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FÍSICA – ELETRICIDADE AULA 1 Prof.ª Fernanda Fonseca 2 CONVERSA INICIAL Iniciaremos esta aula compreendendo como se desenvolveu o estudo da Eletricidade. Mesmo já sendo conhecidos desde a Antiguidade, antes do século XVII pouco se sabia sobre os fenômenos elétricos e suas causas até esse período. Esses fenômenos eram muito confundidos com os fenômenos magnéticos – conforme discutiremos mais adiante. Como já haviam registros sobre efeitos atrativos causados por âmbar e outros materiais, como o azeviche e o diamante, William Gilbert buscou compreender esses fenômenos de forma experimental, publicando seus resultados, em 1600, no livro intitulado De magnete. Nessa obra, Gilbert diferencia os fenômenos elétricos dos fenômenos magnéticos (Rocha, 2002). O objetivo desta aula é compreender as características, as causas e os efeitos dos fenômenos elétricos em partículas e corpos estáticos. Ainda, compreender as teorias e os modelos físicos relacionados ao estudo da eletricidade. Iniciaremos discutindo a composição da matéria e suas características elétricas, para então compreendermos as interações entre cargas elétricas e a influência no espaço ao seu redor (força elétrica e campo elétrico). TEMA 1 – CARGA ELÉTRICA Atualmente, adotamos um modelo atômico no qual o átomo possui um núcleo em torno do qual orbitam os elétrons. No entanto, as trajetórias dos elétrons não são determinadas, podendo ser descritas como regiões com maior probabilidade para que o elétron se encontre (Silva; Cunha, 2008). Essa região é denominada eletrosfera. 3 Figura 1 – Modelo Atômico atual Os elétrons que se movimentam na região da eletrosfera têm massa 9,109⋅10-31 kg e carga elétrica –1,602⋅10-19 C. São partículas indivisíveis de carga elétrica negativa. A região do núcleo é composta por prótons e nêutrons. Essas partículas têm massa praticamente iguais – a massa do próton é 1,673⋅10-27 kg e a massa do nêutron é 1,675⋅10-27 kg. A carga elétrica do próton é +1,602⋅10-19 C, e o nêutron tem carga elétrica nula. Atualmente, sabemos que essas duas partículas do núcleo são compostas por combinações de dois tipos de quarks – quark up e quark down. As formas como três quarks se combinam diferenciam as duas partículas, como pode ser visto na figura 2. O módulo da carga do elétron e do próton é dada por e = 1,602⋅10-19 C, denominada carga elementar. Eletrosfera: região onde orbitam os elétrons Núcleo: região em que se localizam prótons e nêutrons 4 Figura 2 – Prótons e nêutrons Todo corpo neutro na natureza possui o mesmo número de prótons e elétrons na sua composição. Para que um corpo fique eletrizado, uma dessas partículas deverá estar em maior número. Ou seja, um corpo eletrizado positivamente tem prótons em excesso, e um corpo eletrizado negativamente tem elétrons em excesso. O módulo da quantidade de carga armazenada em um corpo é sempre um múltiplo da carga elementar, sendo dada pela equação 1 a seguir. |𝑞𝑞| = 𝑛𝑛 ∙ 𝑒𝑒 (1) Em que q é a quantidade de carga armazenada, n é o número de prótons/elétrons em excesso, e e é o valor da carga elementar. A carga de um corpo é medida em Coulomb, em homenagem a Charles Augustin de Coulomb, físico francês do século