-RJ – APL: 0024065-63.2019.8.19.0204, Relator: DES. MILTON FERNANDES DE SOUZA, Data de Julgamento: 04/05/2021, QUINTA CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 06/05/2021) O entendimento jurisprudencial reforça a aplicabilidade da Teoria da Causa Madura, para que seja feita a reforma da decisão sem resolução de mérito, proferida pelo juízo a quo, que reconheceu a decadência do direito de reclamar da Apelante, assim levando em consideração o requisito de que a causa está em condições de imediato julgamento, requer-se a análise de mérito sem a necessidade do retorno do processo ao juízo de primeiro grau. -V- DA EXISTÊNCIA DE RELAÇÃO DE CONSUMO E DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA Definindo o CDC como sendo consumidor; toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final, sendo que a Requerida é fornecedora de produtos e serviços, claramente enquadrados como figura jurídica da relação de consumo, afeiçoando-se a relação em tela, como RELAÇÃO DE CONSUMO, estando, pois, sob a égide deste diploma. Como lei indubitavelmente protetora, o Código de Defesa do Consumidor, preservou para si as definições de seus princípios e norteadores conceitos que enseja. Hodiernamente, é inconteste a natureza dos serviços e produtos oferecidos pela Requerida, quais sejam eles de caráter comunicativo ao consumidor, por meio de venda e prestação de serviços. A aplicabilidade, portanto, das disposições do Código de Defesa do Consumidor para o caso concreto, é inevitável. Como preceitua a jurisprudência atual: AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO CIVIL PÚBLICA EM DEFESA DOS DIREITOS DO CONSUMIDOR - INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA – POSSIBILIDADE – DEFESA DOS INTERESSES DIFUSOS, COLETIVOS E INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS - PRESCINDIBILIDADE DE COMPROVAÇÃO DA HIPOSSUFICIÊNCIA NA ESPÉCIE – VEROSSIMILHANÇA DEMONSTRADA – DECISÃO REFORMADA NESSE PONTO - RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. 1. Controvérsia centrada na discussão sobre a inversão do ônus da prova requerida pelo Ministério Público. 2. Segundo a jurisprudência dominante do STJ, a inversão do ônus da prova, com base nos artigos 6º, VIII, e 117, ambos do Código de Defesa do Consumidor, artigos 18 e 21, da Lei nº 7.347/85, tem como fundamento a proteção e facilitação dos direitos do titular do bem difuso (consumidor, no caso), e não o Ministério Público (legitimado extraordinário), não sendo exigido que este órgão tenha de demonstrar sua hipossuficiência, de modo que a medida é plenamente cabível. 3. Havendo elementos suficientes nos autos a respeito da verossimilhança das alegações do autor sobre a precariedade dos serviços de telefonia móvel, deve ser deferido o requerimento de inversão do ônus da prova. 4. Agravo de Instrumento conhecido e provido. (TJ-MS - AI: 14008332320238120000 Campo Grande, Relator: Des. Paulo Alberto de Oliveira, Data de Julgamento: 10/05/2023, 3ª Câmara Cível, Data de Publicação: 12/05/2023) Assim Excelência, na relação de consumo, que ora se afigura, à qual se adapta ao fornecimento de produto e prestação de serviços desempenhados pela Ré, é, sem sombra de dúvida, a requerente vulnerável e hipossuficienteperante o poderio financeiro da mesma, sendo certo que deve o Judiciário não só determinar medidas assecuratórias ao direito do consumidor, como inclusive, dar soluções alternativas para as questões controvertidas que desta relação ganharam vida. Na mesma esteira, o art. 51, IV, do CDC, em homenagem aos princípios da boa-fé e do equilíbrio nas relações de consumo, estipula serem nulas de pleno direito as cláusulas contratuais abusivas relativas ao fornecimento de produtos e serviços. Além disso, o art. 6°, VIII, do mesmo diploma legal, autoriza o juiz a inverter ônus da prova em benefício do consumidor, sempre que este for hipossuficiente ou fizer alegações que, sob as circunstâncias do caso concreto, se mostrarem verossímeis, segundo as regras ordinárias de experiência. Ademais, em decorrência da reconhecida vulnerabilidade e hipossuficiência da parte requerente-consumidora - sobretudo quando se tem em vista a notória capacidade técnica e econômica da requerida-fornecedora - e da verossimilhança das alegações aqui feitas, pretende a demandante seja concedida, em seu favor, a inversão do ônus da prova, a teor do previsto no art. 6°, VIII, do CDC. -VI- DO DEFEITO DO PRODUTO E DA RESPONSABILIDADE CIVIL E OBJETIVA DO FABRICANTE A Carta Magna, no seu art. 37, § 6°, levanta o Princípio da Responsabilidade Objetiva, pelo qual o dever de indenizar encontra amparo no risco que o exercício da