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Assim como a metafísica busca 
conhecer o que está além do 
mundo físico, a arte abstrata 
vai além da representação, ou 
seja, da cópia dos objetos da 
realidade exterior. O essencial 
dessa arte se expressa por 
recursos como a linha, a cor, 
a mancha na obra da série 
Abstraktes Bild (em alemão, 
‘Pintura abstrata’), de Gerhard 
Richter, contemplada por uma 
mulher nesta foto de 2013.
capítulo
19
A metafísica
O que é uma coisa? E um objeto? O que é a subjetividade? 
O que é o corpo humano? E uma consciência? 
Perguntas como essas constituem o campo da metafísica, 
ainda que nem sempre as mesmas palavras tenham sido 
usadas para formulá-las. Por exemplo, um filósofo grego 
não falaria em “nada”, mas em “Não-Ser”. Não falaria 
em “objeto”, mas em “ente”, pois a palavra objeto só foi 
usada a partir da Idade Média e, no sentido em que a 
empregamos hoje, só foi usada depois do século XVII.
Também não falaria em “consciência”, mas em psyché, 
isto é, em “alma”. Jamais falaria em “subjetividade”, 
pois essa palavra, com o sentido que lhe damos hoje, 
só foi usada a partir do século XVIII. A mudança 
do vocabulário da filosofia no curso dos séculos 
indica que mudaram os modos de formular as 
questões e respondê-las, pois a filosofia está 
na história e possui uma história. 
No entanto, sob essas mudanças 
profundas, permaneceu a questão 
metafísica fundamental: “O que é?”.
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As indagações metafísicas
A metafísica é a investigação filosófica que gira em tor-
no da pergunta “O que é?”. Este “é” possui dois sentidos: 
1. significa ‘existe’, de modo que a pergunta se refere à 
existência da realidade e pode ser transcrita como: 
“O que existe?”;
2. significa ‘natureza própria de alguma coisa’, de modo 
que a pergunta se refere à essência da realidade, po-
dendo ser transcrita como: “Qual é a essência daqui-
lo que existe?”.
Existência e essência da realidade em seus múltiplos 
aspectos são, assim, os temas principais da metafísica. 
Ela investiga os fundamentos, os princípios e as causas 
de todas as coisas e o ser íntimo de todas as coisas, in-
dagando por que elas existem e por que são o que são. 
A história da metafísica pode ser dividida em três 
grandes períodos, o primeiro deles separado dos outros 
dois pela filosofia de David Hume:
1. período que vai de Platão e Aristóteles (séculos IV e 
III a.C.) até Hume (século XVIII d.C.); 
2. período que vai de Kant (século XVIII) até a fenome-
nologia de Husserl (século XX); 
3. metafísica ou ontologia contemporânea, a partir dos 
anos 1920.
Características da metafísica 
em seus períodos
No primeiro período, a metafísica possui as seguin-
tes características:
 E investiga aquilo que é ou existe, a realidade em si; 
 E é um conhecimento racional apriorístico, isto é, não 
se baseia nos dados obtidos pela experiência sensível 
(nos dados empíricos), mas nos puros conceitos for-
mulados pelo pensamento puro ou pelo intelecto; 
 E é um conhecimento sistemático, isto é, cada conceito 
depende de outros e se relaciona com outros, forman-
do um sistema coerente de ideias ligadas entre si;
 E exige a distinção entre ser e parecer ou entre reali-
dade e aparência, seja porque, para alguns filósofos, 
a aparência é irreal e falsa, seja porque, para outros, a 
aparência só pode ser compreendida e explicada 
pelo conhecimento da realidade que subjaz a ela. 
Esse primeiro período da metafísica termina quando 
Hume explica que os conceitos metafísicos não corres-
pondem a nenhuma realidade existente em si mesma e 
independente de nós, mas são meros nomes gerais que 
nos vêm pelo hábito mental ou psíquico de associar em 
ideias as sensações, as percepções e as impressões dos 
sentidos, quando são constantes, frequentes e regulares.
A traição das imagens, obra de 1928 do pintor 
belga René Magritte. Abaixo do cachimbo 
retratado, aparece a frase “Ceci n’est pas une 
pipe” (‘Isto não é um cachimbo’, em francês). 
A metafísica exige a distinção entre a 
realidade e a aparência.
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O segundo período tem seu centro na filosofia de 
Kant, que demonstra a impossibilidade dos conceitos 
tradicionais da metafísica para alcançar e conhecer a 
realidade em si das coisas. Em seu lugar, como vimos no 
Capítulo 9, Kant propõe que a metafísica seja o conhe-
cimento de nossa própria capacidade de conhecer — 
seja uma crítica da razão pura teórica.
A metafísica poderá continuar usando o mesmo 
vocabulário que usava tradicionalmente, mas o senti-
do conceitual das palavras mudará totalmente, pois 
não se refere ao que existe em si e por si, mas ao que 
existe para nós e é organizado por nossa razão. Embo-
ra com muitas diferenças (que veremos mais tarde), 
Husserl trilhará um caminho próximo ao de Kant. 