XVIII, que enunciou a lei que descreve a relação entre a força elétrica e a distância entre cargas elétricas estáticas. Um dos princípios que fundamenta a Eletrostática é o princípio da atração e repulsão: TEMA 2 – PROCESSOS DE ELETRIZAÇÃO Desde a Antiguidade, há registros de observação do comportamento atrativo do âmbar e da palha, após fricção do âmbar em pelos de animais. Esse acontecimento ocorre devido à eletrização do âmbar pelo atrito. Os gregos Corpos eletrizados com cargas elétricas com mesmo sinal se repelem, e corpos eletrizados com cargas elétricas com sinais diferentes se atraem. 5 chamavam âmbar de elektron, motivo pelo qual Gilbert denominou os eventos atrativos como o do âmbar de fenômenos elétricos (Rocha, 2002). No entanto, a eletrização não ocorre apenas com a fricção. Há três formas de eletrização de um corpo: por atrito, por contato e por indução. Para melhor compreender esses processos, devemos conhecer outro princípio que fundamenta a Eletrostática: o Princípio da Conservação das Cargas Elétricas, que enuncia que a soma algébrica das cargas elétricas em um sistema de corpos isolado, ou seja, sem influência externa, deve permanecer constante. Isso significa que, mesmo que um corpo transfira elétrons para outro corpo, a soma da carga elétrica total do sistema permanecerá sempre a mesma (Young; Freedman, 2015). 2.1 Eletrização por atrito Ao atritarmos corpos de materiais diferentes, os corpos tendem a perder ou ganhar elétrons, dependendo da sua composição. As diferentes substâncias podem ser listadas em uma sequência de acordo com a tendência e o sinal da carga adquirida durante a fricção com as outras substâncias. Essa sequência é chamada de série triboelétrica. Nesse processo de eletrização, os dois corpos incialmente neutros (um bastão de vidro e um pedaço de lã, por exemplo) ficam eletrizados com cargas elétricas de mesmo módulo, mas de sinais opostos, uma vez que um deles perderá elétrons (no exemplo, o bastão de vidro perderá elétrons) e ficará positivamente eletrizado, enquanto o outro ganhará esses elétrons (no exemplo, o pedaço de lã ganhará o elétron) e ficará negativamente eletrizado. 6 Figura 3 – Eletrização por atrito Os materiais ainda podem ser classificados como condutores ou isolantes. Materiais condutores têm mais elétrons livres (elétrons fracamente ligados ao núcleo atômico e que podem ser removidos com uma força pequena), o que torna mais fácil a movimentação e, consequentemente, a distribuição das cargas pelo corpo – como os metais. Materiais isolantes (ou dielétricos) conservam as cargas em determinadas regiões (Ramalho Junior; Ferraro; Soares, 2009). 2.2 Eletrização por contato Veja que, devido à repulsão entre as cargas elétricas, materiais condutores eletrizados têm suas cargas distribuídas em sua superfície externa. Ao colocarmos dois corpos condutores, um eletrizado negativamente (por exemplo) e outro neutro, em contato, os elétrons serão repelidos para o corpo neutro. Quando separados, o corpo antes neutro também ficará eletrizado negativamente. No caso de contato entre um corpo eletrizado positivamente e outro corpo neutro, o corpo eletrizado atrairá os elétrons do corpo neutro. Esse corpo, antes neutro, perderá elétrons e ficará eletrizado positivamente após os dois corpos serem separados (veja na Figura 4). 