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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA Prof. Ruth Helena Falesi Palha de Moraes Bittencourt ruth.bittencourt@ufra.edu.br ASPECTOS GERAIS Para um entendimento melhor da anestesiologia, se faz necessário definir alguns termos freqüentemente usados na prática anestésica, como: Anestesia: nome dado a toda arte e/ou ciência relacionadas à produção de insensibilidade. É o estado causado por todo agente anestésico capaz de suprimir temporariamente a dor, com ou sem narcose. Narcose: na medicina humana significa perda da consciência ou sono profundo, na medicina veterinária, o paciente narcotizado raramente se encontra adormecido e apresenta a sensibilidade à dor diminuída. Analgesia: é a supressão temporária da dor sem perda da consciência. Hipnose: é a indução artificial do sono na qual o paciente pode ser despertado por estímulos. Sedativo: geralmente é um narcótico usado para acalmar um paciente nervoso, violento ou excitado. A maior parte dos sedativos provoca sonolência. Tranqüilização: é causada por um agente sedativo sem causar, simultaneamente, sonolência. Anestesia Geral: todo ato anestésico reversível que promova narcose, analgesia, relaxamento muscular e ausência de respostas a estímulos nocivos (lesáveis / dolorosos). Anestesia Local: todo ato anestésico que tem por finalidade o bloqueio reversível dos impulsos nervosos aferentes. Anestesia Dissociativa: todo ato anestésico capaz de dissociar o córtex cerebral causando analgesia e “desligamento” do paciente sem perda dos reflexos protetores, se caracteriza por catalepsia, analgesia somática e um estado de consciência alterado. É análogo à anestesia, em que o animal não exibe resposta motora a estímulos dolorosos. Não ocorre narcose nem relaxamento muscular o que a difere da anestesia geral. Catalepsia: estado de rigidez cérea dos membros que podem ser colocados em diversas posições por algum tempo, de um modo geral, o paciente não responde a estímulos visuais, auditivos e a pequenos estímulos dolorosos. Anestesia Balanceada: é a técnica anestésica promovida por dois ou mais agentes onde cada agente contribui com determinado efeito farmacológico. Período de latência: intervalo de tempo compreendido entre a administração do agente e o aparecimento de seus efeitos. Período hábil: intervalo de tempo compreendido entre o início da ação e o término dos efeitos do agente. Bolo (bolus): quantidade predeterminada do agente administrado rapidamente por via intravenosa. Indução: ato de administrar um agente que promova anestesia 1 - USOS E VIAS DE ADMINISTRAÇÃO 1.1) Usos da Anestesia: Genericamente a anestesia pode ser usada para diversos fins, tais como: na contenção de animais, para aplicação de aparelho de Thomas; na colocação de gesso, bandagens ou outras técnicas para imobilizações em animais agressivos; na prevenção da auto-mutilação; para captura, identificação e transporte de animais; nas manobras ambulatoriais como limpeza de ouvidos, dentes, e prepúcio; na realização de exame clínico, obstétrico, oftalmológico, endoscópico, ultrassonográfico, otológico, radiológico, andrológico e ginecológico; no cateterismo de vasos e uretra; nas intervenções e/ou manobras cirúrgicas; etc. 1.2) Vias de Administração: As vias de administração estão diretamente ligadas à natureza do agente, ao tipo de intervenção e às condições clínicas do paciente. As vias mais usadas são a Intramuscular (IM), intravenosa (IV), subcutânea (SC), respiratória, superficial ou tópica, intradérmica e espinhal. As menos usadas são a oral, retal, intraperitonial, intra-esternal, intratesticular, etc. A via IM é mais empregada para a aplicação da medicação pré-anestésica (MPA); a IV é eletiva na aplicação da maioria dos medicamentos anestésicos e nas emergências anestésicas; a SC é requerida quando se quer retardar a absorção do agente mantendo-se uma relação efeito-dose mais prolongada; a respiratória para administração de anestésicos inalatórios e na ventilação artificial; tópica, SC, intradérmica e espinhal para administração de anestésicos locais e espinhais. 2 - FICHA ANESTÉSICA A Ficha Anestésica é um formulário onde será registrado além dos dados pessoais e condições do animal, os agentes anestésicos que serão usados com suas respectivas dosagens e doses e vias de administração utilizadas. Terapia de apoio, parâmetros fisiológicos que deverão ser auferidos antes, durante e imediatamente após o término da intervenção, e, qualquer complicação e/ou emergência anestésicas que porventura vierem a ocorrer durante a intervenção cirúrgica. Deverá conter ainda, espaço para registro do início e do término da anestesia, identificação do anestesista e/ou auxiliares e um espaço destinado a observações e relatório do anestesista. FICHA ANESTÉSICA Paciente: _________________________________________ Idade: _______________Peso: ___________ Raça: _____________ Anestesista: ___________________________________________________________ Exame Pré-Op.: _____________________ Avaliação Pós-Anestésica: ___________________________________________________________________________________ Intervenção Cirurgia: _______________________________________________________________________________________ Cirurgião: ________________________________________________________________________________________________ Assistente: ________________________________________________________________________________________________ Hora Freqüência 10 20 30 40 50 60 70 80 90 10 20 30 40 50 60 70 80 90 170 160 150 140 130 120 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 0 Freqüência Cardíaca X Freqüência Respiratória Pré-medicação: agente: _______________________ Concentração: ________________ Dose: ___________________ Indução: agente: ____________________________ Concentração: ________________ Dose: ___________________ Manutenção: ______________________________________________________________________________________Tipo de anestesia: __________________________________________________________________________________ Hora início: _________________________________ Hora término: _________________________________________ Complicações: _____________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________ Belém, ___ de _____________ de _____ _________________ Responsável 3 - CONDUTAS E ATRIBUIÇÕES DO ANESTESISTA Para que uma anestesia seja bem sucedida, depende de inúmeros fatores que vão desde o preparo do animal até o suporte terapêutico apropriado durante a recuperação anestésica, ou seja, quanto mais minucioso for o tratamento dado ao paciente antes da anestesia mais seguro e eficaz será a anestesia. Visando otimizar o ato anestésico, o anestesista deve adotar determinadas