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TÓPICOS DE ESTUDO Clique nos botões para saber mais Códigos de ética profissional –// Surgimento do código de ética profissional // Finalidade do código de ética profissional Interfaces entre a ética e a psicologia // Ética na formação e nos campos de práticas do psicólogo // Ética na atuação profissional do psicólogo Reflexões sobre ética no contexto de atuação do psicólogo // A ética no contexto da avaliação psicológica // Reflexões sobre ética e psicologia da saúde Os códigos de ética profissional são instrumentos que visam orientar as condutas e posturas dos profissionais em relação aos seus pares, aos pacientes e para com a sociedade em geral. Todas as categorias profissionais oficialmente regulamentadas possuem um código de ética específico. Os princípios, direitos e deveres preconizados nesses códigos devem ser observados e considerados pelos profissionais de cada categoria desde o período de formação acadêmica e em todos os momentos e contextos que os profissionais estiverem expostos em suas práticas. SURGIMENTO DO CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL Ao adentrarmos na discussão sobre os códigos de ética profissional, faz-se necessário explicitar sobre a definição de profissão, que pode ser caracterizada como um conjunto de conhecimentos, saberes e atribuições específicas que possibilitam uma atuação direcionada através de condutas inerentes à categoria. Os conhecimentos e saberes específicos de cada profissão são adquiridos através de um processo formativo em um sistema formal de ensino. A formação possibilita o desenvolvimento de qualificações, habilidades e práticas que orientam a atuação dos profissionais. Quadro 1. Esquema das características principais do conceito de profissão. Essa dinâmica entre formação e atuação profissional engloba a essencialidade dos Códigos de Ética de cada categoria profissional, tendo em vista que esses orientam as condutas e são autarquias com autonomia para fiscalização da atuação dos profissionais em todos os contextos de atuação, além de servirem de base para o controle público no sentido de oferecer parâmetros que apontam as posturas consideradas positivas nas práticas profissionais (ALMEIDA, 1996). O código de ética profissional pode ser definido como um instrumento que estabelece os princípios, valores, deveres e responsabilidades de cada profissional em sua respectiva categoria, bem como estabelece o que é vedado e as devidas punições caso ocorram faltas éticas cometidas pelos profissionais. O conteúdo do código de ética profissional deve ser produzido de modo a considerar as necessidades dos indivíduos e coletividades que serão assistidos pelos profissionais em questão, bem como estar embasado no compromisso e responsabilidade social de cada profissão. O conteúdo do código de ética profissional é formulado por um conselho de ética formado por profissionais alinhados na responsabilidade ética, e geralmente escolhidos pela respectiva categoria profissional. Apesar de não serem considerados como lei, todos os códigos de ética profissionais estão de acordo com as legislações e regulamentações vigentes no Brasil, bem como consideram o conteúdo preconizado na Declaração Universal dos Direitos Humanos, tendo em vista que as relações humanas existem no contexto de qualquer atuação profissional. FINALIDADE DO CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL Um código de ética profissional tem como finalidade o estabelecimento de padrões esperados de atuação dos profissionais, bem como visa promover a autorreflexão desses acerca de sua atuação, considerando sua responsabilização quanto às suas condutas práticas no exercício profissional. O objetivo essencial de um código de ética profissional é de assegurar um padrão de conduta profissional pautado em valores que fortaleçam o reconhecimento social da categoria profissional, através de normas que consideram o respeito aos direitos fundamentais do ser humano. As normas estabelecidas nos códigos de ética devem estar em consonância com as mudanças sociais (CFP, 2003). O código de ética profissional pode ser definido como um instrumento de caráter orientador que contempla os princípios, deveres e responsabilidades do profissional diante