7 Figura 4 – Eletrização por contato Veja que, na eletrização por contato, os dois corpos sempre ficarão com cargas de mesmo sinal após a eletrização. A Terra é visto como um corpo neutro que pode ser um doador ou receptor de elétrons. Todo corpo eletrizado, ao ser ligado com a Terra, fica neutro. Corpos condutores idênticos tendem a dividir a carga total do sistema em contato igualmente entre os corpos. Por isso, após a eletrização, tendem a ficar com cargas elétricas iguais. 2.3 Eletrização por indução No processo de eletrização por indução, não há contato entre o corpo eletrizado e o corpo a ser eletrizado, há apenas uma aproximação. A aproximação de um corpo eletrizado positivamente, por exemplo, polariza o corpo neutro devido à atração gerada sobre as cargas de sinal oposto. Ao conectarmos esse corpo polarizado com a Terra, ele receberá mais elétrons devido à atração do corpo eletrizado. Após a eletrização, o corpo antes neutro é desconectado da Terra, ficando eletrizado negativamente. O corpo ficará então com a carga de sinal oposto ao do corpo causador da eletrização (corpo eletrizado positivamente, no caso do exemplo). Em uma situação em que o corpo eletrizadoque induz a eletrização é negativo, os elétrons do corpo polarizado migrarão para a Terra, deixando o corpo eletrizado positivamente após o processo. 8 Figura 5 – Eletrização por indução 2.4 Gerador Eletrostático de Van de Graaff O estudo dos processos de eletrização permite o acumulo de cargas no Gerador de Van de Graaff, que consiste em uma calota esférica metálica, sustentada por suportes isolantes, mas em contato com uma escova metálica que é atritada com uma correia de borracha, posicionada em uma de suas extremidades. Essa correia é, em sua outra extremidade, conectada a outra escova metálica, que faz ligação com a Terra, descarregando a correia. Um motor aciona a correia para que ocorra a fricção entre a borracha e as escovas, fazendo com que a carga elétrica seja armazenada na calota metálica. Esse tipo de gerador pode armazenar grandes quantidades de carga, sendo utilizados em aceleradores de partículas, por exemplo. 9 Figura 6 – Esquema do Gerador de Van de Graaff TEMA 3 – FORÇA ELÉTRICA Charles Augustin Coulomb, físico francês, foi um dos primeiros a buscar estudar quantitativamente a interação entre corpos eletrizados. Utilizando uma balança de torção, enunciou a Lei de Coulomb, na qual traça uma relação entre a força elétrica, a quantidade de carga elétrica de dois corpos puntiformes eletrizados estudados e a distância entre esses corpos. A equação 2 mostra essa relação em seu formato vetorial, em que q1 e q2 representam a quantidade de carga dos corpos eletrizados e r� é um vetor unitário que aponta da carga q1 para q2. �⃗�𝐹 = 1 4𝜋𝜋𝜖𝜖0 𝑞𝑞1𝑞𝑞2 𝑟𝑟² �̂�𝑟 (2) Na equação 2, a constante ϵ0 representa a permissividade elétrica no vácuo, tendo valor de 8,854⋅10-12 C²/Nm². A Lei de Coulomb também pode ser representada em função de uma constante k0, que é dada pela equação 3. 𝑘𝑘0 = 1 4𝜋𝜋𝜖𝜖0 = 8,988 ∙ 109𝑁𝑁𝑚𝑚2/𝐶𝐶2 (3) Em módulo, a Lei de Coulomb é dada pela equação 4. 