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2 Sumário Capa Rosto Introdução PARTE I - Projeto de Pesquisa 1. Projeto de Pesquisa 1.1. Definição 1.2. Tema 1.3. Problema de Pesquisa 1.4. Objeto de estudo 1.5. Hipóteses 1.6. Objetivos 1.7. Justificativa 1.8. Fundamentação Teórica 1.8.1. Normas para confecção estrutural do Referencial Teórico 1.9. Metodologia 1.9.1. Modalidades de Pesquisa 1.9.1.1. Modalidade de Pesquisa segundo a abordagem 1.9.1.2. Modalidades de Pesquisa segundo a natureza 1.9.1.3. Modalidades da Pesquisa segundo objetivos 1.9.1.4. Modalidades da Pesquisa segundo procedimentos 1.9.2. Vetores do Planejamento metodológico 1.9.2.1. Amostra 1.9.2.2. Instrumentos 1.9.2.3. Procedimentos 1.9.2.4. Análise pretendida 1.10. Referências Bibliográficas 1.11. Cronograma PARTE II - Ética em Pesquisa, Normas Técnicas e Relatório de Pesquisa 2. Ética em Pesquisa 2.1. Definição 2.2. Carta de Informação ao Sujeito sobre a Pesquisa 2.3. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 3. Normas Técnicas para Relatório de Pesquisa 3.1. Definição 4. Relatório de Pesquisa 4.1. Definição PARTE III - Comunicação da Pesquisa, Apontamentos finais e Referências 5. Comunicação da Pesquisa 5.1. Artigo científico 5.2. Apresentação de trabalhos em eventos científicos 6. Apontamentos finais 3 kindle:embed:000D?mime=image/jpg 7. Referências Bibliográficas 8. Webgrafia ANEXOS ANEXO A - Diretrizes Éticas recomendadas pelo CNPq segundo o Relatório da Comissão de Integridade de Pesquisa ANEXO B - Folha de rosto para pesquisa envolvendo seres humanos ANEXO C - Projeto de Pesquisa – Exemplo I. Introdução II. Fundamentação Teórica III. Metodologia Referências Bibliográficas Cronograma Coleção Ficha Catalográfica Notas 4 Agradecimentos A Deus, pela dádiva da vida e do desenvolvimento humano, que nos permite contemplar como a afetividade e a inteligência constroem até mesmo o inimaginável (temporário)! À Editora Paulus, pela oportunidade de compartilharmos esta iniciativa, oferecendo nossas contribuições. À FAPCOM – Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação, que apoia as iniciativas docentes e acredita no potencial de seus professores. A nossos alunos, que nos estimulam a nos tornarmos profissionais cada dia mais conscientes e capazes. 5 C Apresentação omo fazer projetos de Iniciação Científica é um livro que compõe os “Cadernos de Comunicação” da Editora Paulus, com a participação da FAPCOM – Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação. Propõe a abordagem da produção do conhecimento científico na prática de sua iniciação, e é destinado a alunos de Ensino Superior e Ensino Médio que se dedicam aos Programas de Iniciação Científica. O conteúdo do livro está organizado no sentido de oferecer ao aluno uma sequência prática que lhe possibilite, passo a passo, a construção de um Projeto de Pesquisa que adquira sentido aos olhos de seu idealizador – o(a) cientista iniciante. Esperamos motivar os alunos reforçando a eles que o envolvimento com a Iniciação Cientifica é um desafio que enriquece a formação acadêmica e a aquisição do conhecimento científico que irão acompanhá-los para sempre. Elaborar seu Projeto de Iniciação Científica é atingir uma primeira meta nesse vasto campo da Pesquisa que apoia o pensamento científico. Nosso esforço traduzido em capítulos é uma tentativa de reduzir as dificuldades que muitos alunos enfrentam ao atenderem o rigor substancial do conteúdo e da estrutura de um Projeto de Pesquisa. Sendo assim, os fundamentos teóricos expostos no livro reúnem o domínio do conhecimento de diferentes estudiosos do assunto, que corroboram a importância da Pesquisa científica para a formação discente. O material apresentado poderá ser útil e eficaz também a professores orientadores que necessitem auxiliar estudantes nessa importante área do saber. A todos fica o convite de nos endereçarem críticas para que possamos aperfeiçoar nosso livro. Esperamos que nosso intuito de contribuir com a produção do conhecimento seja coroado de êxito. Bom estudo! As Autoras 6 A Introdução Iniciação Científica (IC) é uma prática acadêmica incentivada pelas instituições educacionais de Ensino Superior e Ensino Médio cada dia mais presente, em virtude de sua importância, seus resultados e o envolvimento crescente, sobretudo de alunos universitários de diferentes áreas do conhecimento. No Ensino Superior, a Pesquisa é um dos três objetivos a que se dedicam as instituições, ao lado do ensino e da extensão universitária. A Iniciação Científica possibilita ao estudante (que ainda não possui experiência com Pesquisa) sua introdução em um novo espaço de atividades da vida acadêmica; são os seus primeiros passos na produção de conhecimento, sendo auxiliado por um professor orientador. Inúmeras instituições de Ensino Superior mantêm Programas de Iniciação Científica e incentivam seus alunos a neles ingressarem para aprender a elaborar um Projeto de Pesquisa, a executar o plano estruturado da coleta de dados e, posteriormente, aprender a analisar os resultados e elaborar conclusões sobre o estudo realizado. Em seguida, aprender organizar os resultados obtidos e suas conclusões em forma de Relatório de Pesquisa e/ou artigos científicos, que serão submetidos à análise de uma comissão técnica formada por pareceristas para posteriormente serem encaminhados à publicação em revistas científicas e apresentados em eventos científicos. Essa rica experiência de estudo servirá de base para o desenvolvimento do pensamento analítico e da visão crítica da realidade, que são os pilares da construção de uma atitude científica que dá suporte a qualquer carreira profissional consistente. Todo aluno que participa de um Programa de IC adquire uma bagagem diferenciada que vai enriquecer o seu futuro, seja na área de Pesquisa ou outra, porque o aprendizado em Pesquisa que estrutura uma forma de pensar é um ganho que ficará para sempre. Procurar informações científicas, aprimorar o pensamento crítico, realizar análises são exemplos de atividades que constroem novas competências para aquele que realiza uma Pesquisa científica. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) tem incentivado Programas de IC oferecendo bolsas de estudo no país a estudantes do Ensino Médio e universitários dos cursos de graduação em todas as áreas. Essa iniciativa vem compondo uma tradição que fortalece a produção do conhecimento no Brasil e sua divulgação entre os estudantes; entretanto há muito ainda a fazer no sentido de sensibilizar o estudante de Ensino Médio e da graduação universitária sobre a importância da Pesquisa e da atitude científica no desenvolvimento acadêmico e na formação profissional. O sucesso do Projeto de Iniciação Científica abre oportunidade para testemunhar que a experiência do fazer científico é uma construção coletiva que visa o bem comum, que permite alcançar, além de conhecimento, novos relacionamentos e experiência significativa de troca intelectual e afetiva. 7 O aluno que inicia uma graduação, qualquer que seja a área de sua escolha, pode optar por um diferencial em sua vida acadêmica quando participa de um Programa de IC. Além do curso de formação universitária oferecer o Bacharelado ou, em outros casos, a Licenciatura, é comumente oferecida ao aluno a oportunidade de participar como pesquisador de um Programa de Iniciação Científica. Essa experiência envolve um processo seletivo no qual o aluno apresenta um Projeto de Pesquisa que concorrerá juntamente com outros a vagas preestabelecidas em editais internos nas instituições de ensino. A Iniciação Científica é uma modalidade de atividade acadêmica constituída como um processo de estudo sistemático sobre assuntos escolhidos com uma duração prefixada de um ano, cujo benefício intelectual é bastante amplo: o(a) aluno(a) aprende muito sobre o Tema escolhido para estudar, assimila a estrutura básica de um Projeto de Pesquisa, compreende a necessidade de ser criterioso, exercita seu pensamento analítico e sua capacidade de síntese, é estimulado a valorizar aspectos e elementosque anteriormente lhe passariam desapercebidos. Geralmente há um professor que orienta e acompanha o aluno, da elaboração do Projeto ao desenvolvimento final da Pesquisa. O aluno interessado pode ainda ter o privilégio de divulgar ou mesmo publicar sua pesquisa em eventos científicos ou encontros que concentram outros alunos que também fizeram Iniciação Científica. É comum, nesse caso, que o aluno desfrute da satisfação de compartilhar a construção do saber com outros pesquisadores, iniciantes ou experientes, o que consiste também em uma oportunidade de deparar com novas indagações e ideias para outros Projetos. Como fazer Projetos de Iniciação Científica é um livro dedicado ao pesquisador iniciante, para lhe servir de suporte na elaboração de seu Projeto de Pesquisa. Tema, Problema de Pesquisa, Objeto de estudo, Hipóteses, Objetivos, Justificativa, Fundamentação Teórica, Metodologia, Referências Bibliográficas e Cronograma são os elementos fundamentais dos Projetos de Pesquisa que serão apresentados de modo didático e seguidos de dicas práticas, que facilitarão o entendimento e a familiarização do processo de construção de Projetos. A Metodologia, que estabelece a diretriz prática do estudo em termos da coleta de dados da Pesquisa, será também abordada de modo direto e explicativo, incluindo os procedimentos em relação à ética da Pesquisa que envolva seres humanos. Ao final, são apresentadas diretrizes para confecção de Relatório de Pesquisa, de artigo científico, além de sugestões para a estruturação de comunicações de trabalhos em eventos científicos; por último, no anexo, encontra-se um exemplo de Projeto de Pesquisa completo, que pode servir ao pesquisador iniciante como uma ilustração frente à tarefa de estruturação de um plano de estudo. 