de sua atuação. Além de estabelecer as condições do que é vedado, ou seja, das condutas consideradas como faltas éticas, proibidas por cada categoria profissional. As condutas vedadas são estabelecidas por cada profissão, geralmente se referem a questões sobre sigilo, respeito, promoção da autonomia do assistido, responsabilidade durante as intervenções e procedimentos, propaganda sobre os serviços ofertados, realização de práticas que não são consideradas como atribuições da classe profissional, dentre outras questões. Os códigos de ética profissional estão geralmente alinhados com resoluções, notas técnicas e outros instrumentos normativos estabelecidos pelo Conselho Federal de Psicologia e Regionais da referida profissão. Sendo assim, para evitar irregularidades ou faltas éticas quanto à sua conduta, o profissional deve considerar em sua atuação o código de ética e todos os instrumentos regulamentares oficiais emitidos por sua categoria profissional. DICA O Conselho Federal de Psicologia não reconhece algumas práticas profissionais como atribuições dos psicólogos. Sendo assim, torna-se importante que o profissional, antes de ofertar um serviço, certifique-se junto às resoluções e notas emitidas pelos órgãos oficiais, ou através de contato com o Conselho Regional ao qual está vinculado, se tais práticas são ou não permitidas. A psicologia é uma ciência ampla que possui como finalidade a compreensão do comportamento humano. Desse modo, os profissionais psicólogos exercem uma atuação pautada no entendimento dos fatores e situações que influenciam as condutas humanas e alteram sua dinâmica funcional, resultando em sofrimento, prejuízos funcionais, entre outros agravos à saúde. Sendo assim, os psicólogos promovem intervenções que objetivam a promoção de qualidade de vida para indivíduos e/ou grupos. Essas intervenções precisam estar pautadas em normas éticas preconizadas em todos os serviços, contextos e âmbitos de atuação e devem ser observadas por todos os profissionais da categoria. ÉTICA NA FORMAÇÃO E NOS CAMPOS DE PRÁTICAS DO PSICÓLOGO O processo formativo do psicólogo perpassa por uma construção que engloba diversos temas, teorias e técnicas que promovem um arcabouço de conhecimentos essenciais para o fomento necessário a uma atuação resolutiva no cuidado com indivíduos. Durante a construção desses conhecimentos, a ética deve ser considerada como conceito fundamental e norteador das experiências, desde as vivências no campo acadêmico até as práticas nos variados campos profissionais. Torna-se de essencial importância que o estudante de psicologia considere a essencialidade dos valores morais e éticos como norteadores de sua formação e atuação. Por se tratar de um campo de conhecimento científico relacionado à compreensão do comportamento humano, durante o processo de formação do psicólogo, devemos considerar que os direitos humanos possibilitam a garantia do compromisso social da profissão (NÓRTE; MACIEIRA; RODRIGUES, 2010). No entanto, para que os estudantes considerem os aspectos éticos, faz-se necessário que esses sejam discutidos na graduação através da exposição das principais premissas estabelecidas sobre o tema. Desse modo, o Conselho Federal de Psicologia, para estimular a reflexão sobre ética, publicou no ano de 2003 uma cartilha que aborda o tema de maneira transversal: “Os direitos humanos na prática profissional de psicólogos”. A referida cartilha trata sobre questões éticas nos campos de atuação da psicologia e fundamentará nossa discussão. Os conceitos explanados nessa discussão propõem superar as desigualdades e segregação social, bem comopromover um relacionamento social salutar entre os indivíduos e as práticas profissionais em psicologia nos diversos âmbitos em que se insere. Esse processo de atuação deve considerar a subjetividade individual e coletiva, a promoção dos direitos humanos de modo a dirimir qualquer forma de violação. Assim, é importante que os profissionais se voltem para uma reflexão crítica de seu papel na promoção de práticas comprometidas com a garantia da saúde, autonomia dos sujeitos e coletividades, estimulando o compromisso profissional e de cidadania. Os conceitos envolvidos entre o campo da ética e os âmbitos da prática psicológica devem ser fomentados