𝐹𝐹 = 𝑘𝑘0 |𝑞𝑞1||𝑞𝑞2| 𝑟𝑟² = 1 4𝜋𝜋𝜖𝜖0 |𝑞𝑞1||𝑞𝑞2| 𝑟𝑟² (4) Vamos ver o uso da Lei de Coulomb no exemplo 1 a seguir. O atrito entre a correia de borracha e o rolete de PVC eletriza a correia positivamente. A calota esférica metálica também é eletrizada positivamente por meio da ligação com o rolete metálico em contato com a correia de borracha eletrizada. Calota esférica metálica Correia de borracha Cilindro metálico Cilindro de PVC 10 EXEMPLO 1: Ao posicionarmos dois elétrons, afastados um do outro a uma distância de 2,4⋅10-11 m, qual deverá ser a intensidade da força elétrica entre eles? Lembre-se de que a carga elétrica do elétron tem módulo igual a e. ( ) 1 2 0 2 0 2 19 19 9 11 2 7 q q F k r e eF k r (1,60 10 C)(1,60 10 C)F 8,99 10 Nm² / C² (2,4 10 m) F 3,96 10 N − − − − = ⋅ = ⋅ ⋅ = ⋅ ⋅ = ⋅ Veja que o módulo da força que atua sobre cada elétron devido à interação elétrica entre eles é de 3,96⋅10-7 N. Essa força atua sobre ambas as cargas, mas em sentidos opostos (lembre-se da Lei da Ação e Reação de Newton). Um elétron atua sobre o outro com uma ação, e o outro reage sobre o primeiro elétron atuando com uma força de mesmas intensidade e direção, mas com sentido oposto. 3.1 Força elétrica de um sistema de cargas Em um sistema de cargas, cada carga exerce uma força elétrica sobre as outras cargas do sistema. Para determinarmos a força resultante sobre uma determinada carga do sistema, é necessário realizar a soma vetorial de todas as forças que atuam sobre ela, decorrentes da interação com as outras cargas (Equação 5). 𝐹𝐹𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟�������⃗ = �𝐹𝐹𝚤𝚤��⃗ 𝑛𝑛 𝑖𝑖=1 (5) Vamos analisar o exemplo 2. EXEMPLO 2: Observe o sistema de cargas, distribuídas no espaço conforme a Figura 7. As cargas qA=+1 nC, qB=–2 nC e qC=+1 nC. Qual a força resultante que atua sobre a carga qC? 11 Figura 7 – Sistema de cargas do exemplo 2 A força resultante sobre a carga qC será dada pela soma vetorial da força de repulsão causada pela carga qA e a força de atração causada pela carga qB. Para determinar essa força resultante, será necessário determinar os vetores que representam essas forças. ( ) ( )( ) ( ) B C 2 BC 0 BC2 BC 9 9 9 BC 22 6 BC q q F k r 6cm 6 10 m r 2 10 C 1 10 C F 8,99 10 N m² / C² 6 10 m F 4,994 10 N − − − − − = ⇐ = = ⋅ ⋅ ⋅ = ⋅ ⋅ ⋅ = ⋅ No formato vetorial: 𝐹𝐹𝐵𝐵𝐵𝐵������⃗ = −(4,994 ∙ 10−6𝑁𝑁)𝚤𝚤̂. 2 2 2 2 r ? r 3 6 r 45 r 6,71cm = = + = ⇒ = 12 ( ) ( )( ) ( ) A C AC 0 2 9 9 9 AC 22 6 AC q q F k r 1 10 C 1 10 C F 8,99 10 N m² / C² 6,71 10 m F 1,998 10 N − − − − = ⋅ ⋅ = ⋅ ⋅ ⋅ = ⋅ Para encontrar as componentes do vetor 𝐹𝐹𝐴𝐴𝐵𝐵������⃗ , é necessário encontrar o seno e o cosseno do ângulo θ. 3sen sen 0,447 6,71 6cos cos 0,894 6,71 θ = ⇒ θ = θ = ⇒ θ = ( )( ) ( )( ) ACx AC 6 ACx 6 ACx ACy AC 6 ACy 6 ACy F F cos F 1,998 10 N 0,894 F 1,786 10 N F F sen F 1,998 10 N 0,447 F 0,893 10 N − − − − = ⋅ θ = ⋅ = ⋅ = ⋅ θ = ⋅ = ⋅ O vetor 𝐹𝐹𝐴𝐴𝐵𝐵������⃗ = +1,786 ∙ 10−6î − 0,893 ∙ 10−6𝚥𝚥̂ (𝑁𝑁). O vetor resultante 𝐹𝐹𝑅𝑅����⃗ = 𝐹𝐹𝐵𝐵𝐵𝐵������⃗ + 𝐹𝐹𝐴𝐴𝐵𝐵������⃗ = [−(4,994 ∙ 10−6𝑁𝑁)𝚤𝚤̂] + [+1,786 ∙ 10−6î − 0,893 ∙ 10−6𝚥𝚥̂ (𝑁𝑁)] 𝐹𝐹𝑅𝑅����⃗ = −3,21 ∙ 10−6î − 0,89 ∙ 10−6𝚥𝚥̂ (𝑁𝑁) O módulo do vetor é dado por ( ) ( ) 2 2 R x y 2 26 6 R 6 R F F F F 3,21 10 N 0,89 10 N F 3,33 10 N − − − = + = ⋅ + ⋅ = ⋅ TEMA 4 – CAMPO ELÉTRICO A interação elétrica entre duas cargas decorre da ação de um campo elétrico. O campo elétrico é uma região de influência de uma partícula eletrizada que transmite a ação elétrica (força) sobre qualquer outra carga inserida na região. 