condutas, procurando informações que forneçam subsídios para escolher o melhor protocolo anestésico a ser usado em cada caso separado, por exemplo: raça, espécie animal, estado do paciente, idade do animal, duração da intervenção, localização e extensão da intervenção, custo operacional e escolha do agente e método anestésicos. São atribuições do anestesista: (1) colaborar com o cirurgião para a escolha do melhor protocolo anestésico dependendo do caso; (2) dar ordens para o preparo do pré-anestésico; (3) executar uma anestesia perfeita; (4) preparar a mesa do material indispensável à anestesia; (5) advertir o cirurgião sobre o início da intervenção, estado do paciente durante a intervenção ou de qualquer complicação que possa a vir ocorrer durante a operação; (6) mandar aplicar qualquer medicação durante a intervenção cirúrgica caso seja necessário; (7) não seguir o ato operatório, deve sugerir sobre a marcha da operação e as vantagens de interrompê-la; (8) registrar a freqüência cardíaca (FC), freqüência respiratória (FR), identificar o tipo de pulso, etc, no início, durante e no final da intervenção visto ser o responsável pelo preenchimento integral da ficha anestésica e; (9) qualquer que seja o tipo de anestesia empregada deverá permanecer junto ao paciente até seu retorno. 4 - RISCOS ANESTÉSICOS Procedimentos anestésicos proporcionam pequenos riscos e considera-se que as emergências e as complicações anestésicas serão raras quando o profissional veterinário: utiliza um protocolo apropriado para cada caso; tem conhecimento sobre o paciente, os agentes, os equipamentos; etc. Os riscos anestésicos estão relacionados com um ou com vários fatores, fatores estes que quando levados em consideração reduzirão o fator risco consideravelmente. Dentre os diversos problemas que poderão levar o paciente a apresentar problemas durante ou após o ato anestésico, inclui-se o erro humano, a má manutenção dos equipamentos, o desconhecimento sobre as ações dos agentes anestésicos a serem usados e sobretudo o descaso com o paciente. 4.1 -Erro Humano: O erro humano, muitas vezes, e a causa de “acidentes anestésicos” que podem levar a morte do animal caso não seja devidamente tratado. Os erros cometidos pelo anestesista, de um modo geral são: (1) Histórico inadequado do paciente ou ausência de exame físico minucioso: O anestesista deverá ter o cuidado de fazer um histórico e anamnese minuciosos do animal. Exames laboratoriais para avaliações de funções orgânicas deverão ser solicitados, e, caso ache necessário, outros exames como o eletrocardiográfico, ultrassonográfico, radiológico, etc, poderão, também serem requisitados. Exame físico minucioso, sobretudo naqueles pacientes onde a intervenção cirúrgica tem que ser realizada imediatamente não dispondo de tempo para avaliações laboratoriais, para que somado ao histórico e anamnese, o anestesista possa classificar o paciente dentro das classes propostas pela American Society of Anestesiologists (ASA). (2) Inexperiência com o equipamento anestésico, o equipamento e desconhecimento sobre os agentes anestésicos usados: A inexperiência com o uso de aparelhos para administração de agentes inalatórios, poderá levar ao risco de vida o animal durante ou após o período anestésico, principalmente quando se utiliza vaporizador universal ou um vaporizador calibrado defeituoso, o que poderá acarretar em administração anestésica deficiente ou excessiva. Em função disto, os aparelhos e equipamentos devem sempre ser testados antes de qualquer intervenção anestesiológica. A falha no equipamento não é comum, porém pode ocorrer, de um modo geral, atribui-se este problema a desatenção do operador do aparelho. Problemas comuns observados com o aparelho são: (1) Exaustão da cal sodada ou cal baritada que vai levar a uma inalação excessiva de CO2 surgindo problemas de hipercapnia manifestando-se taquicardia, taquipnéia e arritmias cardíacas; (2) Cilindro de O2 vazio. Não verificar a quantidade de oxigênio existente dentro do cilindro e se a mesma e suficiente para o ato cirúrgico, evitando com isso terminar o oxigênio e não ser detectado pelo anestesista o que levara a uma oxigenação inadequada do paciente; (3) O anestesista deve ter conhecimentos básicos sobre o aparelho que está operando para que possa utilizá-lo de maneira correta e segura, ou seja, saber que tipo de circuito ou sistema está sendo utilizado, qual o percentual de mistura gasosa está sendo re-inalado, etc. (4) Problemas com a sonda endotraqueal: - embora a sonda endotraqueal não faça parte do aparelho de anestesia inalatória, ela é um componente importante nesta técnica anestesiológica, visto que é através dela que a mistura gasosa chega até os pulmões, quando o paciente se encontra intubado. A sonda endotraqueal pode impedir a passagem do anestésico e, caso durante a anestesia, a mesma venha a ser obstruída por problemas de dobradura nesta, secreções catarrais, mucosas, sangue e etc em seu interior, falsa via (esôfago) ou ainda, a sonda ser desconectada inadvertidamente do aparelho. (5) Problemas com o vaporizador: No caso do calibrado, o mesmo pode se apresentar indevidamente calibrado o que ocasionará em problemas de administração de anestésico ineficiente ou em excesso, levando a planos superficiais ou altamente profundos. Problemas de manutenção de vaporizador para uso de líquidos anestésicos, o mesmo quando não recebe o devido tratamento de secá-lo após uso, mantendo o líquido em seu interior por um período prolongado e sem uso diário, poderá levar ao entupimento ou corrosões, tanto do calibrado como do universal, impedindo a liberação normal da mistura gasosa, podendo inclusive liberar o anestésico na sua forma líquida. Relacionado com os agentes anestésicos, o risco anestésico e atribuído à falta de conhecimento sobre o agente, a não familiarização com o mesmo, utilização de via de administração incorreta, cálculo da dose incorreta, erro de concentração, desconhecimento sobre o PL do agente, efeitos adversos, etc. Todo agente anestésico causa efeitos adversos no paciente, efeitos estes que desconhecidos pelo anestesista podem levar a morte do animal. O protocolo anestésico deverá ser devidamente escolhido, levando em consideração o estado do paciente e o agente mais indicado para cada caso separado. Por exemplo, a acepromazina é um pré-anestésico desagradável para pacientes com hipotensão, uma vez que este agente pode causar vasodilatação, promovendo um decréscimo na pressão arterial. Da mesma forma, o halotano é um agente anestésico não aconselhável para uso através de máscara facial em pacientes que sofrem de arritmias cardíacas, a semelhança ocorre com os animais com medo ou naqueles excitados ou estressados, porque poderá desencadear fibrilação