desde o momento da graduação, para que os formandos possam construir um arcabouço de conhecimentos que possibilitem a discussão e reflexão acerca da associação entre os princípios éticos e as atribuições da categoria, antes mesmo de estarem atuando profissionalmente. No âmbito judiciário, a psicologia jurídica se apresenta historicamente como responsável pela produção de intervenções, avaliação e emissão de pareceres e laudos técnicos solicitados por juízes e/ou promotores de justiça ao profissional psicólogo. Geralmente as demandas são de ordem criminal, guarda, tutela, curatela, casos relacionados à violência contra crianças, adolescentes, mulheres, idosos, entre outras, nas diversas varas de justiça. Vale salientar que os documentos resultantes de avaliação psicológica, atendimentos, entrevistas, visitas ou qualquer outra intervenção que o psicólogo produza em seu exercício profissional no campo judiciário não deve ser de ordem decisória, ou seja, não deve impor que seja tomada nenhuma decisão contra ou em favor de qualquer sujeito envolvido, pois cabe ao psicólogo apenas realizar as práticas condizentes com sua atribuição e, no mais, recomendar ou sugerir alguma conduta no âmbito da psicologia. O poder de decisão ou definição de ordens oficiais cabe apenas ao juiz, promotor de justiça ou autoridade solicitante. Coimbra et al. (2002) fazem uma crítica apontando que as solicitações judiciárias à psicologia jurídica, na maioria das vezes, estão remetidas a determinados segmentos sociais, a classe média baixa, visada como indivíduos potencialmente perigosos. Outra colocação apontada pelos autores sobre a atuação da psicologia jurídica são as recorrentes solicitações de “situações-problemas” relacionadas ao comportamento dos indivíduos. A psicologia no âmbito judiciário geralmente tem sido relacionada aos conceitos de normal e patológico e se constitui com um modo de entendimento e intervenção no campo da adequação e ajustamento do comportamento humano. Nesse sentido, Foucault (2021), aponta que os discursos da psicologia no âmbito jurídico têm a possibilidade de influenciar uma decisão de justiça de maneira direta ou indireta. Tomando como premissa o que foi citado anteriormente, cabe ao profissional psicólogo, utilizar-se de seu senso crítico, ético e técnico no momento de avaliação e produção de intervenções e documentações que serão construídas e emitidas ao âmbito judiciário. Nesse ponto, cabe frisar que é fundamental considerar os princípios dos direitos humanos nessas práticas. As questões éticas e relacionadas aos direitos humanos na área clínica estão relacionadas à promoção de autonomia, qualidade de vida, acolhimento, respeito e garantia de sigilo. A psicologia clínica tem por finalidade compreender o ser humano nas suas dimensões psíquica, emocional e comportamental. Entretanto, na prática psicológica faz-se necessário que o profissional mantenha um trabalho pessoal de suas demandas emocionais e pessoais, de modo a elaborar possíveis conflitos ou alterações que possam influenciar em sua atuação com os pacientes. O psicólogo, no momento da sua atuação, deve despir-se psicologicamente e emocionalmente das suas convicções e certezas e observar o contexto a partir do olhar do outro, caso contrário, poderá incorrer grandes riscos desse profissional promover exclusão e segregação, aumentando assim o sofrimento da pessoa atendida. Vale frisar que uma atuação crítica em psicologia clínica não pretende pautar-se em uma neutralidade, mas sim priorizar o dinamismo, a ciência, a ética, moral e a compreensão do quadro psicopatológico do indivíduo. O psicólogo não deve atuar de maneira engessada em técnicas automatizadas, mas sim desenvolver suas intervenções de modo a entender o sofrimento psíquico, considerando que cada sujeito está imerso em um contexto social, cultural, ideológico e biológico. A atuação na clínica deve estar embasada em uma abordagem teórica específica de formação. Dentre as principais abordagens clínicas, podemos citar a abordagem psicanalítica, humanista e a terapia cognitivo- comportamental. A abordagem psicanalítica tem como precursor Sigmund Freud, que se utilizou de suas experiências com pacientes, em sua análise dos próprios sonhos e em sua vasta leitura de várias ciências