13 O campo elétrico é representado por linhas de força (ou linhas de campo), cuja proximidade uma das outras indica a intensidade do campo. Isto é, quanto mais próximas as linhas de campo, mais intenso é o campo elétrico local. Veja a Figura 8. Figura 8 – Distribuição vetorial de campo elétrico Fonte: PhET Interactive Simulations. O campo elétrico é uma grandeza vetorial. Em cada ponto do espaço, o campo é dado por um segmento de reta orientado, tangente à linha de campo no local (Figura 9). Essa grandeza informa a força elétrica sofrida por unidade (a) Distribuição de campo elétrico gerado por uma carga positiva. (b) Distribuição de campo elétrico gerado por uma carga negativa. (c) Distribuição de campo elétrico resultante de um dipolo elétrico. (d) Distribuição de campo elétrico resultante de um sistema de quatro cargas elétricas. 14 de carga para qualquer partícula eletrizada que possa ser posicionada no local (Equação 6). 𝐸𝐸�⃗ = �⃗�𝐹 𝑞𝑞0 ⇒ 𝐸𝐸 = 𝐹𝐹 |𝑞𝑞0| (6) Em que q0 é a carga elétrica posicionada na região de campo E. O campo elétrico é medido em Newton por Coulomb (N/C), unidades de medida das grandezas que o definem na equação 6. Veja que, substituindo a Lei de Coulomb na equação 6, pode-se descrever o campo elétrico pela equação 7. 𝐸𝐸�⃗ = 𝑘𝑘0 𝑄𝑄 𝑟𝑟² �̂�𝑟 ⇒ 𝐸𝐸 = 𝑘𝑘0 |𝑄𝑄| 𝑟𝑟² (7) Em que Q é a carga elétrica que gera o campo na região, e r é a distância da carga até o local em que queremos determinar o campo elétrico E. Vamos compreender melhor essa grandeza com exemplos. EXEMPLO 3: Um próton encontra-se na origem de um sistema de coordenadas. Um ponto P está posicionado a uma distância de 5 cm do próton, como mostra a Figura 9. Figura 9 – Exemplo 3 a) Qual o módulo do campo elétrico gerado pelo próton no ponto P? 15 ( ) ( ) ( ) 19 PRÓTON 2 PRÓTON 0 2 19 9 22 7 q e 1,60 10 C r 5cm 5 10 m q E k r 1,60 10 E 8,99 10 5 10 E 5,75 10 N / C − − − − − = + = + ⋅ = = ⋅ = ⋅ = ⋅ ⋅ = ⋅ b) Qual será o módulo da força elétrica sobre um elétron posicionado no localdo ponto P sob influência do campo elétrico do próton? ( ) ( ) 19 ELÉTRON ELÉTRON ELÉTRON 7 19 26 q e 1,60 10 C FE F E q q F 5,75 10 1,60 10 F 9,2 10 N − − − − = − = − ⋅ = ⇔ = ⋅ = ⋅ ⋅ ⋅ = ⋅ No exemplo 3, o elétron sofrerá uma força de atração com intensidade de 9,2⋅10-26 N. No entanto, o vetor força elétrica que atua sobre o elétron (assim como o vetor campo elétrico no ponto P) ainda não é conhecido. Para isso, é necessário encontrar o valor de suas coordenadas. EXEMPLO 4: Determine o vetor força elétrica que atua sobre o elétron do Exemplo 3. Para determinar as coordenadas, vamos utilizar o processo de decomposição do vetor. Uma forma é pelas relações trigonométricas do triângulo formado pelo vetor e suas componentes (Figura 10). 