A metafísica contemporânea é chamada de onto-
logia (veremos adiante o sentido dessa palavra) e pro-
cura superar tanto a antiga metafísica quanto a con-
cepção kantiana. Considera o objeto da metafísica a 
relação originária mundo-homem. Seus principais 
objetivos são:
 E investigar os diferentes modos como os entes ou os 
seres existem; 
 E investigar a essência ou o sentido (a significação) e a 
estrutura desses entes ou seres; 
 E investigar a relação necessária entre a existência e 
a essência dos entes e o modo como aparecem 
para nossa consciência, por meio das várias for-
mas em que a consciência se realiza (percepção, 
imaginação, memória, linguagem, intersubjetivi-
dade, reflexão, ação moral e política, prática artís-
tica, técnicas); 
 E fornecer uma descrição das estruturas do mundo e 
do nosso pensamento; o que faz com que alguns 
considerem que a metafísica ou ontologia contem-
porânea deva ser chamada de descritiva, distinguin-
do-se das metafísicas anteriores, que ofereciam uma 
explicação causal da realidade. 
O nascimento da metafísica
O realismo da filosofia nascente
Como vimos na Unidade 5, embora a filosofia sem-
pre tenha tratado dos problemas do conhecimento 
verdadeiro, o sujeito do conhecimento só se tornou 
ponto de partida para a atividade filosófica com o ra-
cionalismo clássico ou moderno, no século XVII. Sua 
indagação era: “Pode nosso pensamento conhecer a 
realidade?”. 
Antes disso, a questão proposta pelos filósofos des-
de a Grécia antiga era: “O que é a realidade que nosso 
pensamento conhece?”. Assim, a filosofia iniciava sua 
investigação voltando-se para o objeto do conhecimen-
to, partindo da afirmação da existência da realidade e 
de que ela poderia ser conhecida verdadeiramente pela 
razão ou pelo pensamento. 
Porque a pergunta inicial tinha como pressuposto 
a existência da realidade exterior ao pensamento, 
costuma-se dizer que a filosofia nasceu como um 
rea lismo, e desse realismo surgiu a metafísica.
Da cosmologia à metafísica
A filosofia nasce da admiração e do espanto, dizem 
Platão e Aristóteles. Admiração: “Por que o mundo 
existe?”. Espanto: “Por que o mundo é tal como é?”. 
Desde seu nascimento, a filosofia perguntou: “O que 
existe?”, “Por que existe?”, “O que é isso que existe?”, 
“Como é isso que existe?”, “Por que e como surge, muda 
e desaparece?”, “Por que a natureza ou o mundo se 
mantêm ordenados e constantes, apesar da mudança 
contínua de todas as coisas?”.
Como vimos na Unidade 1, essas perguntas levaram 
os primeiros filósofos a buscar uma explicação racional 
para a origem de um mundo ordenado, o cosmo. Por 
esse motivo, a filosofia nasce como cosmologia. A bus-
ca do princípio que causa e ordena tudo quanto existe 
na natureza (minerais, vegetais, animais, humanos, as-
tros, qualidades como úmido, seco, quente,frio) e tudo 
quanto nela acontece (dia e noite, estações do ano, nas-
cimento, transformação e morte, bem e mal, belo e 
feio, etc.) foi a busca de uma força natural denominada 
pelos primeiros filósofos com o nome de physis. A cos-
mologia era uma explicação racional sobre a physis e, 
portanto, uma física, ou, como a chamava Aristóteles, 
uma fisiologia – isto é, o estudo da physis. 
Como, então, surgiu a metafísica? Como surgiu um 
saber que suplantou a cosmologia ou física dos primei-
ros filósofos? Como e por que a metafísica acabou 
tornando-se o centro e a disciplina mais importante 
da filosofia? 
crítica
Kant emprega a palavra crític
a no sentido que 
possuía em grego: ‘estudo da
s condições da 
possibilidade de algo’ – no ca
so, esse algo seria o 
conhecimento verdadeiro. Su
a obra Crítica da razão 
pura analisa a estrutura da raz
ão humana como 
atividade teórica de conhecim
ento. 
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tà meta tà physica
Em grego, tà significa ‘aquele
s’; meta: ‘após, 
depois’; tà physica: ‘aqueles d
a física’. Assim, a 
expressão tà meta tà physica s
ignifica, literalmente, 
‘aqueles [escritos] que estão [
catalogados] após os 
[escritos] da física’.
Metafísica ou ontologia?
A palavra metafísica não foi empregada pelos filóso-
fos gregos. Foi usada pela primeira vez por Andrônico 
de Rodes, por volta do ano 50 a.C., quando recolheu e 
classificou as obras de Aristóteles que haviam ficado 
dispersas e perdidas durante muitos séculos. Com essa 
sentença — tà meta tà physica —, o organizador 
dos textos aristotélicos indicava um conjunto de escri-
tos que, em sua classificação, localizavam-se após os 
tratados sobre a física ou sobre a natureza.