e humanidades para construir a sua teoria (a psicanálise). As maiores contribuições de Freud para a teoria da personalidade são a exploração do inconsciente e o entendimento de que as pessoas são motivadas, primariamente, por impulsos dos quais elas têm pouca ou nenhuma consciência. Para Freud, o desenvolvimento da personalidade seria fruto de fontes de tensão, a personalidade se desenvolve como um processo de aprendizagem de novas formas de reduzir a tensão dentro do aparelho psíquico. Os instintos e as pulsões são os elementos básicos da personalidade, as forças motivadoras que impulsionam o comportamento e determinam o seu rumo (SCHULTZ; SCHULTZ, 2016). Os instintos estão sempre influenciando o nosso comportamento, possuem como finalidade satisfazer as necessidades e, assim, reduzir a tensão psíquica, enquanto o indivíduo busca recuperar e manter uma situação de equilíbrio fisiológico para manter o corpo livre de tensão. A teoria topográfica, primeira proposta por Freud, era constituída por três sistemas: o consciente, o pré-consciente e o inconsciente, que interagiam entre si em todos os momentos. Na década de 1920, Freud introduziu um modelo estrutural do aparelho psíquico (personalidade) a partir das inter-relações entre Id, Ego e Superego. Aqui o inconsciente passa a ser uma qualidade atribuída às instâncias psíquicas, de modo que o Id é totalmente inconsciente, o Ego e Superego possuem partes inconscientes e conscientes. Para a psicanálise, a personalidade se forma com base nos relacionamentos constituídos ao longo do desenvolvimento na infância e adolescência. Se constitui como um conjunto pessoal de atributos de caráter, um padrão consistente de comportamento que define cada pessoa como indivíduo singular. Para Freud, o desenvolvimento da personalidade se dá a partir de estágios ou fase psicossexuais que ocorrem ao longo do desenvolvimento, em faixas etárias específicas. Todos os indivíduos passam pelos estágios oral, anal, fálico, período de latência e genital, nos quais a gratificação dos instintos do Id depende da estimulação das áreas correspondentes do corpo. Em cada fase do desenvolvimento existe um conflito que precisa ser resolvido antes que a criança passe para o próximo estágio. Como uma crítica à psicanálise, surge a perspectiva humanista, que entende o ser humano como um todo, entendendo que a existência humana acontece em um contexto de relação e interação interpessoal. Seus principais autores são Carl Rogers e Abraham Maslow. É uma abordagem que acredita no livre-arbítrio, na possibilidade de escolha. A psicologia humanista nasce para enunciar questões presentes na vida cotidiana das pessoas sobre o sentido da existência. Ou seja, a psicologia humanista se interessa pelos valores e ressalta a experiência humana. Nos anos de 1950, embasada nos princípios do humanismo e como alternativa à psicanálise, surgiu a abordagem centrada na pessoa,que valorizava fatores inespecíficos das psicoterapias, como a pessoa do terapeuta, a empatia, o calor humano e a autenticidade e foi desenvolvida por Carl Rogers. A ideia central da abordagem de Rogers é a de que há uma tendência inerente em todos os seres humanos a se desenvolver em uma direção positiva, o que ele chamou de tendência atualizante. Rogers desenvolveu o conceito de “autoconceito”, que seria um padrão organizado e consistente de características percebidas em cada um desde a infância. Indivíduos bem ajustados psicologicamente teriam autoconceitos realistas. Para ele, a angústia psicológica advém do impasse ou desarmonia entre o autoconceito real (o que se é de fato) e o ideal para si (o que se deseja ser). Por isso, o cliente deve determinar o conteúdo e a direção do tratamento, não cabe ao terapeuta direcionar as escolhas do cliente, mas dirigir o cliente para uma maior liberdade e maior autonomia. Nessa abordagem o diagnóstico psicológico não é importante, pois o cliente é um companheiro existencial, não um objeto a ser diagnosticado e analisado. Na abordagem centrada na pessoa de Rogers, o psicólogo deve possuir três atitudes básicas (compreensão empática, aceitação incondicional e congruência), que são o caminho necessário e suficiente para o experienciar-se do cliente. Sentindo-se aceito e aceitando-se, sentindo-se