8 PARTE I Projeto de Pesquisa 1. Projeto de Pesquisa 1.1. Definição Podemos definir projeto[1] como plano ou como planejamento, isto é, um conjunto de ações estratégicas para se atingir determinado objetivo. O Projeto de Pesquisa é um plano de trabalho acadêmico que precede a realização da Pesquisa, é uma primeira tarefa que se estrutura como uma fase prévia, ou seja, trata-se de um documento que apresenta um roteiro da Pesquisa e que estabelece elementos-chave do que trata a Pesquisa e como ela será realizada. Em outras palavras: Trata-se do planejamento da pesquisa. O projeto faz a previsão dos recursos necessários para atingir o objetivo proposto de solucionar um problema e estabelece a ordem e a natureza das diversas tarefas a serem executadas dentro de um cronograma a ser observado. (CERVO; BERVIAN, 1996, p. 56). Os elementos contemplados no planejamento da Pesquisa – o Projeto de Pesquisa – estabelecem um ponto de partida do estudo, que é a definição de um Tema e um Problema de Pesquisa e, ainda, seus Objetivos, a relevância (que explicitam sua importância em uma Justificativa), a Hipótese (que é a primeira tentativa de solução do Problema proposto), os Fundamentos teóricos e os Procedimentos metodológicos a serem adotados para a realização do estudo do Tema escolhido. No Projeto de Pesquisa, a Metodologia deve apontar o tipo de Pesquisa que será desenvolvida. É um fator determinante para o sucesso da realização do plano proposto, na medida em que estabelece os fatores envolvidos da prática da Pesquisa: quem ou o que participará do estudo, por que meios e circunstâncias ou com que Técnicas ou Instrumentos de coleta de dados e mediante que Procedimentos de coleta e Análise de dados. A sequência de apresentação dos fatores constitutivos do Projeto de Pesquisa pode variar de acordo com a preferência de ordenamento escolhido pelas instituições e/ou segundo o orientador. O fundamental no Projeto de Pesquisa não é o ordenamento dos elementos no Projeto, mas a presença de todos os fatores fundamentais que estruturam o plano de estudo pretendido. São eles: Introdução que apresenta o Tema; Problema de Pesquisa; Objeto de estudo; Hipótese; Objetivos e Justificativa, seguida da Fundamentação Teórica; Método que especifica Material ou Sujeitos; Instrumentos ou Técnicas; Procedimentos e Análise pretendida; e, ainda, Referências bibliográficas e Cronograma. É interessante mencionar, ainda, que todo Projeto de Pesquisa tem um título que o 9 identifica e que deve ser representativo de seus propósitos, indicando aspectos que facilitam o entendimento da natureza do estudo e/ou sobre aspectos técnicos envolvidos na Pesquisa. O título ganha importância porque valoriza o estudo e serve ao objetivo de destacar fatores relevantes no Projeto de Pesquisa, que lhe conferem identidade. Para Cervo e Bervian (1996, p. 57): Tudo deve ser estudado e planejado, a fim de que as fases da pesquisa se processem normalmente, sem riscos de surpresas desagradáveis. O projeto de pesquisa é, muitas vezes, a garantia de seu êxito. 10 1.2. Tema O Tema é o campo em que vemos delimitado o assunto de Pesquisa, que é “uma proposição que vai ser tratada ou demostrada” (FERREIRA, 1986, p. 1659). Tema é o território do conhecimento em que se situa a curiosidade científica ou o Problema de estudo que irá conduzir a Pesquisa pretendida. Muitas vezes, de início, o Tema de estudo se apresenta de modo amplo e, portanto, se mostra definido de modo vago pelo pesquisador, o que indica um interesse mal- delimitado ou insuficientemente configurado. Consideremos, por exemplo, o Tema da imagem de perfeição de beleza feminina veiculada pela mídia impressa. Estudar esse Tema sem uma delimitação específica do que se deseja exatamente estudar torna inviável a Pesquisa. Isso porque, em primeiro lugar, a mídia impressa é um universo muito amplo; por sua vez, beleza feminina é um assunto de muitas nuances e implicações; finalmente, o padrão de beleza considerado perfeito é um parâmetro que muda de acordo com a cultura e o eixo temporal da história humana. Em outras palavras, a formulação inicial do Tema como mencionado é tão vasta e pouco delimitada que não permite a configuração de um Problema de Pesquisa que seja específico e, tampouco, permite definir um Objeto de estudo. O território temático delineado sobre a beleza feminina na mídia impressa é extenso, e sua dimensão sem uma caracterização fronteiriça estabelece uma impossibilidade de estudo, a menos que consigamos delimitar um campo passível de ser estudado. Caso o pesquisador faça escolhas dentro de seu interesse e possa definir, por exemplo, algumas mídias para pesquisar, como exemplo as revistas de moda feminina, ou caso estabeleça para o estudo os padrões atuais de beleza feminina, ou os padrões de beleza no período pós-guerra (1945), ou ainda, especifique as imagens femininas em termos da estética facial e/ou corporal ou o perfil étnico, para citar alguns eixos de recorte ao campo estudado, o Projeto de Pesquisa deparará com barreiras intransponíveis à sua elaboração. A escolha de um bom Tema de estudo não é uma tarefa fácil, pois depende de um conhecimento mínimo que deve anteceder a definição do campo a ser estudado e suas especificidades. Um pesquisador pode preferir estudar a estética de beleza feminina em termos ideais nas revistas femininas de moda, enquanto outro pesquisador pode escolher estudar a beleza feminina da mulher executiva nas revistas de notícias semanais. Um terceiro pesquisador pode escolher o estudo da imagem da mulher contemporânea presente na revista feminina brasileira mais vendida no mercado, baseando-se na análise das fotos de capa, enquanto outro pode escolher o estudo do perfil descritivo da mulher, presente nas principais matérias de revistas femininas mensais consideradas tradicionais no mercado brasileiro. A definição do Tema depende de leituras prévias a respeito do assunto que está sendo cogitado, na medida em que esse conhecimento auxiliará na identificação clara 11 do interesse específico sobre a temática. Nessa fase de definição, podem ocorrer muitas descobertas, por exemplo, a surpresa de encontrar uma grande quantidade de estudos sobre o Tema escolhido ou um escasso número de estudos.Ter um primeiro contato com o Tema e já obter uma breve noção de seus estudos certamente auxilia uma visão inicial ao pesquisador, que pode reforçar o seu interesse e/ou direcionar a atenção a alguma particularidade dentro do campo de estudo escolhido. A escolha do Tema envolve situações diversas. Por exemplo, o estudante pesquisador, ao deparar com o fato de que seu assunto de interesse já foi muito explorado, muitas vezes pensa em desistir do Tema, alegando que muito já foi dito sobre tal assunto e, portanto, não há mais nada a dizer, pesquisar e escrever. É interessante mencionar que o conhecimento de qualquer assunto não possui limite e, sendo assim, não há Problema de Pesquisa algum que já tenha sido esgotado; pelo contrário, caso o Tema tenha sido bastante debatido, isso significa que o pesquisador deve ter em conta que possui ampla referência bibliográfica para consulta, o que quer dizer que o pesquisador poderá a partir de varias discussões anteriores, construir argumentos próprios e utilizar o conteúdo encontrado como citação teórica de base. Assim sendo, concordando ou negando os argumentos de outros pesquisadores, o estudioso terá amplo repertório inicial para a sua Pesquisa. Em geral, o despertar do interesse por certos assuntos por parte dos pesquisadores surge do desejo de aprofundar um campo de conhecimento. Portanto, a escolha de um tema para desenvolvimento de uma pesquisa deve atender a estes objetivos básicos: gostar do assunto, ter acesso a informações e dados necessários, ter tempo e outras condições materiais necessárias e que tal tema seja de interesse social. (PARRA FILHO; SANTOS, 1998, p. 208). Para uma compreensão do processo de delimitação temática em um Projeto de Pesquisa, segue o exemplo abaixo. Um aluno do curso de Comunicação Social, de nome fictício Jonas, ao definir seu Projeto de Pesquisa resgatou a lembrança de uma palestra que despertou seu interesse em estudar Semiótica e, ao mesmo tempo, considerou em paralelo sua curiosidade científica pela Psicologia, nutrida por leituras. Considerou a Psicanálise como uma abordagem teórica simpatizante à Semiótica que poderia complementar a busca de conhecimento sobre o uso de linguagens. Ao destacar teorias que lhe despertavam interesse, já tinha um ponto de partida para seu estudo. Buscar o entendimento de signos e suas linguagens ao lado do simbolismo que pode advir do desvendamento de interpretações psicológicas inconscientes definia para Jonas seu campo de interesse para estudo. Diante de seu dilema em delimitar os elementos de seu Projeto de Pesquisa, Jonas lembrou-se de um filme que sempre o intrigou: The Wall (1982). O filme, que é considerado um clássico do cinema mundial, foi dirigido por Alan Parker, baseado no álbum de 1979 da banda inglesa Pink Floyd. Em uma rápida sinopse, The Wall retrata, através de imagens e músicas, os sentimentos de frustação do personagem Pink, que revela isolamento e angústia por se 12 sentir abandonado pelos pais, incompreendido pelos professores na infância e posteriormente pela esposa. Jonas (nome fictício), diante da necessidade de elaborar seu Projeto de Pesquisa, identificou uma curiosidade em aprofundar estudos sobre Semiótica e Psicanálise, e lembrou-se do filme The Wall que apresenta com riqueza de detalhes uma interação de linguagens – trilha sonora, efeitos sonoros, imagens diversas, representação de lembranças pessoais do protagonista. Ao buscar elaborar uma definição temática, Jonas decidiu estabelecer como campo de seu Projeto: A perspectiva de análise semiótica e psicanalítica do filme The Wall (1982). Seu Projeto definiu como Tema as interpretações semiótica e psicanalítica do filme, para o qual ajustou um título bastante expressivo: PROCESSOS DE CONSTRUÇÃO E DESCONSTRUÇÃO NO FILME ‘THE WALL’ (1982) – ANÁLISE INTERPRETATIVA NAS PERSPECTIVAS SEMIÓTICA E PSICANALÍTICA. Tendo escolhido o Tema ou campo de estudo, o próximo passo na construção do Projeto de Pesquisa consiste em definir o Problema de Pesquisa. 