Ora, os escritos que Andrônico de Rodes pospôs aos 
escritos de física haviam recebido uma designação por 
parte do próprio Aristóteles quando este definira o as-
sunto de que tratavam: são os escritos da Filosofia Pri-
meira, cujo tema é o estudo do “Ser enquanto Ser”. Des-
se modo, o que Aristóteles chamou de Filosofia 
Primeira passou a ser designado como metafísica. 
No século XVII, o filósofo alemão Jacobus Thoma-
sius considerou que a palavra correta para designar os 
estudos da metafísica ou Filosofia Primeira seria ontolo-
gia. Essa palavra é composta de duas outras: onto e lo-
gia. Onto vem de tò on, que significa ‘o Ser’. O Ser é o 
que é realmente e se opõe ao que parece ser, à aparên-
cia. Assim, ontologia significa estudo ou conhecimento 
do Ser, dos entes ou das coisas tais como são em si mes-
mas, real e verdadeiramente, correspondendo ao que 
Aristóteles chamara de Filosofia Primeira, isto é, o estu-
do do Ser enquanto Ser.
Por que Thomasius julgou a palavra ontologia mais 
adequada do que metafísica? Para responder a essa 
pergunta, devemos retomar o que escreveu Aristóteles 
quando propôs a Filosofia Primeira. 
Ao definir a Filosofia Primeira, Aristóteles afirmou 
que ela estuda o ser das coisas, a ousía. A palavra ousía 
é o feminino do particípio presente do verbo ser grego 
(einai). Os pensadores e escritores latinos, ao traduzir 
as obras dos filósofos gregos, procuraram um corres-
pondente para ousía e inventaram a palavra essentia, 
pois em latim o verbo ser é esse. Em português, o ter-
mo ousía significa ‘essência’, porque é traduzido da 
palavra latina essentia.
Assim, a Filosofia Primeira é o estudo ou o conheci-
mento da essência das coisas ou do ser real e verdadeiro 
das coisas, daquilo que elas são em si mesmas, apesar 
das aparências que possam ter e das mudanças que 
possam sofrer. 
Onto, tò on
Onto deriva de dois substantiv
os gregos, tà onta 
(‘os bens e as coisas realment
e possuídos por 
alguém’; e ‘as coisas realmen
te existentes’). Tà onta 
deriva do verbo einai (‘ser’, em
 grego). O particípio 
presente desse verbo se diz o
n (‘sendo’, ‘ente’). 
Dessa maneira, as palavras tà
 onta (‘as coisas’) e on 
(‘ente’) levaram a tò on (‘o Ser
’).
Exposição “Em louvor 
da diversidade: bancos 
do Brasil”, realizada em 
setembro de 2012, 
em Amsterdã, capital 
da Holanda. A Filosofia 
Primeira estuda o Ser das 
coisas, a essentia. Assim, 
a ela não importa a 
aparência que um banco 
pode ter, mas o que faz 
dele um Ser.
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Thomasius considerou que Aristóteles definira a Filo-
sofia Primeira como o estudo do Ser enquanto Ser para 
significar que ela não estuda esta ou aquela coisa, este ou 
aquele ente, mas busca aquilo que faz de um ente ou de 
uma coisa um Ser. Busca a essência de um ente ou 
de uma coisa. Por isso, sendo o estudo da ousía e porque 
a ousía oferece o ser real e verdadeiro de um ente, a Filo-
sofia Primeira deveria ser designada com a palavra onto-
logia. Nesse caso, a palavra metafísica seria apenas a indi-
cação do lugar ocupado nas estantes pelos livros 
aristotélicos de Filosofia Primeira, localizados depois dos 
tratados sobre a física ou a natureza. 
Por que, então, a tradição filosófica consagrou a pa-
lavra metafísica em vez de ontologia? Porque Aristóte-
les, ao definir a Filosofia Primeira, também afirmou 
que ela estuda os primeiros princípios e as causas 
primeiras de todos os seres ou de todas as essências, 
estudo que deve vir antes de todos os outros, porque 
é a condição de todos eles. 
Que quer dizer “vir antes”? Para Aristóteles, significa ‘es-
tar acima dos demais, estar além do que vem depois, ser 
superior ao que vem depois, ser a condição da existência e 
do conhecimento do que vem depois’. Ora, a palavra meta 
quer dizer exatamente isso: ‘o que está além de’, ‘o que está 
acima de’, ‘o que vem depois’, mas no sentido de ser supe-
rior ou de ser a condição de alguma coisa. Se assim é, então 
a palavra metafísica não indica um mero lugar num catá-
logo de obras, mas significa o estudo de alguma coisa que 
está acima e além das coisas físicas ou naturais e que é a 
condição da existência e do conhecimento delas. 