ventricular em função de seu potencial arritmogênico elevado quando combinado com a epinefrina liberada pelo medo ou pelo estresse. Logo, para cada caso, o anestesista deverá escolher um agente alternativo. O anestesista deve estar familiarizado ou ter conhecimento doagente pré-anestésico ou anestésico que será usado, principalmente no que diz respeito aos seus efeitos e contra-indicações, por exemplo, saber que quando a xilazina é usada, está poderá causar uma sedação e um relaxamento muscular dose dependente que poderão vir acompanhados por bradicardia, arritmias cardíacas, vômito, aborto e depressão respiratória. Uma associação de agentes poderá ser mais segura do que o uso de apenas um agente. Associações ou o uso de agentes pré-anestésicos poderá reduzir a quantidade do anestésico a ser administrado, além de que podem vir a abolir ou reduzir os efeitos indesejáveis observados com o uso da maioria dos anestésicos gerais, porém para que isto aconteça, é necessário que o anestesista conheça as ações dos agentes que vai utilizar. (3)- Fadiga: O cansaço mental e físico, muitas vezes e o responsável pelo erro humano, este fator e observado, geralmente em hospitais de alta rotatividade, onde o anestesista atende a vários casos no decorrer do dia e, no final do expediente, o mesmo se apresenta mentalmente e fisicamente cansado. (4)- Desatenção: Um dos erros humano mais sério, e a desatenção do anestesista, ou seja, o não monitoramento constante do paciente o que poderá passar desapercebido sinais clínicos indicativos de perigo, como, por exemplo, queda brusca na freqüência cardíaca ou respiratória, coloração de mucosas, etc. 4.2 – Paciente: O animal que será anestesiado poderá sofrer de uma alteração sistêmica que elevará consideravelmente os riscos anestésicos. Pacientes com “status” pré-anestésico na classe IV ou V são considerados como pacientes de alto risco ou risco severo respectivamente, e o anestesista deverá ter cuidado na escolha do protocolo a ser usado, levando em consideração o estado do paciente, as ações do agente e seus efeitos colaterais para evitar agravar ainda mais o quadro do paciente ou prevenir os efeitos indesejáveis, da mesma maneira deverá ter cautela com a (s) dose (s) a ser (em) administrada (s). Pacientes que desafiam o anestesista veterinário na rotina clínica incluem os pacientes geriátricos, neonatos, braquiocefálicos, sighthound (esbeltos) e animais obesos. Por outro lado, existem aqueles pacientes nos quais cautela no uso de determinados agentes anestésicos se fazem extremamente necessários como nos casos de cesariana, traumatismos, choque, deficiência respiratória, arritmias cardíacas, hepatopatias e nefropatias. O estado do animal é muito importante para escolher o tipo de anestesia e os agentes anestésicos a serem usados. Nos pacientes com problemas respiratórios e cardíacos, deve-se optar por agentes que não alterem ou alterem o mínimo possível os parâmetros cardiorrespiratórios. Nos animais com alterações hepáticas deve-se dar preferência aos fármacos que não sobrecarreguem o sistema hepático. Nos casos de choque, dar preferência aos agentes que elevem a atividade simpática. Os animais intoxicados ou debilitados são mais sensíveis aos fármacos anestésicos, logo necessitam de pequenas doses anestésicas. Nos pacientes idosos e neonatos, cautela se faz necessária. O estresse e/ou a dor podem estimular a resposta simpática nervosa, influenciando no efeito do agente. Um histórico satisfatório sobre o paciente requer perícia, cuidados e alguns questionamentos sobre o animal devem ser feitos ao proprietário, como por exemplo: idade? Doenças recentes? Histórico de doença cardíaca, hepática, renal, neurológica, outras? Vermifugação recente? E, se nas últimas 24 horas o animal apresentou perda de apetite, vômitos diarréia, tosse, espirro ou outro tipo de sintomatologia? Outro questionamento importante é sobre a performance física do animal, como por exemplo: - seu animal tolera bem exercícios moderados? Esta é uma pergunta relevante, visto que, os sinais observados pelo proprietário, após exercitar seu animal, como fadiga, dispnéia, cianose da língua, podem indicar a presença de doenças cardíacas ou respiratórias. Animais doentes correm risco de complicações durante anestesia, principalmente aqueles desidratados, com febre, com distúrbios eletrolíticos, com problemas cardíacos, respiratórios, hepáticos renais e outros. O anestesista deve ter o conhecimento de se o animal foi submetido nas últimas 48 horas a corticosteróide, insulina, anticonvulsivantes, sulfas, antibióticos, antidepressivos, produtos para controle de ectoparasitos, etc, visto que dependendo da terapia ao qual foi submetido recentemente, pode ser observado alterações ou interações com os efeitos dos anestésicos ao qual será submetido. Uma pergunta, também relevante, é se o animal apresentou alguma reação alérgica a algum tipo de agente, se sim, qual? se já foi submetido à ação de anestésicos, se sim, saber se o período de recuperação foi prolongado e se chamou atenção do anestesista por algum tipo de manifestação sintomática. Deve-se ter conhecimento, ainda, no caso de fêmeas, o “status reprodutivo”, como último cio, saber em que período estral se encontra o animal, uma vez que, dependendo da fase, o animal pode vir a apresentar hemorragias durante o trans-operatório e o anestesista deve estar preparado para intervir. Quanto ao exame físico, que deverá incluir sinais sobre o animal, sua disposição e atitudes, além do exame dos sistemas orgânicos, raça, peso, idade, sexo, ectoscopia, etc. Este exame pode revelar presença de doença cardiovascular ou respiratória, da mesma maneira que um aumento no órgão hepático ou renal pode levar a problemas na metabolização e excreção, respectivamente, dos agentes anestésicos. A idade é um fator de suma importância para a exposição do animal à agentes anestésicos e à escolha do protocolo a ser usado, como por exemplo cita-se os neonatos (até 2 semanas de idade) ou os pediátricos (2 a 8 ou 12 semanas de idade), nos quais as doses que deverão ser usadas deverão ser menores do que aquelas indicadas para os pacientes adultos, visto que os animais muito jovens são menos capazes que os adultos de metabolizarem qualquer agente anestésico injetável uma vez que necessitam da via metabólica hepática para tal e, esta não se apresenta completamente desenvolvida nos pacientes muito jovens. Da mesma forma, cuidados especiais devem ser dirigidos aos pacientes geriátricos, uma vez que pela própria fadiga fisiológica, podem ser incapazes de tolerar doses normais de alguns agentes, devido apresentarem uma pobre função hepática e renal. Exames laboratoriais como hemograma, leucograma, EAS, dosagem de uréia e