13 1.3. Problema de Pesquisa O Problema da Pesquisa é sempre uma indagação que coloca fronteiras no campo de estudo e direciona o olhar para uma determinada linha de estudo. É a pergunta que se deseja responder por meio do estudo pretendido. É possível considerar inclusive que a originalidade da Pesquisa pode ser associada à formulação do Problema a ser estudado. Numa pesquisa, o problema sempre se apresenta na forma de uma interrogação. É para responder a essa dúvida que será desenvolvido o trabalho. Essa é a razão de ser do trabalho científico, pois determina o objetivo específico. (PARRA FILHO; SANTOS, 1998, p. 211). É importante ressaltar que o Problema de Pesquisa é literalmente uma pergunta, que é apresentada na forma interrogativa, “[...] é uma questão que envolve intrinsicamente uma dificuldade teórica ou prática, para a qual se deve encontrar uma solução” (CERVO; BEVIAN, 1996, p. 66). Exemplos de Problema de Pesquisa podem ser: Quais são os ganhos mencionados pelo jovem pesquisador em sua experiência acadêmica de Iniciação científica? Qual é o ‘estado da arte’[2] das contribuições da internet para o desenvolvimento da cidadania? Quais são os preconceitos sociais abordados no enredo das histórias apresentadas no X-Men, na década de 1980? Vale lembrar que a indagação central de toda Pesquisa pode surgir de um levantamento de questões em uma lista de possibilidades. Esse processo é fundamental, e nele algumas perguntas da lista realizada são rapidamente eliminadas após uma breve reflexão; assim, restará finalmente a ‘questão central’ ou ‘principal’, ou seja, aquela pergunta que ganha destaque e se sobrepõe às demais porque traduz a escolha do foco estabelecida pelo pesquisador. No exemplo anteriormente mencionado sobre o Tema da beleza feminina, é interessante contemplar que cada delimitação apresentada sobre o assunto considerado encaminha estudos diferentes que são definidos a partir dos questionamentos ou perguntas que o interesse de Pesquisa impõe. Perguntas diferentes definem Problemas de Pesquisa distintos. O Problema de Pesquisa ‘Quais são os fatores que definem a imagem de perfeição da mulher contemporânea, veiculada na capa da revista semanal de informações mais vendida no Brasil?’ irá delinear um estudo que se distingue da Pesquisa cuja formulação do Problema é: Quais são as características que definem o perfil feminino descrito nas principais matérias das revistas Cláudia dos últimos três anos? O importante é lembrar que o Problema de Pesquisa deve questionar o que ou como são as coisas, suas causas e consequências, a fim de buscar respostas a toda variável[3] que possa ser observada e testada. É importante lembrar que o Problema de Pesquisa deve ser claro e objetivo, tendo em vista uma possível solução ou resposta, alcançada através de uma coleta de dados planejada previamente, isso porque um Problema muito amplo, não oferece 14 possibilidade de obter uma solução. No exemplo do Projeto de Pesquisa do aluno Jonas (nome fictício) sobre o filme The Wall, a tarefa de definir seu Problema de Pesquisa foi iniciada com o levantamento de questões rudimentares em torno de sua curiosidade sobre o filme que desejava conhecer como, por exemplo: Quem escreveu o roteiro? Quem dirigiu o filme? Como nasceu a ideia de se fazer esse longa-metragem? Qual é o assunto central do filme? Que personagens são significativos? Existe uma cena principal e, se sim, como se desenvolvem as interligações com as demais? Qual é o objetivo ou propósito de seus produtores com o filme, o que desejavam comunicar? Quais são as possíveis leituras e interpretações das cenas, no enredo do filme? À medida que Jonas começou a ler sobre o que já existia escrito e publicado sobre o filme, foi fazendo descobertas e obtendo respostas à suas perguntas iniciais, consequentemente, foi eliminando muitas das questões existentes em sua lista de questionamentos. Novas problemáticas foram sendo abordadas por Jonas e mostraram outras possíveis indagações: Como a presençada memória e de outros aspectos psicológicos como vivências de perdas, por exemplo, se expressam de forma imagética? Quais são as possíveis leituras ou interpretações psicológicas que podem elucidar aspectos do psiquismo do personagem Pink? Que elementos verbais, imagéticos e sonoros podem identificar fatores fundamentais para uma abordagem semiótica do filme? Frente a tantas questões interessantes que gostaria de investigar ao elaborar seu Projeto de Pesquisa de Iniciação Cientifica, Jonas precisava escolher um Problema de Pesquisa que pudesse traduzir uma pergunta central de seu estudo. Todas as perguntas que traduziam o interesse científico de Jonas foram reunidas em uma questão central ou Problema de Pesquisa: Quais são as possíveis leituras ou interpretações subjetivas dos elementos visuais, sonoros e verbais da narrativa fílmica de The Wall, nas perspectivas semiótica e psicanalítica? Quando a questão a ser estudada é definida, isto é, o Problema de Pesquisa é estruturado, emerge em decorrência o Objeto a ser estudado. 15 1.4. Objeto de estudo A importância da pergunta ou do Problema de Pesquisa é que ela dá início concreto ao plano de estudo, porque delimita um Objeto de estudo. O Objeto de estudo é exatamente o que constitui o foco da investigação científica, isto é, o conceito, o evento, a relação, o elemento central a ser pesquisado, aquele que foi escolhido pelo pesquisador para a Pesquisa. Em outras palavras, podemos definir Objeto de estudo como aquilo que se deseja estudar. É o assunto ou foco central de interesse que será estudado para responder ao seu Problema de Pesquisa. Nos exemplos citados anteriormente com relação à problemática escolhida, no caso do Projeto de Pesquisa da experiência científica de um jovem pesquisador, o Tema de estudo mencionado é a Iniciação científica, e o Objeto de estudo são os ganhos da Iniciação científica para os estudantes. Já, no exemplo do Projeto de Pesquisa sobre as histórias do X-men, o Tema é o enredo das histórias do X-men, e o Objeto de estudo é o preconceito social presente no enredo das histórias do X-men. No caso do Projeto de Pesquisa do aluno Jonas, o Tema de estudo é Semiótica e Psicanálise e o Objeto de estudo são as interpretações semióticas e psicanalíticas do filme The Wall (1982). Depois de definir seu Problema de Pesquisa elaborando a pergunta que especificou a sua curiosidade científica, Jonas determinou o Objeto de seu estudo: as interpretações semióticas e psicanalíticas em The Wall. É interessante salientar que, para elaborar um Projeto de Pesquisa, não basta gostar de um Tema, definir uma pergunta (Problema de estudo) e identificar um Objeto de Pesquisa. Outros elementos são necessários e muitas tarefas devem ser cumpridas. Contudo, estas primeiras definições – Tema, Problema de Pesquisa e Objeto de estudo – são fundamentais para dar início ao Projeto, especialmente porque perguntas que direcionam a curiosidade do pesquisador são essenciais para a escolha do Problema de estudo e, mesmo, porque sem um Problema de Pesquisa não é possível a nenhum estudioso construir um Projeto de Pesquisa. De posse de um Problema de Pesquisa definido e com a identificação de um Objeto de estudo, um Projeto de Pesquisa passa a realizar outras definições necessárias, como suas Hipóteses. 16 1.5. Hipóteses Hipótese é toda resposta provisória que associamos ao Problema de Pesquisa. Trata-se de uma solução possível considerada para o Problema levantado, que podemos elaborar a partir da observação. O pesquisador, a partir, do que ele já sabe sobre o assunto estabelece uma explicação provisória para o Problema escolhido. Dalberio e Dalberio (2009, p. 57) afirmam que: “Hipótese é, precisamente, uma resposta provisória ou uma ideia preestabelecida, apresentada como solução do problema a ser investigado.” Em outras palavras: Uma hipótese é uma proposição, condição ou princípio, que é aceito – provisoriamente – para obter suas consequências lógicas e, por intermédio de um método, comprovar seu acordo com os fatos conhecidos ou com aqueles que podem ser determinados. (SELLTIZ et al., 1965, p. 48). A formulação da(s) Hipótese(s), nesse sentido, parte do que chamamos de repertório do pesquisador, da observação que ele faz da realidade ou do conhecimento do contexto em que está inserido seu Objeto de estudo. A Pesquisa, quando colocada em prática, irá verificar a validade das Hipóteses a fim de confirmá-las ou negá-las; por isso, diferentemente do Problema de Pesquisa, que é uma questão interrogativa, a(s) Hipótese(s) deve(m) ser formulada(s) de forma afirmativa. Há que se ter o cuidado de não se tentar justificar a Hipótese levantada, ou seja, o jovem pesquisador nunca deve tentar concluir o que se pretende alcançar no Projeto de Pesquisa quando elabora sua Hipótese, deve apresentá-la e aguardar a realização da Pesquisa para posteriormente concluir sobre a validade ou não de suas afirmações preliminares. Consideremos um exemplo ilustrativo de Hipótese em um suposto estudo sobre a literatura de mercado cujo Problema de Pesquisa consiste na questão: “Existe uma mensagem cultural na literatura de mercado?” Uma Hipótese viável que pode responder previamente à pergunta mencionada é a afirmação de que qualquer que seja a obra (de finalidade claramente comercial para a obtenção de lucro ou cujo objetivo é o puro entretenimento), ela conterá elementos da cultura e traduzirá uma forma do viver humano contextualizado, que apresenta aspectos da realidade social. Essa Hipótese encontra respaldo nas palavras de Said (1995, p. 105), que argumenta que “cada obra cultural é a visão de um momento, e devemos justapor essa visão às várias revisões que ela gerou”. Assim, o autor admite a liberdade individual na criação de uma obra e que toda produção ao mesmo tempo pode ser “circunscrita e socialmente regulada” (SAID, 1995, p. 120). No exemplo do Projeto de Pesquisa de Jonas – cujo Problema de Pesquisa é ‘Quais 17 são as possíveis leituras ou interpretações subjetivas dos elementos visuais, sonoros e verbais da narrativa fílmica de The Wall, nas perspectivas semiótica e psicanalítica?’ – podemos considerar que a Hipótese do estudo poderia ser retratada por um texto, como o que segue: Hipóteses Fotografias, filmes e outras expressões artísticas podem traduzir infinitos aspectos humanos cujas interpretações também são inúmeras. Várias são as interpretações subjetivas possíveis que podem enriquecer a compreensão do filme The Wall, ampliando o estudo de seu Objeto de Pesquisa. O filme é constituído por fragmentos que misturam elementos visuais, sonoros e verbais que buscam revelar a complexidade da realidade humana, traduzidos como texto simbólico, imaginário e real, cuja subjetividade é expressa por uma interpretação dos signos. A possibilidade de alcançar o significado do enredo do filme, que se mostra de modo indireto em suas imagens e músicas, gestos e lapsos comportamentais, cores e formas, pensamentos verbalizados e não verbalizados, pode permitir compreender psicológica e semioticamente as mensagens entrelaçadas no texto simbólico que o filme apresenta. Estudar sua mensagem e comunicação pode auxiliar a ampliação do entendimento da produção audiovisual, cada dia mais sofisticada técnica e culturalmente. Interpretações simbólicas na abordagem Semiótica e da Psicanálise são esclarecedoras e bastante enriquecedoras do ponto de vista de suas revelações humanas, na medida em que a primeira é uma perspectiva de estudo dos signos que permite o entendimento de suas bases estruturais e a segunda possui em sua base teórica a compreensão das dimensões inconscientes do universo mental, cuja influência sobredetermina a consciência do ser humano. Psicanálise e Semiótica complementam visões interpretativas que podem traduzir as diversas mensagens presentes no filme The Wall, decifrando a enigmática obra. Para Dalberio e Dalberio (2009, p. 57), a Hipótese: “É uma afirmação ou uma negação do problema. A ideia obtida como hipótese será confirmada ou refutadaquando a conclusão do processo de investigação for efetivada.” A elaboração de Hipóteses permite dar seguimento ao Projeto de Pesquisa, constituindo uma afirmação que deverá ser confirmada ou reformulada posteriormente com o desenrolar do estudo, quando os resultados encontrados reafirmarão ou não sua suposição. 18 1.6. Objetivos Tendo estabelecido o Problema de Pesquisa e suas Hipóteses, surge a necessidade de definição de um novo elemento do Projeto que diz respeito ao propósito da Pesquisa, que se mostra associado ao questionamento: Para que se destina o estudo? O Objetivo da Pesquisa define o que se pretende alcançar com o estudo, quais os motivos que orientam o Projeto de Pesquisa. Ao detalhar os Objetivos, o pesquisador deve esclarecer os Objetivos gerais e específicos, tendo em vista que ambos devem ser coerentes e complementares e estar de acordo com a Justificativa e com o Problema proposto, na medida em que o propósito da Pesquisa definirá, o que se espera em termos dos resultados a serem alcançados. Os Objetivos gerais de um Projeto de Pesquisa descrevem o que se pretende obter com o estudo e são definidos de modo amplo ou abrangente, enquanto os Objetivos específicos são metas detalhadas derivadas do Objetivo geral. A elaboração dos Objetivos do estudo que evidenciam o que se pretende com a Pesquisa, considera que: “O pesquisador deve mostrar a importância do assunto, tendo em vista o conhecimento geral do mesmo e a temática proposta.” (PARRA FILHO; SANTOS, 1998, p. 210). Os Objetivos de uma Pesquisa, destacam, “a importância do trabalho a ser desenvolvido” bem como uma possível “ampliação do conhecimento geral relativo ao mesmo” (PARRA FILHO; SANTOS, 1998, p. 210). Os Objetivos específicos enfocam um núcleo nos propósitos da Pesquisa já que “define o ponto central do trabalho. Isso quer dizer que, dentro de uma ideia geral do trabalho, deve-se ressaltar a ideia especifica a ser desenvolvida” (PARRA FILHO; SANTOS, 1998, p. 210). Os Objetivos específicos devem expressar o que será efetivamente alcançado na Pesquisa, pois: [...] expressam a particularidade do exercício a ser realizado pelo investigador em cada parte do trabalho. Os objetivos específicos devem ser elaborados com verbos no infinitivo e manifestar ações particulares. Portanto, são imprescindíveis ao projeto de pesquisa. (DALBERIO; DALBERIO, 2009, p. 60). Por exemplo, consideremos o Problema de Pesquisa ‘Qual é o perfil das empresas brasileiras que utilizam o marketing cultural em sua publicidade?’ e definamos os Objetivos desse estudo. O Objetivo geral poderia ser, por exemplo, descrito como: Buscar compreender as relações existentes entre o perfil das empresas e a utilização do marketing cultural. O Objetivo específico poderia ser: Identificar os fatores determinantes ou motivos, de parte das empresas, que podem explicar a escolha do marketing cultural como estratégia publicitária. No caso de Jonas, os progressos na construção de seu Projeto de Pesquisa sobre o filme The Wall devem estabelecer os Objetivos gerais e os Objetivos específicos para 19 identificar a finalidade de seu trabalho científico. Escreveu Jonas, em seu Projeto, o seguinte texto: Objetivo geral Investigar possíveis relações entre as imagens, os signos sonoros e os processos emocionais destacados no filme, mostrados em uma sequência fragmentada como representações mentais simbólicas e lembranças vividas, consideradas à luz da abordagem semiótica peirciana e da abordagem psicanalítica. Objetivos específicos Analisar os elementos subjetivos do inconsciente do personagem principal do filme The Wall, relativos aos conteúdos de solidão e violência, que conferem sentido às narrativas simbólicas ditadas pelas expressões musicais, verbais e imagéticas. Podemos considerar que o Objetivo geral configura uma espécie de direção do estudo pretendido no seu campo do conhecimento e o Objetivo específico define um núcleo de interesse ou uma meta particular dentro da perspectiva geral. 20 1.7. Justificativa Como a própria expressão indica, a Justificativa do Projeto de Pesquisa diz respeito aos argumentos que envolvem a relevância do assunto, ou seja, nela o pesquisador apresenta motivos convincentes que conferem ao Projeto de Pesquisa, uma valoração científica e social que sustenta a realização do estudo. Para que haja um adequado convencimento acerca da importância da Pesquisa, o aluno pesquisador deverá apontar os ganhos intelectuais que o estudo representa para si, para a sociedade e para o universo acadêmico, o que sem dúvida oferece apoio essencial a seu Projeto para que seja aceito no Programa de Iniciação Cientifica. Em geral, os argumentos que, via de regra, são utilizados na Justificativa de estudos científicos referem-se à exaltação do Tema escolhido e aos motivos pelos quais sua abordagem apresenta relevante importância para o acréscimo do conhecimento. A utilização de citações de outros autores sobre o assunto e sua importância é interessante e recomendável, pois no diálogo com teóricos encontramos incremento à credibilidade que justificam o estudo (PARRA FILHO; SANTOS, 1998, p. 209). Os autores prosseguem argumentando sobre a importância da Justificativa no Projeto de Pesquisa, ao afirmarem que: “a Justificativa pode ser também no sentido de um avanço de ordem pessoal, pois o avanço profissional na área acadêmica poderá ser de suma importância na qualidade do futuro trabalho que o mesmo desenvolverá profissionalmente” (PARRA FILHO; SANTOS, 1998, p. 209). Mencionar que o Projeto de Pesquisa permitirá avanços significativos no conhecimento do Tema e que o estudo oferecerá subsídios para operar acréscimos para determinada população ou causa pode ser excelente argumento na construção de Justificativas contundentes. No exemplo do Projeto de Pesquisa do aluno Jonas, ele menciona algumas contribuições que seu Projeto poderá oferecer ao estimular a compreensão de elementos subjetivos presentes no filme The Wall; sua Justificativa é reproduzida a seguir: Justificativa A investigação das imagens e das sequências fragmentadas que compõem o filme The Wall permite observar como as relações de elementos imagéticos, sonoros e verbais fazem convergir a dinâmica que é a vida, por intermédio das relações psicoafetivas, familiares, sociais, históricas, culturais e políticas manifestadas por um conjunto amplo de signos que ora interagem, ora se dissociam. A descrição plástica dos planos físicos, a trilha sonora, o enquadramento, os ângulos, as cores e as possíveis mensagens verbais e não verbais servem de reflexão para uma investigação semiótica cuja interpretação auxilia o entendimento de articulações das cenas fragmentadas. The Wall é um filme rico em simbologia, cujos fragmentos da narrativa mesclam múltiplos fatores; pode contribuir com a área da Comunicação ao relacionar saberes de modo interdisciplinar e aprofundar o conhecimento de elementos subjetivos presentes no cinema; pode ampliar o estudo científico do campo audiovisual sobre os estudos acerca da imagem, sobre a edição das imagens, além da investigação acerca dos elementos sonoros, bem como sobre a linguagem utilizada que ora é direta, ora é indireta, para transmitir o pensamento e ação do protagonista. Por sua vez, a relevância social do estudo consiste na possibilidade de contribuir para o campo da educação e 21 da cultura, promovendo discussões sobre questões políticas e ideológicas suscitadas pelo filme. O presente Projeto de Pesquisa, portanto, mostra-se relevante diante da iniciativa de se estudar o ciema ao mesmo tempo que busca uma compreensão do ser humano que se mostra nesse cenário, na medida em que o principal personagem pode representar todos nós: ora dividido entre o eu e o outro, entre o presente e o passado, entre alegrias e dramas, que, entretanto, revela em última instância o estado inacabado, a incompletude do Eu, que se mostra em construção e desconstrução ao longo da vida. A Justificativa é um fator de importância no Projeto de Pesquisa e pode serapresentada com algum fundamento teórico, o que lhe confere consistência científica. Contudo, também pode ser apresentada de modo mais sucinto, em que o próprio texto destaca sua relevância de modo objetivo e circunscrito fazendo menção a uma abordagem original do assunto ou a possíveis lacunas do conhecimento sobre o Tema, ou ainda, quando aponta a necessidade de respostas ou soluções para determinado problema social existente. 