Por isso, a tradição consagrou a palavra metafísica 
em vez da palavra ontologia. Metafísica, nesse caso, 
quer dizer: ‘aquilo que é condição e fundamento de 
tudo o que existe e de tudo o que puder ser conhecido’.
Até aqui respondemos à pergunta: “Por que metafí-
sica em lugar de ontologia?”. Mas ainda não responde-
mos à pergunta principal: “Por que a metafísica ou on-
tologia ocupou o lugar que, no início da filosofia, era 
ocupado pela cosmologia ou física?”. Para isso, precisa-
mos acompanhar os motivos que levaram a uma crise 
da cosmologia e ao surgimento da ontologia, que aca-
baria recebendo o nome de metafísica.
O surgimento da ontologia: Parmênides de Eleia
Quando estudamos o surgimento da lógica, vimos a 
importância do pensamento de Parmênides. Foi ele o 
primeiro filósofo a afirmar que o mundo percebido por 
nossos sentidos — o cosmo estudado pela cosmologia 
— é um mundo ilusório, feito de aparências, sobre as 
quais formulamos nossas opiniões. Foi ele também o 
primeiro a contrapor a esse mundo mutável a ideia de 
um pensamento e de um discurso verdadeiros referi-
dos àquilo que é realmente, ao Ser — tò on, on.
O Ser é, diz Parmênides. Com isso, pretendeu dizer 
que o Ser é sempre idêntico a si mesmo, imutável, eterno, 
imperecível, invisível aos nossos sentidos e visível apenas 
para o pensamento. Foi Parmênides o primeiro a dizer 
que a aparência sensível das coisas da natureza não 
possui realidade, não existe real e verdadeiramente, 
não é. Contrapôs, assim, o Ser (on) ao Não-Ser (me on), 
declarando: “o Não-Ser não é”. A filosofia é chamada por 
Parmênides de “a Via da Verdade” (alétheia), que nega 
realidade e conhecimento à “Via de Opinião” (dóxa), pois 
esta se ocupa com as aparências, com o Não-Ser.
Ora, a cosmologia ou física ocupava-se justamentecom o mundo que percebemos e no qual vivemos com 
as demais coisas naturais. Ocupava-se com a natureza 
como um cosmo ou ordem regular e constante de sur-
gimento, transformação e desaparecimento das coisas. 
A cosmologia buscava a explicação para o devir, isto é, 
para a passagem de uma coisa a um outro modo de 
existir, contrário ao que possuía. 
Parmênides tornou a cosmologia impossível ao afir-
mar que o pensamento verdadeiro exige a identidade, a 
não transformação e a não contradição do Ser. Consi-
derando a mudança de uma coisa em outra contrária 
como o Não-Ser, Parmênides também afirmava que o 
Ser não muda porque não tem como nem por que mu-
dar e não tem no que mudar, pois, se mudasse, deixaria 
de ser o Ser, tornando-se contrário a si mesmo, o Não-
-Ser. Como consequência, mostrou que o pensamento 
verdadeiro não admite a multiplicidade ou pluralidade 
de seres e que o Ser é uno e único. 
Os argumentos da Escola Eleata eram rigorosos:
 E admitamos que o Ser não seja uno, mas múltiplo. 
Nesse caso, cada ser é ele mesmo e não é os outros 
seres; portanto, cada ser é e não é ao mesmo tempo, 
o que é impensável ou absurdo. O Ser é uno e não 
pode ser múltiplo;
 E admitamos que o Ser não seja eterno, mas teve um 
começo e terá um fim. Antes dele, o que havia? Ou-
tro Ser? Não, pois o Ser é uno. O Não-Ser? Não, pois o 
Não-Ser é o nada. Portanto, o Ser não pode ter tido 
um começo. Terá um fim? Se tiver, o que virá depois 
dele? Outro Ser? Não, pois o Ser é uno. O Não-Ser? 
Não, pois o Não-Ser é o nada. Portanto, o Ser não 
pode acabar. Sem começo e sem fim, o Ser é eterno; 
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 E admitamos que o Ser não seja imutável, mas mutá-
vel. No que o Ser mudaria? Noutro Ser? Não, pois o 
Ser é uno. No Não-Ser? Não, pois o Não-Ser é o nada. 
Portanto, se o Ser mudasse, tornar-se-ia Não-Ser e 
desapareceria. O Ser é imutável e o devir é uma ilu-
são de nossos sentidos. 
O que Parmênides afirmava era a diferença entre 
pensar e perceber. Percebemos a natureza na multiplici-
dade e na mutabilidade das coisas que se transformam 
umas nas outras. Mas pensamos o Ser, isto é, a identida-
de, a unidade, a imutabilidade e a eternidade daquilo 
que é em si mesmo. Perceber é ver aparências. Pensar é 
contemplar a realidade como idêntica a si mesma. Pen-
sar é contemplar o tò on, o Ser.
Multiplicidade, mudança, nascimento e perecimen-
to são aparências, ilusões dos sentidos. Ao abandoná-
-las, a filosofia passou da cosmologia à ontologia.