creatinina, ALAT, ASAT, proteínas totais, tempo de coagulação sanguínea, etc, podem revelar doenças assintomáticas, evitando-se, portanto, complicações durante anestesia. Classificação proposta pela American Society of Anestesiologists (ASA) CATEGORIA CONDIÇÃO FÍSICA EXEMPLOS DE SITUAÇÕES CLÍNICAS ASA I Risco Mínimo Animal sadio sem doença evidente. Aparentemente hígido OSH, castração, cirurgias estéticas, Raios-x, etc. ASA II Pequeno Risco Animais com distúrbios mínimos ou moderados compensados. Doença sistêmica leve Neonatos, geriátricos, gestantes, cardiopatas compensados, obesos, tumores superficiais, hérnia não complicada, etc. ASA III Risco Moderado Animais com distúrbios moderados – Enfermidades sistêmicas ou disfunções graves Anemia, desidratação moderada (6 a 9%), hipovolemia, caquexia, hérnia diafragmática, pneumotórax, febre, doença cardíaca, hepática ou renal inevidente, etc. ASA IV Alto Risco Animais com doenças sistêmicas ou distúrbios severos. Enfermidade sistêmica grave com perda das funções que amenizam a vida. Desidratação severa (10 a 12%), uremia ou toxemia, anemia grave, hipovolemia, doenças cardíaca, hepática ou renal não compensadas, magérrimos, etc. ASA V Risco Severo Sobrevivência de 12 a 24 horas, animal moribundo. Doenças cardíacas, hepáticas ou renais não compensadas e avançadas, choque, câncer terminal, falência múltipla de órgãos,etc.Classe E Variada, desconhecida. Pacientes emergenciais – Traumatismos, etc. Fonte: Modificado de McKelvey e Hollingshead 2000 1-Paciente Geriátrico: Nestes pacientes, as funções cardíaca, pulmonar, renal e hepática, de um modo geral, se encontram reduzidas quando comparadas com as de animais jovens, além de que estes pacientes apresentam uma pobre resposta ao estresse. Freqüentemente eles são menos capazes de manter um status de hidratação adequado quando comparados com os jovens. Somando, os animais idosos estão geralmente afetados por desordens degenerativas tais como diabetes melitus, câncer, insuficiência mitral, insuficiência cardíaca congestiva e doença renal crônica, o que deverá ser considerado pelo anestesista. Em função da alta incidência de problemas na saúde do animal idoso, é importante um histórico minucioso do paciente, além de um meticuloso exame clínico. Testes pré-operatórios tais como testes bioquímicos para avaliar as funções hepática e renal, hemograma e leucograma, EAS, Rx e ECG são recomendáveis. Nos pacientes idosos, as doses dos agentes anestésicos devem ser reduzidas a metade ou a 1/3 daquelas a serem administradas nos animais jovens sadios, no caso de uso de barbitúricos, a dose a ser administrada deverá ser menor ainda. A recuperação nestes pacientes é mais demorada do que nos animais jovens, em parte devido ao decréscimo das funções renal e hepática, e, portanto, diminuição na habilidade para excretar os agentes anestésicos. Os geriatras têm tendência a desenvolver hipotermia visto que a capacidade para regular a temperatura corporal se apresenta diminuída. O uso de fluidos intravenosos é geralmente defendido nos animais idosos devido eles apresentarem uma tolerância menor para hipotensão e por freqüentemente apresentarem a função renal diminuída. Estes pacientes apresentam um risco maior para desenvolver hiper-hidratação o que poderá levar a problema tal como edema pulmonar, entretanto, a fluidoterapia usada cuidadosamente será útil. 2- Paciente Pediátrico ou Neonato: O paciente pediátrico, com menos de 3 meses de idade, é considerado, quando necessária anestesia, como um paciente de risco ASA II, logo, cuidados especiais deverão ser reservados a ele. Jejum pré-operatório por período prolongado não é conveniente devido a hipoglicemia e desidratação que poderá causar, aconselha-se administrar fluido oral para os pacientes neonatos e pediátricos até 1 hora antes da indução anestésica. Para prevenir a hipoglicemia que também poderá ocorrer durante o período trans-anestésico, indica-se infusão com gotejamento constante IV, bem lenta, de uma solução contendo ringer lactato (500mL) e dextrose 5% (50mL) de no máximo 5mL/kg/h, exceto quando desidratação ou choque está presente, devido estes animais serem propensos a uma super-hidratação, principalmente quando o fluido é administrado rapidamente. Para calcular as doses dos agentes anestésicos, é necessário pesar cuidadosamente o paciente. Nos animais que pesam menos que 5kg, pediátricos ou animais de laboratório, a dose dos agentes injetáveis poderá requerer diluição, porque, de outro modo, a mesma pode ser tão pequena para medida ou administrada precisamente. De uma maneira geral a dose a ser dada nos pacientes pediátricos é a metade ou 1/3 da dose indicada para os animais jovens sadios, isto porque estes pacientes possuem níveis menores de proteínas plasmáticas para os agentes se ligarem e exercerem suas ações, logo, doses iguais àquelas indicadas aos pacientes jovens, quando administradas nos neonatos e pediatras, poderão causar planos muito profundos o que poderá levar a morte do animal, ou ainda promover um período de recuperação bastante prolongado, por outro lado doses elevadas levarão mais tempo para serem metabolizadas em função da função hepática não se encontrar totalmente desenvolvida nestes pacientes. Com o uso de agentes injetáveis que necessitam do metabolismo hepático para serem ativados, como, por exemplo, o TPS e o pentobarbital, é esperado que apresentem um efeito prolongado em filhotes de cães e gatos com menos de 8 semanas de idade, logo devem ser evitados. A função renal, nestes pacientes, também é deficiente quando comparada com a de animais adultos, e a excreção da agente por esta via será lenta. Muitos veterinários preferem anestesiar os pacientes neonatos e pediátricos com agentes inalatórios, particularmente o isofluorano, devido a administração e a eliminação desses agentes serem completamente pelo trato respiratório e o paciente tender a se recuperar mais rapidamente. Certos procedimentos para que se faça uma anestesia segura e eficaz, tais como intubação endotraqueal e cateterização intravenosa, são difíceis nos pacientes neonatos e pediátricos em função de seu pequeno tamanho. A dificuldade para a intubação endotraqueal está relacionada, sobretudo, a difícil visualização da laringe, sendo requerido o uso de laringoscópio, quase sempre é necessário cortar o tubo endotraqueal para evitar intubação bronquial ou lançar mão de métodos alternativos como utilização de sondas uretrais ou equipos para soro. Fora diferenças obvias do tamanho, o monitoramento do paciente pediátrico e do neonato assemelha-se ao do paciente adulto. O anestesista deverá estar atento para a bradicardia que estará associada com o pobre rendimento cardíaco no animal anestesiado com menos de 4 semanas