compreendido e compreendendo-se, o cliente experiencia-se congruentemente e pode “ser o que realmente se é” (ROGERS, 1973, p. 152). Abraham Maslow, psicólogo, em sua teoria de motivação e como o criador da “pirâmide das necessidades”, propõe que a vida humana não está restrita ao ajustamento e à realização de necessidades atuais, pois se lança sempre no sentido de crescimento pessoal. A visão de Maslow considera o que o ser humano possui de melhor, sua capacidade potencial para o desenvolvimento. O ser humano, ao voltar-se para seu interior (Self), entende seus valores e identifica sua capacidade de crescimento. Maslow reconhece que o ser humano tem potencial da autorrealização, do crescimento projetivo de si, capacidade de escolha, decisão, vontade, autonomia e responsabilidade, visão de futuro e desenvolvimento autopessoal (MASLOW, 1970). A terapia cognitiva surgiu nos anos de 1960, como uma proposta de Aaron Beck para o tratamento da depressão. Após anos de pesquisas, Beck concluiu que a forma como o indivíduo interpreta os fatos influencia seus sentimentos e comportamentos. Uma mesma situação produz sensações distintas em diferentes pessoas. Atualmente, a TCC é utilizada com grande êxito nos diversos transtornos psiquiátricos e sofrimento psíquico. Rangé (2011) ressalta que o indivíduo em sofrimento psicológico tem sua capacidade de percepção de si, dos outros e do mundo prejudicada pelas distorções de conteúdo de pensamento específico de sua patologia. Nos estados depressivos, são essas distorções cognitivas que influenciam na visão negativa do indivíduo em relação a si, aos outros e ao ambiente. Essa dinâmica é denominada como tríade cognitiva. EXPLICANDO A tríade cognitiva consiste em uma interpretação negativa do paciente sobre si mesmo, seu futuro e suas experiências. É uma sintomatologia característica do diagnóstico de depressão. O primeiro componente da tríade consiste em uma visão crítica negativa de si mesmo como defeituoso, inadequado, indesejável. No segundo componente, o paciente percebe o mundo como perigoso e hostil. No terceiro componente, o paciente antecipa que suas dificuldades ou sofrimentos presentes se prolongarão ao longo do tempo. Prevê sofrimentos, frustrações e privações incessantes. A terapia cognitivo-comportamental possui como princípio promover a psicoeducação às pessoas que estão em sofrimento psíquico. De acordo com Beck (2013), para o entendimento da cognição do paciente, o psicólogo precisa elaborar conceituação cognitiva que consiste em analisar pensamentos, crenças, estratégias compensatórias e padrões de comportamento de cada paciente. O terapeuta procura auxiliar o paciente a obter uma reformulação funcional do pensamento e no sistema de crenças do paciente – para produzir uma mudança emocional e comportamental duradoura e salutar ao indivíduo. A conceitualização cognitiva é um elemento fundamental no tratamento em terapia cognitivo- comportamental. O terapeuta cognitivo precisa dominar essa habilidade para que o tratamento seja eficaz. Esse posicionamento é ratificado em Rangé (2011), às condições fundamentais para elaborar uma conceitualização cognitiva envolvem o diagnóstico clínico do paciente, a identificação dos pensamentos automáticos, sentimentos e comportamentos frente às situações vivenciadas, crenças nucleares e intermediárias, estratégias compensatórias de conduta que o indivíduo utiliza para evitar ter acesso a suas crenças negativas; dados relevantes da história de vida do paciente que contribuíram para formação ou fortalecimento dessas cognições. Portanto, o objetivo da conceitualização cognitiva é melhorar o resultado do tratamento, auxiliando o terapeuta na escolha das intervenções e atividades a serem realizadas. A conceitualização cognitiva considera as características individuais de cada paciente, acontece do primeiro ao último atendimento, à medida que aparecem novos dados, terapeuta e paciente colaborativamente modificam e refinam sua formulação, confirmando algumas hipóteses e abandonando outras. A solicitação periódica de feedback do paciente como rotina no tratamento facilita que essas avaliações críticas e necessárias correções de rumo sejam efetuadas o mais precocemente possível. A terapia cognitivo-comportamental é estruturada e se