Platão e o mundo das essências
O mundo sensível e o mundo inteligível
Também ao estudarmos a lógica, vimos que Platão 
dedicou a sua obra à resolução do impasse filosófico 
criado pelo antagonismo entre o pensamento de Herá-
clito de Éfeso e o de Parmênides de Eleia. 
Platão considerou que Heráclito tinha razão no que 
se refere ao mundo material e sensível, mundo das ima-
gens e das opiniões. A matéria, diz Platão, é, por essên-
cia e por natureza, algo imperfeito, que não consegue 
manter a identidade das coisas, mudando sem cessar, 
passando de um estado a outro, contrário ou oposto. 
Assim, do mundo material só nos chegam as aparências 
das coisas e sobre ele só podemos ter opiniões contrá-
rias e contraditórias.
Por esse motivo, diz Platão, Parmênides está certo ao 
exigir que a filosofia abandone esse mundo sensível e 
ocupe-se com o mundo verdadeiro, invisível aos senti-
dos e visível apenas ao puro pensamento. O verdadeiro 
é o Ser, uno, imutável, idêntico a si mesmo, eterno, im-
perecível, puramente inteligível. 
Eis por que a ontologia platônica introduz uma di-
visão, afirmando a existência de dois mundos inteira-
mente diferentes e separados: o mundo sensível da 
mudança, da aparência, do devir dos contrários, e o 
mundo inteligível da identidade, da permanência, da 
verdade, conhecido pelo intelecto puro, sem nenhu-
ma interferência dos sentidos e das opiniões. O pri-
meiro é o mundo das coisas. O segundo, o mundo das 
ideias ou das essências verdadeiras. O mundo das ideias 
é o mundo do Ser; o mundo sensível das coisas é o mun-
do do Não-Ser. O mundo sensível é uma sombra, uma 
cópia deformada ou imperfeita do mundo das ideias. 
Há, aqui, uma diferença entre a ontologia de Parmê-
nides e a de Platão. Para o primeiro, o mundo sensível 
das aparências é o Não-Ser em sentido forte, isto é, não 
existe, não tem realidade nenhuma, é o nada. Para Pla-
tão, porém, o Não-Ser não é o puro nada. Ele é alguma 
coisa. O que ele é? Ele é o outro do Ser, o que é diferente 
do Ser, o que é inferior ao Ser, o que nos engana e nos 
ilude, a causa dos erros. Em lugar de ser um puro nada, 
o Não-Ser é um falso ser, uma sombra do Ser verdadei-
ro, aquilo que Platão chama de Pseudosser. 
Há ainda outra diferença importante entre a ontolo-
gia de Parmênides e a de Platão. O primeiro afirmava 
que o Ser, além de imutável, eterno e idêntico a si mes-
mo, era único ou uno. Havia o Ser. Qual o problema 
dessa afirmação parmenideana? 
Se Parmênides não admitia a multiplicidade infinita 
de seres contrários uns aos outros e a si mesmos do de-
vir heraclitiano, visto que o pensamento exige a identi-
dade do pensado, o que restava à filosofia ao se admitir 
uma identidade una-única? Só lhe restava pensar e di-
zer três frases: “o Ser é”, “o Não-Ser não é” e “o Ser é uno, 
idêntico, eterno e imutável”. Assim, Parmênides parali-
sava a filosofia. 
Se a filosofia quisesse prosseguir como investigação 
da verdade e se tivesse mais objetos a conhecer, era pre-
ciso quebrar essa unidade-unicidade do Ser. Foi o que 
fez Platão. O que disse ele?
Turista escolhe uma colcha em Jaisalmer, Índia, em 2012. 
Segundo as ideias de Platão, quando tocamos um tecido, vemos 
sua cor, sua estampa e sua trama, não temos contato com 
sua essência verdadeira, e sim com a aparência ilusória que os 
sentidos nos fornecem. Esse conhecimento ilusório gera a dóxa 
(‘opinião’), que varia de indivíduo para indivíduo.
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A solução de um impasse
Em primeiro lugar, seguindo Sócrates e os sofistas, 
Platão distinguiu três sentidos para a palavra ser: o 
sentido de substantivo, isto é, de realidade existente 
(‘o ser’, ‘um ser’); o sentido verbal forte, em que é signi-
fica ‘existe’ e ser quer dizer ‘existência’ (“O homem é”, 
isto é, “existe”); e o sentido verbal mais fraco, predica-
tivo, em que o verbo ser é o verbo de ligação, isto é, o 
verbo que permite ligar um sujeito e seu predicado 
(“O homem é mortal”). 
Em segundo lugar, afirmou que, no sentido forte de 
ser (isto é, como substantivo e como verbo existencial), 
existem múltiplos seres e não um só, mas cada um deles 
possui os atributos do Ser de Parmênides (identidade, 
unidade, eternidade, imutabilidade). Esses seres são as 
ideias ou formas inteligíveis, totalmente imateriais, que 
constituem o mundo verdadeiro, o mundo inteligível.