de idade. O uso de xilazina deverá ser evitado em animais com menos de um mês de idade, porque pode causar bradicardia significante. Em pacientes com menos de 14 dias de idade, o uso de atropina como pré-medicação pode não ser útil, porque a resposta a este agente é imprevisível. Pacientes neonatos são propensos a hipotermia, porque apresentam uma capa de gordura bastante reduzida, e sua área superficial é relativamente ampla, logo, a perda de calor deve ser evitada durante a cirurgia, isto pode ser conseguido através do uso de administração de fluido intravenoso aquecido, colchões térmicos, mantas, colchão de água aquecido, etc. 3- Cães Braquiocefálicos: Cães braquiocefálicos devido sua conformação, podem apresentar uma ou mais alterações anatômicas que dificultam a respiração, estão incluídos aqui, uma abertura nasal muito pequena, palato mole prolongado e traquéia de diâmetro pequeno. Todos os agentes anestésicos que deprimem a respiração ou reduzem o tônus muscular na área faríngea e laríngea irão dificultar a respiração destes animais. Em alguns casos, isto pode ser fatal, principalmente se o animal não estiver intubado e se uma saída de ar não estiver sendo mantida. Somando aos problemas respiratórios, muitos cães braquiocefálicos também apresentam o tônus parassimpático anormalmente elevado, o qual levará ao desenvolvimento de bradicardia. O uso de atropina (0,02 a 0,04mg/kg IV) ou glicopirrolato (0,01 a 0,05mg/kg IV) como MPA, nestes pacientes é amplamente defendido para prevenir a bradicardia. A indução é particularmente difícil nestas raças, se possível, o anestesista deverá pré-oxigenar o animal antes da indução por 5 minutos, este procedimento será útil para a manutenção de níveis de oxigênio sanguíneos adequados e dará ao animal uma margem de segurança extra durante o período de indução e o de manutenção. Com auxílio da sonda endotraqueal, a respiração durante anestesia pode se apresentar superior àquela observada no animal braquiocefálico não anestesiado. A indução deverá ocorrer de maneira rápida, e para isto a mesma deverá ser feita através do uso de agentes anestésicos intravenosos. Agentes que são rapidamente metabolizados, tais como propofol, quetamina/diazepam e metohexital são os agentes preferidos. O cão devidamente anestesiado permitirá uma intubação rápida. A dificuldade para a intubação é devido a grande quantidade de tecido que rodeia a faringe destes animais reduzindo a visibilidade da abertura laringiana, sendo necessário o uso de laringoscópio para auxiliar na intubação. A anestesia geralmente émantida através do uso de anestésicos inalatórios. Agentes que permitem um retorno anestésico rápido, como o isofluorano, são preferidos, uma vez que a dispnéia é comum nestes cães durante o período de recuperação precoce. Após a cirurgia, o paciente deverá ser observado rigorosamente até que seja extubado e até que a respiração se mostre dentro da normalidade. Neste período, pode ocorrer obstrução das vias aéreas, e é devido a isto, que o animal deverá permanecer intubado até seu pronto retorno para manter livre a vias respiratória. Se possível, manter a administração de oxigênio até a retirada da sonda traqueal. Após a extubação, aconselha-se manter o animal com o pescoço distendido, com a mesma angulação do dorso para facilitar a respiração, ainda no período de recuperação, mesmo após a retirada da sonda endotraqueal, poderá ser observada dispnéia e cianose, nestes casos, o animal deverá ser oxigenado, e em seguida, tracionar a língua do animal para estimular o nervo frênico na tentativa de melhorar a respiração, caso a respiração não seja normalizada, aconselha-se re-induzir e re-intubar o paciente. 4- Cães de caça - Sighthoud: Raças como Afghanhound, Greyhound, etc, apresentam sensibilidade aumentada aos agentes anestésicos, particularmente tranqüilizantes e barbitúricos como tiopental, esta reação não é explicada, porém pode estar envolvida com a carência de tecido adiposo para que os agentes sejam distribuídos melhor e/ou com a metabolização hepática ineficiente para muitos agentes. Felizmente muitos fármacos indutores, incluindo o diazepam/quetamina (0,2mg/kg / 4mg/kg IV), propofol (8 a 10mg/kg IV s/MPA ou 4 a 6mg/kg IV c/MPA), halotano e isofluorano tem proporcionado uma ampla margem de segurança para uso nestes pacientes, como método alternativo ao tiopental sódico. 5- Animais Obesos: Muitos animais que serão submetidos à anestesia apresentam uma percentagem elevada de gordura, uma vez que o suprimento sanguíneo para o tecido adiposo é relativamente pobre, o anestésico não é eficientemente distribuído para as reservas de gordura, sendo aconselhável, portanto, que agentes que apresentam alta solubilidade à gordura sejam administrados em doses reduzidas nos pacientes obesos, visto que grande parte do agente ficará livre na corrente circulatória aparentando uma ação superficial de imediato, porém que em períodos mais tardios irão demonstrar suas ações, podendo levar a quadro de super-dosificação, logo, cães obesos requerem doses anestésicas menores por quilograma de peso do que um cão normal. Os animais obesos também podem apresentar dificuldade respiratória, ocasionando complicações no procedimento anestésico. Os cães que apresentam dificuldade na respiração deverão ser pré-oxigenados através de máscara facial por 5 minutos antes da indução, eles podem também requerer o uso de técnicas para indução semelhantes aquelas indicadas aos braquiocefálicos. Cães obesos e as raças miniaturas geralmente apresentam respiração rápida e superficial durante anestesia, este padrão respiratório poderá resultar em hipercapnia. Quando o anestesista observar esta respiração superficial rápida, ele deverá assumir o controle respiratório, elevando inicialmente e diminuindo posteriormente os níveis anestésicos e observar se a respiração tornou-se mais lenta. Se a elevação da FR for resultante de estimulação cirúrgica, o anestesista pode também lançar mão do uso de opióides como a oximorfina (0,05 a 0,1mg/kg IV) para reduzir a freqüência respiratória. 