baseia no empirismo colaborativo, é voltada para a resolução de problemas atuais através do estabelecimento de metas e objetivos para o tratamento. A TCC é de duração breve, geralmente de 10 a 20 sessões, podendo esse tempo ser estendido nos casos de transtornos de personalidade, e possibilita a reestruturação cognitiva do paciente. Diante do exposto, a terapia cognitivo-comportamental tem por objetivo corrigir as distorções do pensamento, e em um nível mais profundo da cognição, as crenças intermediárias e centrais. No entanto, a cognição não tem um modelo linear, existe uma interação recíproca de pensamentos, sentimentos, comportamentos, fisiologia e ambiente, quando um destes é modificado, todos os outros também são. Beck (2013) ressalta que o modelo cognitivo propõe que o pensamento disfuncional, que influencia o humor e o comportamento do paciente, é comum a todos os transtornos psicológicos. Quando as pessoas aprendem a avaliar seu pensamento de forma mais realista e adaptativa, elas obtêm uma melhora no seu estado emocional e no comportamento. É necessário que o terapeuta cognitivo tenha o entendimento das distorções cognitivas e dos consequentes comportamentos mal adaptativos do paciente. De modo geral em todas as abordagens clínicas, a prática do profissional psicólogo deve ser pautada e orientada através das normas do código de ética profissional do psicólogo. É necessário que o psicólogo exerça uma determinada postura, firmada em condutas éticas, tais como: sigilo das informações compartilhadas; respeito à demanda, subjetividade e valores do paciente. São necessárias também atribuições a respeito da escuta clínica, observação, domínio referente às intervenções e aplicações de técnicas e procedimentos fundamentados teoricamente. ÉTICA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO PSICÓLOGO Desde a academia, é importante que o estudante conheça as resoluções que se relacionam aos temas de direitos humanos emitidas pelo conselho da categoria. Nesse sentido, trataremos sobre duas resoluções emitidas pelo Conselho Federal de Psicologia – CFP que se relacionam com o referido tema. São as resoluções nº 01/1999 que estabelece normas de atuação para psicólogos(as) em relação àorientação sexual, bem como a resolução nº 18/2002 que estabelece normas de atuação para o profissional de psicologia com relação a preconceito e discriminação racial. A resolução nº 01/1999 estabelece que os psicólogos possuem o dever de atuar de acordo com os princípios éticos da psicologia, sem discriminação e promovendo intervenções que assegurem o bem-estar das pessoas. Devem contribuir, através dos saberes da psicologia, com a promoção de discussões críticas e reflexões sobre o preconceito, discriminação e estigmatização contra as pessoas que apresentam comportamentos ou práticas homoeróticas. O psicólogo deve recusar qualquer prática ou pronunciamento que possa favorecer a patologização ou ação coercitiva aos homossexuais, bem como participar de eventos ou prestar serviços em instituições que proponham tratamento e cura para homossexuais. A resolução nº 18/2002 estabelece que os psicólogos devem atuar em consonância com os princípios éticos da profissão, contribuindo, através dos saberes da psicologia, com a promoção de reflexões sobre a eliminação do preconceito e racismo. Devem atuar de modo a evitar qualquer tipo de prática, instrumento ou técnica psicológica que possa criar, manter ou reforçar estigmas, preconceito de raça ou etnia, discriminação ou estereótipos, não sendo conivente com qualquer prática que se configure como crime de racismo, bem como deverá se recusar a participar de eventos, pronunciamentos ou prestar serviços em instituições de natureza discriminatória. ASSISTA Para uma reflexão mais aprofundada sobre os princípios éticos e o exercício profissional da psicologia, vale conferir uma discussão sobre o tema através de um vídeo emitido pelo CRP-12 (Santa Catarina), desenvolvido pela Comissão de Ética e Comissão de Orientação e Fiscalização. O vídeo trata sobre as questões éticas relacionadas ao registro documental, elaboração de documentos psicológicos, atendimento psicológico online e relação com a justiça. https://www.youtube.com/watch?v=9EA0_To6WEo https://www.youtube.com/watch?v=9EA0_To6WEo