Em terceiro lugar, afirmou que, no sentido mais fraco 
do verbo ser, isto é, como verbo de ligação, cada ideia é 
um ser real, que possui um conjunto de predicados reais 
ou de propriedades essenciais e que a fazem ser o que 
ela é em si mesma. Uma ideia é (existe) e uma ideia é 
uma essência ou conjunto de qualidades essenciais que 
a fazem ser o que ela é necessariamente. Por exemplo, a 
justiça é (há a ideia de justiça) e há seres humanos que 
são justos (possuem o predicado da justiça como parte 
de sua essência).
Dessa maneira, cada ideia, em si mesma, é como o 
Ser de Parmênides: una, idêntica a si mesma, eterna e 
imutável — uma ideia é. Ao mesmo tempo, cada ideia 
difere de todas as outras pelo conjunto de qualidades 
ou propriedades internas e necessárias pelas quais ela é 
uma essência determinada, diferentedas demais (a 
ideia de homem é diferente da ideia de planeta, que é 
diferente da ideia de beleza, etc.).
A tarefa da filosofia é dupla: 
1. deve conhecer quais ideias existem, isto é, quais 
ideias são;
2. deve conhecer quais são as qualidades ou proprieda-
des essenciais de uma ideia, isto é, o que uma ideia é, 
sua essência.
As ideias ou formas inteligíveis (ou essências inteligí-
veis), diz Platão, são seres perfeitos e, por isso, tornam-
-se modelos inteligíveis ou paradigmas inteligíveis per-
feitos que as coisas sensíveis materiais tentam imitar 
imperfeitamente. O sensível é, pois, uma imitação im-
perfeita do inteligível: as coisas sensíveis são imagens 
das ideias, são Não-Seres tentando inutilmente imitar a 
perfeição dos seres inteligíveis. 
Filosofia e senso comum
Desde a Antiguidade, a tradição filosófica tem enfatizado a descontinuidade entre fi-
losofia e senso comum [...].
O pensamento antigo opunha opinião (doxa) e ciência (episteme). A noção de opinião, 
significando um conhecimento ou crença sem nenhuma garantia de sua validade, pode 
ser encontrada em Parmênides, que estabelece uma distinção entre a verdade e “as opi-
niões dos mortais, em que não há certeza” (Fragmento 1). Em seu poema, a verdade apa-
rece como divina, existindo num domínio que lhe é próprio e que não pode ser alcança-
do por nenhum dos caminhos comumente seguidos pelos homens. Também Heráclito 
critica os que “acreditam nos cantores de rua e seu mestre é a massa” (Fragmento 104) e 
considera que “as opiniões dos homens são jogos de crianças” (Fragmento 70). A oposi-
ção entre doxa e episteme foi consagrada por Platão, para quem a opinião, limitando-se ao 
mundo sensível, reino do devir, constitui o oposto da ciência, conhecimento das essên-
cias imutáveis e subsistentes.
Daí em diante o desenvolvimento histórico da filosofia, por diferentes formulações, rea-
firmou inúmeras vezes a distância entre a filosofia e o homem comum, entre o saber filosó-
fico e o senso comum. Mesmo aceitando a tese aristotélica da existência de uma curiosida-
de natural ou de um desejo de conhecer em todos os homens, é forçoso reconhecer que 
não existe uma continuidade imediata entre senso comum e atividade filosófica.
RODR IGO, Lídia Maria. 
Filosofia em sala de aula – 
teoria e prática para o 
ensino médio. Campinas: 
Autores Associados, 
2009. p. 12-3.
diálogos
filosóficos
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Cabe à filosofia passar das cópias imperfeitas aos 
modelos perfeitos, abandonando as imagens pelas es-
sências, as opiniões pelas ideias, as aparências pelas 
essências. O pensamento, empregando a dialética, 
deve passar da instabilidade contraditória das coisas 
sensíveis à identidade racional das coisas inteligíveis.
Dialética platônica: do sensível ao inteligível
Os diálogos de Platão põem em marcha a dialética, 
isto é, o caminho seguro (méthodos, em grego) que nos 
conduz das sensações, das percepções, das imagens e das 
opiniões à contemplação intelectual do ser real das coi-
sas, à ideia verdadeira. A dialética permite a passagem da 
dóxa (opinião) à episteme (ciência ou saber). Tomemos 
um diálogo para acompanharmos o procedimento pla-
tônico. O banquete busca a ideia ou a essência do amor.
Numa festa, oferecida por um poeta premiado, con-
versam cinco amigos e Sócrates. Um deles afirma que 
todos os deuses recebem hinos e poemas de louvor, 
mas nenhum foi feito ao melhor dos deuses, Eros, o 
amor. Propõe, então, que cada um faça uma homena-
gem a Eros dizendo o que é o amor. 
