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1www.biologiatotal.com.br ELEMENTOS DO GÊNERO ÉPICO E NARRATIVO Aristóteles, em Arte Poética, define o gênero épico como “a palavra narrada”. As narrativas épicas são em geral apresentadas em prosa e costumam responder às perguntas: quem (personagens), o quê (ação), quando (tempo) e onde (espaço). As narrativas comumente apresentam uma série de acontecimentos sucessivos e possuem começo, meio e fim. TIPOS DE NARRADOR Quem conta a história é um narrador, podendo este ser: f Narrador-personagem: narrando na primeira pessoa, é alguém que também faz parte da narrativa. f Narrador observador: narra na terceira pessoa, mas tem conhecimento restrito sobre o que pensam e sentem os outros personagens. f Narrador onisciente: também narra na terceira pessoa, mas conhece o passado e o futuro dos personagens e é capaz de descrever os pensamentos destes. Observe como o narrador onisciente descreve os sonhos do personagem em Quincas Borba, de Machado de Assis: “Afinal adormece. Então as imagens da vida brincam nele, em sonho, vagas, recentes, farrapo daqui remendo dali. Quando acorda, esqueceu o mal; tem em si uma expressão, que não digo seja melancolia, para não agravar o leitor. Diz-se de uma paisagem que é melancólica, mas não se diz igual coisa de um cão. A razão não pode ser outra senão que a melancolia da paisagem está em nós mesmos, enquanto que atribuí-la ao cão é deixá-la fora de nós. Seja o que for, é alguma coisa Estátua de Aristóteles 2 El em en to s do G ên er o Ép ic o e N ar ra tiv o que não a alegria de há pouco; mas venha um assobio do cozinheiro, ou um gesto do senhor, e lá vai tudo embora, os olhos brilham, o prazer arregaça-lhe o focinho, e as pernas voam que parecem asas.” TIPOS DE PERSONAGEM Quanto aos personagens, podemos classificá-los em: f Personagens planos: com atitudes previsíveis, em geral maniqueístas; um vilão que é mau o tempo todo e um protagonista sempre bonzinho são exemplos de personagens planos. f Personagens redondos ou esféricos: personagens complexos, com ações imprevisíveis, mais próximos da realidade. Os protagonistas literários chamados de anti- heróis são personagens esféricos porque, apesar de serem os protagonistas da obra, têm defeitos e nem sempre agem da maneira mais nobre, mas sim da mais humana. O TEMPO NAS NARRATIVAS O tempo não é sempre o mesmo em todas as narrativas. Ele pode ser: f Tempo cronológico: igual ao dos relógios e calendários, com passagem dos segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos, séculos... f Tempo psicológico: um tempo que não pode ser medido, por ser subjetivo. Nele, um acontecimento é traduzido de acordo com o impacto que ele tem no personagem: Machado de Assis 3www.biologiatotal.com.br El em en to s do G ên er o Ép ic o e N ar ra tiv oum evento importante pode durar apenas alguns minutos, mas ser traduzido em muitas palavras e ter impacto imenso no personagem, como se ele amadurecesse em minutos o que não amadureceu em anos. A obra de Clarice Lispector tem muitos exemplos de tempo psicológico. f Tempo histórico: contexto histórico em que se passa a narrativa, por exemplo: o romance Iracema, de José de Alencar, se passa no início do período colonial do Brasil. Alguns autores chamam o gênero épico contemporâneo de gênero narrativo, por ele ter um caráter menos épico e mais abrangente. Um romance é um exemplo do gênero narrativo. Os romances em geral apresentam descrições e discursos diretos e indiretos. Outros exemplos do gênero narrativo são: fábulas, contos, crônicas, novelas e ensaios. Vale ressaltar que novelas são mais extensas que contos e menos extensas que romances, enquanto a crônica é um texto em geral bem-humorado comentando ou criticando fatos cotidianos e o ensaio é um texto mais impessoal sobre um assunto específico. Fábulas podem ser escritas em prosa ou verso, apresentam uma lição de moral ao final e seus personagens são geralmente animais. As epopeias são escritas em versos, e na literatura de língua portuguesa um dos maiores exemplos do gênero épico é Os Lusíadas, de Luís de Camões. Leia um trecho do poema épico: Já neste tempo o lúcido Planeta Que as horas vai do dia distinguindo, Chegava à desejada e lenta meta, A luz celeste às gentes encobrindo; E da casa marítima secreta lhe estava o Deus Noturno a porta abrindo, Quando as infidas gentes se chegaram Às naus, que pouco havia que ancoraram. Dentre eles um, que traz encomendado O mortífero engano, assim dizia: “Capitão valoroso, que cortado Tens de Netuno o reino e salsa via, O Rei que manda esta Ilha, alvoraçado Da vinda tua, tem tanta alegria Que não deseja mais que agasalhar-te, Ver-te e do necessário reformar-te. http://www.biologiatotal.com.br 4 El em en to s do G ên er o Ép ic o e N ar ra tiv o Camões lendo Os lusíadas a D. Sebastião, 1893. ANOTAÇÕES
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