atividade do agente causa a terceiros, em função do proveito econômico daí resultante, senão vejamos: Art. 37, § 6°. As pessoas jurídicas de direito público e as de direitos privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. Como notoriamente vem se manifestando a jurisprudência pátria, apesar do supracitado artigo referir-se ao serviço público, por analogia, o mesmo deve ser aplicado às empresas privadas. Neste sentido ainda, estabelece o art. 12 do Código de Defesa do Consumidor que: Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. § 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I - sua apresentação; II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi colocado em circulação. Assistindo aos consumidores a presunção legal da sua proteção como dito no 1° princípio em que se funda a Política Nacional das Relações de Consumo, na qual o reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor frente ao fornecedor, assim dita no inciso I, do art. 4°, do CDC, in verbis: "A política Nacional de Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde (...) I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo; (...)" Alude aos Juízes a permissão para a intervenção nas relações de consumo, a fim de dar soluções alternativas às questões controvertidas que desta relação ganharam vida. Ao analisar a questão, Vossa Excelência não será um mero servidor da vontade das partes, mas um ativo implementador da Justiça, tendo sempre como objetivo a equidade das partes. Como bem postula o art. 8º, § 1º, do CDC, a empresas que colocam produtos em circulação no mercado, devem garantir aos consumidores as medidas que garantam a segurança e prevenção de danos à saúde, bem como mantê-los informados dos possíveis riscos: Art. 8° Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito. § 1º Em se tratando de produto industrial, ao fabricante cabe prestar as informações a que se refere este artigo, através de impressos apropriados que devam acompanhar o produto. Portanto, Excelência é inconteste que o produto era defeituoso, e a informação pertinente aos riscos foi ocultada da requerente, o que ocasionou grave dano à sua integridade física. Dessa sorte, não restam dúvidas de que a situação em tela gerou transtornos à requerente que ultrapassou o mero aborrecimento, não havendo boa fé por parte da empresa ré (art.4º da Lei 8.078/90), devendo ser aplicado o disposto no Art. 6º, VI do CDC. -VII- DO DANO MORAL Os danos morais trata da obrigação de indenizar, o Código Civil, determina em seu art. 927, do Código Civil: Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará- lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Na caso em tela, é evidente a existência do dano moral sofrido pela autora pois após a explosão do aparelho celular, veio a perder a visão de um dos olhos, na época do acidente a mesma tinha 13 anos. São direitos básicos do consumidor previstos no Art. 6° incisos I e VI: I- A proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos; VI- A efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos. Quando o produto adquirido explode, causando danos físicos ou materiais, fica evidente a violação aos direitos previstos no CDC, a partir do momento que deixa de oferecer segurança e apoio ao consumidor. Vejamos uma jurisprudência a respeito: *"Ação de Indenização por Danos Materiais e Morais". Compra e venda de aparelho celular "Motorola G8 Play". Consumidor demandante que alega o superaquecimento da bateria com a consequente explosão do celular durante o período de vigência da garantia. SENTENÇA de parcial procedência. APELAÇÃO só da ré, que insiste no decreto de improcedência, sob a argumentação de culpa exclusiva do consumidor, pugnando subsidiariamente pela redução da indenização moral arbitrada e pela restituição do aparelho danificado. EXAME: Relação contratual que se sujeita às normas do Código de Defesa do Consumidor. Mau uso do aparelho não comprovado. Ré que não se desincumbiu do ônus de provar a existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor, "ex vi" do artigo 373, inciso II, do Código de Processo Civil. Restituição do valor desembolsado pelo consumidor corretamente determinada. Padecimento moral indenizável configurado. Indenização moral arbitrada em R$ 5.000,00, que deve ser mantida no mesmo patamar ante as circunstâncias específicas do caso concreto e os parâmetros da razoabilidade e da proporcionalidade. Aparelho celular danificado que deve ser devolvido à ré após a restituição do valor pago. Sentença parcialmente reformada. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.