22 1.8. Fundamentação Teórica A organização dos elementos fundamentais de um Projeto de Pesquisa pode seguir algumas variações em sua apresentação. Uma possibilidade é apresentar os elementos destacados separadamente, isto é, Tema, Problema de Pesquisa, Hipóteses, Objetivos Gerais, Objetivos Específicos, Justificativa, Referencial Teórico, Método, Referência Bibliográfica e Anexo. Outra possibilidade é organizar na Introdução do Projeto de Pesquisa o Tema, Problema de Pesquisa, Objeto, Hipótese, Objetivos e Justificativa, seguidos de Referencial Teórico, Método, Referências Bibliográficas e Anexos. A organização dos elementos do Projeto de Pesquisa chama a atenção para a estrutura do estudo. Por outro lado, o Referencial Teórico chama a atenção para a consistência teórica da Pesquisa pretendida. Nesse prisma de entendimento é de fundamental importância realizar um levantamento bibliográfico, a fim de proporcionar uma exposição do assunto que promova uma familiaridade a seu respeito e que ofereça uma base científica sobre o Tema para situar o conhecimento teórico do estudo pretendido. O levantamento bibliográfico das concepções teóricas vigentes acerca do assunto estudado e as novas pesquisas acerca do Objeto estudado formam um corpo de conhecimento denominado como “Referencial Teórico”, “Fundamentação Teórica”, “Fundamentos Teóricos” ou nomenclatura similar. A “busca das origens bibliográficas” deve ser praticada sistematicamente. Parte-se de obras, artigos ou estudos mais recentes pertinentes ao assunto. [...] (BEAUD, 1996, p. 68). É importante relatar que existem alunos pesquisadores que confundem (pensam ser a mesma coisa) o que são: Referencial Teórico e Referências Bibliográficas. As Referências Bibliográficas apresentam-se no final do Projeto e consistem na relação das fontes consultadas para a elaboração do Projeto de Pesquisa: autores e obras citados na Fundamentação Teórica e que devem ser relacionados segundo as regras da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, que serão abordadas posteriormente no capítulo 3. Referencial Teórico é um texto explicativo de conceitos teóricos; por sua vez, Referências Bibliográficas são uma lista de fontes consultadas. O contato com trabalhos de natureza teórica e a aproximação com o universo sistemático e múltiplo do pensamento de vários pesquisadores constituem o campo de ideias sobre o qual a Fundamentação Teórica se constitui. O Referencial Teórico do Projeto de Pesquisa auxilia o entendimento das diretrizes conceituais que dão base para a construção dos argumentos teóricos que sustentam o estudo. O Referencial Teórico que irá embasar ou fundamentar teoricamente o Projeto de Pesquisa deverá apresentar as definições básicas e as principais teorias do campo estudado, isto é, aquelas que recebem o reconhecimento da comunidade científica, que se mostram presentes em grande número nas diversas publicações realizadas sobre o Tema em questão. 23 O Referencial Teórico não deve se apoiar em um único autor, pois, neste caso, não cumprirá o propósito de oferecer uma visão abrangente do campo em estudo com um direcionamento único em termos do aporte teórico apresentado. A função da teoria no exercício da Pesquisa é fundamentar a investigação, ao mesmo tempo que também serve para auxiliar o pesquisador a desenvolver seu pensamento científico. Por intermédio dos Fundamentos Teóricos, o pesquisador consegue dar a conhecer parcialmente seu Objeto de Pesquisa, visto que é a teoria que dá suporte escritural, intelectual para o Projeto proposto. As fontes bibliográficas adequadas ao desenvolvimento da Pesquisa, em geral, são indicadas com o auxílio do orientador, mas é fundamental a autonomia do aluno pesquisador, que por iniciativa própria pode fazer buscas teóricas para o estudo pretendido. A busca do material bibliográfico que dará suporte aos Fundamentos Teóricos do Projeto de Pesquisa pode ser realizada em bibliotecas, de modo concreto ou virtual, na medida em que atualmente as bibliotecas do mundo inteiro disponibilizam boa parte de seu acervo em arquivos digitais. O pesquisador também pode consultar sites científicos na web para saber o que já foi publicado a respeito do assunto estudado e, pode ainda, pesquisar teses e dissertações, artigos em periódicos científicos, além de outras produções acadêmicas de interesse. 24 1.8.1. Normas para confecção estrutural do Referencial Teórico A construção textual da Fundamentação Teórica requer do pesquisador iniciante uma atenção ao uso da linguagem e à composição gramatical na expressão de seu pensamento, que possibilite um manejo adequado de conceitos que permita ao leitor compreender as bases teóricas sustentadas no estudo. Ao utilizar ideias de vários autores e diferentes teorias, o texto teórico deve adotar regras a partir das quais as citações (pensamento dos autores) escolhidas poderão estruturar os Fundamentos Teóricos. O uso de citações (direta curta, direta longa, indireta, citação da citação) deve respeitar as regras da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), o que significa dizer que os trechos textuais retirados de teorias consultadas não podem ser mencionados aleatoriamente, mas é necessário que sejam referidos segundo normas preestabelecidas e com menção obrigatória da autoria, identificação da obra, referência à data e outras informações pertinentes. Alguns exemplos de como fazer citações, utilizando os quatro modelos possíveis (direta curta, direta longa, indireta, citação da citação) que podem aparecer na construção textual dos Fundamentos Teóricos, serão apresentados brevemente a seguir, com base nas Normas ABNT NBR 14724, de 2011. A citação indireta é utilizada mediante a introdução do pensamento de autores no texto de modo indireto, isto é, por meio das palavras do pesquisador. O pesquisador faz menção ao teórico ou à teoria em seu Referencial, mas sem citá-los literalmente. Neste caso, deve-se ter o cuidado de traduzir as ideias do autor mencionado sem modificar o seu pensamento. Segue no modelo abaixo o uso da citação indireta em um Projeto relacionado a mídias sociais, em que o aluno pesquisador (que autorizou esta referência) menciona Bauman (2003). Com o avanço tecnológico constatamos também que as mídias sociais, multiplicaram-se especialmente na internet, que possibilita a conveniência e o relacionamento com pessoas de todo o mundo, fator que pode favorecer a recepção e o contato com outras pessoas no mundo fora da web (BAUMAN, 2003). Ainda no mesmo Projeto de Pesquisa, o aluno faz uma menção ao teórico Vaynerchuk (2009). Para este exemplo, a Fundamentação Teórica apresenta, em seu texto, o trecho que segue: Sobre a mesma perspectiva, Vaynerchuk (2009) ensina que o primeiro passo para se relacionar nessa mídia social se baseia em criar uma base, seja ela um site, um blog, um perfil em rede social, na qual materiais de alta relevância sobre o assunto escolhido serão depositados. 25 Podemos perceber que as citações indiretas fazem referência apenas ao autor e data, não havendo necessidade de citar outras informações como a página da obra consultada, na medida em que em geral se reportam a vários trechos da obra do autor. Contudo, no caso da citação indireta estar relacionada a uma página específica do autor, a citação indireta deve mencionar, em sua referência, além do sobrenome do autor e ano da obra, a página do texto de apoio utilizado. A citação direta (que pode ser “curta” ou “longa”) segue uma primeira exigência que é reproduzir o pensamento do autor de modo literal, o que demanda uma cópia do trecho escolhidopara referência. A citação direta curta deve ser transcrita entre aspas duplas e aparece incorporada ao parágrafo de que toma parte, como elemento integrante do texto redigido. O exemplo que segue foi extraído de um Projeto de Pesquisa em Publicidade e Propaganda de um aluno pesquisador (que autorizou esta referência) sobre a construção de identidade de marcas. Em seu texto, o aluno escreve baseando-se em Rizzo (2003): Neste prisma de entendimento, compreendemos que a Publicidade favorece o reconhecimento e a imagem das marcas, através dos diferentes meios de comunicação que as divulgam. Vale lembrar que a palavra Publicidade possui sua origem no latim publicus, que significa “[...] a qualidade do que é público, ou seja, tornar público um fato, uma ideia, objetivando induzir ou convencer o público a uma atitude dinâmica favorável à determinada ideia” (RIZZO, 2003, p. 46). Observamos, neste exemplo, que o aluno escreve uma primeira parte do texto esclarecendo o exposto, para depois indicar entre aspas duplas (citação direta curta) o conceito do estudioso mencionado, acerca da Publicidade. Em outro exemplo de citação direta curta, encontramos um texto ilustrativo de um Projeto de Pesquisa na área de Rádio-TV-Internet sobre a participação da imagem da mulher nas produções audiovisuais. Escreve o aluno pesquisador (que autorizou esta referência): Wolf (1996, p. 145) lança luz sobre a relação da mulher, do seu corpo e da condição de ser objeto do olhar masculino quando afirma: “para as mulheres, o corpo associa-se ao olhar do outro, à aparência estética, as possibilidades amorosas”. É interessante notar que as citações diretas curtas mencionam sempre a página de referência do texto reproduzido, entretanto mostram diferenças quanto à forma de indicação em relação ao nome do autor mencionado, que deve ser citado todo em letras maiúsculas quando sugerido de modo oculto no trecho, ou apenas com a letra inicial maiúscula