16 Figura 10 – Exemplo 4 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) x x 26 x 26 x y y 26 y 26 y Fcos 30º F F cos 30º F F 9,2 10 N cos 30º F 8,0 10 N F sen 30º F F sen 30º F F 9,2 10 N sen 30º F 4,6 10 N − − − − = ⇔ = ⋅ = ⋅ ⋅ = ⋅ = ⇔ = ⋅ = ⋅ ⋅ = ⋅ Como essas componentes são opostas ao sentido dos eixos, deverão ser indicadas com o sinal negativo no formato vetorial. �⃗�𝐹 = −𝐹𝐹𝑥𝑥�̂�𝚤 − 𝐹𝐹𝑦𝑦𝚥𝚥 ̂ �⃗�𝐹 = (−8,0 ∙ 10−26𝑁𝑁 𝚤𝚤̂ − 4,6 ∙ 10−26𝑁𝑁 𝚥𝚥̂) 4.1 Campo elétrico de um sistema de cargas Em um sistema de cargas, o campo elétrico na região é influenciado por todas as cargas que nela se encontram e que geram seus respectivos campos. Por esse motivo, o campo elétrico resultante (ER) em determinado ponto do espaço é dado pela soma vetorial do campo elétrico criado por cada carga elétrica da região (Equação 8). 𝐸𝐸𝑅𝑅����⃗ = �𝐸𝐸𝚤𝚤���⃗ 𝑛𝑛 𝑖𝑖=1 (8) Vamos analisar a situação do exemplo 5. 17 EXEMPLO 5: A Figura 11 apresenta uma distribuição de cargas posicionadas em um sistema cartesiano. Cada uma dessas cargas cria um campo elétrico na região do ponto P. Figura 11 – Exemplo 5 Qual será o vetor campo elétrico resultante no ponto P? E qual é o módulo desse campo? Vamos inicialmente determinar o vetor campo elétrico de cada uma das cargas. Para a carga q1: 𝐸𝐸1����⃗ = 𝑘𝑘0 𝑞𝑞1 𝑟𝑟2 𝑟𝑟1� 𝐸𝐸1����⃗ = (8,99 ∙ 109) (1) (2 ∙ 10−2)2 [î] 𝑁𝑁 𝐶𝐶 𝐸𝐸1����⃗ = +2,2475 ∙ 1013î 𝑁𝑁/𝐶𝐶 Para a carga q2: 𝐸𝐸2����⃗ = 𝑘𝑘0 𝑞𝑞2 𝑟𝑟2 𝑟𝑟2� 𝐸𝐸2����⃗ = (8,99 ∙ 109) (1) �2√2 ∙ 10−2� 2 � +2î + 2𝚥𝚥̂ 2√2 � 𝑁𝑁 𝐶𝐶 𝐸𝐸2����⃗ = +0,7946 ∙ 1013î + 0,7946 ∙ 1013𝚥𝚥̂ (𝑁𝑁/𝐶𝐶) Para a carga q3: 𝐸𝐸3����⃗ = 𝑘𝑘0 𝑞𝑞1 𝑟𝑟2 𝑟𝑟3� 18 𝐸𝐸3����⃗ = (8,99 ∙ 109) (1) (2 ∙ 10−2)2 [−𝚥𝚥̂] 𝑁𝑁 𝐶𝐶 𝐸𝐸3����⃗ = −2,2475 ∙ 1013𝚥𝚥̂ 𝑁𝑁/𝐶𝐶 O campo elétrico resultante no ponto P é dado pela soma desses vetores. 𝐸𝐸𝑅𝑅����⃗ = 𝐸𝐸1����⃗ + 𝐸𝐸2����⃗ + 𝐸𝐸3����⃗ 𝐸𝐸𝑅𝑅����⃗ = [+2,2475 ∙ 1013î 𝑁𝑁/𝐶𝐶] + [+0,7946 ∙ 1013î + 0,7946 ∙ 1013𝚥𝚥̂ (𝑁𝑁/𝐶𝐶)] + [−2,2475 ∙ 1013𝚥𝚥̂ 𝑁𝑁/𝐶𝐶] 𝐸𝐸𝑅𝑅����⃗ = +3,04 ∙ 1013î− 1,45 ∙ 1013𝚥𝚥̂ (𝑁𝑁/𝐶𝐶) O módulo do vetor campo elétrico é dado por: 𝐸𝐸𝑅𝑅 = �(+3,04 ∙ 1013)2 + (−1,45 ∙ 1013)2 𝐸𝐸𝑅𝑅 = 3,37 ∙ 1013𝑁𝑁/𝐶𝐶 Veja que, nesse exemplo, determinamos as coordenadas dos vetores campo elétrico de cada carga de uma forma diferente do Exemplo 4. Utilizamos o vetor unitário r� para determinar as coordenadas dos vetores nesse caso. 4.2 Campo elétrico de distribuições contínuas de cargas Corpos extensos que possuem uma distribuição contínua de carga elétrica também geram campos elétricos ao seu redor. Nesse tópico, veremos como podemos determinar o campo elétrico criado por alguns casos de corpos com distribuição contínua de carga. 4.2.1 Arco carregado Vamos considerar um arco carregado com uma carga Q, uniformemente distribuída por todo o corpo (Figura 12). 19 Figura 12 – Arco carregado Para determinar o campo elétrico resultante no ponto P (no caso, a origem do sistema cartesiano de referência), devemos analisar o campo elétrico gerado por cada diferencial do comprimento do arco dL, que possui uma carga dq. Como as componentes Ey se anulam quando consideramos todas as partes dL que compõe o arco, o campo resultante no ponto P será igual a componente Ex. [ ] [ ] [ ] 0 x 02 2 x y 0 2 0 x 2 0 x 2 0 x 2 0 x 0 y 0 x 0 x dq dqdE k dE k cos R R dqE dE k cos R kE cos dq dq dL R kE cos dL dL Rd R kE cos Rd R kE cos d R kE sen R kE sen (sen( )) R kE 2sen R α −α α −α = ⇒ = θ = = θ = θ ← = λ = θλ ← = θ λ = θ θ λ = θ θ λ = θ λ = α − −α λ = α ∫ ∫ ∫ ∫ ∫ ∫ A distribuição homogênea da carga permite que determinemos uma densidade linear de carga no arco, dada por λ. 