6- Cesariana: Essencialmente, todos os agentes anestésicos administrados em pacientes gravídicos, com exceção dos bloqueadores neuromusculares e dos anestésicos locais, irão atravessar facilmente a barreira placentária, podendo exercer efeitos sobre os filhotes. Entretanto, é necessário que a paciente receba um anestésico adequado que forneça imobilização e analgesia durante a cirurgia, logo, é aconselhável o uso de doses mínimas de agentes que deprimam a respiração dos filhotes. A fêmea grávida é uma paciente de risco anestésico elevado, uma vez que a gravidez avançada aumenta grandemente o trabalho cardíaco, particularmente quando o paciente se encontra em decúbito dorsal, somado a isto, a função respiratória estará compromissada pela pressão exercida sobre o diafragma pelos órgãos abdominais, da mesma forma, são animais propensos a apresentar vômito em função da pressão que o útero exerce sobre o estômago. Hemorragia uterina não é incomum, logo, aconselha-se o uso de fluidos intravenosos durante anestesia destes pacientes, será útil também a redução do tempo cirúrgico e evitar manter o animal em decúbito dorsal por tempo muito prolongado, visto que nesta posição o útero volumoso irá comprimir a veia cava diminuindo o retorno venoso para o coração. Várias técnicas anestésicas são usadas nestas pacientes, dependendo da preferência do anestesista, logo, sugere-se: - Anestesia epidural combinada com tranqüilizantes ou neuroleptoanalgesia, visto que fornece uma anestesia com mínima depressão tanto na mãe como nos filhotes. Aconselha-se manter administração de fluidos IV e oxigenar o paciente em combinação com a técnica anestésica. - Anestesia geral usando uma variedade de agentes anestésicos injetáveis ou inalatórios também é comumente usada. O anestésico inalatório deverá ser administrado em doses baixas para manter a anestesia, para não deprimir a respiração fetal. O propofol e o tiopental também poderão ser usados em doses baixas, estas doses devem ser reduzidas, em função da sensibilidade aos agentes anestésicos se encontrar aumentada pelo próprio estado materno. Pré- oxigenação da paciente é necessária independente do protocolo anestésico utilizado, em função da respiração comprometida observada na mesma. - Agentes opióides têm sido considerados por muitos anestesistas, uma vez que em casos emergenciais eles podem ser antagonizados pelo naloxone. O agente antagonista pode ser administrado tanto na mãe como nos filhotes. O uso de óxido nitroso tem sido utilizado para suplementar a anestesia pelos opióides ou pelos agentes inalatórios, uma vez que ele proporcionará a redução das quantidades requeridas dos agentes analgésicos o que levará a alterações mínimas na respiração fetal. Neste protocolo, há possibilidade do aparecimento de hipóxia por difusão nos neonatos, logo, oxigenação nos filhotes deverá ser feita imediatamente após o nascimento. Pentobarbital é considerado um agente anestésico perigoso para uso em cesarianas, visto que elevará os riscos anestésicos na paciente, além de que pode ser observada elevada mortalidade fetal devido a depressão causada por este agente. Da mesma forma, o uso de diazepam deve ser evitado, uma vez que este agente é pobremente metabolizado pelo paciente neonato. Cãezinhos e gatinhos nascidos através de cesariana geralmente apresentam sinais de redução das funções cardiovascular e respiratória. Respiração inadequada ou se cianose estiver presente, deverá ser administrado oxigênio através de máscara facial, também pode ser indicado o uso de analépticos respiratórios como o doxapram (0,1 a 0,2mL) injetado na base da língua. Aspiração de líquidos deverá ser realizada. Nos casos de bradicardia, uma pequena quantidade de atropina diluída (0,25mg/mL) pode ser administrada na língua ou instilada em baixo desta, massagem cardíaca também é aconselhável. 7- Pacientes que sofreram traumatismos: Pacientes que sofreram traumatismos recentes, tal como atropelamento, podem estar sofrendo de várias enfermidades o que elevará o risco anestésico. A dificuldade respiratória é um dos problemas comumente observado e pode resultar de pneumotórax, problema pulmonar e hemorragia ou hérnia diafragmática. Arritmias são comuns entre 12 e 72 horas após traumatismo torácico. Choque também é outro problema comum em pacientes que sofreram traumatismo significante, principalmente nos casos onde hemorragia severa é observada. Injúrias como fraturas, rupturas deórgãos e etc, podem dificultar a ação do anestesista. Em muitos casos animais que sofreram traumatismos requerem anestesia imediatamente após o acidente, e, via de regra, é sensato tentar estabilizar o paciente antes da anestesia. O adiamento da anestesia oferece duas vantagens: (1) permite exames minuciosos para avaliar a extensão da injúria e; (2) ganha-se tempo para estabilizar as condições do paciente, que será útil para reduzir os riscos anestésicos. O animal que sofreu trauma deverá ser monitorado cuidadosamente principalmente quando dispnéia, arritmias cardíacas, etc, forem observadas, isto implicará no aconselhamento de solicitação de raios–x do tórax antes da anestesia para observar se algum problema grave estará levando ao aparecimento destes ou trata-se de um reflexo da dor. Tal solicitação deve-se ao fato de que demonstrativos mostraram que 1 de cada 3 pacientes que sofreram traumatismos em membros anteriores e/ou posteriores ou injúrias pélvicas apresenta injúria torácica, como hérnia diafragmática, derrames pleurais, fratura de costela com perfuração pulmonar, etc. 8- Pacientes com comprometimento Cardiovascular: As desordens cardiovasculares mais comumente observadas em pacientes que serão submetidos à anestesia incluem anemia, choque, cardiomiopatia (primária ou secundária ao hipertireoidismo), e doença cardíaca congestiva (secundária a insuficiência da válvula mitral). Na maioria dos pacientes cardíacos, observa-se também comprometimento pulmonar simultâneo, particularmente edema pulmonar que ocasionará em complicações durante anestesia, neste caso, é defendido o uso de diurético como a furosemida antes da anestesia para aliviar o edema pulmonar. Semelhante ao que ocorre com os pacientes que sofreram traumatismos, antes de iniciar a anestesia é aconselhável estabilizar as condições do paciente tratando os problemas cardiovasculares e respiratórios para aliviar os sintomas, tanto quanto possível. O anestesista deve ter conhecimento da interação que poderá ocorrer entre alguns agentes estimulantes ou depressoras dos sistemas cardiovascular e respiratória com os agentes anestésicos, uma vez que esta interação poderá levar a exacerbação das ações dos anestésicos, aumentando os riscos anestésicos. Pré-oxigenação através de máscara facial por 5 minutos antes do início da anestesia também é aconselhável para reduzir os riscos anestésicos nos pacientes com disfunções cardiovascular e respiratória. O anestesista deve estar ciente que agentes anestésicos que deprimem o miocárdio ou que exacerbam arritmias, como por exemplo: a xilazina e o halotano, devem ser evitados o máximo possível em pacientes bradicárdicos e com arritmias cardíacas. Opióides, diazepam e isofluorano oferecem vantagens sobre os demais agentes anestésicos por serem relativamente atóxicos para o coração. O animal cardíaco corre risco de desenvolver hiper-hidratação se fluido IV for administrado em demasia ou ainda muito rapidamente, logo, aconselha-se infusão