quando explícito no trecho redigido. A citação direta longa é considerada longa quando o pensamento a ser referido ou trecho mencionado ultrapassa três linhas. Nesse caso, deve utilizar a cópia exata do que o autor comunica, transcrevendo-o de modo destacado do texto, modificando o padrão utilizado para fonte diminuída e espaçamento simples, com um recuo da margem 26 esquerda de 4 cm. O exemplo que segue aborda o conceito de conhecimento científico apresentado por Lakatos e Marconi (2001) no livro Metodologia Científica. O fazer científico guarda particularidades que o pesquisador deve ter conhecimento atendendo suas regras. O conhecimento científico resulta da investigação metódica, sistemática da realidade. Ele transcende os fatos e os fenômenos em si mesmos, analisa-os para descobrir suas causas e concluir as leis gerais que os regem. [...] como o campo da ciência é o universo material, físico, naturalmente perceptível pelos órgãos dos sentidos ou mediante a ajuda de instrumentos de investigação, o conhecimento cientifico é verificável na prática, por demonstração ou experimentação. Além disso, tendo o firme propósito de desvendar os segredos da realidade, ele os explica e demostra com clareza e precisão, descobre suas relações de predomínio, igualdade ou subordinação com outros fatos ou fenômenos. De tudo isso conclui leis gerais, universalmente validas para todos os casos da mesma espécie. (LAKATOS; MARCONI, 2001, p. 198). Outro exemplo de citação direta longa, em que é abordada a imagem feminina sob a óptica de desigualdade social teorizada por Berger (1972), a seguir: Os estudos sobre a imagem da mulher suscitam muitas reflexões que podem ser analisadas nas expressões das pinturas europeias em que estão presentes mulheres. Berger (1972, p. 70) menciona que: Os nus europeus, por exemplo, pintados como se a mulher estivesse a serviço do desejo do espectador (geralmente masculino), pressupõem um relacionamento desigual presente até hoje na nossa cultura, de que homens e mulheres têm presenças sociais diferentes e agem como tal. A regra adequada na citação direta longa, sobre o nome todo em letras maiúsculas ou apenas inicial maiúscula, seguida do ano da obra e página, deve ser utilizada de acordo com a ordem de colocação da citação, no texto construído. Quando o trecho é introduzido de modo literal no texto sem qualquer ideia prévia, o sobrenome do autor segue ao final da citação em maiúsculas. Se o trecho é introduzido no texto após um preâmbulo e o nome do autor participa dessa apresentação, o sobrenome do autor é citado apenas com a letra inicial maiúscula. A citação da citação deve ser evitada quando possível e deve somente ser empregada quando o acesso à obra original for bastante difícil, pois a citação de autores por meio de seus intermediários pode comprometer a credibilidade do trabalho de Pesquisa. No caso de sua utilização, é necessário indicar essa situação e acrescentar a expressão latina apud, que significa “citado por”, ao mencionar uma citação dentro de outra citação. [...] Ora, o que Prigogine chama de tempo, Peirce chamava de semiose (ação do signo). Aliás, o tempo não é outra coisa senão o desenrolar-se da semiose, processo autogerativo de signos, signos gerando signos e sendo gerados de signos [...]. (VIEIRA, 2003, p. 297, apud SANTAELLA, 1992, p. 144). A mesma citação pode ser apresentada, ainda, da forma a seguir: Santaella (1992, p.144) faz menção à Vieira (2003, p. 297) que cita o pensamento de Prigogine, como segue: [...] Ora, o que Prigogine chama de tempo, Peirce chamava de semiose (ação do signo). Aliás, o tempo não é outra coisa senão o desenrolar-se da semiose, processo autogerativo 27 de signos, signos gerando signos e sendo gerados de signos [...]. A estruturação coerente da Fundamentação Teórica é essencial para que o Projeto de Pesquisa se mostre consistente teoricamente e demonstre o conhecimento adequado e suficiente do pesquisador sobre o assunto estudado. Todo Projeto de Pesquisa delineia suas necessidades em termos da Fundamentação Teórica exigida, que vai depender do estágio de desenvolvimento científico alcançado pelo Tema no horizonte das iniciativas de estudo já realizadas. Alguns Projetos precisam apresentar o “estado da arte” do Tema estudado ou do Objeto de estudo em questão, isto é, o panorama atualizado do conhecimento do assunto escolhido. O estado da arte mencionado no Projeto oferece uma visão do status existente da Pesquisa proposta e certifica a relevância do estudo pretendido. Neste sentido, é importante ressaltar que a Pesquisa Bibliográfica acerca do assunto estudado é fundamental para todos os estudos realizados e ela lhe confere valor e credibilidade. No Projeto de Pesquisa do aluno Jonas, que escolheu estudar o filme The Wall, as referências teóricas deveriam desenvolver um conjunto de conceitos capazes de dar suporte às interpretações pretendidas no campo da Semiótica e da Psicanálise. Para a construção dos fundamentos teóricos do Projeto de Pesquisa de Jonas, ele escolheu discorrer, entre outros autores, sobre o pensamento de Santaella (1990, 2000), que auxilia a abordagem semiótica peirciana que contempla a compreensão da descrição plástica dos planos, da observação da trilha sonora, do enquadramento, dos ângulos, das cores e das mensagens verbais e não verbais, bem como sobre o pensamento freudiano sobre a fantasia, a formação onírica e a interpretação de sonhos que permitem realizar uma análise de conteúdos do inconsciente manifestos no enredo. As abordagens mencionadas possibilitarão a análise de temas emergentes no filme, como as guerras, o capitalismo selvagem, a dependência química, a alienação das massas, a desestruturação psíquica, entre outros assuntos. Para uma apreciação no Projeto de Pesquisa de seus Fundamentos Teóricos, que demonstram o alicerce conceitual de um estudo em sua estruturação e conteúdo, segue uma breve exposição do Referencial Teórico do estudo de Jonas em sua proposta de investigação sobre o filme The Wall. Referencial Teórico O estudo de produções cinematográficasse insere no campo do conhecimento interdisciplinar, o que requer um estabelecimento de fronteiras entre as áreas que se encontram implicadas ou que se desejam integrar, que lhes servirão de suporte teórico; são elas que definirão as inter-relações conceituais ao entendimento de produtos audiovisuais. Vanoye (1994) considera um filme como um texto e, para sua análise textual, sugere que se levem em conta duas etapas importantes: em primeiro lugar, a decomposição do filme, que deve descrever todos os detalhes que consideramos fundamentais para, em seguida, estabelecer e compreender as relações entre esses elementos decompostos. Em segundo lugar, menciona o autor, devemos interpretar o filme utilizando a forma de análise que procura descobrir os significados profundos da mensagem apresentada, que pode se embasar em pressupostos da semiótica peirciana, a qual se ocupa com o conteúdo da narrativa e suas relações de representação, com o significado simbólico da mensagem. The Wall traz em seu enredo um personagem central que estrutura a narrativa da trama por sua trajetória existencial, que se apresenta em meio a encaixes e a desencaixes de inúmeras perspectivas de sentido, e destaca 28 o sentimento de angústia do protagonista. Pelo excesso de fragmentos, o enredo se constrói em meio a linguagens empregadas – sonora, visual e simbólica, nas quais é possível considerar a força comunicável dos elementos que provocam reações diversas e paradoxais no espectador, que luta na tentativa de designar sentido ao percebido. Ao longo do filme, podemos notar a utilização de técnicas que desencadeiam processos subjetivos, como a interrupção abrupta de cenas, que de acordo com Turner (1997, p. 68), [...] o corte súbito provoca surpresa, horror e ruptura, portanto tende a ser reservado para momentos em que tal efeito é exigido”. Outra técnica cinematográfica é o close que “transforma o sentido da distância, levando o espectador a uma proximidade psíquica e a uma ‘intimidade’ (Epstein) extremas”. (AUMONT, 2008, p. 141). Assim também acontece com a música, sendo usada para nos transferir de uma cena a outra, levando o espectador a realizar possíveis ligações entre elas. Segundo Chion (1995, p. 189), “a música pode ser vista como um aparelho de tempo/espaço: ela pode nos conectar a outro lugar e a outro tempo, no futuro e no passado”. Com a técnica da animação, o filme ganha originalidade, já que o universo plástico do cinema se mostra restrito às imagens capturadas da realidade, ainda que encenadas. A união do desenho e da pintura com a fotografia e o cinema superou essa limitação através do cinema de animação, que podia fazer uso de formas ilimitadas das artes gráficas explorando as características cinematográficas do filme. (BARBOSA JÚNIOR, 2005, p. 18). Na complexidade da narrativa não linear, pelas imagens que seguem, pela trilha sonora e pelo uso dos fragmentos e animações, observamos inúmeros elementos sígnicos que traduzem muitas possibilidades de interpretação que associam e/ou sobrepõem temáticas sociais e elementos culturais, que estimulam indagações em termos de sua mensagem semiótica e psicológica. Vale destacar que a Semiótica é uma ciência que [...] tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno como fenômeno de produção de significação e de sentido”. (SANTAELLA, 1990, p. 13). O espectro de fatores semióticos permite emergir uma espécie de licença poética para interpretar as memórias de Pink (personagem principal) que, em seu aspecto cognitivo, identifica informações, acontecimentos, expectativas, sentimentos e outros elementos da narrativa subjetiva. A fragmentação das cenas, visível na estrutura da narrativa, reflete a visão do consciente e do inconsciente e de todo o universo em que o personagem está inserido. Os inúmeros fragmentos fazem surgir novos signos visuais mediados por músicas e trilhas sonoras. A música no filme serve de elemento complementar a