𝜆𝜆 = 𝑄𝑄 𝐿𝐿 ⇒ 𝜆𝜆 = 𝑑𝑑𝑞𝑞 𝑑𝑑𝐿𝐿 20 Ou seja, o campo elétrico gerado pelo arco carregado no ponto P é dado pela Equação 9. 0 0 1E 2k sen E sen (9) R 2 R λ λ = α⇒ = α π∈ 4.2.2 Anel carregado No caso de um anel carregado (de raio R) com carga Q distribuída de forma uniforme, vamos determinar o campo elétrico em um ponto P localizado no eixo que passa pelo centro do anel, como mostra a Figura 13. Figura 13 – Anel carregado Observe que podemos definir que a distância de cada pequeno diferencial de comprimento dL do anel encontra-se a uma distância r do ponto P. 𝑟𝑟2 = 𝑅𝑅2 + 𝑥𝑥2 𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐 = 𝑥𝑥 𝑟𝑟 Como as componentes em z e y de cancelam, o campo resultante no ponto P equivale ao campo resultante no eixo x. 21 ( ) ( ) ( ) ( ) x 0 2 x 0 2 x 0 3 x 0 3 2 2 2 x x 0 3 2 2 2 x 0 3 2 2 2 x 0 3 2 2 2 dqdE k cos r dq xdE k r r xdE k dq r xdE k dq R x xE dE k dq R x xE k dq R x x QE k R x = θ = = = + = = + = + ⋅ = + ∫ ∫ ∫ Veja que o campo elétrico gerado por um anel carregado em um ponto P, localizado no eixo que atravessa o centro do anel, será dado pela Equação 10. 𝐸𝐸 = 𝑘𝑘0 𝑥𝑥 ∙ 𝑄𝑄 �(𝑅𝑅2 + 𝑥𝑥²)3 (10) 4.2.3 Disco carregado e plano infinito carregado De forma semelhante às análises anteriores, podemos definir uma equação para determinarmos o campo elétrico em um ponto P sobre o eixo que atravessa o centro do disco (Figura 14). No caso do disco, a carga elétrica distribuída uniformemente na superfície pode ser relacionada à uma densidade de carga superficial σ. Ao analisarmos o campo gerado por um diferencial de área do disco dA, observamos que as componentes do campo elétrico no ponto P gerado por cada diferencial de área se anulam de forma que há apenas a resultante das componentes sobre o eixo x. 22 Figura 14 – Disco carregado Como o diferencial de área tem formato de anel, podemos integrar usando a fórmula do anel carregado. ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) x 0 3 2 2 2 x 0 3 2 2 2 x 0 3 2 2 2 R x x 0 3 2 2 20 R x 0 1 2 2 2 0 x 0 1 1 2 2 2 22 2 x 0 xdE k dq dq dA x a xdE k dA dA 2 a da x a xdE k 2 a da x a aE dE 2 k x da x a 1E 2 k x x a 1 1E 2 k x x R x 0 1E 2 k x = ← = σ⋅ + = σ⋅ ← = π ⋅ + = σ⋅ π ⋅ + = = π σ + = π σ − + = π σ − − − + + = π σ − ∫ ∫ ( ) ( ) 1 2 2 2 x 0 1 2 2 2 1 xx R xE 2 k 1 x R + + = π σ − + Podemos, então, definir que o módulo do campo elétrico em um ponto P localizado sobre o eixo x que passa pelo centro do disco carregado é dado pela Equação 11. 23 ( ) 0 1 2 2 2 xE 2 k 1 (11) x R = π σ − + Um plano infinito pode ser entendido como um disco carregado de raio infinito, o que torna o termo que contém R muito pequeno (desprezível). Nesse caso, podemos determinar o campo elétrico em qualquer ponto, independentemente do valor de da distância x do ponto (Equação 12). ( ) 0 1R 0 2 2 2 0 xE lim 2 k 1 x R E 2 k (12) → = π σ − + = π σ TEMA 5 – FLUXO ELÉTRICO E A LEI DE GAUSS Carl Friedrich Gauss foi um grande matemático alemão do séculoXIX, sendo responsável por grandes contribuições às áreas da matemática e das ciências. No estudo do Eletromagnetismo, Gauss contribuiu com um teorema no qual relaciona o campo elétrico em uma superfície fechada com a carga elétrica líquida confinada em seu interior. Essa superfície fechada denominamos superfície gaussiana, sobre a qual enuncia na Lei de Gauss que “o número líquido de linhas do campo que saem da superfície é proporcional à carga elétrica líquida no interior da superfície” (Tipler, 2000, p. 36). Para compreendermos melhor essa relação, vamos entender o que é fluxo elétrico. 