com gotejamento constante lentamente em doses de no máximo 5mL/kg/h. 9- Pacientes com comprometimento Respiratório: De todos os animais submetidos à anestesia, aqueles com problemas respiratórios são talvez os maiores desafiantes do anestesista, exemplos incluem animais com presença de líquido na cavidade torácica, hérnia diafragmática, pneumotórax, problemas pulmonares resultantes de traumas, pneumonia, colapso traqueal e edema pulmonar. Nestes animais, uma oxigenação deficiente, sempre estará presente, assim como alguns sinais significativos como cianose, taquipnéia e dispnéia. Logo, aconselha-se, sempre que possível, que a anestesia seja atrasada para que se possa melhorar a função respiratória do paciente. Antes da anestesia recomenda-se radiografar a cavidade torácica para que se possa avaliar as condições do paciente, da mesma forma, em caso de presença de líquido na cavidade, indica-se a toracocentese para reduzir os fluidos e melhorar o quadro respiratório. Um dos problemas respiratórios em que a anestesia é mais comumente requerida, é a hérnia diafragmática, os animais acometidos por esta enfermidade se apresentam dispnéicos, sendo aconselhável oxigena-los por 5 a 10 minutos antes da anestesia. Durante a anestesia, deve-se manter a cabeça do animal no mesmo nível da coluna vertebral e manter a região cranial mais elevada que a caudal para evitar que as vísceras abdominais penetrem na cavidade torácica. Quando a anestesia é absolutamente necessária, a analgesia local pode ser preferível à anestesia geral e, independente do protocolo anestésico a ser utilizado, uma cuidadosa oxigenação sempre é recomendada e o paciente deve sempre ser observado quanto a problemas da cianose. Na indução da anestesia indica-se o uso de um protocolo anestésico que permita uma intubação rápida, os anestésicos intravenosos são preferíveis aos inalatórios através de máscara. Após a indução, alguns pacientes podem apresentar sinais de depressão e parada respiratória, e o anestesista deve estar preparado para intervir rapidamente, procedendo a intubação endotraqueal seguida por ventilação respiratória com ventilação assistida ou controlada, dependendo da situação. O uso de óxido nitroso deve ser evitado uma vez que pode causar problemas de hipóxia por difusão devido seu baixo coeficiente sangue:gás, o que levaria a difusão do gás anestésico para o interior dos compartimentos estomacal e intestinal com distensão destes órgãos. Os animais com problemas respiratórios que foram submetidos à ação de agentes anestésicos devem ser cuidadosamente observados durante o período de recuperação, além de que requerem cuidados especiais como administração de oxigênio até o pronto retorno para auxiliar a função respiratória. 10- Pacientes com comprometimento Hepático Animais com problemas hepáticos estarão sujeitos a riscos anestésicos variados dependendo da classe em que se encontram, segundo classificação ASA, porém sempre será considerado um paciente de risco anestésico, uma vez que o fígado é o órgão que participa efetivamente da metabolização dos agentes, da síntese de fatores da coagulação e de diferentes proteínas séricas e, no metabolismo dos carboidratos. Alguns animais acometidos por problemas hepáticos estão hipoproteínicos, o que poderá levar a potencialização dos barbituratos. Pacientes com hepatopatias severas ou crônicas comumente se encontram desidratados, magros e ictéricos, podendo ou não estar anêmicos, o que levará a uma maior sensibilidade aos agentes anestésicos. A medicação pré-anestésica deverá ser usada com cuidado ou se possível, não constar no protocolo anestésico, uma vez que a maioria dos agentes usados como MPA requerem metabolização hepática antes de serem excretados. Xilazina e acepromazina, em particular, têm seu efeito prolongado nestes pacientes. O uso de quetamina associada com o diazepam deve ser evitado. A indução e a manutenção da anestesia são melhores obtidas com o uso de isofluorano, desfluorano ou propofol (4 a 6mg/kg IV), os quais requerem pouco ou nenhum envolvimento hepático. 11- Pacientes com comprometimento Renal Os rins são órgãos altamente envolvidos na manutenção e na composição eletrolítica dos fluidos corporais, isto explica porque os animais com problemas renais estão freqüentemente desidratados e podem apresentar distúrbios eletrolíticos severos, incluindo acidose metabólica e hipercalemia. A anestesia geral pode ser altamente estressante para os pacientes renais, uma vez que o fluxo sanguíneo renal estará reduzido durante a anestesia e a função renal será comprometida mais adiante, particularmente se o paciente for hipotenso. O uso de antiinflamatórios não esteroidais como o ketoprofen durante a anestesia poderá reduzir a perfusão renal, logo cautela no uso dos agentes anestésicos. Uma avaliação da função renal deverá ser cuidadosamente realizada antes de qualquer intervenção anestesiológica. No período pré-operatório, de alguns pacientescom problemas renais, não se recomenda o jejum hídrico prolongado porque a desidratação poderá ocorrer rapidamente após a retirada do fluido oral. A água deverá ser oferecida até uma hora antes da pré-anestesia. O paciente com doença renal deverá ser re-hidratado o máximo possível antes da cirurgia, da mesma maneira que distúrbios eletrolíticos deverão ser identificados e tratados. A administração de fluidos deve permanecer durante a anestesia e no período de recuperação do paciente anestesiado, porém a hiper- hidratação deve ser evitada. Muitos agentes pré-anestésicos e seus metabólitos são eliminados por excreção renal. Por esta razão, animais com função renal comprometida, podem apresentar o período de recuperação prolongado após anestesia, se doses convencionais são utilizadas. Prudência é necessária para reduzir a dose dos agentes anestésicos, incluindo acepromazina (0,05mg/kg IV), xilazina (0,05mg/kg IM), diazepam (0,1mg/kg IV), quetamina (2 a 6mg/kg IV) e barbituratos. Os barbituratos, em particular, serão potencializados nos animais em acidose e urêmicos, logo deverão ser usados com muita cautela, não só nestes pacientes como em todos os pacientes renais. Agentes inalatórios, particularmente o desfluorano, apresenta algumas vantagens sobre os agentes injetáveis por não ser nefrotóxico. Embora o halotano produza íons fluoretos, que são prejudiciais aos rins, o agente pode ser usado com certa cautela nos nefropatas. Animais com obstrução urinária, incluindo felinos machos com obstrução uretral por cristais de estruvita, podem ser altamente problemáticos para o anestesista, uma vez que muitos gatos, com obstrução uretral por cristais de estruvita, se apresentam deprimidos, desidratados, urêmicos, acidóticos e hipercalêmicos, logo cautela na escolha e no uso de agentes