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Elementos do Gênero Épico e Narrativo

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ELEMENTOS DO GÊNERO 
ÉPICO E NARRATIVO
Aristóteles, em Arte Poética, define o gênero épico como “a palavra narrada”. As narrativas 
épicas são em geral apresentadas em prosa e costumam responder às perguntas: quem 
(personagens), o quê (ação), quando (tempo) e onde (espaço). As narrativas comumente 
apresentam uma série de acontecimentos sucessivos e possuem começo, meio e fim.
TIPOS DE NARRADOR
Quem conta a história é um narrador, podendo este ser: 
 f Narrador-personagem: narrando na primeira pessoa, é alguém que também faz 
parte da narrativa. 
 f Narrador observador: narra na terceira pessoa, mas tem conhecimento restrito 
sobre o que pensam e sentem os outros personagens.
 f Narrador onisciente: também narra na terceira pessoa, mas conhece o passado 
e o futuro dos personagens e é capaz de descrever os pensamentos destes. Observe 
como o narrador onisciente descreve os sonhos do personagem em Quincas Borba, 
de Machado de Assis:
“Afinal adormece. Então as imagens da vida brincam nele, em sonho, vagas, 
recentes, farrapo daqui remendo dali. Quando acorda, esqueceu o mal; tem em si 
uma expressão, que não digo seja melancolia, para não agravar o leitor. Diz-se de 
uma paisagem que é melancólica, mas não se diz igual coisa de um cão. A razão 
não pode ser outra senão que a melancolia da paisagem está em nós mesmos, 
enquanto que atribuí-la ao cão é deixá-la fora de nós. Seja o que for, é alguma coisa 
Estátua de Aristóteles
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o que não a alegria de há pouco; mas venha um assobio do cozinheiro, ou um gesto 
do senhor, e lá vai tudo embora, os olhos brilham, o prazer arregaça-lhe o focinho, 
e as pernas voam que parecem asas.” 
TIPOS DE PERSONAGEM
Quanto aos personagens, podemos classificá-los em:
 f Personagens planos: com atitudes previsíveis, em geral maniqueístas; um vilão 
que é mau o tempo todo e um protagonista sempre bonzinho são exemplos de 
personagens planos. 
 f Personagens redondos ou esféricos: personagens complexos, com ações 
imprevisíveis, mais próximos da realidade. Os protagonistas literários chamados de anti-
heróis são personagens esféricos porque, apesar de serem os protagonistas da obra, 
têm defeitos e nem sempre agem da maneira mais nobre, mas sim da mais humana.
O TEMPO NAS NARRATIVAS
O tempo não é sempre o mesmo em todas as narrativas. Ele pode ser:
 f Tempo cronológico: igual ao dos relógios e calendários, com passagem dos 
segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos, séculos...
 f Tempo psicológico: um tempo que não pode ser medido, por ser subjetivo. Nele, 
um acontecimento é traduzido de acordo com o impacto que ele tem no personagem: 
Machado de Assis
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oum evento importante pode durar apenas alguns minutos, mas ser traduzido em 
muitas palavras e ter impacto imenso no personagem, como se ele amadurecesse 
em minutos o que não amadureceu em anos. A obra de Clarice Lispector tem muitos 
exemplos de tempo psicológico. 
 f Tempo histórico: contexto histórico em que se passa a narrativa, por exemplo: o 
romance Iracema, de José de Alencar, se passa no início do período colonial do Brasil.
Alguns autores chamam o gênero épico contemporâneo de gênero narrativo, por ele 
ter um caráter menos épico e mais abrangente. Um romance é um exemplo do gênero 
narrativo. Os romances em geral apresentam descrições e discursos diretos e indiretos. 
Outros exemplos do gênero narrativo são: fábulas, contos, crônicas, novelas e ensaios.
Vale ressaltar que novelas são mais extensas que contos e menos extensas que 
romances, enquanto a crônica é um texto em geral bem-humorado comentando ou 
criticando fatos cotidianos e o ensaio é um texto mais impessoal sobre um assunto 
específico. Fábulas podem ser escritas em prosa ou verso, apresentam uma lição de 
moral ao final e seus personagens são geralmente animais. As epopeias são escritas 
em versos, e na literatura de língua portuguesa um dos maiores exemplos do gênero 
épico é Os Lusíadas, de Luís de Camões. Leia um trecho do poema épico:
Já neste tempo o lúcido Planeta
Que as horas vai do dia distinguindo,
Chegava à desejada e lenta meta,
A luz celeste às gentes encobrindo;
E da casa marítima secreta lhe estava o Deus
Noturno a porta abrindo,
Quando as infidas gentes se chegaram
Às naus, que pouco havia que ancoraram.
Dentre eles um, que traz encomendado
O mortífero engano, assim dizia:
“Capitão valoroso, que cortado
Tens de Netuno o reino e salsa via,
O Rei que manda esta Ilha, alvoraçado
Da vinda tua, tem tanta alegria
Que não deseja mais que agasalhar-te,
Ver-te e do necessário reformar-te.
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Camões lendo Os lusíadas a D. Sebastião, 1893.
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