5.1 Fluxo elétrico O fluxo elétrico (φ) é uma grandeza que associa a quantidade de linhas de campo elétrico que atravessa uma superfície com a área dessa superfície. O fluxo é medido (no Sistema Internacional de Unidades) em N⋅m²/C, e é dado pelo produto escalar entre o vetor campo elétrico e um vetor área (Equação 13). O vetor área A��⃗ é um vetor perpendicular à superfície (ou ao diferencial da superfície), com sentido sempre para fora dela, e de módulo igual a área da superfície. 𝜙𝜙 = 𝐸𝐸�⃗ ∙ 𝐴𝐴 = 𝐸𝐸 ∙ 𝐴𝐴 ∙ 𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐 (13) 24 Em que θ é o ângulo entre o vetor campo elétrico e, o vetor, área da superfície. Figura 15 – Superfície gaussiana Em uma superfície fechada, ao integrarmos o fluxo por meio de cada diferencial de área dA, podemos determinar o fluxo líquido na superfície (Equação 14). 𝜙𝜙𝑙𝑙𝑖𝑖𝑙𝑙 = � 𝐸𝐸�⃗ ∙ 𝑑𝑑𝐴𝐴�����⃗ 𝑆𝑆 = 𝑄𝑄𝑖𝑖𝑛𝑛𝑖𝑖 𝜖𝜖0 (14) FINALIZANDO Nesta aula, compreendemos que corpos carregados eletricamente têm elétrons ou prótons em excesso, e por esse motivo, sempre têm uma carga elétrica dada por um múltiplo da carga elementar. Estudamos também como esses corpos eletrizados interagem um com os outros, sofrendo repulsão quando têm sinais iguais, e sofrendo atração quando têm sinais opostos. Essa força elétrica pode ser determinada pela Lei de Coulomb, e é transmitida por meio do campo elétrico criado pelos corpos eletrizados no espaço entorno deles. O campo elétrico pode ser determinado pela Lei de Gauss, considerando o fluxo elétrico que atravessa uma superfície gaussiana em função da carga confinada em seu interior. Ao analisarmos esse fluxo, definimos o campo elétrico em toda região da área da superfície. 25 REFERÊNCIAS HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física: eletromagnetismo. Tradução: SOTERO, D. H. S.; COSTAMILAN, G. B. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1996. v. 3. RAMALHO JUNIOR, F.; FERRARO, N. G.; SOARES, P. A. T. Os fundamentos da física: eletricidade. Introdução à física moderna e análise dimensional. 10 ed. São Paulo: Moderna, 2009. v. 3. ROCHA, J. F. M. (Org.). Origens e evolução das ideias da física. Salvador: EDUFBA, 2002. SILVA, J. L. P. B.; CUNHA, M. B. M. Para compreender o modelo atômico quântico. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENSINO DE QUÍMICA, 14., Curitiba. Anais... Curitiba, 2008. TIPLER, P. A. Física para cientistas e engenheiros: eletricidade, magnetismo e ótica. Tradução: MACEDO, H.; BIASI, R. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000. UNIVERSITY OF COLORADO BOULDER. PhET Interactive Simulations. Disponível em: <https://phet.colorado.edu>. Acesso em: 25/02/2019. YOUNG, H. D.; FREEDMAN, R. A. Física III, Sears e Zemansky: eletromagnetismo. 14. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2015.
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