* (TJ-SP - AC: XXXXX20218260439 SP XXXXX-46.2021.8.26.0439, Relator: Daise Fajardo Nogueira Jacot, Data de Julgamento: 25/02/2022, 27ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 25/02/2022) É notório o dano moral sofrido pela autora, pois a perda da visão ocasionada pela explosão, dificultou sua vida ao longo dos anos. Sendo o valor cabível e justo de R$30.000,00(Trinta mil reais) a título de danos morais. -VIII- DO DANO ESTÉTICO O dano estético possui natureza constitucional, pois trata-se de um desdobramento das garantias fundamentais da saúde e da imagem, previsto no art. 6º e art. 5º, inciso X, ambos da Constituição Federal. Em decorrência dos fatos anteriormente narrados a apelante sofreu não só danos psicológicos como estéticos, com a perda da visão do olho direito, que durante todo esse tempo a deixou com sequelas. Não obstante o amparo constitucional, o dano estético também se encontra previsto pela lei infraconstitucional, uma vez que está amparada no Código Civil pelo seguinte artigo: Art. 949 - No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido.. Do mesmo modo, a lesão adveio em razão do acidente que comprovadamente fora causado por defeito no produto comprado. No teor do art. 12 do CDC, é evidente que o fabricante deve indenizar a apelante, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos ao produto. Cabe observar que se trata de um produto recém adquirido, com 2 meses de uso, e que sua explosão não deveria ser comum para produtos duráveis. Sabe-se que qualquer pessoa que adquire um aparelho, objeto de porte durável, possui a expectativa de que o bem em comento se apresente em perfeitas condições, na medida em que inexiste qualquer justificativa plausível para que o produto seja entregue contendo defeitos ou vícios. Consoante jurisprudência pacífica do STJ, são cumuláveis as indenizações por danos estéticos e por danos morais, porquanto se prestam a finalidades distintas (Súm. n° 387 do STJ): Voto nº 1.415. Recurso Inominado interposto pela Ré. Consumidor. Ação indenizatória por danos materiais, morais e estéticos. Explosão de aparelho celular que provocou queimaduras de segundo grau no recorrido (fls. 23/30). Preliminar de incompetência do Juizado pela não realização de prova pericial. Rejeitada. Elementos probatórios existentes suficientes para julgamento do feito no estado que se encontrava. Danos materiais comprovados. (...). Dano moral configurado. "Quantum" arbitrado em R$12.120,00. Indenizações proporcionais e razoáveis. Sentença de parcial procedência mantida por seus próprios fundamentos. Recurso improvido. (TJ-SP - RI: 10446007820218260576 SP 1044600- 78.2021.8.26.0576, Relator: Marco Aurélio Gonçalves, Data de Julgamento: 16/12/2022, 5ª Turma Cível, Data de Publicação: 16/12/2022) No entanto, deve ficar claro que a reparação do dano estético não tem por finalidade curar a dor da ofendida, ora apelante, pois nenhum valor pecuniário poderia compensar a integridade física que foi abalada. A questão pecuniária aqui visa apenas amenizar o sofrimento da apelante, para que não fique a sensação de impunidade perante todo o ocorrido. Portanto, pugna a Apelante, desde já, pela reforma da sentença, ao passo que são cabíveis os danos estéticos, o que se requer o aporte de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) pelos danos estéticos sofridos. -IX- DOS PEDIDOS Diante do exposto, com fundamento no art. 1009 e seguintes do Código de Processo Civil, requer: 1) Que o presente Apelo seja conhecido e no mérito PROVIDO, para reformar a decisão de base, no sentido de acolher o pedido inicial da Apelante, reconhecendo a legitimidade ativa da Autora, pois de acordo com o Código de Defesa do Consumidor, no art. 17° “consumidor por equiparação” possuindo assim legitimidade ativa para demandar a ação; 2) Dar provimento ao apelo para afastar a prejudicial prescrição visto que não há prescrição contra incapazes, nos termos do artigo 198, I, do Código Civil. 3) Que seja condenada a Apelada por danos morais no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), com fundamento no Art. 6º, VI do CDC; 4) Que seja condenada a Apelada também, por danos estéticos no valor de R$ 50.000,00, com fundamento no Art. 6º, VI do CDC; 5) Seja reconhecida a inversão do ônus da prova, conforme o art. 6º, VIII do CDC; 6) Que o (a) eminente julgador(a), exerça o juízo de retratação e reconsidere a decisão impugnada, conforme preceitua o art. 485, parágrafo 7º; 7) Pugna ainda pela condenação em honorários recursais, nos termos do art. 85, §11, do CPC/2015. Nestes termos, pede deferimento. Mirador-MA, XX de XXXX de XXXX Advogado(a): XXXXXXX OAB: XXXXXX
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