anestésicos é indicada. Animais com hipercalemia correm risco de desenvolver parada cardíaca durante anestesia, estes pacientes, podem algumas vezes, serem identificados através da auscultação, uma vez que a bradicardia é freqüentemente observada quando os níveis plasmáticos de potássio excedem 6mEq/l. O tratamento para a hipercalemia pode requerer o uso de bicarbonato de sódio, gluconato de cálcio a 10%, e/ou dextrose. Condições estressantes para o animal com nefropatia devem ser evitadas o máximo possível, porque a liberação de epinefrina pela glândula adrenal potencializará as arritmias cardíacas causadas por alguns anestésicos. A administração de agentes inalatórios, particularmente o desfluorano e o isofluorano em gatos com bloqueio urinário, poderá ser menos perigosa do que com o uso de agentes injetáveis, uma vez que os agentes inalatórios não requerem excreção renal para recuperação. Propofol ou quetamina/diazepam, desde que a função renal normal esteja presente e doses reduzidas sejam administradas por via intravenosa, podem ser usados com cautela. 5 - PERÍODOS PRÉ, TRANS E PÓS-ANESTÉSICOS Existem 3 períodos anestésicos que devem ser considerados dentro da prática anestésica para que a anestesia possa ser realizada com segurança e eficácia. 5.1) Período Pré-anestésico: é o intervalo de tempo compreendido entre a indicação anestésica e o momento de iniciá- la. Este período pode ser classificado quanto a duração em: (1) destituído de urgência, quando o paciente se encontra clinicamente sadio; (2) de extrema urgência quando se dispensa qualquer cuidado pré-anestésico, exigindo uma conduta rápida, segura e eficiente, como nos casos de choque, cesariana, hemorragia abundante, convulsões, ou seja, pacientes de alto risco, e, (3) período de relativa urgência, onde os pacientes apresentam risco em grau moderado e, onde podemos melhorá-lo clinicamente antes de prescrever a anestesia. No período pré-anestésico o paciente deverá ser avaliado minuciosamente em relação aos valores basais das principais funções, como os seus perfis hematológicos, hepático e urinário. O jejum é um fator importante neste período, uma vez que prevenirá inconvenientes de vômitos no transcorrer do ato anestésico. O jejum alimentar em carnívoros e eqüinos adultos deverá ser de 12 a 16 horas e o hídrico de no máximo 3 horas, exceto nos animais desidratados, onde este último é recomendado de no máximo 1 hora. Em ruminantes o jejum alimentar é de meia ração no 3º e 2º dias que antecedem a intervenção e jejum total no dia anterior e de 6 horas antes a dieta hídrica. Nos neonatos e pediátricos, o jejum hídrico não deve exceder de 1 hora e o alimentar de 3 horas uma vez que esses pacientes são sensíveis a desenvolver quadros de hipotensão e hipoglicemia. Outro fator importante no período pré-anestésico é a contenção, pois quando efetuada de maneira incorreta, poderá causar acidentes. O estresse é prejudicial, pois a liberação de catecolaminas sensibiliza de tal forma o miocárdio que pode tornar a medicação anestésica fatal, principalmente quando se utiliza o éter, a quetamina ou o halotano como anestésicos. Ainda no período pré-anestésico, deve-se verificar os agentes e equipamentos que serão utilizados na anestesia, os mesmos deverão estar em locais de fácil acesso e nas devidas condições de uso. Ainda neste período, o anestesista dever levar em consideração o fator risco, já previamente relatado. 5.2) Período Trans-anestésico: é o intervalo de tempo que vai desde o início da anestesia propriamente dita até o início da recuperação. Neste período o anestesista deve zelar pelos reflexos pertinentes ao plano anestésico desejado, pois pupilas em midríase e sem reflexo, respirações abdominais e parâmetros fisiológicos abaixo dos valores normais são fortes indícios de planos profundos, muito próximos do choque bulbar. Síndrome supina (decúbito dorsal prolongado) deve ser evitada. Deve-se verificar o funcionamento do vaporizador, o fluxo diluente (O2), F.R., F.C., pulso femoral, coloração de mucosas, tipo de respiração, etc, levar em consideração também o fator risco. 5.3) Período Pós-anestésico ou Fase de Recuperação: é o período que vai desde o início da recuperação até o restabelecimento total da consciência e dos parâmetros fisiológicos. É um período que pode ser considerado como o mais crítico envolvendo a anestesia, visto que é nesta fase que se tornam evidentes as conseqüências de uma anestesia mal manejada, resultando em recuperação prolongada, traumatismos ou comprometimentos da ferida cirúrgica. 6 – MONITORAÇÃO DA ANESTESIA A monitoração da anestesia é justificada pelo aumento do fator segurança da anestesia, uma vez que permite identificar uma eventual alteração fisiológica que possa colocar em risco a vida do paciente. Tem a finalidade de maximizar os aspectos benéficos da anestesia, enquanto minimiza a disfunção orgânica, maximizando a oportunidade de uma recuperação completa e sem intercorrências. Miller em seu Tratado de Anestesia define monitoração como o ato de vigiar, observar ou verificar, especialmente com um objetivo particular, e classifica o método nos níveis: 1 – monitoração rotineira que deverá ser aplicada em todo os pacientes, independente de seu estado clínico; 2 – monitoração especializada, quando utilizada em um problema fisiopatológico em particular; 3 – monitoração ampla quando empregada para o acompanhamento de todos os principais sistemas de um determinado paciente. O acompanhamento das funções vitais do paciente sob anestesia pode ser realizado através do emprego de técnicas simples, como a estetoscopia, até as mais sofisticadas, com o emprego de sistemas digitais não-invasivos. A monitoração do paciente deverá iniciar no período pré-operatório, quando este é avaliado para determinar a existência de qualquer enfermidade e seguir no período trans-operatório para garantir uma recuperação tranqüila. Na monitoração pré-operatória irá se estimar a magnitude de qualquer processo patológico que possa comprometer a resposta do paciente à anestesia e ao procedimento cirúrgico. Essa avaliação pré-operatória irá fornecer dados para a seleçãode agentes, tipo de monitoração trans e pós-operatória e suporte para as necessidades específicas do paciente. A monitoração trans-operatória envolverá a profundidade anestésica apropriada, um relaxamento muscular adequado e a resposta fisiológica apropriada aos agentes anestésicos e ao estado de anestesia geral, já, a monitoração pós-operatória envolverá uma analgesia adequada e a recuperação fisiológica dos efeitos da anestesia. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA FANTONI, D. T. e CORTOPASSI, S. R. G. Anestesia em cães e gatos. 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