Para um deles, o amor é o mais bondoso dos deuses, 
porque nos leva ao sacrifício pelo ser amado, inspira-
-nos o desejo de fazer o bem. Para o seguinte, é preciso 
distinguir o amor sexual e grosseiro do amor espiritual 
entre as almas, pois o primeiro é breve e logo acaba, en-
quanto o segundo é eterno. Já o terceiro afirma que os 
que o antecederam tinham limitado muito o amor, to-
mando-o apenas como uma relação entre duas pes-
soas. O amor, diz ele, é o que ordena, organiza e orienta 
o mundo, pois faz os semelhantes se aproximarem e os 
diferentes se afastarem. 
O quarto prefere retornar ao amor entre as pessoas 
e narra um mito. No princípio, os humanos eram de 
três tipos: havia o homem duplo, a mulher dupla e o 
homem-mulher, isto é, o andrógino. Tinham um só cor-
po, com duas cabeças, quatro braços e quatro pernas. 
Como se julgavam seres completos, decidiram habitar 
no céu. Zeus, rei dos deuses, enfureceu-se, tomou de 
uma espada e os cortou pela metade. 
Decaídos, separados e desesperados, os humanos 
teriam desaparecido se Eros não lhes tivesse dado ór-
gãos sexuais e os ajudasse a procurar a metade perdida. 
Os que eram homens duplos e mulheres duplas amam 
os de mesmo sexo, enquanto os que eram andróginos 
amam a pessoa do sexo oposto. Amar é encontrar a 
nossa metade e o amor é esse encontro.
Finalmente, o poeta, anfitrião da festa, toma a pala-
vra dizendo: “Todos os que me precederam louvaram o 
amor pelo bem que faz aos humanos, mas nenhum 
louvou o amor por ele mesmo. É o que farei. O amor, 
Eros, é o mais belo, o melhor dos deuses. O mais belo, 
porque sempre jovem e sutil, porque penetra imper-
ceptivelmente nas almas; o melhor, porque odeia a vio-
lência e a desfaz onde existir; inspira os artistas e poe-
tas, trazendo a beleza ao mundo”.
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Escultura de Eros (1793), de Antonio Canova (1757-1822), que se 
encontra no Museu do Louvre, em Paris.
Resta Sócrates, que diz: “Não poderei falar. Não te-
nho talento para fazer discursos tão belos”. Os outros, 
porém, não se conformam e o obrigam a falar. “Está 
bem”, retruca ele. “Mas falarei do meu jeito.” 
Com essa pequena frase, o tom do diálogo se altera, 
pois “falar do meu jeito” significa que “não vou fazer 
elogios e louvores às imagens e aparências do amor, não 
vou emitir mais uma opinião sobre o amor, mas vou 
buscar a essência do amor, a ideia do amor”. 
Sócrates também começa com um mito. Quando a 
deusa Afrodite nasceu, houve uma grande festa para os 
deuses, mas esqueceram-se de convidar a deusa Penúria 
(Pênia). Miserável e faminta, Penúria esperou o fim da fes-
ta, esgueirou-se pelos jardins e comeu os restos, enquan-
to os demais deuses dormiam. Num canto do jardim, viu 
Engenho Astuto (Poros) e desejou conceber um filho 
dele, deitando-se ao seu lado. Desse ato sexual nasceu 
Eros, o amor. Como sua mãe, Eros está sempre carente, 
faminto, miserável; como seu pai, Eros é astuto, sabe criar 
expedientes engenhosos para conseguir o que quer. 
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Qual o sentido do mito? Nele descobrimos que o 
amor é carência e astúcia, desejo de saciar-se, de com-
pletar-se e de encontrar a plenitude. Amar é desejar 
fundir-se na plenitude do amado e ser um só com ele. 
O que pode completar e dar plenitude a um ser caren-
te? Somente aquilo que é em si mesmo completo e 
pleno, isto é, o que é perfeito. O amor é desejo de per-
feição. O que é a perfeição? 
A harmonia, a proporção, a integridade ou inteireza 
da forma. Desejamos as formas perfeitas. O que é uma 
forma perfeita? A forma acabada, plena, inteiramente 
realizada, sem falhas, sem necessidade de transformar-
-se, isto é, sem necessidade de mudança . A forma per-
feita é o que chamamos de beleza. 
Onde está a beleza nas coisas corporais? Nos corpos 
belos, cuja união engendra uma beleza: a imortalidade 
dos pais por meio dos filhos. Onde está a beleza nas 
coisas incorporais? Nas almas belas, cuja beleza está 
na perfeição de seus pensamentos e ações, isto é, na 
inteligência. Que amamos quando amamos corpos 
belos? O que há de imperecível naquilo que é perecí-
vel, isto é, amamos a descendência. Que amamosquando amamos almas belas? O que há de imperecível 
na inteligência, isto é, as ideias. 
Se o amor é desejo de identificar-se com o amado, 
então a qualidade ou a natureza do ser amado deter-
mina se um amor é plenamente verdadeiro ou uma 
aparência de amor. Amar o perecível é tornar-se pere-
cível também. Amar o mutável é tornar-se mutável 
também. O perecível e o mutável são sombras, cópias 
imperfeitas do ser verdadeiro, imperecível e imutável. 