interpretações, sendo a letra associada à música e à melodia, elementos-chave para a compreensão das cenas. Como menciona Baptista (2007, p. 22), “a música pode simbolizar um filme, isto é, descrever de forma resumida o sentimento principal da narrativa”. The Wall convida a uma apreciação analítica, em especial nas perspectivas semiótica e psicanalítica, na medida em que elementos estruturais da linguagem semiótica e simbolismos associados a conteúdos inconscientes se mostram presentes de modo impregnado no texto fílmico, do começo ao fim. A concepção pierciana atualizada por Santaella (1990, 2000) quanto à compreensão da descrição plástica dos planos, da observação da trilha sonora, do enquadramento, dos ângulos, das cores e das mensagens verbais e não verbais presentes no filme possibilita uma interpretação semiótica que inscreve os elementos concretos do projeto audiovisual em um universo de significados ora abrangentes, ora singulares. Por sua vez, a visão da Psicanálise, em sua abordagem de fatores inconscientes e relevância dada à experiência vivida na trajetória individual do ser humano, pode oferecer uma análise de conteúdo simbólico que interpreta o essencial no roteiro e mensagem do filme. A análise semiótica acrescida da visão psicológica psicanalítica pode traduzir as bases fundamentais dos significados intrínsecos ao complexo cenário de conteúdos presentes em The Wall, visto que existem simultaneamente várias mensagens articuladas apresentadas em várias linguagens e cenários sobrepostos: um delineamento histórico do grupo Pink Floyd, um cenário depressivo pós-guerra da Inglaterra, um clima de angústia representado em vários momentos e uma história pessoal de degradação; conteúdo diverso sendo narrado de modo intrincado no filme. No centro do enredo, o protagonista que testemunha sua experiência de perda e dor, que dá sentido ao tema da desestruturação psíquica que se descortina no filme, participa da expressão plástica comunicacional de maneira inusitada, tal qual o processo de elaboração onírica em seus mecanismos de condensação e deslocamento (FREUD, 1900/1969b)). O filme, apresentado como uma sucessão de breves blocos de mensagens, permeados por grande quantidade de informações de diversas fontes e naturezas, parece assemelhar-se a um cenário de sonho como sugere Freud (1900/1969b, 1900/1969c) em sua Interpretação de Sonhos, e como tal pode ser entendido como materialização de conteúdos presentes no inconsciente pessoal que atestam a existência de objetos mentais como: desejo, 29 frustração, perda, dor e desespero, imaginação e loucura. A trama em The Wall descortina, em seu roteiro fragmentado, um fio condutor cuja sucessão de eventos e significados não estabelece um determinado tempo homogêneo, mas impõe uma percepção por meio das subjetividades que oferecem uma continuidade histórica. Na retomada do passado, o que importa é a possibilidade de narrar experiências vividas e que revelam o sentido dos acontecimentos que dão origem ao presente. A morte do pai gera em Pink, o protagonista, grande desconsolo, a ponto de levá-lo a tentar, ainda na infância, se aproximar de um pai de outra criança, na busca de resgatar esse elo perdido. Essa cena evoca a necessidade da presença da figura paterna na vida de uma criança e a tentativa de encontrar uma solução, ainda que substituta. [...] os pais constituem para a criança pequena a autoridade única e a fonte de todos os conhecimentos. O desejo mais intenso e mais importante da criança nesses primeiros anos é igualar-se aos pais (isto é, ao progenitor do mesmo sexo), e ser grande como seu pai e sua mãe. (FREUD, 1909/1969a, p. 243). A crise emocional de Pink revela sofrimento e cólera, tédio, nostalgia e desespero, representada de maneira concreta em vozes agudas, música eloquente, imagens chocantes, cores e sombras, que anunciam possibilidades desafiadoras de interpretação dos aspectos discursivos e simbólicos do filme. Nesse sentido, a Pesquisa nos dois campos,da Semiótica e da Psicanálise, pode trazer abundantes subsídios para a formulação de novos conceitos encontrados na análise de conteúdo do filme. Na confecção do texto do Referencial Teórico é importante tecer uma construção de pensamento em que fiquem evidentes os principais conceitos acerca do Objeto estudado, as definições que auxiliem a compreensão dos Objetivos da Pesquisa e das bases teóricas que darão sustentação à discussão dos elementos analisados no estudo. As citações de teorias de diferentes abordagens, autores e fontes consultados que compõem os Fundamentos Teóricos e servem como suporte conceitual ao estudo pretendido possuem a finalidade de auxiliar a estruturação de pensamento sobre o conhecimento científico acerca do assunto estudado. 30 1.9. Metodologia As diferentes áreas do conhecimento, para atenderem a busca do desenvolvimento científico, realizam suas investigações segundo Métodos e Procedimentos que lhes permitem evoluir, ampliando teorias e propondo novas Pesquisas. Métodos são os caminhos para se chegar ao objetivo pretendido de uma Pesquisa científica, que dependem de escolhas sobre as estratégias que determinarão a modalidade de estudo e o conjunto de fatores a ela associados (material ou população, instrumentos e procedimentos, análise pretendida de resultados) que permitirão a obtenção de resultados na investigação. A Metodologia da Pesquisa define a maneira como o estudo se desenvolverá para buscar alcançar uma resposta ao Problema de Pesquisa. Na estruturação do Projeto de Pesquisa, o Método determina a escolha dos elementos sobre os quais o estudo se apoiará na prática, a começar pela definição do tipo de Pesquisa que delineará a coleta de dados. Os tipos ou modalidades de Pesquisa são agrupados e classificados pelos estudiosos do assunto, de diferentes maneiras, o que nos permite considerar que há várias formas de compreender a definição dos tipos de Pesquisa. É importante ter em conta que a categorização de uma Pesquisa tem a finalidade de identificar as estratégias pelas quais o estudo pretende alcançar seus resultados, que por sua vez encaminharão as conclusões da Pesquisa. 31 1.9.1. Modalidades de Pesquisa As Pesquisas científicas caracterizam-se segundo a natureza, a abordagem, os objetivos e procedimentos, o que lhes definem elementos pertinentes à sua Metodologia, que estabelecem o processo de desenvolvimento da investigação pretendida. Para Dalbério e Dalbério (2009, p. 165): As pesquisas podem ser classificadas de acordo com seus objetivos gerais. Comumente, são divididas em três grandes grupos: exploratórias, descritivas e explicativas. De acordo com Severino (2013, p. 118-123), as Pesquisas podem ser diferenciadas: (1) segundo a abordagem como Pesquisa Qualitativa e Quantitativa; (2) segundo peculiaridades do Objeto estudado e da participação do pesquisador, em Pesquisa Etnográfica, Pesquisa Participante, Pesquisa-ação e Estudo de Caso; (3) de acordo com a “natureza das fontes” de estudo e “tratamento de seu objeto” em Pesquisa Bibliográfica, Documental, Experimental e Pesquisa de Campo; (4) em relação aos Objetivos de Pesquisa, em Exploratória, Descritiva ou Explicativa. Para Gerhardt e Silveira (2009), os vários tipos de Pesquisa existentes podem ser didaticamente organizados, de acordo com uma diferenciação inicial, em Pesquisa Qualitativa e Quantitativa; em termos da natureza da Pesquisa em Básica e Aplicada; de acordo com seus objetivos em Exploratória, Descritiva e Explicativa; e, ainda, em função de seus procedimentos em Bibliográfica, Documental, Experimental, de Campo, de Levantamento ou Survey,[4] Etnográfica, Estudo de Caso, Pesquisa participante, Pesquisa-ação. A Metodologia adotada em uma investigação científica deve indicar o tipo de Pesquisa e seus fatores estruturantes (material ou participante(s), instrumento(s), procedimentos e análise pretendida) que efetivarão o estudo na prática. “As fases dos métodos podem ser vistas como indicadoras de um caminho [...]” (RUDIO, 1986, p. 15). Os vários autores, em relação aos tipos de Pesquisa, procuram indicar diferentes maneiras de agrupar as várias modalidades de Pesquisa, mas suas definições são todas concordantes, não havendo conflitos sobre a conceituação dos diversos tipos de Pesquisa, isto é, nenhum estudioso descreve uma forma de Pesquisa de modo distinto ou conflitante ao outro estudioso, mas privilegia a existência de uma modalidade à outra. Elegemos uma apresentação das modalidades de Pesquisa que consideramos didática, ou seja: segundo a abordagem, segundo a natureza, segundo os objetivos e segundo os procedimentos da Pesquisa. Os tipos de Pesquisa organizados por categorias (segundo a abordagem, a natureza, os objetivos e os procedimentos) não impõem uma relação de exclusão entre elas, de maneira que um estudo pode ser identificado em mais de uma categoria e assim mencionado, por exemplo: a Pesquisa é de abordagem Qualitativa; segundo sua 32 natureza, é Descritiva; e de acordo com seus procedimentos, é um Estudo de Caso. 33 1.9.1.1. Modalidade de Pesquisa segundo a abordagem São dois os tipos de Pesquisa segundo a abordagem: a Pesquisa Qualitativa e a Pesquisa Quantitativa, que são contrastantes, uma vez que definem formas de abordagem complementares. A Pesquisa Quantitativa busca objetividade e pretende traduzir em números as opiniões e informações coletadas para serem classificadas e analisadas; sendo assim, utiliza-se da linguagem matemática para explicar os fatos através de técnicas estatísticas. Um exemplo de Pesquisa Quantitativa é a investigação do perfil dos usuários brasileiros do Twitter, com mais de 35 anos. O estudo poderia contribuir para identificar as finalidades de utilização desse canal de comunicação entre indivíduos que provavelmente possam ser caraterizados como uma população produtiva no país. Esse estudo investigaria a porcentagem de usuários distribuída por gênero, nível econômico, grau de escolaridade, por exemplo. A Pesquisa Qualitativa, por se tratar de uma abordagem descritiva, aborda