As formas corporais belas são sombras ou imagens da 
verdadeira beleza imperecível. Abandonando-as 
pela verdadeira beleza, amamos não esta ou aquela 
coisa bela, mas a ideia ou a essência da beleza, o belo 
em si mesmo, único, real. 
As almas belas são belas porque nelas há a presen-
ça de algo imperecível: o intelecto, parte imortal de 
nossa alma. Que ama o intelecto? Outro intelecto 
que seja mais belo e mais perfeito do que ele e que, ao 
ser amado, torna perfeito e belo quem o ama. O que 
é um intelecto verdadeiramente belo e perfeito? O 
que ama a beleza perfeita. Onde se encontra a tal be-
leza? Nas ideias.
O que é a essência ou a ideia do amor? O amor é o 
desejo da perfeição imperecível pelas formas belas, da-
quilo que permanece sempre idêntico a si mesmo, 
daquilo que pode ser contemplado plenamente pelo 
intelecto e conhecido plenamente pela inteligência. 
Sendo amor intelectual pelo inteligível ou pelas ideias, 
o amor é o desejo de saber: philo sophia, ‘amor da sa-
bedoria’. Pelo amor, o intelecto humano participa do 
inteligível, toma parte no mundo das ideias ou das essên-
cias, conhecendo o ser verdadeiro. 
A ontologia é, assim, a própria filosofia e o conhe-
cimento do Ser, isto é, das ideias; é a passagem das 
opiniões sobre as coisas sensíveis mutáveis rumo ao 
pensamento sobre as essências imutáveis. Passar do 
sensível ao inteligível — tarefa da filosofia — é passar 
da aparência ao real, do Não-Ser ao Ser.
Representação do diálogo O banquete, de Platão, em pintura do alemão Anselm Feuerbach (1829-1880) produzida em 1869.
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Esta atividade trabalha com conteúdos de Filoso-
fia e Língua Portuguesa.
Leia o poema “Amor e seu tempo”, de Carlos 
Drummond de Andrade, e faça as atividades.
Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama, 
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando em cada poro, o céu do corpo.
É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado, 
que, decifrado, nada mais existe
valendo a pena o preço do terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.
Amor é o que se aprende no limite,
depois de arquivar toda a ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.
ANDRADE, Carlos Drummond de. As impurezas 
do branco. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974. p. 36.
1. Relacione as ideias sobre o amor presentes neste poema 
com aquelas expostas no diálogo O banquete, de Platão.
2. Faça um comentário breve sobre o amor na sociedade 
contemporânea tomando como referência o poema 
de Drummond e o diálogo de Platão.
a filosofia nas e
ntrelinhas
“Não existe amor em SP / 
Os bares estão cheios de a
lmas 
tão vazias”. Versos da can
ção “Não existe amor em 
SP”, de 
Criolo. Na foto, o cantor p
aulistano em apresentaçã
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Juiz de Fora, Minas Gerais
, em 2012.
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atividades
 1. O que significa metafísica? O que ela investiga?
 2. Quais são os períodos da metafísica? Caracterize-os bre-
vemente.
 3. Quais foram as mudanças que a metafísica sofreu com 
Hume e Kant?
 4. Quais são as perguntas filosóficas, uma feita antes do sé-
culo XVII e outra depois dele? Qual é o significado dessas 
duas perguntas?
 5. Por que a palavra metafísica ficou consagrada para de-
signar a Filosofia Primeira ou ontologia?
 6. Resuma os principais traços do pensamento de Parmê-
nides tomando como referência duas oposições: entre 
realidade e aparência e entre pensar e perceber.
 7. Explique a divisão platônica entre mundo sensível e 
mundo inteligível.
 8. Qual a principal diferença entre o pensamento de Platão 
e o de Parmênides?
 9. Quais as três atitudes com as quais Platão resolveu o impas-
se filosófico deixado por Parmênides, que reduzira a filo- 
sofia à afirmação “o Ser é” e à negação “o Não-Ser não é”?
Cartaz do documentário 
Baraka, de 1992, dirigido 
por Ron Fricke.
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IndIcação de fIlme
Baraka 
Direção de Ron Fricke. 
Estados Unidos, 1992. 
O documentário mostra a vida 
humana na Terra. Passado, 
presente e futuro estão presen-
tes nas imagens de antigos tem-
plos religiosos, paisagens na-
turais e grandes cidades. Cada 
cena questiona não apenas o 
“Onde?”, mas “O que é?” cada 
coisa e seu significado.
10. Que são as ideias ou formas inteligíveis? Quais as suas 
principais características ou qualidades?
11. Explique como e por que, para Platão, cabe à filosofia 
passar da aparência sensível à essência inteligível das coi-
sas, da opinião à ideia. Ilustre sua resposta com um novo 
exemplo.
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