aspectos da realidade relacionados ao “universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes” (MINAYO, 2001, p. 14), que não são passíveis de serem objetivados, cujos resultados não são quantificáveis e, sendo assim, as informações obtidas são analisadas de maneira indutiva. Um exemplo de Pesquisa Qualitativa é o estudo da experiência de formação universitária de alunos de Relações Públicas de uma instituição educacional. Essa Pesquisa, baseada na análise do relato de experiências, permitiria um entendimento aprofundado de alguns poucos relatos particulares, mas que poderiam oferecer dados significativos sobre a trajetória profissional desses indivíduos. Para um entendimento sobre as distintas características de Pesquisa Qualitativa e Quantitativa, reproduzimos um quadro comparativo oferecido por Gerhardt e Silveira (2009, p. 34). Pesquisa Quantitativa Pesquisa Qualitativa Focaliza uma quantidade pequena de conceitos Tenta compreender a totalidade do fenômeno, mais do que focalizar conceitos específicos Inicia com ideias preconcebidas do modo como os conceitos estão relacionados Possui poucas ideias preconcebidas e salienta a importância das interpretações dos eventos mais do que a interpretação do pesquisador Utiliza procedimentos estruturados e instrumentos formais para coleta de dados Coleta dados sem instrumentos formais e estruturados Coleta os dados mediante condições de controle Não tenta controlar o contexto da pesquisa, e, sim, captar o contexto na totalidade Enfatiza a objetividade, na coleta e análise dos dados Enfatiza o subjetivo como meio de compreender e interpretar as experiências Analisa os dados numéricos através de procedimentos estatísticos Analisa as informações narradas de uma forma organizada, mas intuitiva 34 Quadro 1 – Características comparativas entre Pesquisa Quantitativa e Qualitativa. Fonte: Elaborado por Gerhardt e Silveira (2009) (UFRS), a partir de: POLIT et al. (2004).35 1.9.1.2. Modalidades de Pesquisa segundo a natureza A Pesquisa Básica, também denominada Pesquisa Pura ou Teórica, é aquela que amplia o conhecimento científico a partir de novas articulações teóricas e proposições conceituais. Nas palavras de Cervo e Bervian (1996, p. 47), a Pesquisa Básica ocorre quando: “o pesquisador tem como meta o saber, buscando satisfazer uma necessidade intelectual pelo conhecimento”. O objetivo é “o enriquecimento do conhecimento científico” em que o pesquisador busca “desenvolver novas teorias, criar novos modelos teóricos ou estabelecer novas hipóteses de trabalho nos vários campos do saber humano, quer por dedução, quer por indução, quer por analogia”. (PARRA FILHO; SANTOS, 1998, p. 101). Nas palavras de Haack (1976, p. 113): [...] a dedução envolve um raciocínio que parte do geral para o particular, logo aceitamos como sendo válidas as conclusões obtidas. O raciocínio indutivo parte da observação de um certo número de antecedentes para concluir como provável todos os casos da mesma espécie. Ex: todos os corvos observados são pretos, logo todos os corvos são pretos. Outra forma de raciocínio é o que se dá pela comparação, ou seja, é pela analogia que podemos observar duas ou mais coisas de espécie diferentes para obtermos conclusões prováveis. Darwin, em sua busca de entendimento sobre a origem das espécies, oferece um exemplo de Pesquisa Teórica “que contribuiu para a evolução de novas ideias e de novas discussões sobre os seres vivos” (PARRA FILHO; SANTOS, 1998, p. 101). Em sua Teoria da Evolução das Espécies partiu da minuciosa observação das estruturas biológicas que se assemelhavam nas diferentes espécies e construiu um corpo de conhecimentos teóricos coerente e consistente sobre a origem e o desenvolvimento das espécies vivas. Sua Teoria revolucionária, que continua válida até nossos dias, não foi refutada ou substituída por outra. Na Pesquisa Aplicada, “o investigador é movido pela necessidade de contribuir para fins práticos mais ou menos imediatos” e busca “soluções para problemas concretos” (CERVO; BERVIAN, 1996, p. 47). A Pesquisa Aplicada, por sua vez, é aquela em que o pesquisador busca uma solução para uma necessidade existente na realidade, procura responder a uma questão que se mostra urgente. Os estudos aplicados partem de “contribuições de teorias e leis já existentes” (PARRA FILHO; SANTOS, 1998, p. 101) que oferecem suporte ao desenvolvimento de respostas palpáveis a questões imediatas, como no caso da elaboração de vacinas, na proposição de procedimentos novos em processos já existentes etc. Podemos identificar inúmeros exemplos de Pesquisa Aplicada, como: a descoberta de novos medicamentos; a criação de sistemas de ensino; de técnicas de edição de material audiovisual; de procedimentos organizacionais; de novos formatos de comunicação de massa etc. 36 1.9.1.3. Modalidades da Pesquisa segundo objetivos As Pesquisas podem ser caracterizadas, segundo seus objetivos, em três modalidades. De acordo com Gil (2008), são elas: Exploratória, Descritiva ou Explicativa. A Pesquisa Exploratória é um tipo de Pesquisa que visa tornar familiares novos Objetos de estudo, muitas vezes buscando constituir um conhecimento que permita posteriormente elaborar Hipóteses. Para Gil (2008), podemos classificar as Pesquisas Bibliográficas e os Estudos de Caso nessa modalidade de Pesquisa. A Pesquisa Descritiva é uma modalidade de estudo que busca descrever o Objeto de estudo para dar a conhecer o que se pretende pesquisar; o conhecimento é fruto da observação e detalhada apresentação de elementos pertinentes ao observado. A Pesquisa Descritiva “está interessada em descobrir e observar fenômenos, procurando descrevê-los, classificá-los e interpretá-los” (RUDIO, 1997, p. 56). O estudo descritivo: [...] observa, descreve, analisa e correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá- los, Procura descobrir, com a precisão possível, a frequência com que um fenômeno ocorre, sua relação e conexão com os outros, sua natureza e características. (CERVO; BERVIAN, 1996, p. 49). Nessa categoria de Pesquisa podemos classificar, segundo os mesmos autores, os estudos Exploratórios, de Opinião, de Motivação, Documentais e o Estudo de Caso. A Pesquisa Explicativa é uma modalidade de estudo que busca a causa de determinação do Objeto estudado, aquilo que possa explicá-lo identificando fatores determinantes para sua existência. Estudos cujo propósito é explicativo preocupam-se em esclarecer os fatores que explicam os fenômenos estudados, caracterizando-se como estudos Experimentais que buscam estabelecer a relação de causa e efeito, o porquê de determinado fenômeno (GIL, 2008; GERHARDT; SILVEIRA, 2009; CERVO; BERVIAN, 1996). O discernimento entre as modalidades de Pesquisa auxilia a tomada de decisões acerca da escolha da amostra e dos procedimentos metodológicos a serem adotados no estudo pretendido. Nesse sentido, a clareza dos objetivos do estudo pode facilitar a identificação. Cervo e Bervian (1996, p. 51) afirmam que: [...] a pesquisa descritiva procura classificar, explicar e interpretar os fenômenos que ocorrem, a pesquisa experimental pretende dizer de que modo ou por que causas o fenômeno é produzido. 37 1.9.1.4. Modalidades da Pesquisa segundo procedimentos A Pesquisa Bibliográfica é uma modalidade de estudo que pode se caracterizar como todo e como parte, isto é, pode se constituir como um tipo de Pesquisa que se destina ao levantamento de referencial bibliográfico acerca de um Tema (quando o estudo proposto é de natureza Teórica, toda voltada à Pesquisa de dados conceituais e fontes teóricas) ou, pode-se configurar como uma das partes pertencentes a uma Pesquisa, quando participa da elaboração dos Fundamentos Teóricos (toda e qualquer Pesquisa prescinde de estudo bibliográfico). Na proposta de Pesquisa Descritiva ou Explicativa, por exemplo, deve haver um estudo teórico. Como parte de uma proposta de Pesquisa, qualquer que seja, o levantamento bibliográfico também pode ser apresentado como um elemento diferenciado em destaque, configurando uma seção de atualização de estudos sobre o assunto, que poderá configurar o estado da arte daquele Tema ou Objeto pesquisado. A Pesquisa Bibliográfica em resumo, [...] procura explicar um problema a partir de referências teóricas publicadas em documentos. Pode ser realizada independentemente ou como parte de pesquisa descritiva ou experimental. (CERVO; BERVIAN, 1996, p. 48). Enquanto a Pesquisa Bibliográfica utiliza livros, artigos científicos e similares (teses, por exemplo), a Pesquisa Documental amplia suas fontes utilizando-se de tabelas estatísticas, jornais, revistas, fotos, filmes, gravações, relatórios, cartas, documentos oficiais, pinturas, programas de televisão etc. (SEVERINO, 2013; CERVO; BERVIAN, 1996). A Pesquisa Documental é aquela que contribui com a ampliação do conhecimento quando estuda documentos variados, sejam oriundos dos diversos meios de comunicação como o rádio, a internet etc., sejam quando utilizam os inúmeros registros da experiência humana, como a catalogação de objetos, os desenhos, as peças publicitárias, as apresentações teatrais etc. A Pesquisa Documental mostra grande proximidade em termos procedimentais em relação à Pesquisa Bibliográfica na medida em que ambas se baseiam em estudos vinculados a fontes de dados existentes, físicas ou digitais, mas que se distinguem em relação à modalidade dos documentos consultados, o que as caracterizam. Na Pesquisa Experimental “o pesquisador seleciona determinadas variáveis e testa suas relações funcionais, utilizando formas de controle”. (SEVERINO, 2013, p. 123). A Pesquisa Experimental é uma modalidade de estudo que implica a realização de intervenções no processo de investigação, que visam à obtenção de resultados esperados ou resultados desconhecidos que possam confirmar, ou não, relações existentes entre determinadas variáveis. Em geral, esse estudo ocorre em ambientes controlados como um laboratório, mas 38 pode
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